Você está na página 1de 2

Casai-vos uns aos outros

Henrique Monteiro (www.expresso.pt)

Quinta-feira, 24 de Dez de 2009

http://aeiou.expresso.pt/henrique-monteiro=s23489

O casamento homossexual é uma mistificação da igualdade. Não deve haver


discriminação no que é igual, mas isso não implica o fim das diferenças. Uma
sociedade indiscriminada é uma sociedade louca...

Você é casado com um homem ou com uma mulher? Os meus pais chamam-se os
dois Manuel. Sou viúva da Ermelinda. Os homossexuais passivos são as maiores
vítimas da violência doméstica. Grupos pró-poligamia e poliandria exigem direitos
iguais aos dos gays.

Frases assim vão ser naturais a breve prazo? Não creio. As sociedades não mudam
ao ritmo das leis e eu sustento que há construções sociais naturais (como o
casamento entendido como entre pessoas de sexo diferente) que sobrevivem a
toda a engenharia social.

Há precisamente dez anos saudei uma decisão do Tribunal Europeu que dava razão
a um cidadão a quem a nossa Justiça retirara o filho pelo facto de ser homossexual.
No mesmo texto, criticava uma proposta, então de Os Verdes e do BE, que previa o
casamento de homossexuais e a possibilidade destes casais adoptarem filhos.
Porque o primeiro caso se fundava num direito natural e o segundo na engenharia
social.

Posto isto, sou claramente a favor de que os homossexuais gozem todos os


direitos, excepto o da adopção. Também já escrevi que me opunha ao nome
casamento para a união gay, porque (como se vê) a agenda escondida é a adopção
de crianças.

Sou, sobretudo, favorável a que duas pessoas que desejem ter uma vida e uma
economia comuns, com os mesmos direitos e deveres que decorrem do casamento,
o possam fazer desde que registem essa união. Ao contrário, sempre fui contra as
uniões de facto não registadas por serem uma intromissão abusiva na esfera
privada de cada um.

O recente afã legislativo sobre a família, que varre a Europa, acaba por ser mau
para heterossexuais e homossexuais. A família é uma estrutura complexa, escusa o
Estado de complicá-la ainda mais.

A solução legislativa deveria ser simples, genérica e aplicada independentemente


da tipologia das relações, evitando rupturas e meras agendas políticas. Com esta lei
o casamento gay continua discriminado porque não pode adoptar (o que eu
concordo). Mas, se o legislador não acha que ele é igual, por que motivo lhe chama
o mesmo - casamento?

Um contrato registado entre duas pessoas, com as mesmas prerrogativas que o


casamento (excepto a adopção), resolvia o assunto.

Mas quer-se tratar por igual o que não é igual. E uma sociedade indiscriminada é
esquizofrénica.
Se eu me quiser casar com um homem, com três mulheres ou com todos ao
mesmo tempo, que me vai agora dizer o Estado? Que sou bígamo, por ser já
casado com uma mulher? Mas assim não estou eu a ser discriminado?

Sem limites, isto nunca pára!

Henrique Monteiro

Você também pode gostar