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1
Orientador: Professor Dr. Wilson da Costa Bueno
Autor: Alexandre Soares da Silva n° USP: 4978777
email: granpapa@gmail.com
Novembro de 2009.
2
Entrevistados:
Fabio Luiz T. Gonçalves – Professor do Departamento de Ciências
Atmosféricas do IAG-USP (Instituto de Astrofísica, Geofísica e Ciências
Atmosféricas da Universidade de São Paulo) e coordenador do Instituto
Nacional de Avaliação de Risco Ambiental (lnaira).
Citados:
3
SIGLAS
RMSP – Região Metropolitana de São Paulo.
GLOSSÁRIO
Álcool anidro – álcool puro, desidratado, que é usado como aditivo para a
gasolina (para aumentar sua octanagem). Substituiu o chumbo utilizado como
aditivo na década de 1980.
Isso faz com que a camada superior da atmosfera esteja mais quente que o ar
junto ao solo – o ar fica “paralisado” como numa panela tampada. Com ele
ficam os poluentes, que se dispersariam sem a inversão térmica.
4
Agradecimentos
5
Índice
Resumo 7
Introdução 8
Bibliografia 59
6
RESUMO
ABSTRACT
key-words: atmospheric pollution, local air pollution, health effects of air pollution.
7
Introdução
crédito:Alexandre Soares
Aeroporto de Congonhas
1
http://www.cetesb.sp.gov.br/ar/mapa_qualidade/mapa_qualidade_rmsp.asp
8
escolha do tema do meu trabalho de conclusão de curso. Estou curioso para
saber se a ardência nos olhos tem relação com a qualidade do ar em
Congonhas.
2
fonte: entrevista com a Professora Maria de Fátima, do IAG-USP.
3
Instituto de Astrofísica, Geofísica e Ciências Atmosféricas
4
Instituto Nacional de Análise Integrada do Risco Ambiental
9
Quando a CETESB qualifica o ar como “inadequado”, isso significa que respirar
na área oferece riscos à população:
“Efeitos à saúde: Pessoas com doenças respiratórias, como asma, e crianças têm os
sintomas agravados. População em geral pode apresentar sintomas como ardor nos
olhos, nariz e garganta, tosse seca e cansaço.” 5
Falar sobre a poluição atmosférica é falar de algo que afeta emissores e não-
emissores indiscriminadamente.
É discutir sobre nosso bem estar, que fontes de energia usamos para sustentar
nosso estilo de vida e que destino queremos dar ao nosso planeta Terra -
porque a poluição do ar tem ligação com alguns problemas persistentes e
ameaçadores:
5
Seção ar do site da CETESB.
6
Idem.
7
“Bacia aérea” é o termo usado para delimitar uma região influenciada pelas mesmas fontes poluidoras.
Apesar de fazer analogia às bacias hidrográficas, o conceito é sempre utilizado para referir-se à poluição
atmosférica.
10
2. aquecimento global, relacionado aos poluentes globais (gases
causadores do efeito estufa).
11
Uma breve história da poluição do ar
8
A lei 997 de 31 de maio de 1976 do estado de São Paulo conceitua a poluição ambiental em seu artigo
2º: “[...] a presença, o lançamento ou a liberação, nas águas, no ar ou no solo, de toda e qualquer forma
de matéria ou energia, com intensidade, em quantidade, de concentração ou com características em
desacordo com as que forem estabelecidas em decorrência desta lei, ou que possam tornar as águas, o
ar ou o solo: I – impróprios, nocivos ou ofensivos à saúde; II – inconvenientes ao bem-estar público; III –
danosos aos materiais, à fauna e a à flora; IV – prejudiciais à segurança, ao uso e gozo da propriedade e
às atividades normais da comunidade.”
12
atividades naturais (geológicas, climáticas etc) do planeta. Quando é produzida
pelo ser humano, é classificada como antropogênica.
9
Intergovernmental Panel on Climate Change, Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas.
10
Nasa’s Earth Observatory - Global Effects of Mount Pinatubo (sítio).
