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SUMÁRIO
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CÂMARA TÉCNICA – PROJETO ANITÁPOLIS [IFC]
1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS
Este estudo vem reforçar a interpretação e o entendimento deste corpo técnico que
representa, de uma forma geral, todas as Comunidades que nos cercam.
Por esta razão, foi elaborada uma análise criteriosa dos documentos disponibilizados pela
Indústria de Fosfatados Catarinenses Ltda. [IFC].
Acreditamos que, ao conhecer este Parecer Técnico, a IFC procederá de forma atenciosa,
revendo todos os itens aqui registrados e nos informando de seus reais resultados
alcançados.
1.1 Apresentação
O presente PARECER TÉCNICO foi elaborado pela Câmara Técnica Projeto Anitápolis [IFC] -
do Comitê de Gerenciamento da Bacia Hidrográfica do Rio Tubarão e Complexo Lagunar,
tendo sua criação, por deliberação da Assembléia Geral deste Comitê de Bacia, no dia
09/06/2009, com o desígnio de fundamentar seu posicionamento acerca dos impactos
ambientais que repercutirão nos recursos naturais/socioambientais, especialmente os
hídricos, da Bacia Hidrográfica de abrangência e competência deste Comitê.
Este trabalho teve como base os dados e as informações fornecidas pela Indústria de
Fosfatados Catarinenses Ltda. (IFC) e pela Fundação do Meio Ambiente do Estado de Santa
Catarina (FATMA), mais especificamente o EIA-RIMA e o Processo Administrativo que
redundou na Licença Ambiental Prévia (LAP) do Empreendimento em comento.
Este Parecer Técnico inclui uma descrição geral das características do empreendimento com
foco nos aspectos relevantes e correlacionados com os recursos hídricos da Bacia
Hidrográfica e suas implicações, além de documento1 protocolado pela ONG Montanha Viva
requerendo o pronunciamento do Comitê de Bacia.
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Trata-se de uma petição da ONG Montanha Viva ao Ministério Público Federal onde um dos seus pedidos é de
que fosse determinada “ 2. A manifestação expressa dos membros da Comissão Consultiva do Comitê da Bacia
Hidrográfica do Rio Tubarão e do Complexo Lagunar, conforme previsão instituída no Art. 4º., do Regimento
Interno e no Decreto nº 4.671, de 28 de agosto de 2006.”
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1.2 Escopo
O escopo deste trabalho se restringe a análise de alguns aspectos de significativa relevância
relacionados aos recursos hídricos da Bacia Hidrográfica da Área de influência do
empreendimento.
Segundo o EIA – Vol. II, fls. 145/146 -, são definidos três níveis de abrangência, a saber:
A área diretamente afetada (ADA) é definida como a soma das áreas que sofrerão intervenção direta em
qualquer uma das etapas do ciclo de vida do empreendimento. No caso do PROJETO ANITÁPOLIS, esta área é
de 360,5 ha e é constituída por:
- área da mina, pilhas de estéril, usina de concentração e unidades auxiliares;
- área das unidades de produção de ácido e de produção de superfosfato simples;
- área das barragens e das bacias de rejeitos;
- áreas de canteiros de obras; e
- áreas administrativas e de apoio;
Fazem parte também da ADA o terminal de recebimento de enxofre no porto de Imbituba e o terminal
ferroviário de expedição de superfosfato simples em Lages, ambas não incluídas na área de 360,5 ha do
PROJETO ANITÁPOLIS.
A área de influência direta (AID) é definida como aquela onde poderão ser detectados os impactos diretos do
empreendimento. Impactos diretos, por sua vez, são aqueles que decorrem das atividades ou ações
realizadas pelo empreendedor ou empresas por ele contratadas, ou que por eles possam ser controladas. O
Plano de Trabalho indica que esta AID será delimitada “a partir da análise das ações impactantes (...) do
empreendimento em termos de transporte de matéria e energia”. Por outro lado, é certo que parte dos
impactos sociais e econômicos ocorrerão no âmbito do Município de Anitápolis que deve, portanto, ser
definido como AID para fins de realização de estudos acerca do meio antrópico. Entretanto, dada à presença
da vila de São Paulo dos Pinheiros, junto ao limite do empreendimento, os estudos sobre esta comunidade
foram mais detalhados do que aqueles realizados no plano municipal.
A área de influência indireta (AII) é entendida como aquela onde poderão ser notados os impactos indiretos do
empreendimento. Impactos indiretos são aqueles que decorrem de um impacto direto causado pelo projeto
em análise, ou seja, são impactos de segunda ou terceira ordem. Os impactos indiretos são mais difusos do
que os diretos e se manifestam em áreas geográficas mais abrangentes. Nesta área, os processos naturais
ou sociais ou os recursos afetados indiretamente pelo empreendimento também podem sofrer grande
influência de outros fatores não relacionados ao empreendimento.
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Esta barragem está prevista para ser colocada acima da área de emissão do efluente e no
próprio Rio Pinheiros. Há uma novidade em se tratando de melhor tecnologia disponível que
determina/condiciona colocar as captações de afluentes em posições que estejam dentro
das áreas de influência dos efluentes. Isto é o que manda a boa técnica operacional em
termos de qualidade.
Com esta prática o empreendedor estaria evidenciando que confia no próprio efluente,
colocando o ponto de captação após a barragem de depósitos dos rejeitos por onde saem os
efluentes dessa bacia. Entretanto, esse ponto de captação encontra-se bem acima da área
de influência do depósito de rejeitos.
O depósito de rejeitos deve apresentar uma emissão de fosfato relacionada com o Produto
de Solubilidade do Fosfato de Cálcio no pH de emissão. Essa concentração é bem conhecida
da área agronômica e apresenta um pico de maior concentração em pH 7,2 e concentrações
pouco relevantes apenas a pH abaixo de 5,6 e acima de 7,5. Portanto, o efluente deveria ter
um pH ideal conveniente em pH 7,5 a 8,5 - faixa de pH com baixos teores de fosfato e dentro
do pH aceito para efluentes industriais. Não parece ser o que está sendo proposto, tanto
pela captação acima do ponto de emissão, como pela própria emissão que parece poder
emitir um teor de fosfato excessivo. Entretanto, a análise proposta no item 2.3.2 do EIA-
RIMA – Volume I e seguintes - mostra que há enormes desvantagens operacionais pelo
volume a ser deslocado em inverter estas barragens.
1.4.2.2. Lavra
1.4.2.2.1. Minério Residual
O depósito de fosfato que se encontra na porção mais superficial, intemperizado, é
denominado depósito residual. A operação de lavra do depósito de minério residual, por ser
friável, possibilitará desmonte mecânico, sem utilização de explosivos.
Segundo o planejamento atual serão lavrados na lavra do minério primário cerca de 22 milhões de toneladas
de minério primário com teor médio de P2 O5 de 6%, em 9 (nove) anos de operação. O volume de estéril
gerado da lavra do minério primário também será destinado ao depósito de estéril, analogamente ao que será
feito com o estéril proveniente das atividades de lavra do minério residual. (PROMINER, 2006)
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2 ANÁLISES TÉCNICAS
[...] O processo produtivo básico de SSP é a partir de concentrado de apatita (Ca10(PO4)6F2 ) com adição de
ácido sulfúrico (H2S04) para produção de fosfato monocálcico (Ca(H2PO4).2H2 O) e fosfato bicálcico
(Ca2 HPO4.2H2 O).
