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A Introdução da Sociedade Simples no Novo Código Civil

Ana Cristina Gomes


Aluna do 2º ano do Curso de Direito da UNESP (campus de Franca-SP)

Sumário: 1. Introdução. 2. Teoria da empresa; 2.1. o empresário; 2.2. A


empresa; 2.3. Atividade organizada; 3. As sociedades personificadas no
Código Civil de 2002; 4. Empresário; 4.1. Artesão; 4.2. Produtor rural; 5.
Sociedade Simples – Considerações gerais; 5.1. Peculiaridades; 6.
Obrigações e responsabilidades dos sócios; 6.1. Generalidades; 6.2.
Integralização do capital social; 6.3. Sócio remisso; 6.4. Defeito na
integralização; 7. Distribuição do lucro; 8. Responsabilidade dos sócios nas
relações externas da sociedade simples; 9. Constituição da sociedade
simples; 10. Considerações finais. Bibliografia.

1. Introdução

Pretendemos apresentar neste artigo vamos apresentar algumas considerações sobre a


sociedade simples, destacando a sua natureza, as possibilidades e formas de constituição. A
sociedade é dita personificada quando está legalmente constituída e registrada no órgão
competente. Após este ato de constituição ela adquire a personalidade formal, passando a ser
chamada de pessoa jurídica. De acordo com o código civil no seu artigo 1.150, tanto o empresário
individual, quanto a sociedade empresária são vinculados juridicamente ao Registro Público de
Empresas Mercantis, que fica a cargo das Juntas Comerciais. No que se refere a sociedade
simples (sociedade não empresária), esta é também um tipo de sociedade personificada, cujos
atos constitutivos devem ser registrados no Registro Civil das Pessoas Jurídicas. Portanto, são
personificadas a sociedade empresária e a sociedade simples.

2. Teoria da empresa

Ao adotar a teoria da empresa, conceituação advinda do direito italiano, o novo Código


Civil passa a regular as relações jurídicas decorrentes de atividade econômica realizada entre
pessoas de direito privado. Evidentemente, várias leis específicas ainda permanecem em vigor,
mas o cerne do direito civil e comercial passa a ser o novo Código Civil. A teoria empresa está
em oposição à teoria dos atos de comércio, que fora adotada pelo Código Comercial de 1850.
O novo Código Civil, na Parte Especial, trata no Livro II Do Direito de Empresa, que está
dividido em quatro títulos: Título I - Do Empresário, Título II - Da Sociedade, Título III - Do
Estabelecimento, Título IV - Dos Institutos Complementares.
A teoria da empresa não divide os atos em civis ou mercantis. Para a teoria da empresa, o
que importa é o modo pelo qual a atividade econômica é exercida. O objeto de estudo da teoria da
empresa não é o ato econômico em si, mas sim o modo como a atividade econômica é exercida,
ou seja, a empresa.

2.1.O empresário

"Art. 966. Considera-se empresário quem exerce profissionalmente atividade econômica


organizada para a produção ou a circulação de bens ou de serviços.

Parágrafo único. Não se considera empresário quem exerce profissão intelectual, de natureza
científica, literária ou artística, ainda com o concurso de auxiliares ou colaboradores, salvo se o
exercício da profissão constituir elemento da empresa".1

Há diferença entre empresário e sociedade empresária?


O próprio Código responde esta pergunta, sociedade empresária é aquela que exerce
atividade econômica organizada, em oposição a ela está a sociedade simples, que são as
sociedades que não exercem "profissionalmente atividade econômica organizada" (art. 966).
Cabem aos doutrinadores definir os conceitos de atividade organizada e empresa, já que o
Código foi omisso neste tocante, dando a definição de empresário, mas não definindo os
elementos que o caracterizam.

