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Iniciativas de elevação de escolaridade e qualificação profissional: considerações 

sobre o Projovem – Programa Nacional de Inclusão de Jovens

Hamilton de Godoy Wielewicki

UFSM – PPGEdu/UFRGS – Bolsista CAPES/PICDT

hgw@smail.ufsm.br

Resumo: 

Dentre os inúmeros problemas enfrentados pelos cerca de 24 milhões de jovens brasileiros de 

18 a 24 anos (um contingente que responde por 13,5% da população do país) estão os baixos 

índices de escolarização e de qualificação profissional, que freqüentemente estão relacionados 

a   uma   situação   de   alta   vulnerabilidade   social   e   que   reduzem   de   forma   significativa   suas 

oportunidades de acesso ao mundo do trabalho. Para complexificar ainda mais tal situação, 

pode­se apontar ainda a carência de políticas públicas capazes de reverter, mesmo que de 

forma remedial, tais problemas. Partindo de tal constatação, este trabalho objetiva discutir o 

Projovem  (Programa  Nacional   de Inclusão  de  Jovens) a  partir  de  alguns   aspectos   de  sua 

implantação   no   estado   do   Rio   Grande   do   Sul.   Para   tanto,   o   trabalho   inicia   pela 

contextualização do quadro complexo no qual se situa a juventude brasileira, partindo então 

para a caracterização do programa e, subseqüentemente, para a análise de alguns aspectos de 

sua gestão e organização didático­pedagógica, e, em especial, de como tais dimensões, bem 

como os objetivos do Projovem e as preocupações que dão base à sua origem (ainda em 2005) 

relacionam­se com o campo das políticas públicas voltadas para a educação (incluindo­se aí a 

elevação   de   escolaridade)   e   qualificação   profissional   para   a   juventude.   Através   de   uma 

avaliação preliminar de avanços, inquietações e perspectivas do Projovem, argumento em prol 

de uma maior integração de programas e da construção de políticas públicas mais consistentes 

e duradouras, que possam ser capazes de romper com círculo vicioso que se estabelece entre a 

insuficiente escolarização, a dificuldade de inserção no mundo de trabalho e os processos 

endêmicos de exclusão social.
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Abstract: 

Among the several problems faced by the 24 million or so young Brazilians from 18 to 24 

years old (which correspond to something 13,5% of the country's population) one can point 

out   the   low   levels   of   schooling   and   professional   qualification,   which   are,   in   their   turn, 

frequently related  to a situation  of high social vulnerability  and that tend to  significantly 

reduce  their opportunities of taking part in the marketplace. To make the issue even more 

complex, there is a lack of public policies to revert, even remedially, such problems. Bearing 

such   context   in  mind,   this  paper   aims  at   discussing   Projovem  (the  National  Program   for 

Youth Inclusion) based on some aspects of its implementation in the state of Rio Grande do 

Sul. To do so, the paper starts from the contextualization of the complex situation of the 

Brazilian youth and then proceeds to the caracterization of the program and, subsequently, to 

the analysis of some aspects of its didactic­pedagogic management and organization and, in 

special, of how such dimensions, as well as the objectives of Projovem and the issues and 

concerns underlying its origin (back in 2005) are related to the field of public policies aimed 

at youth education (including schooling level figures) and professional qualification. Through 

a preliminary assessment of the achievements, concerns and perspectives of Projovem, I argue 

for a deeper level of integration of programs and for the construction of more consistent and 

lasting   public   policies,   which   might   allow   for   overcoming   the   vicious   circle   established 

among   insufficient   schooling,   difficulty   in   getting   into   the   marketplace   and   the   endemic 

processes of social exclusion.

keywords: 

