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RELATÓRIO TÉCNICO

PROJETO CIDADE CRIANÇA - ARAÇUAÍ / MG


DEZEMBRO / 2005

INTRODUÇÃO

“Este rio aqui faz a alegria da gente. É dele que a gente sobrevive e trabalha - as mulheres lavam as
roupas e as vasilhas, as crianças brincam. E a melhor hora do dia é a hora de banhar nas águas que
são um presente de Deus...”
Donana - Baixa Quente
Fala sobre o córrego Calhaozinho

“Em Engenheiro Schnoor, devido à destruição, há muitos galhos espalhados pelo chão. Há uma
fogueira e várias folhas secas, árvores mortas e galhos tortos no meio de tanta tristeza e destruição. Há
também um coração, há uma serra e muitas pedras e no meio da seca desperta a vida, umas flores
ressuscitam.”
Grupo Renascer - Engenheiro Schnoor

O Projeto Cidade Criança tem seu piloto em Araçuaí, nas comunidades rurais de Baixa Quente,
Engenheiro Alfredo Graça e Engenheiro Schnoor.

O Projeto Cidade Criança tem como objetivo juntar toda a aldeia para cuidar melhor de uma criança.
A proposta é trabalhar com todas as crianças de 0 a 6 anos, por isso as pessoas da comunidade
foram convidadas a participar da capacitação com duração de uma semana, num total de 40 horas,
onde foi focado o companheirismo, o trabalho em equipe, a valorização do outro e, o cuidado com a
criança pequena de 0 a 6 anos.

As capacitações aconteceram no mês de outubro, intercalando várias dinâmicas, textos, brincadeiras,


produções de brinquedos, rodas e avaliações.

Os acompanhamentos aconteceram de outubro a dezembro.

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Participaram da formação 19 mulheres e 05 adolescentes da comunidade da Baixa Quente, sendo
selecionadas 03 mulheres e 02 adolescentes. Em Alfredo Graça participaram 15 mulheres e 04
adolescentes, sendo selecionadas 04 mulheres e uma adolescente. Em Engenheiro Schnoor foram
capacitadas 24 mulheres e 04 adolescentes, sendo selecionadas 8 mulheres e duas adolescentes.

Em Alfredo Graça, a capacitação de Mães Cuidadoras e Agentes Comunitários de Educação foi muito
difícil. O público encontrado era muito imaturo, sem atenção, com dificuldades de relacionamento e
de participação. O motivo foi estar acontecendo dois cursos ao mesmo tempo na comunidade. Sobrou
para o Cidade Criança aqueles que não encontraram vaga no outro curso. Como a mesma coisa
havia acontecido semanas antes, foi unânime a decisão de não desmarcar novamente a capacitação.
As pessoas, além de imaturas, eram muito tímidas.

Já nas outras comunidades, a capacitação aconteceu sem problemas.

Os acompanhamentos das atividades a cada dia estão melhores. Aconteceram 09 acompanhamentos


em Engenheiro Schnoor, 08 em Alfredo Graça e na Baixa Quente, 12, já que este é o local de fácil
acesso e mais próximo da cidade, não dependendo de transporte especial em dias de chuva e
acontecendo, às vezes, uma média de dois acompanhamentos por semana.

Todas as educadoras estão mais seguras e preparadas a cada dia. O Projeto, aos poucos, vai
ganhando a confiança e o respeito de todas as comunidades envolvidas.

Durante este período, aconteceram oficinas de saúde da mulher, reciclagens, reuniões com os
seguimentos das comunidades, visitas às casas, avaliações e trabalhos diversos de preservação do
meio ambiente.

ATIVIDADES DESENVOLVIDAS

Nesses três meses de Projeto “Cidade Criança”, aconteceram as capacitações, os acompanhamentos


das atividades do Projeto nas três comunidades iniciantes, uma oficina de saúde da mulher, rodas
diárias de avaliação, estudo do PTA, memórias diárias e uma avaliação geral dos três meses de
trabalho feita com os pais.
- As atividades com as gestantes são realizadas individualmente em suas casas e, em grupos, em um
local determinado na comunidade. São feitas massagens, criações de objetos decorativos para os
nenéns, preparação de algo para o enxoval, bate papos sobre saúde, alimentação, higiene,
amamentação, cuidados com as crianças, atividades de cozinha experimental, etc. Cada comunidade

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tem uma Mãe Cuidadora responsável pelas gestantes. Fazer parte do grupo é simples: basta querer
participar.
- As atividades com as crianças de 0 a 3 anos são realizadas em casa com atendimento individual e
junto com os pais, o que algumas chamam de ‘visitas’. O desenvolvimento da criança é avaliado em
todos os sentidos. Os pais participam da avaliação desse desenvolvimento. São usados brinquedos,
livros para contação de histórias, aparelho de som para trabalhos com músicas. Tudo de novo que é
detectado, é anotado e vai sendo avaliado. É de suma importância a participação dos pais nessa
atividade. São realizados encontros com essas crianças, das quais os pais participam. Sempre é
conversada a importância de brincar junto e estar por perto das crianças. Já é possível ver as
evoluções das mesmas. Cada Mãe Cuidadora ou ACE tem em média 10 famílias para trabalhar, de
acordo com a localidade de suas casas.
- As atividades com as crianças de 4 a 6 anos são realizadas em grupos pela comunidade, é a escola
andarilha, o Projeto Sementinha do CPCD. Cada criança é uma cidadã, cada comunidade uma
escola, cada casa e rua uma sala de aula e cada participante na roda um educador. Cada Mãe
Cuidadora ou ACE tem em média 15 crianças no grupo.

1. Capacitações

As oficinas de capacitação foram iniciadas com as expectativas que o grupo tinha em relação à
formação e através delas foram criadas atividades onde cada um ensinou e aprendeu coletivamente.
Discutiu-se o resgate de valores e a coletividade.

As atividades desenvolvidas trabalharam a formação de grupo, a criação de brinquedos e bonecos,


discussões sobre cuidar do outro, respeito, criatividade, afetividade, etc.

As equipes participaram com interesse e curiosidade. “Pra esta comunidade nunca veio nada, tomara
que dê certo”. Ainda estavam na dúvida se o Projeto aconteceria mesmo, mas já estavam gostando da
proposta e buscando novidades para as atividades do mesmo.

Foram realizadas as dinâmicas: “Costa com Costa”, “Patos Voam”, “Roda com Bala”, “Você Gosta de
Mim”, ”Abóbora Faz Melão”, “Minha Direita Está Vaga”, “Faça Assim”, “Boneco de Mola”, “Escravos
de Jô”, “Rua e Avenida”, “Morto Vivo” e dinâmicas locais.

As dinâmicas contribuem muito para ilustrar o que é discutido no decorrer da oficina. Com as
dinâmicas, os exemplos são mais claros e vivenciados por toda a equipe. “Brincando a gente entende
melhor”.