2.2. A empresa

Vamos nos valer do ilustre Asquini e sua teoria poliédrica dos perfis da empresa para
melhor explica-la:

1
Lei 10.406, de 10 de janeiro de 2002
1. perfil subjetivo. A empresa é o empresário, pois empresário é quem exercita a atividade
econômica organizada, de forma continuada. Nesse sentido, a empresa pode ser uma pessoa física
ou uma pessoa jurídica, pois ela é titular de direitos e obrigações. Quando se diz "arrumei um
emprego em uma empresa", temos a palavra empresa empregada com esse significado.
2. perfil funcional. A empresa é uma atividade, que realiza produção e circulação de bens
e serviços, mediante organização de fatores de produção (capital, trabalho, matéria prima etc).
Quando se diz "a empresa de estudar será proveitosa", temos a palavra empresa empregada com
esse significado.
3 perfil objetivo (patrimonial). A empresa é um conjunto de bens. A palavra empresa é
sinônima da expressão estabelecimento comercial. Os bens estão unidos para uma atividade
específica, que é o exercício da atividade econômica. Como exemplo desse significado, podemos
dizer "a mercadoria saiu ontem da empresa".
4. perfil corporativo. A empresa é uma instituição, uma organização pessoal, formada pelo
empresário e pelos colaboradores (empregados e prestadores de serviços), todos voltados para
uma finalidade comum.
Analisando a empresa à luz do art.966, a empresa possui o segundo perfil, funcional,
apresentado por Asquini.

2.3. Atividade organizada


A noção jurídica de atividade econômica organizada exige o concurso de atividade
profissional alheia, ou seja, profissionalismo. Se alguém exercer uma atividade econômica
individualmente, não será considerado empresário, à luz do art. 966 do novo Código Civil.
Pouco importa o regime jurídico das pessoas que trabalharem para o empresário. Poderá
ser o regime trabalhista ou civil (em caso específicos, até mesmo o administrativo). Os
colaboradores do empresário poderão ser empregados, regidos pelo direito do trabalho, ou
trabalhadores autônomos, que são prestadores de serviço, regidos pelo direito civil. Pouco
importa. Ou seja, empresário não é sinônimo de patrão; mas o empresário sempre contrata
pessoas para trabalhar, ele sempre organiza o trabalho de outrem. a organização não compreende
apenas a contratação de serviços sob regime civil ou trabalhista.
Juridicamente, a organização definida no art. 966 é a organização de fatores produção.
Abrange capital e trabalho. O capital compreende o estabelecimento, que é o conjunto de bens
utilizados pelo empresário na sua atividade econômica (estoque, matéria prima, dinheiro, marcas,
automóveis, computadores etc).
Deve, a organização, ser profissional. Isso significa que deve ser contínua e com intuito
de lucro, objetivando meio de vida. Atos isolados não são empresariais, mesmo que tenham
conteúdo econômico.
Sendo assim, esta é a teoria da empresa. Ela estuda a atividade econômica organizada para
a produção ou a circulação de bens ou de serviços. É o que se lê, claramente, no caput do art. 966
do novo Código Civil.

3. As sociedades personificadas no Código Civil de 2002

A partir do artigo 997, o Código Civil elenca as sociedades personificadas, dando


