Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
RIZIPISCICULTURA
MANUAL PRÁTICO
1. Introdução
2. Situação no mundo.
3. O que é Rizipiscicultura
4. Porque Rizipiscicultura
5. Calendário da Rizipiscicultura
6. Resultados do peixe na Rizipiscicultura
7. Refugio
8. Densidade
9. Percentual das espécies
10. Época de colocação de alevinos
11. Predadores
12. Colheita do arroz
13. Formação de plancton
14. Suplementação alimentar
15. Despesca
1. Introdução
Trata-se de um manual prático que busca informar e orientar o produtor em todas as fases do
consórcio arroz + peixe, ou seja, desde a sistematização do solo até a comercialização do pescado.
Os conceitos, orientações e recomendações nele contidos, representam uma ferramenta para
produtores e colegas extensionistas que venham a ingressar na atividade.
Este produto é o resultado de experiência acumulada no trabalho de extensão rural desenvolvido pela
EMATER/RS, em parceria com empresas privadas e outras instituições, e com produtores que
atuam nas atividades de rizipiscicultura.
Salienta-se que este manual por ser um relato de experiências práticas necessita da validação por
parte de órgãos de pesquisa oficial.
2. Situação no Mundo
A combinação de peixe e arroz tem uma longa história principalmente no continente asiático. Na
China existem referências, através de descobertas arqueológicas, que remontam 400 A.C.
Descobertas arqueológicas indicam que há 1700 anos em algumas províncias da China era
realizada a rizipiscicultura utilizando a carpa comum, carpa capim e carpa prateada utilizando um
modelo que se aproxima ao modelo sugerido atualmente.
Modernas pesquisas feitas formalmente somente surgiram no século XX, precisamente em 1935,
quando na China conduziu-se experimentos utilizando carpa negra, carpa capim, carpa prateada,
carpa cabeça grande e carpa comum, estocadas durante o período de crescimento do arroz
obtendo-se bons resultados.
No Brasil a rizipiscicultura tem seus primeiros registros no Nordeste no programa da Codevasp e, na
Região Sul, no programa “Próvarzeas” do Governo Federal que objetivava a sistematização de
várzeas e conseqüente utilização pela cultura do arroz irrigado. A técnica de peixe + arroz foi testada
no inicio da década de 80 no sul de Santa Catarina e norte do Rio Grande do Sul mas os resultados
esbarraram em uma baixa produtividade do peixe devido ao uso de espécies inadequadas (carpa
comum e tilápia rendali e nilótica) e principalmente nos altas remunerações que o arroz irrigado
propiciava desestimulando outras atividades.
A partir de 1995, a procura por parte de técnicos e produtores de alternativas para a redução de
custos da lavoura arrozeira, motivou um grupo de técnicos da EMATER/RS a procurar avaliar
resultados na área de rizipiscicultura, objetivando a formulação de um pacote tecnológico para a
atividade.
Neste sentido, a Emater/RS, em parceria com o produtor Dirceu Costa, realizou no município de
Santo Antônio da Patrulha no litoral norte do RS um “ensaio” de 5 possibilidades de manejo do
sistema peixe e arroz. Dos resultados alcançados neste ensaio é que baseamos as recomendações
constantes nesta publicação
3. O que é Rizipiscicultura
4. Porque Rizipiscicultura
O consórcio arroz com peixes é uma alternativa de redução de custos da lavoura arrozeira porque o
peixe prepara o solo para o próximo cultivo do arroz irrigado, recicla a matéria orgânica e consome
sementes de plantas invasoras contidas no solo, como arroz vermelho, capim arroz, ciperáceas e
outras plantas aquáticas. O peixe também consome larvas de insetos, caramujo, bicheira da raiz do
arroz , sementes de arroz perdidas na colheita e restos culturais da lavoura que são focos de fungos
como a bruzone. É importante caracterizar que ao realizar o trabalho de limpeza do quadro, desde a
fase inicial até a colheita, os peixes não consomem as plantas de arroz.
Além da redução de custos, a adição da renda gerada pelo peixe é importante, e entra na
propriedade na época da formação da nova lavoura, em um momento de pouca disponibilidade de
recursos.
5. Calendário de Rizipiscicultura
Para termos uma noção do tempo e espaço das ações do sistema, apresentaremos o calendário de
rizipiscicultura. Salienta -se que o preparo de solo somente é feito no primeiro ano, pois quando
sistema estiver em funcionamento esta função passa a ser feita pelo peixe.
Existe um ciclo alternativo para este sistema baseado na utilização do alevino juvenil (peixe com
aproximadamente 15 centímetros) que é colocado na resteva após a colheita do arroz, conforme o
seguinte calendário.