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Os textos: “O cavalinho”, “É brincando que se aprende”, “Tudo o que realmente preciso saber aprendi
no Jardim de Infância” e “Brinquedo apropriado para cada idade”, ajudaram nas discussões e na
formação de novos conceitos sobre o cuidar de “criança pequena”.

Fazer os brinquedos contribuiu para a harmonia do grupo, para a criatividade e coletividade, além do
prazer de fazer. As crianças da comunidade ficavam esperando para ver o que seria produzido a cada
dia. Levar para casa o que era feito na oficina virou um ritual e todos acabavam sabendo de tudo o
que acontecia, através dos brinquedos que aguçavam a curiosidade de toda a comunidade pelo
Projeto. Ao verem os brinquedos, queriam saber mais sobre o dia da oficina.

A auto-estima foi elevada e a valorização da sucata também.

Participar ativamente da roda foi uma conquista gradativa. Aos poucos, as pessoas foram se soltando
e opinando mais. A formação de grupos menores ajudou a aumentar a participação das mais tímidas.
A avaliação individual e diária foi uma forma de saber sobre o aprendizado e o aproveitamento de
cada uma das pessoas envolvidas.

2. Acompanhamentos

• Núcleo Baixa Quente

Assim que terminou a oficina, as pessoas que foram selecionadas começaram a confeccionar
brinquedos, já preparando para receber as crianças.

Logo nos primeiros dias de visitas às casas, as famílias foram bem receptivas, um pouco tímidas, mas,
se o assunto interessava, a conversa ia ficando bem mais interessante e as crianças, ao perceberem
que os pais estavam mais íntimos das Mães Cuidadoras, entendiam que poderiam brincar e confiar
nelas também.

As crianças da Barra do Curuto, a partir do dia 16 de novembro, passaram a ser atendidas na tenda
de farinha da comunidade, pois as mães ficam neste local confeccionando bordado e as crianças são
levadas para lá. Antes de iniciar o Projeto, as crianças ficavam deitadas no chão sem nenhuma
atividade enquanto as mães faziam os bordados. As mães estão muito felizes porque com o Projeto
seus filhos terão mais atenção e carinho, enquanto as mesmas fazem seu trabalho. Outras crianças
que não ficavam neste espaço, agora ficam, pois as mães levam para que possam participar do
Projeto Sementinha dentro do Cidade Criança. As crianças são super espertas, algumas tímidas, mas

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participam das atividades combinadas, e, pelas avaliações, estão gostando muito. Adoram desenhar,
cantar roda, ouvir e contar histórias.

No dia 14 de novembro, visitamos uma gestante que mora na zona rural do povoado, um pouco
distante da Baixa Quente. Durante o percurso, fomos olhando as margens do rio e percebemos a
quantidade de plástico, litros de água sanitária e litro de coca-cola jogados nas margens do rio.
Percebemos também que o rio está muito sujo cheio de mato, precisando limpar suas margens o mais
rápido possível. “Há um tempo atrás, podíamos levar comida para comer no rio, hoje nem areia tem
mais, o rio está acabando, está muito poluído.”(Pretinha) Mãe Cuidadora.

“Precisamos tomar providencias o mais rápido possível, porque daqui a alguns anos só vamos poder
contar histórias de um rio que um dia passou por aqui e isso é muito triste”.

Ao chegar à casa da gestante, a mesma já nos aguardava. A gestante se chama Lucinha. É uma
pessoa super tranqüila e está no quinto mês da quinta gestação. Ela conta que em outras gravidezes, o
bebê mexeu com dois meses ou três e que nesta o bebê deu uma mexidinha no quinto mês. Mostrou-
nos seu cartão de gestante que está organizado e falou das consultas que faz todo mês. A Lucinha
falou dos nomes dos seus filhos e do significado dos mesmos e que vai comprar as fraldas para que
suas colegas gestantes a ajudem a fazer bicos de crochê. Então, falamos dos encontros pensados com
todas as gestantes para conversar um pouco, fazer massagem e confeccionar alguns móbiles para o
quarto dos bebês.

Esse encontro aconteceu conforme o combinado e as gestantes ficaram maravilhadas com os móbiles
e os enfeites que elas fizeram para os quartos de todos os bebês esperados. Aproveitaram a
oportunidade para fazer as unhas de algumas gestantes que iriam passar pelo médico durante a
semana. Cada uma está cuidando da outra com muito carinho e atenção, já tem gente querendo ficar
grávida só para ter a atenção do Projeto Cidade Criança também.

Mais um bebê nasceu na comunidade. A gestante é novinha, chama-se Solange, é primeira gestação
e, o interessante, já havia passado por uma oficina do Projeto Cidade Criança e está sendo
acompanhada pela Mãe Cuidadora responsável pelas gestantes.

Ela teve uma gestação tranqüila, mas por falta de experiência não preparou o corpo devidamente para
receber o filho. Está com muita dificuldade para amamentar o bebê, porque o peito não tem o formato
do bico e a criança não está conseguido sugar o leite corretamente. Com a ajuda da Mãe Cuidadora,
Solange vai tentar formar o bico do peito e não vai parar de amamentar o bebê no seio. A Mãe
Cuidadora também ajudou a curar o umbigo do bebê e a dar banho, pois Solange não tem nenhuma

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experiência com criança e disse ter medo de machucá-la. Em seu quarto, várias bonequinhas feitas
pelo grupo de gestantes enfeitam o carrinho – a criança não tem berço ainda - o que o torna mais
bonito. Segundo Solange este Projeto veio na hora certa, ela está adorando.

Além das atividades desenvolvidas com as crianças e as gestantes, faz-se necessário um trabalho
urgente de conscientização com a comunidade, em relação ao meio ambiente, pois a situação é
caótica, não tem coleta de lixo. Há vários porcos soltos pela comunidade, a maioria das pessoas não
têm caixa d’água em casa, não têm banheiro. O rio também está muito poluído. As pessoas utilizam a
água para lavar vasilha, roupas, tomar banho e ao mesmo tempo os cachorros e os porcos fazem uso
da mesma água.

Tendo em vista toda essa problemática, decidimos convidar toda a comunidade com representantes da
escola, associação dos moradores da Baixa Quente, Associar e donos de bares para uma roda onde,
juntos, pensaríamos juntos o que fazer para se ter uma comunidade mais limpa e organizada. O
encontro foi surpreendente, pois 39 pessoas compareceram e o interessante é que a escola já tem um
Projeto feito para trabalhar o meio ambiente, porém ainda não conseguiu executar por falta de apoio.
A creche também já começou a desenvolver algumas atividades com as crianças e sempre que visitam
as famílias estão conversando.

Mediante as discussões, firmamos como prioridade algumas medidas:

- 1º passo: ver com a Prefeitura a possibilidade de a caçamba pegar o lixo da comunidade de oito em
oito dias, ou de quinze em quinze dias. Em seguida, as pessoas serão informadas sobre o dia em que
poderão colocar o lixo no devido lugar para que alguém possa pegá-lo.

