Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
BIOSSEGURANÇA
E ABORDAGEM
Secretaria Especial
dos Direitos Humanos
União Européia
DE URGÊNCIA
PATRÍCIA CONSTANTINO
Diretora-presidente
Ana Paula Mendes de Miranda
Vice-presidente
Simone Maiato Gomes
Coordenadora de Pesquisa
Lana Lage da Gama Lima
Volume 12
biossegurança e
abordagem de urgência
ANTONIO CLÁUDIO LUCAS DE NÓBREGA
Professor Titular do Departamento de Fisiologia e Farmacologia da UFF, Coordenador do
Mestrado em Ciências Cardiovasculares da UFF, Coordenador da Disciplina de Fisiologia
Humana (UFF), Membro do Conselho de Ciência, Tecnologia e Inovação do Município de
Niterói - RJ, Mestre e Doutor em Ciências, Research Fellow da University of Texas Southwestern
Medical Center at Dallas, (EUA), Editor-Chefe da Revista Brasileira de Medicina do Esporte,
Pesquisador 1 do CNPq
PATRÍCIA CONSTANTINO
Psicóloga (UES), Doutora em Saúde Pública (Escola Nacional de Saúde Pública)
Rio de Janeiro
Instituto de Segurança Pública
Secretaria Especial
dos Direitos Humanos
União Européia
Volume 12
BIOSSEGURANÇA E ABORDAGEM DE URGÊNCIAS
Autores
Antonio Cláudio Lucas de Nóbrega
Patrícia Constantino
Renata Rodrigues Teixeira de Castro
N754b Nóbrega, Antônio Cláudio Lucas de, Constantino, Patrícia e Castro, Renata Rodrigues Teixeira de.
Biossegurança e abordagem de urgências. Organizadores: Ana Paula Mendes de Miranda e
Kátia Sento-Sé Mello – Rio de Janeiro: Instituto de Segurança Pública, 2006.
p.: il. – (Coleção Instituto de Segurança Pública. Série formação policial, v. 12)
ISBN 85-60502-19-X
ISBN 978-85-60502-19-6
1. Laboratórios químicos – Medidas de segurança – Manuais, guias etc. I. Instituto de Segurança Pública.
II. Constantino, Patrícia. III. Castro, Renata Rodrigues Teixeira de. IV. Miranda, Ana Paula Mendes de.
V. Mello, Kátia Sento-Sé. VI. Título. VII. Série.
CDD: 542.10289
APRESENTAÇÃO
A formação profissional é a base para a prestação de serviços de qualidade. É
com este espírito que o Instituto de Segurança Pública desenvolveu um projeto para
capacitar os profissionais que atuam na área de ensino das Polícias Civil e Militar.
Nosso objetivo é debater e rever o modelo policial vigente no Brasil, que tem como
base uma cultura de combate ao crime, associada a valores e práticas que repousam
em posturas legalistas e burocráticas, não privilegiando o enfoque da segurança
voltada para o cidadão.
A organização da Série Formação Policial, da Coleção Instituto de Segurança
Pública, é fruto da parceria entre o Instituto de Segurança Pública, a Secretaria de
Estado de Segurança, a Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência
da República e a União Européia. Tais ações visam à modernização dos órgãos de
segurança com a capacitação continuada de seus agentes, no contexto do Programa
de Apoio para as Ouvidorias de Polícia e Policiamento Comunitário da SEDH.
A profissionalização da polícia é uma meta do ISP, entendida como uma
capacitação voltada para a prevenção do crime e a melhoria da segurança pública,
o respeito à lei, a construção da relação de confiança com a sociedade, o controle
qualificado e a ausência de comportamento inadequado, a capacidade para resolução
de problemas e o tratamento igualitário das pessoas.
