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EC-29
Saúde defende
aplicação da
Emenda
Constitucional
12ª CNS:
Áreas da Saúde e estados
definem suas propostas
para a Conferência
SUS Verde:
Seminário de Ciência e
Tecnologia em Saúde dá
continuidade ao projeto
Amazônia Legal
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4 cartuns Neste cartum de um artista cubano, a
menina (feminino) porta o amor, e o
ção Federal e as leis são suas únicas da sociedade”. “A sociedade é que vai
Editorial 3
referências bibliográficas. Disse ain- impor os caminhos”, diz ele.
da que “é preciso ter a ousadia de Belo conselho para quem está nes- A Lei deste País
cumprir e fazer cumprir a lei”, e que se momento se preparando para seguir
caso tal lei não fosse adequada ou para a mesma cidade do céu que jamais Caco 3
justa, o caminho para modificá-las acaba, para realizar uma Conferência
seria o Legislativo. Nacional de Saúde que tem como marca
Cartas 4
Mais tarde, em artigo na Folha de principal a responsabilidade de, segun-
São Paulo, intitulado ‘O SUS é do Brasil’, o do compromisso público do ministro da
coordenador-geral da 12ª Conferência Saúde, fundamentar as políticas de go- Iniciativa Nota 10 4
Nacional de Saúde, Eduardo Jorge, insur- verno para o SUS nos próximos anos. Esse ‘Novos Caminhos’: promovendo a
ge-se sobre o que seria “o maior golpe país tem lei, claro que sim. Mas parece saúde e humanizando os serviços
contra o SUS desde o orçamento-bomba que não, claro que sim. É que enquanto
do presidente Collor”, e acusa o governo tal ‘lei’ estiver inscrita apenas nas letras Súmula da Imprensa 5
de descumprir a Emenda 29, retirando do frias dos Diários Oficiais e dos Códigos,
SUS alguns bilhões por meio de vetos ao ela é nada mais do que brinquedo nas
Toques da Redação 7
orçamento de 2004. Assim, o orçamento mãos de juristas e pseudo-legisladores,
de 2004 para a Saúde seria inferior ao de que põem e dispõem segundo interes-
2003, o que contraria a orientação prin- ses os mais alheios. A Lei que rege o SUS Depoimento: Nelson Rodrigues dos
Santos 8
cipal da Emenda. “Será que não existe lei deve estar inscrita em corações e men-
nesse país?”, pergunta Eduardo Jorge e, tes, pousada na língua de conselheiros “Onde dá SUS, dá certo”
não, não é uma pergunta retórica. Ao de saúde, gestores, delegados das con-
contrário, é tão legítima e complexa que ferências, usuários, professores, agen- 12ª Conferência Nacional de Saúde 12
toda tentativa de respondê-la nos leva a tes comunitários de saúde, brancos, ín- 12ª CNS: Mudando para melhorar
um emaranhado de outras questões. dios e negros, homens e mulheres, Vigilância Sanitária a postos para a
Recentemente, coube ao deputa- crianças e velhos. Conferência
do Fernando Gabeira outro momento ‘A lei do SUS é do Brasil’, pode- Movimentos sociais de saúde
de rara reflexão — pessoal e nacional — ríamos parafrasear o título do artigo enfrentam o desafio da articulação
acerca das relações entre o que so- de Eduardo Jorge e, igualmente, per- Conferências Estaduais
nhamos e o que temos, entre o Estado ceber que qualquer partidarização a estabelecem prioridades
hegeliano e o nosso estado possível. Da enfraquece. A área da Saúde sabe que
tribuna da Câmara, protegido pelas cú- só é possível transformar o Brasil por Financiamento do SUS 14
pulas de Niemeyer e pelo céu violeta meio da sociedade, porque foi exa- EC-29 determina o que deve ser
de Brasília, Gabeira desliga-se do PT com tamente assim que pariu o SUS. E é gasto com Saúde
um discurso que desde já está fadado a exatamente assim que ele deve ser
representar a encruzilhada em que se resguardado, preservado, defendido Assistência Farmacêutica 15
encontra toda uma geração. Que to- contra toda ofensiva, quer venha ela
A Assistência Farmacêutica não é só
dos ouçam: “O sonho (...) foi confiar pela força, quer pela astúcia. uma droga
SUS Verde 16
caco Ciência e Tecnologia em Saúde na
Amazônia Legal
Serviços 18
Pós-Tudo 19
Minha coluna vertebral
Ora, Pílulas... 19
Promoção da Saúde
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rtta s
Subeditora: Ana Beatriz de Noronha
Subeditor de Arte: Aristides Dutra
Assistente de Arte: Hélio Nogueira
Redação: Katia Machado
Estudos e Projetos: Justa Helena Franco
(gerência de projetos), Jorge
Ricardo Pereira e Laïs Tavares
RADIS é uma publicação da Fundação Secretaria de Administração e
Oswaldo Cruz, editada pelo Programa Infraestrutura: Onésimo Gouvêa,
Radis (Reunião, Análise e Difusão de In- Márcia Pena, Vanessa Santos,
formação sobre Saúde), da Escola Nacio- Cícero Carneiro e Osvaldo José
nal de Saúde Pública (Ensp). (informática) R ADIS NA ESCOLA
Periodicidade: Mensal Endereço
Tiragem: 42 mil exemplares Av. Brasil, 4036, sala 515 — Manguinhos
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L eio a revista Radis desde o número
oito (abril de 2003) e gosto muito
dela. Estou na 7ª série e uso as re-
Diretor da Ensp: Jorge Bermudez
E-Mail: radis@ensp.fiocruz.br vistas nos meus trabalhos escolares.
