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UNILESTE-MG
O
CURSO DE DIREITO - 1 PERÍODO -
DISCIPLINA: INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO DIREITO
UNIDADE 02 – Sociedade e direito. Direito e estado.

1- Socialidade do fenômeno jurídico. Direito depende da sociedade


Podemos afirmar que o homem é um animal gregário, essencialmente (quer dizer, tendente a viver com outros
homens, em grupos). Isso é próprio de sua natureza, de seu instinto de sobrevivência. O homem precisa se
comunicar, permutar experiências, produzir bens para si e para outrem e, em contrapartida, desfrutar do produto
do trabalho alheio, visto que lhe é impossível gerar sozinho tudo que precisa para viver.
Portanto, é inviável a vida do homem em isolamento. De início, ele se juntava a outros em pequenos bandos.
Com o passar do tempo, as necessidades humanas, sempre crescentes (alimentos vstuário, moradia, transportes,
cuidados pessoais, etc.), passaram a exigir um número maior de relacionamentos com outros indivíduos.
Muitas vezes tais relacionamentos aconteciam (e ainda acontecem) sob a forma de cooperação (juntando-se as
pessoas para conseguir alcançar um objetivo comum, visado por todas, como carregar grandes e pesados blocos
de pedra para construir moradias). Em outras situações surgiam sob a forma de concorrência, caracterizando-se
esta pela existência de convergência de interesses (de mais de uma pessoa) por um mesmo bem ou por uma só
coisa, sendo que apenas um dos interessados no bem ou coisa teria seu interesse satisfeito. Essa disputa por um
bem (por uma caça, um abrigo, um animal doméstico, um cargo, emprego, etc.) caracteriza a concorrência,
que é um tipo de relacionamento social.
Pois bem: nessas situações de interesses concorrentes, no princípio prevaleceu a vontade do mais forte,
solucionando-se o conflito pela submissão dos mais fracos aos mais fortes, num processo pautado pela
desigualdade de forças. Isso não favorecia a harmonia social, porque gerava insegurança, desequilíbrio, uma
disputa sem fim, retaliações. Para solucionar o problema, a vida social (entendida como sendo os seres humanos
dispostos em estado gregário) passou a exigir normas que deviam ser obedecidas por todos, seja voluntária,
seja involuntariamente, para que existisse a paz social. Tais normas nada mais são, também hoje, que processos
de adaptação social ou processos de ordenação social que tornam possível a vida na intersubjetividade,
amoldando os interesses de cada indivíduo aos interesses do grupo, de forma a gerar uma coexistência mais
harmoniosa, mais equilibrada.
O ordenamento social se faz então por diversos meios, por diversos processos de adaptação social do
indivíduo ao seu grupo, cada qual deles constituído por um conjunto de prescrições produzidas pelo grupo
com o intuito de padronizar as condutas individuais daqueles que o constituem. Prescrevem-se normas de
comportamento virtuoso, ou seja, normas éticas. Elas podem ser de natureza variada: normas morais,
religiosas, de trato social ou etiqueta ou, ainda, jurídicas. Nada mais são que uma forma típica de controle
social, elas uniformizam ou padronizam (estabelecem um modelo) as condutas individuais em benefício de
todos, da coletividade.
Algumas dessas normas de conduta são consideradas tão importantes – porque tendem à realização de valores
tidos como mais indispensáveis pela coletividade – que há previsão de sanções (penalidades) que podem ser
aplicadas (até mesmo com o uso da força!) por uma autoridade, quando desobedecidas. Essas é que são as
normas jurídicas, cujo conjunto é denominado “direito” ou, então, ordem jurídica. Ubi societas, ibi jus. Em
razão de poder ser imposto independentemente da vontade do indivíduo e poder usar da força para ser
obedecido, o direito é forma de controle social que tem mais possibilidade de garantir a ordem, a
segurança e a paz social. Diz-se então que ele “tem maior pretensão de efetividade”.
O direito assim entendido tem estreita ligação com a realidade social, depende da realidade social, da forma
como a sociedade se relaciona, como ela vive, pensa, como ela valoriza as coisas. A “escola sociológica
francesa”, comandada por Emile Durkheim, aprofundou essa relação do direito com a sociedade (é bom saber
que antes disso Montesquieu , no século XVIII, já havia feito referências ao fato de que o direito das sociedades
varia, dependendo de fatores climáticos). Reconheceram os adeptos da referida escola que o direito varia no
espaço (varia de uma sociedade para outra) e no tempo (varia, evolui, dentro de uma mesma sociedade, com a
evolução do tempo). A ordem jurídica depende do agrupamento social. Na verdade, as idéias de Durkheim
mostraram um aprofundamento da doutrina de Augusto Comte, da qual adveio o chamado positivismo
sociológico e o positivismo jurídico.
2