Logo, a formulação [Ca10(PO4)6F2] para o processo produtivo do SSP mostra que o minério
tem fluorapatita. Isso contradiz o discurso dos representantes da IFC que, em diversas
reuniões, afirmaram que o minério não contém flúor. Na fórmula, as valências positivas são
20 (duas para cada átomo de cálcio) e as valências negativas ficam em 18 de fosfato (três
para cada radical) e 2 para o flúor. O minério não está hidratado, pois, seria de origem
vulcânica.
A produção prevista de Superfosfato Simples será de 500 mil ton/ano, segundo o EIA -
Volume I, item 2.2.3, fls. 25/26 - Impactos Econômicos, este valor advém da soma direta do
minério processado e do ácido sulfúrico, conforme a figura 2.2.3.1 que segue no item citado
e abaixo ilustrado.
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A estequiometria para o fosfato bicálcico é 196:310 o que poderia ser relacionado com o que
está relatado no item de água efluente, em que um pH um pouco maior evita a perda de
fosfato eventual no efluente. Entretanto, informa-se que o material não entra em contato
com água e não há descartes. Portanto, ficará em pH mais próximo de 4,5 ou mais baixo (o
gesso associado tende a se estabilizar em pH ao redor de 4,5 e o fosfato um pouco superior a
isso) e o Fosfato biácido de cálcio indica uma opção por pH mais baixos.
Supondo que haja granulação ou peletização do material com reagentes, qual a ordem de
adição? A adição simples de ácido deverá desprender alguns materiais associados como o
ácido fluorídrico e, por isso, entende-se a adição maior de ácido sulfúrico, também
justificado pela formação do fosfato biácido.
Entretanto, se entrar em contato com materiais que lhe modifique o pH, isso representará
futura liberação de fosfato que poderá alcançar os rios e o lençol freático. É bom
recomendar um bom estudo neste sentido e, por outro lado, como em diversos
pronunciamentos se falou que não dispõe de flúor (não se trataria de fluorapatita) é
estranho que, pela segunda vez, a descrição mostre que se trata de fluorapatita e na adição
intensiva de ácido, o ácido fluorídrico deverá ser liberado e a demonstração de que isso será
contido deve ser eficazmente realizada, pois, o fluoreto pode afetar as turbinas das
pequenas centrais hidrelétricas – PCHs, instaladas no Rio Braço do Norte e, também, a
própria usina da Tractebel Energia SA.
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Estes mesmos aspectos enumeram impactos classificados pelo empreendedor como sendo
de média importância, os quais implicarão, além dos impactos acima elencados, riscos de
contaminação do solo, deterioração da qualidade das águas superficiais, perda de habitats
aquáticos, criação de ambientes bênticos e interrupção da circulação de peixes do Rio dos
Pinheiros (efeito barreira).
Na figura abaixo podemos ter uma visão geral do empreendimento e a localização dos
barramentos:
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Serão construídas duas barragens de rejeito que deverão comportar o volume de rejeitos provenientes do
beneficiamento do minério residual. Os rejeitos serão encaminhados para a primeira barragem por 15 anos e
para a segunda barragem por mais 9 anos; e o volume de rejeitos provenientes do beneficiamento do minério
primário que serão encaminhados para a segunda barragem por mais 9 anos. Desta forma, a primeira
barragem será utilizada por 15 anos e a segunda barragem por 18 anos.
É previsto que a barragem de rejeitos a jusante terá atingido, ao final do Projeto, uma área
de 43.750,00m² ou 43,75ha que conterá um reservatório – bacia de rejeito – com uma
superfície de aproximadamente 614.200,00m² ou 61,42ha. A evolução do assoreamento se
dará em 03 (três) etapas, conforme figuras abaixo extraídas do desenho 232B-RIMA-10 -
ETAPAS DE ASSOREAMENTO, contidas no anexo de desenhos do Volume VI do RIMA.
Tabela 1 - Resumo dos quantitativos inerentes às etapas de evolução da Barragem e Bacias de rejeitos a jusante
Barragem a Jusante
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Barragem a Jusante
Barragem a Jusante
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O eixo da barragem de rejeitos de jusante está localizado cerca de 5km distante da área da unidade industrial,
no vale do rio dos Pinheiros, em um trecho onde o mesmo se estreita. O eixo da barragem de rejeitos de
jusante dista cerca de 500m das construções mais próximas da localidade de São Paulo dos Pinheiros,
existentes no local de afluência do Rio dos Pinheiros no rio Braço do Norte.
E quando é abordado nas fls. 8 e 9 do relatório RHAMA, constante do ANEXO do Volume XIII,
do EIA-RIMA, é descrito que:
No trecho do Rio dos Pinheiros, a jusante da Unidade Industrial, é prevista a construção de uma barragem,
cujo reservatório deverá receber os rejeitos da usina de beneficiamento do minério. Esta barragem terá uma
Bacia Hidrográfica de 31,9km² (Seção B na figura 3.1). O sistema deve manter uma vazão mínima para jusante
estimada em 537m³/h1.
barragem de rejeitos, além dos rejeitos e lamas, na forma hidráulica, cuja vazão de descarte
na bacia de rejeitos é de aproximadamente 327m³/h com concentração de fósforo, estimada
em Projeto, de 13,7mg/L , deverá receber ainda uma vazão estimada em 400m³/h
proveniente de descargas da Unidade Industrial, com um teor de fósforo também estimado
de 0,49mg/L, correspondente à drenagem da área.
Por fim, não podemos nos esquecer que o Rio dos Pinheiros é a base e o eixo originário das
bacias e barragens de rejeitos, tanto a montante quanto a jusante e continuará seu curso
pelas bacias e permeará pelas barragens carreando partículas sólidas com potencial ativo
degradador dos cursos d`águas e suas formas de vida dependentes.
Na barragem de rejeitos resta a questão do fósforo, contido na lama e nos rejeitos em concentrações acima
dos limites para as águas superficiais. Mesmo que durante o tempo de trânsito da água superficial na
barragem seja possível a diminuição da concentração desse parâmetro, existe a possibilidade da água
superficial com alta concentração de fósforo recarregar o aqüífero, na porção mais a montante do
reservatório. Neste caso, a contaminação vai ocorrer e se propagar no meio fraturado e para avançar para o
meio ambiente terá obrigatoriamente de passar sob o eixo da barragem.
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Bacia/Barragem de Rejeitos a
montante
Bacia/Barragem de Rejeitos a
Jusante
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2.3 Climatologia
As descrições relativas à climatologia (principalmente os dados concernentes à precipitação
e às vazões dos rios) não são consistentes e/ou não representam períodos que possam
caracterizar climatologicamente a região em foco. Portanto, não permitindo conclusões
sobre a viabilidade do empreendimento.
I. Volume II, fl. 169, cita “A área de estudo está situada na porção leste do Estado de
Santa Catarina. A região está sob o domínio do clima subtropical úmido, com duas
épocas distintas: o verão e o inverno.” Há que se destacar o grau de
desconhecimento da equipe que elaborou o estudo acerca do clima da nossa
região, ao esquecerem do outono e da primavera. Verão e Inverno são
característicos do norte, nordeste e centro-oeste do País.
II. Volume II, fl. 169, ao descreverem as massas de ar que dominam a região, citam
“No verão predominam as massas de ar equatoriais e tropicais (Massa Equatorial
Continental, originária da planície amazônica, a Massa de Ar Tropical e a Massa
Tropical Continental). A influência da Massa Equatorial Continental, sobretudo entre
os meses de dezembro e fevereiro, provoca as altas de temperatura e umidade e
intensas chuvas convectivas (chuvas provocadas pelo aquecimento diurno)”.
