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(A936) Avi, John Langshaw ‘Olan dr fee. | Sohn Langs Aus; Trad de Danilo Marcondes de Souza Fo, Porta Alor: Ares Médias: 19. ep puso. wrwwrrwrwrrwr rrr ew rvrwwwrrwwwwvewwwwweewewt Tadices para oeatilogo sister Filosofia de ingsagem sa Ficha catalog elaborada pele Bil. Cala P, de M, Pires CRB 10753 J.L. AUSTIN QUANDO DIZER E FAZER PALAVRAS E AGAO ‘Tradugéo ¢ apresemagio dedigéo brasileira: Prof. DANILO MARCONDES DE SOUZA FILHO PORTO ALEGRE/I990 réncia” mais ou menos definida (que juntos equivalem a ‘significado”)**. A este ato podemos chamar de ato “rético”, sendo o proferimento que dele re- sulta um “rheme”” a sai tt imi gd (1807) Sn ae Gu" (Ga, pan poreguts de P Aloforado, om G. rope. Lipo fou do inguage Cul, SrPao, i878). (edo) eee Sc 84 JL Austin Atos locucionarios, ilocucionarios e perlocucionarios VIII Conferéncia Ao iniciarmos o programa de encontrar uma lista de verbos performati- vos explicitos, pareceu-nos que nem sempre seria fécil distinguir proferi- mentos performativos de proferimentos constatativos; e, portanto, achamos conveniente recuar por um instante &s questées fundamentais, ou seja, cons derar desde a base em quantos sentidos se pode entender que dizer algo é fa- zer algo, ou que_ao dizer algo estamos fazendo algo, ou mesmo os casos em ‘que por dizer algo fazemos algo. E comegamos distinguindo todo um grupo de sentidos de “fazer algo” que dizer algo é, em sentido normal » completo, fazer algo — 0 que inclui 0 proferitcertos rufdos, certas palavras em determi- nada construgéo, ¢ com um certo ‘‘significado” no sentido filoséfico favorito <éa palavra, isto é, com um sentido ¢ uma rcferéncia determinados. ‘A esse ato de “dizer algo” nesta acepeo normal e completa chamo de realizagio de um ato locuciondrio, ¢ a0 estudo dos proferimentos desse tipo « dlcance chamo de estudo de locugées, ou de unidades completas do diseur- so. Nosso interesse no ato locucionério é, basicamente, esclarecer bem.em que consiste o mesmo para distingilo de outros atos com os quais mos va~ ‘mos ocupar primordialmente. Quero acrescentar simplesmentaaque um estudo ‘muito mais detathado seria possivel e necessério caso nos propuséssemos a discutir o tema em si, detalhes esses que seriam de grande importincia no apenas para os fildsofos, mas também para os graméticos e foneticistas. Distinguimos 0 ato fonético do ato fético do ato rético, O ato fonético consiste simplesmente na emissSo de certos rufdos. 0 ato fético consiste no Quando dizer é fave. 85 TRETweLeeeoeCeECe HCE TCE TT EAUWWAAIVAANS proferimento de certos vocébulos ou palavras, isto 6, rufdos de determinado tipo considerados como pertencentes a um voedbulo € na medida em que a le pertencem, de conformidade com uma certa gramética e na medida em aque a esta se conformam. O ato rético consiste na realizagdo do ato de utili zar tais vocdbulos com um certo sentido e referencia mais ou menos defini- dos, Assim, “Ele disse: —‘O gato est sobre o tapete’ ”, relata um ato fético, a0 passo que “Ele disse que 0 gato estava sobre o tapete” registra um aio rético, Podemos ilustrar um constante semethante com os seguintes pares de expressées: ‘Ele disse: ~ ‘Estaei lt’ ” —““Ble disse que estaria le” “Ble disse: ~ ‘Saia’ " - “Ele me mandou sair” “Ble disse: — ‘E em Oxford ou em Cambridge?” ” — Ele perguntou se era em Oxford ou em Cambridge”. Para prosseguir com esta questio por sua importincia intrinseca, além de nosso interesse imediato, mencionarei alguns pontos gerais dignos de se- rem lembrados: (1) E ébvio que para realizar um ato fético devo realizar um ato fonéti- co, ov, s¢ 0 preferem, ao realizar um estou realizando 0 outro (0 que no (quer dizer que 08 atos féticos sejam uma subclasse dos aos fonéticos, isto €, que pertengam & classe destes tkimos). Contudo, a