PUBLIC POLICIES – YOUTH – PROJOVEM

Introdução
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O   limiar   do   século   XXI   confronta   a   juventude   brasileira   com   um   conjunto 

significativo de questões e desafios para os quais ainda não parece haver soluções simples ou 

de fácil alcance. Dentre estes desafios está o fato de que a população de 18 a 24 anos – 

compreendendo 23,4 milhões de pessoas, ou seja, 13,5% da população total  i  – carece de 

políticas públicas que sejam capazes de dar respostas consistentes a problemas crônicos deste 

extrato populacional, dentre os quais, a insuficiente escolarização, a dificuldade de inserção 

no mundo de trabalho e um decorrente e crescente processo de exclusão social. Não é por 

outra razão que se pode dizer que a juventude freqüentemente é vista como o grupo de mais 

alta vulnerabilidade social, merecedor, portanto, de destacada atenção por parte do Estado. 

Em tal panorama – de falta de políticas  públicas consistentes – foram criados em 2005 a 

Secretaria Nacional da Juventude e o ProJovem (Programa Nacional de Inclusão de Jovens).

O objetivo deste artigo é discutir os contornos de tal programa e fazer uma avaliação 

preliminar de avanços, inquietações e perspectivas do Projovem no contexto da juventude 

brasileira, especialmente no que diz respeito às políticas de educação profissional.

O que é o ProJovem?

O   ProJovem,   nos   termos   da   Lei   11.129/2005   (BRASIL,   2005a)   e   do   Decreto   no. 

5.557/2005 (BRASIL, 2005b) , que, respectivamente o instituem e regulamentam, bem como 

do   Parecer   CEB/CNE   (CNE,   2005)   ,   que   o   aprova   como   programa   experimental,   é 

considerado uma política pública emergencial voltada à Juventude e que tem como objetivos a 

elevação de escolaridade, a qualificação profissional inicial para o trabalho e a articulação 

para   a   proposição   de   iniciativas   de   ação   comunitária.   É,   em   função   disso,   vinculado 

estratégica e operacionalmente à recém criada Secretaria Nacional da Juventude (SNJ)  ii – e 

tem como uma de suas noções basilares o princípio do protagonismo juvenil.

Dentre suas características, o ProJovem é voltado para jovens de 18 a 24 anos, que 

tenham completado a quarta, mas não tenham concluído a oitava série do ensino fundamental 

e   que,   além   disso,   não   tenham   vínculo   empregatício   formal.   O   programa   de   aulas   no 
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Projovem tem duração de 12 meses, num total de 1600 horas e os alunos têm direito a um 

auxílio financeiro de R$ 100,00 (cem reais) mensais durante o tempo de duração do curso, 

desde que tenham um mínimo de 75% de presença.

Do ponto de vista de sua estrutura organizacional, a unidade básica de organização é a 

turma, constituída  por até 30 alunos. Cada cinco turmas formam um  núcleo  e cada oito 

núcleos formam uma Estação Juventude, conforme se vê na Figura 1.

Figura 1 – Diagrama da estrutura organizacional da Estação Juventude do ProJovem

A inscrição dos alunos participantes é centralizada nacionalmente e, uma vez aceito, o 

aluno é designado a uma turma num dos núcleos existentes, onde terá aulas presenciais todas 

as   noites,   sendo   que   também   são   previstas   atividades   não   presenciais   que   ajudam   a 
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integralizar  a carga  horária total  prevista  para o programa. Cada núcleo conta com cinco 

profissionais   de   educação   básica,   um   de   educação   profissional   e   cada   dois   núcleos   são 

atendidos por um profissional de ação comunitária. Assim sendo, cada núcleo pode contar 

com até 150 alunos e oito educadores que têm ao seu encargo organizar e implementar 30 

horas semanais de atividades.