Esquecendo-se da Massa Tropical Marítima que na Primavera é dominante,
promovedora do tradicional vento Nordeste.
III. Volume II, fl. 171, cita “Nos QUADROS 4.2.4.1 e 4.2.4.2 são apresentados dados
meteorológicos normais da Estação Climatológica de São José (Grande
Florianópolis), obtidos junto à EPAGRI/CIRAM. Esta é a estação localizada mais
próxima à área de estudo, distante cerca de 80km, e que apresenta dados
meteorológicos mais completos, que poderiam eventualmente ser extrapolados
para a área de estudo.”
Na tabela que segue, a primeira coluna (coluna 1) refere-se aos dados do relatório
da IFC e a coluna 2 e a Coluna 3 foram as que confeccionamos com dados da mesma
estação disponibilizados pela ANA, para mostrar que o trabalho não foi realizado
com a devida atenção.
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IV. Outros tópicos que merecem destaque e comentários referem-se a textos extraídos
do Volume IV - ANEXO 10 - Estudo de dispersão poluentes atmosféricos:
a. Na fl. 3, é descrito:- “Inicialmente, por intermédio de um pré-processamento
das informações produzidas pelas observações meteorológicas horárias
provenientes de local representativo da área de estudo, são obtidos: a
velocidade média do vento (m/s); a direção do vento (graus); o expoente do
perfil do vento (adimensional); a temperatura do ar (Celsius); a altura da
camada de mistura (m) e o gradiente vertical de temperatura potencial, que
são os parâmetros meteorológicos de entrada necessários ao modelo.”
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CÂMARA TÉCNICA – PROJETO ANITÁPOLIS [IFC]
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Cabe aqui destacar que os valores citados não condizem com os indicados nos registros da
ANA, conforme apresentados abaixo:
Divisa-Anitápolis: 125,0 mm p/ 2 anos [2000-2001]
Grão-Pará: 102,8 mm p/ 2 anos [1972-1974]
Orleans: 131,0 mm p/ 2 anos [1971-1972] e 202,0 mm para 100 anos [1974]
Anitápolis: 113,0 mm p/ 2 anos [1978-1980] e 126,0 mm p/ 2 anos [1995-1995]
São Ludgero: 205,0 mm p/ 100 anos [1974]
Vargem do Cedro: 119,0 mm p/ 2 anos [1995-1997]
Rancho Queimado: 214,0 mm p/ 100 anos [1995]
Ou seja, os estudos foram realizados com uma série curta, fato este que não
representa as reais condições, pois, os maiores índices médios de precipitação
e, automaticamente, os níveis dos rios ocorreram a partir de 1976 até 1989,
coincidindo com a fase quente da oscilação decadal do Pacífico.
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CÂMARA TÉCNICA – PROJETO ANITÁPOLIS [IFC]
2.4 Hidrogeologia
[...] estabelecer o fluxo residual que deve ser mantido a jusante da barragem de rejeitos; simular perfis de
escoamento no trecho da captação no Rio dos Pinheiros; determinar a capacidade de regularização do rio no
eixo de implantação da barragem; simular o enchimento do reservatório; e realizar o pré dimensionamento
das estruturas de vertimento, desvio e fluxo residual da barragem de rejeitos. [...]
[...] na área de estudo, é comum a ocorrência de Cambissolos – Associação Ca-26. Apresentam baixa
fertilidade natural e sérios riscos à erosão se a cobertura vegetal for retirada e impedimentos ao uso de
implementos agrícolas, por estarem em áreas de declividade acentuada [...]
Toda a estrutura hidráulica, ao barrar um rio, fica sujeita aos esforços oriundos das águas de
infiltração que nem sempre se deslocam em direção paralela ao eixo das estruturas,
procurando alívios provocados por condições geológicas e/ou construtivas.
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[...] dispõe-se de poucas informações a respeito do sistema aqüífero, visto que geralmente a captação é
realizada através de poços escavados de pequena profundidade. No caso dos sedimentos aluviais, que
ocorrem no domínio das rochas graníticas, os níveis de água subterrâneas são bastante variáveis,
geralmente à profundidades superiores a 3m. [...]
[...] a área do Projeto encontra-se inserida no Domínio Morfoestrutural denominado “Embasamento em Estilos
Complexos”. Esta área caracteriza-se por possuir grande complexidade geológico-geomorfológica e por estar
próxima à transição de dois compartimentos principais que condicionam as formas de relevo do Estado de
Santa Catarina. Trata-se dos relevos ligados à Bacia Sedimentar do Paraná, com derrames basálticos típicos
do planalto [...].
Ressalta-se, conforme apresentado na fl. 178 – EIA, VOL. II, que a alimentação do aqüífero se
dá através de fraturas existentes no granitóide e rochas alcalinas:
[...]Esse sistema aquífero é constituído por vários termos granitóides aparentemente isótropos. Também
fazem parte deste sistema os diferentes tipos litológicos que constituem o Complexo Alcalino de Anitápolis.
[...].
[...]Os aquíferos do tipo fraturado possuem vulnerabilidade natural e riscos de contaminação altos, por
armazenarem água em fraturas que se comunicam com a superfície do terreno. Portanto, esses aqüíferos
ficam expostos a qualquer fonte de poluição que se instalar sobre eles, na superfície, mesmo que a velocidade
dos fluxos contaminantes seja tão baixa que tais contaminações levem anos para serem detectadas. No
interior da estrutura circular correspondente ao Complexo Alcalino de Anitápolis, onde ocorre a lavra de
minério, o risco de contaminação é alto, porque as fraturas existentes geralmente são abertas e, desta
forma, permitem que a água circule nelas. [...].
Segundo informações extraídas do REL-IFC-001-08, fl. 44 que integra o Volume XII, do EIA-
RIMA, ao preferir o rebaixamento do nível d`água na fase de operação de lavra através da
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CÂMARA TÉCNICA – PROJETO ANITÁPOLIS [IFC]
[...] Na região a jusante do maciço da barragem poderá ocorrer a percolação, principalmente no meio
fraturado, de água com algum tipo de influência da composição química dos rejeitos. [...].
Analogamente, as informações extraídas do REL-IFC-001-08, fl. 45, que integra o Volume XII,
do EIA-RIMA, nos dão conta de que na fase de Desativação/Descomissionamento ocorrerá a
“diminuição da disponibilidade hídrica, sendo esta restabelecida, com a finalização do
Projeto”, pois, acontece a recuperação do aqüífero. Por outro lado, “as surgências afetadas
pelo rebaixamento do nível d`água não têm uma recuperação imediata”. Destaca-se, ainda,
que a área de Implantação do Empreendimento se encontra em cota montante de aqüíferos,
de águas termo-mineral, com exploração turístico-econômica, dos quais pode possuir
influência direta quanto ao volume e qualidade deste aqüífero, em função do risco iminente
de contaminação difusa decorrente das atividades do empreendimento.
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2.5 Hidrografia
2.5.1. Das análises da qualidade das águas superficiais (parâmetro Fósforo)
Na análise do EIA – Vol. II, fl. 187/191, extraem-se algumas considerações importantes feitas
pelo empreendedor.
