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A OBSERVAÇÃO DE AVES COMO POSSÍVEL FERRAMENTA PARA

PROJETOS PEDAGÓGICOS NO ENSINO FORMAL

Wagner Nogueira Alves (wnabio@gmail.com)¹

¹ Graduado no Curso de Ciências Biológicas, Licenciatura e Bacharelado em Gestão

Ambiental da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, Unidade Betim – PUC

Minas Betim.

Resumo

No Brasil as metodologias ultrapassadas e desinteressantes são responsáveis por grande parte


da ineficácia do ensino de ciências, que chega a ser encarado com efetividade duvidosa e
facultativa não só pelos alunos, em alguns casos, até mesmo pelos professores.

No entanto a adoção de práticas e projetos pedagógicos alternativos desperta o interesse dos


alunos e faz com que eles aprendam com mais facilidade. O presente projeto teve como
objetivo avaliar a aceitação e a eficácia da Observação de Aves como possível ferramenta para
o ensino formal, com base nos resultados obtidos na aplicação deste projeto em uma turma do
3º ano do Ensino Médio, da Escola Estadual Nossa Senhora do Carmo, em Betim- MG.

Os resultados desse estudo mostraram que os alunos são muito receptivos a essas
metodologias alternativas e inclusive declaram ter seu aprendizado potencializado e
estimulado através das mesmas.

Palavras-chave: Observação de aves, prática pedagógica, ensino formal, educação

ambiental.

Introdução

A compreensão da complexidade do meio que nos cerca e do papel que cada

um de nós exerce como atores nas atividades que causam modificações nesse meio,

requerem pensamentos tão abrangentes e complexos quanto os processos

supracitados. É comum que uma pessoa não compreenda como ela é parcialmente
responsável por determinados impactos ambientais que ocorrem muito longe do

alcance de seus olhos, isso se dá em muitos casos por concepções errôneas de Meio

Ambiente, excludentes em relação ao ser humano (Carvalho; Molin et. al., 2007, de

Oliveira Bezerra e Gonçalves, 2007), assim como desconhecimento da teia de

interações que as liga a tais processos (Molin et al., 2007; Bezerra e Gonçalves, 2007).

É interessante o questionamento feito por Lestinge e Sorentino (2008), sobre o

quanto estudar o meio nos faz sentir mais pertencentes à vida e ao mundo. Mas até

que ponto será que precisamos realmente ser estudiosos do meio para nos sentirmos

de tal forma? E até que ponto ser um estudioso do meio é suficiente para que esse

sentimento seja real?

No nosso atual contexto social é impossível que todos sejam “estudiosos do

meio ambiente”, mas não é impossível que todos tenham noções básicas de cidadania

e respeito pelos recursos comuns à sociedade. Concomitante a isso, penso que seja

necessário não encararmos os recursos (sejam eles inanimados ou provenientes de

outros seres vivos) como “bens”. Isso somente reforça as formas mercantilista e

utilitarista com que a humanidade vem tratando o planeta.

Essa necessidade de uma mudança de postura, reflete uma necessidade de

mudança de paradigma, que engloba, inclusive, um paradigma educacional (Rosa et

al., 2008), afinal de contas, não podemos exigir uma mudança de postura de quem

sequer sabe como efetivamente contribui para essas modificações negativas no meio.

Tão pouco, podemos esperar, que essas pessoas que não sabem de sua co-

responsabilidade, adotem posturas ambientalmente corretas. Penso que seja


necessário educar e informar antes de repreender e cobrar atitudes que consideramos

ser ideais.

É nesse enfoque que ganha destaque a importância do ensino de ciências na

educação formal, que tem como um de seus objetivos oferecer subsídios para que o

indivíduo consiga se situar como componente do meio que o cerca e participante dos

processos que afetam esse meio (PCN). No entanto, a forma como o ensino de ciências

é abordado na atualidade, em muitos casos, sequer consegue chamar a atenção dos

alunos, grande parte dessa inefetividade se dá em virtude de metodologias

ultrapassadas e em muitas vezes colocam o ensino de ciências como uma atividade de

eficácia facultativa, e com finalidades e aplicabilidades pouco ou mal definidas

(Bonamino e Franco, 1998).

Nesse contexto torna-se importante a criação de novas metodologias que

sejam capazes de preencher as lacunas presentes nas atuais, ou seja, capazes de

transmitir adequadamente os conhecimentos de interesse e que consigam despertar o

interesse e a curiosidade do público alvo.