afinmagio inversa nfo € Yerdadeira, pois se um macaco emite um rufdo que se parece com a palavra you" isso ndo consiste em um ato fico. (2) E dbvio que na definigio do ato fético duas coisas se juutam: voca- buldrio e gramética. Assim no atribuimos um nome especial & pessoa que se diz, por exemplo, “gato inteiramente 0 36" ou “os insiliosos Jombos vorja- fam'", Outro ponto que se apresenta, além da gramética e do vocabulério, é 0 «da entonagio. {G) 0 ato fitico, contudo, como o fonético, ¢ essencialmente imitével, pode ser reproduzido (inclusive na entonagio, caretas, gestos, elc.). Pode-se imitar néo apenas o proferimento entre aspas “Ela tem um lindo cabelo”, ‘como também 0 fato mais complexo de,que tal proferimento tenha sido feito assim: “Ela tem um lindo cabelo” (careta), Bste & 0 uso de “disse” aeguido ou precedido de uma expressio entre spas que aparece nos romances: a expressio toda pode ser exatamente re- ida entre aspas, ou entre aspas precedida de “ele disse” ou, mais fre- ‘qdentemente, seguida de “disse ela”, etc. ‘Mas o ato rético & 0 que relatamos no caso de assergées do tipo “Ele disse que o gato estava sobre 0 tapete”, “Ele disse que ria”, “Ele disse que feu deveria ir” (suas palavras foram ‘"Voce deverd ir”). Este é 0 chamado gp Ain ““discursa.indireto”. Se o-gentido ou referéncia nfo foram entendidos core clareza, entio a expresso toda ou parte dela tem que vir entre aspas. Assim, eu poderia dizer: ~ “Ele disse que eu deveria ir ao ‘ministro’ mas nfo especi- ficou qual ministro”, ou “Ele disse que ele estava se.comportando mal e ele me retrucou que “quanto mais alto chegas menos pessoas encontras’ ”, Con- tudo, nfo podemos sempre usar com facilidade “disse que”. Se a pessoa uti- lizou-se do modo imperativo ou frases equivalentes, dirfamos ‘“mandou-me que’ $e a pessoa utlizou-se do modo imperaivo ou frases equivalents, di- rfamoé “mandou-me que”, “‘aconselhou-me a”, ¢ assim por diante, Compa- re-se “disse,que” com “saudou-me’”e “apresentou suas desculpas”. Acrestentarei mais um ponto a respeito do ato rético, Naturalmente que sentido e referéncia (nomear e refetit) s80 aqui atos acess6rios realizados a0 realizar-se 0 ato rético, Assim, podemos dizer “Por “sanco’ quis dizer...” € dizemos “quando disse ‘ele’ estava me referindo a...". Podemos realizar um ato rético sem referirmos a algo ou a alguém ¢ sem nomeé-lo? Em geral pa- receria que a resposta deveria ser negativa, mas hd casos desconcertantes. Qual € 2 referéncin no caso da afirmativa “todos os tridngulos tm trés la- dos?” Do mesmo modo, torna-se evident: que podémos realizar um ato féti- co que nfo seja um ato rético, embora o inverso néo seja possivel. Assiin, podemos repetir as observagées de outra pessoa, ou murmurar repetidamente alguma frase, ou podemos ler uma sentenca em latim sem saber 0 sentido'das palavras. ‘Aqui no importa muito a questio sobre quando um “pheme” ou um “theme” € 0 mesmo que outro, seja enquanto “tipo” ou exiquanto instincia particular*, nem a questio sobre no que consiste um nico “pheme”” ou “cheme”. Mas, naturalmente, € importante lembrar que o mesmo “pheme”” (nstincia do mesmo tipo) pode ser utilizado em diferentes ocasiGes de profe- rimento com diferentes sentidos ou referéncias, ¢ assim constituir-se num “theme” distinto. Quando diferentes “‘phemes” sio usados com o mesmo sentido € referéncia, podemos falar de atos reticamente equivalentes (em certo sentido, “a mesma declaragio”) mas nao podemos falar do mesmo “theme” ou dos mesmos atos réticos (que constituem a mesma declaragio ‘em outro sentido que envolve 0 uso das mesmas palavras). + osteo “pe” (po ganic) ¢ “Yoke Gnttci partici) so ulzads em Silos a in~ tsgem por divinguir una sentenca ou expresto ings, tmada em abatato, do seu proferi~ fmento coacteto em um conteto detaminado, Tode expres linge, com