- 2º passo: Fazer uma gincana, envolvendo professores e alunos, distribuindo pontos para os que
conseguirem fazer com que o quintal de sua casa seja o mais limpo e organizado. Isso acontecerá
durante uma semana.
- 3º passo: Haverá um dia em que faremos um mutirão para a limpeza das ruas e rio. Neste dia,
convocaremos todos os moradores a participarem, ajudando a limpar e colher o lixo de sua rua. Para
incentivar mais as pessoas e conservar a limpeza, pensamos em premiar as ruas com latões de coleta
seletiva. Combinamos também que passaremos no telão para a comunidade ver as fotos do dia da
limpeza.

- 4º passo: O plantio de árvores frutíferas pela comunidade.

Tudo isso foi combinado na roda e muita coisa já está sendo realizada.

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O desempenho de todos os envolvidos no Projeto Cidade Criança é muito grande. Com isso,
acabaram ganhando a credibilidade da comunidade. Na comunidade da Barra do Curuto, as
educadoras faziam as atividades com as crianças em um lugar bem apertadinho. Hoje, graça ao
empenho das mesmas, já conseguiram um outro espaço, bem mais amplo, o que as deixam mais
motivadas, pois percebem que podem contar com as pessoas da comunidade. As crianças a cada dia
estão mais desenvolvidas e participativas. Várias atividades são trabalhadas com as crianças, como
por exemplo, os passeios a lugares da comunidade, confecções de brinquedos, histórias, desenhos
livres etc.

O trabalho com as gestantes está também muito bom com reuniões, massagens, bate-papos e a
novidade é a ornamentação dos quartos dos bebês que estão ficando muito bonitos.

Neste período de férias, as educadoras do Projeto poderão usar o espaço da Associar, onde as
mesmas estão preparando algumas atividades diferentes para fazerem com as crianças. A sintonia do
grupo é muito boa, o que faz o trabalho ficar a cada dia mais interessante. Devido às chuvas, não foi
possível fazer o trabalho do meio ambiente com as famílias, escola e comunidade, o que é uma pena,
pois tudo já estava esquematizado para iniciarmos essa atividade ainda este ano. Como não foi
possível, vamos fazendo o trabalho de conscientização com as famílias.

O Cinema Itinerante do CPCD há muito era esperado por esta comunidade. Foi passado o filme
Lisbela e o Prisioneiro, que contou com um público de 150 pessoas entre crianças e adultos. A
avaliação desta atividade foi muito positiva. A comunidade, sempre muito receptiva, não mediu
esforços para estar presente. Mesmo o tempo chuvoso não atrapalhou a exibição.

• Núcleo Alfredo Graça

Alfredo Graça está aceitando muito bem as atividades do Projeto Cidade Criança. As crianças gostam
muito e já é possível observar evoluções nas crianças como diálogo, comunicação, raciocínio mais
rápido, perda da timidez, afetividade.

O trabalho com as gestantes da comunidade está sendo muito interessante, pois além de falar da
importância do pré-natal, do cuidado com o corpo, a educadora está fazendo um trabalho para elevar
a auto-estima das gestantes.

Uma família, em especial, é muito conhecida no Graça por sua "sujeira", como dizem. Nesta família
existem várias crianças de zero a seis anos e até algumas gestantes. Moram todos juntos em uma casa
pequena, na beira do rio, sem nenhum tipo de higiene. Crianças e animais defecam juntos pelo

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terreiro, as roupas ficam pelo chão. As vasilhas são jogadas, crianças e animais dormem juntos, mas
sempre vai alguém para limpar o quintal, para fazer doações de roupas e alimentos, sempre vão fazer
por eles, o que acaba gerando um problema maior, pois pensam que isso é obrigação de outros e
não deles mesmos.

Nesta família há três filhas adolescentes que já são mães, todas acabaram engravidando muito cedo.
Assim que uma das adolescentes ganhou neném, o mais novo da casa, a responsável pelas gestantes
fez mais uma visita à casa desta família, já sem expectativas de ter um bom resultado.

Ao chegar encontrou a mãe deitada, muito esmorecida. Durante o bate-papo, foram falando do
Projeto, seus objetivos e das visitas nas casas. Falaram sobre cores, beleza, cuidados com o corpo,
formas de se sentir mais bonita, até que chegaram em esmalte, cortar unhas, arrumar mãos e pés.
Anália - mãe adolescente -, disse: "gostaria muito de ter as unhas pintadas, mas “tô tão suja, quase
não tomo banho... só se você esperasse, pois como vou arrumar as unhas se estou tão suja”?? Que
descoberta! Abriu-se a porta para começarmos nosso trabalho nesta casa. Neuza – mãe cuidadora -
esperou e arrumou as unhas, e foi uma grande vitória neste dia. O aprendizado, maior do que o
esperado, Anália aprendeu algumas coisas durante o bate-papo da arrumação, mas Neuza aprendeu
um jeito novo e muito eficaz de se achegar às pessoas. Para ela era impossível alguma mudança nesta
família, ainda mais com uma prática tão simples, um diálogo até meio bobo, mas que rendeu tanto.
Esta primeira vitória foi muito rica e mostrou para toda a equipe que é possível mudar um pensamento
com diálogo e principalmente com respeito as pessoas. Anália relatou que nunca tinha feito as unhas
antes e que gostaria de repetir.

Na semana seguinte, todas as educadoras foram visitar esta família. A receptividade foi boa, fizemos
uma roda no quintal, todas da casa participaram, jogaram versos, as crianças brincaram com os
brinquedos feitos de litros descartáveis, levamos também alguns móbiles de material reciclado para
enfeitar o quarto do bebê, conversamos sobre nossa responsabilidade com o meio ambiente, o uso
das sucatas, exemplificados nos brinquedos e móbiles. Percebemos que as crianças gostaram muito
dos brinquedos que levamos. Combinamos que elas juntariam os litros para fazermos juntos os
brinquedos. Esta família tem o privilégio de morar próximo a um dos pontos turísticos da comunidade,
as margens do Rio Gravatá, um lugar muito bonito que, ao mesmo tempo, precisa de cuidados, pois
há muito lixo jogado nas margens do rio, principalmente por esta família. O quintal tem bastante lixo,
muitas latas de óleo. Aos poucos, estamos conversando com esta família sobre a importância de se ter
um espaço limpo e bonito, preservar o meio ambiente e usar a sucata.

Na roda, a sugestão foi de juntar todo o grupo de educadoras, convidar a família para fazer uma
limpeza geral no quintal e conscientizando-a da importância de preservar a natureza. Esta família,

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como já foi falado, sempre recebe pessoas de instituições de Araçuaí para fazer a limpeza de seu
quintal, já é rotina alguém limpar para ela. Assim, fica cômodo sujar, já que não foi formada a
consciência de cuidar e preservar.

Sentindo a necessidade de um trabalho mais amplo, decidimos convidar algumas pessoas da


comunidade para pensarmos juntos e discutimos algumas ações que poderão ser feitas em prol do
meio ambiente da comunidade.

Ouvimos a diretora da escola estadual, que nos relatou sobre um Projeto iniciado há um ano na
nascente do Rio Gravatá – rio que passa no quintal desta família-, mas que está temporariamente
parado.

