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Dominique WoLron Internet, e depois? Uma teoria critica das novas midias Tradugao de Isabel Crossetti g Editora Sulina x | | | t t Cariruto 2 Midias generalistas e grande piiblico TELEVISAO GENERALE UMA VITORIA SEM LEGITIMIDADE Qual a forga da televisiio? Seu sucesso popular. Seu ponte feaco? Sua falta de legitimidade junto as elites culturais. Infelizmente isso jf dura meio século, mesmo com as elites reivindicando naais democracia cultural, estas munca se deram vonea que a twlevisio correspondia em parte a este ideal permitindo o acesso & informa- Gio, d cultura ou ao entretenimento 4 maior parte das pessoas, Na dade, nao importando o que dizem as elites, a televisio thes di medo, pois elas ai perceberam, erroncamente, um curto-circuito nos caminhos classicos da hierarquia cultural que lhes ameagaria em seu estacuco de elite. Além disso, ao invés de considerar a televisio. uma oportunidade para a culura de massa, as elites viram uma mé- quina a influenciar as mentes ea “baixar o nivel cultural”, retoman- do assim a antiga aversio contra a comunicagio coletiva. De nada adiantow as pesquisas, assim como os fatos, negarem esta dupla sus- peita. Cingiienta anos depois, se esté no mesmo ponto, o de uma vitdria sem legitimidade, de uma importancia considersvel na his- téria da comunicagio, sem uma real reflexdo sobre as modificagées que a televisi acarretou para todo: O sucesso, no entanto, é inegivel ha cingiieata anos: 0 surgimento do cabo, seguido dos canais tematicas, nao colocou em questéo a economia geral da televisto que se divide em wé partes desiguais: ama maioria para a televisio generalista, os Servi- g0s a cabo, a multimidia . De todas as maneias a televisdo fascina, pois ela ajuda milhées de individuos a viver, se distrair e compre- ender 0 mundo. Mas como eu varias vezes expliquei', a televisio faz de tal maneira parte de nossa vida cotidiana, da mesma forma que o radio, que no se tem necessidade de se falar sobre ela, anio ser para reclamar dela, pois o paradoxo é que ela nos é indispensa~ vel ao mesmo tempo em que nio nos satisfaz, Todo mundo a uti- 61 liza e ninguém esté contente com ela. Este duplo movimento, uti- lizagio e decepgio, manifesta a liberdade critica do publico ¢ tam- bém-contribui para a perda de legitimidade da televisao. ; "x forga da televisio reside nesta utilizagio banal mas dis- tanciada, que constiwwi o reconhecimento do seu papel evh decodificat 6 mundo. Mas é falso dizer que o telespectador ¢ en- anado pelo que vé: quando o é € porque assim o quer.Retoma-se ‘oqué’é central, mas que nio consegue ser entendido: 0 publico é dotadoidelinteligéncia critica ¢, mesmo concedendo um sucesso imenso’® televisao, ele sabe guardar distancia. Assistir nda significa forgosamente aderir ao que se véeLé-se um jornal, ouve-se 0 radio, “assiginese A televisio, mas no se pensa menos. Para dizer de uma outta maneira, 0 éxito popular persistente das midias de massa * deveria ter provocado muito antes uma reflexao sobre a comple- xidade-da recepcio, a inteliggncia dos puiblicos ¢ a impossibilidade de'reduizir 2 televisio, assim como 0 radio ¢ a imprensa escrita, a ‘uma manipulagéo.das consciéncias. Existe um jogo silencioso, mas extremamente atuante, en- tre “este relégio imével do tempo que passa” utilizado por cada um, ao sabor dos humores, das idades, das alegrias e das desgra- cas, e que é um dos meios de se agartar & realidade histérica. Que seria denossas-vidas sem a televisdo, assim como o radio € os jor snais,spara’aceder.ao-mundo e compreendé“lo? Do que se falaria todos!os:dias?. Pois € preciso pér um fim nesta-mitologia de uma -comnicagao, ontem auténtica, hoje experimentada através da midia: Eo’ inverso, as‘ oportunidades de abertura av mundo, a te- mas'curiosos, de anilise sao muito’mais vastas hoje do que anteri- ormente imedida que se tem um nive} cultural mais elevado nas populacdes. Em suma, 0 sucesso da televisie é imenso, real, duradou- ro, aaltura do desafio de uma sociedade aberca, mesmo que cada um entre nés, dia apés dia, reclame da m4 qualidade dos progra~ mas, assistindo a eles apesar de tudo. Se a defasagem entze a oferta ea demanda implicita de programagio cada vez mais visivel, 0 que explica em parte 0 sucesso das midias ternatieas, nig se deve 62 ome RR ee TE ES eA TR tampouco esquecer que'a.dificuldade da televisdo reside no fato de facilitar o acesso & cultura sem deixar de ser um entreteni- mento.2A televisio permanece um espeticulo e nao pode ser uma escola com imagens. Do contrério os telespectadores desertam. A solugio, desde sempre, consiste em fisgé-los,a partir desta necessidade de distragao para leva-los a programas de qualidade, e existem mil maneiras de aliar espetaculo ¢ culura, entreteni- mento e qualidade. E esta certeza da comunicagdo de massa que faz.a sua forca e explica seu papel inestimavel de vinculo social ¢ de abertura 4 cultura