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CAPITULO I – INTRODUÇÃO
1
Oliveira afirma que MST conquista frações, ou seja, parcelas do território, e não o território como
totalidade histórica, pois esse último se caracteriza como uma categoria mais ampla, “produto
concreto da luta de classes travada pela sociedade no processo de produção de sua existência”
(OLIVEIRA apud ALMEIDA, 2006).
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Camponês é aquele que é dono da terra e nela trabalha com a família, embora produtor de um
modo de vida, possuí uma diversidade de lutas que o caracteriza no território nacional, podendo
ser identificado como ribeirinho, assentado, quilombola, seringueiro, colono, pequeno proprietário,
etc. (ALMEIDA, 2003).
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Estamos entendendo o eurocentrismo, como um conjunto de idéias e/ou ideologias, que buscam
colocar o pensamento europeu, branco e ocidental, na condição superior a quaisquer outras
formas de pensar o mundo. Logo, é preciso romper com essa natureza “mercadoria” do mundo
ocidental, para se entender uma outra natureza que está inscrita no pensamento das populações
camponesas.
15
É nesse viés que Foucault apud Leff (2007) elucida que o “ambiente” do
pensamento moderno-colonial emerge impulsionado pelas diferentes ordens do real
que foram externalizadas e dos “saberes” subjugados pelo desenvolvimento das
ciências modernas e das formas produtivas, sendo regido pelo capital (valor de
troca), prontamente tomado pela racionalidade econômica e acumulativa. Em um
empenho metodológico, Leff (2007) reforça que o saber ambiental tem que partir de
um esforço, no sentido de reconhecer as identidades dos povos, suas cosmologias e
seus saberes tradicionais como parte de suas formas culturais de apropriação de
seu patrimônio de recursos naturais. Estes saberes se inscrevem dentro dos
interesses diversos que constituem o campo conflitivo do ambiental, logo é nesse
processo que nascem as subjetividades na produção de saberes, sobretudo no
cotidiano do “viver”, “do saber - fazer” e de se apropriar do ambiente em uma
simbiose diferenciada. O que dentro da ciência geográfica possibilita a leitura das
diversas formas de uso do território, nesse estudo em particular o território
camponês (re-existência da vida) antagônico à territorialização do agro
(hidro)negócio.
É nesse rumo que Escobar (2006) adverte que o campo de análise da relação
homem e meio, deve ser enxergado para além de uma leitura cartesiana, e que essa
opção implica no entendimento de outras formas de experimentar o natural e o
biológico. Compartilhando de idéia parecida, Porto-Gonçalves (2008) elucida que
esses recortes territoriais estão plasmados em um viés intrínseco à própria
reprodução do modo de vida, onde não se contrapõe ambiente e homem, pois a
“natureza está no homem e o homem está na natureza”.
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Teodor Shanin entende o campesinato como um modo de vida, pois o teórico parte da idéia de que
a classificação desse sujeito não parte de uma premissa marxista, e sim de um fundo antropológico.
O autor salienta que se o camponês é uma classe ou um modo de vida, vai depender das condições
históricas. (apud PAULINO, FABRINI, 2008).
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Trocadilho feito por Porto-Gonçalves para definir o ato da existência da vida camponesa no
processo de territorialização e monopolização do capital, que nesse caso se caracteriza como uma
luta cotidiana para permanecer na terra conquistada.
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1.1- Objetivo
A pesquisa objetivou a discussão e investigação de como se dá, no interior da
reprodução da vida camponesa, a conciliação das atividades tradicionalmente
camponesas, como o cultivo de milho, feijão e outros elementos do roçado
camponês, com práticas alternativas como o extrativismo e as atividades de
agregação de valor ecológico conduzidas pelo CEPPEC. E que se expressam na
compra do barú em lotes do assentamento Andalucia, gerando renda para as
famílias produtoras do barú, ao passo que impede a derrubada do cerrado, uma
pratica anteriormente comum para produção de carvão. Portanto, procuramos
entender o funcionamento da economia camponesa, juntamente com as formas de
uso alternativo dessa porção do território (ambiente).
