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ANTONIO JOSE SARAIVA OSCAR LOPES HISTORIA DA LITERATURA PORTUGUESA 16." EDIGAO, CORRIGIDA E ACTUALIZADA, @F ereero eomo%e EPOCA DAS ORIGENS A FERNAO LOPES Capitulo [ INTRODUCAO IBA sociedade Na gpoca em que Por séaulo XI «vida politica ea cultura estiver sados do ‘se constitu como estado independente, ntal 0 periodo em que a economia, sociedad, Verifica-se aqui ea ‘nove sure miercantil; em face dos eastelos, sobraneeitos aos Aonnnios senhoriais, ay vilas€ eilakes pavoadas de cburguesess. Os produtos 1 gente citing, Entre to da teres, € 0 So¥V0, que 0 pro como os pequenos prop ros livres, quer a navas actividades ecandmieas, como os mesteirais, os mercalores & rnegockamtes de dinero {As circunstincias da Reconquista a P sms disciplinad, dete ticas que as telagdes senorin sderes, come Heres ‘senor, que uswfiui do ren do una miltarizagio os aspectos poculiates nas formas juriieas e pol gui assmiran; isso Fevantow mesmo a certos historia kano, o prob ‘ow imesisténcia, ma Made Mala penn sular, do fevdalismo, eoncebide este seyundo © estrito melo fr cetanto, a Hizagio politica © aduvinistrat relativamente &earolingia © capoting, as manifestagies relat utonomia concelhia peninsular, o facto de a principal nobreza portuguesa estar sujet, tnvo-a um eadeia de dependéncias pessoais, mas a um servign régio pag mediante coms n este facto essenctal: a relay econ don Como observa Animando de Castro, as propria nobrer parte do excedeite que 0 ret obtinha dos seus mais vastoy dominios priprios © dos Irbutos conceliios. Deve no entanto salientar-se 0 seguinte: & aristocracia neopética arquias sher anente precoees ii entre ns (eno podia deixar de ser) ada renda ru 6 STORIA Ds LITERATURA PORTUGLIESA vica e certa autonomia das ram desalojar uina outraarstocracia militar ula sobre uns rede de economia met adaptouese a cer popithaies vis import rural, magulmana, jest «pelo que especialmente nos importa, 0 re { hafejado pelo desenvolvimento eutopeu da rolaciona com as Cruzlay, cua fro tos meridionaise os inseriram nas rotas comerei » Medite q Exist, por eonseguinte, dewle as origens do reino de Portugal, uma nave 1 conics (como a dite 1 fundade por D. Afonso Henriques Forgas produti s colaboraram alids na conguista das nossos por ceno 8 estendderse desde 0 Bkicw rao cos {eita e comercial que activava portos martimos, come Lisboa e Parto, © portos fuviais uayém, Diseute-se muito 0 grat de importin tividade meteantil, que jd nos relacionava eo de acesso ao interior, com Coimbra e S ‘outros pases dha Enropa cla burguesia comercial corsespondente, Ede considerar parte a burguesia juaica «que se dedicava especialmente a0 eomércio do dinheito e desempenhava um papel active As prodigies ni adkninstragdo Financeira da casa teal ¢ das geandes casas senor is caracteristcas da economia postuguess (ruta, azcite, vi xo, couros) propiciavan’ uma exportagio que, em navios portugueses ou est importagio de ee 1 avistocracia feudal, constituida pel 1s prestagoes em dinheito, No er ais, textes, ete aval ou péneros a que estavann sujeitas rigltares (eolonos servos), no dein 1 ua posicao don ante. A nobreza, que se sustentavs também dos despojis da guerra contra 0 Arabs, i concluida em 1249 com a conguist os ale ter em Poa do Algarve, era sobrepujada pelo clero, quer em nivel de cultura, quer em poderio evondmivo, quer ainda porque ele estava apoiad ma ‘organizagio internacional da Igreja ¢fortaleckdo pela primazia geralmente reconbeci, 1 spot espitus (OU Sea, @ poder ecleskisico) sobre © pout Sé€ civil. Os rwis de Portugal consideram-se durante 0 » tempo vasslos da kulase que no século XIV os rendimentos totais do elero ¢ da coro ou lentes. nos equ ‘Convem distin lar que vive em regime comuniti dlesenpenha o papel mais active na histria rantido sob ocup i entee oclero seculat( cebispos, bispos, pirovas) eo elero repu oe obedece a itiam no seu Lerrittio varias convents, Grab, come o de Lorvio. Nos pr fundados dois i coments, «dos Cénegos Reprantes cle Santa C bya e« dos Cistercienses em Aleobags. Ambo, sobetudo 0 tino, exerce ante fungdo cultural Emi meiados do séeulo XU, inteoduzes raneiscanos ¢ Dominicanos, principalment populagdes urtanas, rampendo o isokamento em que se confinav tantigos, que se tinham ‘anos da monarquia, so w.de Coin ‘uma impor se em Portugal 4s ord = que se dedicam sw apostoldo dis novas 10s Benealtinos e Cis corte e extraording icnses. Aleangam, desde o inicio, uma posige preponde influgncia nas eamadas populates. 1. EPOCA ~ DAS ORIGENS 4 FERNAO Lopes 7 © poder real estava limsitado pelos priviégios do clero, day easas senhoriis © dos concelhos, que exerci js una grande parte dos posleres adminis: trativos hoje conf sa ajuda do clero, nobreza e cancels, sobre os seus tetrit 3s cortes, assemble sobretuxlo quando necessitava de recursos de repre fon enor ou Mor peso Con antes dlaqueles 8s -estadose, eujo parecer tha as outras cass ne as eincunstaneias, A Casa Real, embora de horisis, eta aiwla relativamierte pobre € modesta, constitu por educide mimero de pesos, O ret via loria, proce a pelo Pats usufruind ds seus died tando os locais de mais féeil abastecimento ¢ de melhores eondigdes sanitirias contra 1 peste, mal endémico, embora residisse com mais frequéneia em certas cidades, come Coimbra, na 1.9 di ste para vavquivo do Reino, © s6 a partic de D, Joao 1 sera Lisboa reconhecila como capital Mi Iria na corte, que e ago pe ‘partir de D, Pedro haverd it i no reinado de D, Afonso II se notam sing vetividade met stil nos portos por mao progresso ti tupueses, © se acentuam no reinado de D. Fernando, HAs in: igdes de cultura ‘Antes da invengio dh imprensa 0 liveos reproduziam-se pelo processo de e6p ‘manuserita em folhas ale pergaminho, A. prosugio de manuseritos eta Kenta © cara, & nte reduzila. Anteriormente ao séeulo XII, 96 nos convent visti condigies para 6 traballio da producio dle manuscritos. Mais tarde, constitvens ‘se corporagies de escribas profissionais, prineipalmente a volta cs Universidade. Este anes ¢interpretagdes de manuserito para man io exteom processo de reprodugio 4 causa a va a eopre ulo um processo até certo ponte eompaivel a0 wo por via oral 1s acaba por poder considera Desta forma, alguns textos em que ent se de autoria coleetiva, E 0 caso, come veremos, le Amadis Em Portugal, 0s conventos con oficinas de manuseritos foram prineipalmente os dle Lorvio (que ji exist sob 0 dominio inta Cruz de Coimbra © Alco maior Tivearia medieval portugues «a canta; femios de con igulmano), haga, Neste tltimo reunit-se ‘Mas a eserita consttufa un meio acess6rio de transis recitadotes, cantores ¢ msicos ambukan jo musicale litero, por veres 1 papel import Fo «saber liVHeseo & a8 as, Desempenlam acolhido e estlizado em vortes se s eos, que estabelocem a fi Simo os pregadiores cclesia passas populares. ‘As dus literaturas — a oral ca escrta — apresentam caraeteristicas mito dif tes. Ao passo que 0s livros proxuzidos ou reproduvidos nos conventos, destin sobretude a prepatagio dos clérigos e a0 serviga stam prineipalmente cm trata ¢ obras de devogio escritoy em lati 1 piblicw iletralo de vildes, lisioso, €0 inio dos jogras, pelo cootrs io, ditigido au w HISTORIA DA LETERATURA PORTUGUESA lerewve desse piblico © consistia sobretado em poems ce narraivas versificadas, 6 com os jogras que nascem as itera miodernos de fiegdo, tais como o pom Ii A cultura liter femifica por via rata, restringiv-se, durante muito tempo, aos elétigos, A palavra cérigo (Franek clere) made letra. 1 tominicas 60s géneros omouse sind mito, pole cultura tradicional, tran mtd oralmente, que fixava padrdes de vida, uma visio do mural, ama eseala de Valo Fes, un pateinnio liter As mais amigas eseolas de que i ‘copais ou eatedrais, destinadas reidas por un mi tinadas espeeialmen 1s de sabedoria pritica, e ia em tervtGio portugues so as escolas epi: io do futuro clero, que fancionavam junto das las; eas escolas conventuais, des so. nbro do cabid ise a de Alco: bag, Ocnsin tugal io excederia muito os radi superior tinha de frequemtar as universidades est portugeses preferiam as de Paris, Mompilher © Bolonha itraxo nas escola episcopais ¢ conventua nol lingua latina; © quem queria ag ira, entre as quais os estudantes de movimento das Desde o comego do séeulo XII desenvolvera-se na Europ 0 gra iversiades, escolas de Digcito, de Teologta ede Filosot asborike 1. As univetsidades desempenharn um papel ea Lal tanto na Tereja como no Estado, pois ali se preparamy os fedlogos © os ftrados indi pemsiveis a uma e outro, 6 em 1290 se propaga a Portugal este movin fundagio, no reinalo de D, Dinis, do Stadion Generate de Lisboa, escola concebid Leica vam dos quados pedagégicos da Tee segundo 0 modelo da de Bolonta, O seu programa inclu cata le Gra (as das primeiras do Trivium, 20 qual falta « Ret6rica), Medicina, Diteito e do século NIV, a Filosofia Natural, buseada na revervaul as conventos dos mendicantes. ApOs © Civil, e, partir da seyunda meta Fisica de Ariststeles, A Teologia feav tum periodo de vaivém entre Lisboa ¢ Coimbra, a Universidade por Lishow a partir de 1377, até a refonra de D, oso HL (1536). A sta histrta durante © existéncia pareve ni te sido brilhante, © muitos escolates portugueses cont sm procurar universiMlades fora do Pas 1 Fiyourse em fase da IO amb jente cultural na Europa da vida s0 1. nesta epoca que verdadet vi a dut 05 seus melhores rutos n iticainiciada no sécwlo XII corcesponde uma viragem nemle se inicia © renaseimento gral ‘rand sada século XVI. Ao mesmo tempo que feudalismo delina e as cides se muipicam, dese imiversades,traduzem-se obras desconhecitas de Arist6teles, no meio de i heresias, quer de origem universitiria, como o Averrorsine 1 dos Citaros ou