1.2 Augusto Comte, positivismo sociológico e positivismo jurídico


Augusto Comte é considerado o precursor do positivismo sociológico. Uma doutrina que prega ser a Sociologia
uma ciência positiva dos fatos sociais. Ciência positiva porque parte dos fatos sociais, de sua observação (o
empirismo é o método mais utilizado por ela, valoriza a experiência real, parte da observação da realidade). O
conhecimento só existe a partir da observação dos fatos e suas relações recíprocas. Estes são, segundo Comte, o
único objeto possível do conhecimento científico. Nega ele a existência de princípios apriorísticos (nega a
metafísica, ou seja, o que está além da experiência, do que pode ser observado). Para Comte a Sociologia, uma
ciência positiva dos fatos sociais, seria superior às demais ciências, porque somente ela seria capaz de reformar
a sociedade. O direito seria mero setor da sociologia, para o pai do positivismo sociológico!
Dessa doutrina surgiram outras espécies de positivismo, entre os quais o positivismo jurídico, já que Comte
nega um direito natural, formado por princípios apriorísticos e existente independente da vontade do homem.
Reconhece apenas o direito positivo, no sentido de direito posto para uma sociedade, objetivamente, através de
normas jurídicas palpáveis, passíveis de observação, de estudos (lembre-se, ciência positiva implica
conhecimento passível de observação, só pelo empirismo se adquire o conhecimento). Limita então o
conhecimento científico-jurídico ao estudo das legislações positivas, consideradas como fenômenos espaço-
temporais (variáveis no tempo e espaço).1 Aí está o ponto de partida do positivismo jurídico.

1.3 Outras posições : direito social de Gurvitch


O destaque para a correspondência entre o direito e a sociedade também foi feito por Georges Gurvitch,2 na
sua teoria do direito social. Segundo esse jurista e filósofo russo, a cada tipo de sociabilidade (forma de
relacionamento social) corresponde um tipo de direito. Haveria então um direito correspondente às relações
de aproximação (como o direito de família, o direito das sociedades comerciais e civis), o direito correspondente
às relações de afastamento (como o direito de propriedade), o direito correspondente às relações mistas, de
aproximação e afastamento (como o direito dos contratos). Portanto, seria o direito mero reflexo das
modalidades de relacionamento social, dependeria deles para se formar.
Essas idéias foram sustentadas no início do século XX; posteriormente surgiram outras, entre as duas Grandes
Guerras, cujo mérito foi sempre o de acentuaram a dependência entre direito e realidade social, entre
direito e tipo de sociedade.

1.4 Normas sociais, ordem social; normas jurídicas


O direito, assim como a sociedade, é fenômeno universal; a sociedade é regida por um complexo de normas
sociais de comportamento (“normas sociais” seriam m gênero que se desdobra em várias espécies) que formam
a ordem social. Elas controlam a liberdade humana de agir.
As normas sociais de comportamento são acompanhadas de sanções (conseqüência danosa aplicável aos que
violam a ordem social, independentemente de sua vontade). Todas as sociedades são controladas por normas
sociais, jurídicas e não jurídicas (há normas sociais morais, religiosas, de trato social, todas elas “espécies”
desdobradas do “gênero” a que nos referimos acima). As normas sociais têm por finalidade dirigir o
comportamento humano, sendo responsáveis pela ordem e estabilidade sociais (controle social), porque têm em
vista alcançar o bem de todos, o bem comum.
Espécies de normas que formam a ordem social:
(a) as sancionadas (aprovadas) ou reconhecidas pelo poder público, que podem ser aplicadas coercitivamente por
órgãos desse poder (como os tribunais, juízes, autoridades administrativas); suas sanções, que são
institucionalizadas (organizadas e previamente definidas) podem ser impostas por tais órgãos;
(b) normas estabelecidas pelos costumes sociais e que independem do poder público, não sendo suas sanções
impostas por ele e nem institucionalizadas (normas morais, religiosas, de trato social ou etiqueta).

