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AGRICULTURA SUSTENTÁVEL

RIZIPISCICULTURA

MANUAL PRÁTICO

GRUPO TÉCNICO RESPONSÁVEL

Eng. Agr. Décio Cotrim


Eng. Agr. Roberto Guilherme S. Sacknies
Eng. Agr. Luís Antônio de Leon Valente
Eng. Agro. Paulo Renato Rojahn
Med. Vet. Ricardo Gutierrez Oliveira
Med. Vet. José Carlos Paiva Severo
Téc. Agr. Luís Alberto Rojahn
Téc. Agr. Danilo Rocha Leal
Téc. Agr. Vítor Hugo de Lara
Sumário:

Capitulo 1: Técnica de Rizipiscicultura:

1. Introdução
2. Situação no mundo.
3. O que é Rizipiscicultura
4. Porque Rizipiscicultura
5. Calendário da Rizipiscicultura
6. Resultados do peixe na Rizipiscicultura
7. Refugio
8. Densidade
9. Percentual das espécies
10. Época de colocação de alevinos
11. Predadores
12. Colheita do arroz
13. Formação de plancton
14. Suplementação alimentar
15. Despesca

Capitulo 2: Adaptações da lavoura arrozeira

16. Objetivo da sistematização de solos


17. Etapas da sistematização
18. Adaptação à lavoura arrozeira
• Locação e dimensionamento do refugio
• Dimensionamento das taipas para rizipiscicultura
• Estruturas de filtragem, entrada e saída de água dos quadros
• Manutenção do projeto.

Capitulo 3: Análise Econômica

19. Análise econômica


20. Tabela de valor de produção
21. Tabela de custos diretos
22. Tabela de depreciações
23. Análise final
24. Questão do mercado de peixe cultivado
25. Bibliografia consultada
CAPITULO 1: TÉCNICA DA RIZIPISCICULTURA

1. Introdução

Trata-se de um manual prático que busca informar e orientar o produtor em todas as fases do
consórcio arroz + peixe, ou seja, desde a sistematização do solo até a comercialização do pescado.
Os conceitos, orientações e recomendações nele contidos, representam uma ferramenta para
produtores e colegas extensionistas que venham a ingressar na atividade.
Este produto é o resultado de experiência acumulada no trabalho de extensão rural desenvolvido pela
EMATER/RS, em parceria com empresas privadas e outras instituições, e com produtores que
atuam nas atividades de rizipiscicultura.
Salienta-se que este manual por ser um relato de experiências práticas necessita da validação por
parte de órgãos de pesquisa oficial.

2. Situação no Mundo

A combinação de peixe e arroz tem uma longa história principalmente no continente asiático. Na
China existem referências, através de descobertas arqueológicas, que remontam 400 A.C.
Descobertas arqueológicas indicam que há 1700 anos em algumas províncias da China era
realizada a rizipiscicultura utilizando a carpa comum, carpa capim e carpa prateada utilizando um
modelo que se aproxima ao modelo sugerido atualmente.
Modernas pesquisas feitas formalmente somente surgiram no século XX, precisamente em 1935,
quando na China conduziu-se experimentos utilizando carpa negra, carpa capim, carpa prateada,
carpa cabeça grande e carpa comum, estocadas durante o período de crescimento do arroz
obtendo-se bons resultados.
No Brasil a rizipiscicultura tem seus primeiros registros no Nordeste no programa da Codevasp e, na
Região Sul, no programa “Próvarzeas” do Governo Federal que objetivava a sistematização de
várzeas e conseqüente utilização pela cultura do arroz irrigado. A técnica de peixe + arroz foi testada
no inicio da década de 80 no sul de Santa Catarina e norte do Rio Grande do Sul mas os resultados
esbarraram em uma baixa produtividade do peixe devido ao uso de espécies inadequadas (carpa
comum e tilápia rendali e nilótica) e principalmente nos altas remunerações que o arroz irrigado
propiciava desestimulando outras atividades.
A partir de 1995, a procura por parte de técnicos e produtores de alternativas para a redução de
custos da lavoura arrozeira, motivou um grupo de técnicos da EMATER/RS a procurar avaliar
resultados na área de rizipiscicultura, objetivando a formulação de um pacote tecnológico para a
atividade.
Neste sentido, a Emater/RS, em parceria com o produtor Dirceu Costa, realizou no município de
Santo Antônio da Patrulha no litoral norte do RS um “ensaio” de 5 possibilidades de manejo do
sistema peixe e arroz. Dos resultados alcançados neste ensaio é que baseamos as recomendações
constantes nesta publicação
3. O que é Rizipiscicultura

Rizipiscicultura é um sistema auto-sustentável de tecnologia limpa caracterizado pelo cultivo


consorciado de arroz irrigado e criação de peixes, sem o uso de agrotóxicos , reduzindo o uso de
maquinária , conservando o meio ambiente e proporcionando aumento de renda por área.
Salienta-se que a recomendação deste manual baseia-se no plantio de arroz no sistema pré-
germinado e/ou mudas com quadros sistematizados em nível e a criação de peixes na técnica do
policultivo de carpas.

