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HISTÓRIA CULTURAL
isso gosto de estar sempre acompanhada por muitos e, durante a realização deste
trabalho não foi diferente, pois estive na companhia da minha família sempre
meus irmãos, sobrinhos, cunhadas, enfim a essa família maravilhosa que tenho. Aos
meus amigos Rodrigo e Jailson que estão comigo desde a graduação, no qual
pois estávamos sempre juntos. As amigas Ana Cristina, Cristiane, essas mais
Aos professores Carlos Renato Carola, João Henrique Zanelatto, Antonio Luiz
Miranda, Nivaldo Goularte, Lucy Cristina Osteto, que além de professores foram
grande aprendizado.
.
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO........................................................................................................07
CONSIDERAÇOES FINAIS.......................................................................................50
REFERENCIAS..........................................................................................................52
7
1 INTRODUÇÃO
econômicas e sociais. Os sujeitos históricos agem sobre seu cotidiano por meio de
Operária Mineira da CSN, pois esse local foi testemunho de momentos de troca, de
sendo que por meio de estudos já realizados, este tempo delimitado estará
A pesquisa foi realizada por meio de fontes escritas, por meio da pesquisa
entrevistas com antigos moradores que lá permanecem até os dias de hoje, como
também aqueles que já não moram mais no local; fontes fotográficas, procurando
reconhecer nas fotos as falas dos entrevistados e também com a visita no local onde
que direciona esse trabalho de pesquisa numa perspectiva voltada para a nova
história, pois nesta perspectiva permite-se que as vozes que por muito tempo não
discutem não apenas o viés econômico, religioso, político e militar, de uma dada
sociedade para contar sua história, e sim categorias como o cotidiano e a memória
9
que permitem tornar visíveis práticas produzidas por diversos sujeitos históricos.
discussão esse capítulo oferece ao leitor uma descrição detalhada da parte física do
das demais pelo seu estilo arquitetônico, e pela localização geográfica. Outra
lazer e do uso destes espaços nas vilas operárias do Brasil em períodos anteriores,
produzidas na vila por seus habitantes e pela empresa mineradora, assim como a
operário foram encontradas em vilas operárias da cidade de São Paulo, sendo que
10
importância que ele adquiriu para as famílias daquela vila operária, foi encontrar
diversas formas de lazer que foram sucumbidas pelo tempo e que permaneceram na
preservação do patrimônio histórico foi iniciado em meados do século XIX. Nos dois
relação com alguns fatos históricos determinados pela historiografia oficial. Neste
muitos poucos” 1.
Dessa forma, pode-se afirmar que se preservou a Casa Grande, mas não
escravo não tinha visibilidade, não tinha história e conseqüentemente não poderia
década de 1930, no governo de Getulio Vargas. Este governo entre outras ações
ideais nacionalistas.
preocupação quando diz que o Brasil é “(...) um país obcecado pelo moderno (...)”, e
que essa busca pela modernização vai se refletir na construção de órgãos públicos
brasileira, ou como diz Maria Clementina P. Cunha “(...) para afirmar o triunfo daquilo
Marilena Chauí 3
também observa com preocupação as propostas de
símbolos celebrativos”.
2
SANTOS, Myrian Sepúlvera dos Santos. Do Museu imperial: a construção do império pela
República. In: Memória e patrimônio. Org. ABREU, Regina; CHAGAS, Mario. Rio de Janeiro: DP&A,
2003.
3
CHAUI, Marilena. Política Cultural, Cultura Política e Patrimônio Histórico. Secretaria Municipal de
Cultura. Departamento do Patrimônio Histórico. O direito à memória: patrimônio histórico e cidadania.
São Paulo: DHF, 1992.
