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QUI20NOV
PUBLICIDADE
EDIÇÃO LISBOA
20 de Novembro de 2003
Ano XIV • N° 4991
€0,80 (IVA incluído)
Director JOSÉ MANUEL FERNANDES
Directores adjuntos: NUNO PACHECO
e MANUEL CARVALHO
e-mail: publico@publico.pt www.publico.pt
TINTIM
S É R I E Y H O J E N OVO DV D SÁBADO COM O PÚBLICO
Portugal precisaria
de 200 mil imigrantes
A B U S O S E X UA L
Polícia
Changed americana
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ordena prisão Mais de 12 mil detidos já este ano por álcool ao volante
de Michael Jackson As forças policiais detiveram, até ao final de Outubro, para cima interceptadas com mais de 1,2 gramas por litro de sangue (g/l).
de 12 mil condutores por excesso de álcool, número que deverá Para combater o problema, o Governo está a estudar o aumento
A polícia norte-americana emitiu permitir bater o recorde de 2002 – ano em que 12.800 pessoas foram do valor das coimas. P28/29
um mandado de prisão do cantor
Michael Jackson. A decisão está re-
lacionada com acusações de abuso
CHRIS HARRIS/AFP
sexual feitas por um rapaz de 12 anos
contra o “rei da pop”, de 45. O xerife
do município de Santa Barbara ape-
lou ao cantor para que se entregue e
deposite o seu passaporte junto das
autoridades. P35
Abertura de novas
vagas em Medicina
divide opiniões
P31
EURO 2004
INGLESES APOSTAM
NA SEGURANÇA E
NUMA BOA IMAGEM
Portugal vence Kuwait
e Espanha apurada
P2 A 5, 38 E 40
ÍNDICE
BARTOON E OPINIÃO
BOLSA E MERCADOS
6A9
24 A 26
Bush dá conselhos No seu primeiro discurso da visita de quatro dias
ao Reino Unido, o Presidente norte-americano
ao seu papel no mundo. O dia ficou marcado por
um escândalo de segurança: um jornalista de um
começou por sublinhar a relação especial com tablóide infiltrou-se durante dois meses no Palá-
TELEVISÃO
CLASSIFICADOS
54/55
62 A 69
à Europa a partir Londres antes de avançar com alguns conselhos
para os líderes europeus: combatam o anti-semi-
cio de Buckingham, aquela que deveria ser, neste
momento, a casa mais vigiada do mundo porque
CINEMAS
TEMPO E FARMÁCIAS
70/71
72
de Londres tismo, deixem de falar com os interlocutores er-
rados na Palestina e sejam mais realistas quanto
é lá que Bush está a dormir. Do nosso enviado
Paulo Moura, em Londres P13/14
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PÚBLICO•QUINTA-FEIRA, 20 NOV 2003 EURO 2004 E SEGURANÇA NOS ESTÁDIOS
A vinda de milhares de adeptos ingleses a Portugal por ocasião do Euro 2004 é motivo de
preocupação e os preparativos já estão a ser feitos. O PÚBLICO falou com autoridades portuguesas
e inglesas, que traçam um cenário positivo de antecipação à chegada dos adeptos ingleses
COORDENADA
Prevenir a violência com “Os verdadeiros Na Rua Castilho, em
Lisboa, num edifício
As iniciativas
‘hooligans’ são antigo onde estão Existem outras iniciativas
uma ínfima
cooperação e informação
alguns escritórios
no âmbito da segurança que
minoria e não do Ministério da
Administração ou são mais específicas, estão
podemos tomar a Interna, o gabinete numa fase embrionária,
parte pelo todo, da Comissão de
ou constituem meras hipóteses
A forma como a segurança de portugueses e Coordenação internacional senão (...) vamos Segurança para o
estrangeiros será assegurada é uma preocupa- “A Comissão de Segurança, o CCIP [ver Euro 2004 destoa
ção, na medida em que todos os serviços por- Perguntas Respostas], através de uma
prejudicar uma do resto do edifício, SEI (Sistema Estratégico de Informação
tugueses vão ser, especialmente nas cidades cooperação policial internacional, vai dis- mais-valia do demonstrando boas interliga as forças de segurança)