A observação da vida selvagem (Wildlife Watching) é um tipo de atividade que

vem se popularizando cada vez mais no mundo (Tapper, 2006). É uma importante

atividade para a economia de muitos países, principalmente os ricos em

biodiversidade e não tão ricos economicamente, como Costa Rica, Tanzânia, África do

Sul, Botswana, Belize, Zâmbia, Equador, Indonésia e Quênia (Yourth, 2001), nos quais

podem inclusive influenciar em importantes tomadas de decisão por parte do governo

(Yourth, 2001).
Dentro do amplo espectro de atividades compreendidos na “Observação da

Vida Selvagem”, está incluída a Observação de Aves (Birdwatching), uma de suas mais

populares e representativas vertentes. O Birdwatching ou Birding, como é

popularmente chamado por seus adeptos, é uma atividade que envolve lazer, pesquisa

científica, exploração econômica, conservação e educação ambiental das mais diversas

formas, tornando-se um tema importante e moderno no atual contexto de

desenvolvimento brasileiro (Pivatto & Sabino, 2007).

O Birdwatching é responsável atualmente pela movimentação de cifras

consideráveis quando posto frente a outras vertentes do turismo (U.S. Fish and

Wildlife Service), e ainda conta com a vantagem de ser uma atividade baseada na

contemplação, sendo dessa forma, muito pouco impactante e prejudicial ao meio no

qual ela é realizada.

A atividade de Observação de Aves é uma ferramenta através da qual podemos

explicar e ilustrar uma série de conteúdos previstos no currículo regular do ensino de

ciências e biologia, com a vantagem de que o grau de aprofundamento com o qual

esses temas são tratados pode ser facilmente adaptado de acordo com o público alvo.

Os PCN do Ensino Médio relativos ao ensino de Ciências da Natureza preconizam a

importância se trabalhar com a complexidade e a abstração dos temas relativos às

ciências naturais, deixando de lado a simplicidade e superficialidade outrora presentes

no ensino fundamental. A observação de aves proporciona que esse tipo de

abordagem seja feita nas mais diversas escalas e nos mais variados temas, visto que

durante sua pratica são trabalhados aspectos da historia natural das aves, abordando

desde sua estrutura física até as complexas relações de interdependência que esses
seres (assim como todos os demais) estabelecem com seus semelhantes, com as

outras espécies e com o meio que os cerca.

Materiais e Métodos

O presente estudo foi realizado na Escola Estadual Raul Saraiva Ribeiro, situada no

bairro Angola, área central da cidade de Betim – MG. O público alvo foi composto

pelos alunos de uma turma do 3º ano do Ensino Médio. A aplicação do projeto se

dividiu em duas etapas: A metodologia de exposição teórica de informações e

posterior avaliação é uma adaptação da que foi utilizada por Vieira da Rocha e Molim

(2008). Primeiramente foi feita uma aula expositiva, que teve como principal finalidade

justificar para os alunos o porquê da escolha do tema, elucidando aspectos da

atividade de observação de aves e os relacionando com eventos do cotidiano e com

conteúdos de disciplinas escolares. A realização dessa etapa teve o auxilio de uma

apresentação de Power Point contendo tópicos e ilustrações sobre alguns assuntos

relacionados à biologia das aves, com enfoque na justificativa da temática do projeto,

enfocando fatores que tornam as aves interessantes objetos de observação e pesquisa.

Outros assuntos abordados foram: Como, onde e o que usar para praticar a

observação de aves, uma breve introdução aos equipamentos que podem ser

utilizados durante essa prática, aves como indicadores da qualidade ambiental, uma

introdução à zoofonia das aves e uma analise descritiva dos principais locais na região

de Betim onde a observação de aves pode ser praticada.

A realização da atividade prática de zoofonia de aves foi realizada para que os

alunos percebessem que, mesmo involuntariamente, acabamos por assimilar

informações sobre os seres que nos cercam. Para tal, foram tocadas vocalizações de
três espécies de aves, o joão-de-barro (Furnarius rufus), o sanhaçu-cinzento (Thraupis

sayaca) e o bem-te-vi (Pitangus sulphuratus), muito facilmente identificáveis (inclusive

por seus repertórios vocais) e que são muito comuns em áreas urbanas (Sick, 1997;

Matarazzo-Nerberger, 1992; Valadão et al, 2005; ), inclusive no entorno da escola e em

toda área urbana de Betim (obs. pessoais). Logo em seguida, os alunos eram

desafiados a acertar a qual espécie pertencia cada vocalização. Na seqüencia o nome

da espécie era revelado juntamente com uma foto ilustrativa.

