O documento discute a obra "A eficácia dos direitos fundamentais" de Ingo Wolfgang Sarlet. O livro analisa a eficácia jurídica dos direitos fundamentais de prestação na Constituição Brasileira. Sarlet defende que esses direitos podem gerar efeitos jurídicos imediatos e que o princípio da dignidade humana deve ser usado para definir o padrão mínimo de prestações sociais asseguradas. A aplicação dos direitos fundamentais deve ser feita caso a caso usando uma abordagem pragmática e proporc
O documento discute a obra "A eficácia dos direitos fundamentais" de Ingo Wolfgang Sarlet. O livro analisa a eficácia jurídica dos direitos fundamentais de prestação na Constituição Brasileira. Sarlet defende que esses direitos podem gerar efeitos jurídicos imediatos e que o princípio da dignidade humana deve ser usado para definir o padrão mínimo de prestações sociais asseguradas. A aplicação dos direitos fundamentais deve ser feita caso a caso usando uma abordagem pragmática e proporc
O documento discute a obra "A eficácia dos direitos fundamentais" de Ingo Wolfgang Sarlet. O livro analisa a eficácia jurídica dos direitos fundamentais de prestação na Constituição Brasileira. Sarlet defende que esses direitos podem gerar efeitos jurídicos imediatos e que o princípio da dignidade humana deve ser usado para definir o padrão mínimo de prestações sociais asseguradas. A aplicação dos direitos fundamentais deve ser feita caso a caso usando uma abordagem pragmática e proporc
Em A eficcia dos direitos fundamentais, Ingo Wolfgang Sarlet
aborda a problemtica da eficcia dos direitos fundamentais de prestao, a partir do prisma da dogmtica constitucional brasileira e as diversas facetas da eficcia jurdica, como precondio da prpria efetividade (ou eficcia social) dos direitos fundamentais, com apoio na doutrina alem e portuguesa (2003, p.25). O problema especfico do objeto do estudo compreende quatro aspectos: a) em que medida os direitos a prestaes se encontram em condies de, por fora do disposto no art. 5, 1, da CF serem diretamente aplicveis e gerarem sua plena eficcia jurdica? b) quais os diversos efeitos jurdicos inerentes eficcia jurdiconormativa dos direitos fundamentais a prestaes? c) possvel deduzir destes direitos um direito subjetivo individual a prestaes estatais? d) caso afirmativa a resposta pergunta anterior, em que situaes o sob que condies um direito subjetivo a prestaes poder ser reconhecido? (SARLET, 2003, p.25). * Mestre em Direito pela UFSC. Professor das Disciplinas de Direito Administrativo 1 e 2 e de Processo Administrativo e Direito Processual Constitucional no Ncleo de Prtica Jurdica do Curso de Graduao da Univali CES Biguau. Professor do Curso de Ps Graduao em Direito Administrativo Aplicado do CESUSC disciplina de Princpios Diretivos do Direito Administrativo. Orientador de projetos de iniciao cientfica custeados com resursos provenientes do art. 170 da Constituio do Estado de Santa Catarina. Advogado publicista. E-mail: adrianode bortoli@aol.com Novos Estudos Jurdicos - Volume 8 - N 2 - p.483-487, maio/ago. 2003
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Dividido em duas partes, o livro aborda na primeira o sistema de
direitos fundamentais na Constituio Federal e o conseqente delineamento de uma teoria geral constitucionalmente adequada, na qual Sarlet realiza uma anlise dos diversos significados e terminologias a respeito dos direitos fundamentais, conceituandoos como todas aquelas posies jurdicas concernentes s pessoas, que, do ponto de vista do direito constitucional positivo, foram, por seu contedo e importncia (fundamentalidade em sentido material), integrados ao texto da Constituio e, portanto, retiradas da esfera de disponibilidade dos poderes constitudos (fundamentalidade formal), bem como as que, por seu contedo e significado, possam lhes ser equiparados, agregando-se Constituio material, tendo, ou no, assento na Constituio formal (2003, p.85). A segunda parte reservada para a anlise da eficcia dos direitos fundamentais, na qual Sarlet defende o reconhecimento dos direitos fundamentais a prestao como autnticos direitos fundamentais, e por essa razo aplicveis de imediato nos termos do art. 5 1 da CF, sendo que esses direitos sempre estaro aptos a gerar um mnimo de efeitos jurdicos, tendo como medida desta aptido (que envolve uma relao direta com o grau da sua eficcia e aplicabilidade) a forma de sua positivao no texto constitucional e das peculiaridades de seu objeto. Diante da variedade de aspectos que o tema sugere ao pesquisador, Sarlet delimita como campo de sua anlise os direitos a prestao em sentido estrito (direitos sociais prestacionais de cunho programtico - positivados como normas definidoras de programas, fins e tarefas a serem implementados pelo Estado ou como normas impositivas), com o intuito de se reconhecerem direitos subjetivos a prestaes fticas (2003, p.288). Com inspirao no posicionamento terico de Robert Alexy, Sarlet defende que a melhor exegese da norma contida no art. 5, 1 da CF a que parte da premissa de que se trata de norma de cunho inequivocamente principiolgico, considerando-a, portanto, uma espcie de mandado de otimizao (ou maximizao), isto , estabelecendo aos rgos estatais a tarefa de reconhecerem a maior eficcia possvel aos direitos fundamentais (...) de modo que (...) o postulado da aplicabilidade imediata no poder resolver-se, a exemplo do que ocorre com as regras jurdicas (e nisto reside uma de suas diferenas essenciais relativamente s normas-princpio), de acordo com a lgica do tudo ou nada, razo pela qual o seu alcance (isto , o quantum em aplicabilidade e eficcia) depender 484
