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Sessão Tutorial – Compreensão do Oral

Escutar para aprender e construir conhecimentos

Os primeiros anos do desenvolvimento infantil envolvem a construção de diversos


aspectos do comportamento humano em que a linguagem está relacionada, tais como a
memória, o pensamento, o planeamento de acções, enfim, todos os processos mentais. O
estudo da aquisição lexical da criança pode evidenciar essa maturação, pois as palavras
não só designam coisas, mas também exterioriza o aperfeiçoamento das relações e
sistemas cognitivos conforme as experiências e maturidade de cada um.

Conforme vários autores, entende-se que pode haver uma estreita relação entre a
maturação lexical da criança nos primeiros anos de vida e a sua compreensão oral.
Assim, como se lê na (Brochura Desenvolvimento Linguístico p.6) “É possível afirmar
que existe uma relação directa entre o grau de desenvolvimento linguístico à entrada do
1º Ciclo e o sucesso aí alcançado, em particular nos primeiros anos. Concretamente, o
domínio da oralidade é determinante na aprendizagem da leitura e da escrita (…) pelo
que aquele desenvolvimento deve ser estimulado desde o ensino pré-escolar, sendo o
papel do professor do 1º Ciclo crucial.”

Tendo em consideração os princípios explanados e no âmbito da formação do PNEP,


atrevo-me a partilhar uma breve experiência, ainda que vivenciada com um número
bastante reduzido de alunos do 3º e 4º anos, alunos muito particulares, uma vez que são
alunos com dificuldades de aprendizagem, que apoio semanalmente duas vezes, sendo
dois deles de etnia cigana e que manifestam uma assiduidade muito irregular.

Descrição da sessão

Comecei por sensibilizar os alunos para a


tarefa, referindo-me à necessidade de ouvir atentamente a minha leitura da lengalenga “
A Chuva”, para depois desenharem a sua ilustração.

A Chuva

Chove, chove, ping…ping… Chove, chove, ping…ping…


Chove Chuva sem parar. Três nuvens cinza a chorar.

Chove, chove, ping…ping… Chove, chove, ping…ping…


Dois meninos sem brincar. Vejo um arco-íris no ar.

Chove, chove, ping…ping… Chove, chove, ping…ping…


Olha a Terra a rodar. Três chapéus azuis a voar.

Chove, chove, ping…ping… O melhor é desenhar.


(lengalenga adaptada)
Cada aluno fez a ilustração da lengalenga, recontando seguidamente o que
compreenderam do texto, revelando nesta fase falta de muitos pormenores no seu
diálogo.

Depois distribuí o texto que leram colectivamente e compararam com a ilustração feita
anteriormente através do diálogo, concluindo que os desenhos contêm pormenores não
descritos no texto, faltando-lhes outros importantes.

Sugeri que refluíssem sobre uma forma de melhorar o


trabalho, apontando os alunos, quase todos, para a
necessidade de estarem mais atentos a quando da
leitura do texto.

Referimos a importância de tirar notas enquanto se


ouve,

Distribui uma grelha de registo e dialogámos sobre a


estratégia a seguir;

Repetimos a experiência com o texto inicial no qual se


modificaram alguns pormenores, elaborando pequenas
notas, com ajuda da grelha de registo distribuída;

Concretizaram uma nova


ilustração, em função dos
registos efectuados,
comparando de seguida os
dois desenhos;
Dialogámos sobre o desenvolvimento de toda a tarefa, fazendo uma breve avaliação da
mesma e os alunos completaram uma ficha simples de auto-avaliação;

Neste momento fomos um pouco mais longe e continuámos oralmente a lengalenga da


chuva. Os alunos revelaram criatividade e entusiasmo, sugerindo uma cadência de
novos elementos bastante rica.

Continuação da lengalenga, construída oralmente que eu registei por escrito:

Chove, chove, ping…ping… Chove, chove, ping…ping…

A águia a voar. Os alunos a estudar.

Chove, chove, ping…ping… Chove, chove, ping…ping…

A Joana apanha ar. A janela vai lavar.

Chove, chove, ping…ping… Chove, chove, ping…ping…

Eu estou-me a molhar. Salta um gato a miar.

Chove, chove, ping…ping… Chove, chove, ping…ping…

Correm os rios para o mar. Eu agora vou nadar.

Chove, chove, ping…ping… Chove, chove, ping…ping…

Ouço um cão a ladrar. Temos mesmo que acabar.


Reflexão
O ouvir é o primeiro e principal meio de contacto de qualquer falante com a língua e com a
inerente compreensão.

Nesta actividade os alunos inicialmente revelaram falta de concentração e de capacidade


de extraírem informações essenciais a partir do discurso falado. Mais tarde, reconheceram
ultrapassar as dificuldades sentidas utilizando o registo de notas.
Foi uma aula em que os alunos estiveram empenhados e foram capazes de fazer uma
reflexão da aula com alguma consciência.

Formanda: Glória Pinto

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