Numa primeira abordagem sobre a qualidade das águas superficiais realizada em estudos no
ano de 2005, descreve que:
Estas análises foram realizadas em amostras de água coletadas em 06 (seis) pontos distintos
na área do empreendimento e entorno, cuja localização é mostrada nos desenhos 232B-EIA-
01 a 232B-EIA-03, do Volume V. Segundo o empreendedor:
As análises foram realizadas pelo Laboratório Integrado do Meio Ambiente - LIMA, do Departamento de
Engenharia Sanitária e Ambiental da Universidade Federal de Santa Catarina UFSC), seguindo as
recomendações do Standard Methods – 20th edition, e os resultados foram analisados de acordo com a
Resolução CONAMA Nº 357, de 17 de março de 2005.
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Noutra abordagem, o empreendedor colaciona informações (fl. 190, do EIA – Vol. II) de
estudos ambientais atinentes ao empreendimento realizados no ano de 1989, relatando
que:
[...] por ocasião da elaboração de estudos ambientais no ano de 1989, foram realizadas coletas em outros 4
(quatro) pontos de amostragem, H1, H2, H4 e H5, assim localizados:
Os resultados das análises laboratoriais da qualidade das águas superficiais das amostras
coletadas em 1989 estão elencadas no quadro abaixo, extraídas da fl. 190, do EIA – Vol. II:
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CÂMARA TÉCNICA – PROJETO ANITÁPOLIS [IFC]
Em 25 de janeiro de 1988 foram realizadas duas coletas d’água nos pontos H2 e H4, cujos laudos estão
apresentados no ANEXO 6, sendo encontradas concentrações de fosfato total de 0,14 mg/l no ponto H2 (no rio
dos Pinheiros) e de 0,055 mg/l no ponto H4 (no rio Braço do Norte). A concentração mais elevada de fósforo
total observada no rio dos Pinheiros (ponto A1) provavelmente se deve à presença da própria jazida de
minério apatítico.
Fato que chama a atenção quando se coteja os resultados das análises de águas
apresentados nos estudos ambientais pelo empreendedor com os dados/resultados
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CÂMARA TÉCNICA – PROJETO ANITÁPOLIS [IFC]
O sistema 1 é composto pelas estações denominadas P1, P2, P3, P4, P5 e P6.
Nos dois pontos P1 e P2, consoante figura abaixo, fora indicada a presença de Fósforo Total
com concentrações menores que 0,1 mg/L, vide figuras 2.28 e 2.29 abaixo:
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Realça, ainda, o empreendedor, que nos quatro pontos de amostragem de águas superficiais
coletadas e analisadas em 1989 as concentrações de fósforo total estiveram inferiores a 0,1
mg/l.
Em 25 de janeiro de 1988 foram realizadas duas coletas d’água nos pontos H2 e H4, cujos laudos estão
apresentados no ANEXO 6, sendo encontradas concentrações de fosfato total de 0,14 mg/l no ponto H2 (no rio
dos Pinheiros) e de 0,055 mg/l no ponto H4 (no rio Braço do Norte). A concentração mais elevada de fósforo
total observada no rio dos Pinheiros (ponto A1) provavelmente se deve à presença da própria jazida de
minério apatítico.
É certo que campanhas em 1988, 1989, 2005, 2007 e 2008 foram realizadas em diversos
pontos e em datas e períodos distintos, mas, todas na mesma região do empreendimento e
entorno.
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Neste sentido, diante das discrepâncias entre as diversas análises cotejadas, causa
estranheza e incerteza para fundamentar de forma conclusiva, sem antes realizar novas
campanhas de amostragem e análises físico-químicas pertinentes das águas superficiais da
região do empreendimento.
Caso o cenário atual, no que se refere ao parâmetro fósforo, não seja condizente com o
apresentado no EIA-RIMA, resultante das campanhas do período de 19.06.2007 a
16.12.2008, ter-se-á outro quadro a ser analisado frente à legislação vigente, bem como
serão outros os resultados das simulações e as implicações que impactarão negativamente
na qualidade dos recursos hídricos da região de abrangência do Comitê de Gerenciamento
da Bacia Hidrográfica do Rio Tubarão e Complexo Lagunar.
No Rio Braço do Norte, a jusante da confluência com o Rio dos Pinheiros, a concentração de fósforo deverá
ser, em 90% do tempo, menor ou igual a 0,37 mg/l no cenário futuro, em comparação com a concentração
de 0,16 mg/l na situação atual. Por outro lado, no mesmo rio Braço do Norte, imediatamente a jusante de sua
confluência com o rio Povoamento, os valores de concentração de fósforo são 0,17 mg/l e 0,11 mg/l,
respectivamente, para a situação futura, com o empreendimento e para a situação atual.
Já no item 1.5. [item 5:- Impacto no Rio Braço do Norte], fls. 8 e 9, do relatório de
esclarecimentos que integra o Volume X, do EIA-RIMA, pode-se evidenciar mais uma
contradição no que se refere ao impacto causado nos cursos d`águas, tendo em vista o
lançamento de efluentes com altos teores/concentração de fósforo, no caso da implantação
e operação do empreendimento em tela.
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CÂMARA TÉCNICA – PROJETO ANITÁPOLIS [IFC]
Assim, na operação do empreendimento, se mantido um volume mínimo de água livre na bacia de rejeitos de
500.000 m³ e tratados os rejeitos de flotação com sulfato de alumínio (o que corresponde às especificações
atuais de Projeto), em 100% do tempo o teor de fósforo no rio Braço do Norte ficará abaixo de 0,7 mg/l, em
95,2% do tempo abaixo de 0,4 mg/l e em 90% do tempo as concentrações ficarão abaixo de 0,33 mg/l. Nas
condições atuais já foram verificados valores de concentração de fósforo na ordem de 0,4 mg/l.
Por outro lado, rechaça o empreendedor que, consoante o contido no relatório, do Volume
XIV, fl. 18 – respostas à SDS do EIA-RIMA (em estudo):
Com relação ao lançamento dos efluentes com níveis de fósforo acima dos parâmetros da legislação
ambiental para o corpo receptor de acordo com a sua classe de usos, o parágrafo 2º do Artigo 10 da
Resolução CONAMA 357/05 indica que valores máximos de fósforo poderão ser alterados em decorrência de
condições naturais, ou quando estudos ambientais específicos, que considerem também a poluição difusa,
comprovem que esses novos limites não acarretarão prejuízos para os usos previstos no enquadramento do
corpo de água.
Portanto, este Projeto se enquadra dentro desta exceção do Artigo 10, conforme estudos ambientais
apresentados à FATMA.
O fato é que, por sua vez, a FATMA liberou a LAP condicionando ao atendimento da
legislação vigente e, porém, permitiu que fossem lançados efluentes com concentrações
muito acima dos limites toleráveis, mas, não limita o excedente. Esta omissão,
implicitamente, deixa livre o empreendedor para lançar no Rio dos Pinheiros efluentes sem
limitação alguma do teor de fósforo, o que certamente acarretará em degradação ambiental
de grandes proporções e de consequências irreversíveis e danosas que, de alguma forma,
afetará todas as condições de vida da Bacia Hidrográfica do Rio Tubarão e Complexo
Lagunar.
Na prática, haverá formações de algas que, em diversas condições, podem entrar em stress e
propiciar a formação de toxinas redundando em prejuízos a saúde pública, para os
habitantes das cidades a jusante do empreendimento que se abastecem desta água.
Deve-se acrescentar que ocorrerão situações tanto de grandes oxigenações por agitação e,
portanto, desfavoráveis à criação de algas como, situações de baixa agitação nas pequenas
centrais hidrelétricas - PCHs com ambiente propício à criação de algas. Cabe destacar que as
algas são sensíveis às concentrações de fósforo acima de 0,002 mg/l.
