Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Diogo de Oliveira
Os registros arqueológicos indicam que a introdução dos sistemas agrícolas na região sul e
sudeste da Mata Atlântica ocorreu há 2500 anos, sendo que a paisagem encontrada pelos europeus foi
a de extensas áreas sendo cultivadas e manejadas em sistema itinerante, permitindo a sucessiva
recomposição da funcionalidade ecológica dos ambientes e interagindo com a paisagem de forma a
incrementar a diversidade biológica. Estas populações humanas vivem até hoje de acordo com uma
concepção pragmática da paisagem florestal atlântica, expressando profundo conhecimento ecológico
por meio de representações simbólicas complexas de sua vida social, como os rituais, as crenças, a
mitologia, a medicina tradicional, e as próprias práticas cotidianas, entre elas o sistema de caça,
coleta e agricultura de subsistência. Portanto, as florestas subtropicais fazem parte da cosmologia
destes povos, isto é, da maneira com que estas sociedades concebem o universo e, nele, situam o ser
humano. A própria natureza é concebida como parte da sociedade indígena.
Os relatos dos primeiros navegadores a alcançaram a costa sul e sudeste atlântica fazem
referência à de povos de boa saúde e constituição física, além da grande fartura de alimentos. Os
estudos de ecologia alimentar indicam que o sistema a manejo agroflorestal de subsistência exigia
poucas horas de trabalho diário para proporcionar grande quantidade de alimento. As atividades
sociais eram intensificadas, sendo realizadas práticas simbólicas e rituais em relação aos alimentos, a
caça, a coleta, envolvendo neste imaginário uma grande quantidade de elementos existentes nas
florestas atlânticas. Estas práticas ainda evitavam o esgotamento do solo, dos recursos hídricos e dos
demais recursos florestais.
A luta pelos direitos territoriais indígenas sempre mediu forças com o crescimento
econômico e o modelo predatório de exploração do ambiente. No Brasil, a Constituição Federal de
1988 pela primeira vez garantiu constitucionalmente aos índios os direitos sobre as terras
tradicionalmente ocupadas, seus costumes, os recursos necessários para a reprodução física e cultural,
além do ao atendimento diferenciado em educação e saúde. No entanto, seguem-se os esforços para
garantir esses direitos e, principalmente, para compreender o que, de fato, eles significam.
Somente a partir da década de 1990 que, com o despertar da nova mentalidade ecológica, os
projetos comunitários de subsistência passam a ganhar destaque. As perspectivas políticas e
econômicas de cada etnia são respeitadas, incentivando a implantação de projetos visando autonomia,
subsistência e sustentabilidade ambiental nas áreas indígenas. Desta forma os indígenas se tornam
senhores de seu presente e futuro, fazendo uso de sua etnicidade, de sua identidade diferenciada em
relação aos demais segmentos da população, para decidir sobre os rumos de sua própria vida. Na
medida em que ocorre o empoderamento dos indígenas sobre o território e os sistemas produtivos,
estes se organizam para ocupação e fiscalização de suas áreas. Na maioria dos casos vem sendo
implantadas medidas para restaurar as áreas degradadas, explorar sustentavelmente os recursos e
promover a segurança alimentar, conservando as práticas tradicionais de manejo e a
agrobiodiversidade.