excesSo tales de Imes pore sci zea, tem exter gendrice eos concetos expectiics. A mes ent {Ju ple, por excmplo, sr peoferéa em um mesmo momar por pesos diferentes, bem como pole ‘ec proferih em momentos e ontertor diferetes, Asim, apexemplo de Stavson citado aims, p. 19) entenga- ipo” "O atu Rel de Fare & fbi" pode sex proferda com refertcia em 1789 sm referencia no perfodo covtemportnes. (do) . Quando dizer 6 fazer 1 © “pheme” é uma unidade da linguagem. Sua deficitncia caracterstica 6 carecer de sentido. Mas, o ‘‘theme” & uma unidade da fala. Sua deficiéncia caracterstica & ser impreciso, vago ou obscuro, etc. Embora tais assuntos sejam de grande interesse, nfo esclarecem no momento 0 nosso problema de contrapor proferimentos performativos a pro- ferimentos constatativos. Por exemplo, seria perfeitamente possivel, com re~ lado ao proferimento “Vai atacar”, esclarecer devidamente “o que estava- mos dizendo” ao emitir o proferimento, em todos os sentidos até agora men- cionados, ¢ contudo nao haver absolutamente aclarado se ao emitir 0 profe- rimento eu estava ou nio realizando o ato de advertir. Pode estar perfeita- mente claro 0 que quero dizer com “Vai atacar”” ou “Feche a porta”, mas pode no estar claro se se trata de uma declaracéo ou de uma adverténcia, etc, Podomos dizer que realizar um ato locucionério €, em_geral, eo ipso, realizar um a{0 flocucfondrio, Como me proponho denomind-lo. Para deter- minar que.este ato ilocuciondtio & realizado dessa forma temos que determi- nar G@ que maneira estos usando a locugéo} ou seja: “= perijuntarelor ow tespondendo a uma pergunta, dando alguma informagio, ou garantia ou adverténcia, —anunciando um veredito ou uma intencio, — pronunciando uma sentonga, —marcando um compromisso, fazendo um apelo ou uma critica, — fazendo uma identificagao ou descrigio € muitos outros casos semethantes. (Néo estou de forma alguma sugerindo que esta seja uma classe nitidamente definida.) Nao hé nada de misterioso agui a respeito do nosso eo ipso. O problema reside realmente no niimero de diferentes sentidos de uma expresso tio vaga quanto “a maneira pela qual estamos usando...” Isto pode referir-se até ao ato locuciouério, ou mesmo a0$ atos perlocuciondrios que mencionaremos mais adiante. Quando realiza- tmos um ato locucionério, utlizamos a fala, Mas de que maneira a estamos ‘ee atime meth ocasia? Porque hi inneas fangs ou nancies de utilizarmos a fala, e faz uma grande diferenca para 0 nosso ato em certo sla ~ so (Py anancin ose sm ge eaves "sand 2 fala nessa odasil. Faz uma grande diferenca saber se estvamos advertindo ou simplesmente sugerindo, ou, na realidade, ordenando; se estivamos es- tritamente prometendo ou apenas anunciando uma vaga intengéo, ¢ assim por diante, Bstas questées penetram um pouzo, e nfo sem confusio, no terreno 1 Verte, p05, 6 Austin lizagSo-dé-um ato “ilocucionétio”, isto 6, i gramatica (ver acima), mas as discutimos constantemente, considerando, © se certs palaveas (uma cera locuc0) tnha a forca de wma perguntay OU se ldeveria ter sido tomada como wma estimativa, cfc. Explique a realizagio de um ato nesse novo sentido com sendo ilo realizagio de um ato ao dizer a Zo, em oposigéo & realizacio de ‘im ato de dizer algo. Vou referi-me Adou- ‘Tia dow deere, ips de ug da nguayéi que equ nos iteessam do aldoutrind das i a | eal tie que por demasiado tempo os fildsofos negligenciram ete estdo, tratando todos os problemas como problems de “uso locucions: sre também que @ “facia descritva” mencionadn na Confertncia ge- Talmente surge do erro de confundir um problema do primeiro tipo com um froblema do segundo, & bem vexdade que estamos agora supeando tN on, alguns anos comesamos a perceber cada vez com mas clareza que mento tein enorme importancia, © que as palavras 70 panto “explicadas” pelo “‘contexto” em que