O ProJovem previa originalmente atender aos jovens das capitais, e, num segundo 

momento, seria estendido para cidades com mais de 200 mil habitantes das grandes regiões 

metropolitanas e só após isso previa a oferta de turmas para demais municípios de médio e 

grande   porte.   A   meta   inicial   era   de   atingir   até   200   mil   jovens   e   para   tanto   foram 

disponibilizados   cerca   de   300   milhões   reais   em   recursos   orçamentários   federais   livres   de 

contingenciamento. No Rio Grande do Sul, Porto Alegre foi o único município conveniado 

para a etapa de implantação inicial do ProJovem, com a previsão de abertura de seis Estações 

Juventude   permitindo,   conseqüentemente,   atender   a   até   7.200   jovens.   As   atividades   de 

formação inicial de educadores da primeira Estação Juventude (funcionando na Zona Norte 

do município) ficaram ao encargo da FUNDAR (Fundação Darci Ribeiro) e as de formação 

inicial da segunda Estação (na Zona Leste) e das outras quatro previstas, bem como as de 

formação continuada de ambas as Estações implementadas inicialmente foram feitas, até o 

início   do   mês   de   junho   de   2006,   pela   FUNDAE   (Fundação   de   Apoio   Educacional), 

mobilizando professores pesquisadores e bolsistas da Universidade Federal de Santa Maria. 

Porto Alegre, além disso, foi o único município brasileiro na qual o programa foi coordenado 

por uma Secretaria Municipal da Juventude, uma vez que nos demais municípios tal tarefa 

freqüentemente vinha sendo desempenhada pelas secretarias de educação.

O papel da educação básica do ProJovem

De uma forma geral, uma das questões mais cruciais que tem pontuado os debates 

sobre educação no Brasil diz respeito à sua dualidade estrutural, ou seja, a escola brasileira 

tem,   historicamente,   conforme   indicam,   por   exemplo,   Cunha   (2005),   Manfredi   (2002)   e 
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Kuenzer (2005), projetos distintos para a formação das elites, de um lado, e para a formação 

dos trabalhadores, de outro lado. Tal divisão tem paralelo consistente na valoração claramente 

distinta entre trabalho manual – menos valorizado e para o qual se formariam os filhos de 

trabalhadores – e trabalho intelectual – historicamente privilegiado e para o qual se dirigiriam 

os   filhos   da   elite.   Com   variações   ao   longo   do   tempo   e   do   espaço,   tal   dualidade   teve   (e 

continua   tendo)   impactos   substanciais   na   formulação,   organização   e   implementação   de 

políticas educacionais. 

Assim, conforme mencionado anteriormente, o atual momento histórico traz à tona 

questões que são particularmente preocupantes para o quadro de exclusão social crônica que 

flagela a população brasileira, principalmente aqueles segmentos que historicamente têm sido 

alvo e substrato dos processos de expropriação social, cultural e econômica que têm garantido 

ao   Brasil   posição   nada   invejável   nos   indicadores   de   desigualdade   e   injustiça   social iii.   Da 

integração   entre   educação   geral   e   profissional   na   LDB   de   1961,   passando   pela 

profissionalização compulsória no Ensino Médio da reforma de 1971, à completa separação 

entre educação básica e profissionalização do Decreto 2208/97, há mais de três décadas o 

Brasil   tem   convivido   com   uma   falta   de   integração   entre   educação   básica   e   formação 

profissional inicial, o que vem acarretando um crescente descrédito numa possível função de 

apoio da escolarização no que concerne ao acesso ao mundo do trabalho.

Assim, dentre os possíveis méritos da proposta do ProJovem, está o caráter integrado 

da   relação   entre   educação   básica,   formação   profissional   em   nível   inicial   e   ação   social   e 

comunitária.   Tal   proposição   parece   não   somente   partir   da   premissa   de   que   é   necessário 

superar a dualidade estrutural característica da educação brasileira, como também traz uma 

noção ressignificada da relação entre os distintos componentes e dimensões da formação do 

aluno.   Nesse   sentido,   talvez   seja   relevante   registrar   que   tal   proposição   direciona, 

consoantemente com Kuenzer (2005), o olhar da formação geral para o complexo (e muitas 

vezes ausente nos currículos escolares) mundo do trabalho. Há que se registrar, entretanto, 
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que a questão é controversa e que entre a urgência da ação e a consolidação de novas bases 

para a educação há uma longa distância a percorrer.