4. Porque Rizipiscicultura

O consórcio arroz com peixes é uma alternativa de redução de custos da lavoura arrozeira porque o
peixe prepara o solo para o próximo cultivo do arroz irrigado, recicla a matéria orgânica e consome
sementes de plantas invasoras contidas no solo, como arroz vermelho, capim arroz, ciperáceas e
outras plantas aquáticas. O peixe também consome larvas de insetos, caramujo, bicheira da raiz do
arroz , sementes de arroz perdidas na colheita e restos culturais da lavoura que são focos de fungos
como a bruzone. É importante caracterizar que ao realizar o trabalho de limpeza do quadro, desde a
fase inicial até a colheita, os peixes não consomem as plantas de arroz.
Além da redução de custos, a adição da renda gerada pelo peixe é importante, e entra na
propriedade na época da formação da nova lavoura, em um momento de pouca disponibilidade de
recursos.

5. Calendário de Rizipiscicultura

Para termos uma noção do tempo e espaço das ações do sistema, apresentaremos o calendário de
rizipiscicultura. Salienta -se que o preparo de solo somente é feito no primeiro ano, pois quando
sistema estiver em funcionamento esta função passa a ser feita pelo peixe.

*Agosto/Setembro Elaboração e implantação projeto


* Outubro Preparo e sistematização do solo
* Novembro Plantio do arroz
* Dezembro Colocação de alevinos
* Janeiro Peixe junto com o arroz
* Fevereiro Peixe junto com o arroz
* Março Peixe na lavoura e colheita do arroz
* Abril Peixe na resteva, adubação água
* Maio Peixe na resteva, adubação água
* Junho Peixe na resteva
* Julho Peixe na resteva
* Agosto Peixe na resteva, adubação
* Setembro Peixe na resteva, adubação
* Outubro Despesca
* Novembro Plantio do arroz
* Dezembro Colocação de novos alevinos
Segue -se o processo continuamente.
*Obs: Em regiões onde o zoneamento climático indica plantio anterior ao referido no quadro acima
recomenda-se colocar os alevinos observando 20 dias pós-plantio.

Existe um ciclo alternativo para este sistema baseado na utilização do alevino juvenil (peixe com
aproximadamente 15 centímetros) que é colocado na resteva após a colheita do arroz, conforme o
seguinte calendário.
* Agosto/Setembro Elaboração implantação projeto
* Outubro Preparo do solo
* Novembro Plantio do arroz
* Dezembro Arroz
* Janeiro Arroz
* Fevereiro Arroz
* Março Colheita do arroz
* Abril Peixe na resteva adubação
* Maio Peixe na resteva, adubação
* Junho Peixe na resteva
* Julho Peixe na resteva
* Agosto Peixe na resteva, adubação
* Setembro Peixe na resteva, adubação
* Outubro Despesca
* Novembro Plantio do arroz
* Dezembro Arroz
Segue -se o processo continuamente.

É necessário que o produtor que optar pelo sistema alternativo tenha amplo domínio da técnica de
criação do alevino até a fase juvenil pois a compra deste alevino em abril é muito cara , em razão
da pequena oferta, podendo inviabilizar o processo.

6. Resultado do peixe no Sistema Rizipiscicultura

A função do peixe no sistema rizipiscicultura é o preparo do solo, (com eliminação da resteva) o


controle de invasoras (inços) e o controle de pragas. Para obter tais resultados são utilizadas
espécies de peixes (carpas) que possuem hábitos alimentares diferenciados, facilitando a execução
deste trabalho. Descreveremos ,a seguir, a ação destes animais:

Carpa Húngara (Cyprinus carpio variedade húngara):


É a espécie de peixe que revolve o solo a procura de insetos, organismos aquáticos e sementes de
invasoras. Por ter hábito alimentar onívoro (come de tudo), “engole” o lodo, separa o seu alimento e
regurgita as sobras realizando, assim, o trabalho de preparo do solo.
É a espécie mais importante no sistema pois é através dela que obtemos o preparo do solo para a
semeadura da próxima safra de arroz sem a utilização de maquinária.