13
afugentar predadores, para limpar o solo antes de semeá-lo, para preparar
alimentos, preparar adubo e fabricar ferramentas. Num primeiro momento,
usamos apenas lenha (biomassa, que continua a ser utilizada); depois, o
carvão, uma fonte de energia mais compacta e duradoura. E isso é apenas a
pré-história e um pedaço da antiguidade da historiografia humana.
“Um dos elementos que mais tem sido agredido pelo homem é o ar.
Indispensável para a vida (...) provavelmente não recebeu maior atenção
por ser abundante, invisível e inodoro. Porém, ao longo da história do
progresso da humanidade, suas características foram mudando.”13
11
VALLERO, Daniel A. Paradigms lost: learning from environmental mistakes, mishaps, and misdeeds.
Elsevier Butterworth-Heinemann, 2005
12
HONG, et al., Greenland ice evidence of hemispheric lead pollution two millennia
ago by Greek and Roman Civilizations, Science, 265, 1994.
13
Braga A, Pereira L, Saldiva P. Poluição Atmosférica e seus Efeitos na Saúde Humana: os próximos 20
anos. Campinas, 2002.
14
A capital da Inglaterra é um exemplo de como a poluição atmosférica resultante
da atividade humana pode atingir um extremo inadvertidamente suicida.
Em 1306, a situação chegou a tal ponto o rei Edward I baniu o uso de carvão
mineral em fornalhas de calcário. Essa medida, que visava remediar a poluição
severa da cidade, foi promulgada por sugestão da primeira comissão criada
para analisar a poluição atmosférica da história – mas a lei “não pegou”.
15
países menos poluídos. E foi justamente esse modelo industrial que se
espalhou pelo resto da Europa, EUA, Japão, Rússia e África do Sul.
Tragédias anunciadas
16
Nosso maior exemplo, Londres: em 1952, ficou durante 5 dias sob um smog
denso, venenoso e malcheiroso, composto principalmente por material
particulado e dióxido de enxofre (que tem cheiro de ovo podre), numa
concentração até nove vezes maior que a média.
Em sete dias, estima-se que mais de 4.000 pessoas tenham morrido por causa
da exposição à poluição, um número muito mais elevado que a mortalidade
esperada para a cidade. Idosos e enfermos foram as principais vítimas.
14
O momento da virada.
17
Diante dessa conjuntura, os EUA estabeleceram padrões de qualidade do ar
em 1967, com emendas ao Clean Air Act de 1963. As emendas estabeleciam
os seis poluentes atmosféricos que deveriam ser controlados: partículas totais,
dióxido de enxofre (SO2), monóxido de carbono (CO), dióxido de nitrogênio
(NO2), ozônio (O3) e chumbo (Pb). Para efetivar este controle, foi criada a
USEPA (Environmental Protection Agency, Agência de Proteção Ambiental) e
regulamentadas as fontes de emissão móvel (veículos) e estacionárias
(termelétricas e aquecedores a carvão, por exemplo).
18
impactos na saúde humana. No entanto, em 1991, 87 milhões de pessoas nos
EUA ainda eram expostas a níveis superiores aos padrões de qualidade
determinados pela agência.
Sobre Londres: a cidade já havia produzido outros três smogs muito sérios
durante o século XIX, que causaram quase mil mortes cada um. Contudo, só o
smog de 1952 - cujos efeitos sobre uma população foram os mais
devastadores da história da poluição atmosférica até aquele momento - fez
com que o Parlamento inglês produzisse os dois Clean Air Acts (Leis do Ar
Puro).
15
Braga A, Pereira L, Saldiva P. Poluição Atmosférica e seus Efeitos na Saúde Humana: os próximos 20
anos. Campinas, 2002.
19
Bhopal, Índia – um caso não resolvido
16
http://www.greenpeace.org/usa/campaigns/toxics/justice-for-bhopal
20
crescimento econômico aliado a explosão demográfica e ocupação geográfica
voraz e desordenada, principalmente da região do ABC.
"Em São Paulo [...] os automóveis lançam ao ar quatro vezes mais [que nos EUA] e
não há qualquer controle [...] As autoridades dizem que os veículos motorizados
lançam cerca de duas mil toneladas de monóxido de carbono e 540 toneladas de
hidrocarbonetos por dia, sem contar as fábricas, mas minimizam a importância desses
dados, alegando que 'os ventos levam tudo'."
