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DN 2010-01-04
http://dn.sapo.pt/inicio/opiniao/interior.aspx?content_id=1461236&seccao=Jo%E3o%20C%E9sar%20d
as%20Neves&tag=Opini%E3o%20-%20Em%20Foco
Para mais, hoje o mal tem uma máquina de propaganda que nunca teve. Todos
nós, todas as noites, sentados no sofá, assistimos a atrocidades incríveis, chacinas
psicopatas, planos maquiavélicos. Chamamos a isso divertimento. É verdade que
em geral o bem ainda ganha no fim dos filmes e séries. Mas começam a
multiplicar-se os casos em que justiça não tem a última palavra. Chama-se a isso
realismo. Claro que depois dessas doses maciças de violência, sexo e adrenalina
nos sentimos normais. Mas vamos cedendo e perdendo a capacidade de nos
indignar, distinguir diferenças, analisar problemas. O jornalismo vive de clichés,
boatos, intrigas, julgamentos apressados. Tudo nos embota a sensibilidade,
amortece o raciocínio, tolda o juízo.
O futuro terá dificuldade em compreender esta apatia. Nós que nos dizemos tão
sensíveis aos direitos humanos, tão sofisticados na estrutura legislativa, tão
delicados no detalhe regulador, mostramos a maior boçalidade em assuntos
cruciais.