As pessoas da comunidade falaram também de uma ação de reflorestamento que fizeram nas
margens do rio, plantando um total de 150 mudas de frutas.

Em seguida começamos a discutir a respeito do lixo na comunidade. O presidente da associação falou


que já conversou com a prefeitura sobre providencias para o local onde será feito o aterro sanitário.

Enquanto isso combinamos fazer “o dia da limpeza”, quando então todos irão limpar seus quintais, as
ruas, as margens do rio e, logo após, a caçamba da prefeitura irá buscar o lixo para levar até ao
aterro sanitário em Araçuaí. Combinamos reciclar ao máximo todas as coisas na intenção de, cada vez
mais, diminuir o montante de lixo. Essas ações acontecerão assim que as chuvas derem uma parada,
pois é complicado recolher lixo nas ruas com chuva.

Toda a comunidade apóia o Projeto Cidade Criança e contribui sempre que convocada. Os
acompanhamentos das atividades estão contribuindo para o empodeiramento da equipe e tudo o que
é pensado está sendo colocado em prática, desde que ético e seja bom para todas as crianças.

Durante o mês de dezembro as atividades com as gestantes foram voltadas para encontros onde se
ressaltou a auto-estia, o aleitamento materno, cuidados com a alimentação dos bebês após o
nascimento, planejamento familiar, doenças sexualmente transmissíveis. O encontro tornou-se um
momento de prazer, todos ouviam histórias e conversavam animadamente. Segundo as gestantes,
antes do Projeto iniciar ninguém - a não ser o esposo, o médico, e algum parente mais próximo -
preocupava com a gravidez delas. Hoje, tem alguém que se preocupa, orienta, faz até massagem etc.
“Por isso, se depender de nós, o Projeto não acabará”. “Eu não gosto de sair de casa, mas quando
fala que é para esta reunião, palestra ou momento de lazer eu fico ansiosa para ver o que vai

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acontecer. Embora seja difícil sair de casa, gosto de participar.“Estou aprendendo coisas novas e
conhecendo outras pessoas.”

Foram promovidos encontros com os pais e os filhos, com algumas brincadeiras, contação de
histórias, confecção de brinquedos etc.

Com as crianças, além dos acompanhamentos em casa, toda semana tem sido promovida uma
manhã de lazer com todas as crianças reunidas em um mesmo local. As crianças estão cada dia mais
desenvolvidas e já começaram a se apropriar dos brinquedos e brincadeiras do Projeto.

• Núcleo Engenheiro Schnoor

No 1º dia de acompanhamento do Projeto, o grupo acompanhado foi o de 4 a 6 anos - o


Sementinha.

Havia apenas 6 crianças, pois duas voltaram, não quiseram ficar. Quando cheguei, comecei a
conversar com as crianças e não obtive respostas, pois as mesmas estavam tímidas e já com uma folha
de papel oficio fazendo desenhos. Novamente perguntei se eles já tinham brincado com os brinquedos
que feitos para elas. A educadora me respondeu que não havia levado. Percebi que as crianças
estavam um pouco ociosas e muita quietas. Sugeri então, brincar, para ver se elas se entrosavam.
Começamos então a brincar de roda e futebol. Deu certo. Enquanto isso, a educadora foi buscar os
brinquedos. Ao chegar começamos a brincar com os cata-ventos. Foi muito bom, pois alguns não
funcionaram e as crianças já chegavam até nós pedindo para ver o que estava acontecendo. Foi o
início do nosso diálogo.

Finalizamos nosso encontro com uma avaliação. As crianças falaram sobre o que tinham gostado e
que voltariam no dia seguinte. Combinamos encontrar novamente na quadra, pois o tempo estava
para chuva e lá era o lugar mais propicio.

À tarde, acompanhei o outro grupo do Sementinha que se reuniu no barzinho. As crianças eram mais
extrovertidas, porém havia duas crianças que eram tímidas e só observavam. Fizemos uma roda no
chão e começamos a cantar algumas músicas. Depois fomos confeccionar um biboquê. Todas as
crianças se envolveram, mesmo as tímidas. Ao final, brincar era uma alegria só quando conseguiam
colocar a tampinha dentro do biboquê.

Ao avaliar, as crianças demonstraram que gostaram do encontro e combinamos nos encontrar no dia
seguinte no mesmo local. No meio da avaliação, uma criança chamou a educadora e disse: “Cleide,

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minha mãe está toda queimada, meu pai queimou minha mãe com água e panela quente”. A
educadora ficou sem ação, não respondeu nada para a criança. Percebi que ele é uma criança que
sofre muito dentro de casa com o pai e com as ameaças que o mesmo faz à mãe o tempo todo.
Combinamos acompanhá-lo mais de perto e buscar algumas alternativas para as conversas nas casas
durante as visitas.

Em seguida, reunimos com as educadoras no centro comunitário para avaliar o nosso dia.

As educadoras estavam muito felizes com o primeiro dia de trabalho, pois a receptividade das pessoas
superou as expectativas. As mesmas conversaram com as mães sobre o desenvolvimento dos filhos,
combinaram fazer xarope na própria casa para as crianças que estavam com o peito “carregado”,
orientando as mães a levarem as crianças para serem pesadas e medir a altura.

Uma educadora do Sementinha ficou preocupada com o comportamento de uma criança que era
hiper ativa e que não tinha o mesmo comportamento das outras crianças. Conversamos muito,
falamos que no grupo as crianças têm comportamentos diferenciados e que ela terá de achar formas
interessantes de envolver todas as crianças nas atividades.

Outro fato importante foi que no primeiro dia de trabalho, uma gestante entrou em trabalho de parto
e a Mãe Cuidadora teve que acompanhá-la até o hospital de Araçuaí, pois a mesma estava sozinha
em casa e o esposo encontrava-se em São Paulo trabalhando. Ao chegar em Araçuaí a paciente foi
transferida para Teófilo –Otoni, porque não tinha anestesista para atendê-la e a Mãe Cuidadora foi
acompanhá-la. A gestante teve que ficar das 18:00 até as 21:30 esperando o hospital liberar a
ambulância para levá-las para Teófilo –Otoni. A gestante estava ansiosa e nervosa com a situação,
chegando a vomitar. O percurso estava um pouco complicado porque neste dia chovia muito. À meia
noite e meia chegaram ao hospital Santa Rosália e a gestante foi levada para o pré-parto onde
permaneceu até as 7:00 da manhã.

A Mãe Cuidadora que a acompanhou passou a noite toda dormindo no banco do hospital à espera de
alguma informação e só às 7h ela teve a informação de que a gestante ainda permanecia em
observação e que as enfermeiras pediam o tempo todo que ela se esforçasse, gritasse para ver se o
bebê nascia em parto normal. Ao receber informação não muito boa de sua acompanhante, resolveu
descansar dentro da ambulância e somente às 11h eles resolveram levá-la para a sala de cirurgia.