contemporanea: Esta banalidade da televi- sio é provavelmente vambém um meio para tornar suportdvel a provagio de abertura a0 mundo. Extremamente desestabilizan- te, pois se esquece com muita fregiténcia que esta abertura ba- Janga as referéncias, as convicgdes, as certezas e oferece na maior parte do tempo o espetéculo das desgragas do mundo. A diver- 5 sao ea heterogencidade dos programas sao, sem davida, um das # meios de compensar os efeitos desestabilizantes desta.abertura ao mundot Por outro lado, a banalidade € também um dos simbolos da comunicagio de massa. Ao invés de ver nisso um descrédito, se deveria ver, a0 contratio,o:trago de uma certa imersio da te-E slevisio na cultura contemporanea. Em suma, somente a auséncia™ de todo e qualquer interesse tedrico sobre 0 estatuto da comuni- cagio explica considerar a banalidade da televisio um argumen- to suplementar para sua falta de interesse, quando é exatamente © contrério. A banalidade 6 a condigao para que a televisio de-. sempenhe seu papel de abercura a0: mundo, tanto para a experi ancia pessoal quanto para 0 acesso & histdtia. No mais, nao faltam exemplos em um passado muito re- cente que iJustram © papel central da televisdo em algumas situa~ gdes histéricas extremamente tensas. Na Russia, a televisio de- sempesha um papel fundamental desde 1992 contribuindo com a recente politica democratica, permitindo que milhées de cidadlaos tenham acesso a todas as mutagées do poder politico. Na Africa do Sul, a forte mediatizagao da vida piiblica ¢ a retransmissie dos traballios da “comissio verdade, justiga ¢ reconciliaggo” sio con- & 63 pr, wee oy We dices vitais para a paz civil. Acontece 0 mesmo diarjamente no Brasil, com o papel desempenhado pela Rede Globo, contudo um canal privado, mas cuja penetragio a torna uma instituigio direta da democracia. E 0 que dizer, por exemplo, da Itilia, onde a ope- racio da justica “Maos Limpas” entre 1985 © 1995 encontrou na mediatizagio um meio de mobilizar a populagio? Os exemplos podem ser multiplicados. Nés estamos tio acostumados ao papel essencial da comunicagao na democracia que esquecemos o quan- to esta banalidade aparente esconde na realidade uma missio es~ senciat. Existem evidentemente exeegdes, como o caso de Clinton nos Estados Unidos no outono de 1998, quando « hipermediatizagio demonstrou a confusio entre politica, justiga ¢ midias, vida publica e vida privada. Mas trata-se dos Estados Uni- dos, onde a imprensa ha mais de vinte anos ultrapassa constante- mente os limites do seu papel, fazendo crerao mundo inteiro que éa “vanguarda” da democracia. ‘Todas estas defasagens entre o papel considerdvel desempe- nhado pela televisio e 0 conformismo critico que a envolve ilus- tram uma vez mais a falta de reflexio da parte das clites sobre x sociedade contemporanea: € 0 quanto suas criticas constantes em relagio a sociedade de massas, sob o manto da lucidez, exprimem seu conformismo ¢ ilustram seu attaso em compreender trés grant des questbes da modernidade: a comunicagio, a maiotia ¢ a relagdo entre esfera ptiblica ¢ esfera privada em uma sociedade aberta. A banalidade e o carater insatisfatério da televisao, e de uma maneira mais geral da comunicagao de massa, nfo estao entdo em débito com a nossa sociedade, mas sim em crédito. Primeiramen- te, porque hi nisso o resultado de um imenso trabalho de emanci- pagio empreendido ha um século, ¢ também porque esta banali« dade é uma das portas de entrada essenciais para compreender as contradigées da sociedade contemporanea. Na verdade, nao sio as insuficiéncias da celevisto que cau- sam a maior parte dos problemas, mas a postura das elites cultu- rais que, 20 invés de verem nisso urna das caracteristicas essenciais de uma sociedade complexa, pressentiram a confirmacio de todos 64 ‘05 seus preconceitos em relagao & cultura de massa. Este contor- mismo éritico traduz uma grande dificuldade em compreender o mundo contemporango, um preciosismo, ¢ uma incapacidade em ver que, em duas geragdes, nds passamos de duas culturas, crtura de elite ¢ cultura popular, para quatro formas dé cultura: de elite, imédia, de massa ¢ particular. © fracasso & devido entio menos a impereigdes das midias de massa do que & preguica de nossas cli- zes em pensar'a democracia de massa da qual as midias sio a0 mes- mo tempo simbolo e uma das principais vias de acesso. O parado- xo € sempre o mesmo: se fala em outra coisa do que manter viva a democracia de massa, apresentada como o tnico sistema politico widvel, os partidos, os sindicatos, as correntes tedricas, € simultaneamente critica-se todas as suas manifestagdes concretas, das quais em primeiro lugar as midias de massa. De fato, eu fico transtornade em ver que, em vinte anos, a curiosidade intelectual sobre estas questées essenciais para o fu- turo aumentou muito pouco em detrimento da muitiplicagio subs- tancial das formagdes universitirias* ¢ dos trabalhos de pesquisa. Apesar destas