Outro ponto que deve ser revisado pelo empreendedor é a indicação dos valores de
concentração colocados nas tabelas acima, por valores em carga que atendem melhor à
normatização disponível (melhor tecnologia).
33
CÂMARA TÉCNICA – PROJETO ANITÁPOLIS [IFC]
2.6 Radioatividade
Conforme análise do Anexo 06 – Relatório do CNEN1 – Vol. XI – anexo do Volume X, do EIA,
da IFC, está clara a preocupação da Fundação do Meio Ambiente - FATMA – e, também, por
populares quanto à presença marcante de atmosfera radioativa, o que vem somar forças ao
parecer em tela.
Segundo relatado na página 06, item 1 – Introdução desse Documento, Anexo 06 – Relatório
do CNEN1, destacado do Volume XI que é anexo do Volume X, do EIA, a Empresa só
demonstrou pertinência nesta questão, mediante pressão:
Em novembro de 2007 a Indústria de Fosfatos Catarinense Ltda – IFC – procurou o CDTN relatando o
desenvolvimento ou o reinício de ações visando à implementação de Projeto de mineração e beneficiamento
de fertilizantes, em unidade industrial a ser instalada na região de Anitápolis, Santa Catarina – PROJETO
ANITÁPOLIS.
Dentro do processo de licenciamento da referida instalação, a FATMA solicitou à IFC que fossem realizados
estudos visando à caracterização do potencial de radioatividade do minério a ser explorado (minério
residual), do minério marginal (minério de rocha), do estéril e dos rejeitos.
Segundo a IFC, no processo de licenciamento da referida instalação, durante a audiência pública, houve
questionamentos da população relativos à presença de material radioativo associado ao minério a ser
lavrado. Esses questionamentos motivaram a IFC a solicitar ao CDTN um levantamento expedito sobre o grau
de ocorrência de material radioativo associado às diversas fases do processo industrial.
Com muita urgência, esta avaliação merece atenção, conforme descrito nos itens abaixo:
Item 04, página 11 – Os trabalhos de campo foram realizados no período de 2 a 6 de dezembro de 2007.
Foram coletadas amostras de solo residual e de rocha para determinação das concentrações de urânio, tório,
radio-226, rádio-228 e PB-210. Esses ensaios ficaram sob a responsabilidade da IFC, que contratou o
Laboratório de Poços de Caldas – LAPOC/CNEN para realização dos mesmos. Devido à urgência dada pela IFC
para a realização dos trabalhos de campo, o levantamento bibliográfico foi executado após a realização
desses.
Item 4.2, página 16 – O caráter expedito do trabalho, aliado à escassez de estradas, caminhos e trilhas na
área de estudo, resultaram numa cobertura radiogeológica limitada, acarretando consequentemente num
reconhecimento radiogeológico simplificado, mas que atende aos objetivos do trabalho.
Item 4.4, página 50 – Recomenda-se, entretanto, para uma melhor caracterização do minério e definição
dos procedimentos de lavra e de preparação do minério de alimentação da usina de concentração, assim
como dos procedimentos a serem seguidos pela IFC relativos ao atendimento do estabelecido na Norma 4.01,
que seja feita uma investigação mais detalhada, caracterizando as atividades específicas dos radionuclídeos
avaliados por unidade geológica.
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CÂMARA TÉCNICA – PROJETO ANITÁPOLIS [IFC]
Segundo resultados apresentados pela Comissão Nacional de Energia Nuclear - CNEN e pelo
Centro de Desenvolvimento de Energia Nuclear - CDTN, a caracterização e a avaliação do
potencial de radioatividade presentes ao longo de todas as etapas do processo industrial não
atinge os 10Bq/g, conforme item 5, página 52, extraído do Anexo 06 – Relatório do CNEN1
destacado do Volume XI que é anexo do Volume X, do EIA:
Recomenda-se finalmente que a IFC submeta a DRS/CNEN as Informações Preliminares constantes da Norma
CNEN 4.01 visando à certificação nuclear do empreendimento.
35
CÂMARA TÉCNICA – PROJETO ANITÁPOLIS [IFC]
Os dados citados abaixo referentes à flora e à fauna, do Estudo de Impacto Ambiental – EIA,
da INDÚSTRIA DE FOSFATADOS CATARINENSE LTDA (IFC) são do Volume II, do Diagnóstico
Ambiental.
O presente documento buscou fazer uma análise crítica a respeito do EIA-RIMA apresentado
pela BÜNGE Fertilizantes S.A. e YARA Brasil Fertilizantes S.A. O enfoque desta análise está
pautado no impacto à flora da região com a instalação do complexo extrativista de rocha
fosfática e da produção de fertilizantes na região de Anitápolis/SC.
Por se tratar de uma região de Mata Atlântica, com proteção garantida pela Lei 3.285/92, a
polêmica tem gerado grandes discussões, protestos e manifestações da população e
ativistas.
Este trabalho se isenta de qualquer vínculo com manifestantes e ativistas. Busca-se aqui
apenas alertar para alguns pontos que devem ser aprofundados a fim de se tomar uma
atitude segura frente a tal impasse.
A leitura do Projeto revelou alguns pontos discutíveis no que diz respeito à flora inventariada
na região do complexo. Sobretudo, não se levou em consideração a necessidade de se
preservar as poucas áreas que restam de Mata Atlântica intocada e sua diversidade presente
na região.
36
CÂMARA TÉCNICA – PROJETO ANITÁPOLIS [IFC]
Outras espécies que foram identificadas também merecem destaque: a canela sassafrás,
peroba-vermelha, a canela fogo, tanheiro, o cedro, a araucária (IBAMA,2009). Além disso, a
ocorrência de Aechmea kleinii (Bromeliaceae), uma planta considerada “rara” reforça a
necessidade de se rever as propostas do Projeto quanto ao manejo das espécies localizadas
na região do empreendimento.
Estas e outras espécies serão abatidas em grande quantidade, uma vez que o EIA relata a
supressão de 94 espécies diferente em apenas 1,6 hectares de mata nativa.
O número assusta quando se analisa a legislação que proíbe a extração de madeira de área
de preservação permanente. Cabe aqui citar o Artigo 6º, Capítulo II, da Lei 11.428/06, que
discursa sobre os objetivos e princípios do regime jurídico do Bioma Mata Atlântica:
Art. 6o A proteção e a utilização do Bioma Mata Atlântica têm por objetivo geral o desenvolvimento
sustentável e, por objetivos específicos, a salvaguarda da biodiversidade, da saúde humana, dos valores
paisagísticos, estéticos e turísticos, do regime hídrico e da estabilidade social.
De modo algum, baseado no Artigo acima destacado, pode-se aceitar a exploração linear de
tal recurso, visto que inviabiliza a sustentabilidade.
Mas qual a importância de existir uma lista oficial de espécies ameaçadas? Pressupõe-se que
a lista deva servir de instrumento para melhor regular as políticas de exploração dos
recursos naturais, mantendo a biodiversidade e primando pela preservação das populações
mais instáveis. No entanto, parece não ser o que se observa no referido documento,
elaborado a pedido da IFC – Projeto Anitápolis, e dos órgãos públicos responsáveis pela sua
instalação.