tratamento mais prolixo e com minúcias a alguns dos tipos societários e tratando outros de forma
extremamente concisa, delegando à legislações especiais a devida abordagem do assunto. É o
exemplo da sociedade anônima, sobre a qual a atenção do legislador se resumiu a dois artigos,
O primeiro tipo societário que abordamos é a sociedade em nome coletivo. Como o
próprio art. 1.039 prescreve, seus sócios responderam solidária e ilimitadamente pelas obrigações
sociais. Tal responsabilidade, certamente, é obstáculo para sua adoção na constituição de pessoa
jurídica, vez que afugente seus partícipes por terem seus patrimônios atingidos em caso de
inadimplemento ou insuficiência do patrimônio para cumprimento de obrigações da sociedade.
Entretanto, esta responsabilidade pode ser limitada internamente entre os sócios no contrato
social, não podendo ser oponível a terceiros, ficando o prejudicado, em caso de insolvência da
sociedade e com seu patrimônio atingindo em excesso, com o direito de regresso quanto aos
demais.
O nome empresarial deve ser firma e nunca denominação, sendo formado pelo nome de
um ou mais sócios que a integram, acrescentando-se a seguir a expressão “& Cia.” caso não
conste o nome de todos. Expressão que também poderá ser utilizada pelas sociedades anônimas,
mas que não permite confusão já que nestas o termo apenas pode vir no início do nome.
E uma última observação interessante é que apenas pessoas naturais podem fazer parte da
sociedade em nome coletivo.
A seguir temos a sociedade em comandita simples, à qual se aplica a legislação da
sociedade em nome coletivo supervenientemente. “A característica básica da sociedade em
comandita simples continua sendo a existência de duas categorias de sócios: os comanditados,
que respondem solidária e ilimitadamente pelas obrigações sociais; e os comanditários, cuja
responsabilidade é limitada ao valor das próprias cotas.” (BORBA, p.72).
Aos sócios comanditados cabe a administração da sociedade, sem prejuízo do direito de
fiscalização e voto nas deliberações da mesma pelos comanditários. E caso um comanditário
exerça funções privativas da outra categoria ele terá como sanção a alteração de sua
responsabilidade de limitada para ilimitada.
Entre os tipos mais comuns está a sociedade limitada, que recebeu abrangente abordagem
na nova legislação, e sobre a qual só mencionaremos os pontos mais fundamentais. A
responsabilidade de todos os sócios é solidária e limitada ao capital social não integralizado, ou
seja, aquele que os sócios se comprometeram a disponibilizar à sociedade, através do contrato
social, mas ainda não o fizeram, independentemente do valor das cotas de cada um. Além disso
ela é subsidiária, sendo primeiro executado o patrimônio da sociedade, e caso este seja
insuficiente, o dos sócios.
O novo Código, prevê a possibilidade de administradores não-sócios, que como qualquer
administrador, não responde pessoalmente pelas obrigações que assumir em nome da sociedade.
Além disso, as normas das sociedades simples são supletivas para regência da sociedade
limitada, conforme o art. 1.053. Porém o contrato social pode prever que essa regência o será
pelas normas referentes às sociedades anônimas.
Tracemos então as principais características das companhias, como também são chamadas
as sociedades anônimas. Em primeiro lugar ela é manifestamente uma sociedade de capital, não
importando quem sejam as pessoas dos sócios, mas sim, o capital que elas empregam através das
ações, que podem ser transferidas livremente para terceiros sem prejuízo da sociedade. Portanto
não há a figura do affectio societatis entre os sócios, e estes não podem impedir a entrada de
novos membros em sucessão outros sócios.
A responsabilidade do sócio, ou acionista, será sempre limitada respondendo este apenas
pelo capital subscrito, não integralizado da sua cota parte, ou seja, da sua ação. E por força da lei,
a sociedade anônima será sempre empresária, sendo-lhe defeso adotar a forma de sociedade
simples, independentemente de seu objeto (art. 982 parágrafo único).
Resta-nos agora mencionar a sociedade em comandita por ações. Ela rege-se pela mesma
lei das sociedades anônimas, formando com essa o gênero das sociedades por ações. Diferindo
daquela pelo fato de haver uma categoria de acionistas, os administradores, que terão
responsabilidade ilimitada.

4. Empresário

Considera-se empresário quem exerce profissionalmente atividade econômica organizada


para a produção ou circulação de bens ou de serviços (art.966, caput). O empresário é a pessoa
física, individualmente considerada. Exemplos: costureira; eletricista; encanador; comerciante
ambulante. O empresário deverá formalizar sua inscrição na junta comercial.
Quem não é considerado empresário?
Aquele que exerce profissão intelectual, de natureza científica, literária ou artística,
mesmo se contar com auxiliares ou colaboradores, salvo se o exercício da profissão constituir
elemento de empresa (art. 966, parágrafo único). A pessoa física que atua individualmente, não
considerada empresário, se refere à figura do autônomo. Exemplos: engenheiro, arquiteto,
contador, professor.
Em linhas gerais, o empresário engloba as atividades comerciais, industriais e de serviços
comuns (não intelectuais), exercidas com um mínimo de organização básica e de forma
individual.