1
DINIZ, Maria Helena. Compêndio de introdução à ciência do direito. 17 ed. São Paulo: Saraiva, 2005, p. 102-103.
2
Georges GURVITCH, jurista e sociólogo russo, radicado na França, professor universitário em diversos países da Europa
e nos EEUU, criou a teoria do direito social, fundado na experiência jurídica e inspirado na justiça. Cf. GUSMÃO, Paulo
Dourado de, p. 398.
3
As normas jurídicas pertencem à primeira espécie: são aprovadas (sancionadas), ou reconhecidas pelo poder
público e suas sanções são organizadas, institucionalizadas, podendo ser impostas pela força desse mesmo poder,
através de órgãos especializados São características que diferenciam as normas jurídicas das outras normas
sociais.
No Brasil grande parte das normas jurídicas são escritas e podem ser codificadas (temos muitas codificações,
que reúnem normas jurídicas, como o Código Civil, o Código Penal, o Código Tributário Nacional, etc.).

2. Sistemas normativos
Formados por conjuntos de normas sociais (normas de controle social) que têm mesmo objeto e finalidades (ex.
normas que disciplinam as relações de parentesco, muitas do direito, outras não). Muitos desses sistemas
normativos dão origem a instituições sociais (Igreja, família, casamento, propriedade, por exemplo).

3. Instituições sociais e instituições jurídicas


Conceito: “modelos de ações sociais básicas, estratificados historicamente, destinados a satisfazer
necessidades vitais do homem e a desempenhar funções sociais essenciais, perpetuados pela lei pelo costume e
pela educação”.3
Características: (a) duradouras, são estáveis embora não sejam imutáveis; podem se transformar com a
transformação da sociedade mas mesmo assim não perdem suas características básicas; (b) satisfazem
necessidades vitais básicas (como o casamento) ou são condições fundamentais da ordem social (como o
Estado). Através da História adquirem e perdem funções (ex. família antiga tinha funções políticas e de culto;
Igreja monopolizava o registro civil, era árbitro de conflito internacionais).
Tipos de instituições sociais: (a) políticas (Estado, ONU, partidos políticos); (b) religiosas (Igreja); (c)
educacionais (Universidades, escolas); (d) econômicas (bancos, propriedade, contrato); (e) familiares (família,
união estável, concubinato).
Normatização das instituições sociais pelo direito: quando vitais e socialmente básicas o direito delas se
ocupa, disciplinando-as através de normas jurídicas. Tornam-se assim “instituições jurídicas”. A CF (conjunto
de normas jurídicas constitucionais), por exemplo, dá forma a instituições políticas fundamentais (Estado,
governo, judiciário, Ministério Público, Defensoria Pública, Magistratura, etc.). Outras são regulamentadas pelo
direito civil (como o casamento), o direito internacional (como a ONU, a Corte Internacional de Justiça), etc.
Direito dá estabilidade e garantia às instituições sociais fundamentais, ao discipliná-las através de suas normas.
Revisando: o direito (as normas jurídicas) é uma das espécies das normas sociais, aquelas que formam a ordem
social. Normas jurídicas são previamente estabelecidas, para serem conhecidas; são geralmente acompanhadas
de sanções institucionalizadas e podem ser impostas coercitivamente pelo Estado, através de seus órgãos.
Sanções institucionalizadas e coercibilidade distinguem as normas jurídicas das demais normas sociais.

4. Direito, fato social


O fato social possui características exteriores e interiores (significado). O que o homem faz, constrói, é
carregado de significados, porque tem sempre em vista uma finalidade e um valor (caráter teleológico e
axiológico). O direito é fato social exteriormente, porque é geral, comum, pressiona todos na sociedade, pune o
infrator de suas normas com sanções que são previamente estabelecidas. Além disso, é carregado de
significados, precisando ser compreendido – o que exige a interpretação (compreensão do significado de suas
normas, levando em conta finalidade e valores). Por isso Miguel Reale elaborou a teoria da tridimensionalidade
do direito: este é fato social, valor e norma.4

5. Realidade social e adequação do direito


A realidade social dá elementos para a construção do direito. Este tem todavia que se adequar ela. Tem que
acompanhar a opinião pública, assimilar e refletir os valores sociais, sob pena de não ser observado (é o mesmo
que não ser efetivo) e de não alcançar as finalidades paras as quais foi criado (isto é, não ser eficaz). Mais
3
GUSMÃO, Paulo Dourado de. Introdução ao estudo do direito. 32 ed. Rio de Janeiro: Forense, 2002, p. 32 e 36.
4
Leia sobre a Teoria Tridimensional do Direito em GUSMÃO, Paulo Dourado de. Op. cit., p. 198.
4
ainda: o homem precisa estar disposto a acatar o direito, cumpri-lo; não basta criar normas jurídicas.
Atenção: o direito não é mero reflexo dos fatos; em várias situações, diferentemente, ele tem a finalidade de
modificar a realidade social. Novas normas jurídicas são constantemente introduzidas mas, mesmo assim, pode
haver descompasso (distanciamento) entre a realidade social e o direito legislado. O direito jurisprudencial
(firmado pelos Tribunais) muitas vezes corrige o descompasso, antecipando-se ao legislador.