Vale ressaltar ainda o impacto que a extração do minério poderá acarretar nos recursos
hídricos da região. Estudos apontam para a presença de Urânio nos minérios fosfatados. É
preciso aprofundar os estudos nesta área uma vez que o Complexo Lagunar recebe água do
Rio Tubarão e este do Rio Braço do Norte. Conseqüentemente, a deposição de rejeitos
fosfatados em meio hídrico poderá acarretar a eutrofização e o envenenamento (por
radionuclídeos e metais pesados) na Lagoa Santo Antônio, em Laguna. O acúmulo de
materiais radioativos na Lagoa Santo Antônio poderá representar sério risco aos
consumidores de peixes e outros pescados da região, bem como risco a todas as espécies da
biota local.
Sustenta-se, com esta análise, a discussão pública dos objetivos da instalação de tal
empreendimento, numa tentativa de se desenvolver alternativas mais viáveis para a
37
CÂMARA TÉCNICA – PROJETO ANITÁPOLIS [IFC]
O empreendedor, por meio do relatório – Anexo 04-PT Flora e Fauna que integra o Volume
XI-A, por sua vez é parte do Volume XI que é Anexo do Volume X, ao concluir sobre as
medidas mitigadoras e compensatórias que atenderão as 05 (cinco) espécies vegetais
ameaçadas de extinção existentes na área do Projeto Anitápolis, destaca o seguinte sobre a
Araucária:
Araucária – quase todos os indivíduos existentes na ADA foram plantados. A coleta de sementes deverá
ser criteriosa, pois, se corre o risco de coleta de material aparentado devido à grande estruturação
familiar existente para a espécie, causando efeitos endogâmicos nas futuras gerações; (grifo nosso)
Contudo, na diligência técnica de vistoria efetuada no dia 28 de agosto de 2009, pela equipe
da Câmara Técnica do Comitê de Gerenciamento da Bacia Hidrográfica do Rio Tubarão e
Complexo Lagunar que subscreve este parecer, ao contrário do que recomenda o relatório e
o tópico acima referenciado, presenciaram-se vestígios de um legítimo crime ambiental
(poderia se dizer, qualificado) contra algumas araucárias. O procedimento criminoso
chamado anelamento que consiste em descascar a base do tronco da araucária com a
finalidade de obstruir os vasos condutores de seiva, até que a mesma seja disimada. É
lamentável e incorre em contradição ao exposto na fl. 434 – Item 6.2.2 do relatório, do
Volume III, do EIA-RIMA, que versa sobre os Programas de Manejo da Flora:
coleta de indivíduos jovens das espécies arbóreas ameaçadas de extinção (canela-preta, canela-sassafrás e
araucária) das áreas de supressão e sua transferência das áreas de interferência da mina e da barragem de
rejeitos para o viveiro florestal ou para os locais de plantio de enriquecimento que serão realizados nas
Reservas Legais e nas áreas de compensação ambiental da propriedade da IFC em Anitápolis; (grifo nosso)
38
CÂMARA TÉCNICA – PROJETO ANITÁPOLIS [IFC]
39
CÂMARA TÉCNICA – PROJETO ANITÁPOLIS [IFC]
2.7.2. Fauna
2.7.2.1. Organismos Bentônicos
Assim, no ano 2005, os pesquisadores simplesmente tomaram como padrão dados de 1989,
ou seja, dados de dezesseis anos atrás. Aqui cabe salientar que estes dados são importantes,
mas, ao longo do Rio, em estudo, deveriam ter sido feito mais pontos de coletas, não se
detendo simplesmente a seis pontos e aos dados anteriores.
Neste caso, os dados levantados não são suficientes, pois, não mostram com clareza os
organismos que têm como habitat o recurso hídrico em questão.
Não só a utilização de dados do ano de 1989, como sua metodologia revelam carência de
atualização, uma vez que, nos dias atuais, para diagnosticar organismos bentônicos em
sistemas lóticos possuímos métodos e técnicas mais apropriadas, como: protocolo proposto
por Callisto et al. (2002) que busca avaliar não só o ambiente aquático, mas, também, o uso
e a ocupação do solo na região de entorno da bacia de drenagem dos trechos dos rios. Além
desta classificação deveriam ser avaliados alguns parâmetros físicos e químicos de coluna
d’água (temperatura, pH, oxigênio dissolvido, condutividade elétrica, fósforo total, Nitritos,
Nitratos, Nitrogênio orgânico e amoniacal, sólidos dissolvidos e turbidez.
Há também equipamentos mais eficientes para as coletas, como redes de benton do tipo
Surber (em corredeiras), redes de benton em forma de “D” (sedimento arenoso ou lodoso) e
peneiras com malhas de 0,5cm e 0,2cm (próximo de matas ciliares com macrófitas
aquáticas).
Analisando os quadros 4.3.2.13, da página 298 - Volume II (ano 1989), com o quadro 4.3.2.14
da página, 304 (ano 2005), observou-se que após dezesseis anos a quantidade de
organismos bentônicos cresceu em relação à diversidade, bem como ocorreu uma maior
abundância. Mesmo que alguns organismos resistentes aumentaram neste período, se
observa que isso ocorre em pontos onde a ação antrópica se faz presente, mas, mesmo
assim, o recurso hídrico não foi considerado como poluído, conforme se pode observar pelos
organismos coletados.
40
CÂMARA TÉCNICA – PROJETO ANITÁPOLIS [IFC]
Segundo Rosenberg & Resh, (1993), esta Ordem apresenta grande diferença específica em
relação à tolerância aos poluentes e outros tipos de distúrbios ambientais, o que dá ao
grupo grande importância em programas de monitoramento biológico.
Portanto, os estudos deverão ser mais efetivos com relação a este organismo no recurso
hídrico em questão.
Com relação ao conceito de índice biótico dos ambientes e os quadros 4.3.2.16 e 4.3.2.17,
das páginas 309 e 310 - Volume II – pode-se observar que, no recurso hídrico em questão,
todos os 6 pontos de coletas de benton obtiveram, tanto em 1989 como em 2005, um índice
biótico superior a 5, portanto, foram classificados como ambientes não poluídos, segundo o
método de Tuffery & Verneaux (1968).
Observa-se no Quadro 5.3.2, da página 403 do referido EIA - Volume II - que a perda do
habitat aquático na fase de implantação e de operação tem magnitude média, sendo que na
classificação sobre reversibilidade são considerados irreversíveis. Acredita-se que ocorreu
um erro gravíssimo de escrita, pois, quando existe uma reversibilidade considerada
irreversível, sua magnitude é alta. Se for observado, com maior rigor, também existem erros
em outros itens, a exemplo no referente à redução do estoque de recursos naturais, onde se
percebe que se a magnitude é baixa não deveria a reversibilidade ser irreversível, dentre
outras anormalidades.
Ao finalizar este tópico, esta Câmara Técnica está convicta de que novos estudos deverão ser
efetuados com relação aos organismos bentônicos, bem como se faz necessário investigar a
presença do Gênero Austrotinodes, raríssimo em nosso País.
41
CÂMARA TÉCNICA – PROJETO ANITÁPOLIS [IFC]
2.7.2.2. Mastofauna
2.7.2.2.1. Metodologia
2.7.2.2.1.1. Uso de Armadilhas Fotográficas
Segundo o Volume II, do Estudo de Impacto Ambiental, página 239:
Nos últimos anos, o uso de câmeras automáticas (“câmera traps” ou “camtraps”) (FOTO 4.3.2.2), como
armadilha fotográfica para o levantamento ou censo de animais crípticos ou noturnos, tem sido amplamente
empregado, principalmente em regiões tropicais. Os carnívoros geralmente possuem um território amplo e
ocorrem de maneira dispersa no ambiente e em densidades geralmente baixas, sendo que, muitas vezes, são
estritamente noturnos ou se locomovem somente em áreas com cobertura vegetal densa, o que torna os
métodos de observação direta pouco eficiente.