Nessa perspectiva, cabe elucidar que a reprodução da agricultura
camponesa, por intermédio da implantação de assentamentos em Mato Grosso do
Sul, tem se destacado como uma política tanto de cunho social como de
desenvolvimento econômico. Neste sentido, se torna interessante sublinhar que, até
o momento, o Estado possui 191 assentamentos, com 28.669 famílias beneficiadas,
numa área de 656.905,0075 ha. (INCRA, 2009)6.
Portanto, com esse número significativo de assentamentos em Mato Grosso
do Sul, torna-se necessário nesse momento, pós-processo de divisão dos lotes,
averiguar a relação assentado e ambiente, pois é dessa simbiose que se dá o
desenvolvimento sócio-econômico dos assentados e até mesmo a sua permanência
no lote. Nesse sentido, conforme supracitado, as análises foram pautadas a partir da
perspectiva do CEPPEC, em que se procurou entender as significações que a terra
e, consequentemente, o ambiente têm para o sujeito camponês assentado (sujeito
da pesquisa).
1.2- Metodologia
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Obs. Atualizado em 28/04/2009. Divisão de Desenvolvimento de Projetos/SIPRA.
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7
Esses sujeitos se situam como participantes permanentes, ou seja, trabalham diretamente nas
frentes do CEPPEC, como: tingimento de tecidos, beneficiamento do cumbarú, tecelagem entre
outras atividades de geração de renda para o grupo pesquisado.
8
São sujeitos que de alguma forma estão relacionados às práticas do CEPPEC, seja por meio da
venda de matéria prima para o projeto (leite, barú, pequi), ou ainda com ações de recuperação de
nascentes e de conscientização ambiental, sendo esse último um trabalho educacional desenvolvido
na escola do assentamento ( casa do conde espanhol).
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9
Lembrando que terras devolutas devem obedecer o que reza o Art.188 da Constituição Brasileira
que diz o seguinte: “A destinação de terras públicas e devolutas será compatibilizada com política
agrícola e com o plano nacional de reforma agrária”.
22
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Sodré elucida que essas áreas de expansão da fronteira da pecuária reuniam características
geográficas ideais para a criação bovina. Tal fato pode ser evidenciado quando analisa os fatores
ecológicos do cerrado, pois sua vegetação arbustiva e seu pouco gradiente de declividades são
fatores positivos para a pecuária extensiva. (Ab’ Saber, 2007)
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Lembrando, conforme elucida Brand et al., as concessões feitas à Cia. Matte Laranjeira atingiram
em cheio o território dos Kaiowá e Guarani conforme palavras do autor.
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sentido após a lei de terras, sua territorialização se deu por meio de arrendamentos,
os quais dependiam diretamente de alianças, logo a participação da família Murtinho
nos negócios do mate, veio consolidar a relação “terra e poder”, pois se caracteriza
como o encontro das oligarquias locais com o poder político, a fim de impor seus
interesses pessoais. Esse processo de monopolização territorial impedia qualquer
brecha para a consolidação da pequena propriedade na região, a qual naquele
momento sofrera investida dos migrantes do sul do país.
Cabe ressaltar que a construção da ferrovia Noroeste Paulista trouxe novas
perspectivas para a então “parte sul” de Mato Grosso, pois com essa obra foi
possível às oligarquias, a valorização de suas terras por meio da absorção de renda
diferencial12, capitalizando- se conforme afirma Fabrini (2008).
12
Nesse caso como elucida Oliveira (2007), a renda pode ser classificada por “ renda diferencial I”,
tendo a localização das terras como elemento principal.
13
Segundo BITTAR, João Caetano Teixeira Muzzi possuía grande quantidade de terras em Nioaque,
o local da referida pesquisa.
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Para as oligarquias do sul (de Mato Grosso), não adiantava somente exercer
o poder político em Cuiabá, haja vista que as divisas econômicas oriundas do sul
continuariam a suprir o governo central do norte. Portanto, a fim de impedir essa
transferência de riqueza, a ruptura se apresenta como imprescindível e inevitável
para aquele momento político, social e econômico do estado. O que acabara
acontecendo posteriormente em 1977, por meio da Lei complementar Nº.31 de 11
de outubro de 1977. Cabe aludir, que o processo de emancipação foi realizado nos
bastidores e no silêncio do poder, portanto sem a participação da população.