* Agosto/Setembro Elaboração implantação projeto
* Outubro Preparo do solo
* Novembro Plantio do arroz
* Dezembro Arroz
* Janeiro Arroz
* Fevereiro Arroz
* Março Colheita do arroz
* Abril Peixe na resteva adubação
* Maio Peixe na resteva, adubação
* Junho Peixe na resteva
* Julho Peixe na resteva
* Agosto Peixe na resteva, adubação
* Setembro Peixe na resteva, adubação
* Outubro Despesca
* Novembro Plantio do arroz
* Dezembro Arroz
Segue -se o processo continuamente.
É necessário que o produtor que optar pelo sistema alternativo tenha amplo domínio da técnica de
criação do alevino até a fase juvenil pois a compra deste alevino em abril é muito cara , em razão
da pequena oferta, podendo inviabilizar o processo.
7. Refúgio
É um local mais profundo dentro do quadro onde não é plantado arroz . Serve como refúgio aos
peixes quando for necessário o rebaixamento da água por ocasião da colheita e/ou despesca. Deve
ser construído com 80 cm de profundidade abaixo do nível do quadro. De preferência, no lado maior
da taipa, ocupando 3 a 5% da área total do quadro. Dois formatos do refugio podem ser utilizados,
usando-se apenas uma lateral do quadro ou duas laterais em formato de ele (L). Vale lembrar que a
definição da posição do refugio no quadro depende do projeto técnico, observando a entrada/saída
da água e facilidade para despesca. Recomenda-se uma declividade de 0,05% em direção aos
drenos para facilitar o escoamento de toda a água no momento que houver necessidade de esgotar
o quadro.
É necessário ter presente, quando da elaboração do projeto técnico, que o refugio sofre
assoreamento durante o ciclo de criação e precisa manutenção após cada safra.
8. Densidade
Para obter um bom preparo de solo com a densidade referida, utiliza-se um maior número de carpas
húngaras, de acordo com o seguinte percentual por espécie.
Carpa Húngara 70%
Carpa Capim 20%
Carpas Filtradoras 10%
Os alevinos devem ser colocados 20 dias após a semeadura do arroz o que normalmente ocorre a
partir do inicio de dezembro, observando o zoneamento climático da região. É muito favorável, pois
coincide com a época de maior oferta de alevinos para compra no mercado . Os alevinos deverão
ser previamente aclimatados antes de serem soltos no refúgio. Normalmente utiliza-se alevino 2, com
até 6 centímetros de comprimento.
11. Predadores
Muitos são os predadores que atacam os peixes, principalmente na fase inicial, quando os cuidados
deverão ser redobrados.
Os predadores aquáticos são: traíra, jundiá, lambarí, muçum, jacaré, tartaruga, cobra d’água, etc,..
Recomenda-se a utilização de barreiras ou filtros nas entradas e saídas de água para evitar a
presença destes predadores. As telas plásticas de malha fina e canos furados são úteis na entrada
de canos de PVC ,e, no caso de canais de terra na alimentação do quadro, recomenda-se filtro com
britas grossas.
Os predadores aéreos são: garça, martim-pescador, bem-te-vi, biguá, entre outros pássaros.
Recomenda-se a utilização de espantalhos mecânicos(canhões a gás), o uso de espantalhos
luminosos e/ou de cachorro adestrado.
É importante ter presente que o descuido no controle da ação dos predadores pode
inviabilizar o sistema proposto. Deste modo, o ponto chave para o sucesso da rizipiscicultura,
depende do cuidado do produtor com estes predadores.
Uma técnica recomendável é que ao final de cada ciclo ( outubro após despesca) seja feita a
desinfecção do refugio com cal virgem na dosagem de 200 gramas por metro quadrado.
Em condições de campo, tem-se observado que o índice de mortalidade de alevinos desde a
colocação no sistema até a despesca é de 50%.
12. Colheita do arroz
Por ocasião da colheita do arroz a água do quadro deverá ser baixada lentamente permanecendo
somente no refúgio. O quadro deverá permanecer sem água o mínimo de tempo possível pois
poderá haver nascimento de arroz vermelho que é uma grande invasora da lavoura arrozeira. Um
cuidado que devemos ter é não elevar a altura da lâmina de água muito rápido para dar tempo de
rebrote da resteva do arroz que servirá de alimento para as carpas capim. Neste período deverá se
ter cuidado com o nível de oxigênio, pois os peixes estão com um maior tamanho e somente terão o
espaço do refugio, caso seja necessário deverá ser realizada circulação forçada de água .