PROGRAMA RADIS Site: www.ensp.fiocruz.br/publi/radis Adoro os cartoons, principalmente o
Coordenador: Rogério Lannes Rocha Impressão e Fotolito ‘Ora, Pílulas’ e o ‘Caco’. Participei
Editor: Caco Xavier Ediouro Gráfica e Editora SA da promoção ‘Dê um nome ao ca-
chorrinho da fome’ e gostei muito
USO DA INFORMAÇÃO — O conteúdo da revista Radis sáveis pelas matérias reproduzidas. Solicitamos aos
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quer meio de comunicação impresso, radiofônico, nossas publicações que enviem para o Radis um exem- Jhonatan Diogo Gonçalves (por carta)
televisivo e eletrônico, desde que acompanhado dos plar da publicação em que a menção ocorre, as refe-
créditos gerais e da assinatura dos jornalistas respon- rências da reprodução ou a URL da Web. União da Vitória - PR
RADIS 15 NOV/2003
[ 5 ]
SÚMULA DA IMPRENSA
Sistema Estadual de Saúde, Wilson De fígado do Hospital do Fundão, Joa- trens, metrôs e jornais. Além dis-
Maio, alegou que os cálculos são feitos quim Ribeiro, também está sendo so, em uma segunda fase da cam-
sobre estimativas de orçamento e que, acusado de ter descartado um fíga- panha, o MS promoverá o ‘Dia D’,
este ano, o estado arrecadou menos do e um rim captados no Hospital agendado para o dia 29 de novembro.
do que o esperado, acarretando me- Geral de Bonsucesso, no dia 9 de
nos recursos para a Saúde. outubro, e que, segundo alguns
No município, a situação é dife- médicos da equipe de transplante TRANSGÊNICO PODE PREJUDICAR
rente, mas não menos preocupante, do Fundão, estariam em perfeitas AMBIENTE
pois devido ao excesso de gastos condições de uso. A seu favor, Jo-
pode haver dificuldades financeiras
no final do ano. Como até 31 de
agosto foram usados R$ 1,1 bilhão
aquim Ribeiro alega que os resul-
tados preliminares de uma biopsia
comprovam que o fígado apresen-
E studos realizados no Reino Unido
com alimentos transgênicos, ou
seja, organismos geneticamente mo-
do orçamento anual de R$ 1,4 bi- tava lesão pré-maligna, inúmeros dificados, mostram que eles podem
lhão, só restariam R$ 300 milhões cistos e necrose. Enquanto persis- causar prejuízos à vida selvagem. Fo-
para os meses seguintes. O Se- tem as trocas de acusações, o Mi- ram feitas pesquisas em três alimen-
cretário municipal de Saúde, nistério Público Federal entrou com tos — canola, beterraba e milho — e
Ronaldo Cezar Coelho, afirma que uma ação civil pública e de dois deles — canola e beterraba —
não há motivo para alarme, pois improbidade administrativa pedin- causaram danos à natureza. As pes-
os investimentos foram concen- do o afastamento cautelar do mé- quisas foram publicadas pela revista
trados no início do ano. “Este dico. Representantes de diferen- científica ´Philosophical Transactions B´,
ano, a prefeitura gastou na Saú- tes câmaras técnicas de trans- da academia de ciências do Rei-
de 17% da arrecadação de impos- plante também pediram o afasta- no Unido. As informações colhidas
tos, quase 4% a mais do que obri- mento do médico da coordenação tiveram base em alimentos estu-
ga a Emenda Constitucional 29. O do Rio Transplante, baseados no dados nos 60 campos de cultivo
nosso problema não é dinheiro, fato de que o atual coordenador do país, onde foi investigado uni-
mas sim o aumento da demanda foi escolhido sem que seu nome fos- camente o efeito dos três alimen-
causada pela falta de investimen- se aprovado pelo conselho técni- tos transgênicos sobre as popula-
tos em Saúde por parte de ou- co, como manda o estatuto. “Teria ções de ervas daninhas e de
tros municípios e do estado que que haver uma lista tríplice para que invertebrados nos campos e na sua
acaba gerando um caos na minha um nome fosse escolhido e não foi vizinhança. Danos para a saúde hu-
capacidade de atendimento e de isso que aconteceu”, explicou o mana e poluição genética não fo-
internação”, explica. médico José Raso Eulálio, coorde- ram considerados. Todos os três
nador da Câmara Técnica de Pân- vegetais pesquisados mostraram re-
creas e Rim, ao jornal O Globo, em sistência a herbicidas. Verificou-se,
D E N A S U S VA I INVESTIGAR O ‘RIO 15/10/2003. por meio desse estudo, a redução
T RANSPLANTE ’ de ervas daninhas nos campos de
canola e beterraba e de 20% de se-
O COMBATE À DENGUE CONTINUA mentes da erva nos campos depois
da colheita, e, no campo de planta-
N
elson Rodrigues dos San- pessoas encontram-se expostas a di- bal regular do cumprimento das metas
tos é uma das figuras mais versos riscos contra sua saúde e pa- pactuadas, mediante seus custos re-
emblemáticas do Movi- decem de algum tipo de doença. Por ais. Se tudo isso for feito com ênfase
mento da Reforma Sanitá- isso, a oferta de ações e serviços na Atenção Básica, com efetivo con-
ria Brasileira (MSRB), ao qual esteve deve ser necessariamente integral, trole dos desperdícios, o modelo as-
ligado desde seus primórdios. Coor- visando à promoção, à proteção e à sumirá as características de poupador
denador da 9ª Conferência Nacional recuperação da saúde, em todos os dos recursos públicos e de constru-
de Saúde e ex-secretário executivo níveis de complexidade. tor do seu próprio desenvolvimento.