Por isso, métodos indiretos, como o uso de Câmeras traps e o reconhecimento de rastros
devem ser utilizados para o estudo desses animais. Na campanha de 1989 não foram
utilizadas câmeras automáticas.
Na primeira campanha este método não foi utilizado o que deixou os trabalhos deste grupo
deficitário, já que muitas espécies de mamíferos são de difícil encontro e este método auxilia
muito em inventários de mamíferos, por não estar interferindo diretamente nas áreas de
ocorrência e abrigo deste grupo em específico.
Na campanha de 2005, quatro câmeras automáticas, ou armadilhas fotográficas, foram dispostas em locais
com características favoráveis à ocorrência desses mamíferos, como: “carreiros” de animais silvestres,
sinais recentes de uso, locais de encontro de rastros, fezes ou odor de urina. Visando otimizar as capturas
fotográficas, as armadilhas foram iscadas com bacon, em quatro áreas florestadas na bacia do rio dos
Pinheiros, nas coordenadas UTM 0.688.230/6.920.705; 0.688.168/6.920.541; 0.687.310/6.920.932 e
0.689.822/6.916.303. As coordenadas foram obtidas em campo com GPS portátil.
O uso de ceva para a atração de animais é muito importante, já que muitas das espécies
quando saem à noite é para a procura de alimento. Neste trabalho apenas um tipo de ceva
foi utilizado (bacon). O correto seria utilizar um número muito maior de tipos de cevas para
a atração de outras espécies, a exemplo das espécies que se alimentam de frutas, carnes,
sementes, entre outros.
42
CÂMARA TÉCNICA – PROJETO ANITÁPOLIS [IFC]
Figura 11 - Imagem de satélite demonstrando a distribuição das armadilhas fotográficas utilizadas no EIA,
conforme as coordenadas descritas no EIA.
Fezes de lontra foram encontradas sobre pedra na margem esquerda do rio dos Pinheiros, a jusante da ponte
na localidade de São Paulo dos Pinheiros, fora da ADA do PROJETO ANITÁPOLIS.
A área pretendida para lavra enquadra-se em uma condição intermediária, sendo em grande parte uma
antiga roça abandonada, mas na qual o uso intenso do gado dificulta a regeneração da vegetação.
Nesta área foi encontrada grande quantidade de fezes de espécie não identificada de Felidae, possivelmente
de Leopardus tigrinus - gato-do-mato-pequeno e mais remotamente do Herpailurus yagouaroundi –
jaguarundi.
As áreas de banhado são ocupadas por um grupo de pequenos mamíferos adaptados ao ambiente alagado,
junto com espécies de áreas abertas, como verificado em uma das áreas amostradas com armadilhas, onde
foram capturadas cinco espécies de roedores, incluindo Akodon, Nectomys, Oligoryzomys, Oxymycterus e
Cavia.
É importante que o ambiente acima citado fique preservado, por ser um local bastante rico
em termos de espécies de mamíferos. Além destas espécies é importante ressaltar que em
ambientes alagados outros animais, como os anfíbios, usam estes ambientes para a
reprodução.
Nove espécies de mamíferos de possível ocorrência na região encontram-se na lista de espécies ameaçadas
do IBAMA (2003). Não é esperada a ocorrência de espécie de mamífero endêmica na bacia do rio dos
Pinheiros e seu entorno, os levantamentos de campo também não confirmaram a presença destas espécies.
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CÂMARA TÉCNICA – PROJETO ANITÁPOLIS [IFC]
Entre as espécies ameaçadas nacionalmente de Felidae a que possui maior probabilidade de ocorrência na
bacia do rio dos Pinheiros é o Leopardus tigrinus - gato-do-mato-pequeno.
Leopardus tigrinus
Status de ameaça de extinção:- Vulnerável
Nomes comuns:- gato-do-mato, maracajá-í, gato-macambira, gato-maracajá, pintadinho, gato-do-mato-
pequeno
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CÂMARA TÉCNICA – PROJETO ANITÁPOLIS [IFC]
2.7.2.3. Aves
2.7.2.3.1. Metodologia
2.7.2.3.1.1. Observações diretas
Caminhadas foram realizadas para registro de aves ao longo da área do Projeto Anitápolis e seu entorno, em
1989 e em 2005. Para isso foi utilizado um binóculo (10 x 40) (FOTO 4.3.2.19) e guias de campo (NAROSKY &
YZURIETA, 1987; SOUZA, 2004).
O uso de apenas uma metodologia para inventário de aves deixa este estudo bastante
debilitado. É importante que o pesquisador de campo utilize o máximo de metodologias
para aumentar o esforço e registrar mais espécies. Existem outras metodologias, como a de
ponto fixo, transecções, captura com rede de neblina, dentre outras, para este grupo, o que
auxiliaria muito neste inventário, deixando-o mais rico, em termos de espécies, e mais
confiável.
Portanto, seria importante que se aumentasse o esforço amostral para que se pudesse
aumentar o número de metodologias e ter uma amostragem mais confiável na área.
No relatório do EIA - Volume II - na página 270, referente às conclusões, no que diz respeito
à Ornitofauna:
O Estado de Santa Catarina não apresenta lista oficial de espécies ameaçadas de extinção. Uma espécie que
foi observada em grande número, por toda a região, em bandos de aproximadamente 22 indivíduos e também
aos pares, é a Amazona vinacea - o papagaio-peito-roxo, que se encontra ameaçada de extinção, como
vulnerável, segundo a nova Lista Nacional das Espécies da Fauna Brasileira Ameaçadas de Extinção do
MMA/IBAMA, Instrução Normativa nº 3, de 27 de maio de 2003, publicada no DOU de 28 de maio de 2003.
Apresentam distribuição restrita, por pressão de caça ou pela fragmentação de habitats.
Na área de influência direta – AID - foram observados dois bandos de Amazona vinacea – papagaio-do-peito-
roxo -, com aproximadamente 22 indivíduos cada bando, em dois dias, durante os trabalhos de campo.
Na área de influência indireta – AII - foram observados quatro bandos de Amazona vinacea – papagaio-do-
peito-roxo -, com aproximadamente 8, 9, 11 e 13 indivíduos cada bando, em quatro dias, durante os trabalhos
de campo. Os três primeiros bandos foram visualizados na bacia do rio Povoamento, próximo da localidade de
Rio da Prata, no local com coordenadas 0.684.523/6.921.697, e o quarto bando próximo da comunidade de
São Paulo dos Pinheiros, na estrada que liga Anitápolis à BR-282. Além dos bandos, foram visualizados vários
casais voando nestes locais. Os casais provavelmente estavam nidificando na ocasião.
Foi elaborado um Plano de Ação para o monitoramento desta espécie da Ornitofauna, ameaçada de extinção,
considerada como uma “espécie bandeira”, que possibilitará o monitoramento de todas as demais espécies
de aves, na área de influência direta do PROJETO ANITÁPOLIS.
Seria importante que se fizesse um diagnóstico mais detalhado para se obter mais
informações sobre esta espécie, tal como a possibilidade de se constatar se estava se
reproduzindo na área do empreendimento ou se estava utilizando esta área para abrigo.
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CÂMARA TÉCNICA – PROJETO ANITÁPOLIS [IFC]
2.7.2.4. Répteis
2.7.2.4.1. Metodologia
2.7.2.4.1.1. Observação direta e procura ativa
Em 1989, foi realizada procura ativa, diurna e noturna, nos locais de maior probabilidade de ocorrência de
répteis (PROMINER, 1989).