mudangas, as elites repetem com um refinado re- quinte os mesmos esteredtipos sobre a celevisio de trinta anos atris, ao mesmo tempo em que se precipitam diante dela, sem mais distanciamento critico do que o cidadao comum de quem querem se distanciar, Para um pesquisador como eu, a televisio apresenta duas vantagens: ela valoriza a logica da oferta ¢ ela evidencia as dificuldades de comunicagao, a saber, a incompreensivel defasa- gem entre as trés légicas: do emissor, da mensagem e do receptor. O VALOR DA LOGICA DA OFERTA Em uma economia da comunicagio que privilegia individualizagao ¢ a demanda, a televisdo & como o adio e aim- prensa escrita, aliés, um exemplo vive da importancia de uma po- Ittica da oferta. Mas salientar a preemrinéncia da oferta é trazer toda uma histéria da cultura, principalmente depois de seu ingresso na era da democratizacio. No caso de se querer facilitar 0 acesso a cultura, é preciso diversificar ¢ ampliar a oferta cultural, ¢ nao 65 somente se preocupar com a demanda que supde o problema re- solvido. Para formular uma demanda é necessario ja dominar 0 acesso ao mundo} ¢ todo o sentido do lento movimento de eman- cipagao politica e cultural ha mais de um século consiste, por intermediagio de uma oferta a maior possivel, em ampliat a capa- cidade de compreensio do mundo. Eo que sabem desde sempre milhares de alfabetizadores ¢ professores gue pacientemente, ge- ragio apés geragio, ampliam a compreensio do mundo de scus alunos lhes transmitindo conhecimentos através de uma oferta de programas. £ esta melhor capacidade de compreensio do mundo que permite, em um segundo momento, formular uma demanda. Contrariamente ao discurso dominante atual, a emancipagdo passa primeiro pela oferta e néo pela demanda. Pois é a oferta que permi- te constituit campos de experiéncia a partir dos quais, posterior mente, a demanda se manifestara. E preciso salientar isso no mo- mento em que as midias tematicas ¢ a Internet exaltam incessan- temente a demanda e a apresentam como um progresso em rela- cao a oferta. Ela nao é um progresso, é simplesmente um comple- mento, O desafio, a importancia ¢ a dificuldade das indastrias culturais residem no fato de estarem sempre no lado da oferta. A demanda é necessariamente mais conformista que a oferta, Por outro lado, esta oferta deve ser a mais abrangente pos- sivel, da informagao ao esporte, das variedades aos jogos, dos documentirios as revistas eletrénicas, dos programas para 08 jo- vens as séries, dos programas sobre histéria aqueles que traramn da vida cotidiana, pois as vias de acesso 4 cultura sio muiltiplas, nem todos se interessam pelo mesmo assunto, nem ao mesmo tempo. E por esta razao que do ponto de vista de uma teoria da televisito nunca s¢ insistira o suficiente, mesmo que atualmente isto nio esteja na moda, sobre a impostincia das televisdes generalistas sobre a légica da oferta. Pleitear, como eu fago desde muitos anos, em favor do grande publico nao é nem um idealismo, nem um arcaismo, mas sim uma prioridade que nao exclui nenhuma das anteriores. A condigio de a cada vez situar o debate em nivel tedrico, que’ é 0 cas, ¢ de nao 66 confundir possibilidades técnicas, desregulamentagio, beneficios ¢ teoria da televisdo e dos pablicos. Toda teoria do priblico implica uma teoria da televisdo, ¢ finalmente uma representagio da socieda- de, Os argumentos “empiticos” que condenam o conceito de grade piiblico om nome da dupla evolugio das tecnologias ¢ a dos merea- dos lembram aqueles que regularmente na histéria politica conde- nam 0 conceito de democracia por causa dos desvios aos quais esta é regularmente submetida. Privilegiar 0 grande ptiblico significa na realidade apostar na sua inteligéncia. Principalmente em uma época na qual © nivel cultural e educativo é bastante elevado. E lembrar que, além de um conhecimento sociografico da demanda, a caracteristica dis- tintiva de uma inddszria cultural persiste na responsabilidade de oferta. £ lembrar também, evidentemente, que o piiblico nunca é passivo ou alienado. Ele pode ser influenciado, principalmente por programas de baixa qualidade, mas falar em alienagdo suporia a perda de seu livre-arbitrio. 1709. OTR Ne exiggncia de qualidade. Se esta melhorou para os telefilmes, as va- riedades, o esporte, os programas para os jovens, cla continua in- * suficiente no que diz respeito & Europa ha uma falta cruel de jornalistas e de especialistas nos do: minios telativos a ciéncia, a religido, a cultura e ao conhecimento sobre outros paises.