Os volumes que compõem a Série Formação Policial foram produzidos para
atender as demandas do corpo docente das unidades policiais de ensino, debatidas
durante o Seminário Reformulação da Formação Policial, realizado em agosto
de 2004. Os temas também foram selecionados em função da Matriz Curricular
Nacional para a formação na área de Segurança Pública, elaborada e publicada
pela Secretaria Nacional de Segurança Pública. Do mesmo modo, buscou-se
compatibilizar as necessidades e especificidades das Polícias Civil e Militar com o
Currículo Integrado de Formação Policial do Estado do Rio de Janeiro, publicado
em março de 2006, que incorporou os princípios de responsabilidade social, tendo
como foco a metodologia da prevenção de conflitos; a valorização da investigação
e da inteligência; o policiamento voltado para a interação entre polícia e sociedade;
o exercício da ética; o fortalecimento dos direitos humanos como um processo de
luta por cidadania, mediante a supressão da discriminação de gênero, orientação
PREFÁCIO
A Série Formação Policial da Coleção Instituto de Segurança Pública reúne
livros que foram elaborados com base nos textos dos cursos Temático e Pedagógico
para a formação de docentes das escolas das polícias – civil e militar – do Estado
do Rio de Janeiro e nos trabalhos apresentados no Seminário Formação Policial e
Segurança Pública. Ambas atividades foram executadas no ano de 2006, por meio
da parceria entre o ISP, a Secretaria de Estado de Segurança do Rio de Janeiro, a
Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República e a União
Européia.
O conteúdo da Série é parte integrante da capacitação das Polícias Civil
e Militar do estado do Rio de Janeiro, no âmbito do Programa de Apoio para as
Ouvidorias de Polícia e Policiamento Comunitário da SEDH.
Essa Série consagra uma experiência pioneira, que teve por objetivo a
adequação das orientações relativas à formação das polícias do Estado do Rio de
Janeiro, previstas no Currículo Integrado, aprovado e publicado pela Resolução SSP
Nº 846 de 30 de março de 2006. A formação integrada das polícias, no âmbito do
Estado, significa antes de tudo a possibilidade de implementação de uma política
de segurança pública com base no diálogo sobre as diferentes atribuições de ambas
as corporações e do modo como podem atuar sem prejuízo das suas competências
específicas.
Trata-se assim, de uma experiência institucional que busca caminhos para
que a atuação das polícias seja norteada por princípios universais e igualitários
proclamados por uma sociedade regida pelos princípios do Estado Democrático de
Direito, na qual os direitos de todos os cidadãos sejam garantidos e respeitados,
tanto da população civil quanto dos policiais, agentes investidos da responsabilidade
de prestar um serviço público no campo da segurança pública.
A perspectiva que norteia esse trabalho, bem como as diversas atividades
propostas e implementadas pelo ISP, no âmbito da Formação Policial, em consonância
com a orientação do atual Plano Nacional de Segurança Pública e da Secretaria
Nacional de Segurança Pública, prioriza uma metodologia de formação policial
baseada na transversalidade dos conceitos de Direitos Humanos e das práticas de
Cidadania. Ao longo desses anos, a partir da parceria estabelecida com a Comissão
I - INTRODUÇÃO
II - ABORDAGEM EM URGÊNCIAS
Deixar de prestar assistência, quando possível fazê-lo sem risco pessoal, à criança
abandonada ou extraviada, ou à pessoa inválida ou ferida, ao desamparo ou em
grave e iminente perigo; ou não pedir, nesses casos, o socorro da autoridade
pública.
Pena - detenção, de 1 (um) a 6 (seis) meses, ou multa.
A omissão de socorro pode ainda ser considerada até mesmo como causa de
danos maiores (relação de causalidade), como prevê o artigo 13 do Código Penal
Brasileiro.
1. Atendimento em desastres
Por tratar-se de profissional presente em diferentes cenários, não é raro que
o policial seja o primeiro a deparar-se com uma situação de desastre, definido como
uma situação de emergência na qual os recursos materiais e humanos disponíveis não
são suficientes para o atendimento adequado. Um dos objetivos deste documento
é preparar o policial para o atendimento individualizado de vítimas, em diferentes
situações. Entretanto, muitas vezes, os desastres se caracterizam pela presença de
várias vítimas, e o policial deverá estar preparado para esta situação, reconhecendo
as prioridades de atendimento e sendo capaz de informar a gravidade do ocorrido
aos órgãos competentes.