4.1. Artesão

O enquadramento da figura do artesão é uma questão que ainda não está claramente
definida. Entendemos que o artesão não é empresário, portanto, é autônomo, pelos motivos a
seguir expostos.
De acordo com o art. 7º, I, do Regulamento do Imposto sobre Produtos Industrializados,
produto de artesanato é aquele proveniente de trabalho manual realizado por pessoa natural, nas
seguintes condições:
a) quando o trabalho não conta com auxílio ou participação de terceiros assalariados;
b) quando o produto é vendido a consumidor, diretamente ou por intermédio de entidade
de que o artesão faça parte ou pela qual seja assistido.
O Parecer Normativo - CST N. 94/77, referente ao Imposto sobre Produto Industrializado,
esclarece, ainda, acerca das atividades de artesanato:
“Atividade caracterizada pela manufatura de objetos para as mais variadas finalidades e
realizada segundo critérios artísticos ou estéticos. É um tipo de trabalho que dispensa máquinas e
instrumentos complexos, dependendo apenas da destreza manual de um indivíduo ou grupo. Em
alguns casos, admite-se chamar de artesanais certas obras, mesmo quando há intervenção parcial
de alguma máquina. Por outro lado, mesmo quando repetido em numerosos exemplares
dificilmente se obtém absoluta identidade entre cada produto artesanal. Há sempre uma diferença,
às vezes minúscula, o que confere característica própria e inconfundível a esse tipo de produção."
“Atividade de criação da fabricação ou mesmo de manutenção de objetos, efetuada
segundo técnicas de nível elevado, mas independentemente de produção industrial em série”.
“Os artesanatos variam de uma sociedade a outra conforme a sua finalidade, prestígio,
meios e qualidade de execução. Possuem em comum um único ponto, que consiste em certo nível
de conhecimento e habilidade. O artesanato é uma especialização que se distingue do trabalho
doméstico ou da produção de objetos de uso exclusivamente familiar. Este caráter especializado
explica como em muitas sociedades os artesãos se organizaram em confrarias ou castas, nas quais
as técnicas se conservavam de pais para filhos e de mestre a aprendiz.”

4.2. Produtor rural

Produtor rural é a pessoa física – pessoa natural – que explora a terra visando à produção
vegetal, à criação de animais – produção animal – e também à industrialização artesanal desses
produtos primários – produção agroindustrial.
O Produtor Rural, cuja atividade constitua sua principal profissão, pode requerer inscrição
no Registro Público de Empresas Mercantis da respectiva sede, caso em que, depois de inscrito,
ficará equiparado, para todos os efeitos, ao empresário sujeito a registro, no Registro Público de
Empresas Mercantis (art. 971).
A lei assegura tratamento favorecido, diferenciado e simplificado ao empresário rural
quanto à inscrição e aos efeitos daí decorrentes (art.970). Entretanto, não informa como.
5. Sociedade Simples – Considerações gerais

Importantes alterações afetaram, de maneira direta as atividades mercantis e civis com a