anfitriãs e centros de treino, afectados pela ponibilizar informação de dados policiais, Europeu, condições para O Europeu de futebol constituirá a maior
quantidade de adeptos que virão a Portugal. como movimentos de adeptos e grupos de o turismo” receber autoridades operação concertada entre as polícias por-
Para a segurança nacional durante o pessoas no geral”, explicou ao PÚBLICO o portuguesas e tuguesas e as congéneres estrangeiras. Um
Euro 2004 foram criados mecanismos ex- coordenador do CCIP, subintendente Ismael estrangeiras (não sistema de comunicações da PSP totalmente
cepcionais de segurança que procuram, Jorge. Este centro nacional de informação “A segurança está aberto ao novo, designado de Sistema Estratégico de
através da cooperação, estar mais bem in- policial que envolve a nível operacional a do Euro 2004 público), tendo em Informação, Gestão e Controlo Operacional
formados e acima de tudo prevenir. Existe PSP e a GNR, está já em fase de constituição vista a cooperação (SEI), que vai ter a primeira fase concluída a
uma Comissão de Segurança para o Euro efectiva (já tem sede em Lisboa, perto da As-
diz também e a coordenação tempo do Euro 2004. Este sistema vai permi-
2004, que está na dependência do Ministério sembleia da República) e em Abril do próxi- respeito a todas as operacional. O tir uma troca de informação em tempo útil
da Administração Interna, um Centro Coor- mo ano deverá estar a funcionar em pleno, polícias dos países secretário de com outras forças de segurança, nomeada-
denador de Informações Policiais (CCIP) e recolhendo e transmitindo informação. “A Estado Nuno mente o SEF, a PJ e também GNR, SIS e Po-
as Células Locais de Informações Policiais nossa principal fonte de informação sobre
envolvidos” Magalhães explicou lícia Marítima. O SEI permite racionalizar
(CLIP) — ver Perguntas & Respostas. No a deslocação dos adeptos são os oficiais de PAULO GOMES ao PÚBLICO: os procedimentos da PSP e facilitar a troca
que diz respeito ao perímetro interior dos cada um dos países, uns estarão no CCIP secretário executivo da “Num plano de informação com as outras forças Assim
estádios, a segurança é coordenada pela outros no terreno [os “spotters”], referiu Comissão de Segurança político existe uma se poderá estandardizar e normalizar a in-
Sociedade Euro 2004 SA e está a cargo de Ismael Jorge. E acrescentou: “É fundamen- macroestrutura, formação policial a nível nacional.
segurança privada, dos assistentes de recin- tal na prevenção a actuação dos ‘spotters’, e depois, num
tos desportivos (Stewards) e voluntários. DESMOND BOYLAN/REUTERS plano mais técnico Comissão de Segurança em Berlim
e operacional para trocar informação
“Nem todos são hooligans” existe a Comissão Secretário executivo da Comissão de Segu-
Para o secretário executivo da Comissão de de Segurança, rança para o Euro 2004, Paulo Gomes esteve
Segurança, Paulo Gomes, a grande mensa- criadas pela desde dia 5 até dia 9 de Novembro em Berlim,
gem inicial é a de que “os adeptos estrangei- mesma resolução para transmitir e recolher informação sobre
ros não são todos maus, a grande maioria do Conselho de adeptos alemães e explicar os mecanismos
deles são pessoas ordeiras e civilizadas”. Ministros, onde de segurança que Portugal está a usar, para
“Os verdadeiros ‘hooligans’ são uma ínfima estão representadas ajudar as autoridades alemãs na preparação
minoria e não podemos tomar a parte pelo todas as forças, do próximo Mundial em 2006, que vai decor-
todo, senão vamos ter ainda mais problemas servixços e rer na Alemanha.