17
Minc,Carlos. Por que perdemos empregos. O Globo, 2004.
18
Revista Veja. São Paulo é uma das cidades mais sujas do mundo: a culpa é dos automóveis. ed. Abril,
1968
21
1970 com relatos de episódios agudos de poluição do ar na RMSP, “que
levaram a população ao pânico devido aos fortes odores (...) causando mal-
estar e lotando os serviços médicos de emergência”.
Iniciativas regulatórias
22
da República), estaduais e municipais, setor empresarial e sociedade civil
(movimentos de trabalhadores, ONGs relacionadas ao meio ambiente e outros
atores sociais). As resoluções do CONAMA têm poder de lei federal.
19
Proconve comemora 20 anos. Agência de notícias Envolverde (internet), 2006
23
Os novos catalisadores implantados pelo PROCONVE eram inutilizados pelo
chumbo aditivo. Isto era inaceitável: o catalisador era uma tecnologia
fundamental para que as metas das fases dois e seguintes do programa
fossem alcançadas. Por isso, após testes bem-sucedidos em laboratório, o
chumbo foi substituído por álcool anidro como aditivo da gasolina. Por si só,
isso resolveu gradualmente o problema grave de poluição por chumbo no ar da
RMSP e diminuiu as emissões de monóxido de carbono. Adicionar álcool à
gasolina já estava nos planos do Pró-álcool - o PROCONVE fez disso uma lei.
Na década de 80, o chumbo que era usado como aditivo da foi eliminado da
gasolina por conta de um programa que começou na década anterior: o
Programa Nacional do Álcool (pró-álcool), que mais tarde transformaria o
etanol no principal combustível para veículos leves no Brasil.
24
usar o etanol para substituir a gasolina por completo nos veículos leves. Ele foi
introduzido em 1980 como combustível veicular.
Um alívio passageiro
O rodízio tinha por objetivo diminuir a poluição nos horários de pico. Um estudo
de 2001, conduzido no Laboratório de Poluição Atmosférica Experimental da
Faculdade de Medicina da USP, concluiu que “houve uma redução dos níveis
médios de todos os poluentes desde a implantação do rodízio, com exceção do
O3”.20
20
MARTINS L; LATORRE M; SALDIVA P and BRAGA A. Relação entre poluição atmosférica e
atendimentos por infecção de vias aéreas superiores no município de São Paulo: avaliação do rodízio de
veículos. Rev. bras. epidemiol. [online]. 2001, vol.4, n.3, pp. 220-229. ISSN 1415-790X
25
Como o rodízio fora lançado pelo estado, a Secretaria Estadual do Meio
Ambiente temia que houvesse um conflito de competências – pois controle do
tráfego é de competência do município – o que se demonstrou apenas um
excesso de zelo. “Esse era nosso grande receio, na época, que houvesse um
questionamento. Mas acho que hoje essas questões estão superadas”, diz
Fábio Feldmann, Secretário Estadual do Meio Ambiente de São Paulo de 1995
a 1998. O rodízio foi transformado em operação municipal em 1998, o mesmo
ano em que o Transporte Solidário foi “extinto” por não ter mais verbas.
26
O ar que faz mal
21
VALLERO, Daniel A. Paradigms lost: learning from environmental mistakes, mishaps, and misdeeds.
pag 109 - Elsevier Butterworth-Heinemann, 2005
22
Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo
27
Entra pelas narinas e boca
é filtrado pelos cílios e pelo
muco da cavidade nasal
atravessa faringe, laringe e
traquéia é filtrado pelos
cílios e pelo muco de toda
árvore brônquica penetra
Este ar que entra por nossas vias respiratórias superiores pode conter uma
miríade de componentes agressivos ao organismo. Pode ser que você esteja
numa região altamente urbanizada, com indústrias poluentes e tráfego veicular
pesado, ou você pode estar no interior em suas férias, mas durante o período
das queimadas de cana. Não importa – você estará sempre em contato com o
que se denomina “massa de poluentes”.