devem estar ou mente faladas numa troca lingistica Contudo, (alvez ainda nos inclineinos demasiado pelas explicagoes-em tex- coro “significado das palavras”. Admitimos.que podemos usar “signif: ado” i ca ilacucionéria ~ “Suas palavras tiveram 5 significado de uny : nero distinguir forga de-Significado, Py ica ee ef-s cm aon essencial TTAMBUIT nl Sendo s ceferéngia dentro de significado. Além do mais, temos aqui uma ilustragao ‘dos diferentes -usos aa: one pressdo “usos da Finguagem”, 00 uso de um sentenga’, 6, ~ poi “uso et palaves incuravelmeate ambigua e demasiado ampls, assim comp & pala “significado”, que muitos hoje nfo levam a ssi, ‘Mas “uso”, que a suplantou, no ‘estd em posico muito ‘melhor. Podemos esclarecer totalmente qual foi o “uso de uma sentenga” em determinada ocasiao, no sentido do ato Jocuciondrio, sem, contudo, tocar no: problema de seu uso 10 sentido do ato Hocuciondiic. ayorar mais essa nogio de ato ilocucionério, contrastemos tanto 0 alo locuetonério quanto’6 ato locuciondrio com um terceio tipo de ao. a Ha um outreeSEffido ()em que wealizar um ato locucionsrio,e assim vam ata ilocusiondeid> pode Ser também realizar um ato de ovto tipo, Dizet algo freqilentementc, 00 até normalmente,_prnduziré certos efeitos ou conse _Guem ex falando, ou de ouraspesous, Esso pode ser fein emo pans 9 ized 1 8 Quando dizer 6 fazet af ereeeeerenereeeeeeeeaserwagaaaasd sito, intengio ou objetivo de produrir tai efitos. Em tal caso podemos di- er, Bio, pensando niss0, que o falante realizou um ato que pode ser des- crito frzendo-se referéncia, meramente obliqua (C.a), ou mesmo sem fazer referéneia alguma (C.b) & realizagio:do ato locucionério ou ilocucionério. CChamaremos a realizacio de um ato deste tipo de realizagéo de um ato per- ocuciondrio ou perlocugéio. Por enquanto nfo definiremos a idéia com maior cuidado — ainda que o ne- cessite ~ mas nos limitaremos apenas a dar exemplos: Exemplo 1: ‘Ato (A) ou Locugéo Ele me disse “‘Atire nelal" querendo dizer com ddo-se a ela por “nela” Ato (B) ou Hocucdo Ele me instigou (ou aconselhou, ordenou, etc.) a atirar nela, Ato (C.a) ou Perlocugio Ele me persuadiu a atirar nela, Ato (C.b) Ele me obrigou a (forgou-me a, etc) atirar nela, Exemplo 2: ‘Ato (A) 0 Locucéo Ele me disse, “Voct nfo pode fazer isso". ‘Ato (B) ow Hocugio Ele protestou contra meu ato, Ato (C.a) ou Perlocugio Ble me conteve, me refreou, Ato (C.b) Ele me impediu, fe2-me ver a realidade, etc, Ele me irritov. Da mesma maneira podemos distinguir 0 ato locucionério “ele disse que...” do ato ilocucionério “‘ele argumentou que...” € do ato perlocuciond- rio “ele me convenceu que...” _-_ Veremos que os efeitos conseqiientes das a te te sultads, efeitos convencionais, tais como, por exemplo, 0 fato de a pessoa que fala ficar comprometida a cumprir sua promessa (isso corresponde a0 ato ilocucionétio). Talvez seja necessério marcar as distin- ‘gées, uma vez que hé nftida diferenga entre o que sentimos ser a producéo real de efeitos reais, ¢ 0 que considerantos como conseqi€ncias meramente convencionais. De qualquer modo volt ‘este assunto mais adiante, et tahun Distingvimos, portanto, de forma esquemitica, ts tipos de atos —0 lo- cucionfrio, 0 ilocucionério e o perlocucionériot. Fagamos alguns comenté- tios gerais sobre estas tés classes, deixando-as ainda um tanto esqueméticas, Os primeitos t's pontos sero novamente sobre ‘“o uso da linguagem”. (1) Nosso interesse nestas confertncias consiste essencialmente em ater-nos a0 ato ilooucionério e contrasté-lo com os outros dois, HA um ten ‘éncia constante em filosofia a se omitir este tipo de ato em favor de um ou- tro dos outros dois. Contudo, 6 distinto de ambos os outros, J4 vimos como cexpress6es “significado” e “uso da sentenga” podem obscurecer a distingio centre atos Jocucionérios e ilocucionérios, Agora