A Mãe Cuidadora teve que retornar a Araçuaí em busca de uma outra ambulância para trazer a
gestante de volta. Foi muito difícil conseguir a ambulância porque a Secretaria de Saúde dizia não

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poder liberar ambulância só para buscá-la, seria necessário haver mais um paciente em trânsito para
Teófilo Otoni.

A Mãe Cuidadora teve que ficar o dia todo esperando a liberação da ambulância. Ao chegar ao
hospital, a paciente estava em prantos, preocupada, sem saber como viria embora já que não
conhecia nada nem ninguém na cidade e não tinha dinheiro. Ao ver Cleide – a Mãe Cuidadora – a
gestante começou a chorar emocionada, pois pensava que não havia ninguém para buscá-la. O
trabalho com as gestantes teve seu início bem movimentado.

O trabalho com as gestantes está sendo muito interessante, pois são poucas as experiências que
algumas mães têm com os filhos. Numa das visitas, uma mãe contou à educadora que não havia
dormido a noite, pois o filho chorava o tempo todo com dor de barriga e que já havia dado chá de
canela para o bebê, mas nada tinha adiantado. A Mãe Cuidadora pegou a criança e percebeu que
sua barriguinha estava muito dura e que poderia ser gazes. Em seguida, começou a fazer massagem
na barriga da criança que chorava muito por causa da dor. Aos poucos, a criança foi relaxando e
começou o soltar gazes, dormindo em seguida. Rosimere, que é mãe do bebê disse: “quando eu tive
meu outro filho, eu era muito inexperiente e ele chorou muito com dor de barriga. As pessoas me
falavam que normalmente os bebês, até os três meses, têm muita dor de barriga. Hoje, acho que ele
tinha era ‘vento preso’ e eu não sabia”. A educadora aconselhou a mãe a não dar chá de canela para
o bebê, pois o mesmo é quente e poderá fazer mal. Rosimere disse que está gostando muito do
Projeto, pois está aprendendo muito com as educadoras.

Em Engenheiro Schnoor é muito comum as pessoas ainda ganharem neném em casa com a ajuda de
uma mulher da comunidade. As educadoras visitam a mãe para ver se está tudo bem com o bebê e
com ela. Nesta visita, aconselham a mãe a levar a criança para registrar, fazer o teste do pezinho,
passar pelo médico. Descobrimos em uma visita a um dos recém-nascidos na comunidade, que uma
das filhas adolescentes, irmã do mesmo, está grávida e fomos conversar com ela, falamos da
preparação do corpo, dos cuidados com o neném e sobre o aleitamento materno. A jovem deu uma
risada e disse que quando o bebê nascer a mãe poderá amamentar, já que o irmãozinho dela ainda
estará sendo amamentado.

Conversamos muito e deixamos claro que o filho é dela e ela deverá se cuidar e se preparar para
recebê-lo. Sabemos que será um grande desafio, mas que aos poucos iremos conseguir um número
maior de mães amamentando seus filhos.

Outro fato preocupante são as famílias que moram na beira do rio. Uma delas tem quatro crianças
atendidas pelo Projeto. Toda a família utiliza a beira do rio como banheiro, isso significa que as

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pessoas que moram abaixo utilizam água contaminada. A mãe conta que durante a noite as crianças
não dormem direito por causa dos vermes. A Mãe Cuidadora responsável por essas crianças está
buscando um contato maior com a família, com discussões sobre o uso do alternativo, atividades de
cozinha experimental, tendo o vermífugo como pretexto, mesmo que outras instituições tenham
tentado, sem êxito, trabalhar higiene e valorização com a mesma.

Nas visitas feitas às casas das crianças o que percebemos é que as famílias precisam de uma atenção
maior em higiene, pois elas não se preocupam com o meio em que vivem, comprometendo assim a
saúde das crianças. Percebemos a falta de orientação de como cuidar melhor da organização da casa,
das crianças etc. Segundo as educadoras, é até complicado fazer o atendimento às crianças nessas
casas, pois tudo é muito sujo, inclusive as crianças. As educadoras estão pensando em convidar
alguém para dar uma palestra sobre higienização para essas famílias e, a partir daí, fazer o
acompanhamento e orientá-las melhor, levando-as a perceber o bem que faz conviver num espaço
limpo e agradável.

O trabalho com as gestantes está cada dia melhor. Elas se reúnem para confeccionar enxoval para os
bebês, enquanto falam de suas expectativas em relação ao bebê que esperam, do enxoval e, ao
mesmo tempo, distraem, conversando com as outras.

A educadora responsável pela gestante está muito animada com o trabalho e sempre à procura de
material que possa ajudá-la em relação às gestantes, nascimentos etc. Nesses encontros, que
acontecem uma vez por semana, as gestantes vão se conhecendo e se ajudando.

Vejo que esse trabalho é de suma importância para as gestantes e até mesmo para a educadora.
Percebi que ela é um pouco depressiva e esse contato com as pessoas lhe faz bem. Já levou duas
gestantes para ter o filho no hospital, acompanhando-as e até já fez o parto de uma. Isso aconteceu
quando em uma de suas visitas de rotina encontrou a gestante sozinha e em trabalho de parto. Mãe,
filho e parteira passam bem.

Um fato preocupante na comunidade é o número excessivo de crianças com micoses pelo corpo.
Visitamos uma família em que uma das crianças tem seu rosto todo marcado de manchas. A mãe
conta que a criança já passou várias vezes pelo médico e até hoje não descobriram a origem daquelas
manchas. Percebemos que a criança também é desnutrida e está totalmente fora do peso.
Conversamos muito com os pais da criança os qais nos receberam muito bem. Orientamos a mãe
para ferver a água e dar alimentação alternativa, que vai ajudar a recuperar peso.

Projeto Cidade Criança - Araçuaí/MG 13


É muito comum ver na comunidade adolescentes que engravidam sem saber quem é o pai dos bebês,
o que é muito preocupante, pois as mesmas não têm responsabilidade para assumir a criança e
acabam deixando-as para outros criarem ou criam com maus tratos.

Ao chegarmos em uma casa para fazer o acompanhamento do trabalho, deparamos com uma
situação bem caótica: nesta casa há duas mães com recém-nascidos e todos vivem em um ambiente
desumano. No quarto havia somente uma cama, uma pessoa dorme, a outra deita no chão com o
filho em uma espuma estragada e com cheiro forte de urina. Todas as roupas da casa rolam pelo
chão, não há nenhuma organização por parte das pessoas que residem ali. Não há banheiro na casa,
tudo é feito ou jogado às margens do rio. Conversamos com a nossa equipe e decidimos tomar uma
atitude imediata. Estaremos conversando com as duas mães sobre o meio ambiente, de como tornar o
espaço mais limpo, agradável e bonito e como cuidar melhor dos bebês, uma vez que essas mães são
inexperientes. Tendo em vista a necessidade de orientar melhor as mães em relação à gestação, uma
funcionária do posto de saúde propôs fazer uma parceria com o Projeto e ela dará uma palestra para
as gestantes para orientar as mães sobre como preparar-se para o nascimento dos bebês.