Carpa Capim (Ctenopharyngodon idella):


Esta espécie alimenta-se de vegetais superiores como por exemplo azevém, alfafa, milheto, planta
verde de milho e sorgo. Possui crescimento rápido, consumindo na fase adulta, 25% de seu peso em
massa verde por dia. Sua carne é de alta qualidade, branca, com poucas espinhas. Ela é a
responsável pela eliminação da resteva e das ervas daninhas.
A carpa capim devido ao habito herbívoro consome rapidamente a resteva do arroz e normalmente
necessita de suplementação de pastos verdes a partir do mês de agosto até sua despesca em
outubro.

Carpa Prateada e Carpa Cabeça Grande (Hypophthalmicthys molitrix e Aristichthys nobilis):


Estas duas espécies possuem hábitos alimentares semelhantes, são filtradoras, porém a carpa
prateada filtra somente o fitoplâncton e a cabeça grande somente o zooplancton. São animais que
utilizam o sistema sem competição com as demais espécies e atingem tamanhos para
comercialização em curto espaço de tempo.
A criação conjunta destas quatro espécies é o que caracteriza o “Policultivo de Carpas” ,que é um
sistema auto-sustentável gerando bons lucros ao produtor com grandes vantagens a lavoura de arroz
e ao meio ambiente.

7. Refúgio

É um local mais profundo dentro do quadro onde não é plantado arroz . Serve como refúgio aos
peixes quando for necessário o rebaixamento da água por ocasião da colheita e/ou despesca. Deve
ser construído com 80 cm de profundidade abaixo do nível do quadro. De preferência, no lado maior
da taipa, ocupando 3 a 5% da área total do quadro. Dois formatos do refugio podem ser utilizados,
usando-se apenas uma lateral do quadro ou duas laterais em formato de ele (L). Vale lembrar que a
definição da posição do refugio no quadro depende do projeto técnico, observando a entrada/saída
da água e facilidade para despesca. Recomenda-se uma declividade de 0,05% em direção aos
drenos para facilitar o escoamento de toda a água no momento que houver necessidade de esgotar
o quadro.
É necessário ter presente, quando da elaboração do projeto técnico, que o refugio sofre
assoreamento durante o ciclo de criação e precisa manutenção após cada safra.

8. Densidade

Os trabalhos desenvolvidos em propriedades mostraram bons resultados (preparo de solo


satisfatório) com lotação de 3000 alevinos por hectare. Pode-se, todavia, utilizar densidade média
de até 4500 alevinos se o técnico estiver em duvida sobre a existência de fatores que aumentem o
índice de mortalidade como, por exemplo, predadores.
No ciclo alternativo, com utilização de alevino juvenil, tem-se obtido bons resultados com densidade
em torno de 2000 alevinos por hectare.
9. Percentual de cada espécie

Para obter um bom preparo de solo com a densidade referida, utiliza-se um maior número de carpas
húngaras, de acordo com o seguinte percentual por espécie.
Carpa Húngara 70%
Carpa Capim 20%
Carpas Filtradoras 10%

10. Época de colocação dos alevinos

Os alevinos devem ser colocados 20 dias após a semeadura do arroz o que normalmente ocorre a
partir do inicio de dezembro, observando o zoneamento climático da região. É muito favorável, pois
coincide com a época de maior oferta de alevinos para compra no mercado . Os alevinos deverão
ser previamente aclimatados antes de serem soltos no refúgio. Normalmente utiliza-se alevino 2, com
até 6 centímetros de comprimento.

11. Predadores

Muitos são os predadores que atacam os peixes, principalmente na fase inicial, quando os cuidados
deverão ser redobrados.
Os predadores aquáticos são: traíra, jundiá, lambarí, muçum, jacaré, tartaruga, cobra d’água, etc,..
Recomenda-se a utilização de barreiras ou filtros nas entradas e saídas de água para evitar a
presença destes predadores. As telas plásticas de malha fina e canos furados são úteis na entrada
de canos de PVC ,e, no caso de canais de terra na alimentação do quadro, recomenda-se filtro com
britas grossas.
Os predadores aéreos são: garça, martim-pescador, bem-te-vi, biguá, entre outros pássaros.
Recomenda-se a utilização de espantalhos mecânicos(canhões a gás), o uso de espantalhos
luminosos e/ou de cachorro adestrado.
É importante ter presente que o descuido no controle da ação dos predadores pode
inviabilizar o sistema proposto. Deste modo, o ponto chave para o sucesso da rizipiscicultura,
depende do cuidado do produtor com estes predadores.
Uma técnica recomendável é que ao final de cada ciclo ( outubro após despesca) seja feita a
desinfecção do refugio com cal virgem na dosagem de 200 gramas por metro quadrado.
Em condições de campo, tem-se observado que o índice de mortalidade de alevinos desde a
colocação no sistema até a despesca é de 50%.
12. Colheita do arroz