Frágeis defesas
28
Na maior parte do tempo, porém, a poluição fica abaixo dos níveis de atenção
preconizados pelas tabelas de referência, e seus efeitos agudos (de curto
prazo) são pouco perceptíveis ou inexistentes. Quem acaba sofrendo são
pessoas mais suscetíveis: doentes – cujo sistema imunológico está
sobrecarregado ou comprometido –, idosos e crianças
Este era o caso de Amanda Previdelli, estudante, 20 anos, que sempre morou
nos arredores do cruzamento entre av. dos Bandeirantes e av. Santo Amaro:
“Quando criança, meus olhos ardiam e meu irmão mais novo tinha
‘oficialmente’ bronquite. Na época, o médico afirmou que uma das causas para
sua bronquite era poluição.”
23
Bordinão, Andréa. Em São Paulo, poluição mata mais que trânsito. Revista Veja, ed. Abril, 2008.
29
Todos os dias, Amanda trafega entre a Av. dos bandeirantes e Marginal
Pinheiros. Hoje, ela tem rinite - “só em São Paulo” – e enxaqueca. Os dois são,
segundo seu médico, influenciados pela quantidade de fumaça que ela inala
diariamente, além de outros fatores.
30
Campos, eu sinto muita diferença ao respirar o ar no trajeto – principalmente
em termos de umidade.”
31
afirmou o Professor Paulo Saldiva numa matéria24 para a Vya Stelar (revista
eletrônica do UOL). Ele estima, em outra entrevista25, que na cidade de São
Paulo, de cada 100 casos de câncer do pulmão, oito são consequência da
poluição. Outros efeitos da exposição ao ar poluído são o envelhecimento
precoce da função pulmonar e as doenças de pele – embora elas não
acarretem diminuição da expectativa de vida.
Na entrevista26 à revista Veja, o Professor Paulo Saldiva diz que “estima-se que
o nível de poluição atmosférica em São Paulo reduza, em média, a expectativa
de vida da população em dois anos. (...) Por ano, a poluição leva 4.000
pessoas à morte. O que é mais que o trânsito (em 2007, segundo a Secretaria
Municipal de Saúde de São Paulo, aconteceram 1.641 mortes no trânsito).”
Portanto, nem todas as pessoas que respiram ar poluído sofrerão dos mesmos
sintomas ou ficarão doentes, mas uma parte expressiva da população terá
sintomas e doenças diretamente relacionados à qualidade do ar que respiram.
O Professor Saldiva cita27 estatísticas que relacionam diretamente à poluição
24
Contato com poluição corresponde a fumar dois cigarros por dia, Vya Estelar, 2008.
25
BORDINHÃO, Andréa. Em São Paulo, poluição mata mais que trânsito. Revista Veja, São Paulo, 2008:
Ed. Abril.
26
Idem.
27
Idem.
32
atmosférica 10% da mortalidade de idosos com doenças cardiovasculares e
respiratórias.
33
Os poluentes e suas fontes emissoras
Motos, carros e caminhões que queimam combustível fóssil para rodar: estas
são as fontes principais de poluição do ar na RMSP, e todos os especialistas e
os diversos artigos científicos consultados são unânimes em apontá-las como
os grandes vilões da saúde atmosférica.
28
Dados da Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados (São Paulo).
29
TEODORO, Márcia Elaine. Estudo da poluição atmosférica gerada por fontes móveis na Região
Metropolitana de São Paulo (RMSP). 150 f. Tese (Doutorado) – Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências
Humanas, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2007.
34
ao norte, pela Serra de Itapeti ao leste, pela Serra do Mar ao sul e pelos
maciços elevados de Itapecerica - São Roque.
35
Padrões nacionais de qualidade do ar30
(Resolução CONAMA nº 03 de 28/06/90)
Padrão Padrão
Tempo de Método de
Poluente Primário Secundário
Amostragem Medição
µg/m³ µg/m³
partículas totais 24 horas1 240 150 amostrador de
em suspensão MGA2 80 60 grandes volumes
24 horas1 150 150 separação
partículas inaláveis
MAA3 50 50 inercial/filtração
24 horas1 150 100
fumaça Refletância
MAA3 60 40
24 horas1 365 100
dióxido de enxofre Pararosanilina
MAA3 80 40
1
1 hora 320 190
dióxido de nitrogênio Quimiluminescência
MAA3 100 100
1 hora1 40.000 40.000
35 ppm 35 ppm infravermelho
monóxido de carbono 1
8 horas 10.000 10.000 não dispersivo
9 ppm 9 ppm
Os principais poluentes
Estes são os poluentes mais estudados por seu impacto na saúde pública no
mundo todo – principalmente, por seus efeitos agudos na saúde, durante e
após uma elevação súbita de sua concentração na atmosfera. Eles são
chamados de poluentes locais, em oposição aos poluentes globais, causadores
do efeito estufa (como o CO2).
