A obra de Elomar Figueira Mello surgiu no final dos anos 1960. Os temas de suas canções e poesias focam a valorização do sertão e da cultura sertaneja. Faz isso contrastando os ethos e visões de mundo tradicionais e modernos. Ao fazer esse contraste, o artista observa que o sertão é tachado por um discurso moderno hegemônico de atrasado, ermo, bárbaro, dentre outros. Com isso, esse discurso moderno rejeita e silencia outros discursos-explicativos que não estão dentro de seus pressupostos como o filosófico, o teológico e o popular. De acordo com Boaventura de Sousa Santos (2010), esse silenciamento pode ser designado como epistemicídio. Assim, o músico denuncia em sua arte esse processo de modernização e o epistemício engendrado pela modernidade. Todavia, ao mesmo tempo em que Elomar faz essa denúncia, não consegue se desgarrar da racionalidade moderna, pois mantém o dualismo cartesiano ao fazer, por exemplo, uma separação entre cidade e campo, caracterizando a primeira como o local da desumanidade, da prevalência dos preceitos demoníacos e a segunda como o local da redenção, do encontro com Deus. Além disso, apesar do músico rejeitar em seu discurso a modernidade, é possível observarmos várias influências modernas em sua vida e obra como sua orientação protestante e seu gosto pela ópera. Por isso é que pensamos que a obra de Elomar Figueira Mello pode ser caracterizada como estando em uma fronteira cultural, em um entre-lugar.
Título original
As coisa lá da minha mudernage: entre-lugar, modernidade e sertão na obra artística de Elomar Figueira Mello
A obra de Elomar Figueira Mello surgiu no final dos anos 1960. Os temas de suas canções e poesias focam a valorização do sertão e da cultura sertaneja. Faz isso contrastando os ethos e visõe…