Por ocasião da colheita do arroz a água do quadro deverá ser baixada lentamente permanecendo
somente no refúgio. O quadro deverá permanecer sem água o mínimo de tempo possível pois
poderá haver nascimento de arroz vermelho que é uma grande invasora da lavoura arrozeira. Um
cuidado que devemos ter é não elevar a altura da lâmina de água muito rápido para dar tempo de
rebrote da resteva do arroz que servirá de alimento para as carpas capim. Neste período deverá se
ter cuidado com o nível de oxigênio, pois os peixes estão com um maior tamanho e somente terão o
espaço do refugio, caso seja necessário deverá ser realizada circulação forçada de água .
O arroz pode ser colhido com automotriz com esteiras ou com rodas de pneus. No caso da colheita
com automotriz com esteiras não é necessário baixar toda a água do quadro. Não é recomendado o
uso de espalhador/picador de palha para evitar que a mesma precipite imediatamente no fundo,
iniciando o processo de fermentação e consumindo o oxigênio dos peixes. Com o crescimento da
resteva aumenta-se progressivamente a altura da lâmina até atingir-se 60 centímetros ,dentro do
quadro, que é o ideal para o desenvolvimento da criação de peixes.

13. Formação do Plancton

O plancton é uma formação microorgânica de plantas e animais que se desenvolve na água.


O plancton é a principal fonte de alimento para os peixes no sistema de rizipiscicultura. Para a
formação natural deste alimento são necessários três fatores: luz solar, calor e nutrientes,
principalmente fósforo e nitrogênio. Para o criador de peixes aumentar a produção planctonica deve
realizar a adição de nutrientes ao sistema ,em especial a adubação orgânica.
A melhor justificativa para a criação de peixes com resíduos orgânicos é que aproximadamente 75%
do nitrogênio, 70% do fósforo e 85% do potássio existentes nas rações fornecidas aos animais
podem ser recuperados nos excrementos. ( Veronezzi,L 1984)

A dosagem de adubação orgânica e a frequência de aplicação no espaço de tempo é


extremamente variável segundo a bibliografia. Recomenda-se o uso de 500kg/ha/mês de
esterco de suíno; ou o uso de 1.000kg/ha/mês de esterco bovino. Não se pode esquecer de
avaliar se não está faltando oxigênio para os peixes na hora desta prática.
No caso do uso do esterco de aves cabe uma ressalva na compra de cama de aviário,
normalmente o esterco vem misturado a maravalha que ainda não está decomposta, este
produto pode causar intoxicação aos peixes.

14. Suplementação Alimentar

Peixes que recebem complemento de ração na alimentação atingem peso para


comercialização em menor tempo. Esta pratica deve ser avaliada sob ponto de vista
econômico.
O sistema de rizipiscicultura proposto recomenda que 3000 peixes habitem um quadro com
arroz irrigado de um hectare durante três meses no período de verão, que é de maior ganho
de peso dos animais, havendo desta maneira uma certa competição por espaço. Esses
peixes permanecem no mesmo quadro ,após a colheita, como se estivessem em um açude
de piscicultura, por mais nove meses. No período outono/inverno a formação planctonica é
menor e em conseqüência temos menor ganho de peso. O resultado final obtido são animais
com peso em torno de 1000 gramas que na maioria dos casos ainda estão abaixo do peso
ideal de comercialização(1500 gramas para carpas húngara e capim; 3000gramas para
carpas prateada e cabeça grande)
Existem duas saídas para esta situação:
1º Montar um estrutura de açude de piscicultura que recrie este animal até o abate em
aproximadamente 6 meses.
2º Fornecer ração comercial de peixe quando a temperatura da água estiver em condições,
(acima de 20 graus) o que vai aumentar o custo de produção .
Obs: Não devemos esquecer que a partir do momento que as carpas capim consumirem toda
a resteva deverá ser colocado algum tipo de capim (milheto, sorgo ,milho, azevém ,etc) para
as mesmas, a fim de não interromper seu crescimento e atingirem tamanho e peso ideal.
Estes animais também consomem ração mas têm seu custo de produção reduzido quando
usado vegetais superiores na alimentação.

