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Movimento Escola Pública Igualdade e Democracia

Documento para discussão no II Encontro Nacional

1 – Quem somos e para onde vamos

O Movimento Escola Pública leva já quase dois anos de existência. Surgiu em Fevereiro de 2008, através do
lançamento do Manifesto Escola Pública, Igualdade e Democracia, na Associação 25 de Abril. Em Setembro
desse ano teve lugar o I Encontro Nacional, que juntou meia centena de pessoas na Academia de Santo Amaro,
em Lisboa.

Foram 20 meses a lutar pela escola pública, a promover diálogos e pontes deste lado da barricada contra a
arrogância governamental, a realizar debates que juntaram muitas vontades em todo o país e a contribuir para
alargar a agenda de temas sobre os quais urge intervir para alcançarmos uma nova escola: verdadeiramente
inclusiva e democrática, combatendo a reprodução das desigualdades sociais e capaz de garantir o sucesso escolar
real de todos os alunos.

Se é verdade que este movimento esteve intimamente ligado à luta dos professores contra a divisão da carreira e a
injustiça do modelo de avaliação, não é menos certo que os horizontes da nossa intervenção e reflexão foram
sempre mais amplos. Para lá da exigência de respeito para com a classe profissional dos professores – cuja
precariedade, competição e proletarização prejudicam a escola e os alunos – move-nos a ideia de que outra escola
é possível, onde todos cabem, onde a cidadania se constrói a par do conhecimento, se evita uma transmissão
espartilhada dos saberes e se promove a transformação da informação e a construção do conhecimento, onde
nenhum destino de nenhum(a) aluno(a) está traçado desde a origem.

É tempo de relançar um debate que enfrente os graves indicadores de insucesso actuais, que a todos nos
envergonham, tais como o abandono, as retenções, a exclusão e o baixo nível de escolaridade médio da população
portuguesa.

Embora a actual configuração da carreira seja objectivamente um retrocesso em relação ao Estatuto pré-Lurdes
Rodrigues, é evidente que ao ser eliminada a divisão da carreira os professores fizeram valer a sua dignidade
contra as políticas cegas do défice e da austeridade. Falta contudo mudar o modelo de avaliação – que continua a
promover a competição, alimentada pelas quotas, em vez da cooperação – e responder à situação de crescente
precariedade laboral dos professores contratados ano a ano ou mês a mês, e ainda dos professores das Actividades
de Enriquecimento Curricular, atirados pelo governo para uma situação vergonhosa de ausência total de direitos.

Uma das maiores limitações do “Acordo” é que ele não significa, por si só, uma escola pública mais capaz, ou
mais forte, para cumprir a sua missão social. O combate à desigualdade de oportunidades precisa dessa nova
escola e também de novas políticas económicas e sociais. Enquanto movimento, lutamos por uma escola
democrática, por mais participação de alunos e pais, pelo direito ao sucesso de todos/as os/as.

Por isso, neste novo ciclo, destacamos oito novos combates:

-Promover um debate alargado que conduza à redacção e publicação de uma Carta de Direitos do Aluno, no
respeito pela Constituição e pelos Direitos Humanos;

-Promover medidas reais e concretas de combate ao insucesso escolar, rejeitando a fanatização deste governo por
uma solução estatística e maquilhada. O que exige mais verbas para a Escola Pública que não podem ser
entendidas como despesas mas sim como investimentos, e passam necessariamente pela garantia de uma rede
pública do pré-escolar com cobertura total, pela presença de equipas multi-profissionais em todas as escolas
(psicólogos, assistentes sociais, mediadores culturais, terapeutas da fala, professores de ensino especial etc.), pela
redução substancial do número de alunos por turma, pela garantia de formação contínua gratuita para os docentes
e pelo acompanhamento dos resultados destas medidas, para correcção e adaptação quando e onde for necessário;

- A garantia de gratuitidade do almoço, livros escolares – investindo também na reutilização - e transportes para
todas as crianças e jovens;
Lisboa, 30 de Janeiro de 2010
-Criar uma revisão curricular inovadora, que reduza e reajuste a carga horária lectiva dos alunos, e que promova a
integração dos saberes e a reflexão crítica e cidadã.