do Conselho Nacional de Saúde (CNS), A eqüidade, por sua vez, está re- A universalidade está ligada ao di-
Nelsão, como é carinhosamente cha- lacionada às desigualdades das neces- reito à saúde. A questão é: o que
mado por todos, encanta pela firme- sidades entre pessoas, grupos e clas- estamos universalizando e o que deve-
za de suas propostas e pela defesa ses sociais. É a noção orientadora de mos universalizar? A interdependência
daquilo que considera como uma pro- justiça que desafia planejadores e e complementaridade obrigatórias en-
fissão de fé: a construção do SUS e gestores em seu cotidiano. Tripudiam tre os princípios e diretrizes do SUS
seu fortalecimento como política de sobre a eqüidade, aqueles que pen- levam a uma única resposta coerente:
inclusão social e de cidadania. “O sam exercê-la, retirando ações e ser- o que deve ser universalizada é somen-
SUS é nossa ‘porção-boa’ na vida. Po- viços dos pouquíssimos assistidos para te a atenção integral e eqüitativa às
demos fazer coisas desagradáveis e os desassistidos, ou recursos da mé- ações e serviços de saúde.
egoístas, podemos falhar com tudo dia complexidade para a atenção bá- Todos os princípios e diretrizes do
e com todos, mas a luta pelo SUS nos sica. O exercício da eqüidade implica SUS devem ser aplicados sob formas e
redime. É onde nos sentimos mais ver- em ‘nivelar por cima’ a oferta, valen- estratégias adequadas às realidades de
dadeiros, inteiros e realmente bons”, do-se dos recursos desperdiçados ou cada uma das 200 ou 300 regiões de-
afirma Nelsão, completando: “O SUS de novos recursos. É preciso corrigir finidas, sob a ótica do SUS, a partir
é uma cachaça”. as distorções das atuais modalidades de dados demográficos, territoriais,
Aos leitores do Radis, ele fala so- dos repasses intergovernamentais e da epidemiológicos, de capacidade insta-
bre a urgência de se tomar as neces- remuneração dos serviços, que têm lada de saúde e outros, e com base em
sidades da população como ponto de sabidamente caráter indutor sobre o estudos de aglomerados populacionais.
partida para a reformulação das es- perfil da oferta. Se as necessidades O processo de regionalização deve ser
tratégias construtoras do SUS, ainda da população em nível regional forem planejado e explicitado em metas, anu-
que sob as agruras da escassez de re- tomadas como ponto de partida, os almente pactuadas nas comissões
cursos que só podem ser superadas a repasses federais e estaduais devem intergestores, apresentadas e discuti-
partir de outro patamar político. ser realizados com base nos planos e das nos conselhos, e acompanhadas de
indicadores de qualidade e impacto na
saúde da população. Também é impres-
cindível o estabelecimento de centros
regionais de referência de cálculo de
O ideário do SUS custos para a realização das metas pac-
não carece de tuadas, as quais devem alimentar e
interagir com as metas estaduais e na-
revisão e seus cionais, proporcionando maior consis-
postulados legais tência nos esforços para elevação do
financiamento, além de impedir retro-
permanecem atuais cessos enquanto perdurar a escassez.
e legítimos. No Ao interagir com o princípio da
regionalização, o princípio da descen-
âmbito das tralização com ênfase na municipa-
estratégias da sua lização ganha clareza e se transforma
implementação, no em eixo estratégico para a constru-
ção de novas relações entre as três
entanto, a revisão esferas de Governo”.
é inadiável.