do exame da hiptese em concreto, isto , da norma de direito
fundamental em pauta. (2003, p.258) Assim, a partir da posio adotada possvel a defesa de uma uma presuno em favor da aplicabilidade imediata das normas definidoras de direitos e garantias fundamentais, de tal sorte que eventual recusa de sua aplicao, em virtude de ato concretizador, dever (por ser excepcional) ser necessariamente fundamentada e justificada. Tal fundamentao e justificao esto circunscritas ao caso concreto e devem atender aos postulados de uma interpretao tpico-sistemtica (SARLET, 2003, p.258-9). Ainda assim, trs questes cruciais devem ser enfrentadas no que diz com a obrigao do poder pblico na realizao da justia social e o quantum assegurado em prestaes sociais pelas normas de direitos fundamentais, bem como a possibilidade de reclamao judicial pelos particulares, a saber: a) se o reconhecimento de direitos fundamentais originrios (na qualidade de direitos subjetivos) a prestaes sociais se limita a um padro mnimo?; b) qual este mnimo em prestaes sociais assegurado pelas respectivas normas de direito fundamentais? e c) mesmo no mbito deste padro mnimo, poder-se- negar a prestao reclamada sob o argumento da indisponibilidade dos recursos para sua satisfao? (SARLET, 2003, p. 335). A resposta a tais indagaes encontra sustentao no reconhecimento do princpio da dignidade da pessoa humana como funo demarcatria para a denominao de padro mnimo na esfera dos direitos sociais pois pressupe um certo grau de autonomia do indivduo, enquanto capaz de conduzir a sua prpria existncia, expresso direta da sua liberdade pessoal e exigncia da prpria dignidade. De modo que a liberdade concebida como portadora de uma dimenso substancial que exige condies materiais mnimas para que o seu exerccio no fique comprometido (SARLET, 2003, p.337). A adoo do princpio da dignidade da pessoa humana como padro mnimo em prestaes sociais, assegurado pelas respectivas normas de direitos fundamentais, por outro lado, exige uma soluo quanto aplicao das normas de direitos fundamentais. Sarlet entende que o emprego de uma pauta genrica e abstrata de diretrizes e critrios no possvel, devendo-se utilizar o modelo ponderativo de Robert Alexy para se avaliar a contraposio dos Novos Estudos Jurdicos - Volume 8 - N 2 - p.483-487, maio/ago. 2003
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valores em pauta, mediante as circunstncias do caso concreto, o
que revela uma aplicao pragmtica dos direitos fundamentais a prestaes sociais (2003, p.338). As situaes em que se evidencie um conflito entre a regra de reserva de competncia legislativa, inclusive com o princpio da separao dos poderes, dentre outras objees aos direitos sociais entendidos como direitos subjetivos a prestaes e o valor maior da vida e da dignidade da pessoa humana, assim como na coliso de outros bens constitucionais (fundamentais, ou no), em que haja a prevalncia da aplicao do direito social prestacional, revelam a existncia de uma esfera de um padro mnimo existencial, devendo-se reconhecer, com apoio no posicionamento de Robert Alexy e Gomes Canotilho, na esfera de um padro mnimo existencial, a existncia de um direito subjetivo definitivo a prestaes - dotados de plena vinculatividade e impositivos de realizao de prestaes pelo Estado -, e em situaes em que tal mnimo ultrapassado um direito subjetivo prima facie, pois merecedor de uma aplicao gradual. (SARLET, 2003, p.338-9). A escassez de recursos deve ser enfrentada atravs do controle democrtico da administrao pblica (gesto democrtica do oramento pblico) e controle judicial da Administrao Pblica, particularmente atravs dos princpios da moralidade e da eficincia administrativa (SARLET, 2003, p.340). Observa-se da leitura da obra que o objeto dos direitos fundamentais sociais a prestao a questo central de sua eficcia (gradual) e aplicabilidade. Ou seja, somente diante do caso concreto pode-se ponderar os bens em questo e dar maior ou menor eficcia para os direitos fundamentais sociais, no se podendo, contudo, negarlhes a eficcia. Nessa compreenso, ocupa posio permanente de bem/valor a ser ponderado a dignidade da pessoa humana que geralmente vai estar em coliso com a competncia de legislar sobre a matria (atribuio do parlamento). O judicirio, por sua vez, tem papel reparador de situaes de omisso do poder pblico porque no goza de legitimidade democrtica para fazer, continuamente, as vezes do legislativo. Em ltima anlise, a questo da eficcia dos direitos fundamentais sociais a prestao aponta para a necessidade de estudos sobre a aplicao das normas de direitos fundamentais e a sua pragmaticidade - principalmente no constitucionalismo ingls e 486
americano, no aprofundados no livro -, razo para a leitura,
reflexo e pesquisa dos vrios assuntos deixados em aberto propositadamente - por Sarlet, que contribui singularmente para trazer para o centro do debate acadmico, assunto, muitas vezes, somente encontrado em captulos de manuais de direito constitucional.
Referncia SARLET, I. W. A eficcia dos direitos fundamentais. 3.ed. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2003. 416 p.