e prejudicar uma mais-valia do Europeu, o organismos de
turismo”, acrescentou Paulo Gomes. segurança, bem Trauma Room enriquece tratamento médico
A cooperação policial é prática na Euro- como as duas Inserido no Serviço de Urgência do Hospital
pa em vários domínios e para o secretário- sociedades: S. José, o Trauma Room (TR) é o único servi-
executivo o Europeu vai usufruir dessa Portugal 2004 ço a sul do rio Douro que está apto para ser-
cooperação: “A segurança do Euro 2004 e Euro 2004. A vir como cobertura o Euro 2004. Este serviço
Changed
diz tambémwithrespeito
the DEMOa todasVERSION
as polícias of CAD-KAS PDF-Editor (http://www.cadkas.com). Comissão de tem 24 horas por dia um médico de cirurgia
dos países envolvidos no evento.” Segurança é um geral, uma enfermeira e dispõe de todas as
A prevenção é assim uma das principais órgão que no fundo especialidades médico-cirúrgica necessárias
estratégias que as autoridades estão a de- põe todas as forças ao tratamento de doentes traumatizados.
senvolver. Mas, e se houver um confronto/ a conversarem O TR dispõe de três salas de recepção e rea-
problema? “A polícia está a ser treinada sobre matérias que nimação imediata e equipamento adequado,
através de acções de formação entre a PSP cada uma delas permitindo a execução de todos os tipos de
e a GNR (por vezes em conjunto) e contamos no seu interior intervenções de extrema emergência.
com o apoio de Inglaterra, Holanda, Bélgica desenvolverá.” O serviço de TR é destinado, essencial-
e do Cepol [Colégio Europeu de Polícia]”, Esta acabará mente, a vitimas politraumatizadas, moti-
diz Paulo Gomes. por coordenar vado por quedas, acidentes muito graves e
O secretário de Estado da Administração a actuação agressões (com armas brancas ou de fogo),
Interna, Nuno Magalhães, contou ao PÚBLI- dos diversos afogamentos, queimaduras e outros. Serve
CO que a segurança do Euro 2004 “está a ser organismos e na zona de Lisboa, abrangendo partes distin-
encarada de forma séria”: “O trabalho que entidades que tas que vão desde a Lourinhã até Faro.
está a ser desenvolvido é no duplo pressu- contribuem para É considerado pelos responsáveis como
posto: todos os jogos são do mais alto risco, a segurança um espaço indispensável, pela qualidade
embora existam uns de maior risco do que global do evento, humana e técnica, que constitui no país e
outros, por exemplo, um Alemanha-Inglater- em vertentes particularmente na zona metropolitana de
ra), e de todos terem lotação esgotada.” distintas como a Lisboa, e por ser uma mais-valia enriquecen-
segurança pública, do os meios de segurança que irão rodear o
Convenção Schengen a segurança Euro 2004.
Para uma segurança mais eficaz no de- privada (a cargo
correr do Euro 2004, Paulo Gomes defende da Euro 2004, Equipa interministrial
que o fundamental é ser o mais preventivo SA), a segurança para assuntos de saúde
possível e “com duas barreiras, a do país de passiva (bombeiros, A preocupação do Governo com os aspec-
origem e de chegada [Portugal], existe uma pois têm o conhecimento aprofundado dos Protecção tos da saúde durante o Euro 2004, que inclui
maior prevenção e dissuasão”. Além disso, adeptos dos seus países.” “A Comissão de Civil e INEM) questões de protecção contra o bioterroris-
países como a Inglaterra e a Alemanha têm Em coordenação com o centro nacional e a segurança mo, levou três ministérios — Saúde, da
listas de adeptos com antecedentes violen- vão existir os CLIP, um em cada cidade an- Segurança, o estrutural e Juventude e Desportos e da Administração
tos, que vão ser entregues às autoridades fitriã, da responsabilidade dos comandos CCIP, através de tecnológica (a Interna — a criar a Comissão de Acom-
portuguesas, e é certo que a reintrodução da PSP e GNR, que recolhem e transmitem uma cooperação cargo da Portugal panhamento Saúde Euro 2004, através de
dos controlos fronteiriços nacionais, previs- informação de e para o centro nacional, não 2004 SA). Ao um despacho conjunto publicado a 4 de
ta em casos excepcionais na Convenção de se excluindo nesta cooperação a informação policial nível do direito Novembro.
