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PERDA DE LIMITE NA CONDUTA: Visão psicanalítica

Dra. Regiane Glashan – Terapeuta de Referencial Psicanalítico


www.terapeutadebebes.com.br

Resumo - Conferência apresentada no “Curso de Psicoprofilaxia Gestação Parto e


Puerpério” para grupos multiprofissionais / Atibaia /São Paulo em fevereiro -2010.

A perda de limite na conduta (PLC) é freqüente no desenvolvimento evolutivo


da criança e chega a beirar a normalidade.

A PLC surge de uma situação de intensa angústia da criança e depois esta


angústia é rejeitada pelo ego que acaba experimentando culpa e vergonha por ter agido
de determinado modo. A criancinha sente que perdeu algo que já tinha anteriormente e
experimenta o fato como derrota em sua luta por “ser grande”, ocorrendo momentos
passageiros de desorganização egóica (organização e desorganização).

Na verdade são irrupções de angústias confusionais, ocasionadas por sofrimento


de impotência frente a uma situação em particular – exemplificando:

“Eu ando, falo, consigo atingir alguns objetos que eu desejo, mas ao mesmo tempo
reconheço que ainda sou pequeno e dependo de muitas coisas do papai e da mamãe
para fazer as coisas para mim e quando isso acontece, não sei lidar com isso e essas
situações me angustiam e me induzem a testar os limites, afinal sou ou não sou
onipotente?”

As principais causas da PLC estariam associadas a vivencias invejosas ou


ciumentas, ou mesmo do choque com a noção de realidade – de se perceber ainda
criançinha e tendo ainda um longo caminho a percorrer rumo a maturidade.

Como agir como pais, o que fazer? Sempre que isso acontece, eu oriento aos
pais a conversarem e abrirem espaço para seus filhos:

“ Ok, eu entendo você. Eu sei que você quer ser grande e fazer tudo que os adultos
fazem. Que no fundo você gostaria de ser e agir como o papai e a mamãe. Eu sei
também que não conseguir fazer determinadas coisas lhe deixa muito bravo e com
muita raiva, mas calma lá – tudo tem seu tempo. Nós já fomos pequenino como você
esta agora e fomos crescendo e ficando mais fortes devagarinho – Um dia você
chegará a ser como o papai e a mamãe. Até lá você ainda precisa de nossa ajuda e de
nossos cuidados para lhe proteger.”
Quando mostramos a criança dados de realidade (ainda não é grande o bastante
para fazer o que quer), estamos para a criança que ela não é agora, mas virá a ser num
futuro e isso pode lhe apaziguar a angustia do momento de grande frustração.

Os estudos de Soifer nos apontam que os sentimentos de impotência, promovem


angústias persecutórias que não encontram solução, originando nas crianças um estado
confusional. Portanto, é uma fase que os pais precisam de paciência para estabelecer
limites.

Quando tudo começa – as crianças insinuam ou mostram pistas? Parece que sim
e ‘as vezes muito claras. A PLC aparece muito cedo, no início da atividade do
engatinhar do bebê. Esta fase, mais ou menos dos 8 aos 10 ou 11 meses, já permite a
criança se aproximar dos objetos e por conseguinte induz a desobediência – Parece que
é o início do Pode x Não Pode. Considera-se sintomas de perda de limite: birra, cólera,
gritar, arremessar coisas, quebrar objetos, showzinhos no mercado, estragos, exigências,
exposição ao perigo, agressividade, teimosia, etc.

A psicopatologia da LPC consta de uma defesa frente a irrupção de uma


vivência confusional – seria um pedido de ensinamento de alguma aptidão
(psicomotora, egóica ou delimitação emocional). Exemplificando: que o adulto o ajude
na manipulação de um determinado brinquedo, que o adulto lhe dê um brinquedo
seguro, caso o anterior seja de alguma maneira perigoso e assim aprender a esperar a
troca ou a lidar com a frustração de ter perdido o brinquedo anterior e que o adulto lhe
mostre a redução de sua onipotência, ou seja, você ainda é pequenino para brincar com
isso ou mostrar que determinados objetos podem lhe causar um dano maior.

Bem, mas o que seria uma vivencia confusional na vida de uma criança?
Basicamente seria a união da angústia de perda associada a angústia persecutória do ego
com os objetos do mundo interno e do mundo externo, dos impulsos incestuosos
somados a libido – amor e ódio.

Na PLC o ego se dissocia em fragmentos, que se projetam sobre as pessoas que


o rodeiam, ficando somente com o pedacinho que se identifica com o perseguidor. Do
ponto de vista inconsciente, estas condutas são equivalentes ao choro e os movimentos
exacerbados corporais do recém-nascido. Assim, a PLC introduz um pedido para
realizar uma aprendizagem determinada que a criança ainda não conseguiu por si só. È
um passo certo ou errado rumo a individuação e portanto a primeira imposição de
limites (NÃO PODE seguro e coerente dos pais).

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