30
Retirada da seção “Ar” do site da CETESB.
31
Pneumologista e Professor Doutor associado da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.
36
MATERIAL PARTICULADO
1 µm (micrometro ou mícron) = 0,000001 metro.
MP10 e MP2,5
O material particulado (MP2,5) fino tem sido identificado como o mais danosos
dos poluentes; a falta de monitoramento regulamentado para o MP2,5 no Brasil
é discutida no capítulo seguinte.
37
As partículas finas (MP2,5) estão relacionadas à asma, doenças
cardiorrespiratórias e ao câncer. O MP2,5 chega às porções mais profundas do
sistema respiratório inferior, como se fossem um carvão microscópico coberto
por metais pesados e outras substâncias agressivas – “como um ‘pacote’ que
leva coisas que não deveriam ser inaladas e que ficam em contato com as
membranas dos pulmões”, segundo o Professor Paulo Saldiva em entrevista
para a revista Veja.
MATERIAL GASOSO
Ozônio (O3)
“Em São Paulo, hoje, o grande problema é o ozônio”, afirma o Professor Fábio
Luiz Teixeira Gonçalves, do IAG-USP33, sobre o fato de o poluente ser o que
transgride mais frequentemente os índices de qualidade do ar utilizados pelo
monitoramento da CETESB.
32
CETESB. Material particulado inalável fino (MP2,5) e grosso (MP2,5 – 10) na atmosfera da Região
Metropolitana de São Paulo (2000 – 2006). São Paulo 2008.
33
Instituto de Astrofísica, Geofísica e Ciências Atmosféricas da Universidade de São Paulo.
38
Fontes emissoras na RMSP - A principal origem do ozônio em ambientes
urbanos são as reações fotoquímicas entre os compostos produzidos pela
queima de combustível veicular e moléculas presentes naturalmente na
atmosfera.
39
Dióxido de enxofre (SO2) e aerossóis ácidos
Quando a pessoa faz exercícios físicos, porém, ele chega aos alvéolos
pulmonares e traz desconforto respiratório, além de poder desencadear uma
crise de asma e agravamento de doenças respiratórias e cardiovasculares.
40
pesquisas indicam que mesmo concentrações de ¼ das recomendadas pela
legislação ambiental podem ser prejudiciais à saúde.
Dessa forma, ele diminui a absorção de oxigênio nos tecidos e produz efeitos
no sistema nervoso central, cardiovascular, pulmonar etc; pode levar à perda
de destreza manual e dificuldade para realizar tarefas complexas.
41
Num ambiente fechado, com altíssimas concentrações, o CO pode matar; por
isso, recomenda-se que não se ligue o carro e o mantenha ligado numa
garagem fechada, por exemplo.
Quando dão origem ao ácido nítrico, também são responsáveis por uma parte
da acidez da chuva de São Paulo – que já foi mais ácida, quando o SO2 estava
fora de controle (até a primeira metade da década de 90).
Por que é prejudicial ao organismo? - Com odor forte e muito irritante, o NO2
pode formar de ácido nítrico, nitratos (os quais contribuem para o aumento das
partículas inaláveis na atmosfera) e compostos orgânicos tóxicos.
42
Um dos impactos mais relevantes dos NOX à saúde pública é seu papel de
precursores do ozônio, considerado em descontrole na RMSP, segundo os
parâmetros de qualidade do ar da legislação ambiental brasileira.
34
CETESB. Relatório de qualidade do ar no estado de São Paulo 2008. São Paulo, 2009.
