O documento discute a noção de "antagonismo em equilíbrio" de Gilberto Freyre em Casa-Grande e Senzala. Freyre via a mestiçagem brasileira não como uma síntese mas como um sincretismo de elementos opostos que coexistem em equilíbrio, como o uso de "diga-me" e "me de" no português brasileiro. O documento também discute a importância das paixões, especialmente sexuais, na sociedade colonial brasileira, e como elas promoveram intimidade apesar dos antagonism
O documento discute a noção de "antagonismo em equilíbrio" de Gilberto Freyre em Casa-Grande e Senzala. Freyre via a mestiçagem brasileira não como uma síntese mas como um sincretismo de elementos opostos que coexistem em equilíbrio, como o uso de "diga-me" e "me de" no português brasileiro. O documento também discute a importância das paixões, especialmente sexuais, na sociedade colonial brasileira, e como elas promoveram intimidade apesar dos antagonism
O documento discute a noção de "antagonismo em equilíbrio" de Gilberto Freyre em Casa-Grande e Senzala. Freyre via a mestiçagem brasileira não como uma síntese mas como um sincretismo de elementos opostos que coexistem em equilíbrio, como o uso de "diga-me" e "me de" no português brasileiro. O documento também discute a importância das paixões, especialmente sexuais, na sociedade colonial brasileira, e como elas promoveram intimidade apesar dos antagonism
Antagonismos em Equilbrio em Casa-grande e Senzala de Gilberto Freyre. In: BOTELHO, A.; SCHWARTZ, L. Um Enigma Chamado Brasil.
O debate em que GF se insere o de uma poca em que se falava muito
da mestiagem como problema nacional, ora implicava esterilidade biolgica e cultural -, inviabilizando assim o desenvolvimento nacional, ora retardava o completo domnio da raa branca, dificultando o acesso do Brasil aos valores da civilizao ocidental p. 200. GF, seguindo a trilha de alguns outros, como Lima Barreto e Manuel Bonfim, reinterpreta a raa pela cultura, o que no teria sido possvel sem o contato com o antroplogo Franz Boas. Passa a ser esse seu interesse: redefinir a ideia de mestiagem e, de certa forma, reinventar o Brasil p. 200. Essa redefinio parte mesmo dos prprios portugueses, descritos como rota de passagem entre frica e Europa e uma mistura de, dentro outros povos, rabes, romanos e judeus. Mesticagem, entretanto, para GF, no sigfinica a criao de um novo sinttico, mas um sincretismo, definido como um antagonismo em equilbrio. => Sincrtica mas nunca sinttica, essa concepo torna possvel a Gilberto definir o portugus e mais adiante o brasileiro como um luxo de antagonismos que, embora equilibrados, aproximados, recusam-se terminantemente a se fundir em uma nova identidade, separada, indivisvel e original. E ser justamente essa recusa que far com que a sociedade colonial brasileira venha a ser observada sob o primas do hibridismo p. 201. Exemplo desse antagonismo em equilbrio: o portugus falado no Brasil permite duas formas de se utilizar o pronome, o diga-me de origem portuguesa (e nico utilizado em tal pas) e o me de de origem na senzala, sem que se chegue a uma sntese entre ambos, mas existindo de forma equilibrada (embora equilbrio para ele no signifique total harmonia, j que Freyre no nega a existncia de desigualdades e violncia). Como diz Benzaquen, a origem etimolgica da palavra hibrido (de grande importncia nesse pensamento de GF), vem do grego hybris, que pode ser traduzido modernamente como excesso. Outra questo fundamental na tradio cultural brasileira a paixo (sexual) => Trata-se (...) do enorme destaque concedido ao papel desempenhado pelas paixes sobretudo as de natureza sexual na gerao de uma atmosfera de intimidade e calor que, sem descartar os antagonismos, tornava possvel a sua convivncia p. 202. No se deve achar que GF tecia somente elogios: s ter em vista que uma das decorrncia dos excessos na casa-grande foi a sifilizaco disseminada pelo pas. Ainda mais: d destaque a bestializaco das relaes sexuais associadas ao regime escravista: estupros, incesto etc. Dessa forma, fica a pergunta fundamental: como pode haver, decorrente de todo esse erotismo patriarcal, alguma zona de confraternizao? A resposta para isso est, mais uma vez, no antagonismo em
equilbrio. => Dotado de um duplo sentido, acentuando at com
requintes de perversidade as diferenas, mas tambm promovendo alguma fecundidade e confraternizao, o domnio das paixes vai por conseguinte permitir que a afirmao daqueles polos opostos conviva perfeitamente com uma grau quase inusitado de proximidade, recobrindo de um ethos particular a experincia da casa-grande. Antagonismo em equilbrio, mais uma vez p. 204. Essa descrio, porm, parece ser alguma coisa localizada no passado, superada pelo processo de modernizao que o Brasil passa a partir do sculo XIX. Trata-se, como Gilberto comenta (...) de uma espcie de reeuropeizacao do Brasil, ou seja, da rpida e macia introduo de um imenso e sistemtico quadro de referencias que, ocupando virtualmente todos os domnios da vida social, mostra-se de todo incapaz de coexistir com as diferenas, com as paixes, enfim, com o colorido tpico da nossa herana colonial p. 204. O que incomoda GF que esse modelo no chega para coexistir com outras caractersticas aqui presentes, mas parece se impor de forma inflexvel. Dessa forma, Freyre escreve sobre o passado do Brasil, mas se colocando como crtico do presente, do processo civilizador pelo qual passa o pas. O processo de construo terica de Freyre constitui, ento, num desafio para recuperar parte daquele passado que havia sido esquecido para dar espao a esse processo civilizador. Isso se faz notar na forma como constru sua obra: a escolha pela escrita de estilstica oralizada parte dessa reao modernidade (aqui representada pelo cientificismo de escrita rebuscada) que o Brasil assumiu. Como caracterstica decorrente, pode-se perceber tambm a no concluso de suas ideias, lanadas, mas nunca concludas de fato. importante notar tambm que a oralidade , no s, uma opo estilstica de escrita, mas uma fonte de pesquisa para a construo dos seus argumentos. GF parece ser, ele prprio, personagem do seu livro, aquele que assume os antagonismo em equilbrio => Desprovida de fundamentos estveis e de uma espinha dorsal minimamente orgnica e bem articulada, esse personagem d a impresso de cultivar uma certa uma certa vocao para a anarquia que, para o nosso autor, acaba por se transformar em uma espcie de valor, valor que precisa ser defendido da maneira a mais ardorosa quanto maior for o risco de que a modernidade, em funo mesmo do seu compromisso com a ordem e a consistncia, venha a sepult-lo de vez. Outra caracterstica tao importante quando a de antagonismo em equilbrio, mas no tao clara, a de antinomia, presente na obra. Refirome aqui presena de uma perspectiva antinmica e paradoxal na argumentao de Gilberto, perspectiva que chama ateno para as consequncias, para os rendimentos opostos, negativos e positivos, de cada posio assumida no contexto da vida social p. 209. O melhor exemplo dessa caracterstica antinmica talvez seja o papel desempenhado pelas paixes em Casa-grande e Senzala, quando ele
destaca o carter ao mesmo tempo destrutivo e construtivo do excesso
sexual que caracteriza a atuao do colonizador portugus p. 210 (ver citao).
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