entrada em vigor do novo Código Civil Brasileiro, em janeiro de 2003.
Tanto o Código Civil de 1916 quanto no Código Comercial de 1850 dispunham que a
sociedade constituída com o objetivo social de prestação de serviços (sociedade civil) tinha o seu
contrato social registrado no Cartório de Registro Civil das Pessoas Jurídicas, exceto as
sociedades reguladas por lei especial, como por exemplo, a de advogados. De outro lado, a
sociedade mercantil, constituída com o objetivo de exercer atividades de indústria e/ou comércio,
tinha o seu contrato social registrado nas Juntas Comerciais dos Estados.
Tratamento semelhante era conferido às firmas individuais e aos autônomos. O
empreendedor que desejasse atuar por conta própria, ou seja, sem a participação de um ou mais
sócios em qualquer ramo de atividade mercantil (indústria e/ou comércio, ainda que também
restasse algum tipo serviço), deveria constituir uma Firma Individual, promovendo o registro na
Junta Comercial. Caso o objetivo fosse atuar exclusivamente na prestação de serviços, deveria
registrar-se como autônomo junto ao respectivo Município.
Com o novo Código Civil, a apontada divisão foi modificada. O atual sistema jurídico
passou a adotar divisão que não se apóia mais na atividade desenvolvida, eis que se fundamenta
na teoria da empresa.
Independente de eventuais conflitos sobre o real conceito de empresa, interessa que
agora, dependendo da existência ou não do aspecto econômico da atividade, se uma pessoa
desejar atuar individualmente em algum segmento profissional, enquadrar-se-á como empresário
ou autônomo, conforme a situação. Caso preferir se reunir com uma ou mais pessoas para, juntos,
explorar alguma atividade, deverá constituir uma sociedade, que poderá ser empresária ou
simples.
Em resumo, devemos nos acostumar com uma nova divisão: a forma individual, isto é, o
empresário ou autônomo, e a forma coletiva, representada pela sociedade empresária ou
sociedade simples.
5.1. Peculiaridades

A sociedade simples constitui nova espécie societária introduzida no direito brasileiro


pelo atual Código Civil. Possível afirmar que, de certo modo, nada mais é do que a substituta da
antiga sociedade civil.
Importante registrar que ela assume papel de destaque no Direito de Empresa, posto que
as disposições que a disciplinam funcionam, com relação aos demais tipos societários, como
legislação subsidiária. Em sua forma típica, somente poderá ser utilizada para as atividades não
empresariais, resumindo-se o seu campo de abrangência ao exercício de atividade de natureza
intelectual.
Os atos constitutivos, que terão natureza contratual, exigem instrumento escrito, que
poderá revestir a forma pública ou particular, no qual serão declaradas as condições e
características básicas da sociedade nos termos exigidos pelo art. 997.
O objeto social, que será declinado no contrato, compreenderá qualquer atividade que se
enquadre no conceito de natureza intelectual.
Quanto ao capital social, elemento importante a ser considerado em face da sua possível
vinculação com futura limitação da responsabilidade, como nas demais sociedades poderá ser
integralizado com qualquer bem suscetível de avaliação em dinheiro. Importante referir uma
particularidade da sociedade simples relativa aos sócios e sua participação no capital social. É
possível a presença de sócio de serviço, nos moldes do que ocorria na sociedade de capital e
indústria, tipo este não mais existente no ordenamento jurídico brasileiro. Esta espécie de sócio
não participa do capital social. Todavia, salvo estipulação em contrário, participará do lucro na
proporção da média de valor das cotas, conforme preceitua o art. 1.007 do C.C/2002. Significa
que se não houver ajuste específico delimitando a forma de sua participação nos lucros, esta
corresponderá à média da participação dos demais sócios. Para o cálculo respectivo basta
proceder a soma das participações dos sócios, dividindo depois o valor encontrado pelo número
de sócios de capital. O resultado alcançado indicará o nível de participação do sócio de serviço
nos lucros da sociedade. Tal regra para ser equilibrada, deverá ser aplicada considerando o
quadro social existente no momento em que o sócio de serviço ingressa na sociedade.
Desta forma, qualquer alteração posterior do quadro social somente modificará o
quociente inicial, se o sócio de serviço interessado concordar com a modificação.
6. Obrigações e responsabilidade

