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RELATÓRIO TÉCNICO

ACOMPANHAMENTO DA REDE DOS VAGA-LUMES E DA EXPEDIÇÃO VAGA-LUME


ILHA DO MARAJÓ - PARÁ
JUNHO / 2006

INTRODUÇÃO

A convite da Associação Vaga-lume, o Centro Popular de Cultura e Desenvolvimento (CPCD)


participou da Expedição Vaga-lume no período de 7 a 16 de junho de 2006, em Soure, Ilha do
Marajó (Pará), com duas representantes: Vânia Coutinho e Talita Negreiros.

Nesse período, elas tiveram também a oportunidade de acompanhar a Rede Vaga-lume, experiência
entre as escolas municipais Santana de Tucumanduba e Santa Luzia de Pesqueiro, do Pará, e a Escola
Oswald Caravelas, da Vila Madalena, de São Paulo (SP).

Rede dos Vaga-lumes

A Rede Vaga-lume consiste em um programa educacional que visa promover o intercâmbio cultural
entre as comunidades urbanas da grande São Paulo e as comunidades rurais da Amazônia Legal
Brasileira.

As professoras e diretores das escolas locais participaram de reuniões junto à equipe, nas quais
discutiram sobre a importância de participar desse intercâmbio cultural, apresentando ainda
exposições de trabalhos e produtos confeccionados pelos alunos das escolas envolvidas.

Dentro da programação, foram também apresentadas danças típicas da região, como carimbó, brega
e quadrilhas, além de artesanatos locais de materiais típicos, como couro de búfalo, remédios
fitoterápicos da “Organização Novos Curupiras” e passeios pela comunidade.

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Foi um intercâmbio de culturas e de conhecimento proporcionado pela vivência de representantes
institucionais, troca de cartas e de produções das crianças e adultos inseridos em duas realidades
distintas.

As professoras Lúcia Jordan Gonçalves e Maria Cristina, que representaram a escola paulista, foram
recebidas e homenageadas pelos alunos e dirigentes das escolas locais, apresentando também os
trabalhos enviados por seus alunos.

DESCRIÇÃO E ANÁLISE DAS ATIVIDADES DESENVOLVIDAS NO PERÍODO - OBJETIVOS, METODOLOGIA E

CONTRIBUIÇÃO PARA O DESENVOLVIMENTO INTEGRAL DO PÚBLICO-ALVO.

A Expedição Vaga-lume, cujo objetivo é promover o acesso ao livro e à leitura em comunidades rurais
da Amazônia Legal Brasileira, aconteceu em cinco comunidades: Tucumanduba, Pesqueiro, Céu, Caju-
Una e Pedral. Cada uma delas recebeu estantes móveis com um acervo de 150 livros infanto-juvenis.
A prefeitura, como parceira, viabilizou espaço físico e apoio estratégico.

• Visitas às escolas do município de Soure nas comunidades de Tucumanduba, Pesqueiro, Céu e Caju-
Una

Durante um ano e meio, as escolas municipais dessas comunidades e a Escola Oswald Caravelas, de
São Paulo, trocaram cartas, intercambiando impressões e informações sobre modo de vida, relações
familiares, hábitos e costumes. Crianças e adolescentes comunicavam-se numa ação interativa.

Na oportunidade, as professoras trocaram trabalhos confeccionados por alunos de suas respectivas


escolas. Foram também apresentadas várias danças e músicas e oferecidas comidas, bebidas e frutas
típicas da região.

• Implantação de bibliotecas nas comunidades de Caju-Una e Céu

A realidade dessas comunidades não é diferente da que se observa em diversas regiões do Brasil. O
acesso à leitura por meio de livros, jornais e revistas não é uma prática diária; ao contrário, é algo
raro. Isso motivou a Associação Vaga-lume a ter como uma de suas prioridades implantar bibliotecas
comunitárias em regiões eleitas criteriosamente na região da Amazônia Legal Brasileira.

Cada comunidade recebeu 150 livros infanto-juvenis como acervo, além de estantes e tapetes. A
biblioteca é de caráter comunitário, constituindo um espaço onde todos devem ter acesso.