A ultima atividade foi a aplicação um questionário contendo questões que

visavam avaliar a compreensão e a aceitação da proposta por parte dos alunos (Tabela

1), a categorização das questões foi adaptada de Vieira-da-Rocha e Molim (2008).

Tabela 1: Questionário aplicado aos alunos afim de se avaliar a efetividade dos método
utilizado enquanto ferramenta efetiva para o ensino das Ciências Naturais.

O questionário é curto e objetivo, sendo cada questão responsável por elucidar um

aspecto sobre o resultado da exposição teórica. A primeira questão tem a finalidade de

fazer com que os alunos exponham o quanto compreenderam sobre as características


das aves, que as possibilitam estarem presentes em praticamente todos os locais do

mundo. Já a segunda pergunta enfoca a aceitação e o interesse dos alunos sobre o

tema em si, o quanto a exposição teórica foi capaz de despertar neles a vontade de se

aprofundar mais nesse assunto. A última pergunta tem por finalidade saber como os

alunos se manifestam frente à possibilidade de ter contato com outros temas da

disciplina de Biologia através de metodologias alternativas, como por exemplo, a

observação de aves.

Resultados e Discussões

Inicialmente farei algumas considerações sobre a atividade prática de zoofonia,

que a principio foi idealizada como uma atividade de descontração e contextualização,

que não seria avaliada, mas que poderia servir para despertar o interesse dos alunos

pelas espécies com as quais convivem diariamente, mesmo sem perceber. No entanto

a atividade se mostrou muito mais interessante e efetiva do que eu havia imaginado,

com certeza em caso de uma nova aplicação dessa metodologia, a prática de zoofonia

receberia mais destaque e haveria uma metodologia definida para avaliar seus

resultados. Porém como isso não foi feito, me atenho a tecer alguns comentários e

fazer algumas considerações sobre seu andamento e resultados.

Pude perceber durante sua realização que nenhum dos participantes havia feito

algo similar. Quando os cantos foram tocados muitos risos e tentativas de acerto

frustradas tomaram conta do recinto, porém num nível muito adequado, não

atrapalhando em nada o bom andamento da atividade. Chamou-me a atenção o fato

de que a maioria das espécies sugeridas pelos alunos eram espécies amplamente

criadas em cativeiro no Brasil (Pereira e Brito, 2005), como sabiás (Turdus sp.), trinca-
ferro (Saltator similis), canário-da-terra (Sicalis flaveola), dentre outros. No fim das

contas, estavam apenas tentando aleatoriamente usando nomes que já sabiam

pertencerem a pássaros canoros. No entanto os cantos utilizados nessa prática não

pertenciam a espécies visadas por criadores (ilegais, amadoristas ou comerciais), mas

sim a espécies amplamente distribuídas em ambientes antropizados, com as quais

grande parte dos alunos muito provavelmente entra em contato todos os dias. A

vocalização do sanhaçu-cinzento rendeu boas risadas, pois ninguém fazia a menor

idéia de qual ave poderia emitir aqueles sons, os alunos partiram para palpites

lançados a esmo, com nomes de aves que eles nem sabiam ao certo se existiam na

região. No entanto ao ter a resposta revelada e uma foto da ave exibida ficaram

surpresos, alguns pelo fato de ter uma ave tão bela ao seu redor e nunca terem

reparado nela, outros por já conheciam o pássaro mas não sabiam que ele possuía um

canto “tão bonito”, como eles mesmos disseram. Já o canto do joão-de-barro os

deixou intrigados, pois é uma ave muito comum, que canta com freqüência, mas

dificilmente recebe atenção das pessoas, logo, os comentários mais comuns eram do

tipo: “Eu tenho certeza que já ouvi esse bicho antes, mas não sei o que é!”. Quando a

resposta foi revelada, mais uma vez a surpresa foi o sentimento dominante, porque a

ave era familiar a todos eles, mas ninguém havia sido capaz de associar seu canto tão

peculiar e freqüente à sua imagem. A última charada se tratava do comum e

amplamente conhecido bem-te-vi, que foi prontamente reconhecido por grande parte

dos alunos, talvez em virtude do seu nome popular se originar de uma onomatopéia

de uma de suas vocalizações mais comuns. Acredito que o objetivo principal dessa

prática tenha sido alcançado com sucesso. Objetivo esse que era a de fazer com que os
alunos despertassem para a importância de se manter olhos e ouvidos abertos e

atentos para os demais seres vivos do nosso entorno.