Organização dos tempos e das funções docentes

Um outro aspecto positivo na concepção do ProJovem diz respeito a como as funções 

docentes estão pensadas, uma vez que das 30 horas contratuais, apenas um terço, ou seja, 10 

horas, têm previsão de atendimento dentro da área específica de formação do professor. Os 

demais dois terços estão comprometidos com as funções de integração com as demais áreas, 

com o atendimento a alunos e turmas e com o planejamento e formação continuada. Visto sob 

esse prisma, talvez fique evidente que a denominação dos professores atuantes no ProJovem 

como educadores, não represente apenas uma opção semântica adequada, mas, antes disso, 

uma opção política que transcende a função disciplinar específica e atenta para a educação 

dos sujeitos participantes como um todo. Prevê­se, portanto, que os educadores devam atuar 

como   organizadores   de   aprendizagens,   com   um   papel   de   fundamental   importância   no 

processo de (re)inserção dos jovens na escolarização e na sociedade. Isso, entretanto, tem 

implicações   severas   no   que   diz   respeito   à   complexificação   da   tarefa   dos   educadores   e, 

paradoxalmente,   vai   se   apresentar   como   uma   grande   solução,   mas   também   como   um 

problema de igual magnitude, uma vez que os profissionais recrutados  têm, salvo melhor 

juízo,   uma   trajetória   formativa   marcada   pela   linearidade,   pela   hiper­especialização   e  pela 

fragmentação típicas do projeto de educação da modernidade. Mais adiante discorrerei sobre 

as estratégias para lidar com tal situação, bem como sobre suas limitações e potenciais.

O papel do orientador

Aliada à questão do papel dos educadores, é importante fazer um destaque para a 

figura do orientador e, de forma especial, dos temas integradores no âmbito do ProJovem. A 

macro­estrutura do projeto pedagógico do ProJovem parece ser sensível à idéia de que a busca 

de temas de relevância para os alunos seja particularmente vocacionada para a construção de 
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interfaces significativas dentre os componentes curriculares e destes com os alunos e seus 

projetos identitários e de vida. Assim, importa registrar também que a noção de qualificação 

profissional   implicada   no   presente   trabalho   coaduna­se   com   o   entendimento   de   Franzoi 

(2006), que argumenta em prol de uma visão de qualificação profissional como construção 

social. Nesse particular, entre, também importa registrar a dificuldade que o desempenho da 

tarefa de orientador representa, tanto em relação aos aspectos formativos pressumidos pelo 

papel, quanto no que diz respeito à necessidade de sensibilização do orientador às questões 

emanadas do contexto social no qual os alunos do ProJovem estão inseridos.

O alcance social e político do ProJovem

Em   que   pese,   ainda,   as   inúmeras   dificuldades   inerentes   à   implementação   de   um 

programa de tal porte e complexidade, também é relevante apontar que seu alcance social e 

político interessa aos diferentes níveis e entes federativos. Talvez seja por essa razão que seu 

modelo organizacional – complexo e hierarquizado – parece ser embasado na premissa da 

cooperação federativa, uma vez que se trata de um programa federal, implementado ao nível 

(e sob coordenação) municipal, não prescindindo, na maior parte das vezes, da colaboração 

com   instâncias   do   governo   do   estado.   Talvez   inclusive   em   função   de   tal   desenho 

metodológico,   vários   problemas   gerenciais   possam   ser   explicados,   embora   não 

necessariamente evitados, como é o caso, por exemplo, da forma do cadastro e dos freqüentes 

atrasos  no pagamento  de bolsas ao aluno, fator que, aliás,  pode ser responsável por  uma 

parcela significativa da evasão do programa. Concretamente, além disso, pode se questionar, 

em   relação   à   implementação   do   programa,   sua   alocação   junto   à   Secretaria   Geral   da 