-O potencial de difusio é atualmente despro- porcional em relagio a diversidade dos programas, ¢ se os canais temdticos compleram a oferta generalista, ainda é por intermédio das televisdes generalistas que a maior parte dos puiblicos tem aces so 3 informagio ¢ a cultura. Mas € sempre mais dificil e menos rentavel fazer televisio generalista do que televisio tematica Nao basta relembrar a superioridade da televisio generalisea em relagio & televisio temsitica, € preciso também verilicar a big gio existente entre televisio generalista, servigo piiblico ¢ identi dade nacional. A terrivel lei da audiéncia demonstra de faro que a televisio generalista privada nao € tentada a ampliar sua grade de programas além daqueles que lhe asseguram audiéncia, uma vex 2 67 A conirapartida a esta preeminéncia da oferta diz respeito ee us an informagio e aos shows, pois na » 0 ott! que é da audiéncia que ela sobrevive. Por outro lado, a televisio piiblica, pela sua independéncla um pouco mais forte em relagio aos recursos provenientes da publicidade, pode continuar a ofere- cer uina geade de programas generalistas mais vasta do que a tele- visio privada. Que seja piblica ou privada, o interesse da televisio generalista é estabelecer um vinculo constante com a questo cen- tral da identidade nacional, Quanto mais a oferta da televisio ¢ generalista, em contato direto com os nuiltiplos componentes da sociedade, mais a televisio desempenha seu papel de comunicagao nacional, tio importante em um momento de abertura de frontei- ras. A televisio é © principal espelho da sociedade: é essencial, |e oede pasa a coeséo social, que os componentes sociais e culturais da veka sociedade possam se ver ¢ se referenciar na principal midia. Tudo isso supde, como foi visto, uma methora substancial a qualidade da oferea, que evidentemente é a chave desta teoria da televisio. um problema de meios, mas esté igualmente ligado As representa gdes que os executives fazem da demanda potencial do publico. Reencontra-se a questio da subestimacao dos puiblicos. Valorizar a televisio de oferta obriga a valorizar a qualidade dos programas, sem o que, amanha, a televisio de demanda estard com a faca € 0 queijo na mio, em uma logica clissica de segmentagio, para dizer que a tinica que pode melhorar a qualidade dos programas O que é interessante, enfim, com a televiso generalista é a maneira como ela manifesta, muito mais répido do que a televisio temitica, as dificuldades da comunicagio. A televisio temética, me- nos ambiciosa, mas mais eficaz, oferece ao piiblico o que este deseja © que nao permite ver tio facilmente os limites da comunicagio, en- quanto que a inevitavel defasagem entre as trés 1égicas, do emissor, da mensagem ¢ do receptor, é perceptivel com as médias generalistas. © que nao significa que seja impossivel reduzir estas defasagens, mas isso demonstra ao menos o carter sempre decepcionante ¢ comple- xo da comunicagio mediatizada. As dificuldades das nvidias generalistas, no ajustamento oferta-demanda, ilusteam mais faciimente do que as maidias terasticas esta lei da comunicacio: nao existe comu- nicagio sem erro, sem risco, sem decepgio. 68 Nao existe racionalidade em matéria de comunicagao; seu “rendimento” € sempre incerto, por causa da confusio, das alternincias dos modismos, da dificuldade em fazer a mudanga dos inabitos... Esta licto das midias generalistas, esta difievidade de uma logica da-oferta sio um contrapoato importante 4 evolugie atual que apresents a segmentacio dos mereados ¢ 0 desenvolvimento de ema comunicagio pela demanda como meio seguro para reduzir estas freqiientes de gens. Certo, a comunicagio temritiea ¢ mais eficaz ¢ racional do que a comunicagao generalista, mas ela nao seria nada sem esta, ¢ principalmente descobre-se que ela nio pode mais do quea comunicagao generalista reduzir a famosa defasagem entre oferta e demanda, Primeiro porque 2 demanda, principalmente em matéria de televisio e esperdculo, fica freqiientemente implicita, precisa ser formulada a partir de uma oferta que permita revelar-se. Segundo, porque a inovagio vem mais [reqiientemente da oferta. pela qual se manifestam a criagio, a novidade e as diferencas. Os limites das midias generalistas nio devem sex considera- dos como um débito. Eles sao, ao contririo, uma garantia da de- mocracia de massa que, diariamente, deve organizar a coabitagio entre os universos sociais ¢ culturais que tudo leva a separar. Pri- vilegiar uma concepgao grande publico da televisio é se inscrever em uma certa tradicgao demoeratica, pois o grande publico da tele- visio nao é outra coisa, nas Areas da cultura e da comunicagao, do que a figura do sufragio universal no dominio da politica. Nos dois casos, trata-se de uma “ficgdo”, mas de uma ficgio essencial do ponto de vista de uma tcoria, seja da comunicacio, seja da demo- cracia. Nao ha mais igualdade em um corpo eleitoral do que nos comportamentos culturais do grande piblico, mas tanto um quanto outro remetem a um mesmo projeto de emancipagio. Nao ha democracia possivel entio sem midias generalistas que privilegiem a logica da oferta a mais ampla possivel, mesmo que, si- multaneamente, a segmentagio dos mercados da oferta e da deman- ” da prova a vitalidade das midias tematicas. E precise admitir esse du- plo paradoxo: nao ha uma cultura de massa sem uma oferta generalista a mais ampla