Como supracitado, a avaliação da assimilação do conteúdo exposto

teoricamente foi feita através de um questionário, contendo três questões (Tabela 1),

a primeira delas abordava um tema que foi muito enfocado durante a palestra, que é a

proximidade das aves em relação ao homem. Durante a explanação, conceitos

ecológicos como densidade populacional, competição, nichos ecológicos e recursos,

foram superficialmente abordados. A finalidade dessa pergunta era ver se as

informações tinham sido realmente assimiladas, ainda que de forma simplista. Para

análise, as respostas foram agrupadas em categorias, de acordo com as idéias que

expressavam, esse procedimento foi repetido para as demais questões, a fim de

permitir uma análise mais eficiente.

Quadro 1: Respostas para a


primeira questão
selecionadas dos
questionários:

“As aves tem uma forma fácil


e rápida de se locomover, por
isso as encontramos por toda
parte.”

Questionário 1.

“A falta de observação não


deixa as pessoas perceberem
Tabela 2: Respostas e justificativas para a primeira questão do que os pássaros estão estão
questionário. em toda parte.”

Questionário 2.
A análise das respostas da primeira questão (Tabela 2) demonstra que a

palestra ministrada aos alunos foi efetiva quanto à finalidade explicar que todo espaço

físico no qual estamos inseridos faz parte do nosso meio ambiente e que

compartilhamos esse espaço com uma infinidade de outros organismos, já que cerca

de 95% dos alunos (n=18) apresentaram respostas satisfatórias para essa questão.

Molin et al. (2007), Bezerra e Gonçalves, (2007) ressaltam que o conceito de meio

ambiente excludente em relação ao homem e focado apenas nas áreas naturais sem

intervenções antrópicas é muito comum no ambiente escolar, tanto por parte dos

alunos quanto por parte dos professores, por isso acredito que sejam de extrema

importância atividades que abordem a real proximidade do homem com o meio que o

cerca e com as espécies que coexistem com ele nesse espaço.

Quadro 2: Respostas para a


segunda questão
selecionadas dos
questionários:

“Sim, não só em relação às


aves, mas em geral, o papel
de cada item da natureza,
na natureza.”

Questionário 2.

“Sim, pois elas fazem parte


do nosso ambiente, assim
Tabela 3: Respostas e justificativas para a segunda questão do como todos os animais, são
questionário. muito importantes para a
natureza.”

Questionário 3.

A segunda questão tem um foco bem definido, que é o de averiguar o quanto a

aplicação desse projeto despertou o interesse dos alunos em aprender mais sobre as

aves. Os números demonstram claramente que a maioria absoluta (n=18) dos alunos

demonstrou interesse em aprender mais sobre o tema. Acredito que o resultado seja
realmente fidedigno, pois os questionários foram recolhidos sem nenhum tipo de

identificação dos alunos que os responderam e tão pouco foram passiveis de alguma

avaliação que resultasse em pontos para o semestre letivo, logo, havia completa

liberdade para que se expressassem da forma como quisessem.

Esses dados vão de encontro ao encontrado por Vieira-da-Rocha e Molin

(2008), que obtiveram 83% de aceitação por parte dos alunos quanto à perspectiva de

ensino de outros conteúdos do currículo formal através de temáticas ornitológicas.

Um outro dado muito interessante é que 44% dos alunos além de responder

positivamente sobre o interesse de aprender mais sobre as aves, ainda justificaram

essa razão com argumentos que indicam o entendimento das complexas relações

ecológicas que interligam todos os seres de um mesmo ambiente, incluindo o ser

humano. A relevância desses números é corroborada pelo estabelecido nos PCN do

Ensino Médio relativos ao ensino de Ciências Naturais, que preconiza a abordagem da

real complexidade dos conteúdos tratados, para que os alunos deixem para trás a

simplicidade que antes era presente nas aulas do Ensino Fundamental.