6.1. Generalidades

Cabe alertar que não deve ser confundida esta obrigação do sócio, com sua eventual
responsabilidade pelas dívidas da sociedade. Como adiante será demonstrado, dependendo do
tipo societário adotado, o sócio poderá responder limitadamente à sua quota de capital, ou até
mesmo por todo o capital social declarado, como também poderá ficar vinculado de maneira
ilimitada e subsidiária pelas obrigações sociais.
Na verdade, a responsabilidade pelas obrigações da sociedade não constitui fato
indissociável da condição de sócio, ficando vinculada ao contexto societário no qual está inserida.
Em outras palavras, tudo vai depender do tipo societário escolhido.
Destaca-se que nem sempre a obrigação de contribuir para a constituição do capital social
se fará presente. Há, algumas exceções, que estão indicadas na lei, e que correspondem a casos
em que o sócio apenas participa dos resultados, como por exemplo o sócio de serviço, na
sociedade simples, e o sócio oculto, eventualmente, na sociedade em conta de participação.
Este dever de lealdade resulta da regra constante do § 3°, do art.1.010 do C.C./2002, clara
no sentido de que responde por perdas e danos o sócio que, tendo em alguma operação interesse
contrário ao da sociedade, participar da deliberação que a aprove graças ao seu voto. São
obrigações dos sócios não só a de contribuição para a constituição do capital social, como
também a de observância seu dever de lealdade, pelo que suas ações precisam ser dirigidas à
execução do objeto social da sociedade.

6.2. Integralização do capital social

Como acima foi destacado, ao integrar uma sociedade surge para o sócio a obrigação de
contribuir para a formação do capital social. Sem dúvida essa representa a principal obrigação
decorrente da condição de sócio. Na forma já sinalizada, não deve ser confundida esta obrigação
do sócio para com a sociedade, com sua eventual responsabilidade subsidiária ou solidária pelas
dívidas sociais. Como mais adiante restará demonstrado, dependendo do tipo societário o sócio
poderá responder de forma limitada à sua quota de capital ou até mesmo por todo o capital
subscrito. Pode ainda esta responsabilidade ser solidária e ilimitada.
Portanto, a criação de uma sociedade gera diversas conseqüências para seus integrantes,
entre elas direitos e obrigações essenciais à adquirida condição de sócio, que possibilita a fruição
do benefício econômico e delimitação de sua responsabilidade pelos débitos contraídos pela
sociedade. A partir de então, cumpridas suas obrigações, pode o sócio exigir sua participação nos
lucros nos limites de sua quota, bem como pode se retirar da sociedade nos casos definidos pelo
contrato ou pela lei.
Em síntese, suas obrigações nascem a partir da data do contrato social, se este não fixar
outro termo inicial, e se extinguem a partir da liquidação da sociedade, com o pagamento de
todas as obrigações sociais (art. 1.001 do C.C./2002).

6.3. Sócio Remisso

Deve o sócio na forma e no prazo previsto no regramento da sociedade, promover a


integralização do capital subscrito. É chamado de sócio remisso o que descumprir com essa
obrigação. Não a cumprindo, poderá ser notificado pela sociedade para adimplir a obrigação no
prazo de trinta dias, sob pena de responder perante esta pelo dano emergente resultante da mora.
Alternativamente, é facultado à maioria dos sócios optar em substituição à indenização, excluir o
sócio remisso ou reduzir-lhe a quota ao montante já realizado, nos termos previstos pelo artigo
1.004 do C.C./2002.
A análise precisa das possibilidades constantes da apontada norma não autoriza conclusão
pela existência de conflito. A notificação constante do caput será exigida apenas no caso de haver
interesse na cobrança do dano emergente resultante da mora. A notificação serviria justamente
para alertar o sócio remisso, de que o atraso na integralização do capital social subscrito está
causando ou causará prejuízos à sociedade, e que será ele responsável pelos danos emergentes
resultantes de sua mora.
Destaca-se aqui o fato de que o legislador estabeleceu limite para esta indenização, que
somente poderá contemplar o dano emergente da mora. Com efeito, mesmo que eventualmente
demonstrada a presença de lucros cessantes, estes não poderão integrar o pedido indenizatório. A
limitação mostra-se adequada à espécie, visto que dispondo os demais sócios de várias
alternativas, inclusive o afastamento do sócio remisso, podem utilizar medidas para adequar o
capital social às necessidades da sociedade, como por exemplo o ingresso de novo sócio ou
aumento do capital pelos já integrantes, permitindo a manutenção ou retomada da regular
atividade da mesma.
De outro lado, se houver opção pela exclusão ou redução da participação societária,
dispensada estará no nosso sentir a providência, visto que, efetivamente, o não pagamento de
obrigação positiva e líquida no vencimento, constitui o sócio em mora de pleno direito.