Schengen, permitirá controlar e impedir a de outros locais, nomeadamente centros de internacional, internacional, Numa primeira fase, esta comissão con-
entrada desses adeptos violentos em Portu- treino. De acordo com o subintendente Is- vai disponibilizar além da Convenção tará com 16 elementos e será uma espécie
gal, e facilitará a sua rápida extradição. mael Jorge já foram feitos vários contactos Europeia sobre de “suporte” às medidas a criar para a
De acordo com o disposto no artº 2º, nº com as polícias das selecções apuradas e
informação a Violência dos área da saúde do Euro 2004. Desta equipa
2, da Convenção de Aplicação do Acordo com as outras dez que discutem o apura- de dados Espectadores, emanará uma mini-comissão executiva de
de Schengen, por razões da ordem pública mento, e haverá cada vez mais encontros policiais, como do Conselho da sete elementos que, no terreno, irá acompa-
ou de segurança nacional um dos países do com as autoridades desses países. movimentos de Europa (ver P&R), nhar todas as operações e medidas na área
espaço Schengen, onde Portugal está inclu- A segurança em Portugal destinada ao a comissão toma da saúde.
ído, pode decidir pelo restabelecimento de Euro 2004 tem estes mecanismos que pro- adeptos e grupos também como O facto de o Europeu de futebol trazer a
fronteiras. Neste contexto, para o secretário curam fazer da informação e prevenção a de pessoas referência os Portugal largos milhares de visitantes de vá-
de Estado, Nuno Magalhães essa hipótese principal arma contra a violência. “Conta- no geral” recentes normativos rios países agudizou as preocupações em ma-
é encarada como provável e o Euro 2004 mos com a imprensa para divulgar o tipo de da UE sobre téria de protecção contra eventuais ataques
constitui uma forte justificação para se trabalho que está a ser feito, para que as pes- ISMAEL JORGE cooperação policial terroristas com agentes biológicos. Por esta
accionar essa cláusula excepcional. O SEF soas percebam que existem autoridades a subintendente e internacional em razão, de acordo com a agência Lusa, houve
tem quase pronto um documento sobre esta preparar com cuidado a segurança do Euro coordenador do CCIP matéria de troca de um reforço de verbas na Direcção-Geral da
situação que depois será presente aos orga- 2004”, contou ao PÚBLICO o coordenador- informações sobre Saúde, para aumentar a capacidade labora-
nismos envolvidos e em última instância ao geral da Comissão de Segurança, Leonel de futebol. J.T. torial que está preparada para diagnosticar
primeiro-ministro. Carvalho. ■ JOÃO TOMÉ a varíola. ■ J.T.
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PÚBLICO•QUINTA-FEIRA, 20 NOV 2003 EURO 2004 E SEGURANÇA NOS ESTÁDIOS
P&R
Quais são os mecanismos de auto-regulação, ou “self-policing”,
previstos no “Manual Europeu sobre Prevenção da Violência e Desporto”?
O PAPEL DOS
MAGISTRADOS
O que é o “fan coaching”?
Pode ser traduzido genericamente como en-
quadramento de adeptos, por parte de adeptos
colaborando activamente na prevenção e
resolução de conflitos e problemas em que os
seus adeptos se vejam envolvidos, quer como
Como actua o “steward”?
Esta figura — que surgiu, pela primeira vez,
no início da corrente época desportiva — foi
NOS CONFLITOS
mais antigos. Segundo o “Manual do Conse- autores, quer como vítimas. No Euro 2004: introduzida no futebol português, e no direi-
lho da Europa”, “fan coaching” é “parte do associações e federações de adeptos checos, to interno tem a designação de “assistente de A segurança do Euro 2004 também
esforço tendo em vista uma prevenção social alemães, holandeses, ingleses, individual- recinto desportivo”. Trata-se de funcionários implica os magistrados, pois caso se
e educativa”. Tal só é possível com dois pré- mente ou em parcerias, com meios próprios com o estatuto e formação base de vigilante verifiquem casos de hooliganismo,
requisitos fundamentais: “Promover uma ou com apoios comunitários — como é o caso de segurança privada, que dispõem de for- a justiça terá de actuar o mais rapi-
cultura de adeptos positiva e criar condições do Programa AGIS, que financia iniciativas mação adicional em matéria de segurança de damente possível para evitar mais
satisfatórias para a estada de adeptos que de prevenção da delinquência e da crimina- recintos desportivos. Desempenham funções problemas, isto num país com uma
visitam o país”. Está especialmente desen- lidade —, deverão criar este tipo de estrutura de vigilância do recinto desportivo e anéis de legislação actualmente pouco prepa-
volvido e estruturado, com profissionais em várias cidades portuguesas. segurança, fazendo cumprir o regulamento rada para a violência associada ao
KAI PFAFFENBACH/REUTERS
interno; de gestão e controlo de acessos, não desporto.