6. Adaptação da ação humana ao direito


A sociedade cria o direito e se submete a ele. O processo é complexo. Primeiro há uma fase de assimilação ou
cognição (conhecimento) do direito criado. Nela podem surgir divergências sobre seu significado. Após definido
o sentido, o espírito da norma jurídica, vem a fase de seu cumprimento; a sociedade segue os novos parâmetros,
comporta-se de acordo com eles.

7. Direito e relações sociais


A vida em sociedade pode ser vista como uma rede de relações sociais. Elas podem ser caracterizadas como
relações de aproximação, afastamento e mistas (Gurvitch). Podem se transformar umas em outras. Dessas
relações, que podem ir sempre se modificando, vão surgindo direitos e obrigações. A modificação dessas
relações pode ser exemplificada com as relações surgidas após uma guerra entre vitoriosos e vencidos.
Inicialmente, podem ser de pura dominação; depois os vencidos, progressivamente, podem ir se adaptando aos
novos valores, assimilando a cultura dos vencedores (aculturação). O inverso também pode acontecer: os
vencedores podem assimilar a cultura dos vencidos (isso ocorreu, por ex., com os povos germanos que
conquistaram os domínios de Roma e que tiveram seu direito romanizado). Relações jurídicas: relações sociais
(as mais importantes) podem se transformar em jurídicas, ao serem regidas por normas jurídicas; podem surgir
relações jurídicas até entre nações, disciplinadas por costumes e por tratados internacionais.

8. Fatores sociais (naturais e culturais) e direito


Grupos sociais, relações sociais, sofrem a influência de fatores sociais _ demográficos (como aumento de
população), geográficos (clima, chuvas, seca, calamidades, etc.), econômicos, religiosos, éticos, políticos, idade,
etc. (veja os exemplos no texto de Paulo Dourado de Gusmão). O direito também vai refletir a influência
desses fatores (eles influenciam a sociedade e o direito reflete a sociedade): as normas jurídicas podem
dificultar a imigração, congelar os aluguéis, determinar abertura de linhas de crédito, dar incentivos fiscais para
as indústrias que se estabelecerem em regiões de seca, fixar regras para construções em regiões sujeitas a
terremotos, tabelar/congelar preços, racionar alguns produtos (até energia), extinguir obrigações contratuais,
possibilitar revisão judicial de contratos que, devido a certos fatores, se tornaram excessivamente onerosos para
uma das partes. O direito sofre influência desses fatores mas pode, por outro lado, superar a influência
deles, através da legislação.
Não há um só fator social determinante do direito, nem se pode dizer que um é mais importante que o outro. Em
certa época um deles pode predominar, excluindo a influência de outros.

9. Direito e economia
Rudolf Stammler5: o direito reduz-se à “forma” de “matéria” econômica.
Karl Marx (“determinismo econômico”): a sociedade possui uma infra-estrutura econômica, constituída pelas
relações de produção; sobre tal base se erguem as superestruturas jurídica e política, Estas são determinadas
pela infra-estrutura econômica. Esse determinismo econômico foi contestado por Max Weber, sob a alegação de
que há sim fatores que exercem influência sobre as estruturas econômicas (agem como determinantes dela).
Como a ética protestante, mais flexível com relação aos juros e lucros, que foi decisiva para o florescimento do
capitalismo (estrutura econômica) em alguns países, onde não predominava o catolicismo. Não se pode negar a
5
Rudolf Stammler, jurista e filósofo alemão cuja obra data do início do século XX, preocupou-se com a relação da Economia com o
direito. Perguntando sobre ser logicamente possível a Economia, concluiu que sim, desde que se admitisse a anterioridade do direito, que
definiu como vinculação das pessoas para alcançar sua finalidade. Isso significa que, no seu entendimento, uma ordem econômica só é
possível em uma ordem jurídica, porque só através do direito podem ser impostas formas de vinculação entre pessoas . A empresa,
por exemplo, só é possível recebendo a forma jurídica tornando-se também uma noção jurídica. Cf. GUSMÃO, Paulo Dourado.
Introdução ao estudo do direito, p. 391.
5
grande influência da economia (fatos econômicos) sobre o direito. A História nos dá muitos exemplos: crise
econômica de 1929 derrubou a República Velha e instalou a ditadura de Getúlio Vargas, com nova ordem
jurídica; mesma crise conduziu à industrialização, à crise do café e à legislação trabalhista. Guerra entre árabes e
judeus na década de setenta: produção racionada pelos árabes, aumento do preço do petróleo, abalos na
economia mundial e nacional, normas jurídicas surgindo para controlar o preço da gasolina, para disciplinar uso
de automóveis, para congelar preços de bens e serviços que aumentaram com a crise, etc. Contudo, não podemos
esquecer que o direito sofre também a influência de outros fatores, além do econômico.