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• Assembléia Comunitária

A assembléia aconteceu na comunidade de Tucumanduba, onde a biblioteca foi implantada em 2002,


como programa-piloto. Os participantes da comunidade discutiram o regimento interno da biblioteca e
firmaram regras de gerenciamento e funcionamento. Adultos, crianças, professores, diretor e
Associação dos Pescadores de Caranguejos e mulheres pescadoras, todos tiveram representação.

A assembléia foi realizada também como referência, para que os participantes possam promover
iniciativas semelhantes em suas comunidades e tenham seu regimento específico.

• Contação de histórias e produção de livros artesanais

Cinco pessoas das comunidades participantes vieram contar histórias para o público. O repertório
variou entre lendas, histórias de vida e casos da comunidade. O primeiro momento foi de
apresentação das pessoas e de suas histórias pessoais. Depois, cada grupo confeccionou um livro
artesanal e num terceiro momento essas pessoas foram homenageadas e fizeram a apresentação de
seus livros.

A experiência foi interessante para os envolvidos, tanto para quem participou contando as histórias
como para os grupos de ouvintes. Eles tiveram material de primeira mão para trabalhar o resgate de
suas histórias e devolvê-las à comunidade. Na oportunidade, foram discutidos os diferentes tipos de
histórias, como elas chegam até nós e sua importância.

• Mediação de leitura e estágio

Participaram do curso a representante da Secretaria Municipal de Educação, dona Edna, um


funcionário da Guascor – empresa parceira da Associação Vaga-lume, professores, alunos,
representantes da comunidade, da biblioteca municipal de Soure e do CPCD. Todos se tornaram
mediadores de leitura, ou seja, aqueles que fazem uma ponte entre livros e pessoas, promovendo o
prazer pela leitura.

Durante o curso, os organizadores contaram histórias de livros infanto-juvenis e preparam os


participantes para fazer um estágio na comunidade. O estágio consiste em sair pela comunidade
contando histórias para a população, no lugar onde ela estiver.

Em grupos, as pessoas visitaram residências e abordaram pessoas pela rua. Nesse trajeto, um fato
interessante aconteceu: um grupo contava histórias em uma casa para sete crianças e essas, ao
observar que na casa vizinha também acontecia o mesmo, foram correndo ouvir outras histórias.

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Assim, foi possível praticar a técnica e o objetivo proposto. Os grupos discutiram sobre essa prática e
como melhorá-la.

GERENCIAMENTO DA EXPERIÊNCIA

A Associação Vaga-lume teve seus trabalhos coordenados pelos seguintes integrantes: Vinólia Vieira
(PA), Sílvia (SP), Cleonice (MA) e Emersom (AM).

DESEMPENHO DOS PARTICIPANTES

Durante todas as atividades, as pessoas estiveram envolvidas com a programação. Nas comunidades,
tudo foi devidamente preparado para a recepção das participantes. Como as atividades eram
intensivas, isso despertou nas pessoas o interesse de aproveitar cada momento.

AVANÇOS OBTIDOS NO DESENVOLVIMENTO DOS OBJETIVOS DO PROJETO - INDICADORES DE


ÊXITO

• Índices qualitativos

Crianças, adolescentes, escolas, instituições e comunidades apresentaram:


- Alto grau de estímulo para a participação comunitária.
- Mais gosto pela leitura.
- Cuidado com os livros adquiridos.
- Afetividade e alegria.
- Aumento da auto-estima.
- Integração entre as instituições envolvidas.
- Coerência com as decisões tomadas na assembléia, de acordo com suas necessidades.

• Índices quantitativos

- O atendimento da instituição passou de duas para cinco comunidades daquele município.


- Mais 150 livros para as comunidades contempladas e implantadas.
- Confecção de cinco livros artesanais durante o curso “Mediadores de leitura”.
- Participação de cinco pessoas “contadoras de histórias” das comunidades envolvidas.
- Apresentação de nove manifestações culturais.

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- Média de 100 crianças e adolescentes participantes.
- Média de 300 participantes das comunidades.
- Realização de uma assembléia comunitária em Tucumanduba.

