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O DISCURSO DO SUJEITO COLETIVO

E O DOCUMENTÁRIO.
NOVAS POSSIBILIDADES NA ERA DIGITAL

Josias Pereira 1 - erdfilmes@uol.com.br


Thálita Coelli 2
Paula Tortola 3
Fernando Lefevre. 4
Categoria de Apresentação: Comunicação Oral

1
Mestre em educação, Documentarista, roteirista, professor e Pesquisador da FACNOPAR
2
Aluna de Comunicação da FACNOPAR
3
Aluna de comunicação da FACNOPAR
4
Doutor e Pesquisador da USP - Um dos criadores do Discurso do Sujeito Coletivo

1
Resumo: Neste trabalho iremos debater como o documentário contemporâneo vem
sobrevivendo à nova estética do século XXI. O valor do documentário está resumido a
matéria jornalística? E a linguagem evoluiu ? Como o Discurso do Sujeito coletivo pode
contribuir na realização do documentário contemporâneo.

Palavras-chave: Documentário, Discurso do Sujeito Coletivo, subjetividade

“Todas as pessoas que entram em contato com a realidade social constroem


representações desta realidade em suas cabeças. Cada um de nos forma
juízos de valor a respeito do mundo, seus personagens, acontecimentos
e fenômenos e acredita que esses juízos correspondem a “verdade”,ou seja:
a verdade de cada um é a idéia do real que cada pessoa crê
ser a mais fiel ao que efetivamente existe.”
Muito Além do Jardim Botânico
Carlos Eduardo Lins da Silva (1985)

A sociedade está passando por transformações estruturais, novas formas de


organização social estão surgindo, mudando as estruturas de poder. O documentário,
que sempre foi um gênero que apresenta para a sociedade um questionamento, esta
passando por mudanças, com a chegada de novos diretores, que tem em seu acervo
cultural, apenas a linguagem televisiva. Como então este gênero esta se adaptando?
Como está sobrevivendo no mundo digital? Como os novos diretores que não tem na
linguagem cinematográfica sua marca registrada estão produzindo?

A introdução das NTIC´s na sociedade vem acelerando mudanças no âmbito


político, cultural e social. Uma delas vem de encontro à política internacional da
globalização, o surgimento da banda larga e da possibilidade de assistir vídeos à
distância, proporcionado por sites como o you tube foi uma revolução silenciosa iniciada
em 2005 pelos amigos Chad Hurley e Steve Chen. A mudança realizada contribuiu
para que o espectador saia da área da passividade, esperar um titulo ser escolhido para
entrar na grade de uma emissora. O espectador só poderia assistir o que a emissora
desejasse, devido a contratos ou política interna. Assim, ficávamos a “mercê” das
emissoras.

Com as mudanças na tecnologia e com a contribuição de sites de exibição de


vídeos e troca de filmes via Internet, muitos filmes começaram a ser vistos, muitos
curtas, a maioria amadores, começaram a se espalhar pela rede mundial de
computadores. Outro fator importante para o crescimento dos sites de exibição foi o
desenvolvimento em 1994 da tecnologia de vídeos digitais. Empresas como Sony e
Panasonic criaram câmeras de qualidade com preços diferenciados do broadcasting 5 ,

5
Transmissão de sinal (áudio ou vídeo) dentro dos padrões nacionais para recepção de qualidade pelo espectador.

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são as “câmeras consumer” 6 . Com a junção de câmeras de qualidade, equipamentos
de edição a baixo preço e Internet com banda larga e o surgimento do streaming 7 de
vídeo, da inicio a revolução dos documentários do século XXI

O documentário é um gênero que para muitos é sinônimo de “chatice” em


função dos documentários etnográficos exibidos pelas emissoras de Tv na década de
70 e 80, neste tipo de documentário o pesquisador através de um off 8 , voz de DEUS,
explicava o que estava acontecendo com um “ar de sabedoria”. Narrando, explicando o
filme inteiro. Na década de 50 documentaristas americanos mudaram esta técnica
reformulando o documentário. E os atuais diretores contam com equipamentos de baixo
custo e alta tecnologia. São diretores oriundos de escolas de cinema que começam a
revolução da linguagem do documentário. Nos site vemos outro tipo de diretores, em
grande parte adolescentes que não conhecem a estrutura narrativa cinematográfica ou
teatral e tem na Tv sua única escola audiovisual.
Alguns destes novos “realizadores de vídeo digital” (Silva, J.P. 2007) nem tem
conhecimento da linguagem audiovisual e realizam seus vídeos de modo “intuitivo”.
Estes diretores, em boa parte, apresentam apenas na TV sua socialização para
linguagem do documentário e no telejornal e nas reportagens especiais o modelo de
como “fazer” uma edição, dirigir e produzir um documentário. Segundo Harvey, (1992),
“as ordenações simbólicas do espaço e do tempo fornecem uma estrutura para a
experiência mediante a qual aprendemos quem ou o que somos na sociedade”.