Presidência da República e à Secretaria Nacional da Juventude. Historicamente, programas de 

elevação de escolaridade e qualificação profissional (em diferentes níveis) têm sido alocados 

ora no Ministério da Educação, ora no Ministério do Trabalho, ora mais harmonicamente, ora 

em   meio   a   pesados   embates   não   somente   administrativos,   mas   também   conceituais   e 

epistemológicos (cf. Manfredi, 2002). O ProJovem, no entanto, embora tenha a participação 
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de ambos, não está vinculado a nenhum desses ministérios. Cabe questionar, portanto, em que 

medida, tal situação poderá contribuir para o sucesso ou para a continuidade do programa, 

inclusive sob a forma de uma política pública consistente e permanenteiv.

Proposta de avaliação e relação entre componentes curriculares

Embora   a   proposta   de   processo   avaliativo   constante   no   projeto   pedagógico   do 

ProJovem seja relativamente avançada e atribua papéis de grande importância ao processo de 

acompanhamento e a uma dinâmica de avaliação que visa a realimentação contínua da ação 

pedagógica,  na  prática,   os  componentes   processuais   da  avaliação   tornam­se  relativamente 

pouco   relevantes   frente   a   uma   avaliação   na   qual   a   manifestação   dos   produtos   da 

aprendizagem parecem funcionar muito como controle externo e uma base centralizadora, 

inclusive mediante a centralização administrativa da avaliação, realizada, em Porto Alegre, 

pela Universidade Federal do Paranáv.

Aliado a isso, há ainda a questão da relação entre componentes curriculares idealizada 

no projeto e o conflito visível entre cada uma das propostas e o material didático que lhes dá 

existência concreta. Para dificultar ainda mais, os materiais das áreas parecem dialogar muito 

pouco entre si e – cada um ou até mesmo o conjunto – com os temas integradores, dando 

freqüentemente a impressão de que o material didático fora construído segundo uma lógica 

fragmentária e hiper­especializada que colide com a formulação das próprias diretrizes. Esse 

problema parece ainda maior se tomada não apenas a relação entre as áreas, mas também, 

talvez   de forma  mais  saliente,  entre as dimensões  (educação  básica, qualificação  social  e 

profissional e ação comunitária) operantes na proposta. Esse problema, de meu ponto de vista, 

é talvez o mais sério no que concerne à proposta pedagógica do ProJovem, particularmente 

pelo fato de haver, por parte dos educandos, uma expectativa de peso sobre a qualificação 

profissional,   aguçada,   inclusive,   pelo   material   publicitário   usado   para   atrai­los   para   a 

inscrição e participação no programa. O próprio conceito de formação profissional em nível 

inicial é questionado por especialistas por entenderem se tratar de uma formação de “segunda 
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categoria”   que   não   conduziria,   na   prática,   a   uma   efetiva   formação.   Relatos   informais   de 

alunos, entretanto, fazem um resgate relativo da validade da proposta.

Assim, falando como profissional interessado no sucesso do programa, me vejo, por 

um lado, na contingência de reconhecer que a proposta para a educação básica no ProJovem 

carece   de   ser   substancialmente   mais   sintonizada   com   as   preocupações,   questões   e 

problemáticas do mundo do trabalho e, por outro lado, creio que a proposta de qualificação 

profissional,   mesmo   em   nível   básico,   é   por   vezes,   fragmentária   e   dogmática   numa   razão 

inversamente proporcional ao que gostaria ou poderia ser. Há que se reconhecer, entretanto, 

que em alguns estados (e o Ceará parece ser um caso emblemático), os responsáveis locais 

pelo ProJovem se articularam suficientemente para imprimir à proposta uma marca de diálogo 

com as demandas efetivas da juventude. Isso talvez se dê muito mais pelo nível de discussão e 

interação da área de educação profissional do que pela ação dos profissionais da educação 

básica que, de uma forma geral, não parecem ter na relação com o mundo do trabalho o cerne 

de   sua   preocupação,   perpetuando,   dessa   forma   (mesmo   que   não   intencionalmente),   a 

representação social prestigiada do trabalho intelectual em detrimento do trabalho de base 

manual, ou seja, acentuando o caráter dual marcante na educação brasileira.