3. Oficina

Oficina Saúde da Mulher


Período: 25 e 26 de novembro
Núcleos: Engenheiro Alfredo Graça, Baixa Quente e Engenheiro Schnoor

A oficina de Saúde da mulher interessou muito ao grupo de mães. O objetivo é fazer uma série de
estudos com oficinas coordenadas por Adriane – enfermeira e membro da Secretaria de Saúde de
Curvelo -, tendo como início a saúde da mulher e, posteriormente, gravidez, a amamentação, os
cuidados com o recém-nascido e com a criança de 1 a 6 anos.

O início das oficinas aconteceu nos dias 25 - com as Mães Cuidadoras e ACE’s de Alfredo Graça e
Schnoor e 26 de novembro com as Mães Cuidadoras e ACE’s da Baixa Quente.

A auto-estima é o foco de todo o trabalho. Se a auto-estima da mulher e da mãe está elevada, ela se
preocupa com o corpo, com a saúde, com a casa, com os filhos e tudo mais ao seu redor. É preciso
descobrir formas de elevar a auto-estima das gestantes mais que de qualquer outra pessoa na
comunidade, pois elas são o objetivo do Projeto Cidade Criança e a gestante, o início do trabalho.

Projeto Cidade Criança - Araçuaí/MG 14


A oficina é muito bem vinda pelas educadoras que há muito esperavam por esta oportunidade. As
perguntas foram respondidas sem deixar dúvidas, o clima amistoso da oficina contribuiu para a
participação de todas sem diferenciação.

A oficina começou com a contação da história de cada uma: como e quando nasceu, como foi a
gestação e o parto, como foi a infância, a adolescência e até os dias de hoje. Foi criada uma linha do
tempo, com a participação de todas. Muitas não sabiam falar nada da gestação e do parto, quem
sabia falou coisas muito interessantes e via-se que como se orgulhavam de poder contar sua história
na roda.

A partir das histórias, iniciou-se a oficina, aproveitando as falas, as experiências, os mitos, o que deu
certo e o que não deu.

O mais interessante é que tudo da oficina ia sendo ilustrado com as experiências das educadoras. As
perguntas simples que faziam retratavam a curiosidade sobre a própria sexualidade, desejos, ou falta
de desejos, prazer, doenças sexualmente transmissíveis, métodos contraceptivos.

A avaliação da oficina foi muito positiva, foi grande o desejo de levar mais pessoas para participar.
Por mais que as educadoras sejam multiplicadoras, é diferente o repasse. Os vídeos, as fotos, as
histórias são métodos de Adriane. Cada uma tem seu jeito de repassar, mas todas querem começar
logo e já estão cheias de propostas para a próxima etapa.

A comunidade já ficou sabendo de tudo da oficina e, com certeza, a próxima terá um público maior.
Estamos pensando em abrir para um número maior de pessoas, pois além de ser do interesse da
comunidade, também é interesse da equipe de educadores e do Cidade Criança que toda a
comunidade se envolva no cuidar das crianças pequenas. É preciso trocar e valorizar todos os saberes,
tudo o que for ético e contribuir para o desenvolvimento e o cuidado para com as crianças é bem
vindo.

Ainda não foi marcada a próxima oficina, mas existe grande expectativa para a mesma.

GERENCIAMENTO DO PROJETO

O gerenciamento do Projeto Cidade Criança tem sido muito eficaz, sempre colaborando com as
atividades do Projeto e contribuindo para sanar as dúvidas e necessidades em tempo hábil. Como esta

Projeto Cidade Criança - Araçuaí/MG 15


é uma fase piloto, todas as sugestões são bem vindas desde que sejam éticas. Existe muito apoio e
credibilidade por parte do Gerenciamento do Projeto.

DESEMPENHO DOS EDUCADORES

O desempenho das educadoras foi aumentando á medida em que iam se sentindo mais seguras. Aos
poucos foram participando mais e melhor de toda a capacitação. Já nos acompanhamentos foi
possível perceber a grande evolução dos três grupos. A afinidade com o Projeto é real, estão se
apropriando do mesmo com muita naturalidade e eficiência.

Aos poucos a credibilidade por parte de toda a comunidade está aumentando, existe iniciativa e
criatividade por parte das educadoras e apoio por parte da comunidade.

ENVOLVIMENTO DAS FAMÍLIAS E COMUNIDADES

Um dos aspectos mais interessantes e peculiares das oficinas e atividades realizadas nas comunidades
em Araçuaí é o envolvimento das pessoas. De alguma forma, tudo se torna um acontecimento, um
grande evento e não só as lideranças, mas todas as crianças, velhos e principalmente as mulheres,
vão, visitam, conversam conosco, dão opinião, oferecem biscoitos, mimos, passeios, ou seja, toda a
comunidade se envolve de alguma forma.

A comunidade é bem receptiva. Mesmo as pessoas que não estão participando da oficina se informam
sobre os acontecimentos e sempre que têm oportunidade ficam observando o que está acontecendo e
depois comentam uma com as outras. Contribuem com as sucatas e a curiosidade pelo Projeto vem
aumentando a cada dia.

Aconteceu um resgate de brincadeira á noite muito interessante. Após um dia de capacitação em que
foram discutidos os costumes do passado, surgiu a idéia de resgatar um costume antigo de várias
comunidades: a cantiga de roda. A comunidade de Alfredo Graça foi convidada para uma cantiga de
roda com direito a jogar versos, dançar e finalizar com uma grande corrente, passando por toda a rua
e envolvendo mais moradores. Quem não participou da roda, participou da janela, da porta de casa,
da porta do bar. Os comentários sobre a roda foram longe.

Projeto Cidade Criança - Araçuaí/MG 16


As crianças também participaram. Ao acabar a roda, já tarde da noite, ficou o pedido de novas rodas
nas próximas semanas. “Estou ‘destreinada’, vou fazer uns versinhos novos para jogar na próxima
roda”, “a gente não precisava esperar vir gente de fora para fazer essas coisas boas, isso é muito
melhor que novela das 8h”. A comunidade já tem uma visão diferenciada do Projeto Cidade Criança,
“esse Projeto gosta do que a gente sabe”.

AVANÇOS OBTIDOS NO DESENVOLVIMENTO DOS OBJETIVOS DO PROJETO

Indicadores de êxito

• Índices qualitativos

- Aumento do compromisso e participação da equipe no desenrolar da capacitação e das atividades


do Projeto Cidade Criança;
- Resgate de brincadeiras populares com a participação da comunidade;
- Rodas e avaliações com diálogos mais calmos no decorrer da capacitação e das atividades diárias
do Projeto;
- Relação afetiva e desenvolvimento dos grupos;
- Atividades em conjunto bem integradas e harmoniosas;
- Elevação do potencial criativo individual e do grupo;
- Receptividade das pessoas;
- Produção, estudo e avaliação do PTA – Plano de Trabalho e Avaliação;
- As produções de brinquedos e bonecos;
- As curiosidades pesquisadas na região;
- A forma de apresentar o Projeto para a comunidade a partir dos brinquedos confeccionados;
- As rodas e avaliações diárias.