15.Despesca

A despesca é realizada próxima aos meses de outubro/novembro, um a dois dias antes do


plantio do arroz pré-germinado. Devemos lembrar que se o solo ficar sem água durante
muitos dias iniciará a germinação de plantas daninhas como o arroz vermelho e o canevão ,
deste modo, logo após a despesca recomenda-se o plantio da nova safra de arroz.
Para realizar a despesca, são necessários materiais adequados como puçás, redes, bolsas
para o transporte, etc. Salienta-se que as redes de despesca devem ser especiais aos
moldes da pesca marítima pois estes animais são muito fortes e destruem redes comum de
pesca. Lembramos também que todo o processo de despesca deve ser calmo para evitar o
estresse dos animais o que depreciará a carne para o consumo.
Não esqueçamos que é nesta fase que devemos fazer a limpeza e recomposição dos taludes
do refugio para o próximo ciclo de criação.

CAPITULO 2 : ADAPTAÇÃO DA LAVOURA ARROZEIRA

16. Objetivo da Sistematização de Solos

Para o aproveitamento eficiente e racional do solo, há necessidade de prepará-lo


previamente ao cultivo, com um trabalho de sistematização do terreno, que consiste na
criação de um sistema funcional de manejo que vai desde a remoção de detritos vegetais,
confecção de canais de irrigação e drenagem, construção de estradas internas, regularização
da superfície do terreno, em nível ou desnível, (para rizipisicultura obrigatoriamente em nível)
entaipamento e a construção de estruturas complementares conforme a necessidade de
cada projeto. Em resumo, o sinônimo de sistematização é um planejamento racional da
lavoura.

17. Etapas da sistematização

Para a realização de um projeto de sistematização de solos são necessárias varias etapas


de um trabalho que deve ser feito por um técnico da extensão rural especializado na
atividade. De uma forma ilustrativa citaremos os passos deste projeto técnico:

Ø Escolha da área
Ø Reconhecimento da área
Ø Caracterização do solo
Ø Coleta de dados
Ø Levantamento planialtimétrico
Ø Preparo da área
Ø Estaqueamento
Ø Nivelamento topográfico
Ø Elaboração de planta baixa
Ø Coleta de amostra de solo
Ø Elaboração do projeto
Ø Rede de drenagem interna
Ø Rede de irrigação
Ø Estradas internas
Ø Projeto dos quadros
Ø Locação e dimensionamento dos refúgios
Ø Dimensionamento das taipas para rizipiscicultura
Ø Cálculo do movimento de terra
Ø Implantação do projeto de sistematização
Ø Movimento de terra dos quadros
Ø Movimento de terra com água
Ø Estrutura de filtragem , entradas e saídas de água nos quadros
Ø Manutenção do projeto

18. Adaptação à lavoura arrozeira

Neste item será descrito as partes do projeto técnico que são consideradas adaptações
usadas exclusivamente no processo de rizipiscicultura:
♦ Locação e dimensionamento dos refúgios:
Os refúgios devem estar localizados junto a taipa de maior comprimento dentro do quadro
ou em duas taipas em formato de ele( L ) .
Sua profundidade deve situar-se em torno de 0,80 m abaixo do nível do quadro .
Deverá existir uma pequena declividade para um dos lados do refugio com caimento em
torno de 0,05 %, onde será localizado um tubo para a drenagem do quadro e do refugio .
A área superior do refugio deve representar de 3 a 5 % da área útil do quadro
sistematizado .
Os refúgios deverão ser construídos com taludes internos para evitar desmoronamentos
em função do tipo de solo .
Em solos mais arenosos devemos usar maior ângulo de inclinação dos taludes, enquanto
em solos com maior teor de argila talude menores .Os refúgios deverão ser construídos
no formato trapezoidal .

♦ Dimensionamento das taipas para rizipiscicultura:


O dimensionamento das taipas para rizipisicultura deve ser bastante criterioso, pois estas
sofrerão a ação dos ventos , dos peixes, do homem e da água por todo o ano. Portanto
nunca é demais faze -las bem reforçadas se possível com retro escavadeira e/ou braço
valetador .
As taipas devem ter altura suficiente para elevarmos a água dentro dos quadros em ±
0,60 m ter também uma seção trapezoidal, visando a conservação das taipas.