13
culturais que foram parte de uma coletividade, não apenas das elites, mas também
da categoria patrimônio:
referência ao filme Blade Runner, no qual os andróides não satisfeitos com a forma
4
FERNANDES, José Ricardo Oria. Revista Brasileira de História. Memória, História, Historiografia. In:
Educação Patrimonial e Cidadania: uma proposta alternativa para o ensino da história. Dossiê Ensino
da História. v.13, no.25,25. ANPHU. Ed. Marco Zero, São Paulo, 1992.
5
Idem.
6
GONÇALVES José Ricardo Santos. O patrimônio como categoria de pensamento. In: Memória e
patrimônio. Org. ABREU, Regina; CHAGAS, Mario. Rio de Janeiro: DP&A, 2003.
7
SANTOS, Myrian Sepúlveda dos. O pesadelo da Amnésia Coletiva. Revista Brasileira de Ciências
Sociais, São Paulo, v.23, n 8, p.16-32, 1993.
14
corporal humana perseguiam aquilo que lhes dariam a humanização plena, ou seja,
armazém, o estádio de futebol Eng. Mozart Vieira, e ainda o local no qual foram
Mineira da CSN 8.
Figura 1: Açougue
8
Esse formato de vila operária não era exclusividade de Fiorita, mas sim um modelo vindo da
Inglaterra e que foi implantado nas vilas operárias no Brasil, no inicio da industrialização.
15
diferenciava das demais construções pela sua imponência, visto que na “Vila
exuberantes.
decorada, e parte do prédio teve sua cor modificada recentemente, no mês de abril
16
do ano de 2005, sendo que a cor original era branca, na parte dos fundos ainda
mantém a pintura original branca com detalhes em azul, o teto de madeira é formado
compõem um outro trabalho de ornamento. Em uma das laterais, bem no alto perto
chão indica a entrada para os artistas que pisaram naquele palco. Há vestígios da
envernizada que traz no centro uma figura geométrica em formato oitavado, ou seja,
feminino e uma escadaria em forma de caracol que dá acesso a parte superior onde
prateleiras de concreto sustentam vários troféus, alguns bem antigos, dos anos de
1944, 1952.
Numa outra sala, localizada entre o bar e uma das entradas da lateral, o
teto e a metade das paredes são decorados, sendo que a decoração de madeira de
9
Ver fotos no final do capítulo I.
17
ambiente mais sofisticado que outras, sendo que esta percepção tornou-se mais
Na sala de jogos, cinco ao todo, não foi possível o acesso por que o clube
está passando por reformas e este lado estava fechado, entretanto foi possível
visualizar através das janelas e porta que nestas salas o forro não tinha detalhes. É
foi acompanhada com entusiasmo e expectativa por parte dos moradores, no qual
suas vivências.
1954. Como consta na Ata de fundação do clube, essa associação era um pedido
seus associados tudo aquilo que é indispensável neste setor da vida, especialmente
na cidade de Siderópolis”.
da Cia, existiam cinco clubes recreativos na Vila. Eram eles: G.E. Vera Cruz, SER
União Mineira, Sul Catarinense FC, Clube Atlético Siderúrgica, Sider Club
serve como evocador da memória para pessoas que o freqüentaram, sendo que as
experiências.
confirmar nossas próprias recordações como para dar a ela legitimidade. Mesmo
10
HALBWACHS, Maurice. A memória coletiva. São Paulo: Vértice, 1990.p.25-52.
19
Pierre Nora:
A memória é vida, sempre carregada por grupos vivos, (...) ela está em
permanente evolução, aberta a dialética da lembrança e do esquecimento,
(...) a memória não se acomoda a detalhes que a confortam, ela se alimenta
de lembranças vagas (...) a memória se enraíza no concreto, no espaço, no
gesto, na imagem, no objeto11.
Pierre Nora mostrou também sua preocupação com o que ele chamou de
dessa forma, visibilidade a memória de grupos que já não existissem mais, sendo
que o autor ainda lamenta: “se habitássemos ainda nossa memória, não teríamos
vivido”.14
11
NORA, Pierre. Entre memória e história: a problemática dos lugares. In: Revista do programa de
história – PUC/SP, 1993.