Essa divisão veio consolidar o “útil ao agradável”, pois além de satisfazer
anseios das oligarquias sulistas, fundamentou o projeto geopolítico do governo
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definitivos, por outro lado neste mesmo período tivemos apenas 4 títulos concedidos
gratuitamente para áreas consideradas pequenas em relação as demais. Já em
1921, foram concedidos 233 títulos provisórios e permanentes, abrangendo uma
área total de 789.094 ha. Tais números mostram a dimensão trágica referente ao
não-lugar do campesinato sul-mato-grossense e é nesse sentido que se acirram as
contradições e o latifúndio permanece, porém, não sem questionamento.
14
Mesmo tendo o Estado de Mato Grosso do Sul como origem, grande parte dos entrevistados são
mineiros e/ou gaúchos, ou ainda filhos de mineiros.
28
47%
32%
11%
5% 5%
MS PR SP MG RS
Fonte: Trabalho de Campo, 2008.
O anúncio desse projeto15 foi feito com grande propaganda por parte
do governo. Nesta mesma época, os camponeses despossuídos da
terra de vários municípios da região ocuparam a área intermediária
entre as fazendas Bule e Baunilha, em Itaquiraí. Uma das
estratégias dos camponeses foi utilizar o nome e o símbolo do
projeto (enxada encabada) do Projeto, construindo uma grande
placa, instalada próximo ao acampamento. (FABRINI, 2008, p.72).
Após três dias de espacialização da luta, foi realizada a retirada das famílias
com ostensivo aparato policial.
15
Segundo FABRINI (2008), o Projeto Guatambu, foi lançado logo depois da nomeação de Pedro
Pedrossian pelo o governo no inicio da década de 1980. O projeto tinha objetivo de melhorar a
rentabilidade e a organização da produção agrícola, com assistência técnica, mecanização,
fornecimento de insumos.
29
16
Após as reivindicações de desapropriação da Fazenda Jequitibá, a situação se acirra com
destruição da roça camponesa e com a morte do advogado dos arrendatários, nesse momento fica
nítido o recrudescimento da violência.
30
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Aqui estamos trabalhando com os conceitos de Martins (1991), o qual aponta que a terra de
trabalho aparece como basilar para a reprodução e manutenção da família camponesa, pois quando
o trabalhador se apossa da terra, esta se transforma em terra de trabalho. No outro extremo, é
compreendida como terra de negócio a fração espacial apropriada pelo capital, a qual se caracteriza
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alerta Fernandes (1996). Tanto faz sentido essa afirmativa, que a partir de 2001, os
números de ocupações (Gráfico 02) e de implementação de assentamentos rurais
em Mato Grosso do Sul (Gráfico 03) mantem uma relação próxima e explicam que
para existir reforma agrária tem que existir luta pela terra. É interessante destacar
que este decréscimo nas espacializações neste período e, consequentemente, nas
territorializações se deve principalmente à medida provisória nº. 2027, a qual em seu
Art.4º, parágrafo sexto e sétimo informam que:
A medida provisória nº. 2027, como observado nos gráfico - 02 e 03, foi de
grande impacto para os movimentos sociais de luta pela terra, pois essa manobra do
governo FHC veio com a função de “criminalizar” os movimentos sociais, sobretudo
aqueles com o histórico de ações mais efetivas contra o latifúndio, por exemplo o
MST. Cabe relatar, que essa MP exibe sua face contraditória, a partir do momento
que livra o latifúndio de fiscalização, legitimando a contra-reforma agrária.
No período citado de 1995 a 2007, o governo estadual instalou somente 8
assentamentos, os quais favoreceram apenas 694 famílias. Cabe ressaltar que
mesmo tendo quebrado o ciclo de governo das famílias ligadas às oligarquias com a
eleição do Zeca do PT em 1999, na câmara dos deputados persiste um forte lobbie
político relacionado à aliança terra e poder. Nesse sentido, continuou predominando
a essência da ideologia burguesa local, dando continuidade as raízes e essência do
latifúndio, ou o “poder do atraso” como elucida José de Souza Martins.
No período de 2003 a 2007, no governo Lula, a territorialização camponesa
teve uma leve queda de 2002 para 2003, entretanto retoma um crescimento até
pela exploração do trabalho alheio ,portanto assentadas nos pilares da mais-valia. Nesse sentido,
distinguindo como regimes distintos de propriedade.