-Lançar o debate em torno das condições necessárias à garantia das aprendizagens em bom tempo, na idade
natural de cada um, sobre as razões das retenções e como conseguir que elas diminuam ou mesmo acabem;

-Desenvolver uma visão da escola como “cidade das crianças e dos jovens” - onde a participação cívica e a
democracia sejam vivenciadas mais do que ensinadas - capaz de se articular com outros serviços públicos
essenciais: saúde (incluindo prevenção, nutricionismo), cultura, apoio social, etc.;

- garantir mecanismos de integração dos alunos imigrantes e de minorias étnicas e culturais, seja através do
investimento no Português como língua não materna (mesmo para os alunos de países de língua oficial
portuguesa), seja através da promoção de medidas inter-culturais, não excluindo a constituição de turmas
bilingues;

-Defender um modelo de gestão escolar democrático, participado e cooperante, rejeitando a figura do Director
“todo-poderoso”, fomentando a responsabilização e a renovação no exercício de poder nas escolas, exigindo a
limitação de mandatos para todos os cargos, valorizando de forma central a participação dos estudantes e
integrando sem complexos os encarregados de educação.

Tendo como pano de fundo estas oito prioridades sobre o que entendemos que falta à escola, o Movimento
Escola Pública compromete-se no imediato com:

1) A promoção de uma campanha nacional pela redução do número máximo de alunos por turma e por professor,
do pré-escolar ao secundário. Esta dificuldade afecta sobretudo áreas de maior densidade populacional, e é mais
significativa nas idades mais jovens;

2) A organização de uma Conferência/Fórum sobre o modelo de escola que se pretende para o futuro, colocando
vários pontos de vista em confronto, seja das ciências da educação, do mundo sindical, dos movimentos de
professores, de outras áreas sociais, ou de “fazedores de opinião” na Internet. Com este debate pretendemos
contribuir para clarificar as ambiguidades em torno do termo “Eduquês”, e ainda desmistificar uma certa visão
saudosista do ensino como mera transmissão de conhecimentos, à maneira antiga do “mestre-escola”;

3) A realização de debates descentralizados no país que poderão incluir temas tais como: sucesso / insucesso;
violência / indisciplina; profissionalidade, precariedade e os novos poderes dentro e fora da escola; a “sala de
aula” (tempos, lugares – presenciais e virtuais - e saberes); CEFs e ensino profissional;

4) A promoção de encontros plurais: entre movimentos e sindicatos de professores para reflectir o “Depois do
Acordo”; entre professores, pais e alunos para pensar e praticar uma escola diferente.

5) A união de esforços entre movimentos de professores, sindicatos, estudantes, pais e mães, para um combate
sem tréguas ao actual modelo de gestão das escolas, dando também início a um novo debate sobre como se
constrói uma escola democrática em todas as suas dimensões.

2 – Como nos organizamos, como crescemos?

O Movimento Escola Pública conta com 106 inscritos em todo o país e uma rede de contactos de cerca de 600
pessoas. Há, contudo, um longo caminho a percorrer. Queremos crescer mais, mas acima de tudo queremos contar
com a participação activa de todos e todas os que já cá estão. A actividade está demasiado centralizada em Lisboa
e em poucas pessoas. Precisamos de uma dinâmica mais nacional e contínua e de uma organização mais ágil e
eficaz. Por outro lado, faltam-nos meios de afirmação das nossas ideias que não se esgotem na internet e no
blogue.

Assim, são decisões do II Encontro Nacional:

- a edição de um livro com os melhores textos publicados no blogue do Movimento, os nossos manifestos e os
manifestos conjuntos, e outros textos que pediremos;
- a continuação da dinamização do blogue, reformulando-o graficamente, renovando-o no tipo de conteúdos, e
assegurando uma participação mais alargada e partilhada;
- a promoção de núcleos regionais do Movimento, com reuniões abertas regulares;
- a constituição de uma coordenadora nacional do Movimento Escola Pública Igualdade e Democracia que reúna
pelo menos três vezes por ano, com capacidade para designar uma direcção operativa mais quotidiana;

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