12
Idem.
13
Ibidem.
14
NORA, Pierre. Entre memória e história: a problemática dos lugares. In: Revista do programa de
história – PUC/SP, 1993.
20
história que se pode entender o ato de preservar. Por isso é necessário Preservar
Pode-se pensar nessa fusão, como sendo uma forma de controle da Cia
sobre seus empregados, afinal controlar os operários em cinco sedes recreativas era
denominadas “saudáveis”.
Decca”,15 que analisou a situação do operário em São Paulo nos anos de 1920-
sendo que para ela, o lazer disciplinado era traduzido “(...) no patrocínio do futebol
organizada.
15
DECCA, Maria Auxiliadora Guzzo. Ávida Fora das Fábricas: Cotidiano Operário em São Paulo
1920/1934. São Paulo: Paz e Terra, 1987.
21
(...) foi buscada pelos poderes públicos de forma idealizadora nos cuidados
num tempo de algum modo pernicioso à sociedade, caso ele viesse se tornar maior
desse tempo disponível, pois os meios operários, isto é, os locais onde os operários
Portanto, a prática de construir local de lazer nas vilas operárias não foi
extensa. Então, por meio de fortes movimentos sociais conseguiram uma lenta, mas
16
Idem.
17
SANT’ANA , Denise Bernuzzi. O prazer justificado. História e Lazer (São Paulo 1969/1979). Ed.
Marco Zero. São Paulo, 1994.
18
Idem.
19
Ibidem.
22
constante diminuição das horas de trabalho. Com isso surge frente ao tempo de
nas décadas 1920-1930 Maria Auxiliadora Guzzo Decca, afirma que: “nos bairros
amador”.22
operárias do maior centro urbano do país, nos quais encontrava-se como diversão: o
partida de dama, dominó, ping pong, snoocker, ou então para leitura na biblioteca do
clube, sendo que nos domingos ou feriados, era então o momento em que se
assistia e torcia uma partida de futebol no estádio, sendo que nestes dias também
Observação: na figura 06, a cor original da parede era branca no salão principal,
porém após a visita no local em julho de 2005, parte da cor original foi modificada.
Figura 10: Vista parcial do local de saída para projeção dos filmes no cinemascope
Figura 12: Piso do salão Principal com as iniciais do Itaúna Atlético Clube
Figura 16: vista da janela como foi apresentada pelas lembranças. p. 44.
diversas faixas etárias e culturas diferentes, o espaço físico de uma construção pode
de vida, não só daqueles que o conceberam, mas também dos que ali viveram
recreio se estabelecia como lugar de lazer, visto que os demais locais do complexo
32
da CSN que haviam sido construídos na vila operária eram locais de trabalho. Mas,
como se constituiu ou se inventou o lazer nas vilas operárias? O lazer era intrínseco
ao cotidiano na vila?
alguns autores que escrevem dentro de uma perspectiva da nova história cultural.
por ele de que “cria-se uma arte de viver que têm como centro a distância que
permite o jogo duplo”. Entretanto, será que a concepção de jogo duplo permeava as
Para responder esta questão, salienta-se que além do jogo duplo, o autor
também fala também em astúcia. Para esse termo ele coloca como sendo “o
resultado das atitudes e das situações cotidianas” pois ao lado daquele que
Vemos nascer uma série de práticas originais nas quais de maneira “fluida”
e sem agitação,cada individuo assegurar a soberania sobre sua própria
vida. é, portanto, na reduplicação, na pluralidade, que se situa a resistência
e não no choque frontal24.
23
MAFESSOLINI, Michel. A conquista do presente. Natal:Argos,2001.
24
Idem.
33
Decca25 em seu estudo sobre o cotidiano dos operários em São Paulo entre os anos
de 1889 a 1940, afirma que “os meios operários foram vistos por instituições e
“improdutiva”.
operária era preciso um controle nas formas de lazer que esse operariado
retórica (...) de ”um lazer mais saudável e produtivo” para o operariado no sentido de
de várzea com a participação dos operários, pois essa tática ocorria também na vila
anos após a formação do “Itaúna Atlético clube” – IAC – este time de futebol
25
DECCA, Maria Auxiliadora Guzzo. A vida fora das fábricas: Cotidiano operário em São Paulo
1920/1934. São Paulo: Paz e terra, 1987.
34
Auxiliadora, posso inferir que o futebol foi uma forma utilizada pela Companhia para
disciplinar o lazer e que a construção do Recreio como sede recreativa foi uma
forma de controlar, impor regras, moralidade, bons costumes, não somente aos
Penso que essa prática vem ao encontro com o que Michel Foucault 26,
construções dentro das normas, que a verdade é colocada não no objeto, mas sobre
ele”.
26
Foucault, Michel. A verdade e as formas jurídicas. Rio de janeiro: Nau Ed.1996.
27
COSTA, Marli de Oliveira. “ Artes de viver” recriando e reinventando espaços – memórias das
famílias operárias mineira Próspera Criciúma(1945-1961). Dissertação –UFSC, 1999.
35
estabelecido” por essa sociedade que vigiava atos e ações dos indivíduos.
Margareth Rago28, nesta mesma direção, analisando o espaço das vilas operárias de
São Paulo coloca que nessas vilas “(...) estabelece-se todo um código de condutas
lazer”.
Por meio das entrevistas e de pesquisa nas atas do clube, verifiquei que
na vila da CSN foram construídas duas sedes recreativas; uma para os operários
não negros e outra para os operários negros. Em outras vilas, onde não havia duas
sedes, a separação entre negros e brancos nos bailes era feita por uma corda ou um
28
RAGO, Margareth. Do cabaré ao lar: A utopia da cidade disciplinar. Rio de Janeiro: Paz e
Terra, 3ª. Ed. 1997. Cap. IV. A desvalorização do espaço urbano.
29
TANCREDO Osvaldo. Entrevista concedida em 07.03.2003.
36
tipo de cerca que marcava o limite de cada etnia, prática que ficou evidenciada em
vila operária que não tivesse duas sedes, precisava se deslocar para a vila que
recreativa chamada União Mineira para lazer dos operários negros, no entanto esta
sede não teve uma construção específica e transformou-se uma casa de moradia da
que cada um expressava sua opinião e, a cada opinião uma nova leitura da
uma sede específica para os negros foi uma solicitação dos próprios negros, porque
encontra-se que:
30
BERNARDO, Roseli. O tempo e os espaços de entretenimento das famílias operárias mineiras. In:
Memória e Cultura do Carvão em Santa Catarina. Ed. Cidade Futura.
31
MARTINS Gilson. Ex-funcionário da CSN e membro da diretoria do Recreio do Trabalhador.
Entrevista concedida a Roseli Bernardo em 31.08.05.
37
Esse documento pode ser analisado de duas formas a partir das reflexões
tática de resistência, que não era o choque frontal, mas que lhe garantiria uma certa
soberania sobre sua própria vida; a segunda diz respeito, as ações daquele que
domina, como podemos perceber no documento acima, que oculta uma prática não
para estudos posteriores, para serem cotejados com outras fontes, de uma questão
vivenciada e experimentada por homens e mulheres que traziam na cor de sua pele
inferioridades.
da sociedade sobre os indivíduos: “(...) uma moça quando tinha relação com o
namorado não entrava mais no clube”. Quando questionado sobre essa afirmação
32
MAFESSOLINI, Michel. A Conquista do Presente. Natal: Argos, 2001.