• Índices quantitativos

- Capacitação de 40 horas para 71 pessoas das três comunidades envolvidas e seleção de 15 Mães
Cuidadoras e 05 Agentes Comunitárias de Educação;
- Freqüência de 99% do grupo durante todo o tempo da capacitação;
- Realização de 8 acompanhamentos em Engenheiro Alfredo Graça, 9 acompanhamentos em
Engenheiro Schnoor e 12 acompanhamentos na Baixa Quente;
- Realização de uma oficina de Saúde da Mulher para as Mães Cuidadoras e ACE’s.

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DIFICULDADES ENCONTRADAS NO DESENVOLVIMENTO DOS OBJETIVOS DO PROJETO

• Indicadores de dificuldades

Com as participantes das três comunidades, os maiores problemas relacionavam-se com religião. A
dificuldade para brincar, falar, dar opinião sempre apareceu devido á religião de cada participante
não permitir.

Aos poucos esta dificuldade foi sendo vencida e a participação aumentou, passando todas a fazer tudo
o que era proposto nas capacitações. Já nos acompanhamentos o mesmo não ocorreu. Todas as
atividades estão acontecendo da melhor maneira possível, até mesmo superando as expectativas.

A falta de água para beber foi uma grande dificuldade. As pessoas traziam água de casa e muitas
vezes era insuficiente para todos beberem. Isso ainda acontece nas reuniões e nas visitas, mas não
chega a ser empecilho para o trabalho.

A grande dificuldade tem sido chegar até o local de trabalho para a realização dos
acompanhamentos. A chuva é a grande dificuldade, pois com ela o transporte não tem como chegar
em Engenheiro Schnoor e Engenheiro Alfredo Graça. Sendo assim, os acompanhamentos aconteceram
mais na comunidade de Baixa Quente, que é mais perto da cidade e a estrada um pouco melhor.

SÍNTESE

A capacitação para o Projeto Cidade Criança também é nova para os coordenadores do CPCD. O
que temos em mente é o cuidar da criança pequena, as trocas de experiências, o que deu certo e o
que deu errado, o que é bom, que traz alegria, contentamento, prazer, aprendizagem, tudo, tudo vai
sendo vivenciado na capacitação e selecionado para futuras atividades do Projeto.

Fazer o PTA dá uma visão mais ampla das atividades, seus porquês e para quê, objetivos e resultados
seguidos de novos planejamentos.

Cada capacitação e cada acompanhamento é diferente um do outro: o tempo, o local, as pessoas,


tudo interfere no planejamento de uma capacitação e de um acompanhamento, e, principalmente, de
sua execução.

Projeto Cidade Criança - Araçuaí/MG 18


A capacitação sempre acaba entrando na vida das pessoas de forma a contribuir positivamente na
forma de pensar e agir, de ver as outras pessoas, de se relacionar com os outros, de ouvir e de falar,
de fazer escolhas... É comum ouvirmos ”minha vida mudou nestes cinco dias”, “aprendi coisas que na
vida inteira não aprendi”, “descobri que sou feliz” etc.

Vejo a capacitação como algo que contribuiu tanto para quem participou quanto para quem convive
de perto e, até mesmo de longe, com quem participou. As pessoas precisam de alguém para
conversar, para ouvir, para discutir, para descordar, para abraçar, para dar e receber carinho,
precisam de um tempo para interiorização, mas não fazem nada disso estando em casa. A
capacitação acaba sendo mais que uma preparação para um trabalho diversificado, passa a ser uma
forma de ver o mundo com outros olhos.

A cada capacitação, percebo o tamanho da responsabilidade, cada vez maior, ao entrar numa roda e
coordenar as atividades.

O Projeto Cidade Criança é muito interessante, envolve toda a comunidade, as crianças se sentem
realmente amadas e cuidadas, e cada pessoa, aos poucos, vai aprendendo a valorizar e a aprender
com as crianças.

A receptividade das pessoas contribuiu para o sucesso mais rápido das atividades. Tanto a capacitação
quanto os acompanhamentos aconteceram em meio a muita produção, pesquisa, conversas e
descobertas. Os passeios ao rio no final da tarde reforçaram o pedido de mais responsabilidade e
atenção com o mesmo. A visão inicial da sujeira existente na entrada das comunidades, os porcos
criados soltos pelas ruas e muitas vezes o preconceito que as pessoas vão formando acabam por
interferir nas relações. Durante a capacitação e o acompanhamento foi possível perceber o outro lado
destas comunidades tão carentes e ao mesmo tempo, de pessoas tão carinhosas e receptivas.

Selecionar as pessoas foi tarefa complicada, mas houve a preocupação e o interesse em não excluir
ninguém, ficando todos sobre aviso para alguma necessidade e futuro ingresso no grupo de Mães
Cuidadoras.

Esta fase piloto está acontecendo com bons resultados, muita aprendizagem, vontade, realização e
muita emoção.
Marília Barbosa - Coordenadora do Projeto Cidade Criança
Silmara Soares - Coordenadora do Projeto Cidade Criança

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ANEXOS

• Relatório sobre a água da Baixa Quente

A água da comunidade vem de um poço artesiano, fica armazenada numa caixa grande e é
distribuída para os moradores. Na comunidade um morador recebe uma quantia em dinheiro somente
para ligar e desligar a bomba que fornece a água. A caixa não é bem cuidada e a limpeza dela é
feita de 6 em 6 meses. As famílias não tratam da água em casa, pois a maioria das pessoas não tem
depósito de água e logo pegam a água da torneira e colocam num balde ou pote para o uso em casa.
Na pesquisa feita por nós, descobrimos que 20 famílias que são atendidas pelo Projeto não têm filtro
em casa e não há nenhum tratamento da água.

• Relatório sobre a água em Engenheiro Alfredo Graça e em Engenheiro Schnoor

A Comunidade de Alfredo Graça é composta por 152 famílias, que não utilizam água potável. Esta
comunidade tem um rio que abastece a população e que vem descendo da comunidade de
Engenheiro Schnoor que tem aproximadamente 800 famílias. A água das duas comunidades não tem
nenhum sistema de filtração, da mesma forma que o rio. As famílias recebem em casa, sem contar as
famílias que não têm acesso à água encanada nem aos filtros. A comunidade de Alfredo Graça paga
um funcionário para ligar e desligar a água e colocar sulfato de alumínio nas caixas quando a água
está suja. Esse é único tratamento que a água em Alfredo Graça recebe. Esta água está afetando a
maioria da população destas comunidades, principalmente as crianças que aparecem com manchas
pelo corpo todo e verminoses.

