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uma pessoa nunca existiu num nico momento, nem realizou nenhuma aco,
de que no possa recordar-se ou, na verdade, em que no reflicta. E
devemos realmente considerar auto-evidente que a conscincia da identidade
pessoal pressupe e, portanto, no pode constituir a identidade pessoal,
tal como o conhecimento, em qualquer outro caso, no pode constituir a
verdade: este pressupe a verdade.
Este erro admirvel pode ter surgido do seguinte: estar investido de
conscincia algo inseparvel da ideia de pessoa ou ser inteligente. Pois
podemos exprimir isto inexactamente dizendo que a conscincia faz a
personalidade, do que se poder concluir que esta faz a identidade pessoal.
Contudo, ainda que a conscincia presente daquilo que fazemos e sentimos
presentemente seja necessria para sermos a pessoa que somos agora, a
conscincia presente de aces ou de sensaes passadas no necessria
para sermos as mesmas pessoas que realizaram essas aces ou tiveram
essas sensaes.
A investigao do que faz os vegetais serem os mesmos na acepo
comum da palavra no parece ter nenhuma relao com a investigao da
identidade pessoal, j que a palavra mesmo, quando aplicada aos vegetais e
s pessoas, alm de ser aplicada a objectos diferentes, usada em sentidos
diferentes. Afinal, quando um homem afiana que a mesma rvore permanece
h cinquenta anos no mesmo lugar, ele quer dizer apenas que a mesma para
efeitos de propriedade e para os usos da vida comum, e no que a rvore foi,
durante todo esse tempo, a mesma no sentido filosfico rigoroso da palavra.
Pois ele no sabe se alguma das partculas da rvore presente a mesma que
uma das partculas da rvore que estava no mesmo lugar h cinquenta anos. E
se no partilharem uma nica partcula de matria, no podem ser a mesma
rvore no sentido filosfico apropriado da palavra mesma. Evidentemente, dizer
que o so seria uma contradio nos termos, quando nenhuma parte da sua
substncia e nenhuma das suas propriedades so as mesmas: nenhuma parte
da sua substncia, por suposio; nenhuma das suas propriedades, pois
admite-se que a mesma propriedade no pode ser transferida de uma
substncia para outra. E, portanto, quando dizemos que a identidade ou
mesmidade de uma planta consiste numa continuao da mesma vida,
comunicada sob a mesma organizao a um certo de partculas de matria,
no
pode
ser
mesma
em
dois
momentos,
nem,
Ibid., p. 152.
Veja-se uma resposta terceira defesa do Dr. Clarke da sua carta ao Sr. Dodwell, 2.