possivei, mas esta oferta, ao mesmo tempo em que & 69 muito dificil de recomegat, suscita pouca consideragao e reconheci mento da parte de quase todos os palblicos, que sera sempre mais atentos a oferta temiitica, contude mais fteil de organizar... Este desafio da tclevisio, condigéo da democracia, através de uma légica da oferta, diz respeito a todos os paises, principal- mente acs paises com nacionalidade fragil, e que sdo submetidos severamente pelo poder das indiistrias de comunicagao. E um ni- mero considerdve] de paises com identidades mal asseguradas si0 confrontados com o dominio das inddstrias de comvnicagio, as quais em nome da modernidade, do livre comércio, da hibridagio culcural, da mundializacao, querem desordenar as frdgeis regula- mentagdes em favor da identidade nacional para exaltar os méri- tos das “novas midias”, E assim que 0 ridio ea televisao sio con- siderados como instrumentos do “passado”, justamente porque sio midias generalistas baseadas na oferta, em proveito das midias interativas, individualizadas, baseadas na demanda. E preciso pres- tar atengao a esta evolucio, pois corre-se 0 risco de prejuizos soci ais uma vez que ela deixa de lado a questio essencial do vinculo social e da existéncia de uma comunidade nacional, para privilegi- ar uma vez mais as relag6es individuais. Seguramente, uma socie~ dade, uma nacio, um povo, nfo sao apenas a adicao de milhares de individuos. Trata-se também, e talvez principalmente, de uma co- letividade simisdlica, que se constréi todos os dias. E nisso, ¢ aio na performance das técnicas, que reside o essencial da comunica- ¢40. Dito de outra maneira, as midias de massa, no que diz respei- to a esta. questio essencial do estar junto de uma coletividade, es- tio, por sua légica de oferta, generalista ¢ grande pablico, muito mais adiantadas do que as midias tematicas ou as novas tecnologias. PARA QUE SERVE A TELEVISAQ? Para uni individuos e piiblicos que de um outro ponto de vista tudo separa e hes oferecer a possibilidade de participar de uma ativi- dade coletiva. E esta alianga bem particular entre o individuo e a co- munidade que faz desta tecnologia uma atividade constitutiva da so- ciedade contemporanea. Fis o espirito da televisio*. 70 f i | O espectador € 0 mesmo individuo que o cidadio, o que implica terem as mesmas qualidades ¢ defeitos, Caso se acredite que o publico da televisio é infiuercidvel ¢ manipulavel, é preciso admitir que o cidadao também o seja. Ora, a aposta da democracia & que, em detrimento das considerveis desigualdades socioculturais, das prodigiosas diferengas nas aspiragGes coletivas e individuais, 0 cidadio pode ser a fonte da legitimidade democri- tica, Vale © mesmo para a televisio generalista: ela 6, alids, a sinica atividade que consegue tanta partictpagao coletiva quanto 0 voto. Mas diferente do voto, esta participagio se da continuamente. Se esconder atras de “bons” indices de “maus” programas prova algo que se sabe desde sempre: é mais facit nivelar os cidadaos © 0s telespectadores por baixo do que por cima, E se 0 pitblico assis- te a programas ruins, é menos por aprecid-los do que porque estes Ihes sio oferecidos, Os programas de baixa qualidade dizem menos sobre 0 ptblico do que sobre a representacio que lhes ¢ feita por aqueles que os produzem eos difundem, Em poucas palavras, diga- me que programa assiste que lhe direi qual é a concepgio de pablico prevista na mente daqueles que 0 produziram. E por essa razio que os indices de audiéncia medem menos a demanda do que a reacéo a oferta. E. por essa razio que a televisso é indissociavel da democracia de massa e baseada na mesma apos- ta: respeitar o individuo e fornecer a0 cidadao, isto é 20 relespectador, os meios para compreender o mundo no qual ele vive. Mas como 0 consumo da televisdo é individual, ¢ a principio para distrair, ela cem bem menos prestigio do que as demais fun- des coletivas. A questio fundamental é: para que serve a televisio a um individuo que nao é nunca passivo diante da imagem ¢ que so- mente retém o que ele quer reter? Ela serve pana se ter 0 que falar. A televisio é um formidavel instramento de comunicagio entre os individuos. O mais importante nao é 0 que é visto, mas 0 fato de se ter ¢ que falar. A televisdo é inn objeto de conversagao. Fala-se entre si, mais tarde, em todos os lugares. E por isso que ela é um vinculo social indispensavel em wma sociedade em que os indivi- a Cour troy » solitirias. Nao éa duos estio [reqiientemente isolados ¢ As vex televisdo que criaa salidao, o éxodo rural, multiplica favelas inver- mindveis, destrdi os vinculos lovais v desmembraa faunilia, Lila, a0 contrario, amortizou os efeitos negativos dessas profundas muta- gées, oferecendo um novo vinculo social em uma sociedade indi- vidualista de massa. Ela é a dnica atividade que faz uma liga- Gio igualitdria entre os ticos e os pobres, os jovens ¢ 0s mais ve- Ihos, 08 moradores rurais ¢ os urbanos, os