Em um acidente de grandes proporções, dificilmente todos os recursos
humanos e materiais necessários à melhor operação estarão disponíveis. Nestas
situações, é comum que diferentes profissionais (médicos, enfermeiros, bombeiros
militares, funcionários da defesa civil e policiais militares) atuem em conjunto,
visando a melhor resolução da situação instalada. Para que esta atuação conjunta
2. Atendimento individualizado
Muitas situações de emergência envolvendo uma ou poucas vítimas podem
ter sua história modificada por profissional treinado em procedimentos básicos de
urgência. Os diferentes itens deste livro apresentam as situações de emergência
mais comuns, como diagnosticá-las e abordá-las. Entretanto, independente do caso,
a abordagem inicial deve ser sempre a mesma, conforme descrito a seguir.
3. Exame primário
O primeiro objetivo do atendimento individualizado de uma vítima é verificar
sua capacidade de resposta. A vítima capaz de responder a solicitações simples,
como dizer seu próprio nome, deve ser interpretada pelo socorrista como com
presença de circulação e respiração. Nesta primeira abordagem é importante que o
socorrista determine o nível de consciência da vítima de acordo com o método AVTI,
apresentado na tabela abaixo.
Ao final do ABC, a vítima deve ser despida, visando a procura de lesões graves,
principalmente aquelas capazes de gerar hemorragias.
4. Parada Cardiorrespiratória
A parada cardíaca caracteriza-se pela interrupção súbita das contrações
cardíacas efetivas e, conseqüentemente, da circulação corporal em indivíduo com
expectativa de restauração da função cardiopulmonar e cerebral, não portador de
moléstia crônica intratável ou em fase terminal. A parada respiratória caracteriza-se
pela interrupção dos movimentos de ventilação (inspiração e expiração). A parada
cardíaca será precedida ou seguida pela parada respiratória, configurando um caso
de parada cardiorrespiratória.
A parada cardiorrespiratória mata mais do que acidentes de trânsito,
violência e suicídios no mundo ocidental. A importância do atendimento rápido e
eficaz aos casos de parada cardiorrespiratória reside na tentativa de minimizar as
lesões decorrentes da falta de oxigenação em órgãos nobres, que podem ser graves e
irreversíveis. A chance de sobrevivência do indivíduo com parada cardiorrespiratória
é reduzida em 7 a 10% a cada minuto sem atendimento adequado.
Assim, foram criados protocolos específicos para atendimento a estes casos.
Em 2003, o ILCOR (International Liaison Committee on Resuscitation) definiu seis
segmentações de treinamento e operação em casos de atendimento à parada
cardiorrespiratória: Suporte Básico de Vida, Suporte Avançado de vida; Atendimento
às Síndromes coronarianas agudas, Suporte de Vida pediátrico, Suporte de vida
neonatal e atendimento interdisciplinar, definindo suas metodologias aplicadas
e sistemas de ensino. A classificação dessas definições foi apoiada e seguida por
diferentes organizações médico-científicas internacionais, criando uma consistente
rede de pesquisa para a criação de metodologias passo-a-passo, revisões literárias,
atualização, revalidação e determinação de níveis de treinamento recomendados. Um
total de 281 especialistas, 403 trabalhos científicos, 276 tópicos distribuídos entre
18 países foram responsáveis pela produção do consenso científico no atendimento
às paradas cardiorrespiratórias.
Diferentes situações podem acarretar parada cardiorrespiratória como: infarto
agudo do miocárdio, arritmias cardíacas, infecções graves, distúrbios metabólicos e
hidroeletrolíticos, intoxicações, uso de medicamentos, trauma torácico, entre outros.
Obviamente, a causa da parada cardiorrespiratória deverá, sempre que possível, ser
identificada e tratada por médico especializado. Entretanto, o atendimento inicial
a um caso de parada cardiorrespiratória deverá ser realizado com presteza, por
Respiração boca-a-boca
• Deve-se fazer obstrução digital do nariz para não haver escape de ar.
• O tempo da insuflação é rápido: um e meio a dois segundos em adultos
e cerca de um e meio segundos em crianças.