O arroz pode ser colhido com automotriz com esteiras ou com rodas de pneus. No caso da colheita
com automotriz com esteiras não é necessário baixar toda a água do quadro. Não é recomendado o
uso de espalhador/picador de palha para evitar que a mesma precipite imediatamente no fundo,
iniciando o processo de fermentação e consumindo o oxigênio dos peixes. Com o crescimento da
resteva aumenta-se progressivamente a altura da lâmina até atingir-se 60 centímetros ,dentro do
quadro, que é o ideal para o desenvolvimento da criação de peixes.
15.Despesca
Ø Escolha da área
Ø Reconhecimento da área
Ø Caracterização do solo
Ø Coleta de dados
Ø Levantamento planialtimétrico
Ø Preparo da área
Ø Estaqueamento
Ø Nivelamento topográfico
Ø Elaboração de planta baixa
Ø Coleta de amostra de solo
Ø Elaboração do projeto
Ø Rede de drenagem interna
Ø Rede de irrigação
Ø Estradas internas
Ø Projeto dos quadros
Ø Locação e dimensionamento dos refúgios
Ø Dimensionamento das taipas para rizipiscicultura
Ø Cálculo do movimento de terra
Ø Implantação do projeto de sistematização
Ø Movimento de terra dos quadros
Ø Movimento de terra com água
Ø Estrutura de filtragem , entradas e saídas de água nos quadros
Ø Manutenção do projeto
Neste item será descrito as partes do projeto técnico que são consideradas adaptações
usadas exclusivamente no processo de rizipiscicultura:
♦ Locação e dimensionamento dos refúgios:
Os refúgios devem estar localizados junto a taipa de maior comprimento dentro do quadro
ou em duas taipas em formato de ele( L ) .
Sua profundidade deve situar-se em torno de 0,80 m abaixo do nível do quadro .
Deverá existir uma pequena declividade para um dos lados do refugio com caimento em
torno de 0,05 %, onde será localizado um tubo para a drenagem do quadro e do refugio .
A área superior do refugio deve representar de 3 a 5 % da área útil do quadro
sistematizado .
Os refúgios deverão ser construídos com taludes internos para evitar desmoronamentos
em função do tipo de solo .
Em solos mais arenosos devemos usar maior ângulo de inclinação dos taludes, enquanto
em solos com maior teor de argila talude menores .Os refúgios deverão ser construídos
no formato trapezoidal .
♦ Manutenção do projeto:
No primeiro ano deve-se efetuar a limpeza dos drenos , canais de irrigação e drenagem ,
bem como ,após a despesca, uma limpeza nos refúgios para que o mesmo fique no
mínimo com 0,80 m de profundidade .
É importante renivelar os quadros (caso apresentem-se mal nivelados) após a despesca
e antes da semeadura, corrigindo imperfeições da sistematização e se necessário uma
correção nas taipas.
Nos demais anos geralmente faz-se necessário a conservação dos canais de irrigação e
drenagem. Salienta-se ainda a necessidade anual de manutenção do refugio pois estes
locais são assoreados de forma muito severa no decorrer do ciclo.
Uma observação importante são as rampas de acesso de maquinas aos quadros , em
especial as colheitadeiras. Estas rampas devem existir individualmente em cada quadro e
devem ser localizadas próximas as estradas internas da área.
Peixe Kg / ha 1000
R$ / Kg 1,00
Total 1.000,00
Neste item mostramos o rendimento bruto dos sistemas propostos , salienta-se o preço pago
ao produtor pelo arroz no sistemas pré germinado e rizipiscicultura ser mais alto devido a
classificação do produto ser melhor principalmente pela ausência de arroz vermelho. O preço
utilizado para o peixe é um parâmetro básico de venda no atacado deste produto.
A opção pela adoção de uma nova atividade agropecuária sempre passa por uma analise
do mercado atual e potencial. O peixe produzido na rizipiscicultura esta sendo somando ao
peixe da piscicultura , criando assim uma cadeia de produção que analisaremos a seguir .
As carnes em geral (bovinos ,suínos, aves e ovinos) tem sua cadeia de produção estruturado,
em especial no que tange a área de comercialização. A carne de peixe cultivado não tem
esta característica o que nos trás efeitos positivos e negativos. Como vantagem podemos
citar que o produtor de peixe tem obtido um retorno financeiro muito bom pois recebe parte
dos ganhos do setor intermediário da cadeia. Como desvantagem temos uma possibilidade
de estrangulamento no comércio local em regiões do estado mais afastada dos pólos
populacionais. Porém , no saldo final os produtores que estão na atividade avaliam
positivamente a opção da criação do peixe cultivado.