Formação inicial e formação continuada dos educadores

Dentre as questões que imputo positivas na concepção do ProJovem, uma delas é a 

preocupação   de   garantir   aos   educadores   atuantes   no   programa   a   possibilidade   de   uma 

Formação Inicial e de um processo de Educação Continuada (explicitamente incorporado ao 

projeto pedagógico) que vivifica o princípio contido na LDB sobre o exercício profissional do 

magistério. Apesar das garantias consistentes de tal espaço na própria jornada dos educadores, 

é sensato ponderar que uma dificuldade inicial é construir as condições para uma ruptura com 

o   pensamento   linear   e   fragmentário   sobre   a   educação,   uma   vez   que   a   despeito   das 

argumentações   consistentes   que   se   possa   fazer   sobre   a   necessidade   de   um   diálogo 

interdisciplinar   (entre   áreas)   e   multi­dimensional   (entre   os   três   pilares   do   ProJovem)   na 


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implementação da proposta, o material didático e a avaliação externa ainda parecem induzir a 

um isolamento das áreas e a um controle sobre as tarefas. Penso, nesse sentido, que maior 

atenção   deve   ser   dada   à   relação   entre   os   eixos   temáticos,   os   temas   integradores   e   a 

organização das atividades.

Dentre   as   preocupações   que   se   possa   ter   quanto   à   existência   e   continuidade   do 

ProJovem, acredito que esteja a sua caracterização como um programa e não como política 

pública de caráter mais permanente. Alia­se a isso ainda a existência de outros programas com 

foco similar (por exemplo, Escola de Fábrica, Consórcio Social da juventude) e que dividem 

tanto recursos (já não tão fartos) quanto público que deles poderia se beneficiar. É exatamente 

devido à falta de políticas públicas que se pode presumir que a situação (sob muitos aspectos) 

dramática da juventude brasileira no que concerne ao seu perfil de escolarização e de inserção 

no   mundo   do   trabalho   não   somente   foi   incapaz   de   produzir   avanços,   mas   inclusive 

experimentou retrocessos. Felizmente, o governo federal propôs um redesenho dos programas 

de   atenção  ao   jovem,   no  qual  o  Projovem   passa   ser  a  ser  o  elemento  de   integração   dos 

programas mencionados acima e, além disso, estende seu raio de ação para atender a jovens 

de 15 a 29 anos.

Uma outra preocupação, já salientada anteriormente neste artigo, diz respeito à relação 

tênue   entre   as   dimensões   de   Educação   Básica,   de   Qualificação   Profissional   e   de   Ação 

Comunitária no ProJovem. Não parece haver dúvidas sobre a necessidade da interação entre 

essas dimensões, não somente do ProJovem, mas talvez – a julgar pelos dados da pesquisa 

realizada pelo Instituto Cidadania – no âmbito da educação que tenha jovens como foco de 

interesse e como justificativa para existência. É importante, na linha do argumento proposto 

por Kuenzer (2005), pensar num projeto de escola que não sentencie os excluídos a uma 

exclusão ainda mais drástica e ao desempenho de funções na sociedade com base exclusiva na 

origem de classe. Dito de outra forma, já passa há muito da hora de expressarmos da forma 

mais cabal e consistente possível, nossa contrariedade em relação a um projeto de escola que 

defina sua qualidade em termos da parcela da população para a qual ele é direcionado.
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Essa questão, por sua vez, não está dissociada da constatação de que os profissionais 

recrutados para atuarem como educadores têm, como regra, uma formação que ainda não é 

capaz de problematizar adequadamente um contexto social e educacional desafiador como o 

do ProJovem. Isso impõe, de saída, limites que precisarão ser contornados na formação inicial 

e na formação continuada. Da mesma forma, talvez fosse necessário pensar uma forma de 

acompanhamento   mais   dinâmico   e   solidário   dos   educadores   e   dos   alunos,   especialmente 

através das equipes de coordenação pedagógica e administrativo atuantes nas Estações, o que 

contrasta com o modelo marcantemente burocratizado testemunhado em muitos municípios 

nos quais o ProJovem foi implantado.