• Avaliação do Projeto Cidade Criança na Baixa Quente

“Acho este Projeto muito bom, pois tem uma pessoa que me orienta sobre como cuidar do meu corpo,
do bebê e da minha alimentação. Quando estou com alguma dificuldade, recebo coragem, pois na
gravidez sinto muito medo e vocês me visitando me dão muita força. Estou muito feliz.
Alcimar - Gestante

“Estou achando o Projeto bom. As crianças recebem visitas e eu gosto das orientações que recebo
sobre os cuidados com meu filho, sobre amamentação, alimentação , higiene e carinho. Penso que a
gente também pode fazer algum trabalho para ajudar.”
Maria Antônia - Pinheiro dos Santos-mãe

Projeto Cidade Criança - Araçuaí/MG 20


“Acho o Projeto bom, pois a gente aprende muito. Através das orientações sobre a gravidez, terei mais
experiência e mais responsabilidade para cuidar do meu bebê e do meu corpo também.”
Vanete Alves Coelho - Mãe

“O Projeto tras mais desenvolvimento para as crianças. Acho que deveria ter um local para as crianças
e também lanche.”
Maria Aparecida - Mãe

“Acho o Projeto muito bom, pois tive ajuda quando minha filha nasceu. Eu não tinha prática nenhuma.
Aprendi muita coisa importante que serviu no desenvolvimento da Samia.”
Solange - Mãe

“Acho que o Projeto está contribuindo muito para o desenvolvimento da minha filha.”
Silma Ferreira Silva - Mãe

“Acho o Projeto bom, e estávamos precisando de algo assim em nossa comunidade. Através deste
Projeto pode ocorrer muita mudança em nossa vida. Este Projeto está contribuindo para a
aprendizagem de meu filho e eu estou sendo beneficiada trabalhando nele também.”
Maria Aparecida Pires - Mãe Cuidadora

“Entendo que esse Projeto é bom, avalia a criança quase todo dia, sempre olhando o cartão de vacina.
Tenho recebido orientações boas. Eu tenho um filho e não sabia cuidar dele direito. Melhor seria se
vocês pudessem me acompanhar todos os dias.”
Mirelle Pires Pereira - Mãe

“Acho o Projeto muito bom, pois ensina muitas brincadeiras para as crianças. Recebo também
orientações sobre cuidados para a saúde e crescimento do meu filho. Espero que o Projeto possa
continuar.”
Pedronilia Maria da Silva - Mãe

“Eu acho bom. Valeu a pena, pois estávamos precisando de um Projeto assim para nos ajudar. Acho o
Projeto ótimo para nossa comunidade. Melhor seria se tivesse um local pra atender as crianças, pois
através deste Projeto creio que pode vir muitas coisas boas para nossos filhos. O Projeto, pra começo
está bom, melhor seria se tivesse alguma coisa para as crianças, pois aqui emprego é muito difícil e
uma ajuda seria fundamental.”
Elizângela Martins - Mãe

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• Avaliação do Projeto Cidade Criança em Alfredo Graça

“Estou gostando muito do Projeto, pois, quando vocês chegam em minha casa, o Vitor já quer brincar,
desenhar, divertir o quanto puder.”
Dona Maria - Avó

“Pra mim o Projeto está ótimo, porque pelo gosto da Ketany você estava aqui em casa todos os dias. O
Projeto ensina os meninos a reciclar o que todos nós jogamos fora.”
Luzilene - Mãe

“No momento tudo está bom, quer dizer, tudo não, porque toda criança gosta de brinquedos. Eu
quero ver futuramente o que o Projeto vai oferecer para as crianças (não estou falando de dinheiro,
quero que isso fique bem claro) Não estou gostando , porque ainda não tem um lugar definido para
as crianças brincarem, não quero que você venha só uma vez por semana.”
Sonia - Mãe

“Eu estou achando muito bom, ótimo, porque minha filha está muito contente com o que vocês fazem,
em especial os brinquedos da forma como são feitos. Estou gostando da paciência que vocês têm com
as crianças, pois é isso que elas são: gostam de quem dá carinho.”
Marlene - Mãe

“Estou achando o Projeto ótimo porque ensina a fazer brinquedos, livra de comprarmos, desenvolve as
crianças. O que mais gosto são as visitas, porque eu não tenho tempo de brincar com meus filhos,
principalmente com o mais novo.”
Maria da Conceição - Mãe

• Avaliação do Projeto Cidade Criança em Engenheiro Schnoor

“O Projeto tem tudo para dar certo. Meu filho chega em casa contando as coisas que ele faz no
Projeto. Só está precisando do lanche, pois pelo fato das crianças pularem, brincarem, fazerem
bastante exercício elas chegam em casa reclamando, dizendo que estão com fome, por isso às vezes
eu não o mando para o Projeto.”
Aurenice - Mãe

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“Minha filha adora reunir com as outras crianças. Tomara que apareça sempre esse tipo de Projeto
aqui em Schnoor. Não tenho nada a reclamar e sim a elogiar, pois minha filha aprendeu a cantar e
está mais solta, até ensina as musiquinhas para mim.”
Edileuza - Mãe

“Estou gostando muito do Projeto, pois minha filha está desenvolvendo bastante, está mais ativa e
quando está brincando com sua irmã mais nova, ensina para ela as musiquinhas que aprendeu no
Projeto. Pelo pouco tempo que começou o Projeto e pela idade da minha filha está ótimo. Tenho
prazer em levar e buscar minha filha. Além disso, ela adora ir ao Projeto todos os dias.”
Ana Maria - Mãe

“Meu filho está mais desenvolvido, deixou de fazer birra e às vezes canta as musiquinhas que
aprendeu em casa. Adora brincar com os brinquedos que são feitos no Projeto.”
Maria de Lourdes - Mãe

“Minha filha chora para ir para o Projeto Sementinha quando vê a amiguinha dela ir, mas como ela
não tem idade para freqüentar, às vezes vai como visitante. Ela melhorou muito, pois antes tinha medo
de gente e agora está mais alegre e solta.”
Vanilda Barbosa - Mãe

“O Projeto desenvolve melhor os nossos filhos. Gostaria que tivesse mais brinquedos. Percebo que meu
filho conversa mais, está mais alegre e brinca mais depois que começou a participar do Projeto.”
Maria de Lourdes - Mãe

“Eu acho que o Projeto deveria trazer brinquedos para as crianças e não nós as mães procurarmos
sucatas para fazer brinquedos. Espero que mude.”
Maria de Lourdes Gonçalves - Mãe

“O Projeto está muito bom, pois as crianças estão se desenvolvendo. Agora ele conversa mais, anda
pelos corredores, o que antes não fazia, pois ele só ficava sentado e dentro de casa.”
Maria Helena Rodrigues - Mãe

“Estou adorando as visitas, pois minha filha está bem desenvolvida e isso é muito bom porque vejo
que mais pessoas estão preocupadas com minha filha. Sinto até mais segura. Esse Projeto foi a melhor
coisa que aconteceu aqui na nossa comunidade, porque aqui sempre é esquecido.”
Adelaide Esteves - Mãe

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“Meu filho está mais desenvolvido e ele adora brincar com os brinquedos reciclados que ele mesmo
está aprendendo a fazer.”
Cláudia Soares - Mãe

“O Projeto para mim está bom. Tenho esperança que melhore cada dia mais.”
Edna Ferreira dos Santos - Mãe

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