só controlando os títulos de ingresso, como de- Neste contexto, em 17 de Outubro,
tectando e impedindo a introdução de objectos o Departamento de Investigação e
proibidos ou perigosos; e de acompanhamento, Acção Penal (DIAP) de Lisboa pro-
acomodação e informação dos espectadores, moveu uma mesa-redonda subordi-
prevenindo a ocorrência de incidentes. nada ao tema genérico: “A Violência
Associada ao Desporto”. Esta acção foi
E os “spotters”? enquadrada numa série de iniciativas
São agentes especializados em informações realizadas por ocasião do 15º aniver-
policiais, que integram as delegações poli- sário do DIAP.
ciais dos vários países e que, acompanhando A escolha da temática por parte
frequentemente os seus grupos de adeptos na- da coordenação do DIAP reflecte o
cionais, conhecem os seus hábitos e reacções. interesse e em certa medida a preo-
Actuando no terreno e, sendo bons fisionomis- cupação dos magistrados do Ministé-
tas, desempenham um papel importante na rio Público com intervenção na área
ligação com as suas delegações policiais e com penal, pelos actos de hooliganismo
as autoridades locais, na detecção e identifi- que podem vir a ocorrer no futuro,
cação de adeptos violentos, na prevenção de nomeadamente no Euro 2004.
actos de violência e na ligação entre os adeptos O jurista José Manuel Meirim con-
e as autoridades locais. sidera que “o objectivo da iniciativa
foi o de proporcionar aos magistrados,
O que significa “banning order”? diferentes e eventualmente mais
É uma decisão condenatória (não existen- próximas leituras desse fenómeno
te em Portugal), que pode ser de natureza [de hooliganismo]”. Além do jurista,
judicial, administrativa ou civil-desportiva ligado ao direito do desporto, também
(neste caso, aplicada pelo clube, por violação participaram na mesa-redonda Pau-
do regulamento interno do estádio), aplicada lo Gomes, secretário-executivo da
a adepto que comprovadamente praticou Comissão de Segurança para o Euro
actos de violência associada ao futebol, e que 2004, e uma socióloga do desporto com
se traduz na sua proibição, por tempo deter- vasta experiência neste domínio, Sa-
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minado, de entrar em estádios de futebol ou lomé Marivoet.
em recintos desportivos. Em alguns países, Naquele encontro, foram abordados
como é o caso da Inglaterra ou Alemanha, o três factores relativamente à violência
adepto pode ser obrigado a apresentar-se em associada ao desporto: direito (legis-
departamento policial à sua escolha, nos dias lação desportiva), segurança pública
de jogo da sua equipa, podendo mesmo ser-lhe (perspectiva mais policial) e socio-
retido o bilhete de identidade ou passaporte, de logia, respectivamente associados a
modo a impedir a sua saída para o estrangeiro, cada um dos oradores.
para assistir a jogos da sua equipa. É o que, “Procurei dar conta da falência prá-
para o Euro 2004, previsivelmente, acontecerá tica da legislação portuguesa, a qual
nesses dois países, com os adeptos registados não goza de muita efectividade”, refe-
como os mais violentos. riu ao PÚBLICO José Manuel Meirim,
relativamente aos aspectos jurídicos
O que diz a “Convenção Europeia discutidos na mesa redonda. O jurista,
sobre a Violência e os Excessos que também é professor auxiliar da
dos Espectadores por ocasião Faculdade de Motricidade Humana,
de Manifestações Desportivas considera que “a legislação portugue-
e nomeadamente de Jogos de Futebol”? sa é um morto-vivo nesta matéria [de
Na sequência dos incidentes do Heysel Park, hooliganismo]” e isso “redobra de
em Bruxelas, em Maio de 1985, o Conselho da importância e urgência a adopção de
Europa aprovou, em Estrasburgo, em 19 de medidas que possam oferecer resposta
Agosto desse ano, um instrumento de direito minimamente aceitável no quadro de
internacional contendo medidas concretas e uma competição desportiva interna-
imperativas, sob a forma de convenção, para cional desta envergadura”.