Um outro problema com o qual se precisa lidar é a atratividade (relativamente) baixa 

do ProJovem e a evasão relativamente alta do programa. Em conversas informais com alunos, 

uma causa consistente para a baixa atratividade é o apelo ainda insuficiente da escolarização 

para muitos jovens, em que pese ser, paradoxalmente, uma de suas maiores preocupações. 

Quanto   à   baixa   atratividade   do   ProJovem,   muitos   dos   jovens   em   real   situação   de 

vulnerabilidade já têm problemas com a lei e qualquer programa de inclusão – por mais bem 

intencionado que seja – que exija documentação e identificação positiva pode representar um 

risco de privação de liberdade que muitos desses jovens podem preferir não correr. Talvez 

nesses casos seja necessário pensar, em conjunto com profissionais, entidades de atenção ao 

jovem, organismos públicos, ONGs e demais interessados, formas de oferecer possibilidades 

mais concretas de romper com a expectativa de vulnerabilidade da juventude.

No que diz respeito à evasão, há relatos de alunos não evadidos de que os atrasos 

freqüentes no pagamento de bolsas, a relativa rigidez na condução dos tempos escolares (para 

sujeitos   que   talvez   não   tenham   emprego,   mas   que   freqüentemente   vivem   do   trabalho 

informal) e o próprio desinteresse no conhecimento escolarizado podem ser explicações para 

que vários de seus colegas tenham desistido de participar do programa. Quando questionamos 

porque eles próprios, diante das mesmas circunstâncias, não haviam evadido, a maior parte 

prefere se mostrar otimista com a solução ou contorno de tais situações e revela, além disso, 
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ter   trocado   a   escola   regular   “tradicional”   ou   as   classes   de   EJA   pelo   ProJovem.   Caberia 

investigar   ainda   quais   fatores   motivam   de   forma   mais   central   tal   migração,   mas   é 

razoavelmente   tentador   recorrer   a   explicações   que   colocam   o   pagamento   de   bolsas   e   a 

promessa   de   qualificação   profissional   e   de   possibilidade   de   ação   comunitária   aliadas   à 

elevação de escolaridade como suas molas mestras. Isso, entretanto, reforça a importância do 

adequado desenvolvimento desses dois eixos no âmbito do ProJovem.

Conclusão

Frente ao discutido até aqui, espero ter evidenciado, em primeiro lugar, que iniciativas 

como o ProJovem são necessárias e têm um potencial de reversão de expectativas de exclusão 

social   da   juventude.   Por   si   só,   isso   constituiria   razão   sólida   o   suficiente   para   seu   apoio. 

Entretanto, também espero ter acentuado que há pontos que merecem cuidadosa análise e 

debate, dentre os quais destaco a relação entre seus objetivos – elevação da escolarização, 

qualificação profissional e ação comunitária – e sua operacionalização, especialmente no que 

diz respeito a como as áreas interagem entre si, tanto nas diretrizes curriculares quanto nos 

materiais disponibilizados ou ainda nas salas de aula.

Mesmo que tais situações e problemas possam ser contornados, resta ainda, um, que 

parece intrinsecamente ligado à administração pública brasileira: o direcionamento das ações 

a partir de objetos e programas que parecem estar muito mais focados na caracterização da 

administração que os conduz do que na busca de construção de políticas públicas que, além de 

otimizar   o   uso   de   recursos   historicamente   escassos,   respondam   aos   desafios   de   Estado 

prioritariamente ao atendimento dos interesses de Governo. Argumento, portanto, na direção 

de políticas públicas mais concertadas entre os diversos atores que têm interesse efetivo no 

bem  estar  da  juventude  brasileira,  inclusive   sob a  forma  de  elevação   de escolaridade,   de 

qualificação profissional e de uma visão mais crédula no protagonismo juvenil.