♦ Estruturas de filtragem, entrada e saída de água dos quadros:


São estruturas que tem por finalidade impedir a entrada de peixes predadores nos
quadros .
Estas estruturas devem ser construídas com tubo de PVC com diâmetro que variam em
função do tamanho do quadro. Comercialmente os tubos de PVC mais viáveis
técnico/economicamente estão entre 100 e 150 milímetros de diâmetro.
A passagem de água é feita através de orifícios feitos nos tubos de aproximadamente 6
mm enquanto suas extremidades são totalmente vedadas .
Na drenagem das águas a estrutura utilizada é semelhante, portanto não permitindo a
saída de peixes pequenos dos quadros . Tais estruturas devem ser colocadas no fundo
dos refúgios .

♦ Manutenção do projeto:
No primeiro ano deve-se efetuar a limpeza dos drenos , canais de irrigação e drenagem ,
bem como ,após a despesca, uma limpeza nos refúgios para que o mesmo fique no
mínimo com 0,80 m de profundidade .
É importante renivelar os quadros (caso apresentem-se mal nivelados) após a despesca
e antes da semeadura, corrigindo imperfeições da sistematização e se necessário uma
correção nas taipas.
Nos demais anos geralmente faz-se necessário a conservação dos canais de irrigação e
drenagem. Salienta-se ainda a necessidade anual de manutenção do refugio pois estes
locais são assoreados de forma muito severa no decorrer do ciclo.
Uma observação importante são as rampas de acesso de maquinas aos quadros , em
especial as colheitadeiras. Estas rampas devem existir individualmente em cada quadro e
devem ser localizadas próximas as estradas internas da área.

CAPITULO 3: ANÁLISE ECONÔMICA.

19. Análise Econômica


Para recomendarmos um novo sistema de produção temos que compará-lo com os sistemas
existentes e avaliarmos suas vantagens e viabilidade econômica. Deste modo, analisamos e
comparamos os sistemas de produção de arroz irrigado convencional, pré -germinado e
rizipiscicultura. Nos baseamos em dados regionalizados evitando, desta maneira, a análise
de apenas um estudo de caso. Este trabalho foi apresentado no ano de 1997 e baseia-se em
dados da safras 94/95, 95/96 e 96/97.
A sistemática de apresentação dos dados segue o seguinte modelo:
1) Valor de Produção (VP): Calculado a partir da média regional de produção de arroz
irrigado nos três sistemas propostos multiplicado pelo valor do preço mínimo para uma
classificação padrão do arroz.
2) Custos Diretos (CD): Calculado pelo somatório de custos variáveis envolvidos nos três
sistemas.
3) Depreciações (DP) : Calculado pelo somatório dos fatores anuais de depreciação real
dos equipamentos utilizados em seu potencial técnico nos três sistemas propostos.
4) Valor Agregado Liquido (VAL) : Apresenta o resultado econômico dos sistemas sendo o
fator que possibilita avaliação dos sistemas .

20. Tabela de valor de produção por hectare

Convencional Pré Germinado Rizipiscicultura

Arroz Kg / ha 5100 6500 6500

R$ / Kg 0,20 0,24 0,24


Total 1.074,00 1.560,00 1.560,00

Peixe Kg / ha 1000

R$ / Kg 1,00

Total 1.000,00

Valor Produção 1.074,00 1.560,00 2.560,00

Neste item mostramos o rendimento bruto dos sistemas propostos , salienta-se o preço pago
ao produtor pelo arroz no sistemas pré germinado e rizipiscicultura ser mais alto devido a
classificação do produto ser melhor principalmente pela ausência de arroz vermelho. O preço
utilizado para o peixe é um parâmetro básico de venda no atacado deste produto.

21. Tabela de custos diretos por hectare

Convencional Pré Germinado Rizipiscicultura

1.Sementes Kg / ha 300 150 150


Total R$ 120,00 60,00 60,00
2.Uréia Kg / ha 70 70 70
Total R$ 26,00 26,00 26,00
3. Adubação Kg / ha 170 170 170
Total R$ 51,00 51,00 51,00
4. Óleo preparo solo arado,grade, colheita 63,00 44,00 20,00
5. Irrigação(elet) 56,00 34,00 67,00
6. Entaipamento 20,00 0 0
7.Secador (tercerizado 7% produto) 75,00 156,00 156,00
8.Armazenagem (4%) 43,00 62,00 62,00
9. Defensivos 62,00 45,00 0
10.Aviação agrícola 23,00 18,00 11,00
11.Caminhonete leve 7,00 7,00 7,00
12.Administração AT 25,00 20,00 12,00
13.Manutenção máquinas 97,00 32,00 0
14.Funrural(2,7%) 29,00 42,00 69,00
15.Alevinos 320,00
16.Gás (canhão) 3,00 6,00
17. Transporte externo(1,5%) 16,00 23,00 23,00
18.Custo mão de obra 158,00 106,00 173,00
19. Custos financeiros 52,00 42,00 63,00