38
em relação à moça mencionada ele respondeu: “(...) o lugar era pequeno e todo
mundo sabia”.
normas colocadas pelo clube não tinham respaldo legal. Gilson Martins pontua que:
diretora social, uma assistente social vinda do Rio de Janeiro para trabalhar na CSN,
(...) tinha dona Vilma que era diretora social, veio do Rio. Ela queria botar
uma moça lá a força, que essa moça entrasse. Essa moça já tinha tido um
caso com um rapaz. O problema foi eu com ela. Eu conversei, eu não sou
contra, não tem nada. Mas se a senhora botar essa moça lá no salão, ela
entra numa porta e as outras vão todas embora.
Perguntei então o motivo alegado pela assistente social para tal tentativa,
e a resposta foi “a dona Vilma queria integrar essa moça na sociedade”. Desta forma
se assistia cinema. Na entrevista com o Sr. Osvaldo Tancredo ele contou como
funcionava o cinema:
entretenimento, pode ser entendida como estratégia para evitar que a família
mas com o intuito de vigiar, mas, o operário garantia a soberania sobre seus atos,
33
Chanchada – filmes, peças ou espetáculos com sátira e deboches.
34
BERNARDO, Rosania Terezinha. Movimentos Culturais: Tradições transformadas.
Especialização em Metodologia de Ensino e Pesquisa em Educação Artística. Faculdades Integradas
de Amparo. 2001.
40
Nessa história a cidade precisava provar que tinha um valor de patrimônio histórico ,
pois somente assim a cidade estaria livre de ser inundada com a represa da
talvez na tentativa de alimentar um passado que (...) não reconhece o seu lugar,
está sempre no presente” 36, passado que marcou a vida de meninos e meninas -
jovens - que viviam numa vila com regras de condutas elaboradas por adultos, e
namoro, a paquera, os olhares enamorados, tudo muito discreto, pois a censura era
atuante.
debutantes, com o traje social (camisa, gravata, paletó – vestido longo, cabelos
alinhados, maquiagem), o baile junino, no qual a peça que não poderia faltar era o
lenço no pescoço, que era vendido junto com o bilhete de entrada para aqueles
35
Narradores de Jave. Drama. Direção: Eliane Caffé. Lançamento 2003. Distribuição: Riofilme.
36
QUINTANA, Mario. Da Riqueza de Estilos. Caderno H. Porto Alegre: Globo, 1983.
37
ROSSO, Rosemar Romualdo -entrevista concedida a Roseli Terezinha Bernardo em 07.10.05.
41
bailes: o intervalo. Esse momento comentado pelo professor que como músico,
menina que se estava namorando, pegar nas mãos, conversar, sendo no intervalo
muitas vezes, tentar sair do salão para um namoro mais quente e discreto.
Gilson Martins como “difícil de acontecer”, pois a vigilância exercida pelos diretores
recaia sobre dos diretores. Essa prática era vista como confiança mútua entre os
habitantes daquela localidade, ou seja, o zelo pelo ser querido é estendido para
principalmente durante a década de 1980, tendo como motivo “(...) ter praticado ato
Encontrei essa penalidade citada imposta a uma moça, cujo nome por motivos de
38
BERNARDO, Edson. Foi diretor do Recreio do Trabalhador no final dos anos 1970 e meados de
1980. Entrevista concedida em 20/10/05.
42
A vigilância também era exercida pela polícia, pois nas fontes encontrou-
bailes.
atividades disponíveis no Recreio. Num dos relatórios do ano de 1964 consta que
surpreendente constatar que essa biblioteca possuía algumas obras, ainda hoje,
Emile Zola, ou então obras de Alexandre Dumas, Miguel de Cervantes, Julio Werne,
livros.
permissão para essa assinatura, colocando que era do interesse dos empregados
ter esse informativo a seu dispor. Essa informação pode ser indício do desejo de
foram registradas na entrevista com o senhor Valmir Cardoso, Dona Joaquina, sua
39
Valmir Cardoso, Joaquina Cardoso e Laura Bitencourt. Entrevista concedida a Roseli T.Bernardo
em 17/04/04, Siderópolis.