Alguns fatores já puderam ser avaliados ao nível de consumidor, para aceitação do produto
final do “Policultivo de Carpas” que representa, hoje, 95 % do peixe cultivado no Rio Grande
do Sul. O tamanho do peixe a ser vendido parece ser o principal fator técnico. Este tamanho
deve ser uniforme e estar em torno de 1,5kg para as carpas húngara e capim e 3kg para as
carpas prateada e cabeça-grande. Um peixe com este peso torna-se adequado para uma
boa refeição familiar e apresenta espinhos maiores que não dificultam o consumo.
O peixe cultivado em relação ao pescado marítimo apresenta a vantagem de ser oferecido
ao consumidor algumas horas após o abate , ou mesmo vivo, assegurando maior qualidade
da carne ao consumidor. Devemos ,deste modo, aproveitar este fator quando planejarmos a
comercialização e o marketing deste produto.
Para clarear as questões relacionadas ao mercado do peixe cultivado citaremos as
experiências de varias regiões produtoras do estado que tiveram um seqüência comum de
fases na estruturação da comercialização.
1. Fase- Quando uma região ou município inicia na criação de peixes, a produção e
pequena e o comercio direto produtor-consumidor ,na propriedade rural, tem sido a forma
natural de venda, especialmente aproveitando o apelo do consumo de peixe na “Semana
Santa”. Neste período aumenta abruptamente a procura e devemos aproveitar o momento
para popularizar a oferta deste tipo de peixe .
2. Fase- Quando a produção aumenta muitos municípios organizam feiras de produtores na
sede que iniciam suas vendas aproveitando a semana santa e acabam consolidando o
comercio por todo o ano. Este sistema trás vantagem ao consumidor que compra um
peixe fresco e por vezes abatido no momento da compra e o produtor atinge preços altos
na comercialização direta. A oferta continua na feira cria um mercado permanente.
3. Fase- Existe um acessório ao negocio peixe que tem crescido nos últimos anos que
chama-se pesque pague. O sistema pesque-pague é um negocio da área terciaria que
aproveita o apelo da pesca esportiva para o comércio de alimentação, acessórios
esportivos e peixe pescado na hora. Para fornecer peixe a este comerciantes dos
pesque-pague surgiu a figura do transportador de peixe. Este intermediário compra o
produto do produtor e vende ao pesque pague. Este sistema iniciou transportando peixe
para os pesque -pague de São Paulo que hoje as estatísticas apontam serem mais de
2000 e agora trabalham também dentro do estado. Lembramos que o negocio pesque
pague pertence a setor terciario e exige um alto investimento inicial e que a venda de
peixe aos transportadores tem sido uma solução para volumes maiores de
comercialização em curto espaço de tempo a uma remuneração menor que nas fases
anteriores. Salienta-se que o peixe gerado na rizipiscicultura tem a possibilidade de entrar
no mercado do pesque-pague nos meses de outubro/novembro. Nesta fase do ano a
piscicultura esta em entressafra o que constitui em vantagem para a atividade.
4. Fase- Entreposto de pescado. Esta construção e uma unidade pré-industrial que tem a
função de processar o pescado de um região, classificar e inspecionar o abate, dando
condições de comercialização em grandes redes de supermercado dentro do estado
atingido os pólos populacionais. O entreposto de pescado tem um tamanho mínimo que
somente se viabiliza a partir do processamento de 2000 kg por dia o que
consequentemente estará ligado a produção de uma região ou associação de produtores.
Estas quatro fases caracterizam bem a seqüência lógica na estruturação da comercialização
do peixe cultivado e tem sido uma constantes nas regiões produtoras.
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA:
ü BERNARDO, S. Manual de irrigação. 3.ed.. Viçosa: UFV, 1984. 463 p.
ü COTRIM , Decio. Manual Prático de Piscicultura. Porto Alegre:EMATER/RS,1998. 38p.
ü DÍAZ, A., CARBONELI, J. Adecuación de tierras para la siembra de arroz. In: ARROZ:
invertifación y produción. Cali:CIAT, 1985. p. 159-181
ü BRASIL. Ministerio da Agricultura. Secretaria Nacional da Produção Agropecuária. Provàrzeas
Nacional: 1 ha vale por 10 . Brasilía, 1982. 254 p.
( Informação Técnica 1 e 2 ) .
ü FUNDAMENTOS PARA A CULTURA DO ARROZ IRRIGADO. Campinas: Fundação
Cargil , 1985 .
ü CAI, Renkui, NI, Dashu, WANG, Jianguo. Rice-Fish Culture in China: the past , present and
future.,1998. (retirado da INTERNET http://www.idrc.ca/books/focus/776/cairenk.html)
ü VERONEZZI, L. Aproveitando o Esterco. A Granja, Porto Alegre, v.40, n.435, p.16-18, abr.1984.