TOTAL CUSTOS 923,00 772,00 1128,00


§ preço uréia R$370,00 a ton.
§ preço do adubo R$300,00 ton.
§ semente R$20,00 sc.
§ custos financeiros metade CT juro de 6% aa por 8 meses metade CT juro 12% aa por 8
meses
§ Aviação agrícola pré 80% e rizi 50% do convencional
§ Mão de obra $ 14,76 por jornada
§ Não considerado custo oportunidade da terra (10 sc)
§ Não considerado custo de oportunidade dos bens de capital (6% aa)

22. Tabela de depreciações por hectare

Convencion Vida R$ / ha Pré Vida R$ / ha Rizipiscicultur Vida R$ / ha


al útil Germinado útil a útil

1.Tratores 1000,00 20 50,00 571,00 20 29,00 0 0


2. Equipamentos 212,00 10 21,00 84,00 10 8,00 0 0
3,Colheitadeira 600,00 20 30,00 450,00 20 23,00 450,00 20 23,00
4.Bomba 62,00 15 4,00 62,00 15 4,00 62,00 15 4,00
5. Sistematização 200,00 15 13,00 250,00 15 17,00
6. Canhão 175,00 20 9,00 175,00 10 18,00
7.Caminhonete 300,00 10 30,00 300,00 10 30,00 300,00 10 30,00
leve

BENS DE 1874,00 1542,00 937,00


CAPITAL(ha)

TOTAL DAS DEPRECIAÇÕES 135,00 116,00 91,00

Para o cálculo das depreciações usamos como base o maquinário tecnicamente


recomendado dentro da sua eficiência máxima e a vida útil foi a realmente observada pelos
produtores regionalmente consultados.

23. Análise final por hectare


VP CD DEP VAL

CONVENCIONAL 1074,00 923,00 135,00 15,00

PRÉ-GERMINADO 1560,00 772,00 116,00 672,00

RIZIPISCICULTURA 2560,00 1128,00 91,00 1342,00

§ Convencional pré germinado e rizipiscicultura realizado em terra própria

A partir dos dados apresentados podemos concluir:


1. O valor de produção do pré-germinado é superior ao convencional devido a melhor
classificação do arroz, pela ausência de arroz vermelho, e pelo aumento de produção no
sistema. O sistema rizipiscicultura tem VP maior que o pré-germinado devido a
comercialização do peixe.
2. Os custos diretos foram menores no pré-germinado em relação ao convencional pois a
sistematização racionalizou o uso da mão de obra, irrigação, defensivos e preparo de
solo .O sistema rizipiscicultura tem custos diretos mais altos que o pré-germinado pois
devemos manter água no quadro o ano todo e necessitamos comprar alevinos.
3. A depreciação foi seqüencialmente menor na rizipiscicultura que no pré-germinado que
no convencional devido a redução dos maquinários utilizados.
4. Através da análise final do Valor Agregado Liquido podemos concluir que o sistema
rizipiscicultura é economicamente superior aos sistemas pré -germinado e convencional
consecutivamente.

