O documento discute como a identidade é construída em relação aos espaços que ocupamos e como percebemos os outros. Também aborda como nossa percepção do espaço é mediada culturalmente e como as narrativas tentam direcionar nosso olhar. Finalmente, analisa diferentes modos de representação do espaço em narrativas e como o espaço pode construir a identidade do sujeito.
O documento discute como a identidade é construída em relação aos espaços que ocupamos e como percebemos os outros. Também aborda como nossa percepção do espaço é mediada culturalmente e como as narrativas tentam direcionar nosso olhar. Finalmente, analisa diferentes modos de representação do espaço em narrativas e como o espaço pode construir a identidade do sujeito.
O documento discute como a identidade é construída em relação aos espaços que ocupamos e como percebemos os outros. Também aborda como nossa percepção do espaço é mediada culturalmente e como as narrativas tentam direcionar nosso olhar. Finalmente, analisa diferentes modos de representação do espaço em narrativas e como o espaço pode construir a identidade do sujeito.
O espao da personagem em nossa narrativa seria, desse modo, um quadro
de posicionamentos relativos, um quadro de coordenadas que erigem a
identidade do ser exatamente como identidade relacional: o ser porque se relaciona, a personagem existe porque ocupa espaos na narrativa. Percebemos a individualidade de um ente medida que o percebemos em contraste com aquilo que se diferencia dele, medida que o localizamos. S compreendemos que algo ao descobrirmos onde, quando, como ou seja: em relao a qu esse algo est. p. 68
No existe olhar isento: quando abrimos nossos olhos, mesmo quando no
h um desejo ou interesse explcitos de ver algo, projetamos significadis naquilo que vemos. Tais significados no so puramente individuais, mas condicionados por um certo modo de olhar que cultural. Quando, por exemplo, pensamos que aquilo que est no alto, ocupando um lugar superior, possui mais valor do que aquilo que est embaixo, em posio inferior, estamos reproduzindo uma associao caracterstica da cultura ocidental oriunda, provavelmente, das oposies cu/terra e mente/corpo, tpicas sobretudo da tradio crist. Nossa percepo do espao fsico , assim, mediada por valores p.69 As estratgias narrativas audiovisuais tem por inteno direcionar esse olhar.
Aps fazer uma analogia com o espelho e sua capacidade de mostrar no o
objeto real como ele de fato , mas o seu reflexo que sempre modificado pela angulao do espelho que o reflete. O autor diz que: S vlido afirmar que o texto literrio reproduz a realidade se se entende que reproduzir significa, literalmente, produzir de novo, ou seja, em um gesto que , de certo modo, repetio, gerar uma realidade diferente. No entanto, seria possvel gerar um texto completamente desvinculado do contexto econmico, poltico, social, cultural no qual foi gerado? possvel imaginar algo absolutamente diferente daquilo que conhecemos ? Se tentssemos imaginar, por exemplo, como seria a vida em outra galxia, no tenderamos a projetar mesmo que atravs de modificaes os parmetros que definem nossa vida aqui? Seramos capazes de escrever uma histria na qual no houvesse tempo, espao, personagens, ao, linguagem? As narrativas de fico no nos parecem falar muito mais sobre desejos e conflitos humanos bsicos do que sobre uma possvel outra realidade, efetivamente distinta da nossa? O imaginrio nossa capacidade de supor o no ocorrido, de vislumbrar o desconhecido, de criar a diferena tambm est inserido no espao da nossa cultura. O inusitado se cria a partir de um desdobramento daquilo que familiar. A imagem nova surge da deformao da imagem que estamos acostumados a ver. p. 73
O autor discorre sobre os tratamentos dados ao espao, que esto
tradicionalmente e engessadamente divididos em determinasta e psicolgico e social. Ento ele conclui da seguinte forma. No se deve contudo cair na tentao de reduzir o espao narrativo a essas duas perespectivas uma determinista; a outra, psicolgica e social que muitas vezes funcionam como verdadeiras camisas-de-fora. J que ambas as perspectivas podem estar imbricadas ou at mesmo indissociadas, os diversos modos de representao do espao so dados para os quais de deve olhar com ateno. Na verdade, preciso relativiz-los, mesmo porque, em obras literrias distintas, h diferentes padres de produo de sentido. interessante notar, por exemplo, que, em um gnero especfico como a narrativa de viagem, a representao do espao sua novidade, sua descoberta que regula a construo do relato, em um processo que acaba por se projetar sobre o prprio sujeito da viagem, tambm ele uma categoria em transformao. Sujeito e espao acham-se intimamente interligados nessas narrativas. em funo do espao e da dificuldade de operacionaliz-lo que o sujeito adquire relevncia. O alargamento da ideia de espao efetuado a partir das viagens e navegaes altera as categorias conceituais atravs das quais se podia, at ento, pensar. p.81 Na narrativa contempornea, o espao contri-se a partir do cruzamento de variados planos espao-temporais experimentados pelo sujeito, apresentando uma dimenso mltipla e um carter aberto. No entanto, h, em determinados relatos, a preponderncia do espao sobre o tempo preponderncia que pode, eventualmente, cancelar toda memria, toda histria, colocando em xeque a prpria identidade do sujeito. p.82 Sobre espao e memria, checar pgs 84 e 85. Descrever os objetos situados nesses espaos funciona como tentativa de cristalizar o tempo passado, petrificar os lugares da memria. Essa a tarefa do memorialista. p. 85. Walter Benjamin admite que sua obra pode ser definida por uma preocupao nuclear com a experincia na metrpole moderna. Isso porque, contendo os labirintos histricos, os labirintos metropolitanos so capazes de apontar para a incerteza fundamental da localizao no tempo e no espao. sabido que Benjamin, em especial a partir da obra do escritor Charles Baudelaire, pensa o espao da cidade enquanto lugar de emergncia de um tipo especial de sujeito: o flneur, andarilho que vaga pelas ruas, lanando sobre a cultura urbana um olhar simultaneamente atento e distrado, crtico e cmplice. Em Benjamin, tanto o flneur quanto a prostituta so figuraes do peregrino sem fronteiras, pois colocam-se
contra a estabilidade consagrada e, assim como o espao urbano, esto em
permanente transformao. p.85 Nas pginas 87 e 88 o sujeito potico que anda pela cidade e o flneur so discutidos. No por acaso, a cidade, feixe de relaes, o lugar onde algo comea a desmoronar. No cenrio urbano, o sujeito se dissemina em inmero papis. A cidade se apresenta como um tabuleiro de xadrez em que identificaes e movimentos emergentes se cruzam. p.88 O habitante do espao humano concebido como um sujeito rasurado, deslocado. algum que, se sabendo estrangeiro, renuncia a qualquer pretenso de totalidade, de completude, pois j no h mais nem centro nem periferia fixox e delimitados, mas um campo de batalha onde fervilham diferenas e traos multiculturais. Os signos da diferena cultural no podem ser unitrios, porque sua contnua implicao em outros sistemas simblicos deixa-os sempre incompletos, constantemente abertos traduo. p.88-89
NUNES, Benedito. Narrativa Histórica e Narrativa Ficcional. In: RIEDEL, Dirce C. (ORG) - Narrativa: Ficção e História. Rio de Janeiro: Imago, 1988. P. 9-35.