OS NÍVEIS DE ATENÇÃO À SAÚDE
“A Atenção Básica deve ser a gran-
de referência do SUS para a popula-
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ção, refletindo a diversidade das ne- contabilização nos fundos de saúde, de postulado transitório da Constituição Fe-
cessidades locais e regionais, abrangen- gastos com limpeza urbana, saneamen- deral, de pelo menos 30% do Orçamento da
do ações e serviços de saúde que re- to, merenda escolar e outros; esco- Seguridade Social para o SUS, o que signifi-
solvam adequadamente no mínimo 80% lha da universalidade como o grande caria hoje duplicar o orçamento do Minis-
da demanda da população e se articu- eixo estratégico, operacionalizado tério da Saúde, e, entre tantas coisas,
lando com os demais níveis do sistema. pela municipalização, em detrimen- subtraiu de outras fontes valores equiva-
Segundo estimativas recentes, para que to dos princípios da integralidade, lentes aos oriundos da CPMF para o SUS,
a Atenção Básica exerça plenamente eqüidade e regionalização, o que re- anulando qualquer ganho obtido. No Bra-
seu papel na saúde da população e na sultou numa universalidade precarizada sil, permanecemos em torno de U$ 190 anu-
estruturação do sistema, seu financia- de focalizações e não na construção ais por habitante, enquanto os países ci-
mento deve crescer gradativamente até de um novo modelo; ação dos conse- tados gastam de U$ 1.300 a U$ 2.500 por
alcançar entre 25% e 35% do total de lhos de saúde praticamente restrita à habitante. Como os custos da maior parte
recursos para a Saúde. Os serviços de fiscalização e controle da execução das das nossas ações e serviços da Atenção
média e alta complexidade devem, en- políticas de saúde, deixando de lado Básica e parte da Média Complexidade, não
tre outras coisas, restringir a atual com- sua atribuição de atuar na formulação dependem do dólar, poderíamos alcançar
petência de porta de entrada no siste- de estratégias por meio da gestão uma boa resolutividade do sistema com
ma, controlar os altos desperdícios participativa; e necessidades dos pro- cerca de U$ 300 anuais por habitante e em
representados por atos desnecessári- fissionais de saúde, dos prestadores de alguns anos chegar a U$ 600. Fundamental
os, e constituir-se em referência, apoio serviços e dos fabricantes de medi- é que, nesse trajeto, os recursos sejam
e qualificação das ações e serviços de camentos, equipamentos e outros concentrados na Atenção Básica e na
atenção básica”. insumos determinadas não pelas ne- regionalização, e que a participação dos
cessidades da população, mas por orçamentos públicos no setor saúde salte
A SITUAÇÃO ATUAL pressão das respectivas entidades que dos atuais 45% para pelo menos 60%. Caso
“Apesar de tudo, depois de qua- os representam e justificadas com as as vontades políticas e decisões de Gover-
se 13 anos, ainda se encontram forte- ‘séries históricas’ de produção de no não apontem para o abandono das táti-
mente presentes no SUS inúmeras ca- consultas, exames e internações, e de cas de sobrevivência e desonerações já
racterísticas do velho modelo de aquisições dos insumos, favorecendo in- referidas, para a reformulação da lógica de
saúde, dentre elas, o amplo predomí- teresses corporativos e de mercado”. repasses e de remuneração dos serviços, e
nio da remuneração dos prestadores para a elevação do financiamento público,
e parte dos profissionais por produ- há o perigo de os interesses do modelo ‘ve-
ção e procedimentos, conforme ta- lho’ acomodarem-se e reciclarem-se a no-
bela nacional, com impraticável con- Apesar de tudo, vas racionalidades, reproduzindo-se e es-
trole a favor das necessidades e depois de quase tabilizando o sistema na cultura do ‘SUS pobre
prioridades da população; a compra e para os pobres’ em nome da universalidade.
utilização de equipamentos por pres- 13 anos, ainda A perspectiva de reconduzir a construção
são de fabricantes e interesses de se encontram do SUS por estratégias nacionais formuladas
mercado; o baixo nível de financiamen- com novas combinações favoráveis à
to e a baixa resolutividade da Atenção fortemente presentes integralidade, equidade, regionalização e
Básica; repasses federais quase total- no SUS inúmeras participação dos conselhos de saúde na sua
mente vinculados a programas, proje- formulação, implica na efetivação deste pro-
tos e prioridades pontuais que inibem
características cesso desde já, na atual escassez de recur-
ou distorcem a definição loco-regional do velho modelo sos, o que só se viabilizará com a ousadia de
de prioridades e metas; crescente for- de saúde. confiar aos atores sociais e da gestão do
necimento de medicamentos e realiza- SUS em cada região, a criatividade, os pac-
ção de exames nos serviços do SUS, tos e os caminhos, evidentemente, sob um
mediante receitas e requisições gera- ‘rumo orientador’ abrangente definido ao
das especialmente nos planos privados; O FINANCIAMENTO nível nacional.
iniqüidade social e regional em espe- E AS ESTRATÉGIAS NACIONAIS DE Vários municípios e regiões no
cial na prestação de serviços de mé- CONSTRUÇÃO DO ‘MODELO SUS’ país, além de resistir ao desmanche,
dia e alta complexidade, apesar dos “Alguns dados apontam que o ano de conseguiram avançar, inclusive em
reconhecidos avanços em direção à 2002 foi fechado com aproximadamente R$ relação à integralidade e à equidade,
eqüidade em várias unidades de mé- 27,5 bilhões do Ministério da Saúde, R$ 9 justificando o bordão lançado na 10ª
dia complexidade sob gestão munici- bilhões das Secretarias de Saúde dos Esta- CNS: ‘Onde dá SUS, dá certo.’