notamos que falar do “uso” da linguagem'pode, da. mesma forma, obscureoot fo entre 0 ato ilo- caicionério ¢ 0 perlocucionério ~ portanto vaii6s diferencié-los mals culda- dosamente dentro de instantes. Felar do “‘uso da ‘linguagem’ para argumen- tar ou advertir” parece 0 mesmo que falar do uso da ‘linguagem’ para por- suadir, inctar, alarmar”. No entanto, o primeiro tipo de ‘‘uso" pode ser con- sSiderado, sem maior preciso e para efeito de contraste, convencional, no sentido de ser possivel, pelo menos, explicit-lo pela f6rmula performativa, 20 passo que tal coisa no ocorre com o segundo. Assim, podemos dizer ““Argumento que” ou “Advirto-o de que”, mas nfo podemos dizer “Eu con- vengo voc que” ou “Eu elarmo voce que". Além disso, podemos tornar to- falmente claro 0 fato de estar alguém argumentando ou nfo sem tocar na {questi de a pessoa estar ou nifo convencendo alguém, (Q) Para ir mais além, esclaregamos de uma vez por todas que a expres- so “uso da linguagem” pode cobrir outros assuntos até mais diversos dc {que atos ilocuciondrios e perlocucionérios. Por exemplo, podemos falar do “uso da linguagem'” para alguma coisa, como, por exemplo, para piadas; ¢ podemos usar "ao" de um modo diferente do ‘‘a0” ilocucionério, como fquando dizemos “ao dizer p estava brincando” ou “desempenhado wn pa pel” ou “fazendo poesia”, Ou, também, podemos fax de “‘um uso poético a linguagem’” distinto do “uso da linguagem na poesia”, Tais referéncias 420 “‘uso da linguagem’” nada t&m @ ver com o ato ilocucionério, Por exem- plo, se digo: ~ “Va pegar uma estrela cadente™, podem ser perfeitamente claros o significado e a forga do meu proferimento, mas pode haver diividas acerca de qual desses outros tipos de coisas eu possa estar fazendo, Hs usos 2 (Newt ponto aparece no manutrito uma not felt m 1958 que di (1) Tad ito nfo cet claro (2) «em todos 0 enti rslevantes (A) (8) como dtntos de (C), nfo seo todos ot prfermentae performative?) + Verxo do poet “Song, do peta ings John Donne( 1572-1631). (8. 407.) Quando dizer 6 fazer. 91 “parasitirios” da linguagem, que no sfo “tomados a sério”, ou “no cons- tituem sew uso normal pleno”. Podem estar suspensas as condigdes normais de referéncia, ou pode estar ausente qualquer intengio de levar a cabo um ato perlocucionério tipico, qualquer tentativa de fazer com que o interlocutor faga algo, como Walt Whitman* néo incita realmente a guia da liberdade a algar véo, © Além do mais; podem haver algumas coisas que “fazemos" em al- guma conexéo com o dizer algo que néo parecem se encaixar, pelo menos intuitivamente, em nenfuma dessas classes esquematicamente definidas, ou ue, entéo, parecem pertencer vagamente a mais de uma delas. Mas de qual- quer modo, em principio, nfo vemos que as coisas estejam tio distantes de 1os80S tr€S atos como 0 estfo contar piadas e fazer poesia. Por exemplo, in- sinuar, como quando insinuo algo 20 emitir um proferimento ou porque 0 ‘mito, parece supor algum tipo de convengio, como num ato ilocucionério. Mas nio podemos dizer “Eu insinuo...", pois insinuar, como o dar a enten- der, mais parece um efeito conseguido com habilidade do que um simples ato, Outro exemplo é o demonstrar ou exteriorizar emogées. Podemos revelar ‘emogéo ao emitir 0 proferimento ou porque 0 emitimos, como quando insul- tamos. Mas aqui também no cabem as Férmulas performativas, nem para os outros recursos dos atos ilocucionérios. Poderfamos dizer que usamos o in- sulto para dar vazio a nossos sentimentos. Devemos notar que 0 ato ilocu- cignério & Convengio. ~~) 4 que 08 atos destes trés tipos consistem na realizacdo de ages, é necessério levar em conta os males que podem afetar toda e qualquer acio. Devemos estar preparados sistematicamente para distinguir entre “o ato de fazer x”, isto 6, realizar x, e “o ato de tentar fazer x”. Por exemplo, deve- mos