43
Abordagens para o problema
35
Professor Titular da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FM-USP), coordenador do
Laboratório de Poluição Atmosférica Experimental da FM-USP e do Instituto Nacional de Avaliação de
Risco Ambiental (Inaira).
36
ex-Secretário do Meio Ambiente do estado de São Paulo.
44
Ciências Atmosféricas. Agora, é hora de enfrentar os pontos que precisam ser
melhorados.
Suponha-se que o carro tenha vida média (antes de ser revendido) de quatro
anos: se vai ser colocada nele uma tecnologia que economize 5% de
combustível, o preço do carro não pode ser 6% mais caro. Mesmo que ele
polua menos, o consumidor comprará da marca que oferecer a mesma
potência por um preço menor.
37
Instituto de Pesquisas Tecnológicas
38
Também professor da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo.
45
“Agora, o mercado de veículos pesados é diferente. Qualquer variação ínfima
de eficiência do motor ganha o consumidor, porque um caminhão roda muito
mais que um veículo leve e, por conseqüência, consome muito mais
combustível”, afirma o Dr. Nigro. Isso quer dizer que o proprietário pagará mais
caro por um veículo menos poluente, contanto que o veículo ande mais
consumindo menos diesel.
Segundo o Dr. Nigro, o governo poderia dar incentivos fiscais para os veículos
menos poluentes. O Ministério da Fazenda criou há pouco um grupo de
trabalho para estimular fabricantes de automóveis a adotar tecnologias de
baixo impacto no meio ambiente: melhorar a eficiência dos motores flex,
avançar no uso de energias renováveis etc.
Quando perguntei sobre o carro elétrico, o Dr. Nigro foi categórico: “isso é uma
solução para países ricos. Aqui, temos a melhor solução do mundo em termos
de combustível para veículos leves – o etanol”.
39
Professor associado da FM-USP e pesquisador do Laboratório de Poluição Atmosférica Experimental.
46
Como citado no tópico anterior, o Professor Nigro acredita que o Brasil tem o
melhor combustível do mundo para veículos leves – o etanol: “ele é renovável,
polui menos localmente (menos poluentes que afetam a saúde pública) e é
muito melhor que a gasolina em termos globais (emissão de gases do efeito
estufa).”
O pesquisador Fábio Luiz40 explica que o ciclo do álcool é muito mais fechado
que o da gasolina e, portanto, o etanol é muito mais vantajoso para diminuição
das emissões de CO2: “enquanto a gasolina pega o carbono estocado na terra
e joga direto no ar, a cana usa o CO2 do ar para crescer; então, sua conta de
poluentes globais é quase neutra”.
O Professor Lin endossa o etanol, embora seja mais contido e alerte: “diesel,
gasolina e etanol emitem hidrocarbonetos (HCs) quando queimados. Estes
compostos orgânicos não são monitorados, e estudos também têm relacionado
os HCs ao câncer de pulmão. Ainda assim, o etanol produz menos HCs, sendo
um combustível melhor para a saúde pública que a gasolina”.
Já a versão renovável do diesel, o biodiesel, está numa situação bem pior que
a do etanol – economicamente dizendo. De acordo com o Francisco Nigro, os
problemas são:
40
Do Instituto de Astrofísica, Geofísica e Ciências Atmosféricas da USP e coordenador do Inaira.
47
o preço final do biocombustível é muito mais alto que o do refinado do
petróleo: “o diesel comum custa R$ 2,00 por litro; o biodiesel, R$ 3,00.”,
diz o pesquisador.
Os motores de caminhões mais velhos são incompatíveis com grandes
quantidades de biodiesel – por isso a mistura nacional é de apenas 5%
de biodiesel no diesel comum. Uma comparação direta: a gasolina tem
25% de álcool anidro (não hidratado – o etanol combustível é hidratado).
“Colocar mais biodiesel na mistura faz aumentar o risco do motor velho
quebrar; aí, sim, vai poluir muito mais do que já polui”.
Mas sua adoção em larga escala traria benefícios para a qualidade do ar:
41
GAZZONI, Décio. O tesouro da superfície. BiodieselBR.com, 2009.
48
geraria emprego e renda para muito mais pessoas; caso se estabeleça um
processo de produção de biodiesel similar ao do etanol, é provável que sua
fabricação gere um número próximo de empregos.