pal; grande migração da classe média dos e DF, e R$ 12 bilhões das Secretarias de Como braço institucional e de
do SUS para planos privados de Saúde, Saúde dos municípios, totalizando por vol- gestão participativa da Reforma Sa-
com fornecimento isolado de medica- ta de R$ 48,5 bilhões para o SUS. Os gastos nitária Brasileira, o SUS tem sido a
mento ou procedimentos de alta privados com a saúde estão estimados em única política pública de cidadania
complexidade; sobrecarga dos municí- aproximadamente R$ 53 bilhões. Temos, que resistiu, certamente, por ser
pios devido à desoneração financeira e portanto, uma participação dos orçamen- fruto desse movimento social que o
política causada pela insuficiência cres- tos públicos em torno de 45% de todos os acompanha e o defende, se compor-
cente dos repasses do governo federal, gastos da sociedade brasileira com saúde, tando como a obstinação de Galileu
cuja participação no financiamento pú- o que revela, em relação ao mínimo de 70% Galilei: ‘Eppur si muove’*”.
blico da saúde que historicamente gira- verificado na maioria dos países europeus
va em torno de 65% a70%, caiu para 56,2% e no Canadá, uma baixa resposta do Estado
em 2002 e continua caindo, e cresci- às demandas de saúde. Ao longo dos doze *“ainda assim, ela se move”: frase
mento da contrapartida municipal; últimos anos, a política econômico-finan- dita por Galileu após abjurar que o
desrespeito freqüente à EC-29, com ceira do governo federal desconsiderou o planeta Terra girava em torno do sol.
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[ 10 ]
M
uitas coisas foram previs- dos trabalhadores da saúde e criou dual e federal, seguirá para a etapa
tas para que a 12ª Con- algumas novidades que, certamen- estadual, que irá repetir o mesmo
ferência Nacional de te, entrarão para a história das con- procedimento com as propostas que
Saúde atingisse o seu ferências de saúde do Brasil. forem de âmbito federal. As propos-
objetivo principal: servir como es- tas oriundas das Conferências Esta-
paço privilegiado de avaliação da OS DELEGADOS E OBSERVADORES duais serão reunidas em um único
Saúde no país e de proposição de Os delegados eleitos nas Conferên- relatório-síntese, um ‘consolidado’,
estratégias de consolidação do cias Estaduais para participarem da etapa que será encaminhado aos delega-
SUS. Desde o início, a idéia era nacional poderão se inscrever pela dos da Conferência Nacional. Ao fi-
reviver, em alguma medida, o espí- internet, diretamente no site da Confe- nal do processo, o relatório final,
rito verdadeiramente democrático rência (www.12conferencia.saude.gov.br), produzido na etapa nacional, deve-
da inesquecível ‘Oitava’, momento até o dia 17 de novembro. No site, rá representar os trabalhos das
consagrador do Movimento da Re- também haverá uma lista com o nome conferências municipais, estaduais
forma Sanitária Brasileira e funda- de todos os delegados que participa- e da nacional. Essas são, em sínte-
dor do SUS. Pela primeira vez no rão do evento em Brasília. se, as normas determinadas pelo
país, uma conferência foi antecipa- Como em toda Conferência, sem- ‘Instrutivo da Relatoria’, que tam-
da para que o governo pudesse sub- pre há muitas pessoas, representan- bém está disponível na íntegra no
meter a sua política de Saúde à tes de segmentos organizados da so- site da Conferência.
apreciação direta da sociedade. ciedade, que se interessam por
Pela primeira vez, o Ministro da Saú- acompanhar e participar dos deba- DOIS DIAS PARA A PLENÁRIA FINAL
de assumiu publicamente o compro- tes, mas que não são eleitos dele- A história é conhecida por to-
misso de utilizar as resoluções finais gados em seus estados. Para permi- dos que já participaram de alguma
da Conferência como base para as tir a participação produtiva dessas Conferência de Saúde, ou mesmo
políticas de Saúde, tornando ainda pessoas, a opção foi credenciar de algumas conferências temáticas
maior a responsabilidade dos dele- cerca de 300 observadores, indica- da área de saúde: a plenária final,
gados, cujas decisões afetarão di- dos nas Conferências Estaduais. O na qual são discutidas e votadas
retamente a totalidade da popula- número de observadores por esta- as resoluções da Conferência, sem-
ção brasileira. do não deve ultrapassar 10% do nú- pre se arrasta várias horas, devi-
Para que a participação social mero de delegados. Os observado- do, principalmente, à abrangência
ocorresse de fato era preciso pos- res credenciados estão oficialmente e à complexidade dos temas. O re-
sibilitar a participação plena dos de- autorizados e aptos a acompanhar sultado é que, muitas vezes, o do-
legados e tornar ainda mais trans- as discussões da Conferência, as cumento final é aprovado por ape-
parente o processo de trabalho mesas temáticas e os trabalhos dos nas uma pequena parcela dos
durante o evento. Se essa era a úni- grupos. O credenciamento dos ob- participantes, já esgotados após
ca certeza, as dúvidas eram sobre servadores e da imprensa também tantas horas de discussão. Outras
como fazer isso. A tarefa coube ao será feito por meio do site. vezes, as propostas acabam sendo
As despesas de hospedagem dos encaminhadas sem votação para o
usuários e trabalhadores da saúde em Conselho Nacional de Saúde, que
“Eu espero que Brasília, e as despesas de alimenta- se encarrega de fazer as delibera-
a 12ª CNS faça ção de todos os delegados ficarão ções finais. Para que isso não se
uma avaliação por conta do Ministério da Saúde. O repetisse na ‘Doze’ e que houves-
muito concreta transporte em Brasília também fica- se tempo suficiente para a totali-
do SUS: sem rá a cargo do Ministério, enquanto dade dos delegados participarem
subterfúgios, o transporte dos estados até Brasília da plenária final, a solução encon-
sem corporati-
fica por conta dos estados. trada foi reservar dois dias para a
vismos e sem dogmatismos.