cultivades © as nem tanto. Todo mundo assiste 4 televisto e fala sobre 0 que vé. Qual outra atividade é atualmente assim tio transversal? Caso a televi- sio nfo existisse, seria o sonho de muitos inventar um instrumen- to suscetivel de rennir todas 05 piblicos. Sua importincia é to grande politica quanto socialmente. B, alids, esta segunda dimensio que vai se tornar primordial, uma vex encerrada nos paises democriticos a tentacio inttil de um controle politico da televisao. Pois todas as maiorias, tanto de es- querda quanto de direita, experimentaram nos diltimos trinta anos 9 fato de que nfo basta dominar a televisio para vencer uma elei- gho. O controle das imagens ndo assegura o controle das mentes Do ponto de vista de uma teoria sociolégica, qual é atual- mente © problema essencial da televisio? Conservar a tensio en- tre estas duas dimensdes contraditérias, razdo de seu sucesso: 0 consumo individual de uma atividade coletiva. Qual o risco? Romper esta dimensio contraditéria, aban- donar o objetivo coletivo, se interessar somente pela dimensio individual. E ai que aparece o perigo de uma mé utilizagdo das novas tecnologias, Estas, ¢ a abertura das mercados, podem favo- recer uma degradagdo dos canais generalistas em proveito de uma legiao de canais tematicos com o argumento da “escolha” e da “liberdade individual”. O risco nao é 0 desaparecimento da televi- sao generalista, mas a queda de sua qualidade, com o deslocamen- to dos programas mais interessantes para os canais tematicos. A conseqiiéncia? Uma televisio com dois pesos ¢ duas medidas, generalista e de baixa qualidade para os piiblicos populares e uma quantidade imensa de programas mais interessantes nas redes e gpurentits mp oval poh wAilt og, temiticas Se 6 piiblico se dispersa nas midias do segundo tipo, muitas as oportunidades de se falar que desapareeem, una ver que nem todos assiscitam & mesma coisa, A evolugio incita entio a individualizagio, sempre conside- rada como um “progresso”, mas este & ambiguo na Area da comu- nicagdo, pois é sempre mais facil realizar com éxito uma midia temética do que uma midia generalista. Todos os profissionais bem muito bem que © verdadeiro desafio de uma atividaele de co- municagio reside na conquista do grande ptiblico. A tal ponto que as midlias temitticas (rédio, imprensa, relevisian.} que se fir mani tém na segiiéncia somente um objetivo sas ampliay sua ambi= Gfo pata atingir este “grande publico”. Por que apresentar a satis- fagio de pequenos pablicos como uma melhora em relagia & con quista do grande piblico? Com a fragments jo, se atinge também o papel central da television como vinculo social. © que resta de ligagao se cada meio social ¢ cultural se fecha no consumo de programas que lhe diz respeito? O que resta de uma atividade de “comunicagio” trans- pondo as diferengas se a comunicagio reproduz. o leque das dife- rengas sociais? A liberdade de escolha torna-se neste caso um ba- nus da indiferenga em relagio ao outro. . O progresso nfo consiste em ter cingiienta canais em casa, nem em estar diante de um muro de imagens, pois ndo se pode assistir a tudo. Quanto mais existem imagens, mais se coloca 0 problema de sua organizacao, entio aquele da existéncia de ama programagio. A abundancia de imagens nio supre a necessidade de uma programagio, ela 2 reforga: O que obscurece o argumento um pouco demagégico segundo 0 qual “o telespectador escolhe 0 que ele quer”. Sim, o espectador escolhe, mas a partir de uma ofer- ta organizada. O espectador nao é 0 programador. E por essa razio que a televisdo nao esta condenada pela evolugio atual, ao contri- tio, Ela corresponde a uma escolha ¢ a uma concepei estatuto da televisdo e nio a um © tebrier do stado das recnologias. De uma maneira geral, nao se pode ao mesmo tempo vons- tatar uma presenga cada vex, miais forte day imagens, nem se inqui- etar com a influéricia da televisao, sem medir as conseqiiéncias em matéria de organizagéo. Neste caso também, contrariamente a urna idéia proconcebida, uma concepgio de conjume da velevisio é mais necessiria hoje do que hé quarenta anos, justamente por causa desta abundancia de imagens ¢ de suportes. A individuatizagio clos comportamentos éapresentada come fo contraponto necessitio a existéncia de uma sociedade de massa, mas esta, contrariamente a uma idéia preconcebida, € menos ameagada pelo proceso de “massificagao” do que pelos aspectos perversos da individualizagto ¢ de segmentacio social. A anteaga de preferéncia se chama de solidio organizada, egoismo institucionalizado, narcisismo abalizado. Conceber atividades que permitam mancer as “‘duas pontas” da corrente, as dimensées in- dividual e coletiva, torna-se essencial. A televisko contribui para isso, principalmente na sua forma generalista. Por qué? Porque ela obriga nao a se interessar pelo que interessa aos outros, mas 20 menos a reconhecer 0 fundamento deste interesse. £ reconhecer 0 lugar do outro jé ndo & o