Albigenses, 1 EPOCA ~ DAS ORIG ENS A PERNAO LOPES ” reorimida a ferro ¢ ogo. Através dos Vakdenses e de outros, diva 0s Fi 1m as camadlas Taicas cent wos conventos, Na art ew sucede a vique7s a eitura da nciscanos e outras orden proocupagdes doutrinirias, que até ent tastoridade maciga € guerreira do estilo rom ‘xincia do estilo pético, possibilitado pelo progresso do artesanato e pela riquera da bur ‘svesia urbana ‘A expressio earacteritien do Fendalismo <éficos, com os Niebelunges, 3s sagas nbdieas eas eangies de XII, as eangBes de peste i je entradas em dec aus sé exis rina na Titeratra foram 0s eant sta francesas, No séeulo esas, das quis a mais eélebre & a Chanson de Roland, Mas na Peninsula Ihérica, devido possivelmente & petsis= ‘cia da mentalidade guerreita por aegio das lntas contra os Arabes, © posto da itera tua herdica prolonga-se até mais tank io, hieriequico. harbaro das ses de gests, iraste com © seatimento ge ‘com os seus tems sanguinol fmpliar esta designagio ¢ dizer Oceitinia, dominio linguistico da Langue doe, 10 Sul tia Pranga actual, regio que desempeniiou um pape! privitegiado na ceanin {do Medlterrineo, com as Cruzadas), ulate inlividualist, suprime as dis di da Provenga (seria mais exacto tincias sociais com 0 salvo-condute do a 4 submissio do amamte, ¢ canta o que hi de delicad, st P ‘oxcitinies aparecemnos senhores de una ienica de expresso surpreerulentemente des volvida, Atingidos pela repressio desencadeada contra os h se pelas cortes de lili, Aragio jim 4 sua arte, Os Provengais tornaram.se, desta mancira, por infeins da séeulo XU fos mestres de tokt & poesia medieval posterior (© Nlorescimento & propagagio de lrisme prove remo da vile ona plano her € nda hoje se diseutem, 0s potas wera, Por outro lao, 2 necedontes que a cegesalbigenses, 0s seus 0 valores ¢ jor disp ras regis, onde divul sal correspondem ao desenvolvi- carte, que concentra cm torno dos eis dos grandes magnates sen ris, O pobre adapta: se vida sedentiria e mundana, e eria novos interesses. As cangdes <épicas,relepilas para as populagdes ruts, sucee nas eortes 0 romance cores em prosa, «gre da Franga do Note irradia para toda a Europa. O faeto de ser rei ato dojo ‘de um paibico com capacidae creseente de leitura ou de atencio seguida, Originado pos- ise nos motives foleliricos dos Celtas da Gri-Bretanhe, Jos de romances dessa épact — o cielo bretio — corresponde 20 e a Tivola Redonda do Rei A ilo em prosa nesta o progressive deperec al eda literatura canta ¢ o desenvolvimento sivelmente nas Tendas actor Assde cedo um dos e ambiente © aos interesses da vida de corte, de ‘vinal, uma ide (O cielo novelistico bretio adaptouse, 30 lone do ‘eas rligiosas que orientam os seus herds para a busca do Santo Gi livin 0 ¢ Langarote, herbi ase po, adiversos gosios¢ i A, simbolo da Gra ‘e contrapuser Galas. ¢ Pereeval 40 HISTORIA DA LITERATURA PORTUGUESA ‘Outros temas ainda (mormente da Antiguidh lugares-conuns retirieos, pelo cleo leradode corte: Tria, Alexandre, Sli César) eon ‘Huiran no inte ce cortés, cujt procura s6 velo a esgotar-se no sécule XVIM, quando dew lugar a earicatara de Cervantes no Don Quijote le ka Manchu. Mas outras Fontes de insp aristocrtica, converget desenvolvimento das universidades ¢ » eonsequente surto da Pscol ‘com uns literatura sia mas dirigda a um vasto pablico, que usa lat 15-0u personificagdes de ideiasabstractas ¢ tem © seu prineipal monumemta no Roman dle ks Rose, que & em parte, wma sitita da nobreza, da corte, lc, transmitdos, tal como numnerosos na literatura, O unente das aleg ‘ede otras instiuigdes Jicvais, O progresso das cidades incentiva uma fiteraura sat sentada pelo Roman de Renard, espécie de parsdia de epopeta, pelos abtiaus (eon verso), pelt farsa, pelo lirismo burgués do Norte da Franga, que ‘conta cntte 0s seus cl 1 Halle ¢ Rutebeuf, Toda esta fiteratura de ambiente jacio butguesa ov poplar ests animada de espirito antinobitieguico © rica ¢ realist se que a civiizagio medieva [A htitia conhece muito code o triunfo do capitalismvo mereantil,¢ isso possi Ko de jo cammina em toda parte ao mesmo rite. ‘ovapate previnciada por Dante c, i desde 0 século XIV, ea, Boceaccio, polo pintor Giotto, Mas esta nova esti ainda assimilivel pelo re na cultura de tipo no. representada por P atura portugu ‘a ¢ as literaturas peninsulares 4 Fernie Lopes, deve fe galogo-portuguess) centro do dace Metin un literatura ibstiea de dase de wma litera de lingua portugues peninsular, Se hi ma 1. do resto da Peninsula, ila (até por afinidade linguist ea de alm. Pirenéts, Esta literatura peninsulir cm lingua portuguese galeyor portuguesa foi cultivaa na corte de Fernando He sobretudo na de Afonso X., © Sabio, reis de Ca {elie Lei, © seus steessores, Mas €a personalidad politica port dds seus res, os mostcitos de Santa Cruz e Aleobaga, que The assez Come vamos ver em porn putrinnio terri portupués medieval so produzidas no sutcede com gran parte das composigdes dos Cat de Sana Maria de Afonso X, 0 Sabin dd interesse para toa a Pe 2 culuca oveiti> ‘continwidade no, algumas das obeas que geralmente se incluem no Penns oncltos primitives, e com as Cant 1 so obas de portugueses sobre mate ia, caso da Cronica Geral de Espanta de 1344; outeas, veiculo, dentro da Peninsula, de correntes litrdrias transpirensaicas, e480 Jo do Graal, depois retraduzida para castelhano. Hi caso de um testo ‘ej nacionaidade se discute © que ¢ presto de wins cultura peninsular comur, podendo ilo em post dla radugi do c indierentemente t de Gat 1 ou eastethan primeira versio do Amadis 1. BROCA ~ DAS ORIGENS A FERNAO LOPES a © period aqui considerauo i fase da historia literaria portuguesa ula, portanto, trata-se le uma literatura que & precede © pre redla regional, dentro da Weeia A literatura por ‘como advento da dinasia de Avis, Inicia-se entdo a pros doutrinal portugues orig this: toriogcafia nacional com Berni Lopes, Mas até no sseuo XVI as telagies entre a ite ura a portuguesa serio Lio fatima, que alguns dos m tes portugueses, como Gil Vicente, Camies, Si de Miranda, D, Francisco Manuel de Molo, ifastram as dus aguas, proto fuéeia cm ambos os las da fron ‘sira € pottencein por isso a ambas a li dd Hingus portuguesa 1m st poxle consierar-se is notiveis escrito tras, No século XVL a palavra +Espank de Barros ¢ Cambes, servia para designar 0 ess weep tal convo a empregam, por exemple, Jo Conjunto peninsular et que os Portugueses se consideravann incluidos, & do terme mantém-se até ao século XVI WUBIBLIOGRAFIA Como introdugo & problemtica actual e fontes de histéria medioval ver dois ots vols. da sNouvolie Cligw, Pats: Le Xl Sidcle Européen, 1968, e L’Occidont aux XIV et XV sidctes, 1971 Fourquin, G.: Histdra Econdmica do Ocidento Medioval, trad. pot. Ecigbes 70, Lis 500, 1981, Ver sinda na col.U, A. Colin, Pats: Fosser, Robert: Histoie Sociale do Occ ent Atédival, 1970, Poul, Jacques: Histoire tntelloctuele de Occident Médiual, 973. Icom larga bibliograia. Bloch, Mare: Lo Société Féodale, col, «Evolution de rHumanitéy, 2 vots Lopez, Robert $.:A Revolucie Comercial da dade Média 960-1350, tad. por. Edi torial Presenga, Lisboa, 1980 (orginal inglts de 1976; ampla visio global; tem biliogra fia etica), Barbero, Abilio/Vigil, Marcelo: La formacién del feudatismo wn fa Peninsula Iodrica, Grijalbo, Barcelona, 1978 {exposigio actualized dos problemas rolativos a0 proceso social rico, inclvindo o errtérie portucalense, desde a romanizagie ao sée. XW), Ainda {quanto ao conjunto peninsular, Cortazar, J. A. Garcia de: La Epoca Medivval, 2,” vol dda Historia de Espana Alfaguata, 8.° ed, Madd, 1981, Curtis, Ernest Robert: La Litérature Européenne et te Moyen Age Latin, trad. fran cosa, Paris, 1956, da 2.* ed, alema de 1963; hd também trad. para castelbano, polo “Fondo de Cultura Eeondmican, México. (Obra capital para estudo da cultura iterdria made Yale do papel quo ela representa como transmissio da cultura greco-romana.) Le Gott, Jacques: Los Intolactuets au Moyon-Age, Souil, Paris, 1969: Para urn Novo Conceito de Wado Média ~ Tornpo, Trabalho & Cultura do Ocidento, e A civitzarao do Gckdonte Medioval, Le I, trad. port, Estampa, Lisboa, 1983-84. ‘adel, P. Ls troduction & fa vie littéaire du Moyen Age, Bordas, Paris, 1969. “4 HISTORIA DA LITERATURA PORTUGUESA Coelho, Antonio Borges: Portugal na Espanta Arabe, antologia, er 4 vols, de tex tos de origem drabe sobre a época da ocupacio mucuimana, Seara Nova, Lishoa, 1972-73-75; Comunas ou Concethos, 2.