A crescente inserção da Tecnologia de Informação nas atividades humanas está


criando novos paradigmas sobre os relacionamentos humanos, e porque não uma nova
socialização, a mídia. Segundo Luckmann (2000) a socialização primaria é realizada
com afeto, emoção, diferentemente da socialização secundaria. E as NTIC´s
conseguem emocionar sem impor, pois deixa a pessoa livre para escolher, mudar,
alterar. Contribuindo assim para socialização do espectador. Para Baudrillard, ao invés
do econômico ser o determinante da vida social, a cultura passa a ser o elemento
principal das relações sociais, atuando, inclusive, sobre o significado dos aspectos
econômicos, e, por conseguinte, no seu poder de influenciar a dinâmica das
sociedades. (BAUDRILLARD, 1995).

O Cinema
O cinema surge como uma evolução tecnológica. Os irmãos Lumiere em 1895
realizam o primeiro registro de imagem em movimento, com a captação de imagens de
trabalhadores saindo da fabrica da família Lumiere na cidade Francesa de Lyon. Os
irmãos deixaram a câmera parada focalizando os trabalhadores andando, saindo da

6
Equipamento feito para o consumidor, mais simples de operar e de qualidade mediana.

7
É uma tecnologia que permite o envio de informação multimídia por meio de pacotes. Assim não há necessidade de
baixar o arquivo, áudio ou vídeo para o seu computador, você pode assistir ou ouvir enquanto o computador ainda
esta lendo os dados graças ao buffer (é uma pequena área de memória que armazena os dados)

8 técnica utilizada no cinema e no telejornal, quando um narrador, fora do ambiente apresentado descreve ou
apresenta ao espectador a cena, sem estar nela.

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fabrica. Os irmãos lumiere no fascínio de sua experiência retrataram vários aspectos
que hoje podemos chamar de documentos audiovisuais. Já o ilusionista Méliès viu no
cinema uma maneira de dar continuidade a sua profissão. E fez da nascente tecnologia
um suporte para apresentar suas modificações da realidade, de modificar, criar ilusão.
Isso fica claro em filmes como “Le Voyage dans la lune ("Viagem à Lua") de 1902.
A nova tecnologia, o cinema, passa a ser usado de modo comercial para
produção de curtas, mas ainda em espaços de tempo curto. Ate que Griffith começa a
criar um novo tempo, o tempo fílmico, uma nova linguagem surge com a desarticulando
do real. E o cinema sai da mera função de registro e passa a ser arte. Com o longa
metragem de 1915 “ O surgimento de uma Nação” Griffith da inicio ao cinema clássico
americano com a estrutura narrativa, enquanto isso comercialmente o documentário é
deixado de lado. A ficção encanta mais que a realidade.

O Documentário
O Documentário é um gênero cinematográfico que se caracteriza pelo
compromisso com a exploração da realidade. Não representa a realidade como ela é,
mas do ponto de vista de um diretor. O documentário, assim como o cinema de ficção, é
uma representação parcial e subjectiva da realidade, documentário não é a realidade,
apenas retrata um assunto real é uma realidade “midiada”.

O primeiro filme a ser considerado um marco histórico do gênero é “ O esquimó”


de (1922) de Robert Flaherty. O que destacou o filme dos demais de viagens feitos na
época é o fato de ele incorporar às imagens naturais estratégias próprias da narrativa
ficcional. A criação do termo documentário é creditada ao escocês John Grierson
pioneiro no estudo do documentarismo e criador da escola britânica de documentários,
conhecida como a primeira no mundo a se dedicar ao estudo do assunto. Grierson não
acredita na abordagem “exótica”, etnográfica e propõe a aproximação com o mundo
que está à sua volta, em meio aos problemas econômicos e sociais como desemprego,
pobreza, exploração da mão-de-obra e outros.
Podemos dizer que :
Escola Flahertyana – Uso do documentário como antropologia visual,
etnográfico ligado à pesquisa, analise e registro dos fatos
Escola Griersoniana – uso do documentário como denuncia social, contribuindo
para um mundo melhor
Grierson acredita que o documentário tem um potencial educacional sobre as
“massas”, podendo ser utilizado para superar problemas econômicos, sociais ou
políticos através da conscientização das pessoas a respeito de suas responsabilidades
como cidadãos. Ele foi responsável pelo reconhecimento da produção fílmica enquanto
produção autoral específica na Inglaterra dos anos de 1930.
Na Rússia, na década de 20, foram realizadas pesquisas sobre o cinema,
destacamos Dizga Vertov que cria o chamado “cimena direto”, ou cinema verdade que
se empenha em captar, sem fins didáticos a realidade, e procura reproduzir o que o
diretor julga ser realidade. De suas pesquisas resulta o filme “O homem e a câmera”
uma obra prima sobre montagem e enquadramento.