Figura 1
Posição para realizar a Manobra de Heimlich para engasgo
6. Afogamentos
Afogamentos representam uma importante causa de morte em todo o
mundo. Anualmente mais de 500.000 (8.4/100.000) pessoas são vítimas fatais de
afogamento e mais de 10 milhões de crianças menores de 14 anos de idade são
internadas e, em média, uma a cada 35 destas hospitalizações chega ao óbito.
No Brasil, a primeira causa de morte de crianças a partir dos 5 anos de
idade são acidentes. Segundo dados do Ministério da Saúde, em 1997 quase 6000
crianças menores de 14 anos foram vítimas de acidentes de carro, afogamentos,
quedas, queimaduras e intoxicações. Afogamentos representam a segunda causa de
morte não natural na infância, ficando atrás apenas dos acidentes automobilísticos.
No mesmo ano de 1997, cerca de 1.800 crianças foram vítimas de morte por
afogamento.
A velocidade de ação no resgate e tratamento das vítimas de afogamento é
essencial para sua recuperação.
Atenção:
• Não vire o pescoço da vítima!
• Não tente retirar água dos pulmões!
• Se a vítima estiver em parada respiratória ou cardiorrespiratória
inicie as manobras de reanimação.
7. Hemorragias
A hemorragia é a perda de grande quantidade de sangue, para o meio externo
ou interno, por lesão de vasos sangüíneos (veia ou artéria). A perda de sangue gera
falta de oxigenação nos tecidos, podendo gerar morte ou lesões irreversíveis em
órgãos nobres, como o cérebro e os rins.
As hemorragias podem ser:
• Externas: extravasamento de sangue para fora do corpo.
• Internas: Não há exteriorização de sangue. O sangue fica acumulado
em alguma cavidade corpórea (como abdome ou tórax). Neste caso, o
diagnóstico é mais difícil e deverá ser suspeitado caso a vítima apresente
quadro conforme será descrito a seguir.
• Mistas: ambos os tipos de hemorragia ocorrem na mesma vítima.
A suspeita de um caso de hemorragia deve estar presente sempre que sejam
encontrados pulso fraco, aumento da freqüência cardíaca, pele pegajosa e fria,
palidez cutânea, torpor e confusão mental, desmaio e queda da pressão arterial.
8. Estado de Choque
É o quadro que resulta da incapacidade do sistema circulatório em fornecer
sangue oxigenado suficiente para suprir as necessidades. Pode ser causado por
perda sanguínea (choque hemorrágico ou hipovolêmico), incapacidade do coração
em bombear o sangue adequadamente (choque cardiogênico) ou pela dilatação
excessiva dos vasos, acarretando queda da pressão arterial (choque séptico e choque
anafilático).
O indivíduo em estado de choque pode ser identificado pelos mesmos sinais
apresentados no diagnóstico de hemorragias (pulso fraco, aumento da freqüência
cardíaca, pele pegajosa e fria, palidez cutânea, torpor e confusão mental, desmaio
e queda da pressão arterial) e a diferenciação dos dois quadros só será possível
em caso de sangramento evidente (hemorragia com choque hemorrágico) ou por
profissional habilitado na diferenciação dos diferentes tipos de choque.
9. Fratura
Fratura é a quebra de um osso, podendo ser fechada (com pele intacta) ou
aberta (o osso atravessa a pele). Algumas fraturas são facilmente diagnosticadas
pela deformação do membro acometido. Outras não mostram deformidades
do membro. Nestes casos, pode-se suspeitar de fratura caso ocorra dor óssea ou
articular, incapacidade de movimentação, inchaço e pele arrocheada ocorridos após
trauma.
10. Convulsão
A presença de atividade muscular anormal associada à inconsciência é
denominada convulsão. A atividade muscular anormal, em geral pode ser descrita
como contrações tônicas (contração espástica, mantida) e clônicas (alternância
entre contração e relaxamento). O paciente em crise convulsiva costuma apresentar
salivação intensa e pode apresentar micção e/ou evacuação involuntárias.
Existem diferentes causas de crises convulsivas, conforme o quadro abaixo:
11. Queimadura
A pele é a nossa barreira natural de proteção contra agentes agressores, como
microorganismos, agentes físicos e químicos. Além disso, a pele atua na manutenção
da temperatura corporal e na retenção de líquidos.