Que parta mais pragmatica- realização do processo final de
mente para concretizar o di- OS RELATÓRIOS ‘ASCENDENTES’ votação, garantido assim sua ob-
reito à saúde e não fique ape- Em todas as etapas da Confe- jetividade e sua legitimidade. Além
nas afirmando esse direito que rência — municipal, estadual e na- disso, para evitar imprevistos, o
todos já conhecem”. cional — as discussões devem seguir Conselho Nacional recomendou
a estrutura proposta pelo Conselho que as delegações só programem
Geraldo Lucchese, consultor Nacional de Saúde, em torno dos dez sua volta aos estados de origem no
legislativo de Saúde eixos temáticos escolhidos. Dessa dia 12 de dezembro, dia seguinte
forma, de tudo que for discutido nas à Plenária Final.
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[ 11 ]
oficina
na idéia de ‘município saudável’ e fa- inspirado
zendo da promoção um esforço cana- em Sergio
Arouca
lizado de mudanças mais ambiciosas.
— A Saúde, conceito socialmente
definido e que, portanto varia no espa-
ço e no tempo, se transformou num
bem público e individual, devendo ser
considerada dentro dos princípios da
RADIS 15 NOV/2003
[ 12 ]
Conferências Estaduais
estabelecem prioridades
que cumpram, por um determinado ganhou destaque. O atraso na
Ana Beatriz de Noronha período, estágio obrigatório em mu- municipalização tem ocasionado pro-
nicípios do interior do Pará. blemas devido à transferência, prin-
FINANCIAMENTO DO SUS
N
o Brasil, o direito à saúde as na área. Isso significa que os estados
está garantido na Consti- que em 2000 aplicavam até 7% das re-
tuição Federal — art. 196 ceitas próprias em saúde deveriam au-
— e organizado por meio mentar a despesa em, no mínimo, um
do Sistema Único de Saúde (SUS), ins- ponto percentual ao ano até 2003. Já
tituído pela Lei Orgânica 8080. Para dar os que aplicavam mais de 7% em 2000
conta das necessidades de saúde da deveriam dividir por 5 a diferença entre
população, um fator é essencial: re- o aplicado e a meta de 12%.
cursos financeiros suficientes. Desde imóvel. A alteração no artigo 160 proi- Entre os estados que deixaram
2000, o financiamento do SUS tem como biu que a União retenha ou promova de cumprir com o que determina a
marco legal a Emenda Constitucional restrição à entrega dos recursos atri- Emenda, o MS aponta Paraná, Rio
nº 29 (EC-29), estabelecendo que os go- buídos ao Sistema de Saúde. No artigo Grande do Sul, Minas Gerais e Rio de
vernos federal, estaduais e municipais 167, foi feita uma ressalva à vinculação Janeiro com os piores índices.
