com pequenas adaptações e esclarecimentos, do programa exibido pela Rádio e Televisão de Portugal, “1966 – Portugal no Mundial de Futebol” integrado na série “50 Anos 50 Notícias”, de 2007. Como tal, cumpre-me esclarecer que toda a informação constante deste documento foi apresentada pela citada estação de televisão portuguesa, aquando da exibição do documentário referido. Resta-me recordar, em último lugar, que no ano de 2007 a Rádio e Televisão de Portugal celebrou o seu quinquagésimo aniversário. PORTUGAL NO MUNDIAL DE FUTEBOL (1966)
Portugal prepara-se para participar, pela primeira
vez, num Campeonato do Mundo. O problema maior é o ataque do Benfica, que chegou ao fim da época de rastos. Eusébio, José Torres, Mário Coluna, José Augusto e António Simões tinham perdido tudo nessa época. (António Simões, jogador da Selecção Nacional de 1966) “Esse ano foi um ano mau. Otto Glória percebeu isso. Deixou-nos ir para casa, deu-nos algum tempo de descanso, dizendo até «não vos quero ver». Os jogadores partiram, para Inglaterra, frescos e ambiciosos. A comitiva levava um único funcionário da Federação Portuguesa de Futebol, que tratava das malas, do hotel, da comida e dos equipamentos. Foi ele que encomendou os “Magriços”. (Germano Óscar, funcionário da FPF em 1966) “Os “Magriços” eram o Galo de Barcelos já com uma fisionomia, todo pintado, com as cores nacionais. Os “Magriços” entraram de rompante no Mundial, vencendo a Hungria e a Bulgária. Seguia-se o jogo decisivo contra os campeões do Mundo, antecipado pelo comentador da RTP, Alves dos Santos: (Alves dos Santos, comentador da RTP em 1966) “O Brasil, que perdeu contra a Hungria, complicou- nos a vida, de ponta a ponta. Se melhor se quiser, o Brasil, para se qualificar, precisa de, pelo menos, ganhar a Portugal por uma diferença de três golos.” Assim, frente ao Brasil, Portugal entrou confiante e António Simões fez uma das jogadas da sua vida: (António Simões) “Acompanho a jogada e apareço na posição de ponta-de-lança, uma posição de finalização. Eu acho que não tinha outra hipótese de fazer o golo se não assim. Eu fiz capaz, sobretudo de, no gesto técnico interpretar o meu pensamento.” Simões marcou de cabeça e mudou a história do Campeonato do Mundo. Eusébio fez o resto em golos memoráveis. Portugal derrotava o poderoso Brasil por 3-0. A vitória estrondosa contra o Brasil relaxou Portugal em demasia para o jogo contra a desconhecida e misteriosa Coreia do Norte. A perder por 3-0, Portugal reagiu e reduziu a diferença antes do intervalo, mas Germano Óscar, ao contrário de Eusébio, já não acreditava: (Germano Óscar) “Ao intervalo, disse «Vou fazer as malas para a gente se ir embora». Mas, afinal, houve uma reviravolta, no segundo tempo, que se deve, em grande parte, à palestra que o Otto Glória deu ao intervalo. Chamou-lhes à atenção do facto de estarem a perder, depois de terem ganho ao país dele, que era o Brasil.” Portugal fez uma recuperação espantosa, ganhou 5-3 e passou às meias-finais. Só que, antes do jogo contra a Inglaterra, Portugal foi obrigado a mudar o jogo para o estádio de Wembley. Óscar fez as malas à pressa e os jogadores tiveram de fazer uma viagem que agravou o cansaço. (António Simões) “Eu recordo que nos custou imenso termos de pegar em tudo e termos de mudar de hotel. Estávamos muito bem instalados. Por outro lado, calculámos mal a hora de chegada ao Wembley e tivemos muito tempo à espera do jogo, exageradamente muito tempo.” Apesar da tristeza, Eusébio recebeu o prémio para Melhor Marcador do Mundial. Depois da vitória frente à Rússia, por 2-1, a selecção nacional regressou a Portugal com o terceiro lugar. (António Simões) “Às vezes, quando vejo as imagens, até me arrepio um pouco. Chegar às três da manhã e termos um mar de gente à nossa espera, o que no fundo não deixa de ser o reconhecimento por alguma coisa que foi conseguida, toca-nos.” O Mundial de 1966 foi o acontecimento que fez vender mais televisores nos primeiros dez anos da RTP. A televisão passou a ser um fenómeno de massas em Portugal.
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