* od. corr, Camino, 1986. Mattozo, José: A Nobroza Mediova! Portupuesa, Estampa, Lisboa, 1981, reed. 1987; eligido e Cultura na idade Média Portuguesa, IN-CM, 1982: fdemtficacao de um Pats, ‘ensaio sobre as oxigens do Portugal (1096-1326), 2 vols., Estampo, Lisboa, 1985, 3," fed. 1988; Fragments de uma Composicdo Medioval, stampa, 1987. (0 papel da Recon: ‘quista, da monarquia e do processo de senhotializagio, em quo de certo modo se inte: ‘raria6 movimento concelhio eo progresso da cavalatia vila, na forage da nacior dade; feudalismo em Portugal.) Reoxposicdes. condensadas em O Essencial sobre 0 Formacto da Wacionalidado © O Essencia sobre a Cultura Medieval Portuguesa, ambos pela IN-CM, 1985, e om capitulos de A Escrta da Histova, Estampa, 1988, Condigio fundamental para 0 stud iterério ¢ a fixagio e correcta intexpretacho dos textos mediovais. Vor alguns trabalhos de entica geral ou espetica em Critique Tex: rualle Portugaise (Actes du Colloque do Paris, de 20 3 24 de Outubro de 1983}, ed. do Fund. C. Gulbenkian, Contre Culture! Portugais, Pars, 1986. Capitulo II A POESIA DOS CANCIONEIROS Os Cancioneiros primitivos ‘Quase texas a literatura se iniciam por obras em verso, Except yovas mac nfidades resultaes da ropeus a partic do século XVI, a poesia surge iis eed do que « prosa litera, Nao 6 dificil explicar este facto: nas eiviizagaes do pissado, a mais corrente forma de comunicagio e de transmissio da obra litera. no escrita, mas oral, Antes de se fixarem no pergaminho, as histrias, as na memoria dos ouvintes; ¢ havi artistas que se w bronze, na pela, no papiro, no papel oa ise jurdicos gravavam sneatregavam de as divulgar, os ativas, € até os e6digos mo acdos ¢ rapsodos entre 0s Gregos, 0s bards reaxinicos medi fala que facilte a meméri \duragao das si iimensidade silibicy siabisino, isto 6, na regutariade q ds Hit sas medieval), quer sins dest itera oral so ainda hoje os provérhis que, como fac ‘obeocem a rites ou recoreénctas fonicas que faciita hieas medievais apoiamse, 10s jograis, embora, por via eleriea, apreendessem certos ten jcos de tradigio greco-n também pelos sexrcis nobres de p por vezes, instrumentistas) ntre os Cotas, jogs entre os povos is. O verso ¢, nical tre outtas coisas, una Tors de ritwar cemesqu sc-latino), quer em esquemas de contraste de wes (eas da nero de slabas reforgada pela rin nouteas eomponentes fonétieas. Vest ‘quer esse ritmo se ba ras de contraste quanto as (C480 JO VOI 2 poesia yermnica), quer 109 isos mente se veri, ago, AS literatues rom o i notimos, na literatura oral, eujos principais agentes € lugares-comans . sobrctue desde a sua assimilago pelos trovadores 108 recursos ¢ também, 6 ceorteses fe, ma Penns Os mais gos textos literdrios em Lingua portuguesa so composigdes em verso coligidas em Cancioneiros de fins do séeulo XH ¢ do século XIV, que retinem textos desde fins do século XII. Mas devemos supor muito 46 HISTORIA DA LITERATURA PORTUGUES terior a tal época 0 culto da wlo por estes textos eseritos. {\ literatura oral, com efeito, $6 se fixa por eserito em época tardia da sua ‘evolugdo, quando as consdigdes ambientes jv divergem muito daquelas que Ihe der poesia portuguesa nasceu m1 origem, Portanto seria errado pensar qu ancionel dias, de textos que de i 1; estes niio passam de colecgbes, mais ou menos tar jo circulariam emt copay mais restritas, conservada pelos Cancioneiros supoe {1 que nos levam a épocas muito mais, n quie se compuseram os mais antigos pocmas dos ios, como vinos, de fins do séeulo XII, Adiante aludin ios s carjas (kharayjat), que parecem revelar a existéncia, no seio das popu lagdes submetidas ao dominio mugulmano, de uma poesia popular muito pro- ‘Uma parte, pelo menos, uum longo passado © uma trad Cancioneiros, vavelmente precursor daquelt que (ais cancioneiros conservaram, Conhecem-se trés Cancioneiros ou coles als estre mente apa rentadas entre si, le poems de autores diversos em Ii evo portugues: O mais antigo, 0 Cancioneiro da Ajuda, foi provavelmente compilado ou copindo na corte de Afonso X, o Sabio, em fins do século XIIL, Os outros, 6 Cancioneiro da Biblioteca Nacional (antigo Colocei-Brancutti) e o Can. cioneiro da Vaticana (com uma variante recente ta), So c6pias, izadas em Itilia no século XVI, a partir de uma compitagto que data wwelmente do século XIV Destes, o Cancioneiro da Ajuda & © menos ev mie descob npleto, porque apenas “abrange composigoes anteriores & morte de Afonso X, excluindo, por exemplo, ‘a vasta produgao de D. Dinis; ¢ porque o seu coleccionador deixou de fora os géneros mais vulgares, isto 6, as cantigas de amigo e as de Jiante falaremos. Mas t manuscrito pertencer & prépria época da maioria dos poctas se n documento valioso, pela maldizes deo seu de que n 0 interesse espes colabora. dores, © €u pelas ilum tenham sido deixados em branco 0s es centre outros, ‘le inacabamento. ‘Os cancioneiros da Vaticana e da Biblioteca Nacional, compitados depois ‘da morte de Afonso X, abaream um eypago de tempo maior, isto ypordineos de D, Afonso HII fia, pela decoragio ¢ sobretudo, no cardcter cantadlo ¢ inste ras, que testemun igos destinados a not Keriores, mas ainda os con fangem, por outro tudo, todos. 1s géneros de composigdes, € nito s6 as cantigas de amor. Destes dois, 0 Cancioneiro da Biblioteca Nacional & 0 mais completo, pois inelui quase todo temporfineos de D. Dinis de s 1 #P0CA ~ DAS ORIG A FERNAO Lone a rcioneiro da Vavicana e mito outro. O Cancio- neiro da Ajuda contém 64 poesias nao transcritas NOs OULFOS dois. Um cata jogo do colecionador quinhentista italiano, Angelo Colocci, quem se deve scan do Canchoneiro da Biblioteca Nacioni, revea-nos gue qual- {wer dos cancionciros se encona ho} ‘material recothido no Ca mutilado, E bem possivel que esteja thos em presenga de sucessivas e6pias de uma € a mesma colecgio, que se Iria talver encorpando poueo a poco; ea fase miais importante da compila deve ter sido a de certo «livro das cantigas» mencionado no testamento oconde de Barcelos, D. Pedro, filho de D. Dinis (1350). 0 conjunto abarca 1679 poesias de 153 autores identificados, além de alguns andnimos. © mais antigo dos trovadores conhecidos «los Cancioncitos & Joao res de F pertencente, portanto, & geragiio de Sancho I (a quem che; autor tiga, afinal de Afonso X). Isto situa 0 inicio d {ura eserita portuguesa conhecida cerca de comegos do século XI vel relegar para depois dos dois trovadores mencionados a diseut Camiga de Garvaia (manto escarlate) de Paio Soares de Taveirds, que 0s primeiros estudiosos datayam de entre 1189 ¢ 1198, Rodrigues L nascido cerea de 1140, dois anos apés a batalha de Ourique, Tavani aceitam 1196 © outros 1213 como data da mais antiga cantiga (de rnio) de Soares de Paiva: Ora fizz ost’ 0 senhor de Navarra. O trovador mais recente € 9 mencionado conde de Barcelos, falecido em 1 a te inseridos na eolecgdo trovadoresc ores pentencem a diversas regides da Pei autores quatrocentistas tardian Os viveram ¢ poe! astela: tal € 0 Monso X, 0 Sabio, ¢ dos poetas da sua corte literdria, muitos deles porta te importante dos Cancioneiros da um na corte do rei de Lei & ueses © galegos, que ocupam una pi Vaticuna ¢ da Biblioteca Nacional. ‘yee mesmo a maior parte dos poetas dos Cancioneiros, no ambiente da corte 1D. Afonso IIL, de D. Dinis, ou da roda de seu filho, D. Pedro, conde Barcelos, mas também em cortes Senhoriais walegas ¢ na corte Leones castelhana, com oapogeu em Afonso X, 0 Sabio (1252-1284), O mais antigo jogral conheciddo desta corte é referenciado em 1136, sob Afonso VII, e tem ida ia nacional, mas sim de poesia peninsular em lingua galego-portugues se oeurresse no Ocidente ibérico uma s6 literatura 10% devemos imaginar todos, nem tal ‘omome de Palha, Na rei ‘os Cancioneitos mio constituem coleegoes ok poe Tudo se passa com rica, mas polidialectal, consoante os géneros, como acontecera com a lite issiea, Devemos acrescentar aos Cancioneitos profanos (ou, ura grega cl 48 LUSTORIA Dis LITERATURA PORTUGUESA melhor dizendo, as trés verses do Cancioneiro profano) as Cantigas de, Maria, coligidas na corte de Afonso X autoria deste rei para cima de quatrocentas, com refrio ¢ acompanhamentos musicais conh cidos, alternando séries de poesias narrativas sobre milagres da Virgem com (eantigas de foor) que Ihe sao também dedica Os gi lo: ros dos Cancioneiros Notimos que virios géneros de poesia estio representados nos Cancio- neiros da Vaticana ¢ da Biblioteca Nacional, Este ditimo inelui também wm tratado poético truncado, do século XIV (perdeu-se todo o texto anterior to capitulo IV da 3.4 Parte), relativamente tardio, e com que pretende classificar aqueles géneros e dar as suas regras Distingue este tratado 8s géneros: as cuntigas de amigo, as camigas de amor ¢ as cantigas de escarnio ¢ maldizer. ‘A ciferenga entre as cantigas de amor € ay de amigo consiste, segundo 66 mesmo tratado, em que nesias se supde que faa uma mulher, ao passe raquelas o trovador fala em seu proprio nome. As cantigas de amigo . portanto, quanto ao tema, cantigas de mulher, e © nome por que sie onhecidis designa 0 set. objecto, 0 amigo ou amado geralmente referido Jogo no primeito verso. Nas poesias dialogadas, 0 eritério de classificagiio &, segundo a mest le: 0 de elas ou o de eles. ta influen senti mental don 9, ce assumto prime ironicamente, sugerindo uma ‘gue parece fazer, ou simplesmente se abstém de nomear se 0 poeta apoda ou acusa directa e nomeadamente, no apa mi sofrido 1s poets palicianos do século XIV. Mas estes 26 uma longa evolugao, partindo de origens diferentes, antes que viessem a ali nnhar kido a kado na poesia da corte, como modalidades diversas de una mesma arte. A historia da cantiga de amor € diferente da historia da cantiga de amigo, cembora com elt venha converg IBIAS cantigas de amigo Se atendermos sobretudo aos exemplos mais tipicos, os cantares de am sm dos de amor unicamente por aparec mas também por outras diferengas de forma ¢ intengao. enn ali «clase e aquit | ROCA — DAS ORIGENS A FERWAO LOPES ” Corea de uma quarentena de tais camtigas, nomeadamente designadas como «paralelisticus», apresenta uma estratara ritmi redutivel a um muito simples esquema, A unidade ritmica no rsificatéria prs- estrole, . oul, mais precisamente, © par de disticos, dentro do qual ambos os disticos querer 86, nas palavras dat pria mas o par de estrof dizer o mesmo, diferindo 86, ow quase que sio de vogal t6niea a num dos disticos de cada par, ¢ Fou & no outros o Ultimo verso de e% a estrofe & 0 primeiro verso da estrofe correspondente no par seguinte. Ca n seguida de retrio, strofe v4 A-este sistem deu-se 0 nome de paralelismo. Medi cconstruir ui de seis estrofes e dezoito versos composi m que apenas inco versos sema ente diferentes (ineluindo © refrao), come se v pelo seguinte esquema: verso A verso B estrofe | f + estrofe 3 verso C verso C vero {verso D estrofe 5 3° par verso C* verso DY reltio L estrote 6 30 HISTORIA DA LITERATURA PORTUGUESA Um exemplo permitiré compreender methor este esquema’ Vayamos ieman q ribas do hago alas aves meu amigo, W ew andar vi nina, vayamos folgar nas ribs do lago hu ew vi andar a la aves meu amigo, ilar vi ferir Nas ribas do lago Ina eu [Nay ribas do ago hu ew vi andar sou arco ni mo a Lass aves trae Seu arco na mio as aves ferir falas que cantavan leixilas guar Fernanda Pupion xisténcia de um coro. A disposigio das estrotes 20s pares ¢ a alterndncia das mesmas rimas ao longo de tou xam entrever que s¢ alternavam dois eantores ou dois grupos de cantores. A repetigtn, & cabega de eat E talver 0 vestigio de um primitive proceso de composicho inn que obi 1 qual devia acl quadras ao desafio). O facto, enfim, de, em virtude deste sistema de repeti nos que ela O refrain sugere “io dei- nova estrofe, do verso final dum estroFe a repetir o tiltimo verso do outro, jga um dos improvisadores inca subsiste mas mar sequéncin (leix pren, processo qu ccoes, a Tetra se reduzir a um nti a ao canto e ao ritmo da danga, © que ativamente secundario, 10 pequeno de versos most se subordin litersvia desempenhava, dentro deste conjunto, um papel 1 AME hii poueo, ‘gas do jogral galego Martin Co onhecida a notagio musical para seis (das sete) canti + mas, como dissemos, as iluminuras * EPOCA ~ DAS ORIGENS A FERNAO LOPES SI ancioneiro da Ajuda representam grupos instrumentais, que incluem viola arco, guitarra, saltério, sonalhas, pandeiro, etc., além de cantores ¢ de bai nobre trovador sentado com a letra em punho. monologal (supde um destinatiio, nas, dirigidos por Fe-se que esta poesia & dram a sirmana», € poderia ser gesticularment icas comtan-se mondlogos de amor, mas também de esedrnio ou maldizer os Ievam=nos a uma fase da historia da poe: 1m esbogo, uma letra, para musicar, sem De resto, 0 proprio nome de can inte de trovar apensa a0 Cancio neiro dia Biblioteca Nacional por varias vezes se refere a problemas de rela. sionagdo da letra com 0 som. A estrutura ritmica que estudémos na sua forma mais corret variantes ou complicagdes. De facto, na sua maior part oferecem uma estrutura mais complexa. Assim: em lugar de gem estrofes, ou coplus, de trés, quatro ou 1 frico (ow seja, a repeti¢ao literal entre estrofes pareadas, com exeepeiio das. ras dla rima, ou pouco mais) dé lugar a um pareamento ou emparelha- ‘egunda estrofe de cada par aper a idei sia em que o po autonomia em relagao a fe admite de amigo sticos, Sur clismo 08; © para is lasso, em que Coplas; € 0 proprio refrao deixa de aparecer no final de cada anclo-se no texto, ora (0 que & mais importante) adii- woes, Com este desenvolvimento da inventividade dis a, chega-se a cuntiga de meest ta de arte postica como sendo a desprovida de reirio, que & gas, chamadas de parulelismo puro, to. O seu provavel destino coreogritico permitiria classified-las como bait uistialmente reservada a cantigas, mesmo de paralelismo imperfeito, qu dem ao acto de se dangar enquanto so eantads Accomp esquiema paralelistico correspond, em geral uma wares de amigo pode supor-se, com efeito de ambi i elaboragaio cortes o tratado trecent forma elementar do lelismo, Noe Into, NumTerOsAs respeitam sensivelmente 0 esqueta atts dese ou builadas, designas mais de um estra ios assimilado por wi ‘Un grupo numeroso de cantigas diz respite vid que vai 8 Fonte, onde se no perso: ‘que vai lavar principal a mo HISTORIA DA LITERATURA PORTUGUESA ‘os eabelos; que na romaria espera o amigo, ou ofe sralmente uma sia a0 rio a roup e promessas 105 cvs elementos paisagisticns, nite simples padronizados, se cartegam do si sob a forma quer mito significaive) de breve nar de velhos ritos paios, e calocacos perante uma ox nis personagen de distogo, quer de mondlogo, quer até (caso Eaton rativa, como se fosse um fragmento de Um eFimance>: a rapariga que vai ao Fi Ta ceaisis, 0 60m se de um géeto sinerétice pr tivo em que se confundem 0 lirica, 0 dramatico © 0 a cortesponde iis simples, construidas dentro do chamado «parak as cantigas de esteutura feitos, Ha uma referencia da Arte de Trovara la rue, de ea gas de viluas (ils), segundo Tetura de ei aco das comunidades rus ant com concelhos afralados esta (Outro grupo de canta levis para afiaro sizgo.em casa, a discutir com mora, A protagonist de experincia; sabe jogar 2s escondidas com o amor, er alo que ‘claborada concepgio vilaos(vilos). inte fm processo ida. iemes domésticns, Deixa-nos vera most wa pedi autorizagion ts origens dam ito mis desembaragada de lingua e sep poiler de sedugio e mangja-0; canhece a arte de provocar 0 itn requenemente € vita, Os autores destay eantigas reveam um ido comportamentofeminino, edeixaram no conjunte das sas obras como que um romance ldc amor, que vai desde a alvorada do primeiro encontro até & consumagio. Este € um dos miotivos para apreciarmos incioncitos) come se const poesias (¢ outras dos 1 séries honiogéneas, om subséries, de acordo com os autores © os xenetOs reconheeiveis {Un terceiro estrato situa-se no ambiente da corte, O seu fema € o amor corks (que coma o trovador fidalgo 0 imagit cestudaremos a propasito das cantizas de amor), t a sentido pelo lado da mulher, fear apresentando-a como muito consciente de scr fremsa, lougia on vetida, soja para se juctar daquelas que se finam de saudades por ele, Nem sempre de tipo tradicional eas de tipo corte t do pro nente popola ‘cesso apenas se nos revela através de imitagdes ou reelaboragdes palacianas, mas & mnie phustvel si 2 pose tranyas mioga, ¢ no ambicnte a vila ou do campo te evista do pretendente com I determinar exaetamente front rho ambiente de eorte motives como 6 do rei que man ‘Tal esteatifie respondentes a meios sociais ou rida por factores varios, como influcs 6 que vemos assinadas por nomes da alta nobreza antemente popular © vazadas go da poesia dos Cancioneiros, em diversas eamadas cor- diferentes, & naturalmente interfe= Js reciprocas ¢ contactos dos diver sos meios sociais. Ass cantig fo, de ambiente Th ws de tipo prim 1. EPOCA ~ DAS ORIGENS A FERNAO LOPES % rho paralelismo puro — caso de mt nerosas compo (Esta paree a, depois dle passada uma fase em 4 Ses de D. Dinis, gr em moda na sua sortes um gosto tam e fazem variar jeciador da poes ler sido reposts &o mais acentuadamente provengalizante.) ¢ prevaleceu ni autores in cesqemas de origem rural jé talve reclaborada; assim se explicaria que veriantes das mesmas cantigas aparegam subseritas por mais de um nome, como sucede com as du; to proximas variantes da famova bailada das cael pelo jogral Joao Zor. A escola trovador antiga ogencidade t com refrio). existéneia de uma heranga tr nos eantares dle pelo pocta culto Airas Nunes, e outr wsde migo, de se «formal (quase todas Jicional hispaniea preserva figo parece atestada jd no séeulo XI pela is carjas, designa- de autoria € lingua arabes ou entre meaclos do século XI € 0 final do século XI, Estas 10 constituidas 2 ates de certas composi almente por um ou dois versos em Hingust mog- dearabismos, falada, Cristi sob o dominio drabe), conquanto muaxafi (muwaxahat), ou corpo da composiga rabe (isto é, em | ‘como vimos, pela parte da popula seja arabe ou hebr © consistem precisamente em fragmentos de bbram muito de perto os ntigas de mulher que lem- icteres das de amigo. Os poetas sem ras certamente de um folelore que deixou outros vest eas periléicas de influén Aleman. igios, sobretudo a trovadoresea (Ocidente hispinico, © poetas, sucessi 1 Epocas © meios sociais adapta a poesia folelirica. As for n grasso modo com os temas rurais © primitivoss © as mais, ram e varia nas versificatdrias mais sim= ples coincid complexas incorporam tradigies € reclaboragbes de ret6rica e poética cores Tetradas. A cantiga mento do bailado € do lisagées agricolas em que a mulher goza da maior importaneia social; © & assim que, no apenas na Pen minina nasceu na comunidde rural, como comple: into colectivo dos ritos primaveris, préprios das civi- mas em poves tio dis tuntes como © chings, se verificam vestigios, quer do p mo, qui 4 a outros meios, as suas formas variaram apt se, ao mesmo tempo que se vam a novos temas. st HISTORIA DA LITERATURA PORTUGUESA O prim principal atr muito dif ivismo de muitas cantigas de amigo constitui precisamente a sua ‘¢4o para muitos leitores de hoje, Algo se evidk las de |. permitindo entrever cer sido recaleadas por aquisi: tas formas de sensibilidade, que nem por te ses posteriores deixaram de subsistir na psicologia moderna, sempre pro tus a despertar. Hii, por exemplo, em alguns eantares de amigo uma intimidade afectiva com a natureza que & muito diferente do gosto cenogrifieo da pair gem (como quadro ou refTexo dos sentimentos huamanos), € que deve antes cantil. Di ta mentalidadle pré-mere mismo tipico de c -se-ia existir uma afinidade magica insformar-se por uma forget intern it, a flores da Primavera ou Ver mv ainda de tantas associagbes magi fonte ¢ do rio, as wz da alva, se out oondas do ads olhos, Todas e 1s stats designagdes evocavam tantas eas, correspondénci ‘entre o impulse amoroso ¢ 0 florescer das dtvores, 0 co nportamento animal, os movimen- tos das coisas naturais, que o esquema repetitive era como o imperceptivel cc subtil desenvolvimento de um tema através de modulagdes que sugerem ‘os seus inesgotiveis nexos com a vida, Assim, na tio simples eantiga de Fernando Esquio com que ficou atrés exemplificado © paralelismo tipico, as que, por sigestao de uma delas, entrevemos dispos- 1m Lago — s6 gradativamente se apaga perante 120 de arco em punho: die-se-ia mi nova Tenta gra dagiio, « nota de crueza dissipa-se no amigo, pois o seu Ferino areo poupa ira termura do seu trato amoroso perante wwem di tas adorn rapati na margem de imagem das aves feridas pelo . ineautas, substituir t pegas de caca. Mas, saves canoras ¢ isso fa pes fa doce fala da moga, depois de sentirmas a sua prévia e eruenta desenvol tura de eagador. Nao poderia traduzir-se melhor o enleio da donzela frente masculo e, todavia, meigo namorado, Ora imagens como estas de inaria extensiva ao amor eram simbolos tradicionais, imediat reconhecidos e, pela sua propria obliquidade de alusdio, capazes de evoear sudo muito diversas vivencias dos camlores-dangarinos © seu uisicais subsisten em conglom piiblico. E observe 195 que, a julgar pelos poucos textos tes, o canto desta Irie acusa a influéneia da antffona ou do responsério ecle sidsticos, — os quais por seu turno tiver antiquissimos. Nada disto (nem os processos formais repetitives, nem o erotismo fe ny urna das origens em rites rurais nino como que ritwalizado em simbolos) se pode atribuir apenas a veia popular 1 £P0CA ~ DAS ORIGE NNSA FERNAO LOPES 5s galaico-portuguesa, Alguns fs ico, nomea ico em palavras-chave como fontana, fougana, mn suspeitar neste género una origem que vem da proto-historia, slego-portugués. As curjas referidas fazem supor uma ntemente antiga e pujante para ser comum, lo XI pelo menos, quer a uma onde pouco se fez sentir a influéncia érabe. esmo possivel, como oportunamente observou Rodrigues Lapa, e ver um fundo tradiciona engiio do m intervox te., pet talvez mogarabe, do C tradigdo ron ico de poesia rural baseado em disticos peralelisticos seguiddos de refrio, do qual proviriam, quer a bailia galaico “portuguesa, quer ico, quer tram: Dotto italiano. Sobre esta comum tradigdo se teria elaborado a poesia folet6- rica galego- portugues na vida local, como atestam certos tragos regionais, (Tinheiro, avelan ortenhas). Fim toda a Cristandade pritica de ritos e festas pay a liturgia cristal apresent camticos erdticos de mulheres dentro dos préprios a qual teria acabado por diferenciar-se e enraizar-se fos de Nora paisagem fisica edieval, viu-se a gre obrigada a reprimir a ‘ou menos ingénua sob s, cuja persisténci ‘a com tim dos seus aspectos mais pertinazes os. nplos, por acasiao de ton 1s Mains as ou das festas pascais que cristianizaram as festas gentilicas sob a forma de jibilo da Ressurreigao, Ha, em tinguas, istelhana e cata -sigios antigos de em cantigas de mulher. O que singulariza naga a estética do para o lirismo galaico-portugués mais tipico é a sua cont to reekaborados que nos chegaran ivos ou deseritivos; avul: tam poucos mas densos simbolos de participagii imagindria fe, por um tas coisas, trais ¢, por outro kido, uma coita feminina sem indivi- som ambiente doméstico, quase toda personificada nos «meus olhos aalucirem numa situagio «a — na presenga ou auséncia do amigo, que todo cle se reduz também & carga amorosa recortado por repetighes si ¢como as da rina Ja pausa de pontuagao, A imprecis le sinal contrario, Cada verso vale 1s € modulantes, reevovado por outras final ¢ do refrao, a intervalos fixos), delim dos sindnimos e do uso dos tempos bas, nos lugares das rimas altermantes, Frouxa a ja lassa 56 [HISTORIA DA LITERATURA PORTUGUESA tpocir=seas obs a resto wos ss \s € monétonas conjungdes sustentam. Dificilm naginar um tipo de poesia mais préximo da encantagao mi mnte encontrarem-se, dentro de un nplicidade estilistica, algumas das melhores poesias que jamais se fizeram it portuguesa. Contan am por «Sedia- et na ermida de Sa Simed» (Meendinho), «Levad amig es frias» (Nuno Fernindez Torneo!) ¢ «Leva ssquema repetitive estrutu tages emocionais, cujas modulagdes de ti ligagio 16 a, que pout Se 08 cantares de amigo de tipo prim remota da histori tores modernos, os de tipo mais complex, poesia, podem interessar sob estes aspectos alguns lei isica, Mas o mais i eres mies fis est correspon des burguiesa € n também de ter interesse, embora ¥e entre eats as que print erso, Nao & uma stigest Ihhores casos, eXtra0 je moxlerna) a que fica da sua lei conseguem dar ide os diversos estados da mulher n no decor al. A sauckide, o ciime, 0 ressentimento, os dades, as desconfiangas, a reivindicagdo da liberdade de amar perant vena cexprimem-se de modo muito vivo; eao lado da diver- ule de situagoes & de notar a dos tipos psicol6gicos simulados: as m 1m poderoso €1 muos, pli -cos dio fundo harménico as modulagdes do imbigu de repre’ nor ou sentimento, cujas hipér- Jes, virtualmente mitol6gicas pela sua audicia, nade talrica ¢ poesia moderna. Nestas composi- ravilhas de que a poesia, ainda um pouco m-nos, nan cou fruigdes esté- mentadas; ora comp, sto ingénuas, ora exper sivas © dade, ora astutas ¢ caleulistas; 0 ies, oF suscepti ‘a capaes as pessoas ou as coisas revel Fundas aspiragd 's possibilidades tenicas modernas tendem at oeultar. Ja ‘05 amigos. Os trovadores dei mental, co nce precursor da Menina ¢ Moga. F de notar, por outro sobriedade de expressiio verbal, tieas 4 temente, nos encontramos, vuma tradi in a combinar habitual de origem cortés oceitiinic ncia ampla da vida sent es cultas de yginar um rom com estas poesias, perante elabor ntro do dura que >: 0 prdprio D. Dinis, e anda Péro da Ponte, entre outros. che vente certos recursos paralelsticas com recursos F de reso impossivel reconstitur 9 longo pro- cesso de interacgio di is rurais com a cultura do clero e d BBA influé nobreza, Mas no hi di Ss pequens obras-prinits so const Fo de uma arte paralelistica de trovar assente numa cultura areuica com ponto de vista da mulher e los interesses femininos, com uma 1 oitocentista Rosalia de Castro. is gale origens pay ida de que cia occitanica € cantigas de amor (Outro cami miga de amor no temos de seguir se quisermos estudar, nas suas origens, alguns tragos regi mais. ‘Quer’ ew en mania de proengal fazer agora du cantar ¢ costume classificar as cantigas de amigo, segundo os seus ten nis 108 justificadament baifadas ou baitias, de romaria, marinh ow barearolas, & qu escreve 0 poeta D. Dinis, declarando 0 que provavelmente todos 0s teva mie, de amiga ¢ amigas (As vezes designadas como ores galeo-porty apontar € a vengais er as onde hii referéncia a venatérias, de amiga irmanas), de despedida, ete, O que, res grande quantidade (cerca de 60) das can romarias que se poxlem quase todas localizar na Galiza ou no Minho; a originalidade e poderiam acrescentar cantigas de fonte, de ham presente no esp ito: a ideka de que os Pro- mente, 0 nos modelos a seguir. Com eteito, foi mas eortes feu uanente provengais, como costuana dizer-se) que loneseet a primeira grande escola da poesia romanica, elaborada tomitica galaico-portuguesa destas e ainda de cetea de uma vintena de outras «Tinga (Langue dec) que seria mais tarde ectipsada pelo Francés do, Noxte (Lam respeitantes a um ambiente maritimo (mar, ondas, ria, bareas partindo ow sea masque enti exprinia ua iii msi, ipa nj ‘chegando); o caricter geralmente muito castigo das ball . porventura repre- an ‘uFOpa, Se tas rio (cerca de meio cento de espécimes), crcial wediersaniea. Ainda hoje se investi e se discute qua fossem ws as que permitiram una to de que wins parte da cultura 1 us trovadores por intermédio da literatura eclesistie 0 pia evolugio de Trisme provengal, Nio es do estrato hist6rico mais antigo porque mais difwndide na wundo a niio em todo 0 mais velho 2, pore 38 HISTORIA DA LITERATURA PORTUGUESA formes winds om latin anyorosa espirtualizada entteelétigos ¢ fre os jd impregnae 1s, poesia dos goliardos, estudantes 1 1 poesia, 0 drama hitiegico com que participagio do povo na celebragio do enlto e, por outeo I ‘durante toda vis); e € nina mais evidente que entre © «6 clero fore folelore rural, de origens mais ang Made Média, um teem Hteratura aristoeritiea de corte nfensa influna reetproca a eujos progressos «lirica profana medieval e 0s rropos, desenvol¥vimentos musicals eclepois também vers: Tieados (estrficos ¢ rimados) que desde 0s séeulos VIIT © 1X se inseriran at i sa inovagio, mais tarde condenada no séeulo XV Le que tanta nto ka poesia tensdéneia do clero romano do culo, tend evidente desde «aulopeio da canto ltitgieo no século TV até ao incr inh) e anifonal (dois sem © patalelisino galaieo-portugues jf apontimos, A inovacio {dos topos fort als prevedida pela da sequéncéa (textwalmente pro sequentia, ue, por a palvra prosa), adapagio de textos a0 m lavra Afetu, que se sustenta ‘mento da salmodia tesponsarial(Soista€ coro, como na fabrevianuta, refer pres es, jubitas) da vo 0s Proven sem 05 quis se nio compreenderiam isa ¢neste foram slepois 08 mestees¢ iniciadores da poesia enropeia moderna etrarea, Os jogtais occiinivas Tevara a sua arte apurassina a todas as cortes da Europa, Diversas notéeias documen tan as suas estadias na Peninsula Ibérica, ea corte de Afonso X, 0 Sabio, for am dos refliios das trovadores disperses pela matanga dos Albigenses. A moda de trovar i mancira ivsen pois, nas cortes peninsulas, incluindo a corte portuguesa, one acho I, Havia de reso entre as corte ‘© 6 novo reino do Ocidente da Peninsilarelagdes estecitas que fi transpirenaica: 0 conde D. Henrique trouxe eomsigo n m conbecidas as influgncias do elero, nomeadamente através de Cluny © Cister, que se relacionam com as origens franc alopgo da escrta earolingia em substi seta visigdtica; muitos portugueses freque aoa Santa Maria de Rocamador, no Sul da Pranga, e muitos trovadores occitinieos vieram peregrinar a sae Compostela e diversas ¥ 0 a provocada pelas Ina eivis «lo tempo de D. Afonso I, levaram senhores pon destaeando-se entre clas, pels inflabncias liters bem conheeidas que trouxe, 3 que acompanhow 0a st juventude o futuro Afonso IIL, Os casamentos de D. Afonso Henriques, D. Sancho 1 e D. Afonso IIL com princesas eriadas em cortes culty politicamente das seforn ‘© que impuseram ritual de Roma e avaima petest 11 EPOCA ~ DAS ORIGENS A ” 10 (anda com & Cataluaha) ¢ Bolonha, 'No entanto 0 encontro mais prod so dleve tor se presluzido na corte easel com a Prov devemt também ter failitado a influéncia ove joglaria galaica com o ovar occ Quando a poesia provenal, através dos seus trovadores ¢ jogais ou dos sous imitadores peninsulares, chegou & Peninsula, existia jé aqui ( dific uvidar) uma escola local de poesia jogralesca, provavelmente relacionada as mogirabes, aquela mesma que recolheu, saptou ¢ divulgou jas ¢ nas cortes a poesia folelirica a que pertencem as cantigas de amigo, Jo aquém ¢ akém do Douro, eraa lingua materna dos jograis is. A Galiza além-Douro escape tribusram para o seu desenvolvimento cultural precoce diversos ‘os quais as peregrinagies « Santiago de Compostela, em que participavam, romeiros de toda a Europa, O mais antigo jogral galego de que hi not (Palha) pertenceu a corte de Afonso VI, av6 do primeiro rei de Portugal. 1s de amor galego-portuguesas uma avassaladora 1. A propria Lingua dos poetay ficou embutida de pro~ an, senso (emt ver. da palavra im com as & influéncia proven vengalismos, como s 1 © actual siso); cor (em ver. de coragon); prez (em vex de prego); gréu .eso, donde pro: ver de grave, com 0 sentido de pesado, dificil), Com estas © mu ‘utras palavras ¢ com diversas férmulas também de origem provengal, for jatam os poetas galego-portugueses um formulirio de expressbes que se dis tingue dh ‘los eantares de amigo de inspiragao folel6rica, embor ‘udm nestes, ¢ logo na fase mais vestigios da inf ntiga que © Cancior menta, cia estrangeira mos Provengais 0 idk Ido amor cortés, muito rudimentar nas margens dos rios ou 2 beira das fontes nos deixam entrever, Nao se trata agora de uma jo, sem correspondén- tum objecto inatingtvel, de um estado de tens para permanecer, a0 fim do desejo, Manter este estado de tensio parece sero ideal do verdadeiro amador ¢ do verdadeiro poeta, como se @ movesse ‘oamor do amor, mais do que o amor a uma mulher. E dirigem 28, Mas o proprio Amor pe dois, mas de uma aspit nao s6.a est 0 poets as suas imploragoes, queixas ou gra sonificado, figura de retérica muito comum entre os troy © por eles transmitida aos galego-portugueses. O Amor 1 L, com as suas cortes, os seus Foros ¢ leis. dores provengais 1é, numa Vila oo HISTORIA DA LITERATURA PORTUGUESA © wovador imagi atitude su le soy votre hone I 1m feudal um poeta portugues. Todo um cddi mplo, devia gi ‘adam como um suserano a quem «servia» numa, ssa de vass Lo, confiando 0 seu destino ao «bon sen» da «senhor» xe», diz em lingua francesa e em termos de vassala. » de obrigagdes preceituava ‘© «servigow do amador, que, por ex irdar segredo sobre a identidade da dama, coibindo tod a expansio publica a paixio (0 autor: rminio, ou teristicos. Pelo contririo, a epopeit, de frase mais tosea, mas também mais, directa, distingt 1c pelo gosto do pormenor, pelo re mo testemmunhal dos, mas, pelo recurso constante |. pela vivera e BOs principais textos de historiografia medieval port Nai estio ainda completamente esclarecidas as origens da historiogeatia portuguesa medieval, que atingira no século XV um extraor ig brio. S6 recentemente este ca po de investigagiio comecou a ser desbravado. 1.2 €POCA ~ DAS ORIGENS 4 FERNAO LOPES » ‘Ao passo que na monarquia dsture-leonesa ¢ depois eastelhana surg. ‘culo IX, uma historiogeafia latina inspirada em Santo Isidoro e orde: ndo a concepgao ca unidade e permanéneia de um povo hispartico, mais tardia anais.fragmentirios em Portugal s6 se conhecem em (segundo designagiio do seu principal estudioso, Pierre David, Annales Por w ses, 987-1079, continyidos até 1111 © ainda até 1168) que si meros re} mentos importantes ocorridos na regio por Iuguesa entre Minho © 0 Mondego, Na passagem para o século XII 0 tei: stos latinos € de noticias ana- tos de aconte: Crénica vou at ‘pana em lingua portuguesa, da qual s6 se cons: uci. (0 autor desta crénica inspira-se na Cronica General de Espa de Afonso X, 0 Sabio, mas nio se Himita a traduzi-la © adapté-la, pois pro~ longs a su ao reinado de D. Afonso IV ( X), c4m parte w ia Cronica General, como a Crinica do Mouro Rasis, traduzida para portugues, © outras ainda. Entre a Cronies General de Monso X ea Cronica Geral de 1344 interpoe-se uma Cronica Geral Galego-Portuguesa, correntemente considerada como uma simples neto de Afonso tmidugdo da erdnica alfonsina, mas que parece derivar, em parte, de outras origens, Hé grandes afinidades entre a Cronica de 1344 © 0 Livro das Linhagens do Conde D. Pedro. Utiliz cconsiderar-se derivada da outa fiomtes identi Tudo leva a et i, Sem que uma das obras possa or que iniciativa do conde de Barcelos, filho natural de D. Dinis, bisneto de Afonso X, que foi também o mee pao Livro das C tisas, one se conservou No que se refere a histéria de Portugal, a fonte imedi 1344.6 0 texto da TV Croni santa Cruz. de Coimbra, que contém is existentes no mosteito, tradigoes épicas relativas a D. Afonso isivos aos seus sucessores. Ora esta IV Cronica Breve rte do nosso ti mo primitive. la Cronica de sa de uma Cronica Porte parece poder identificar-se como a parte portugue volta de 1342, ¢ rel ssuesa de Espanha e Portygal redigida ida mais, tarde por Cristévao Rodrigues Acenheito e por Frei Anténio Brandio. Esta jeral de Espanta suas fontes, independente da Cronica G ¢ seus derivados. 80 HISTORIA DA LITERATURA PORTUGUESA Ni fica por aqui D. Pedro foi largamente refundida ¢ alterada cerca de 1400, Conservou-se 6 texto portugues desta sua refundigaio. Desta forma, temos durante 0 século XIV os segt porque a Crdnica de 1344 do conde histéricos, uns conservados, outros perdidos: — A Cronica Geral de Espanha em galego-portugués, que 6 ducio de textos castel c. 1342), cuyjas fon= mento A Cronica Portuguesa de tes slo principalmente portuguesas, da IV Cronica Breve de Santa Cruz; 3 — Trés Livros das Linhagens, sendo os dois titimos da i ade D. Pedro, conde de H 4— A primeira versio da Cronica Gerad de 1344, conde, de que s6 se conhece a ¥ mesmo 5 — A segunda versio da Crdniea Geral de 1344, redi 140. sada do sculo XV, uma Cre fontes comuns A de 1344. A esta lista poderfamos acreseent nica galego-portuguesa de 1404, la do século XIV tems, além d Rasis (isto € eujo autor util i citada Créinica do Mouro razi, cronista mouro cordoves de int ins do século X), traduzida na corte de D. Dinis por Gil Peres; a Relagdo dia Vid Crénica de como D. Pa este reino do Algarve aos Mouros; do Mosteiro de § (ual o > Correia tomou acrescentemos a Crdnica dit Funda MBIA gesta de D rie relativa a D. Afonso Henriques lea de 1344 apresenta eréi central que & as Mot eee, de forma eertamente mais proxi um relato lendirio, com princi D, Afonso Henriques, © outros secundiirios, entre os qy A mesma lenda afonsina apa 1.7 EPOCA ~ DAS ORIGENS A FERNAO LOPES si sua versio original, na IV Crénica Breve de Santa Cruz e na erénik Thana de Onze ou Vinte Reis. Tanto a 1V Cronica Breve (fragmento de uma Crdnica Portuguesa de Espanhi e Portugal de 1342) como a mencionada ers- nica castethana recolheram cada wna por seu lado a mesma tradigio épica coral, mas a versio por do estilo jogralesco. O conde D. Pedro na Crénica de 1344 teria reproduzido, resumindo-a em parte, a versio da lend Portuguesa de 1342 (ou Cruz), Este resumo € também 0 que se encontra na IH Crénica Breve de Sunt Cruz, simples eépia em lingua modernizada de uma parte da Cronica de 1344, do conde D. Pedro. Nio se co ceaste- eesti mais proxi alterando-a Cré Breve de Santa de Afonso Henriques que e ica no, na IV Crénica fo que éom aver original da lenda de Afonso Henriques. Mas Hos: a) morte ques contra a mike € 0 perdrasto ica do conde D. Henrique: ¢) lutas de Afonso Henriques: |; d) Iutas de Afonso Henriques pel independéncia do seu condado, contra Afonso VI de Le re de Afonso Hen no assalto de Badajoz es esti ordenado por uma trama de eonjunto que sabemos que ela se congre} do conde D. Henrique; b) lutas de Afonso He pelia posse dh contra o Papa, na defesa do poder real 0 © Castela; €) assalto, ra F etomada de Santarém; 1 desa gues, em lata c nando de Leaio e C Este ciclo de tradig Ihe di unidade trigica; desde a revolta contra a mae até ao desastre dle Bada. joz, a vida do her6i desenvolve-se como um perfeito ene entos, que tem origem na maldigao de D. Te Iho, maldigio que vem a cumprir-se quando este, em Badajoz, sofre um desastre que 0 inutilizou par ar de aconteci: esa, ao ver-se agrilhioada pelo Preside a este ciclo lends o de exaltar a figura e feitos do primeiro rei de Portugal e d 1usa, De modo especial, pretende s pretensdes de D. Teresa, que rio deixado pelo conde set pai; e também que a razao esti do seu lado no € 0 herdeiro legitimo do ter Em torne do pro \gonista constelam-se outros herdis, prineipalmente Bgas Moniz, aio de Afonso Hi ies, Egus Moniz nio aparece today aqui o aio & Soeiro Mendes, senhor dt Maia, vassalo do conde D. Henrique, O que parece mostrar que Bgas Moniz é 0 herdi de outro relato lendrio que aquela versio niio xlor no eerco de ques © seu sal ® HISTORIA DA LIVERATURA PORTUGUESA recolheu, mas que foi incluido na Crénica Geral do conde D. Pedro ¢e num seu extracto, a HIT Crénica Breve). Teria, portato, existido nio 6 um relato, ‘mas todo um ciclo de tradigdes épicas sobre as origens do rein de Portug; CO territsrio em que se desenvolve a a nge 0 espago do novo reino ¢ erritGrios fronteirigas do ado de Lede tela; Astorga, G Coimbra e arredores, teatro dos conflitos com 0 cardeal le} parte “io ow acgoes deste ciclo lendirio ries, Santar ijoz, ¢ muito especialmente wrém, Santo Tirso, onde esti sepult Mendes, pode ter sido um foco gerador desta tradicao épies ‘Afonso Hi capaz de algemar a mae € de erguer @ espada para cortar a caby ques aparece-nos ai como um cavaleiro bravio e impulsivo, deal legado. O perfil bararo de um hers i ‘uma individualidade palpitante, através rérgicos e directos € de ‘uma finguagem sem adjeetivos. O ponto de vista do narrador exclui qual- {quer referéncia& subjectividade das personagens, que se definem apenas pelo va & s6brio ¢ brusco, por veres brutal, 40 didlogo. Pelo estilo pela prépria concepgio do hers, esta narrativa contrasta singular- nivo do Cid recorta-se fero, com 10s, to, O estilo da nar com recurso constante ao discurso directo, muito famili mente com os relatos de origem mondstica, nomeadamente com o da Cré: nica da fundagio do mosteiro de S, Vicente, em que 0 primeiro rei de Port cruzada gal aparece como um pio homem t religiosa, dentro de un orator ito prov as jogr ‘de um inico poema, como o sugere a unidade de conjunto, dq se podle separar, sem prejutzo, o relate da tomacia de S ‘antarém, soberbo epi sédio de guerra, de um realismo te 1 provaivel (jd vi anhal que nao deixa de ter toques. de lem ndentem nos) que corresse indep 1 historia de E; Sobre a origem deste ciclo lenekitio formularan-se duas hipsteses: sey c de origem portuguesa, segundo a outra, de orige! © préprio espirito do relato que apresenta Afonso He weneivel da autonomia do novo reino contra os Leon de Coimbra, © 1." EROCA ~ DAS ORIGENS A FERNAO LOPES " nos prim nam pl os versos se situe em Astorga onde morreu o pai do herd. tor- clo épico de Afonso Henriques, mas . A ansilise stl el a origem portuguesa do c 9 & de exeluir uma origem leones :4 comparada das s verses (a da IV Cronica Breve ea da erénica castelhana de Vimte Reis) mostra que a prime ais perto do estilo postico jogra lesco. Nao é impossivel, alids, que fosse integra suas mais ant lo neste ciclo, por jograis acco de Badajoz. perdida gesta de Afonso Henriques, cuja existén: portugueses, um poema leonés sobr De qualquer modo, cia na Jo dis origens do reino de Portu nacional a def ca. Porventura encont 10 pode jf dein e pode consid ‘como uma gesta de independ io de ef consciéneia de uma actividade nacion: nos aqui a primeira exp Jo a0 samor da terra essat grande epopeia que sio as erdnicas de ‘ernio Lopes. Por o pode ser nobre como popular ¢ traduz em todo 0 caso a posigdo da corva portu; Roma, E de notar que nas suas dtimas palavras, tico, 0 conde D. Henrique recom cos «concelhos», omitinde qualquer alusdio & Igre} viol espécie de testamento poli nila a0 filho 0s cavaleiros («fithos de algo») ios. AS hutas cho Le © Papa, em 1209, tetiam sido a ocasiao que dew fublicidade a este texto oral eas elér Ao lado da jos rent representada pelos cantares de a {g0, exist sa. O desapan mplifica 0 esque o portugues ate i eas- to ca sua primitiva versio em verso épico apenas tinge as producdes da Ti 4 ser fixadas por eserito, O mesmo mento que em eral estas, frequentement cestino soften quase toda a ‘itu em do Camar do Cid, quer através de prosificagoes que conservam aqueles po arte, quer pela descober tnats, alterados, em obras hist6rieas, BOs Livros das Linhagens Interess. principalmente & historiogeat aura de fiegio) os Livros das Linhazens. compilados & Gnas. io registos de fi pocas diversas, alos ¢ interpolados de eépia em sa HISTORIA DA LITERATURA PORTUGUESA cOpia até ao século XVI, A sua realizagio esti intimamente ligada resses da nobreza, porque, registando as linhas de descendéncia, tinha-se mi vista acautelar os direitos patrimoniais dos membros das familias fidal~ gas, especi das prestagdes devidas pelos mosteiros ou igrejas identes) ¢ os de «avoengi» (pr senhorios). Havia ainda o problema das aliangas n entre parentes até ao 6.° grau feréncias no caso de vendas dos bens itrimoniais, que o direito dando lugar a litigios © tescos, Pretendia-se também diio dos servigos prestados pelos antepassados, ¢ contribuir pa unidade da classe a po de trés livros das linhagens (1.®, 0 Livro Velho, de cerca de 1282-90, 2. de 1340 — esta numeragio cronoldgica ¢ inve na seegio Seriptores dos Portugaliae Monumenta Historica) independentes centre si, deles derivando, em grande parte, 0 3., organizado por iniciativ do conde D. Pedro. O Livro Velho encerra ji algumas narrat como a lenda de Gaia, mas o Livro do Deiio quase niio passa de um genealégico; o primeito siores pretensdes lterdtias. FE ‘encontramos tradigdes larganente de segura bs fa 0 prestigio sendo 0s dois mais antigos 0 Livro do De ‘a 1 A que Herculano thes dew 0, de cer as curiosas, 0 tes que envolvidas e verses om prosa de nar- rativas jogrtescas. Avulta, refundida, a Fenda de Gaia ou do ret Ramiro, coragem militar, onde se conta 0 palpitante reco- nhecimento de D, Ramiro, disfargado, pela espo -xtremis do traido monarca pelo filho ¢ a sang! e também os contos do rei Leir, da Dan aprisionada, a tr joria, como uma tragédia de Shakespe fa de Herculano bas segundo, Os nobilis nos, confundi 1 o primeiro ¢ uma os, portanto, ¢ sobretudo o conde D. Pedro, aprese' ‘uma matéria fiecionista, que alias, aalém de temas falel6ricos nacionais ou europeus, abrange, como veremos, es out adaptagoes da n0\ ‘io, sparecem narrativas. fiegies © os seus dridos registos de fill assaltos armados, truculentas revindictas conjugais ¢ de bando, 1." FPOCA ~ DAS ORIGENS A FERNAO LOPES as ce outras violéne grotescas ou abominveis, por vezes entremeadas de actos de pundonor ou galanteria, que constituem, como Hercukano sali mas vivo testemunho da vida senhorial portuguesa na Idade Média, € gularizam estes noblirios entre os congéneres europeus. A principal narrativa his _gers 6 da batalha do Salado, inserta no Livro Terceiro, a propdsito do Prior do Hospital, D. Alvaro Gongalves Pereira |. Este texto revela uma arte litera no corpo dos Livros das Linha- dos, Nesses outros a vivacid imar breves cenas dra- Je do didlogo ver nos momentos decisives de uma narragiio ingentamente unilinear, articulada por parataxe (conjungdes coordenativas) do tipo ink ce depois...»; mas a quebrar esta simples ordenag: nas surge uma que outra relagio prdlogo ou epilog ‘alado, porém, e embora se Ihe tenha perdido o comego, € visivel uma larga composigdo artistica: preparagio ¢ lineamentos téeticos gerais da adensamento gradativo da luta, vicissitudes inquictantes de avango € recuo nie @ apareiento da Vera io apen ntes da singles deseri se depois. » unilinear no tempo, ape sal ou final, © a8 ves es um esbago de . de quadro introdutério ou ligio moral, No rekito do verte em cena di ‘6s momentos culmin serve, por exemplo, para desenhar o fatalismo e a subjectividade dos chefes muculmanos, com uma vontade de compreensio humana incompativel com ismo de cruzada. As ns ou comparacdes hiperbélicas (sangue 0s cotovelos», barulheira que pareeia «desarreigar os montes»), ncional, hiperbolicamente consecutiva (ireehada ana hipotaxe to nples eespessas que tolhi seriaga ‘1 intensidadle emocional da nar ssal, sobrepOem 2 si de ampliar com pormeno 10 tempérea dos fa jca evident res adequados a tal efeito. Hai um saber ret6rico, embora ainda algo (¢ informagao testemunhral, iis notivel deste periodo, ¢ revela até que ponto cestava jf afinado no século XTV o instrumento de que itia servir-se Ferniio mo, de rigo letrado, que se alia a uma evider ‘Trata-se do texto narrative, Lopes. Segundo hipstese recente, o autor desta narrativa Livro do Conde D. Pedro outros ra, entre os quais 0 dit 86 [HISTORIA DA LITERATURA PORTUGUESA 1.4 EPOCA ~ DAS ORIGENS 4 FERNAO LOPES 8 morte do Lidador, Gongalo Mendes da Mi de Castela; a guerra entre Ga a histéria de Pedro, o Cru por Afonso X a historiografia ding inch de Castela; um epissdio do eereo tempo a ductilidade estilistica com que se adapta, ora a n las oralGrias. Na traduga tiva portugues: rrativas movimentadas de combates, ora a largas tr jo da Demancla pode dizer= le apta se que & prosa ni madurecida ¢ inteira obras ori serouvida e notar que se trata de ume pros dest n estilo falda, com frequentes inter . que fazem sentir const com largo recurso 80 di pelagdes ao ouvinn mie a presenga do enum ciado logo — notavelmente fluente — e abundante em interjeigdes exclamativas. Nao the fal mio cantante © redondo 1 puiblico. A data em que se conclu esta tradugio est sequer 0 adequado i leitu sem diivida eriado 0 ins- trumento linguistico adequado & narrativa, nao bam histories. Cor vimos a propdsito ns tellunas;c tradugdes em Aleobaga ou outros conventos de ori inos — particukarmente a do maravithoso conto de Barkaio e Josifite a da Visio do Cavaleiro Tiindalo, de que ha duas versbes diferentes, além de um isapete, ou fabakiri jams esta conc a historiogratia, e que ja ineluem textos de matéri e breti, além de prosificagoes de ges romana, carol as jograleseas por- ‘sinai (versio crista da histéria de Bu los, ou contos moralistas, € de as como as de 8, Brandiio ¢ Sto. Amaro, portadoras do velho mito nportante para a ideolog nila, igi Demanda do Santo Graal, & obra tem uma relativamente cortés que inspil iio de valores, Ao passo que na lir Jos Descobrimentos. \dugio portuguesa da o religiosa e representa, ‘os cantares de amor, uma completa sorte, terrestre Sob outro aspecto & a ‘mors todo 0 ron xalga 0 amor como o caminho para a felici: 9 moral, na Demanda todo o amor & considerado pecami- oso, e a virgindade recomendada como 0 estado mais perf cortés anterior dade ea p herdi, modelo de cavaleiros e amantes, Langarote do Lago, vi por seu filho, que & também a su 0 quis conhecer nunca mulher © romanee tet um arcaboigo simbélico muito bem concatenado que ne uma doutrina moral ¢ religiosa, relacionada talvez ‘advento de uma nova Igre} exprime alegoris com a heresia dos Espirituais, que anune’ EE EEE | 1.7 EPOCA ~ DAS ORIGENS 4 FERNAO LOPES 7 Jp Espirito (Santo). Pode supo to para os meios laicos dos problet se que a sta traduglo revele 0 extravasa josos, que durante 10 quase exclusiva do clero, e corres- ristoctacia nobilidiria por- até ao ponto dle adoptar muitos dos nomes novelescos: Langarote, Perceval, Tristio, Guiomar, ete A influ do cielo bretio foi protongada. As eépias hoje existentes so, como vimos, dos