43
O senhor Valmir comenta que “passava muitos filmes bons. Vinha artista
de fora aqui no Recreio, eles faziam aquelas festas; a siderúrgica mandava buscar
(...) veio às mulatas do Sargenteli aqui (...) uma vez passei vergonha porque
elas foram todas passar o rio e iam puxando a roupa para não molhar na
água, e eu tava com medo, porque eu tava com o Francisco e tinha o
compadre Gregório e eu tinha vergonha que elas estavam levantando o
vestido”.
mulatas do Sargenteli usavam saias compridas, mas será que era desta forma que
se apresentavam no palco?
em 1958. Uma das lembranças que trouxe o sorriso nos rostos dos narradores foi o
matiné”. Porém não era somente nos matinés que as crianças iam, pois nos bailes
através das janelas aonde as meninas que iam em companhia das moças, que por
algum motivo não adentravam no clube, ficavam na ponta dos pés ou através das
40
SEBBEN Sônia Maria B. Ex-moradora da comunidade. Entrevista cedida em 20.10.05
44
(...) eu lembro que eu ficava pendurada, a janela era bem alta daí tinha uma
beiradinha, eu subia ou então a gente levava um toco de madeira e botava
para subir em cima para enxergar dentro do recreio e às vezes ali tem a
parte que era porta só que as caras botavam aquela cortina vermelha que a
gente não conseguia ver nada (...).
são refeitas quando o provocador da memória, é visto e sentido não apenas como
Carta convite
A Cia Siderúrgica Nacional convida os seus empregados e suas exmas
famílias para as festividades de seu 21º aniversário, a serem realizadas em
Siderópolis conforme programação abaixo:
Dia 8 - 20h: partida de voleibol entre as equipes da Vila residencial X
Beluno, em disputa de jogo de camisa. Dia 9 -8h celebração do santo oficio
da missa na capela de Santa Bárbara. As 9:30 entrega de prêmios aos
empregados que completaram 10 anos de bons serviços prestados a CSN
no Recreio do Trabalhador. As 11h coquetel no Recreio do Trabalhador aos
empregados e autoridades. 14h Hora da arte no recreio. 15:30 jogo
amistoso (obs: com portões abertos), as 18h sessão cinematográfica
gratuita no recreio, para menores de 14 anos. As 20h sessão
cinematográfica gratuita para os empregados e dependentes maiores de 14
anos.
como exemplo a entrada no cinema, como consta na carta convite, pode significar
que em outras ocasiões, os operários pagavam para participar das mesmas; idéia
que não encontra respaldo nos entrevistados, mas que as fontes escritas trazem
fortes indícios.
Trabalhador logo pela manhã, não deixava dúvidas. Toda a comunidade acordava
com o som natalino. Edson lembrou que os alto falantes colocados na parte externa
CONSIDERAÇÕES FINAIS
operário da CSN criou uma identidade que julgava privilegiada em relação aos
foi vítima do tempo e o tempo não pára, deixou as lembranças, a saudade, e seguiu
adiante. Por motivos diversos muitos alçaram outros vôos, jovens foram em busca
A Cia foi extinta no final dos anos de 1989, por determinação do governo
pela comunidade que lhe devolveu o uso para o lazer. Outra geração, outros jovens
daqueles que com ela conviveram em seu cotidiano, a voz de Eclea Bosi 42 ecoa “As
lembranças (...) tem assento nas pedras da cidade”. “As pedras da cidade, enquanto
íntimas vivências que pertencem ao passado, mas que se manifestam quando são
41
LOWENTHAL, David. Como conhecemos o passado. (tradução de Lucia Haddad). Projeto
História/PUC. São Paulo, 1998. Pág. 64.
42
BOSI, Ecléa. Memória e Sociedade: Lembrança de velhos. 2. ed. São Paulo: EDUSP, 1987.
52
REFERÊNCIAS
DECCA, Maria Auxiliadora Guzzo. A vida fora das fábricas: Cotidiano operário
em São Paulo 1920/1934. São Paulo: Paz e terra, 1987.
Entrevistas