Queimaduras são lesões geralmente restritas à pele, que decorrem da aplicação
de calor ao corpo e quebram nossa barreira natural de proteção. Eventualmente
as queimaduras podem atingir tecidos mais profundos, como músculos e ossos.
As queimaduras variam muito de importância e gravidade, dependendo do agente
causador, que pode ser líquido aquecido, fogo, álcool, gasolina e querosene
incandescentes, eletricidade, agentes químicos etc. Além disso, também é muito
importante o tempo de contato deste agente com o corpo, a extensão do corpo
atingida e o tempo transcorrido entre o acidente e o primeiro socorro.
Uma queimadura elétrica é causada pela transformação da energia radiante
em calor. Queimaduras químicas são lesões de pele decorrentes da ação cáustica
aguda causada por um agente químico, etc. Queimaduras elétricas e químicas
sempre devem ser consideradas graves, podendo resultar até mesmo em morte no
local do acidente.
Quanto à profundidade (camadas de pele atingidas), queimaduras podem ser
classificadas de acordo com a tabela a seguir:
11.1 O que fazer?
• Interrompa o efeito do calor utilizando água fria.
• Faça a avaliação primária da vítima. Identifique qual o tipo, grau e
extensão da queimadura.
• Infecções são o grande risco das queimaduras. Lembre-se que a barreira
de proteção formada pela pele foi rompida. Por isso tenha cuidado ao
manuseá-la e evite ao máximo contaminá-la. Cubra a área queimada
com pano limpo.
• Procure auxílio médico sempre que a queimadura for muito extensa ou
quando ela for de 2º ou 3º graus.
Atenção:
• Não passe qualquer substância em queimaduras. Apenas água
fria ou remédios prescritos por médicos são permitidos!
• Não tente: retirar a pele morta, arrancar a roupa grudada na
queimadura, apertar a queimadura ou furar bolhas!
Atenção:
• Não induza vômito!
• Não dê líquidos ou alimentos para a vítima!
Atenção!
• Procure afastar curiosos do local e manter o ambiente limpo.
• Lave bem suas mãos e braços com água e sabão ou anti-séptico.
• Use luvas.
IV - BIOSSEGURANÇA
• Evite abrir qualquer porta que esteja saindo fumaça pelas frestas e/ou a
maçaneta encontre-se superaquecida.
• Caso não consiga sair do local tente ir para janela chamar a atenção para
o resgate.
2. Ambientes radioativos
Figura 2
Símbolos de ambientes radioativos
Fonte: http://www.defesacivil.sc.gov.br/Guia50.htm
Cada forma de inserção social teria sua própria visão de risco. Temer o risco,
junto com a confiança em enfrentá-lo está relacionado com o conhecimento
do risco, com a experiência em relação a ele, com a instituição em que estamos
inseridos e com traços de personalidade. Então podemos pensar que a percepção do
risco é algo individual, ou seja, não percebemos o risco da mesma maneira que nosso
companheiro, mesmo que ele esteja exposto às mesmas situações de perigo.
Um autor francês chamado Le Breton (1996) chama de “pedagogia do risco” a
experiência adquirida pela repetição da exposição ao risco e a integração de técnicas
fazendo com que a percepção do risco seja minimizada. Ou seja, se eu estou exposto
sempre a situações similares e se eu estou preparado tecnicamente e tenho os
equipamentos necessários, eu tendo a me sentir menos em risco.
No entanto, segundo os estudiosos da área, o vivenciar risco não é uma
disposição permanente do indivíduo. Ou seja, não é porque estou acostumado a viver
situações arriscadas que sempre reagirei bem a elas. Isso significa que, embora uma
pessoa já tenha vivido muitas situações de risco, não quer dizer que esteja sempre
pronta a enfrentar outras. A repetição de eventos perigosos nem sempre banaliza a
vivência de riscos típica da natureza da profissão policial. O fato desses trabalhadores,
principalmente os que atuam no confronto direto, conviverem rotineiramente com
o risco, não assegura a eles um “equilíbrio psicológico” adquirido pela experiência,
muito pelo contrário. Há os que ficam mais temerosos e os que passam a minimizar
os perigos. A exposição rotineira ao risco pode levar o indivíduo a lutar contra a
angústia, atirando-se em direção ao risco, pondo-se corpo a corpo com o desafio.