33
95%
5%
0
18
Logicamente, que não cabe aqui um julgamento em relação as formas de luta pela terra, pois há
uma distinção dessas formas, porém o mais importante é a distinção feita a partir do sujeito da luta
conforme elucida Almeida (2006). O número aludido, não visa apresentar uma presumida
superioridade do MST, mas sim exprime um número do universo de entrevistados, os quais foram
ouvidos de forma aleatória independente da origem de organização de luta pela terra conforme já
aclarado na metodologia.
34
19
Oliveira (2007) lembra que a política de reforma agrária do governo LULA está marcada por dois
princípios: Não fazê-la nas áreas de domínio do agronegócio e, fazê-la nas áreas onde ela possa
“ajudar” o agronegócio.
35
20
Essas ideologias podem ser materializadas pelos grandes veículos de comunicação, os quais têm
seus discursos pautados em um ecologismo simplista, portanto procurando mascarar a luta de
classes inscrita na sociedade.
37
21
Aqui procuramos entender a problemática ambiental mesmo antes do processo de revolução
industrial, uma vez que a pilhagem desses recursos já fizera em outro momento do capitalismo como
discutido.
22
Porto-Gonçalves elucida que um período não substitui o outro, há apenas algumas mudanças do
capitalismo, mas não uma ruptura com elementos de cada momento do capitalismo.
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23
Não é a toa que países, como os da península Escandinávia despontam como os mais
preservados.
24
Quando não o fazem diretamente, entram como acionistas majoritárias em alguns casos como o
que ocorre com a Aracruz celulose em Espírito Santo ou a fusão VCP-IP em Três Lagoas-MS.
25
Pensamento esse inclusive herdado, até a história presente, por muitas Ongs ligadas a questão
ambiental.
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26
Segundo Raffestin, a territorialidade vai ser construída pela multimensionalidade do vivido
territorial, portanto regida pelas relações existenciais (culturais, idêntitárias), e/ou produtivistas.
41
27
Comumente, a ideologia utilizada para desqualificar o cerrado, foi destacá-lo para grande
população como um ecossistema com solo ácido ( improdutivo), arvores tortuosas. De fato essas são
características desse ecossistema, entretanto durante um bom essa imagem ficou atrelada a uma
condição inferior, portanto passiva da expansão da nova lógica de mercado. Assim ganha lugar no
cerrado o debate ideológico do agronegócio como bandeira do “ Brasil que dá certo”.
43
28
Tal situação em Mato Grosso do Sul pode ser exemplificada pela expropriação indígena em
Dourados com expansão do plantio da soja.
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No artigo Latifúndio e Agronegócio: Semelhanças e diferenças no processo de acumulação de
capital, FABRINI aponta que o agronegócio e o latifúndio, exibem algumas semelhanças. A questão
crucial que aponta para a contradição do agronegócio. Ou seja, embora o agronegócio tenha uma
aparência de moderno e produtivo, ele na essência não faz desaparecer o latifúndio. Na verdade
convive com ele como reserva de valor, portanto ambos carregam nas suas essências, o caráter
rentista.
45
para 440 mil hectares até 2015. Ainda, a Associação Brasileira de Produtores de
Florestas Plantadas - ABRAF , aponta outros dados preocupantes sobre o
monocultivo de eucalipto e pinus no estado, pois segundo essa associação a
expansão do monocultivo obteve um crescimento de 124%, no período de 2004 a
2008 (gráficos-04).
228.384
152.341 147.819
126.741
Ano 2004 Ano 2005 Ano 2006 Ano 2007 Ano 2008
310711
226958
182061
159806
Olhar para essa problemática exige sua correlação com o território no sentido
de se indagar: quais são os impactos dessas atividades para o cerrado e seus
povos?
Um caminho para o entendimento desta “racionalidade territorial” do
agronegócio30 parece residir na análise dos recursos hídricos do estado. É preciso
lembrar que Mato Grosso do Sul31 detêm a maior área do Aqüífero Guaraní com 200
mil Km², o que representa um número de 27% da porção brasileira desse aqüífero.
Nesse sentido, a análise do quadro 01 é bem sugestiva para se pensar na água
como um importante insumo basilar para o sucesso do agronegócio.
30
Cabe lembrar, que a agricultura é responsável pelo consumo de 70% da água da superfície do
planeta.
31
Vale salientar que além do guarani, outros 2 grupos de sistemas aqüíferos estão presentes em boa
parte do estado, a saber: Bauru-caioá e Serra Geral. Dessa forma, há no MS uma grande oferta em
recursos hídricos.
47
32
Cabe elucidar que, segundo dados do CANASAT/INPE, hoje o município de Maracajú possui uma
área plantada de cana de 25092 ha, o que se materializa como um grande risco para as condições
ecológicas e para as populações ali presentes, em vista das questões imbricadas na territorialização
do capital.
33
O debate já é bastante amplo na pauta dos movimentos sociais de luta pela terra, pois avança a
compreensão de que a conquista da terra abre outras frentes de luta, que vão além da crítica à
concentração fundiária, apontando, sobretudo para a insustentabilidade do modelo agrícola atual,
amplamente utilizado a partir da revolução verde e da modernização conservadora. Nesse sentido,
cabe pontuar, que hoje talvez uma dos maiores exemplos dessa perspectiva, seja o debate sobre a
transposição do Rio Francisco.
48
34
É interessante mencionar que, atualmente, Nioaque possui 8 assentamentos.
35
Essa classificação dos territórios da cidadania faz parte de uma política de ordenamento agrário do
Ministério do Desenvolvimento Agrário-MDA. Segundo o ministério, essa divisão permite o
51
“planejamento de áreas com a mesma afinidade produtiva e econômica”. Se, por um lado, essa
política visa fomentar o desenvolvimento local, por outro peca porque ao definir uma área de atuação
acaba excluindo outras que ficam abertas para a expansão do agronegócio. Cabe salientar, que o
território da reforma agrega 11 municípios, a saber: Anastácio, Dois Irmãos do Buriti, Guia Lopes da
Laguna, Maracajú, Nioaque, Sidrolândia, Terenos, Bodoquena, Bela Vista, Bonito e Jardim. Hoje o
estado possui 4 territórios rurais: Cone Sul, da reforma, Vale do Ivinhema e Grande Dourados.
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Calcula-se 5 pessoas conforme metodologia do IBGE para a média da família brasileira e também
utilizada pelo NERA/ Presidente Prudente.
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Módulo Fiscal serve de parâmetro para classificação do imóvel rural quanto ao tamanho, na forma
da Lei nº. 8.629, de 25 de fevereiro de 1993. · Pequena Propriedade - o imóvel rural de área
compreendida entre 1(um) e 4(quatro) módulos fiscais; · Média Propriedade - o imóvel rural de área
de área superior a 4 (quatro) e até 15 (quinze) módulos fiscais. · Serve também de parâmetro para
definir os beneficiários do PRONAF (pequenos agricultores de economia familiar, proprietários,
meeiros, posseiros, parceiros ou arrendatários de até 4 (quatro) módulos fiscais). Cabe Ressaltar,
que em Nioaque o Módulo fiscal é de 50 ha. Outro fator que se deve esclarecer, é que os conceitos
52
essa opção dos grandes estabelecimentos está ligada às políticas de incentivos para
a criação extensiva de gado no Estado personificadas pela EMBRAPA, a qual teve
papel de destaque no melhoramento genético do gado de corte. Não é demais
esclarecer, que essa criação de gado em nada tem de semelhança com a criação
animal camponesa mais voltada a produção de leite. Embora a produção de carne
seja importante do ponto de vista alimentar, o problema reside na opção pelas
pastagens como via única de desenvolvimento que, de certo modo, também se
configura como monocultivo no Estado.
Em relação à quantidade de suínos, o pequeno estabelecimento se apresenta
como imprescindível, pois segundo o IBGE ele apresenta uma participação de 68%
sobre o total do plantel. Depois vem o grande estabelecimento com 19% e o médio
com 13%.
Quando se analisa em relação às aves, o sitio camponês também se
apresenta superior, pois o mesmo representa 82% do total, contra 10% do médio e
apenas 8% do grande. Cabe ressaltar, que as duas últimas criações têm grande
destaque no mundo camponês, no espaço casa-quintal. No caso do porco, além da
sua utilidade como alimento, permite a retirada da banha para uso na cozinha, ou
até mesmo para a fabricação caseira de sabão.
Quadro 04- Cultivares do Município de Nioaque segundo IBGE-(1996).
Tipo de Pequeno % Médio % Grande % Total
cultivo Estabelecimento Estabelecimento Estabelecimento
(ha) (ha) (ha)
43%
Outros
Trabalhador 14%
autônomo
Assalariado 29%
rural
Assalariado 14%
urbano
63%
32%
5%
53%
47%
14%
campo e cidade
0
acampamento
no campo 7%
79%
cidade
38
Só para exemplificar, um filho de assentado do Andalúcia estuda no curso de administração no
Campus da UFMS em Três Lagoas, entre vários outros jovens camponeses que estudam em Campo
Grande, seja em universidades ou colégios técnicos.
57
39
“Deixar o cerrado em pé” tem representado uma bandeira de luta do CEPPEC contra a derrubada
do Barú, prática anteriormente comum nos assentamentos para queima da madeira nas carvoarias.
58
63%
37%
Sim Não
40
Essa identidade com lugar, fica evidenciada nos relatos, seja pelo significado que a terra tem para
a reprodução cotidiana camponesa, ou então com os recursos ali existentes, como as plantas
medicinais (cancorosa, bedaleira, ipês) , os frutos ( baru, guavira, pequi, cajuzinho do cerrado) ou
com fauna característica da região. Inclusive, em uma das casas foi possível encontrar um
assentado que criava uma Seriema. Portanto, não se separa homem e natureza.
41
Essa territorialidade pode ser materializada com a contra do barú em assentamentos vizinhos como
o Nioaque e monjolinho em Anastácio, ou até mesmo por intermédio da promoção de oficinas de
tecelagem, extrativismo e artesanato em assentamentos e aldeias indígenas.
60
61
84%
16%
Sim Não
Fonte: Trabalho de Campo, 2008.
Sim Não
89%
11%
Sim Não
42
Lembrando que as bases estruturais desses órgãos estão fortemente ligadas a revolução verde,
logo seus projetos muitas vezes se apresentam como uma “replica” do agronegócio, e não dentro de
uma lógica camponesa. Portanto as práticas do CEPPEC são importantes no sentido de viabilizar
ações inerentes ao campesinato, seja por meio de recuperação de nascentes, orientações, ou até
mesmo na coleta do barú.
63
95%
Sim
Não
5%
89%
11%
Sim Não
43
Cabe ressaltar que os que declararam realizar as medidas de conservação, como por exemplo, a
curva de nível, a fazem por conta própria, nesse caso com a utilização de enxada no espaço casa-
quintal.
65
A erosão dos solos não causa problemas apenas nas áreas onde
ocorre, podendo reduzir a fertilidade dos solos e criar ravinas e
voçorocas, o que torna, às vezes, impossível sua utilização agrícola.
A erosão causa, quase sempre, uma série de problemas ambientais,
em nível local ou até mesmo em grandes áreas. Por exemplo, o
material que é erodido de uma bacia hidrográfica pode causar o
assoreamento de rios e reservatórios. (GUERRA, 1998, p.187, Grifo
nosso).
Naquilo que foi sublinhado a perda do solo no sítio camponês, já tão limitado
no seu tamanho, pode significar o comprometimento do desenvolvimento sócio-
econômico, ou até mesmo sua permanência no lote.
Gráfico 17- Já obteve informações sobre sistema agroecológico.
11%
Não
89%
Sim
vai além de uma abordagem ambiental. É nesse sentido que Altieri (2006) enfatiza o
caráter da abordagem agroecológica.
evitando os processos erosivos tão comuns nas terras destinadas para a reforma
agrária.
Figura 03- Sistema Agroflorestal no Assentamento Andalúcia
95% dos entrevistados declararam possuir alguma planta para uso medicinal no lote.
O conhecimento esboçado pelos camponeses sobre essas plantas traz para a
discussão o saber tradicional/popular como um elemento de estratégia frente à
mercantilização44 cada vez mais massiva da natureza. Portanto, indo na contramão
das ideologias que ao longo dos tempos teimam em deslegitimar e calar esses
saberes não formais, conforme esclarece Porto-Gonçalves (2004).
A grande maioria dos entrevistados declarou ter e conhecer mais de 5 plantas
medicinais do cerrado, as quais servem para curar desde problemas estomacais,
inflamações e cólicas. E até mesmo o cumbarú é citado como medicinal, uma vez
que os camponeses o chamam curiosamente de “viagra do cerrado”.
58%
42%
Sim Não
44
Um grande exemplo dessa apropriação a partir do saber científico em detrimento de outros saberes
pode ser observado em noticia vinculada no dia 28/01/2009 no site da universidade de São Paulo,
onde pontuava que a faculdade de ciências farmacêuticas de Ribeirão Preto “demonstrou que o
extrato bruto etanólico e o principio ativo isolado da casca do caule da popular dedaleira, planta típica
do cerrado, tem ação anti-inflamatória na asma. Omiti-se, por exemplo, que as populações
tradicionais conhecem e já fazem uso dos benefícios dessas plantas a longa data.
45
Segundo os assentados, é pago o valor de 10 reais por cada saco de 60 kg de barú.
69
46
Cabe ressaltar, que com o barú, pode-se fazer farinha ou até mesmo torrá-lo para o consumo,
dessa forma agregando valor para a venda. Essa amêndoa possui alto valor calórico.
70
79%
21%
Sim Não
74%
Piorou
21%
Melhor
5%
Igual
levando esses sujeitos em direção a derrubada do cerrado, seu meio de vida. Como
aludido, vale ressaltar que a região presencia hoje uma ampla territorialização
capitalista por intermédio da MMX. Logicamente, para uma resposta consistente
sobre essa relação empresa-assentado é necessário um estudo mais aprofundado,
no sentido de entender as imbricações desse processo.
A despeito dessa problemática, é preciso reafirmar que a territorialidade do
CEPPEC se constitui como um fator importante para se pensar no desenvolvimento
(ou envolvimento) local sustentável, uma vez que o mesmo sinaliza para a geração
de renda sem destruição do meio.
47
A fala de Rosana Claudina da Costa Sampaio, presidente do CEPPEC é
ilustrativa para se pensar no CEPPEC como uma construção cotidiana.
47
Fala realizada na visita pelos acadêmicos do curso de geografia UFMS/CPTL ao assentamento
Andalúcia.
73
VII-REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
FABRINI, J.E. A Posse da Terra e o Sem- Terra no Sul de Mato Grosso do Sul:
o caso Itaquiraí. Presidente Prudente. 1996. Dissertação (Mestrado em Geografia)-
Faculdade de Ciências e Tecnologia, Universidade Estadual Paulista.
OLIVEIRA, Ariovaldo U. MARQUES, Marta .I. (orgs.). O Campo no século XXI. São
Paulo: Ed. Casa Amarela e Ed. Paz e Terra, 2004.
OLIVEIRA, Ariovaldo Umbelino de. O campo Brasileiro no final dos anos 80.
Boletim Paulista de Geografia. 1988. p.5 – 22.
__________.A geografia das lutas no campo. 8.ed. São Paulo: contexto, 1997.
RAFFESTIN, Claude. Por uma geografia do poder. Trad. Maria Cecília França.
Revisão de Rosemarie Zenith de Oliveira. São Paulo: ática, 1993.
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QUESTIONÁRIO CEPPEC
3) Antes de conquistar o lote, o Sr. (a) fazia parte de qual organização de luta pela
terra?
a) Sim b) Não
Homens________/ Mulheres___________
13) Além da família nuclear ( pai, mãe e filhos) existem alguém da família extensa (
netos (a), sobrinho (a) ou agregados morando no lote?
a) sim b) não
a) Sim b)Não
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
_________
a) Sim b) Não
22) Conhece alguma forma alternativa de uso para a agricultura ( uso de calda de
fumo, chá de angico, Nim “amargosa” , etc)
a) Sim b) Não
a) Sim b) Não
Se sim quais?
28) Das atividades realizadas junto ao CEPPEC, qual a renda obtida ( Mensal,diária
)?
________________
83
29) Utiliza algum fruto ( Barú, Jatobá, Pequi...) nativo do cerrado (no lote) para
geração de renda junto ao CEPPEC?
30) Se sim, qual a renda obtida com essa atividade? ( Dia, ano, Mês)
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33) Na sua opinião, qual a importância da questão ambiental no seu dia a dia na
produção?
34) Para o senhor (a), qual a diferença no meio ambiente quando compara o
CEPPEC com as área de plantação de cana, eucalipto ( monocultivo no geral) ?