distinguir entte prevenir ¢ tentar prevenir. Aqui cabe estar preparado para encontrar infelicidades. s pr6ximos ts pontossurgem principalmente devido ao fato de nos- 808 atos serem atas.:#° (5) J4 que no&s6s atos sao atos, sempre temos que nos lembrar da dis- tingio entre produzir efeitos ou conseqiiéncias que sfo intencionais ou no intencionais; e entre (1) quando a pessoa que fala tenciona causar um efeito ue pode, contudo, nao ocoirer e (11) quando a pessoa que fala nfo tenciona ‘causar um efeito ou tenciona deixar de causé-lo ¢, contudo, o efeito ocorre. Para enfrentar a complicacdo (1) invocamos, como jé 0 fizemos, a distingio centre tentar ¢ conseguir; para enfrentar a complicacao (II) invocamos os re~ cursos lingifsticos normais para negar nossa responsabilidade (advérbios + Poca american do seul pasado (1819-1892), do) 22 —_.L Austin to convencional: um ato realizado em conformidadé com uma ‘como “néo intencionalmente” e outros), dispontveis para uso individual em todos os casos de realizagéo de agées. | (©) Além disso, devemos admitir, & claro, que nossos atos, como tais, podem ser coisas que de fato nfo fizemos, no sentido em que os realizamnos & forga ou de algum outro modo semelhante, No item (2) jé aludimos a ouitros ‘casos em que podemos néo haver plenamente realizado a aco. (7) Finalmente, temos que enfrentar a objegdo a noss0s atos ilocuciond- zios e perlocucionfrios — a saber, que a nogio do que seja um ato nio é clara = utilizando-nos de uma doutrina geral da aco. ‘Temos a idéia de que um “ato” & uma coisa fisica de forma definida que realizamos, ¢ que se distin- gue das convengées e das conseqiiéncias. Mas, (@) O ato ilocucionério ¢ até mesmo 0 ato locucionério podem estar gdos a convengées. Consideremos 0 caso de render homenagem. B home- nagem porque € convencional e é prestada apenas porque & convencional. Compare-se a diferenca que hé entre dar um pontapé numa parede © dar um pontapé numa bola para fazer um gol (8) O ato perlocucionésio pode incluir o que, de certo modo, sie con- seqiiéncias, como, quando dizemos: ~ “Ao fazer x estava fazendo y" (no sentido de que como conseqiéncia de haver feito x pude fazer y). Sempre imtroduzimos nesse caso uma gama maior ou menor de “conseqiéncias”, al- ‘gumas das quais podem ser “no intencionais”. A expressio “umn ato” nao esté usada, de modo algum, para aludir apenas ao ato fisico minimo. © fato de podermos inctuir no proprio ato uma gama indefinidamente extensa do que se poderiam chamar “‘conseqiiéncias” do ato é, ou deveria ser, um ponto pacffico fundamental da teoria da nossa linguagem acerca de toda a “ago em geral. Assim, se nos perguntam: ~ “O que fez ele?”, podemos responder qualquer uma destas coisas: ~ “Maton o burro; ~ Disparot o revélver; ~ Pur xoU 0 gatilhd; ~ Apertou o dedo que estava sobre o gatilho";e todas as rgs= postas poderiam estar corretas. Assim, para encurtar a histéria infantil dos esforgos da velha que queria levar © porco para casa a tempo de preparar 6 jantar de seu marido, poderfamos dizer, como timo recurso, que 0 gato Jangou-se sobre © porco e conseguiu que este se atirasse por sobre a cerca, ‘Se em casos como estes mencionamos tanto um ato B Glocugéo) come um ato C (perlocugio) diremos que “por haver feito B ele fez C, em vez de di- zer que ao fazer B...” Esta razio de chamar C de ato perlocucionério, para (Sho) plaaelsopor gus o fo alo € menos “sascetfve!” de ser descrito como un tipo #08 ‘ncnos defo de los, do gas de et doscito como um ao fcucionrio (A) mals ou menos do Fnido, Podem apareerdificldadee a eelta de conveng bese integSes no momento de deci o- Sree nto nn nto umn doula A bia dais ‘ude efettaclay deliberad ov nfo, &tnlver io coroum quanto ofrigasto inencionado ou af, er ftclrcer “como dever oe tomsada a nox plavat” (em satdoloeaconiia), Alen