Referências
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BRASIL.  Lei   11.129/2005  –   que   institui   o   Programa   Nacional   de   Inclusão   de   Jovens   – 

ProJovem;   cria   o   Conselho   Nacional   da   Juventude   –   CNJ   e   a   Secretaria   Nacional   de 

Juventude; altera as Leis nos  10.683, de 278 de maio de 2003, e 10.429, de 24 de abril de 

2002; e dá outras providências. Publicada em 30/06/2005. (2005a)

BRASIL. Decreto 5.557/2005 – que regulamenta o Programa Nacional de Inclusão de Jovens 

– ProJovem instituído pela Lei no 11.129, de 30 de junho de 2005, e dá outras providências. 

Publicada em 05/10/2005. 2005b.

CNE . Parecer CNE/CEB 02/2005. Aprovado em 16/03/2005. 2005

CUNHA, L. A. .  O ensino profissional na irradiação do industrialismo. São Paulo, SP: 

Editora UNESP; Brasília, DF: FLASCO. 2005.

FRANZOI, N. L. Entre a formação e o trabalho: tarjetórias e identidades profissionais. 

Porto Alegre, RS, Brasil: Editora da UFRGS. 2006.

KUENZER, A. (Org.)  Ensino Médio: construindo uma proposta para os que vivem do 

trabalho. São Paulo, SP: Cortez. 2005.

MANFREDI, S. M. Educação Profissional no Brasil. São Paulo, SP, Brasil: Cortez. 2002.

Notas
i
 De acordo com dados da Pesquisa Nacional de Amostra por Domicílios – PNAD – 2003, disponíveis no endereço 
www.ibge.gov.br.
ii
 A SNJ foi criada juntamente com o ProJovem e com o Conselho Nacional da Juventude em 2005.
iii
 Vários indicadores corroboram tal afirmação, mas apenas para dar um exemplo, sabe­se que no “Brasil, os 10% mais 
ricos da população são donos de 46% do total da renda nacional, enquanto os 50% mais pobres – ou seja, 87 milhões de 
pessoas   –   ficam   com   apenas   13,3%”   da   renda   nacional   (fonte:  http://www.cidadania.org.br/conteudo.asp?
conteudo_id=5468&secao_id=98, acessado em agosto de 2006), embora dados mais recentes dêem conta de uma nova 
tendência de aumento mais significativo de renda entre a população mais pobre, provavelmente devido aos efeitos de 
programas   oficiais   de   geração   e   distribuição   de   renda,   conforme   informações   baseadas   na   PNAD­2004   (fonte   ­ 
http://www4.fgv.br/cps/simulador/impacto_2006/ic234.pdf#search=%22desigualdade%20social%20brasil
%202006%22, acessado em agosto de 2006). De qualquer forma, há muito a ser feito antes que se possa falar em 
condições sociais minimamente justas no Brasil.
iv
Na reformulação do programa, em 2007, o Projovem passou a ser o elemento de integração de todos os demais 
programas de qualificação profissional de jovens do país, inclusive com um aumento de sua amplitude e alcance.
v
Houve uma tentativa de implementação de uma avaliação de acompanhamento, formulada pela equipe de 
pesquisadores e bolsistas da UFSM, que embora não tenha persistido, ajudou a perceber dificuldades, tanto do grupo de 
alunos, como o de educadores atuantes no programa e, neste sentido, foi importante pra a reorientação das atividades da 
formação continuada. Além disso, o acompanhamento feito pelos próprios educadores, especialmente quando na 
condição de professores­orientadores, aproximou­se, em alguns casos, de uma avaliação processual, com foco na 
aprendizagem e na permanência dos alunos no programa.

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