6.4. Defeito na integralização

Por fim, possível responsabilizar ainda o sócio no caso de defeito na integralização. É que
sendo possível a integralização do capital subscrito mediante utilização de créditos ou bens, o
sócio responde pela evicção no caso dos bens e pela solvência do devedor quando ocorrer
transferência de crédito.
Destaca-se que no caso de utilização de bens ou créditos, incide a regra do parágrafo
único do art.1.053, segundo a qual pela exata estimação dos bens conferidos ao capital social
respondem solidariamente todos os sócios.
Em outras palavras, o legislador resolveu envolver todos os integrantes da sociedade, de
modo a exigir que os mesmos se auto-fiscalizem, quando promoverem a integralização mediante
bens ou créditos. Na verdade, esta obrigação de auto-fiscalizar nada mais é do que a aplicação
ampla da regra do art. 1.052.

7. Distribuição de lucro

Duas disposições no atual Código Civil fixam regras a respeito da distribuição de lucros e
suas conseqüências. A primeira corresponde ao art. 1.009, que prevê a responsabilização dos
administradores e dos sócios no caso de distribuição de lucros ilícitos ou fictícios. Segundo a
referida norma, nesta hipótese haverá responsabilidade solidária dos administradores que a
realizarem e dos sócios que os receberem, conhecendo ou devendo conhecer-lhes a ilegitimidade.
Pela redação do artigo verifica-se que em ambas as hipóteses, a responsabilidade independe de
condição, ou seja, tem natureza objetiva. E isto pelo fato de que nos dois casos, por óbvio, tanto
administradores, como sócios, se não conheciam a irregularidade da distribuição, no mínimo
deveriam dela conhecer.
A segunda regra é a do artigo 1.059, constante do Capítulo IV, que trata da sociedade
limitada, segundo a qual os sócios são obrigados à reposição dos lucros e das quantias retiradas a
qualquer título, ainda que autorizadas pelo contrato, quando tais lucros ou quantias se
distribuírem com prejuízo do capital.
Especificamente no que tange a débitos de natureza tributária, há norma específica a Lei
4.357, de 16 de julho de 1964, que veda às pessoas jurídicas que estiverem em débitos para com a
Fazenda Pública Federal e Previdência Social, distribui resultados aos seus integrantes e
consultores.
Recentemente, ajuste foi feito em nível de penalizacão para os casos de inobservância da
regra supra citada, com a alteração da redação dos parágrafos do art. 32 pela Lei 11.051/04.
Em relação às normas acima indicadas duas observações se fazem necessárias. A
primeira, de que a multa somente tem aplicação para os casos em que haja débito tributário
devidamente inscrito, cuja exigibilidade não esteja suspensa por uma das alternativas constantes
do artigo 151 do CTN. E a segunda, de que cessada a suspensão, deverão ser os sócios
cientificados individualmente para promover a reposição dos valores recebidos, pena de multa e
ajuizamento de demanda específica contra cada um deles, que respondem pessoalmente até o
limite das quantias recebidas.