séculos XV € XVI, o que significa que desde fins do séeulo XID época a obra nio deixou de ser lida. Fer Lopes, na primeira metade do século XV, refere-se repetidamente aos seus Nuno Alva- m morais reli a Alta Idade Média sao de especul amento dos interesses culturai ponda ao alarg: tu st, a qual se sugestionou por esta obt conistas, um dos quais, Galaaz, te ido de modelo WO Amadis de G Se abundam na literatura medieval portuguesa hoje conhecida as refe- ws & Demanda do Santo Graal, so muito escas ‘um outro romance célebre ¢ escrito na Peninsula Ibét que, a0 contrs i 10 & importante para a discussio do problema da Lingua em que tera sido escrito © primitivo original da obra, Nenhuma pro ‘os que defendem a tese d ula eo problema da sua auto sas, em CoMpenseA a, 0 Amadis de Gaul Jo existiu na livraria de D. Duarte. io do ciclo do C Este 1é hoje capaz de por termo A polémica entre la autoria portuguesa os que defendem a da auto- ria castelhan ‘A favor da tese eastelhana alega-se 6 facto de ser castelhano 0 tnico texte até hi powcas: cide da obra, 0 da primeira edigio,feita em Saragoga, 1508, por Gi cia Roxlriguer, ou Ordo, de Montalvo; ¢ o facto de existtem alsdey eypanholss 30 sé un seu nento, eit eastehano, do séeulo XV, ao passo que em Port alessas da metade do século se A favor da tese portugues aleganns iramente, a alusio de Zuurara na Cr nica de D. Pedso de Meneses 3 umn Vasco de Lobeit ‘em segundo logar, 0 facto de n0 ts teaducido de uny original portugues conservade no Cancioneiro da Vatican e subserivo por Joao de Lobeira; em tereeino lugar, o facto de 5. afiemar {que 6 ssenhor infante D. Afonso de Portugal» (que s6 poderia ser o futuro Afonso 1V nom, irmio de D, Dinis) mandow alterar det nein que faz 90 romance, 6 0 da versio eastelhans figurar um fas de Leonoret sna versio eastella fy 9 seu tio don alo episiio Ado comance;e, finalmente, uma refer dois sonctos escitos, o8 HISTORIA DA LITERATURA PORTUGUESA em areaizante, 0 post t1 quinhentista Antonio Ferre tho do filho, tinh em) vista um texto trecentista portugues mdecisives. Zs tug anes dle Portugal, nem mesmo Fernio Lopes, inclinado a alusdes 0 incdemte sem feita (Os argumentos a favor da tese portuguesa nao sia de mde q pelo menos século € meio depois da primitva versio, que res de 1 de amor de Lobeita & u ia. O epissdio em que figura 0 « exo, que poder facilmente surgi p primitiva, Quanto a intervengao do «senhor infante D. Alonso de Porta 6 prova que, anterior terol Jou introduzr, jo romance existia Exe ultimo facto reyela que o infant a versio nova do ro rate que avers criam colaborado um Lobeira (on dois) 6 infante portugues, e qe Antinio Ferreira xe ler ainda ao século XVI, nko fosse pliada o tradzida a partir de um primeieo texto castelhano, embora a coineklénein de vias noticias e a fliagio provada entre Jouo e Vaseo Lobei c. No se pose portanto didi ausfve qu 2 paregam indicara exis- i istas do rom tle textos portugueses rece fosse a lingua ca primitiva verso do Amadis, mas € ‘de Montalvo existissem diversas versies da obra © que Fosse realizada por portuzueses, talvez por um dos Lobeiras, sob pateocinio do «lafante de Postale, filbo ‘ou inno.de D. Dinis, Ainda no século XVI parece haver conhecin tugués antigo da obra, sobre cyjo toma e linguagem arcaiea se inspira o poeta Ant6nio Ferreira em dois sonetos, Em 1957 foram publicados alguns fra ceastelhana do séeulo XV, mas iso ra substancialmente os dados do problers salvo ao revelar que Montalvo suprimin extensas partes do texto anter Em qualquer eso, 0 Anmdis € um obra p contempori da primeira fase da poesia de corte medieval, e mais representativa do que a Demanla do Graal da galantaria patuciana peninsular idealizada nas exuti- gas de amor. $6 con € floreada pela x: veio a ser, por seu tur inuito «poli» Ja do Renascimento, da qual 9, um dos prineipais paradi dis 0 fruto das amores clanestios de Eisen do roi ran is sguas do mar. Salvo por une fan Thido para pajem da infan Amiga, este € 0 donzel «desde aia sua vida desobra-se num lon rion, que 0 a ‘abe Drigem, vein a Ser esc (Oriana, a quem a eainha © dowzel guarda tas palavras no coragio, » setvigosinteiramente consageado & ama, Me muito te biuvo de se declarar. Depois, © amor sgredo cuidadosamente guardado, Nit riscavaa combites asombros0s com gig resent cont estas palavras: 1, a timer re 0 dois na que Am ou monstos. © eavaleiroinve guéin sabia que era por Or 1. EPOCA ~ DAS ORIGENS A FERNAO LOPES ” a ‘quase deina ea espa lo, por um mval-entendio, eke deixar o mundo € fazer-se e ios ao ver, da arena de combate, a ssenhora n injustamente de infidel Wo. O longo servigo de Amadis teve sscompensa. carnal ura propicia deixa os dois namorados a sds na flores 1, mais por graga € come esereve 0 autor, cerva en cima daquele ms smnta dle Ori {que por desenvolura e ousadia de Amadis, fo feita dona a mais for mys donzela do mundo © tema da sensuslidade que percorre © Andis (radu a le vida bem diferente, portanto, da que Graal, O ideal do mente na concep. est simbolizada na Demanda do leiro ao mesmo tempo faganhudo € generoso, fo) a 0 de crucis, graves bem: mas cujo prego & a vitéria sobre incriyeis ¢ infindaveis dificulda- ombativo mas temo € suspiroso no amor; ‘ow mortaiy desejos, mas fiel pente easto; ao servigo de unit pai uma: des de toxlos os tem reconhecidlo a part eros — esse ideal, em cuja confeegio, no Amadis, se 9 do maravilhoso bretio ¢ da gesta frances, ciana, Falta-he o picante do amor adultes tem como o ascetismo que 0 profliga e corrige na Demanda, embora do esponde bem 0 comedimento de uma aristocracia cada vez mais pakt- no e rigico de Tristao ou de Laur govote, acuse ela avilhoso arturiano, Tra ‘um lugar ao amor na ordem esta com 0 casamento, embora, por espirito de fidelidade formal ao ideal amo- roso da matéria de Bretanha, esse casan num sistema social que di ento apareca como posterior & unio al dos amantes, A virtude 0 Amadis constituiria do bom amador corte abr wlo das virtudes do seu contemporiinco. Os diseursos gr cavaleiros a quem os respectivos «servigos» amorosos impo ndiloquos dos n justas em paas- sigens de floresta, os dislogos melifluos ¢ coneeituosos dos amantes ou das, osas, as Cartas, mensazens de desafio ou de queixume, lea, por polgantes. Nao sabemos até que ponto poderemos responsabilizar 0 texto on textos primitives do romance pelo esp a de Montalvo, Mas chispas deste cavaleirismo mesureiro © bem Jo XV na fnclita sou cronista Zurara, no Cancioneiro Geral, n modelos retsricos de vida fid tre um rosiirio de aventu ito qu cencontramse ao longo do séet jo, em Afonso Ve 100 HISTORIA DA LITERATURA PORTUGUESA No século XVI obra daré origem a todo um ciclo, constituide por nada menos de doze novelas de cavalaria (cielo dos Amaulises), em competigio com o ciclo mais recente, ¢ nele inspirado, dos Palmeirins. Gragas a estes dois ciclos, gragas As suas tradugdes © adaptagdes, a Pen ‘e-41 no tiltimo foco irradiador de imaginagao eavaleiresea para toda a Europa Ocidlental, 6 que eno correspond a um certo seu a ode estrt- tura social © respectiva ideologt ula converter afgmo rel |A traugio de romances de cavalaria continu no século XV com a Hist do Iape: rador Vespasiano, le que bi wim pres ilo lisboeta datado de 1496; so de inicio desse século ow do final do anterior a primei itucsas de fegdo alegdrica em pros, ¢ ent classe saliemta @ Orto do Expos, a nos inca conhecida de exemplos. auséneta entre nds do conto satire, 00 1 como da fies alegdrica ou apalogal (0 segundo Romance da Rosa ou © 1 Rapost, por exemplo), poe aproximar-se da, pelo mens aparente,insign- iro medieval popular, nomeadamente da farsa sua afim, antes de tradugdes ow adaptagies port Romance fiedncin do nosso MEBIBLIOGRAHIA 1, Toxtos: bemands do Sante Groa! (versio portuguese): od, diplomatica incompleta por Kat ‘von Rhvinhordstoetiner, Berm, 1887 I's, 1a 70 do manuscrto). Ed. de Auguste Magne, Rio de Janoito, 1944, 3 vols., sondo o dhimo de glossdrioincompleto e bibliografa (ed thom sempre fil, quer quanto & eitura paleogratica, quer por terem sido suprimidos sem tviso alguns passosl; ed. fac-similada e transeriedo critica pelo mesmo autor, 3 vols, 1966-65; od. do J.-M. Pole I. F. Nunes, IN‘CM, 1988: versio modernizada por Heitor IMogale, ed. Univ. de S80 Paula, 1988. Joseph ab Arimatia, do psoudo Boron: ed. paloogritica, com introd.,notas e gloss- tio por Henry Hate Carter, da versbo portuguesa de 1313-14, segundo e6pia incorrecta ldo sé. XV1, Chapel Hil, University of North Caroline Press, 1967. Esta em proparagio ‘uma ed. ertica por vo de Castro, Centro de Linguistica das Universidados de Lisboa, Texto Critico da Lenda dos Santos Barlado 0 Josefate, trad do cédice de Alcobaca, Vasconcelos Abreu © Gongalves Viana, Lisboa, 1898; reprod. paleogrstica por Richard © 0. 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Ed. de Crénica Troyana, por Ramén Lorenzo, Corunna, 1985. 2. Antolosi Textos da Demanda e do Josoph ab Arimatia nas crestomatios ¢ solectas anterior monte citadas de José Joaquim Nunos, Rodrigues Lapa w Peteita Tavates, 1otas de Maria Leonor Carvalho Buoscu, «Textos Demanda do Groot, or9.,introd, & Cissicos Verba». “radu de textos do Amadis om vols, proptios das col, «Textos Literdviosy, «Cis: sicos Portuquosesn © «Atlitida, 0 primeiro organizado por Rodrigues Lapa e os dois tikimos {sendo 0 ultimo mais aetwalzado} por F. Cost Marques. ‘Afonso Lopes Vieira fez do Amadis uma adaptacio 9 seu gosto, © Romance de Ama is, Usboa, 1925, Olivera, Coma de/Machuxlo, Saavedra: Toxtos Medkovas Postaqueses, 9." ed, Coit be Eaitora, 1974 3, Estudos Polayo, Monéndez yi Origenes do ta Novela, Madrid, 1905-1910, reed. 1943, Arthurian biterature in the Middle Ages, dit. de R. S. 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