4
A Narrativa no Documentário
No documentário a construção narrativa aponta para o ponto de vista do diretor.
A estética e a linguagem audiovisual são deixadas em segundo plano e o discurso é
valorizado em detrimento do “belo”. Muitas criticas realizadas ao modelo Griersoniana
de se fazer documentário é a subjetividade do diretor em cena. A imagem não retrata
apenas a beleza estética ou o plano perfeito, mas estão a serviço de uma narrativa,
onde o importante é o entendimento do tema, a compreensão do que o diretor deseja
apresentar, a visão do diretor sobre o que é a verdade, por isso que chamamos de uma
verdade “midiada” . Muitas vezes há a inversão da estética para que o espectador veja
e sinta um ponto de vista que geralmente a grande imprensa não apresenta. Imagens
fortes e pontos de vistas diferentes.
Em 1929, com o surgimento do som no cinema, o documentário ganha mais
força com outro elemento de narrativa. O som passa a ser incorporado e usado pelos
diretores. Porém, outro problema é apresentado, como fazer o corte do áudio? Onde
cortar? Qual metodologia usar? Analise do discurso ou analise do conteúdo?
Ao se entrevistar uma pessoa para uma reportagem ou documentário, o material
colhido é sempre maior que o tempo para exibição ou para o recorte especifico que o
profissional de mídia quer dar a matéria ou ao documentário. Assim, parte do discurso é
eliminado, e a escolha é do profissional de mídia ou diretor. Ou seja, o que é
apresentado ao grande publico, é sempre uma visão do material colhido, material este
muitas vezes aquém de uma pesquisa profunda. Assim uma das criticas que fazemos
ao gênero é sobre as entrevistas apresentadas.
O diretor escolhe a pessoas que ele acha importante, 1º subjetividade. Depois o
diretor vai ouvir a entrevista, cortando o áudio no ponto que ele deseja, deixando de fora
às vezes ate o ponto de vista real do entrevistado, 2º subjetividade. Sem contar o
numero de pessoas que são entrevistadas e não utilizadas, por motivos de não se
adequar no que o diretor deseja passar. 3 subjetividade. Ou seja, documentário é a
subjetividade do diretor, longe de ser a “verdade derradeira”. E o telejornal que é a base
de aprendizagem de vários documentaristas não fica longe desta “realidade”.

Como exemplo cito uma suposta matéria jornalística sobre o governo Brasileiro,
a repórter entrevista 15 pessoas e só ira colocar na matéria 3 pessoas respondendo o
seu questionamento sobre o governo. Se neste suposto exemplo 10 pessoas falem bem
do governo e 5 não falem tão bem. Na hora de editar, a repórter pode colocar apenas 3
pessoas falando. Pela diretriz do Jornal e da reportagem ela escolhe os entrevistados e
as falas e a matéria exibida fica assim. Duas pessoas não falando bem do governo e
uma falando bem. Neste pequeno exemplo podemos ver que ouve manipulação de
dados, ou pelo menos não foi registrado a totalidade da pesquisa que ele realizou, ou
seja, quem assiste vê o jornal como um ponto de vista da verdade, mas não tem idéia
do que não foi ao ar.

Sabemos que o ser humano é um ser ideológico e político, a imparcialidade


defendida pela imprensa não passa de delírio ou desejo. O espectador deve ter em
mente que não há um viés na realidade do dia a dia dentro de uma emissora de TV, na
finalização de uma matéria ou artigo, muito menos na edição de um documentário. Todo
o processo é mediado por alguém ou por interesses. Profissionais da mídia vivem o

5
trauma do “índice de audiência” e os anunciantes se tornaram uma busca inconsciente
e um carrasco desejado. Para Chauí (2004)
“ideologia é um conjunto lógico, sistemático e coerente de representações de
idéias e valores e de normas ou regras de conduta, que indicam e prescrevem aos
membros da sociedade o que devem sentir e como devem sentir, o que devem fazer e
como devem fazer.”