Foram explorados diversos tipos de formações vegetais, em altitudes variáveis, procuraram-se tocas e
abrigos, como monte de pedras, troncos e folhagens. Foram disponibilizados ganchos e laços.
Em 2005, durante seis dias, os diferentes ambientes ao longo da área de estudo foram percorridos a pé ou
com veículo automotor, em diferentes períodos do dia e da noite, visando o encontro visual com animais vivos
ou atropelados. Durante as buscas foram investigados diversos micro-ambientes como tocas, buracos,
galhos ocos, embaixo de pedras e troncos, interior de bromélias e margens de riachos (FOTO 4.3.2.50).
A fauna de répteis é bastante difícil de ser encontrada por sua biologia. Por se tratar de
animais ectotérmicos são animais que têm sua atividade restrita a estações do ano mais
quente, como a primavera e o verão. No EIA, no que se refere aos répteis, não está claro em
que estação do ano foram efetuados os trabalhos de campo. Se o inventário foi efetuado em
uma estação do ano mais fria é comum que o pesquisador encontre poucas espécies deste
grupo animal, o que impossibilita um diagnóstico mais preciso sobre estas espécies.
Metodologia com armadilhas de queda seria uma opção para melhorar a amostragem de
campo e aumentar a riqueza de espécies, na área que tem suas atividades em horários
diferenciados da do pesquisador de campo, além de aumentar o esforço amostral.
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CÂMARA TÉCNICA – PROJETO ANITÁPOLIS [IFC]
2.7.2.5. Peixes
Os Rios dos Pinheiros e Braço do Norte se inserem no Bioma da Mata Atlântica, da qual
restam menos de 10% da cobertura florestal original. Pertencem à província zoogeográfica
do leste brasileiro que reúne comunidades de peixes constituídas por espécies de elevado
grau de endemismo. A limitada capacidade de dispersão das espécies locais confere a estes
sistemas características insulares, tornando alta a potencialidade de extinção de inúmeras
espécies (BIZERRIL,1994).
2.7.2.5.1. Metodologia
Para o diagnóstico da ictiofauna da área diretamente afetada (ADA) e da área de influência direta (AID) do
projeto do empreendimento da IFC foram realizados os levantamentos de campo da comunidade
ictiofaunística em três pontos do rio dos Pinheiros e em três pontos do rio Braço do Norte, entre os dias 12 e
15 de agosto de 2005. A temperatura da água no período das coletas estava entre 10 e 11°C.
Seria importante que este levantamento tivesse sido feito em uma estação mais quente do
ano. Já que o frio compromete a captura de muitas das espécies de peixes.
O número de espécies registradas para a área diretamente afetada e a área de influência direta foi baixo em
relação ao esperado, principalmente nos trechos com maior vazão d’água, o que se deve tanto às condições
fortemente antropizadas da região como ao período do levantamento, após enxurrada, e condições de baixa
temperatura da água.
Os pontos de amostragem foram feitos apenas nos rios acima citados. E os riachos
contribuintes destes rios? Estes pontos podem servir de abrigo, local de reprodução ou área
de vida para muitas das espécies da ictiofauna. Sugere-se que estes ambientes que não
foram inventariados, o sejam de fato, para melhor levantar dados/informações sobre as
espécies de peixes do local e verificar o status de conservação em que se encontram estas
espécies.
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CÂMARA TÉCNICA – PROJETO ANITÁPOLIS [IFC]
Entre a flora encontra-se a mata ciliar, cuja importância se fundamenta no amplo espectro
de benefícios que este tipo de vegetação traz ao ecossistema, exercendo função protetora
sobre os recursos naturais bióticos e/ou abióticos.
Do ponto de vista dos recursos bióticos, as matas ciliares criam condições favoráveis para a
sobrevivência e para a manutenção do fluxo gênico entre populações de espécies animais
que habitam as faixas ciliares ou, mesmo, fragmentos florestais maiores que podem ser por
elas conectados.
Do ponto de vista dos recursos abióticos, as florestas localizadas junto aos corpos d´água
desempenham importantes funções hidrológicas, compreendendo a proteção da zona
ripária, filtragem de sedimentos e nutrientes, controle do aporte de nutrientes e de
produtos químicos aos recursos d´água, controle da erosão das ribanceiras dos canais e
controle da alteração da temperatura do ecossistema aquático.
48
CÂMARA TÉCNICA – PROJETO ANITÁPOLIS [IFC]
3 CONCLUSÕES/RECOMENDAÇÕES
Apesar do grande volume de informações e dificuldades iniciais de acesso as mesmas, aliado
ao pouco tempo de avaliação disponível, foi possível levantar questionamentos importantes
e convincentes quanto à consistência técnica do(s) documento(s), como:
1. Aparentemente há excesso de adição de ácido sulfúrico ao minério concentrado;
3. tendo em vista que nada consta nos relatórios analisados sobre retenção de flúor e
a quantidade emitida é muito grande, exigindo a construção de uma fábrica
adicional, questiona-se o conjunto do relatório;
6. no que diz respeito aos estudos e às análises da qualidade das águas superficiais,
com foco no parâmetro Fósforo, destacam-se diversas inconsistências de
dados/informações contraditórias de mesma origem e/ou fontes diferentes que
versam sobre o mesmo parâmetro;
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CÂMARA TÉCNICA – PROJETO ANITÁPOLIS [IFC]
13. recomenda-se que esse diagnóstico seja feito por um período de, no mínimo, 01
(um) ano e que seja utilizado um número maior de metodologias, do que as que
foram utilizadas para a confecção do Relatório emitido pelo empreendedor em
comento;
14. entende-se que somente com a utilização de metodologias variadas será possível
um diagnóstico mais preciso a respeito da riqueza de espécies da área, através do
monitoramento da flora e da fauna local, principalmente de espécies consideradas
“guarda-chuvas”.
Cabe realçar, mesmo que sejam superadas as questões ambientais, o empreendedor deve
revisar aspectos socioeconômicos ligados a empresas paralelas a serem instaladas,
implicando aumento do significado econômico: Produção de fluorsilicato de sódio, usos do
resíduo para aumento do teor de fósforo em adubos orgânicos, aplicabilidade desses
materiais na produção orgânica de hortifrutigranjeiros, etc.
Profª. Drª Cleia Mara Leonardo Frasson Prof. MSc. Jaime Paladini
Biol. MSc. Rodrigo Ávila Mendonça Biol. MSc. Josiane Somariva Phrophiro
51
CÂMARA TÉCNICA – PROJETO ANITÁPOLIS [IFC]
CO-AUTORES DO PARECER.
COLABORADORES
Marcio Ronchi
Engenheiro Agrônomo – CREA/SC 28.081-0
Membro da Câmara Técnica de Proteção e Recuperação de Nascentes - Comitê de Gerenciamento da Bacia do Rio Tubarão e Complexo
Lagunar.
Integrante Núcleo de Apoio Técnico – NAT – Comitê de Gerenciamento da Bacia do Rio Tubarão e Complexo Lagunar.
Associação dos Fumicultores do Brasil - AFUBRA
Secretário de Relações Interinstitucionais do Grupo Ecológico Ativista Sul Catarinense – GEASC.
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CÂMARA TÉCNICA – PROJETO ANITÁPOLIS [IFC]
Anexo 01
ART – ANOTAÇÃO DE RESPONSABILIDADE TÉCNICA
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