8. Responsabilidade dos sócios nas relações externas da sociedade simples

Inicialmente destacamos que a sociedade simples pode ser vista como espécie de
sociedade como também pode ser avaliada sob a ótica de tipo societário. Tal afirmação é feita
considerando que a segunda parte do artigo 983 do Código Civil, estabelece a possibilidade da
sociedade simples constituir-se segundo um dos tipos regulados nos arts.1.039 a 1.092, e, não o
fazendo, subordina-se às normas que lhe são próprias. E este registro é de grande importância de
modo a permitir a análise das várias possibilidades de vinculação dos sócios às obrigações da
sociedade.
Na verdade, a matéria relativa à responsabilidade dos sócios na sociedade simples abriga
inegáveis equívocos por parte da doutrina. E isto foi mero resultado, em nosso entender, da
análise apressada e isolada da regra do art. 1.023 do novo Código Civil, segundo a qual na
insuficiência dos bens sociais para atender às dívidas da sociedade, "respondem os sócios pelo
saldo, na proporção em que participam das perdas sociais, salvo cláusula de solidariedade".
Se há norma prevendo que cabe ao contrato dispor a respeito da responsabilidade
subsidiária dos sócios, bem como dispositivo autorizando a adoção de tipo societário em que há
limitação da responsabilidade, tudo vai depender do que estiver fixado no contrato social.
Em outras palavras, a responsabilidade dos sócios vai depender do tipo societário adotado.
A responsabilidade dos sócios da sociedade simples comporta todo tipo possível. Se a
forma da sociedade for pura, a responsabilidade poderá ser subsidiária ou solidária, dependendo
do que estabelecer o contrato social; se a forma for a especial, dependerá da legislação específica
a ser aplicada obrigatoriamente; e se a forma for a alternativa, ficará vinculada ao tipo societário
escolhido pelos sócios.

9. Constituição da sociedade simples

De acordo com o código civil, a Sociedade Simples possui regras próprias (arts. 997 a
1.038) que a regulamenta, neste caso chamamos de Sociedade Simples "pura", se ela for
constituída obedecendo às normas que lhe são próprias.
Entretanto, na sua constituição pode optar por uma das modalidades de sociedade
empresária, exceto Sociedade Anônimas e Sociedade em Comandita por Ações, que serão sempre
sociedades empresárias.
Assim, a Sociedade Simples pode ser constituída como Sociedade em Nome Coletivo;
Sociedade em Comandita Simples; e Sociedade Limitada. Nestes casos, se a Sociedade Simples
optar por uma dos tipos de sociedade acima (art. 983), deverá se submeter às normas da
respectiva sociedade, lembrando que a sociedade cooperativa será sempre considerada Sociedade
Simples.

10. Considerações finais


Em algumas linhas tentamos apresentar algumas informações a respeito do novo tipo
societário que surgiu com o advento do Código Civil brasileiro de 2002, a sociedade simples,
assim como do contexto em que ela está incluída.
De tudo podemos concluir que surgiu no direito italiano uma forma de sociedade estranha,
ocupando o lugar das antigas sociedades civis. Sendo uma sociedade destinada aqueles que
almejam lucro, mas, sem no entanto, fazê-lo com a produção de bens e serviços, ou seja,
exercendo atividade típica de empresário, e sim prestando serviços oriundos da profissão que o
sócio possua.
No direito brasileiro sua importância ainda é maior, porque sua regulação é supletiva das
demais formas societárias. Além disso, nosso ordenamento possibilitou que a sociedade simples
assumisse a forma de sociedades empresárias, sem perder as suas qualidades substanciais.
Acreditamos que se não esgotamos o assunto, nem era essa nossa pretensão, demos o
tratamento devido ao tema, abordando os pontos relevantes e os passíveis de discussão.

Bibliografia

BORBA, José Edwaldo Tavares. Direito societário. 8. ed. Rio de Janeiro: Renovar, 2003.

COELHO, Fábio Ulhoa. Manual de Direito Comercial. 11. ed. São Paulo: Saraiva, 1999.

NEGRÃO, Ricardo. Manual de direito comercial e de empresa. 3. ed. São Paulo: Saraiva, 2003.

v. 1.

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