Linguagem
O publico de modo geral está acostumado com a linguagem televisiva e com os
códigos que a TV criou neste 50 anos de Brasil. Geralmente uma linguagem de fácil
assimilação e entendimento, sem muitos detalhes e linguajar mais assimilável. Sem
muitas “parafernálias” artísticas e tecnológicas.
Segundo Silva, J.P. (2007)
“A Tv funciona como restaurante fast food, da a sensação de estar bem
alimentado, mas na verdade é uma alimentação com muitos carboidratos e carente de
vitaminas, proteínas e sais minerais. Já o cinema é como um restaurante, que você
escolhe o prato, dependendo do restaurante ele é feito, só para você. E quando chega a
alimentação você aprecia cada parte, não para encher a “barriga”, se alimentar
biologicamente, mas desfruta a comida com prazer, e não apenas para continuar Vivo.”

Na TV, em diversos momentos é notório a imparcialidade do repórter, ou do


apresentador, seu nervosismo e inexperiência. Há casos que o repórter precisa fazer
três matérias por dia. Para Umberto Eco, a linguagem televisiva é uma combinação de
três códigos: o icônico, o lingüístico e o sonoro. 9 O primeiro é a parte estética,
referenciado a imagem. O segundo refere-se à língua, o discurso utilizado e o terceiro é
o código sonoro relativo à música, e aos efeitos sonoros.

Em nossa digressão o importante será o código lingüístico e como a narrativa


pode ser realizada dentro deste código, e como a construção de um documentário se
da via discurso e como o discurso do sujeito coletivo pode ser utilizado.
A professora Consuelo Lins da UFRJ fala do documentário e a utilização do off 10,
também conhecido como a “voz de Deus 11 ’; segundo a pesquisadora:
“Os pioneiros do cinema direto americano iniciaram no final dos anos 50, umas
das grandes mudanças no modo de filmar e montar documentários partindo de uma
crítica radical ao que eles consideravam uma estética marcada pela herança do rádio.
Filmes que eram absolutamente compreensíveis sem a imagem e que eram
ininteligíveis sem a locução. Eles apostaram nas possibilidades narrativas da imagem
optando pelo sincronismo entre imagem e som de planos seqüências que capturavam
personagens em movimento, acontecimentos em processo.”

9
Eco apud Rezende, p. 38.
10
Off também chamado Voz Over é quando aparece uma cena e ouve a narração do fato.
11 Artigo apresentado no compôs 2007 “O ensaio no documentário e a questão da narração em off”
Consuelo Lins.

6
O grande uso do off em alguns documentários pode ser explicado também pelo
viés da pratica, já que muitos profissionais de mídia perceberam que a população de um
modo geral, os mais carentes gostavam da linguagem da TV, assim era uma maneira,
inconsciente, de fazer o documentário ser entendido. Outro motivo levantado é que
alguns documentaristas foram trabalhar na Tv e outros surgiram da TV, como exemplo
citamos Eduardo Coutinho 12. Assim, estes estilos misturados, Criaram uma confusão
nos dias de hoje, o que é documentário e o que é jornalismo? Qual a diferença principal
entre estas duas formas de expressão? Até profissionais se confundem na hora de
delimitar os espaços de cada um.

A voz de Deus, o off, aos poucos vai dando lugar à narração, personagens que
narram o fato em vez do off, este tipo de linguagem imperou ate o inicio da década de
1990, quando a linguagem do documentário se aproximou do telejornalismo. Na década
de 90 vimos surgir uma nova geração, diretores criados em faculdades de cinema com
uma linguagem próxima da ficção, onde a narrativa do documentário é realizada em
cima de atores sociais. Personagens são apresentados e seguidos, produzindo no
espectador um modo de assimilação com a ficção. Era uma maneira de se usar os
atores sociais, usar de seus discurso para mostrar o que o diretor optou por ser
denuncia ou querer mostrar. Ainda ligado à tradição Griersoniana de se fazer
documentário. A diferença básica entre o estilo de narração eo o narrativo ligado a
ficção é que neste são escolhidos personagens que será apresentados e seguidos,
naquele são depoimentos de varias pessoas refazendo a idéia do off sobre algum
tópico. Com estes novos diretores surge uma edição pautada nos acontecimentos e na
narrativa lógica dos diálogos editados. Como Jose Padilha realizou no ônibus 174.
Deixar a coletividade e todos os atores sociais, indiferente de sua importância narrar.
Documentários como “Pro Dia Nascer Feliz” Direção de João Jardim Duração,
“Estamira” direção de Marcos Prado, “Meninas” direção de Sandra Werneck. São
exemplos dos novos documentários onde a narrativa é feita pelo discurso do outro,
atores sociais. Por ironia a ficção tenta imitar a vida real e o documentário tenta imitar a
linguagem da ficção.