dso, t= {tbo apart dos performativosexpletos (vide scima) seve pana evar descordos quanto descr {ode us lactones, De fo & to a diffl evita descordos quanto Bdesergfo de “sts fbevciontioe™. Cada um dese pos de ats, oo entantn, &convencional cayjelio ¥neceasdade do term iterpeetari oferecda por ures". Quando dizer & fazer 99 Nao se pode dizer que preveni um auditério a menos que'este escute 0 que ex diga e tome 0 que digo num determinado sentido. it . De que manera podemos expressat riélhor isto? como podemos déli-~ aitar melhor esta nog0? Em geral 0 eftito equivale a tomar compreensivel © significado ¢ a forga da locugéo. Assim, o de wm ato ilocucion’- rio envolve assegurar sua apreensiia, ‘@ O ato ilocucionsrio “tem efeita” de certas maneiras,.o.que-se.dis- tingue de, cconseqiiéncias_no sentido de_provocar.estados de coisas de maneira “‘normal’’,.isto.¢,-mudangas no curso r Assim, “Batizo este navio com o nome de Queen Elizabeth” teri efeito de batizar ou dar nome 20 barco; feito isso, certos alos subseqientes, tais como referir-se ao barco como Generalissimo Stalin, serio sem cabimento. @) Dissemos, que muitos atos ilocucionsrios levam, em virtude de uma convengfo, a uma resposta ou seqiela, que pode ter uma ou duas dire- 605. Assim, 8 distinguir, por um lado, argumentar, ordenar, prome- ter, sugerir € pedir, e por outro lado oferecer, perguntar a alguém se deseja algo, e perguntar “sim ou nio?”’, Se a resposia € concedida, ou a segiiela le- vada adiante, isso requer_ um segundo ato por parte do protagonista do pri ‘mero ato ou de outra pessoa. E & lugar comum da linguagem com que s° €x- ‘ressam as conseqiiéncias GUE isso nfo pode ser inclufdo na parte inicial da acao. 2 Contudo, geralmente podemos sempre dizer “Fiz. com que ele...” atra- vés de tais palavras. Isto é uma forma de atribuir.o ato a mim e, sc € 0 caso que para realizé-lo se empregam ou podein empregar-se palavras, trata-se de ‘um ato perlocuciondiro.Assim, temos que distiriguir “Eu ordenei e ele obe- deceu” de “Fiz com que ele me obedecesse”. A implicacdo geral da segunda expresso € que se utilizaram outros meios adicionais para produzir essa conseqdéncia como atribufvel a mim, meios tais como recursos persuasivos ¢, inclusive, freqiientemente 0 uso de uma influéncia pessoal chegando & coagéo, Hé até mesmo, e com freqiéncia, um ato ilocucionstio distinto do mero ato de ordenar, como quando digo “‘Ao afirmar X fiz. com que ele fi- zesse, . De modo que i ts manciras pelas quais os atos ilocucions_ ing win Tigres a afin Eas ute mans Sila ln isn do fato de produzir efeitos, que é caracter(sti locucionério, 100 JL, Austin ‘Temos que distinguir as agSes que possuem um objeto perlocucionsrio (convencer, persuadir) daquelas_que. simplesmente_ pio a seal Felomsioni ‘Assit, podemos dizer. “*Tentei preveni-lo, mas s6 consegui lo”. O que é objeto perlocucionério de uma ilocugéo pode ser se- qiela de outra. Por exemplo, 0 objeto perlocucionsrio de prevenir, alertar alguém, pode ser uma seqilela de uma ato perlocucionério que alarma al- guém. Por outro lado, que alguém se sinta dissuadido pode ser a seqiiela de ‘uma ilocugio, em lugar de ser 0 objeto de dizer “nfo facas isso”. Alguns atos perlocucionérios sempre tém seqiielas, mais do que objetos, a saber: aqueles atos que carecem de férmula ilocuciondria, Assim, posso surpreen- der, ou perturbar ou humilhar alguém por meio de uma locugio, embora no cexistam as formulas ilocucionérias “Surpreendo-te por..”, “Perturbo-te por”, “Humilho-tepor...”