aumentem seus investimentos na Saú- de receitas de impostos destinadas às
de, garantindo recursos mínimos para ações e serviços públicos de saúde. No MANOBRAS PARA BURLAR A LEI
ações e serviços no âmbito do SUS. artigo 198, ficou estabelecido uma apli- Recetemente, surgiu uma forte
A Emenda alterou os artigos 34, 35, cação anual de recursos mínimos para discussão no que diz respeito aos re-
156, 160, 167 e 198 da Constituição Fe- a Saúde que derivam da aplicação de cursos destinados à Saúde. O veto do
deral e acrescentou o artigo 77 ao Ato percentuais calculados diferentemen- presidente Lula ao parágrafo dois do
das Disposições Constitucionais Transi- te pela União, estados e municípios. artigo 59 da Lei de Diretrizes Orçamen-
tórias, para assegurar os recursos para A Emenda proíbe a inclusão do tárias (LDO) para 2004, que considera-
o financiamento das ações e serviços pagamento de inativos com recursos va como “ações e serviços públicos de
públicos de saúde. O artigo 34 incluiu a da Saúde, que passaram a ser carac- saúde a totalidade das dotações do Mi-
Saúde para a aplicação do mínimo exigi- terizados como gastos de natureza nistério da Saúde, deduzidos os encar-
do da receita resultante de impostos previdenciária, e qualquer outra ação gos previdenciários da União, os servi-
estaduais e ampliou o poder de inter- que tinha como justificativa a promo- ços da dívida e a parcela das despesas
venção da União nos Estados, caso não ção da qualidade de vida e saúde da do Ministério financiada com recursos
cumpram com a obrigação de vincular a população como alimentação, sanea- do Fundo de Combate e Erradicação da
percentagem estabelecida de sua re- mento básico, trabalho e lazer. Per- Fome” estaria esbarrando na EC-29. Isso
ceita. O artigo 35 passou a permitir que gunta-se, portanto, quem está de porque, com o veto do presidente, cer-
União e Estados intervenham em seus fato cumprindo a EC-29? ca de R$ 3,5 milhões dos recursos que
municípios caso descumpram a aplica- De acordo com levantamento rea- deveriam ser destinados à saúde passari-
ção mínima de recursos da receita mu- lizado pelo Ministério da Saúde (MS), 59% am a ser aplicados em ações do Fundo
nicipal em ações e serviços de saúde. dos 5.559 municípios brasileiros cumpri- de Combate e Erradicação da Pobreza.
De acordo com o artigo 156, cada muni- ram, no ano passado, o que determina A mobilização do setor Saúde foi
cípio pode elaborar a sua Lei Municipal a EC-29. Isso significa que os municípios grande, por considerar escassos os re-
sobre IPTU que passa a ser progressivo aplicaram R$ 10,7 bilhões no setor no cursos da área, deixando de contem-
em razão do valor, localização e uso do ano passado e que os poucos municípi- plar muitas necessidades da população.
os que descumpriram a Emenda devem “Basta citar que 50 milhões de cida-
R$ 219,6 milhões. De acordo com a dãos brasileiros não têm acesso a me-
O RADIS ADVERTE: Emenda, até o próximo ano, os municí- dicamentos, e que programas como
Dinheiro não traz felicidade nem pios terão de aplicar 15% das receitas ampliação do atendimento na rede pú-
garante a saúde. No entanto, a próprias em saúde. Ou seja, aqueles que, blica, assistência integral à saúde da
falta de recursos faz muito mal em 2000 aplicavam até 7% das receitas mulher, e valorização dos profissionais
a saúde do SUS. próprias, deveriam aplicar 8,6% em 2001, de saúde serão certamente afetados”,
10,2% em 2002 e 11,8% em 2003. Já os escreveu a deputada pelo PCdoB,
que aplicavam mais de 7% em 2000, de- Jandira Feghalli, no jornal O Globo.
veriam dividir por cinco a diferença en- O resultado dessa polêmica foi reto-
tre o aplicado e a meta de 15%. mar o que exige a EC-29. Nesse sentido, o
Enquanto a maioria dos municípios governo, no dia 24 de outubro, aceitou a
estão seguindo a EC-29, grande parte recomendação do procurador-geral da Re-
dos estados descumprem o que a Cons- pública, Cláudio Fonteles, de aplicar os
tituição determina. Ao todo, segundo o recusos aprovados em orçamento em ações
MS, 17 estados não gastaram o que de- e serviços exclusivos da Saúde.
RADIS 15 NOV/2003
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A S S I ST Ê N C I A F
FAARMACÊUTIC A
A Assistência Farmacêutica
não é só uma droga
as da Farmácia, diria a eles que se o
Colaboração: Alvaro Nascimento amigo tivesse tido a oportunidade de
conversar sobre os motivos que o es-
U
m indivíduo portador do tavam afastando dos medicamentos,
vírus HIV entra no pátio provavelmente não teria piorado, não
interno de uma unidade teria sido motivo de ainda mais gastos
de saúde lotada de pes- para o sistema de saúde, não teria
soas aguardando atendimento. Ele é ocupado um leito que poderia ser
Conferência Nacional de Medicamentos
um paciente já diagnosticado, trata- destinado a outro paciente e poderia
e Assitência Farmacêutica
do e acompanhado pelos profissionais estar trabalhando e produzindo como
BRASÍLIA – 15 A 18 DE SETEMBRO DE 2003
da unidade. Vai ali todo mês receber qualquer pessoa. Mas como dizer isso
os medicamentos para controlar o ví- tudo para eles?