O Discurso do Sujeito Coletivo - DSC

Possivelmente, um indivíduo qualquer, já tenha sido parado na rua e convidado a


responder algum tipo de enquête ou pesquisa sobre determinado tema, como em uma
pesquisa de opinião. O entrevistador lhe faz algumas perguntas e lhe apresenta
respostas pré-estabelecidas, cabendo ao entrevistado optar por uma destas respostas
como sua própria opinião, mesmo que o seu verdadeiro pensamento sobre o assunto
não esteja no questionário.
O entrevistador pode também fazer algumas perguntas abertas deixando mais
liberdade para o entrevistado dar sua própria opinião. O Discurso do Sujeito Coletivo, ou
DSC é uma método desenvolvido para ser usado em pesquisas de opinião onde se
busca dar toda prioridade ao pensamento do entrevistado, utilizado sempre questões
abertas, formuladas da maneira mais neutra possível para não induzir respostas.

12
Coutinho trabalhou no globo repórter

7
A grande novidade deste método é que ele consegue conciliar as vantagens da
entrevista aberta (liberdade ao entrevistado) com o pensamento das coletividades na
medida em que as distintas opiniões coletivas sobre um determinado tema, com seus
conteúdos e argumentos, são enunciadas na primeira pessoa do singular, unindo-se
num só discurso os depoimentos das pessoas que tenham o mesmo pensamento ou
opinião, criando então o Discurso do Sujeito Coletivo. Assim todos os entrevistados tem
a oportunidade de ofertar sua opinião, mesmo que esta não esteja em uma categoria
pré-definida, sendo dada atenção aos "conteúdos discursivos e argumentativos
presentes nos discursos individuais" (Lefevre e Lefevre, 2004 ) e não simplesmente a
concordância com idéias já pré-concebidas pelo entrevistador.

O DSC descreve o pensamento das coletividades de modo qualiquantitativo de


modo qualitativo reunindo, num discurso-síntese, as respostas semelhantes emitidas por
entrevistados distintos, formando então, o pensamento coletivo através de uma soma
qualitativa, que agrega as diferentes opiniões no intuito de formar o discurso coletivo;
mas esta soma que é qualitativa é também quantitativa na medida em que cada DSC
que expressa uma dada opinião coletiva é formado por um número determinado de
depoimentos de sentido semelhante, emitidos por um determinado número de
indivíduos (de 1 a N), que constitui uma fração ou um percentual dos indivíduos que
compõe a amostra de indivíduos pesquisados. Assim, por exemplo, se numa pesquisa
de opinião é feita uma questão para, digamos, 200 indivíduos pode haver, digamos, 10
opiniões diferentes sobre o tema pesquisado, que darão nascimento a 10 DSCs, cada
um deles apresentando uma determinada distribuição ( 20%; 30%;1% etc.) no conjunto
da população pesquisada. Todas as opiniões são respeitadas.

O DSC e o documentário
Desde a sua gênese o documentário se apresenta como um ponto de vista do
diretor. Nos primórdios do documentário, quando o cinema ainda era mudo, a imagem
tinha valor central, narrando a historia e apresentando o fato. Porém a imagem
apresenta varias interpretações, e nem sempre é a que o diretor desejava. Com o
advento do áudio no final da década de 20 o documentário incorpora para sua estética
este elemento tecnológico, mas em vez do áudio complementar a imagem, ele tenta
assumir e deixar a imagem em 2º plano. Segundo a pesquisadora Consuelo Lins “A
narração em off, recurso inventado nos anos 30 pelo movimento liderado pelo
documentarista John Grierson e que marcou definitivamente a trajetória de filmes
documentais”.