DIFICULDADES ENCONTRADAS NO DESENVOLVIMENTO DOS OBJETIVOS PROPOSTOS

• Indicadores de dificuldade

As distâncias entre as comunidades tornam-se ainda mais acentuadas pela falta de transporte; esse,
quando existe, é inadequado.

BREVE SÍNTESE DAS REFLEXÕES SISTEMATIZADAS A PARTIR DOS RESULTADOS.

A experiência permitiu abundante troca de conhecimentos e as pessoas se mostraram abertas e


receptivas para interagir. As instituições participantes proporcionaram momentos de reflexão sobre as
práticas educativas do nosso sistema de ensino e formas de ampliá-las para melhor atender às
crianças e adolescentes.

Os representantes das comunidades falaram de sua experiência para sobreviver em um lugar rico em
belezas e recursos naturais, mas ao mesmo tempo desprovido de recursos básicos e fundamentais à
existência humana. A força e a coragem de enfrentamento dessa realidade são ingredientes inerentes
à vontade de viver e conviver.

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ANEXOS

A galinha de ouro

Anda pelas ruas de Tucumanduba uma galinha de ouro com seus pintinhos branquinhos. Ela sai à
noite com seus filhotes. Várias pessoas já tentaram apanhá-la, mas nunca alguém conseguiu.

Quem perseguiu a galinha já viu que ela corre e vai se esconder no oco do pau de uma árvore
enorme, de sombra abundante, à beira da estrada. Essa árvore é muito antiga e nunca deu frutos.

Todos os enterros vindos da região param ali, debaixo dela, para o descanso dos acompanhantes do
defunto. Como as pessoas pegam em seu tronco num momento em que estão muito tristes, essa
tristeza contaminou a árvore.

O melhor mesmo é não perseguir a galinha, pois isso traz mau agouro para a pessoa, dá azar na vida
dela.

A carrocinha de osso

História contada por Dona Raimunda, que recomenda não “brechar” – olhar pela fresta de porta ou
janela. No mês passado (maio), a carrocinha passou e ela escutou. Ela mora sozinha, mas não tem
medo, apenas não “brecha”.

Nas noites mais escuras da comunidade, as pessoas escutam um ruído enorme. É uma carrocinha de
osso que passa fazendo assim: trac-trac-trac-trac. Dizem que ela é mal assombrada. As pessoas não
devem “brechar”, pois isso traz atraso na vida. Ainda hoje ela passa e no outro dia as vizinhas
comentam, muitas escutam.

A raposa e o corvo

História contada pelo Sr. Júlio Teixeira.

A raposa estava andando pela mata, com fome, quando viu um corvo em cima de uma árvore
comendo queijo. Ela ficou embaixo esperando que caísse um pedaço para ela comer.

A raposa, muito esperta, começou a elogiar o corvo, dizendo que ele cantava muito bem e que
gostaria de ouvi-lo cantar alguma de suas músicas.

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Quando o corvo começou a cantar, um pedaço de queijo caiu de sua boca para a raposa, e ela ficou
satisfeita.

• Depoimentos

“Em qualquer lugar pode acontecer a leitura. Basta querer.”


Edielson - Mediador da comunidade Pesqueiro

“É importante levar livro e leitura para todo mundo.”


Ronildo - Funcionário da empresa Guascor

“Através do intercâmbio, ou seja, da troca entre as culturas, as pessoas experimentam o


reconhecimento e a valorização de ambas as partes, além de proporcionar um fortalecimento de
identidade e a quebra de preconceitos entre uma cultura e outra e também entre aspectos de uma
mesma cultura.”
Patrícia - Professora da Escola Santa Luzia

“Este intercâmbio só tem a nos fortalecer. E é bom que podemos repassar e aprender sobre outra
cultura.”
Sônia - Mediadora da comunidade Pesqueiro

“Achei bacana todos esses livros novos que chegaram! São todos legais e eu gosto de ler.”
Rosiele - 11 anos
Aluna da Escola Santana do Tucumanduba

Vânia Lúcia Coutinho / Talita Negreiros


Educadoras CPCD

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