Uma vez enfrentando o medo, ele desaparecia por alguns instantes e há a sensação
de tê-lo dominado. Pensem sobre isso.
Os policiais vivem o que um autor denominou de “risco de alta conseqüência”.
O exercício do trabalho de elevado risco se comprova pelas taxas de mortalidade e
morbidade por agressões de que são vítimas, dentro e fora das corporações, taxas
essas muito mais elevadas que o da população em geral. Uma pesquisa do Centro
Latino Americano de Estudos de Violência e Saúde CLAVES (Minayo e Souza, 2005) da
Fundação Oswaldo Cruz comparando a polícia civil e militar em relação aos agravos
à saúde decorrentes dos confrontos constatou a maior vitimização dos agentes da
Polícia Militar. Chama atenção, dentre os Policiais Militares, a exposição do círculo
dos praças, categoria que mais foi morta e ferida em confrontos. O risco faz parte de
uma “cultura policial”, assim como a impossibilidade de manifestação do sofrimento
mostrou-se como um forte agravante quando comparada com policiais que nunca
fizeram isto. Os policiais que afirmaram ter esta atitude sempre ou muitas vezes
apresentaram chances 4,17 maiores de passarem por situações de risco, em relação
aos que nunca realizaram tarefas imediatamente após o plantão.
Vale ressaltar que o risco ao qual o policial está submetido está relacionado
à natureza de seu trabalho. Se pensarmos pela ótica da Polícia técnica, temos a
exposição aos riscos biológicos e químicos. A fala dos policiais que trabalham no
Instituto de Medicina Legal incide sobre o risco de contaminação pelos corpos em
putrefação e pela falta de equipamentos de segurança. Podemos dizer que, talvez
de forma mais intensa, os profissionais que atuam no IML estariam submetidos aos
mesmos riscos biológicos pelos quais passam os profissionais de saúde que trabalham
em um hospital e os que vivenciam os trabalhadores químicos em um laboratório.
Contudo, o nível de intensidade de risco cresce, pois o grupo técnico verbaliza um
quadro de total insalubridade, no qual se juntam riscos biológicos, químicos e as
precárias condições físicas e materiais de trabalho. Podemos perceber que existem
riscos específicos para funções específicas na polícia. No entanto, somado a esses
riscos estão aqueles relacionados ao fato de ser policial, condição independente da
área de atuação.
Neste sentido, não há como negar que o policial está em um lugar privilegiado
na prevenção e redução dos danos aos cidadãos por atender diretamente a
população. No entanto, muitas vezes o policial está no lugar da vítima. Repensar
essas questões a partir da realidade desses homens e mulheres se faz urgente para
subsidiar políticas públicas com o foco nessa categoria profissional.
BIBLIOGRAFIA
CANETTI, Marcelo Dominguez; RUSSOMANO, Fábio Bastos; ALVAREZ, Fernando
Suarez; JÚNIOR, Célio Ribeiro e SILVEIRA, LTC. Protocolos médicos de atendimento
pré-hospitalar do GSE/ CBMERJ 2003. Editora Atheneu, Rio de Janeiro, 2003.
PIRES, MTB. Manual de Urgências em Pronto Socorro. Medsi, Rio de Janeiro, 1996.
TINTINALLI, JE; RUIZ, E e KROME, RL. Emergências Médicas. Mc Graw Hill, Rio de
Janeiro, 1996.
ANEXO
Sugestão de sites na Internet:
• http://www.bombeirosemergencia.com.br
• http://www.fundeci.com.br/ps/
• www.gse.rj.gov.br
• http://www.rio.rj.gov.br/defesacivil/incendios_como_agir.htm
• http://www.cve.saude.sp.gov.br/agencia/bepa6_bio.htm
• http://www.szpilman.com/biblioteca/medicina/prim_socorros.htm
Telefones úteis: