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Teoria e Prática na Engenharia Civil, n.4, p.12-21, Abril, 2004
Métodos dinâmicos para previsão e controle docomportamento de estacas cravadas
Antonio Marcos de Lima Alves
1
,
 
Francisco de Rezende Lopes
2
 &Bernadete Ragoni Danziger
3
1
 Programa de Engenharia Civil, COPPE-UFRJ, Rio de Janeiro, RJ, amlalves@aol.com
2
 Programa de Engenharia Civil, COPPE-UFRJ, Rio de Janeiro, RJ,  flopes@pec.coppe.ufrj.br 
3
 Departamento de Engenharia Civil, UFF, Niterói, RJ, bernadeterd@hotmail.com
RESUMO:
Os métodos dinâmicos constituem-se, atualmente, em importante e usual ferramenta para projeto, controle e garantia de qualidade de fundações profundas constituídas por estacascravadas. Apresenta-se no trabalho, resumidamente, os fundamentos das principais técnicas deanálise dinâmica utilizadas na engenharia de fundações. Será dada ênfase às contribuições pioneirasno assunto, bem como à comparação conceitual entre as chamadas “fórmulas dinâmicas” e asanálises baseadas na Equação da Onda.
1.
 
INTRODUÇÃO
A monitoração durante a cravação tem sido,desde o século passado, ferramenta importantee usualmente empregada no controle e aferiçãode fundações em estacas cravadas. Atradicional medida da penetração permanentesob um golpe do martelo, a “nega”, que temcomo principal finalidade o controle dahomogeneidade de um estaqueamento, costumaser também empregada, através de alguma“fórmula dinâmica”, para previsão dacapacidade de carga estática da estaca.Por outro lado, o uso das fórmulasdinâmicas sempre foi motivo de discussões nomeio técnico. O número enorme de fórmulasdisponíveis, associado à falta de embasamentofísico das mesmas (muitas são parcial outotalmente empíricas), impossibilitou a adoçãode uma única fórmula pelos engenheiros.Com a evolução das técnicas de execução defundações e devido ao grau de responsabilidadede certas obras (como estruturas “offshore”, por exemplo), tornou-se imperioso um avançonas técnicas de monitoração, visando aobtenção de melhores e mais abundantesinformações durante as cravações, possibilitando um controle mais adequado àsnovas necessidades. Foi neste contexto quesurgiram os métodos baseados na equação da propagação de ondas de tensão em barras, achamada “Equação da Onda”.Como muito bem expuseram Goble et al.[7], estes métodos foram desenvolvidos com ointuito de responder a uma ou mais dasseguintes questões:
 
Qual é a capacidade de carga estática daestaca, dadas as observações tomadasdurante a cravação?
 
A estaca pode ser cravada, uma vezconhecidas as propriedades da estaca, dosolo e do martelo de cravação(cravabilidade)?
 
A estaca está estruturalmente sólida(integridade)?
 
Quais são as tensões na estaca durante acravação?
 
Qual é a eficiência do sistema de cravação?Um marco importante que permitiu oavanço da técnica de monitoração de estacasfoi o trabalho de Smith [13], que introduziu demaneira prática na engenharia de fundações aidéia (já concebida por Isaacs [8] em 1931) derepresentar a cravação de uma estaca, nãocomo um fenômeno de impacto newtonianoentre dois corpos rígidos (como supõem asfórmulas dinâmicas), mas como um fenômenode transmissão, através da estaca, de ondas detensão.Com a evolução dos equipamentoseletrônicos de medição e dos computadoresdigitais, as monitorações ganharam muito emacurácia e agilidade, permitindo que modeloscomplexos para a representação do
 
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13comportamento da estaca e do solo durante acravação fossem adotados.Com um caráter mais informativo do queanalítico, este trabalho busca fazer umadescrição sucinta das principais técnicas demonitoração e análise dinâmica de estacasadotadas na engenharia de fundações.
2.
 
FÓRMULAS DINÂMICAS
As fórmulas dinâmicas surgiram com oobjetivo de tentar correlacionar a resistência dosolo à penetração da estaca, durante a cravação,com a sua capacidade de carga estática. Agrande maioria destas fórmulas foi deduzidacom base na lei de Newton referente aoimpacto entre dois corpos rígidos, modificadas para levar em conta as perdas de energia queocorreriam durante o processo de cravação.
2.1
 
Medidas de nega e repique
O controle da cravação de uma estaca é,tradicionalmente, efetuado pela medição donúmero de golpes necessário para uma dada penetração permanente da estaca no terreno.Denomina-se
nega
 ao valor do deslocamento permanente médio obtido nos 10 últimosgolpes do processo de cravação. Outra maneirade se obter a nega é através da técnica dacolagem de uma folha de papel na estaca, sobrea qual um lápis é movimentadohorizontalmente, durante o golpe do martelo(Figura 1). Esse procedimento permite não só amedição da nega, mas também do
repique
(deslocamento elástico), também usado naestimativa de capacidade de carga.Caso uma estaca não atinja a negaespecificada, a estaca não está aceita, devendo-se proceder a uma recravação ou até mesmoreforço (em casos mais críticos).A nega é correlacionada à capacidade decarga da estaca através das fórmulas dinâmicas.Assim, a partir da capacidade de carga desejada(determinada através de métodos teóricos ousemi-empíricos), pode-se fixar a nega máximasatisfatória para determinada estaca em umaobra. Por outro lado, poder-se-ia estimar acapacidade de carga de uma estacaconhecendo-se sua nega.Figura 1 – Medição da nega e repique (Aoki[1])
2.2
 
Alguns exemplos de fórmulas dinâmicas
Serão citadas a seguir algumas das fórmulasdinâmicas mais conhecidas. Uma lista maior defórmulas pode ser encontrada em Chellis [4].Será usada a seguinte simbologia geral narepresentação das fórmulas:
 A
 = área da seção transversal da estaca
c
 = deslocamento elástico (repique)
 E 
 = módulo de elasticidade do material daestaca
h
 = altura de queda do martelo de cravação
 L
 = comprimento da estaca
 P 
 = peso da estaca
 s
 = nega
 R
 = resistência do solo à cravação da estaca
 R
 = carga de trabalho da estaca (
 R
 =
 R
 /
 FC 
)
 = peso do martelo de cravaçãoO fator de correção
 FC 
, mais do que umsimples fator de segurança, procuracorrelacionar a resistência dinâmica da estaca,durante a sua cravação, com a resistência que amesma estaca terá sob carregamento estático.A fórmula de Sanders, proposta em 1851,iguala a energia de queda do martelo com odeslocamento da estaca (nega) multiplicado pela resistência à cravação, desprezandoqualquer perda de energia (Figura 2). O fator de correção indicado é igual a 8.
 s Rh
 ⋅=
(1)
 
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14
 s R
Figura 2 – Hipótese adotada na fórmula deSandersA fórmula do Engineering News Record, proposta por Wellington em 1888, contém umaconstante que considera as perdas elásticas(Figura 3), devendo ser usada com um fator decorreção 6:
    +=
2
c s Rh
(2)onde
c/2
 = 2,54 cm para martelos de quedalivre e 0,254 cm para martelos de ação simples,dupla e diferenciais a vapor.
Desloca-mento
 s R
c
Figura 3 – Hipótese adotada na fórmula doEngineering News RecordA fórmula dos Holandeses, proposta em1812, utiliza a relação entre o peso da estaca eo peso do martelo de cravação, para considerar as perdas de energia no impacto entre os doiscorpos:
    +=
 P  s Rh
1(3)A fórmula dos Holandeses deve ser usadacom fator de correção 10 para martelos dequeda livre e 6 para martelos a vapor.A fórmula de Hiley, de 1925, supõe que haja perdas de energia:1.
 
no martelo (
e
 f 
 
);2.
 
no impacto (
 P e P he
 f 
+
2
1, onde
e
 éo coeficiente de restituição do choque);3.
 
 por compressão elástica do capacete(2
1
c R
 ⋅
);4.
 
 por compressão elástica da estaca(22
2
c R A E  L R R
 =
);5.
 
 por compressão elástica do solo (2
3
c R
 ⋅
).Então:
(
2221
3212
c Rc Rc R  P e P hehe s R
 f  f 
+=
Combinando os termos, chega-se na fórmulade Hiley (fator de correção 3):
( )
 P  P eccc s he R
 f 
+++++ =
2321
21(4)Valores recomendados de
c
1
,
c
2
,
c
3
 e
e
 podem ser encontrados em Araújo [2] e Chellis[4].A fórmula de Janbu, proposta em 1953,adota constantes empíricas e a relação entre pesos da estaca e do martelo, bem como perdasde energia por compressão elástica da estaca(fator de correção=2):
    +++    +=
 P  P  s Rh
15,075,0 1115,075,0
λ 
(5)onde:Deslocamento

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