especializados em aspectos sociais e educa- Para que serve o CCIP? combater a violência e a insegurança nos Nesta iniciativa também foram
cionais, na Bélgica, Alemanha, Holanda e O Centro Coordenador de Informações Poli- estádios de futebol. Portugal foi um dos referidas as vias possíveis de pu-
Inglaterra. São os líderes das associações de ciais funcionará como centro nacional de in- primeiros Estados-membros do Con- ição dos diferentes actos de
adeptos que costumam coordenar este tipo de formações policiais sobre violência associada selho da Europa a assinar e ratifi- violência associada ao des-
actividades. No Euro 2004, estes mecanismos ao futebol, tendo em vista o Euro 2004. Ficará car esta convenção. Entretanto, foi porto, havendo referência a
deverão ser utilizados, designadamente, sob sediado em Lisboa e incluirá não só oficiais aprovada a Resolução do Conselho recentes criminalizações de
a forma de “fan embassies”. de ligação das forças e serviços de segurança da União Europeia, de 6 de Dezem- algumas manifestações de
portugueses, como oficiais de ligação de todos bro de 2001, que veio homologar um violência em outros países.
E o que são as “fan embassies”? os países participantes no torneio. Funcionará manual com recomendações para Paulo Gomes deu o exemplo
São uma forma de pôr em prática o “fan co- como verdadeiro centro nevrálgico de gestão e a cooperação policial internacional o que acontece em países
aching”. Verdadeiro mecanismo concreto e troca de informações policiais sobre violência e medidas de prevenção e luta contr o Alemanha ou Inglaterra,
visível de auto-regulação, constituídas pelas no futebol, estando ligado, em permanência, violência e os distúrbios associados aos jogos em que o sistema legal “permite res-
organizações de adeptos e um canal de co- aos centros congéneres nos países europeus, de futebol com dimensão internacional em tringir os adeptos com antecedentes
municação com as autoridades locais. Estas às células locais, instaladas em cada cidade que, pelo menos, um Estado-membro se en- violentos, através da apreensão dos
embaixadas nacionais são, por natureza, iti- anfitriã, bem como às sedes das várias forças contre envolvido. Seguiu-se, em 25 de Abril passaportes, proibição de entrada nos
nerantes, podendo consistir em autocarros e serviços de segurança portugueses que o de 2002, o primeiro documento comunitário estádios, entre outras”. A socióloga
ou casas pré-fabricadas, que são instalados integram. com carácter vinculativo, neste domínio: Salomé Marivoet contribuiu com uma
em zonas centrais das cidades anfitriãs, a Decisão do Conselho da União Europeia, perspectiva mais social da violência
com o objectivo de prestarem todo o tipo E os CLIP? relativa à segurança por ocasião de jogos de associada ao desporto.
de apoio aos próprios adeptos nacionais, à Estas são Células Locais de Informações Po- futebol com dimensão internacional, que vem Acabaram assim por ser expres-
medida que se deslocam pelo país anfitrião, liciais, que serão oito, uma em cada cidade impor aos Estados-membros a criação de um sas várias preocupações sobre o
desde logo, informação turística e desportiva. anfitriã do Euro 2004, e estarão ligadas ao ponto nacional de informações policiais sobre “caso especial” que vai constituir o
Têm a vantagem de conhecerem o idioma, CCIP. Recebem e transmitem, para o centro futebol, de natureza policial, que funcione co- Euro 2004, isto apesar de ainda não
os hábitos, a mentalidade e as necessidades nacional, toda a informação policial relevan- mo ponto de contacto directo e central para se saber muito bem que alterações
dos seus adeptos, constituindo-se, assim, te sobre a preparação ou ocorrência de actos o intercâmbio das informações pertinentes legislativas estão a ser pensadas de
como interlocutores privilegiados com as violentos perpetrados por adeptos, para que e para facilitar a cooperação policial inter- forma a obter respostas céleres e efi-
autarquias locais, as forças de segurança se possa planear e/ou coordenar uma inter- nacional no âmbito de jogos de futebol com cazes para combater os fenómenos de
e as embaixadas oficiais dos seus países, venção policial adequada. dimensão internacional. J.T. hooliganismo. ■.J.T.