“Criou-se uma mística em torno do pré-sal, de que ele seria o passaporte para
o desenvolvimento do Brasil em todos os sentidos. E eu acho que o petróleo é
o combustível dos séculos XIX e XX – e, com a exploração do pré-sal, o Brasil
está na contramão da história.”, defende Fábio Feldmann, para quem o
dinheiro a ser investido no pré-sal estaria melhor aplicado em desenvolvimento
de tecnologias limpas e educação.
Os veículos brasileiros, hoje, são muito mais eficientes que há 20 anos. Porém,
segundo o Professor Nigro, “a frota brasileira é velha; carros velhos e sem
inspeção poluem muito mais.” O professor dá um exemplo: um catalisador dura
80.000 km; depois disso, começa a perder eficiência e deve ser trocado.
Para garantir emissões baixas, o dono do carro deve arcar com o preço da
troca, estimada, para carros populares, em R$ 500,00. Só que o indivíduo que
chega aos 80.000 km e continua utilizando o carro acaba por considerar um
gasto desnecessário com um carro já envelhecido e cujo valor decaiu.
“Então, um carro velho chega a poluir vinte vezes mais que um carro novo. O
que adianta colocar inspeção para os carros novos, se os carros velhos são os
verdadeiros vilões da poluição atmosférica?”, questiona Nigro. Ele sugere que
se adote no Brasil um IPVA invertido, em termos de cobrança: “como no Japão,
o carro vai ficando velho e paga cada vez mais imposto. Aí, o cara é obrigado a
trocar; aqui no Brasil, não paga nada e polui um monte!”
49
O Professor Lin concorda com Francisco Nigro: “não adianta ficar
inspecionando carros novos - o problema são os veículos velhos, muito mais
poluentes. O que tem que ser feito é tirar os carros antigos de circulação.”
50
De acordo com Feldmann, “nós pusemos o pedágio pra começar essa
discussão no Brasil, mas a reação da imprensa contra a lei foi tão grande que
tanto Gilberto Kassab (Prefeito da São Paulo) quanto José Serra (atual
Governador do estado) retiraram o trecho sobre o pedágio. Se não retirassem,
a aprovação da lei inteira estaria comprometida.”
42
Cardilli, Juliana. Especialistas apontam pedágio urbano como solução para o trânsito. portal G1, 2008.
51
“O grande desafio, em minha opinião, é a ênfase dada ao transporte individual
e ao automóvel no Brasil – e, portanto, temos problemas gravíssimos de
poluição e congestionamento.”, afirma Feldmann. Ele considera inevitável a
transição do automóvel individual para o transporte publico por causa do
congestionamento na RMSP, que atinge recorde após recorde. “O tamanho da
frota no Brasil cresceu muito nos últimos anos e o congestionamento virou um
grande problema; o transporte publico eficiente, barato e não poluidor terá que
ser implantado”, diz ele.
52
Carona solidária - Para diminuir os congestionamentos e, por conseqüência, a
emissão de poluentes locais e globais, o Transporte Solidário, de 1997, é uma
idéia que pode ser reciclada, pois exige um curto prazo e baixos custos de
implantação (em comparação com um metrô).
O Professo Lin também acha a carona solidária uma boa opção: “sua
organização devia ser centralizada pelo poder público ou por uma ONG que
cadastrasse voluntários, para funcionar”. E completa: “às vezes, os vizinhos
vão para o mesmo lugar e nem se conhecem!”.
53
Em entrevistas, o Professor Paulo Saldiva já disse que “estamos 20 anos
atrasados” em relação ao controle de qualidade do ar versus conhecimentos
produzidos sobre a poluição do ar e seus efeitos na saúde. Um estudo43 de
2001 do Laboratório de Poluição Atmosférica Experimental (já citado em outro
capítulo), que avaliou o impacto do rodízio municipal de veículos na cidade de
São Paulo, afirma que “[...] mesmo os poluentes atmosféricos estando dentro
dos padrões permitidos de qualidade do ar, continuam afetando a morbidade e
mortalidade por problemas respiratórios. Sugere-se que esses limites de
qualidade do ar sejam reavaliados.”