rus, que lhe garantem boa qualidade O exemplo de como não deve ser os à superação das dificuldades do
de vida e já propiciaram até sua volta a relação entre uma unidade de saú- setor são muitos. Eles começam nas
ao trabalho. Um problema é ter que de e o cidadão (também chamado de condições de trabalho dos profissio-
sair todos os meses na hora do expe- ‘usuário’, ‘cliente’, ‘paciente’, ‘doen- nais (salário digno, capacitação, equi-
diente para pegar os medicamentos, te’, mas que segundo Sérgio Arouca é pamentos), passam pela regulação da
pois a Farmácia Hospitalar só funcio- o sujeito principal do Sistema Único indústria farmacêutica (de preço, de
na no horário comercial. Além disso, de Saúde) mostra bem a magnitude dos concessão de registros de medica-
tem que chegar no pátio da unidade problemas do que se conceituou de- mentos, da propaganda, da remessa
de saúde, na frente daquelas pesso- nominar ‘Assistência Farmacêutica’, e ilegal de lucros via superfaturamento
as, e se dirigir àquela janelinha da Far- que vai muito além de assegurar o aces- de matérias-primas), mais investimen-
mácia Hospitalar, onde está escrito so a determinada droga capaz de pre- tos em pesquisa para superar a de-
‘Aids – Aqui’, sendo observado o tem- venir, curar, minorar o sofrimento ou pendência, fortalecimento do parque
po todo até sair com várias caixas de diagnosticar doenças. A Assistência produtivo nacional e enfrentamento,
medicamentos. Ele ainda gostaria de Farmacêutica tem, sim, que assegurar agora na seara internacional, dos in-
ter um farmacêutico sempre presen- o acesso ao medicamento e isso é um teresses dos países ricos que, por meio
te na Farmácia Hospitalar que lhe es- dos problemas mais sérios do SUS. Mas de mecanismos criados no âmbito da
clarecesse algumas dúvidas em rela- ela vai, como se viu no exemplo aci- Organização Mundial do Comércio
ção a alguns dos medicamentos que ma, muito além disso. (OMC), não abrem mão da proteção
traz tantos efeitos adversos toda vez Para tratar de tantos e tão impor- patentária e dos interesses de suas
que toma. Mas todas as vezes que ten- tantes fatores que cercam este pro- indústrias, colocados acima da vida das
ta conversar com alguém da Farmácia, blema, a realização da 1a Conferência populações dos países pobres.
ele nota, pela rispidez das respostas, Nacional de Medicamentos e Assistên- Viu como a Assistência Farmacêu-
que, ou aquelas pessoas não gostam cia Farmacêutica acabou se constitu- tica não é só uma droga? Mas se há
dele, ou são mal remuneradas, ou não indo em mais um dos muitos marcos desafios enormes a vencer, há outros
gostam do que fazem, ou não estão históricos que caracterizam a constru- que podem ser superados agora mes-
preparadas para tirar dúvidas, ou tudo ção do SUS no Brasil. Com 906 delega- mo. Se você é profissional de saúde,
isso junto. E aí, elas se ‘defendem’ dos de todo País (respeitando o con- que tal retirar agora mesmo aquela
dele daquela forma grosseira. Ele se trole social), 30 grupos de trabalho que plaquinha ‘Aids – Aqui’ na janelinha
vê sem saída, até porque sabe que não se reuniram por nove horas cada um, da Farmácia? Se você é gestor, já pro-
conseguiria comprar aqueles medica- 14 painéis específicos, quatro mini-con- videnciou a presença do farmacêuti-
mentos tão caros. Sabe que eles são ferências, três grandes mesas-redon- co em todo o horário de atendimen-
caros porque o Brasil tem que pagar das, 104 palestrantes e uma plenária to? E que tal conversar com o pessoal
uma ‘grana preta’ para os detentores final que analisou mais de 700 propos- da Farmácia para que eles ouçam e
de suas patentes, já que o país se tas, a Conferência conseguiu tratar do falem mais e melhor com o sujeito da
atrasou muito na área da pesquisa e acesso ao medicamento, da delicada fila? Claro que você também pode aju-
não domina todas as fases da produ- questão da pesquisa e do desenvolvi- dar na luta contra as patentes, mas
ção dessas drogas. Apesar de tudo, ele mento tecnológico e da essencial área resolver o que está a seu alcance agora
está decidido a continuar o tratamen- da qualidade da assistência, formação mesmo é um ótimo começo.
to para não repetir a história de um e capacitação profissional.
amigo dele que, diante de tantas ad- Não vai ser fácil tirar do papel e
versidades, abandonou o tratamento, tornar realidade todas as propostas Álvaro Nascimento é jornalista,
piorou muito, teve que ser internado aprovadas da Conferência e que ago- tecnologista da Fiocruz, ex-Editor
e deixar o emprego, e acabou sofren- ra estão sob a mesa do Conselho Na- e Coordenador do Radis, hoje tra-
do muito mais. Se ele pudesse con- cional de Saúde. Para o Governo Lula, balhando na página eletrônica
versar ‘numa boa’ com aquelas pesso- então, os enfrentamentos necessári- www.ensp.fiocruz.br/descentralizar
RADIS 15 NOV/2003
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O SUS verde
A
s ações em saúde para mudar o
atual quadro de desigualdade
na Amazônia Legal, onde estão
os estados do Acre, Amazonas,
Amapá, Pará, Rondônia, Roraima e Pesquisa em Saúde
na Amazônia recebe
Tocantins, Mato Groso e Maranhão, destaque
S ER VIÇ
ERVIÇ OS
VIÇOS
PÓS-TUDO