Quadro 3: Respostas para a


terceira questão selecionadas
dos questionários:

“Com certeza, aulas práticas


aumentam o interesse. Ver de
perto é mais interessante, mas
é claro, com o conteúdo
aplicado antes da pratica.”

Questionário 2.

“Sim, mas gostaria que


houvessem atividades com
outros tipos de seres vivos,
como peixes e árvores.”
Tabela 4: Respostas e justificativas para a terceira questão do
questionário.
Questionário 4.
A terceira e ultima questão do questionário ao mesmo tempo que avaliou o

interesse dos alunos por atividades similares às desenvolvidas nesse projeto ainda

fornece alguns subsídios para corroborar o refutar as afirmações de diversos autores,

como Bonamino e Franco (1998), que ressaltam a ineficácia de algumas técnicas de

ensino, atribuindo grande parte dessa não efetividade ao fato dessas metodologias

serem ultrapassadas e incapazes de despertar real interesse nos alunos. Surgiram

diversos tipos de justificativas para essa aceitação, algumas muito interessantes, que

refletem possíveis deficiências nas metodologias com as quais esses alunos vêm se

deparando ao longo de sua vida escolar.

Os resultados nos mostram uma total aceitação das metodologias de ensino

tidas como “alternativas”, dentre as quais se encaixa a observação de aves. Nenhum

aluno se mostrou contrário à utilização desses métodos de ensino. Uma considerável

parcela deles (28%) alegou que essas metodologias poderiam ser interessantes por

proporcionar um contato direto com o objeto de estudo, outros (11%) chamam a

atenção para o fato de que além de aprender com o auxilio das aves, gostariam de ter

também práticas envolvendo outras áreas da biologia. No fim das contas, a validade e

a importância desse tipo de metodologia foi uma unânime.

Considerações finais

Ficou evidente o interesse dos alunos na exposição de conteúdos formais

através de metodologias não formais. Inclusive, a metodologia proposta nesse

trabalho foi muito bem aceita, todos os alunos demonstraram surpresa e interesse ao

constatar que as aves eram seres muito mais interessantes que eles supunham e
inclusive, objetos de estudo e pesquisa capazes de ilustrar incontáveis processos

biológicos que são ensinados nas disciplinas de ciências naturais.

São muito interessantes as sugestões de Vieira-da-Rocha e Molin (2008) para

despertar o interesse e a percepção dos alunos acerca desse tema. As autoras

propõem a criação de núcleos escolares de observação de aves, nos quais os alunos se

reuniriam para discutir e realizar atividades teóricas e práticas, tendo como foco

principal a observação e estudo das aves. Essa perspectiva é fantástica, visto que os

alunos serão protagonistas dessas atividades e não só coadjuvantes acompanhando

um instrutor que esclarece todas as suas dúvidas. Nesse caso a busca pelas

informações, assim como a curiosidade para propor questões a serem pesquisadas

partiriam dos próprios alunos. Logo, a motivação dos mesmos, ao menos em tese,

seria muito maior.

O presente trabalho ainda deixa algumas lacunas, principalmente no que se

refere a trabalhos de campo envolvendo a observação de aves. Infelizmente não foi

possível agendar junto à escola uma saída de campo em tempo hábil para que os

alunos pudessem vivenciar como ocorrem as saídas para “passarinhar” (termo

corrente no meio dos observadores, que se refere ao ato de sair para observar aves).

Muito provavelmente o professor que se propor a realizar tal atividade de

campo terá que contar com o apoio de terceiros, familiarizados com a avifauna da

região e preferencialmente, com alguma experiência em observação de aves. Visto que

dar a devida atenção simultaneamente a uma grande quantidade de alunos é

extremamente complicado.
Outro ponto que deve ser mais bem explorado e avaliado em trabalhos futuros

é a zoofonia. Entender um pouco da comunicação vocal das espécies de aves é muito

interessante e em alguns casos, essencial para a prática da observação de aves. Além

de tudo, essas informações são perfeitos objetos de estudo para a ecologia, etologia e

muitos outros ramos da biologia. Inclusive, a prática de zoofonia foi um dos momentos

de maior interatividade com os alunos e despertou muito interesse por parte deles.

Creio que as considerações acima se fazem necessárias e não as vejo

puramente com um caráter depreciativo em relação ao meu próprio trabalho, as

encaro muito mais como proposição de melhorias para futuros trabalhos, meus ou de

outras pessoas que ocasionalmente se sintam motivadas pela leitura do mesmo.

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