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MUELLER/REUTERS
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PÚBLICO•QUINTA-FEIRA, 20 NOV 2003
Conquistar o coração
dos portugueses
Os dois principais grupos de ser muito alto, opomo-nos ao
adeptos ingleses consideram mau policiamento e queremos
que o Euro 2004 vai ser um ver bom tratamento aos adep-
sucesso e apostam “em gran- tos”, explicou o responsável
de” na preparação do evento. da FSF, que deu o exemplo
“Sabemos que temos uma da “brutalidade policial” que
má reputação e queremos houve num jogo realizado
conquistar o vosso coração. A este ano na Eslováquia. Esta
Changed
maioria with the DEMO
dos adeptos ingleses VERSION
organização of CAD-KAS
recebe dinheiro PDF-Editor (http://www.cadkas.com).
gosta, acima de tudo, de ver do Governo britânico, mas
bom futebol, pois são apaixo- actua de forma independente.
nados pelo desporto e pela sua Para o responsável da FSF,
equipa”, disse o entusiasmado esta “independência” deve-se
Mark Perrymen, responsável à estratégia governamental de
pela organização que pertence “multi-agency”, na qual a polí-
à Federação Inglesa de Futebol, cia procura os “hooligans” e a
England Fans. Esta associação, FSF presta ajuda aos adeptos
que contabiliza 17 mil mem- normais para aproveitarem
bros, destina-se essencialmente o torneio, representando-os
à venda de bilhetes para jogos junto do Governo inglês, de
da selecção inglesa. governos estrangeiros e res-
A Football Supporters Fede- pectivas autoridades.
ration (FSF) é uma organização Ainda segundo Kevin Miles,
independente das autoridades a Football Supportters Federa-
de futebol e é baseada na filia- tion foi a criadora do serviço
ção, contando com mais de de apoio para adeptos, “fan em-
cem mil membros de diversos bassy” (ver P&R), que começou
clubes em Inglaterra e no País no Mundial de Itália de 1990.
de Gales. De acordo com Kevin Depois disso, organizações de
Miles, coordenador internacio- adeptos alemães fizeram um
nal da FSF, é garantido que um serviço semelhante. “Desde aí
grande número de adeptos in- temos feito esse serviço em to-
gleses irão a Portugal. “A nos- dos os grandes torneios e agora
sa missão é que eles tenham fazêmo-lo em todos os jogos de
toda a informação necessária Inglaterra”, referiu .
para que possam aproveitar No início do Euro 2004,
o torneio e relaxar.” “É que quando estiver activa a “fan
a maior parte dos ingleses embassy”, a FSF vai produzir
irão a Portugal para umas uma revista, uma edição para
férias futebolísticas. Devem cada jogo que Inglaterra jogue,
misturar-se com outros fãs, e que “terá informação sobre
beber muita cerveja, terão as toda a cidade, também sobre o
suas bandeiras e farão muito jogo, onde ir, onde ficar, como
barulho a apoiar a equipa, viajar, onde comer e beber,
deverão ser os adeptos mais etc”, recisa Miles. Também
barulhentos do Euro 2004”, será fornecida informação
acrescenta Miles. sobre as legislação local, que
Para este adepto, essa Potugal irá disponibilizar.
relação com autoridades por- Haverá uma presença física
tuguesas começou no grupo no local, através de um veículo
de trabalho para a Prevenção identificado como “fan embas-
da Violência no Desporto do sy”, que de acordo com a FSF
Conselho da Europa, do qual estará estacionado perma-
fez parte. “Somos uma organi- nentemente em cada uma das
zação de campanhas, fazemos cidades onde Inglaterra jogue.
a campanha dos interesses “Vamos desenvolver um sítio
dos adeptos normais de fute- na Internet, com toda a infor-
bol. Opomo-nos à violência, mação útil que vai ser lançado
ao racismo, mas também nos na Primavera”, disse ao PÚBLI-
opomos ao preço dos bilhetes CO Kevin Miles. ■ J.T.
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