10. Cultura, civilização e direito


Muitas são as distinções apontadas entre cultura e civilização e há de se pensar se existem relações de cada uma
delas com o direito. Primeiro é preciso entender o significado de cada uma das expressões. A “cultura” pode ser
entendida como tudo que é construído pelo homem em sua sociedade, com base na natureza: crenças, costumes,
hábitos, normas, etc. É a parte do ambiente feita pelo homem.
A cultura surge em uma sociedade e pode passar para outras, enriquecendo-se, e ir se tornando comum a várias
sociedades (formando uma “grande sociedade”). Estas várias sociedades irmanadas pela mesma cultura é que
constituem uma “civilização”. A Civilização Ocidental, por exemplo, teve sua origem na cultura grega, que se
espraiou para Roma e depois para a Europa medieval, fundada em valores greco-romanos-cristãos; depois,
alastrou-se para outras sociedades, inclusive a nossa. Discute-se se o direito tem vinculação com a civilização.
Sustentam muitos que cada civilização tem seu tipo de direito. Assim, o direito ocidental se funda em um tipo de
cultura, a que coloca o direito acima do poder dos governantes (caso Watergate , nos EEUU; impeachment de
Collor, acusado de irregularidades no governo), exigindo a não concentração (divisão e equilíbrio de poderes), a
que defende o respeito à pessoa humana e à liberdade. Civilizações sem a mesma origem cultural têm um direito
bem diverso. Origens culturais do nosso direito: estão no direito ateniense e romano, estando ele integrado à
Civilização Ocidental.

11.Direito e poder. Direito e Estado


O poder impulsiona transformações sociais; é tema central da Política, do Direito Constitucional. A ação
política tem por objetivo principal a conquista, a manutenção e o exercício do poder. Embora relacionado à idéia
de “força”, não se confundem.
A força é a possibilidade de fazer cumprir uma ordem, mesmo quando houver efetiva resistência a ela; supõe
que haja efetiva resistência..
O poder é a competência para ditar ordens, tomar decisões que devem ser obedecidas e, se houver resistência,
pode-se usar da força para vencê-la; supõe então a possibilidade de resistência, a possibilidade de uso da força.
O poder é a garantia da eficácia do direito; sem uma estrutura de poder, não haveria como sancionar aqueles que
violassem as normas do direito.
Normas de conduta que não têm a garantia do poder não são do domínio do direito mas sim de outros, como da
moral. Essa é uma diferença fundamental entre normas jurídicas e demais normas sociais: aquelas têm a
possibilidade de serem impostas pelo uso da força. Por isso se diz que o direito é norma + poder. Contudo,
mesmo se aceitando ser o direito norma reconhecida ou sancionada (aprovada) e aplicada por um centro de
poder, não se pode cair no radicalismo do positivismo jurídico ao identificar o direito com o direito estatal e
fazê-lo depender apenas da vontade do governante. Afinal, temos também (ao lado do direito estatal, como as
leis) os costumes (direito costumeiro), o direito surgido de acordos de vontade, provenientes da autonomia das
partes que pactuam. As leis (forma de direito estatal) devem estar acima do poder e de quem o exerce. Na
mesma posição estão os Direitos do Homem, reconhecidos e declarados na Declaração Universal dos Direitos do
Homem (ONU, 1948), embora, na prática, nem sempre sejam respeitados.
Bibliografia.
DINIZ, Maria Helena. Compêndio de introdução à ciência do direito. 17. ed. São Paulo: Saraiva, 2005.
GUSMÃO, Paulo Dourado de. Introdução ao estudo do direito. 32. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2002.
SECCO, Orando de Almeida. Introdução ao estudo do direito. 9. ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2005.
OBSERVAÇÃO: estude a unidade no livro de Paulo Dourado de Gusmão, p. 31 a 44.

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