primeiro passo para a sacializagao? A coa- bitagdo de programas no ambito de um canal é uma das manifesta- goes da coabitagdo soctal. Os programas de televisio sio para mi- Ihdes de telespectadores a Gnica aventura da semana, ¢ para mi- Iboes de individuos, a inica companhia dentro de casa, Nos senti- dos literal e figurado. Isto cria obtigagées bem além das regras do mercado ¢ da fascinacio pelas novas tecnologias. UM MANIFESTO De fato, para a televisio, 0 mais importance é resistir a esta ideologia do novo e, para isso, se ater ao essencial, isto &, as gran- des opgdes teéricas, Somente estas permitem resistix ao vaivém, dos modismos. Eu reagrupei em dez pontos‘a sintese da posigao te6rica que defendo referente ao sentido € ao papel da velevisto de massa em um manifesto que inspirou o Comité Prancés para o Audiovisual, criado em 1993 por iniciativa de um pequeno niirne- ro de personalidades, entre elas o senador Jean Churel, Este comi- 18 tinha como objetivo defender a televisio generalista ptiblica, 74 se RNP ASE ppt nen eee num momento em que ela tinha ainda menos do que o normal a simmpatia das elites, e suscitar um pouco em cada canto da Frangaa mobilizagio dos cidadaos. O comité deixou de existir em 1998, mas 05 problemas por ele levantados continuam atuais, assim como os argumentos do manifesto. 1. A televisio é 0 principal instrumento de informagio, de eniretenimento e de cultura da esmagadora maioria dos cidadaos dos paises desenvolvidas. Esta situagio cria uma responsabilidade social € cultural sui generis para os executivos, produtores, pro- gramadores, 2. A liberdade de comunicagao, principio fundamental acual- mente adquirido, nao significa, entretanto, a auséncia de regula- mentagio. Sobretudo quando 2 multipficacio de suportes favore- ce um aumento fantastico de oferta de imagens. A regulamenta- gio do setor de audiovisual se impde atualmente mais do que an~ tes, devido & abundancia das imagens. A liberdade de escolha do telespectador nao exclui uma organizagio. Ao contrario. Quanto mais imagens, mais uma panoramica se impée a fim de permitir ao piiblico ter referéncias neste labirinto de imagens. 3. Com a concorréncia entre setor piiblico e setor privado, sen- do atualmente admitida na Europa, a principal dificuldade é man- ter um setor publico forte em um sistema de concorréncia equili- brada. A extraordinaria expansio do audiovisual ndo deve condu- zir nem ao desaparecimento das regulamentagdes, o que nos colo~ caria em uma verdadeira selva onde a vitéria do mais forte nao garantivia de forma alguma a qualidade, nem a uma redugio do setor ptiblico a um simples papel de testemmunha. 4.A televisio piblica, depois de ter estado em uma posigio defensiva durante dez anos com o surgimento da televisio priva- da, se encontra hoje em uma posi¢ao melhor. Primeiro porque os telespectadores compreenderam 0 interesse ¢ o limite das televi- sdes privadas, onde as obrigagdes com o lucro nio so menores do que as pressdes politicas, sem aliés as exeluir, Em seguida por- que a restrigdo da oferta a alguns programas que asseguram a au- diencia nao satisfaz uma boa parte da demanda, Enfim, porque © [ys tan mente as Rash ere, Beeler ihe fey Sgn er pe ~ setor pablico comou consciéncia da imperiosa necessidade de uma reciclagem, ¢ do que o ptiblico espera dele. Desde que faca algo diferente do que a televisdo privada. 5. Um sistema de assdiovisual equilibrado 6 aquele no qual os dois setores sio, de uma forma global, de envergadura comparavel e os canais generalistas conservam a maior parte da audiéncia. Os ca- nais temdticos gratuitos ou pagos vém para completar e nao para desempenhar o papel dos canais generalistas. Em uma sociedade bastante individualista e mais hierarquizada do que parece ser,aforca da televisio estd em reunir publicos que de outro modo estio muito distantes uns dos outros. O verdadeiro desafio da televisio, meio de massa por exceléncia, permanece sendo o grande piiblico 6. Nao ha televiséo sem uma concepgdo implicita on explicita de seu papel na sociedade. A televisio nao éapenas um conjunto de imagens produzidas e difundidas, Ela também é imagens recebi- das, ¢ no higar mais privado, o domicitio, Ela é uma troca. Esta caracteristica, o consumo individual de uma atividade coletiva, obriga a se colocar a questo central para qualquer televisio, pri- vada ou ptiblica: uma televisio para fazer o qué? Além dos problemas econémicos, é finalmente na repre- sentacao do ptiblico ¢ de suas demandas potenciais que reside a diferenga entre os dois sistemas, o ptiblico e o privado, que sio, alias, fortemente complementares, FE se 0 monopolio da telewisio piiblica ontem foi nocivo, um quase monopélio da televis’ vada atualmente o seria tanto quanto. 0 pri- Para as trés fungées essenciais ~ informar, distrair, educar— sempee ha duas maneiras de corresponder, E se a televisio perma- nece um espetéculo, ~ e é por essa razio que ela agrada — nada impede que o espeticulo seja de qualidade. 