. - 'B caracterfstico dos atns.perlocucionrios que a resposta ou a seqiela [possa ser conseguida adicionalmente ou inteiramente por, meios no-k drios, Assim, se pode intinidar algyém agitando-se um pedago {& pai ou apontando-The uma arma de fogo. Mesmo nos casos de persuadr, convencer, fazer-se obedecer e fazer-se acreditar, a resposta pode ser obtida de maneira nio verbal. Contudo, s6 isso nfo basta para distinguir os atos ilgcuciondrios, uma vez que podemos, por exém revenir, ordenar, de- -signar, dat, protestar ou pedir desculpas por meios tiao Verbais e estes slo ‘tos locucionérios. Assim, podemos fazer certos Gestos"ou atiar wi tomate ‘como sinal de protesto. ‘Mais importante 6 a questo de taber se os alos perlocucionérios po- dem sempre obter suas respostas ou seqiielas por meios nfo convencionais. Nao hi dividas de que podemos ‘conseguir algumas seqiielas de atos perlo- cuciondrios por meios inteiramente nao ‘convencionais, isto é, por meio de atos que nfo sio de modo algum convencionais, ou no sao para esses fins. ‘Assim, posso persuadir alguém balangando suavemente uma vara comprida ‘ou gentilmente mencionando que seus velhos pais ainds estio no Terceiro Reich. Fstritamente falando, nio pode haver um ato ilocucionério a menos que os meios utilizados sejam convencionais, € portanto os mefos para al-_ Canigar OF FE GE Tm ATO EIS tipo emrfornalndo verbal tém de ser conven clonis. Mes & diffe dizer onde comectm e onde terminam as copvengSes. “Assim, posso prevenir alguém agitando um pedago de pat ou posso obse- ‘quiar alguém simplesmente entregando-Ihe algo. Mas se o previno agitando tum pedago de pau, ento o agitar 0 pedago de pau é um aviso: 0 outro sabe~ ‘ia muito bem o que eu queria dizer corn o que fazia, poderia parecer um inequivoco gesto de ameaca. Surgem dificuldades semelhantes com zelago Quando dizer fazer tr VABRBIAAA ‘gererercerererrerrrreerry 20 ato de dar consentimento técito, a algum acordo, ou de prometertacita- mente, ou de volar erguendo a mio. Mas permanece.o fato de que muitos atos ilocucionSrios nao poem. ser realizados.sendo dizendo-se algo. vlido para 08 atos de enunciar, informar (como coisa distinta de mostrar), argumentar, formular uma apreciacio ou estimativa ¢ julgar (em sentido jusf- dico). & vélido também para a maior parte dos judicativos e expositivos co- ‘mo distintos de muitos exercitivos e compromissérios!!. 11 arn defini de judcatvos, expositivos,exercitivos ¢compromissrios vera XII Confetocia (ota doer, ID, Urine). “et Men 102 1 Austin X Conferéncia / “Ao dizer, w. "versus \ Por dize S Deixando de lado por um momento a distingéo inicial entre performati- ‘yos e constatativos ¢ também o programa de encontrar uma lista de palavras perforffativas explicitas, especialmente verbos, fizemos uma nova tentativa de considerar os sentidos em que dizer algo é fazer algo. Assim distinguimos ‘© ato locucionério (e dentro dele 0 fonético, o fitico e o rético) que tem um significado; 0 ato ilocucionério que tem uma certa forga ao dizer-algo; ¢ 0 ‘ato perlocuciondtio que consiste em se obter certos efeitos pelo fato de se di- zet algo. Na diltima conferéncia distinguimos, em conexéo com isso, alguns sen tidos de “‘conseqiiéncias” e “efeitos”; especialmente trés sentidos em que mesmo nos aigs ilocuciondrios os efeitos tém um papel, repre elementos como asségurar i apreensio, ter um resultado e demandar respos- sg Roe tat peck, esos en SAR en e- tre alcangar unt OBjEIVe © provivzir Una sequela: Atos ilocuciondrios $80 ‘ios convencionaisy at0s"Perlocuciondrios7@o-sao convencionais. Atos Ge ‘ambos os tipos podem ser realizados oi, para Sér mais preciso, atos chama- dos pelo mesmo nome podem ser evades a cabo de maneira nfo verbal (por ‘exemplo, atos que equivalem ao ato ilocucionério de prevenir ou ao ato per~ locuciondrio de convencet). Mas, ainda assim, para que um ato ° nome de ilocusionério, por. éenrplo uml tem que ser ato Zorectonalnko-vertal, Os atos perloeucionéris, contudo, nlo so con Yencionais, embora se possam utilizar atos convencionais para produzir 0 ato ‘Quando dizer 6 fazer 403

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