24. Questão do mercado de peixe cultivado.

A opção pela adoção de uma nova atividade agropecuária sempre passa por uma analise
do mercado atual e potencial. O peixe produzido na rizipiscicultura esta sendo somando ao
peixe da piscicultura , criando assim uma cadeia de produção que analisaremos a seguir .
As carnes em geral (bovinos ,suínos, aves e ovinos) tem sua cadeia de produção estruturado,
em especial no que tange a área de comercialização. A carne de peixe cultivado não tem
esta característica o que nos trás efeitos positivos e negativos. Como vantagem podemos
citar que o produtor de peixe tem obtido um retorno financeiro muito bom pois recebe parte
dos ganhos do setor intermediário da cadeia. Como desvantagem temos uma possibilidade
de estrangulamento no comércio local em regiões do estado mais afastada dos pólos
populacionais. Porém , no saldo final os produtores que estão na atividade avaliam
positivamente a opção da criação do peixe cultivado.
Alguns fatores já puderam ser avaliados ao nível de consumidor, para aceitação do produto
final do “Policultivo de Carpas” que representa, hoje, 95 % do peixe cultivado no Rio Grande
do Sul. O tamanho do peixe a ser vendido parece ser o principal fator técnico. Este tamanho
deve ser uniforme e estar em torno de 1,5kg para as carpas húngara e capim e 3kg para as
carpas prateada e cabeça-grande. Um peixe com este peso torna-se adequado para uma
boa refeição familiar e apresenta espinhos maiores que não dificultam o consumo.
O peixe cultivado em relação ao pescado marítimo apresenta a vantagem de ser oferecido
ao consumidor algumas horas após o abate , ou mesmo vivo, assegurando maior qualidade
da carne ao consumidor. Devemos ,deste modo, aproveitar este fator quando planejarmos a
comercialização e o marketing deste produto.
Para clarear as questões relacionadas ao mercado do peixe cultivado citaremos as
experiências de varias regiões produtoras do estado que tiveram um seqüência comum de
fases na estruturação da comercialização.
1. Fase- Quando uma região ou município inicia na criação de peixes, a produção e
pequena e o comercio direto produtor-consumidor ,na propriedade rural, tem sido a forma
natural de venda, especialmente aproveitando o apelo do consumo de peixe na “Semana
Santa”. Neste período aumenta abruptamente a procura e devemos aproveitar o momento
para popularizar a oferta deste tipo de peixe .
2. Fase- Quando a produção aumenta muitos municípios organizam feiras de produtores na
sede que iniciam suas vendas aproveitando a semana santa e acabam consolidando o
comercio por todo o ano. Este sistema trás vantagem ao consumidor que compra um
peixe fresco e por vezes abatido no momento da compra e o produtor atinge preços altos
na comercialização direta. A oferta continua na feira cria um mercado permanente.
3. Fase- Existe um acessório ao negocio peixe que tem crescido nos últimos anos que
chama-se pesque pague. O sistema pesque-pague é um negocio da área terciaria que
aproveita o apelo da pesca esportiva para o comércio de alimentação, acessórios
esportivos e peixe pescado na hora. Para fornecer peixe a este comerciantes dos
pesque-pague surgiu a figura do transportador de peixe. Este intermediário compra o
produto do produtor e vende ao pesque pague. Este sistema iniciou transportando peixe
para os pesque -pague de São Paulo que hoje as estatísticas apontam serem mais de
2000 e agora trabalham também dentro do estado. Lembramos que o negocio pesque
pague pertence a setor terciario e exige um alto investimento inicial e que a venda de
peixe aos transportadores tem sido uma solução para volumes maiores de
comercialização em curto espaço de tempo a uma remuneração menor que nas fases
anteriores. Salienta-se que o peixe gerado na rizipiscicultura tem a possibilidade de entrar
no mercado do pesque-pague nos meses de outubro/novembro. Nesta fase do ano a
piscicultura esta em entressafra o que constitui em vantagem para a atividade.
4. Fase- Entreposto de pescado. Esta construção e uma unidade pré-industrial que tem a
função de processar o pescado de um região, classificar e inspecionar o abate, dando
condições de comercialização em grandes redes de supermercado dentro do estado
atingido os pólos populacionais. O entreposto de pescado tem um tamanho mínimo que
somente se viabiliza a partir do processamento de 2000 kg por dia o que
consequentemente estará ligado a produção de uma região ou associação de produtores.
Estas quatro fases caracterizam bem a seqüência lógica na estruturação da comercialização
do peixe cultivado e tem sido uma constantes nas regiões produtoras.
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA:
ü BERNARDO, S. Manual de irrigação. 3.ed.. Viçosa: UFV, 1984. 463 p.
ü COTRIM , Decio. Manual Prático de Piscicultura. Porto Alegre:EMATER/RS,1998. 38p.
ü DÍAZ, A., CARBONELI, J. Adecuación de tierras para la siembra de arroz. In: ARROZ:
invertifación y produción. Cali:CIAT, 1985. p. 159-181
ü BRASIL. Ministerio da Agricultura. Secretaria Nacional da Produção Agropecuária. Provàrzeas
Nacional: 1 ha vale por 10 . Brasilía, 1982. 254 p.
( Informação Técnica 1 e 2 ) .
ü FUNDAMENTOS PARA A CULTURA DO ARROZ IRRIGADO. Campinas: Fundação
Cargil , 1985 .
ü CAI, Renkui, NI, Dashu, WANG, Jianguo. Rice-Fish Culture in China: the past , present and
future.,1998. (retirado da INTERNET http://www.idrc.ca/books/focus/776/cairenk.html)
ü VERONEZZI, L. Aproveitando o Esterco. A Granja, Porto Alegre, v.40, n.435, p.16-18, abr.1984.

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