43
MARTINS, Lourdes Conceição; LATORRE, Maria do Rosário Dias de Oliveira; SALDIVA, Paulo Paulo
Hilário Nascimento and BRAGA, Alfésio Luís Ferreira. Relação entre poluição atmosférica e
atendimentos por infecção de vias aéreas superiores no município de São Paulo: avaliação do rodízio de
veículos. Rev. bras. epidemiol. [online]. 2001, vol.4, n.3, pp. 220-229.
44
CETESB. Material particulado inalável fino (MP2,5) e grosso (MP2,5 – 10) na atmosfera da Região
Metropolitana de São Paulo (2000 – 2006). São Paulo 2008
54
No capítulo anterior, já foi exposto que o MP10 compreende todas as partículas
iguais ou menores que 10 µm, o que faz com que o material particulado fino
esteja dentro do espectro deste padrão. O MP10 é monitorado há décadas na
RMSP; contudo, pesquisas indicam que é necessário fazer o monitoramento
específico para o MP2,5 (partículas menores que 2,5µm), pois quanto menor a
partícula, mais profundamente ela penetra no sistema respiratório e pode
causar mais estragos.
45
CETESB. Material particulado inalável fino (MP2,5) e grosso (MP2,5 – 10) na atmosfera da Região
Metropolitana de São Paulo (2000 – 2006). São Paulo 2008.
55
O MP2,5, por outro lado, é emitido essencialmente por fontes antropogênicas
como a queima de combustível fóssil. É algo, em tese, passível de ser
regulamentado e controlado.
Por isso, deve haver legislação que estabeleça os níveis máximos do material
particulado fino, para que se possa desenhar políticas eficientes de controle de
suas emissões. Além de sugerir a regulamentação do MP2,5, o relatório da
CETESB recomenda “a transferência do transporte individual para um
transporte público de qualidade, acompanhado por avaliações dos possíveis
ganhos ambientais como a redução do MP2,5 na atmosfera.”
CONCLUSÃO
56
interesses e necessidades econômicas e opções históricas de desenvolvimento
econômico-urbano.
Quem vai pagar a conta, no fim, seremos nós. Não só eu ou o leitor, mas
principalmente a população mais pobre, que não pode andar de carro com um
bom filtro e condicionador de ar. Que fica nos pontos de ônibus respirando ar
poluído, de preferência nas avenidas mais movimentadas.
Com base neste estudo, o Ministério Público de São Paulo move uma ação civil
pública contra a Petrobrás e mais 13 montadoras. A refinaria é
responsabilizada porque o MP2,5 vem essencialmente da queima de
combustível veicular e carrega diversas substâncias tóxicas impregnadas a ele;
as montadoras, porque fabricam a fonte principal da poluição atmosférica
urbana, no Brasil.
57
A exploração do petróleo no pré-sal será um momento exemplar no país: o
Brasil tem a maior matriz energética renovável do mundo e, com a quantidade
de combustível fóssil encontrado por lá, o país periga sujar sua matriz
energética – por causa do grande lobby internacional do petróleo, pelo qual a
Petrobrás é beneficiada. Substituir por novas tecnologias e novas práticas
antigos hábitos é mais difícil do que ter que desenvolver o novo, sempre mais
custoso e sofrido.
Considero fundamental que grande parte do lucro que resultará dos negócios
do pré-sal tenha um fim claro: pesquisa básica e aplicada em desenvolvimento
de energias renováveis, para que seja firme o objetivo brasileiro de não mais
depender do óleo fóssil para mover seu crescimento econômico. Nunca é
demais lembrar: os derivados do petróleo (diesel e gasolina), quando
queimados como combustível, produzem a maior parte da poluição local das
cidades brasileiras.
58
Bibliografia
TESE....................................................
LIVROS................................................
ARTIGOS CIENTÍFICOS.....................
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ROHOLM, Kaj. The Fog Disaster in the Meuse Valley, 1930: A Fluorine
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NOTÍCIAS………………………...........
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http://www.nossasaopaulo.org.br/portal/node/560
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Revista Veja. São Paulo é uma das cidades mais sujas do mundo: a culpa é
dos automóveis. ed. Abril, 1968
62