7. Se do ponto de vista tedrico a diferenga entre os dois sistemas de organizagio da tclevisio é simples, sada a prior! ga- vante a qualidade da televisao publica. Bon varias situagées, algu- mas incumbéncias do setor piblico sao asseguradas tanto pelos canais generalistas privados quanto pelos canais publicos. Eas ve~ zes melhor. A diferenga entre os dois sistemas nunca é natural, 76 nem auromética, ¢ no depende nem de uma estrutura juridica, nem da economia, mas de uma ambigio. 8. Mais do que qualquer outra, 2 televisao piiblica deve poder tomar para si esta constatagio: 0 telespectador é 0 mesmo individisa que o cidadao, Se 0 cidadao é considerado inteligente, a ponto de ser 4 propria origem da legitimidade na teoria democritica, a mesma inceligéncia deve lhe seratribuida em sua dimensio de telespectador. O piblico nao € passivo diante da imagem, seu espitito critico é constante, simplesmente sua posicio de telespectador o faz depen- deta oferta dos programas. Mais do que em qualquer outro setor da industria cultural, na televisio publica a responsabilidade pri- meira vern da oferta e nfo da demanda. 9.4 qualidade do priblico corresponde a dos programas, como conseqiténcia @ qualidade dos profissionsis que os produzem. Nio ha televisiio de qualidade sem profissionais de qualidade. © que requer em cada pais uma mobilizagio destes, geragao aps geragio, a fim de que a televisdo continue a ser este instrumento de comunicagio nacional que é em qualquer parte do mundo. A internacionalizagio da difusio de imagem e do mercado de programas nio significa de forma alguma o desaparecimento do papel de identidade nacional da televisdo em cada pais. E na capacidade de inscrever a producio. audiovisual do pais em sua histéria, suas tradigdes, sua cultura e suas inovagées que se perpetua a caracteristica da televisio que ¢ de ser simultaneamente uma abertura para o mundo e um meio de re- afirmar uma identidade cultural em um mundo sem fronteiras. 10. Apés meio século de wma historia curta, mas prodigiosa, a televisdo ¢ atualmente confrontada a duas ameagas que constituem suas ideologias mais perniciosas. © A primeira é a ideologia do mercado. bs Esta vé na televistio publica, e de uma maneira geral nas ve _gulamentacées, um resquicio do pasado. Em um universo em que as midias aboliram todas as fronteiras, o espectador por suas esco- thas € 0 melhor programador, Intitil organizar ums atividade que muda tio ripido. O mais simples & deixar para o piblico a escalha do que ele quer. Nao € a melhor prova da confianga que lhe € concedida? © A segunda, complementar a anterior, é a ideologia recnoldgica. Esta vé na exploséo das novas tecnologias de comunicagio {satélite, cabo, sistema digital, a interconexao das telecomunica- ges do audiovisual ¢ da informatica) o futuro da televisio; que comegaria com o fim da televisao generalista que hoje seria consi~ derada ultrapassada, Enfim, as Wenicas transformaciam comple tamente a televisio, tornando caduca a nogio de grande piiblico. A verdadeira liberdade, aquela da escotha estritamente individual, seria, para os adeptos dessa ideologia, possivel através das recnologias: Estas duas ideologias supervalorizam a dimensio individual da televisio, em detrimento da dimensio coletiva, Mas a fora ea originalidade da televisdo residem no fato de ser wma atividade ao mesmo tempo individual ¢ coletiva. E ambas sao indissocidveis. A multiplicagio de suportes ¢ programas, a internacionalizacio dos mercados, assim como a segmentacio dos publicos, exigem mais do que nunca uma politica do audiovisual. E, conseqientemente, escolhas ¢ orientagées. Isto é fundamental para as televis6es naci- onais, para a teleyisdo. na Europa; e por mais razio ainda para a televisio de paises em desenvolvimento, ameagada mais do que qualquer outra pelo risco de perder sua identidade, de uma sub- missao 20 mercado ¢ as tecnologias. A compnicagio hoje em um universo sem fronteiras € um desafio demasiado importante pata set deixado 4 revelia das leis de mercado ow as da tecnologia. A abundancia das imagens ndo reduz o interesse por uma ambigio para a-televisio: ela o exige. ORIENTACAO BIBLIOGRAFICA Esta bibliografia, nao exaustiva, redine um certo mlimero de obras que tratan as relagées entre comunicagio c sociedade, ¢ que valorizam, ov eriticam, o lugar das midias de massa nas sociedades comtemporiness, tanta do ponto de vista cultural quanto social ou politico. ADORNO, ‘I: W. ada célévision et les patterns de la culture de masses, Réseaux, a? 44-45, 1990, ADORNO, TW «Lindustrie culrurellen, Communtications. n° 3. 1963 AKOUN, A. La Communication démocratique et son destin, PUB, 1994. AKOUN, Antré, Sociologie de la communicxtion de masse. Hachette Education, 1997, ALBERT, B,TUDESQ, A.j. Histoire de sa radio-véiévision. PUB, coll. «Que sals-je ?», n° 1904, 1996. ALMEIDA, F.

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