Nosso questionamento, e o que desejamos debater é como estas falas são


eleitas, escolhidas, e colocadas em uma ordem. O que alguns diretores fazem é deixar
um ator social comentar um ponto da historia, e o ator social B ira contrapor a idéia ou
reforçar a mesma. A criação narrativa do documentário é feita pela associação destas
frases criando um discurso único, como um texto narrativo, uma coesão narrativa e de
idéias que postos em seqüência dão unidade à narrativa.
Diferentemente da ficção no documentário a principal fonte de informações vem
dos depoimentos, aos quais ele dá apoio. Para RONDELLI, (1998, p. 32)

8
“a suposta existência de um exercício livre e polifônico das vozes discursivas
pode ser contestado pelo argumento de que a simultaneidade de várias vozes, embora
independentes, se desenvolve a partir de um mesmo referencial, todas partem de um
mesmo conjunto de fatos, previamente eleitos, postos à discussão pública”.

Criando um protocolo - Como fazer um documentário usando o DSC?


Em nossa pesquisa na utilização do DSC no documentário temos visto que
precisamos, diferentemente do documentário tradicional, diminuir a interferência que o
diretor possa dar a realidade, informar o espectador o numero de pessoas que foram
entrevistados, colocar todos os pontos de vista, e fazer um resumo das diferentes visões
e onde a pesquisa foi realizada. Assim, estaremos dando mais transparência. Pois
como exemplo posso entrevista 30 pessoas e só usar 5 no documentário, pois estas
estavam dentro do que eu queria mostrar e apresentar, mas e a opinião dos que eu não
utilizei? É simplesmente eliminada, pois não esta dentro do ponto de vista que o diretor
queria dar ao documentário. Usando o método DSC esta duvida acaba, pois terei que
informar o espectador o número de entrevistados que utilizei. Temos em mente que isso
no inicio poderia criar um afastamento do espectador, por isso, a apresentação dos
dados no final do documentário.
Para dar fluência a linguagem audiovisual, os depoimentos devem ser cortados
sem plano de apoio ou efeitos 13 , que poderia caracterizar no espectador um
pensamento continuo do entrevistado, pelo contrario, o pulo de imagem ou um flash
branco ira denunciar que naquele ponto houve a manipulação do diretor.

1º Etapa
A idéia principal do uso do DSC no documentário seria utilizar uma Amostra das
pessoas entrevistadas, fazer com que o contexto global da pesquisa seja resumido
proporcionalmente a poucos entrevistados, pois com o uso do DSC a opinião de todos
será utilizada, mas não necessariamente todos terão que aparecer. A idéia central que
deve ser a principal.

2º Etapa
A edição pode ser realizada com frases de cada entrevistado formando o DSC.
Todas as falas seriam uma seqüência lógica, onde uma complementaria a outra
formando um só discurso. Varias vozes criando um discurso único . E os outros
entrevistados que apresentarem falas diferentes formariam outro discurso, fazendo com
que todas as opiniões fossem realmente apresentadas, sem deixar de mostrar
nenhuma.

3º Etapa

13
Plano de apoio é utilizado quando se deseja reprimir uma parte da fala e juntar com outra.
Tecnicamente a imagem iria apresentar o que chamamos de pulo de imagem. E o que se faz em alguns
casos é que no momento do corte se coloca um plano de outra coisa, ou detalhe do entrevistado, assim
para o expectador o corte fica mascarado.

9
E no inicio de cada depoimento do grupo apresentar o número de entrevistados e
a porcentagem daquele grupo. Diminuindo assim a idéia de que so apresentaram as
pessoas entrevistadas.

4ª Etapa
Opcional: Focar a opinião do jornalista ou diretor embasado academicamente,
por um pesquisador respeitado da área, fazendo explicações sobre a realidade do
assunto apresentado, indo contra ou a favor das opiniões apresentadas.

Conclusão
Não pregamos a neutralidade no documentário, pelo contrario, apenas
desejamos contribuir com uma nova visão que pode ser realizada, ou experimentada na
academia e por novos diretores. Acreditamos que a faculdade tem por tradição a
pesquisa e a busca de novos caminhos.
Desejamos que a população tenha em mente que todo discurso apresentado
pelos meios audiovisuais é um discurso construído a partir de fragmentos da realidade,
o que não se permite concluir, que é a verdade, mas um trabalho de subjetividade e de
verdade de quem produziu a matéria ou o documentário. E que o publico pode, e deve,
concordar ou discordar, pois o meio só apresenta um ponto de vista! E o DSC pelo
menos minimiza a distancia entre o que foi coletado nas ruas nas entrevistas e o que
realmente foi utilizado.
Como diria Bretch

“Não tomar partido em arte, é ficar do lado do continuísmo”

Bibliografia
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Janeiro: Elfos, 1995.
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