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Notícia publicada terça-feira, 2 de março de 2010NA IMPRENSAPara presidente da ANTP, oferta


de transporte público precisa ser duplicada ou mesmo triplicada na RMSP até o final desta década
Ailton Brasiliense Pires fez essa declaração ao conceder, recentemente, entrevista ao vivo a

repórteres da rádio Jovem Pan de São Paulo.Cód: info02031005 A oferta de


transporte público na Região Metropolitana de São Paulo – considerando corredores de ônibus,
metrô e trens metropolitanos – precisa ser duplicada ou mesmo triplicada até o final desta década,
disse o presidente da ANTP, Ailton Brasiliense Pires, ao conceder, recentemente, entrevista ao vivo
a repórteres da rádio Jovem Pan de São Paulo. Na ocasião, ele respondeu a perguntas sobre a real
necessidade de investimentos na ampliação da Avenida Marginal do Tietê e o que seria necessário
fazer para melhorar o transporte público e resolver o problema do trânsito na capital paulista e nos
municípios próximos. Veja o teor dessa entrevista.

Jovem Pan - A ampliação da Marginal Tietê, que deverá ser concluída em março deste ano, vai
criar uma nova pista em cada sentido da via. A obra causa discussão, pois há quem acredite que
não seja essa a melhor solução para melhorar o há muito tempo saturado trânsito de São Paulo. O
que o senhor pensa disso?

Ailton Brasiliense Pires - Bem, nós, da Associação Nacional de Transportes Públicos (ANTP),
entendemos que o caminho principal para que a cidade possa andar com tranquilidade, com
confiabilidade, seja a realização de investimentos maciços em transporte público. Mas isso não
significa que não se façam obras viárias localizadas. São Paulo, como não teve planejamento urbano
desde quando tinha 200 mil habitantes – de 1900 até muito recentemente –, é uma cidade que
cresceu de qualquer jeito, apostando que, no fim, tudo daria certo, e a gente viu que, no fim, não só
tudo deu errado como tudo custou muito caro. Entendemos o seguinte: primeiro, é fundamental
continuar investindo na qualificação e expansão do metrô. Além disso, é fundamental continuar
insistindo na recapacitação da CPTM, que tem 130 quilômetros de trens somente na cidade de São
Paulo, com 55 estações, e tem ainda 130 quilômetros de linhas e mais 40 estações em outros 21
municípios da Região Metropolitana. Metrô e CPTM compõem um sistema metroferroviário que
permite a ligação na Região Metropolitana de São Paulo, atendendo a menos de 22 dos 39
municípios da região. É preciso ver também que os municípios – não só São Paulo, mas os
principais municípios que estão no entorno da capital, como Osasco, Santo André, São Bernardo do
Campo, São Caetano do Sul, Guarulhos e outros – têm que desenvolver os seus corredores
municipais. O Estado de São Paulo, juntamente com alguns desses municípios, tem que construir os
seus corredores de ônibus intermunicipais. A Companhia de Engenharia de Tráfego de São Paulo
(CET-SP), assim como as empresas e os órgãos municipais que cuidam do trânsito, precisam
investir pesadamente em equipamentos e em recursos humanos. Essa é uma parte. O outro aspecto é
que os municípios têm que investir no Plano Urbano ou no Plano Diretor. Não dá para continuar
tendo pessoas morando cada vez mais longe, o que é hoje uma tendência da Região Metropolitana
de São Paulo: a população está crescendo mais na periferia, em áreas que estão a 20, 25 ou 30
quilômetros da Praça da Sé. Essa tendência faz com que o tempo de viagem aumente e o número de
veículos de transporte público em circulação tenha que ser ampliado e, consequentemente, vai
aumentar os custos da operação do transporte, fazendo com que a tarifa suba. Então, é um conjunto
muito grande de ações, que começa no Plano Diretor, passa por investimentos no metrô, na CPTM,
em corredores municipais, corredores intermunicipais, e também em obras viárias. Há quem acredite
que a solução do transporte é impossível, mas isso não é verdade. A solução é possível. O problema
é que nós ficamos por muito tempo ocupando os espaços urbanos de ‘qualquer jeito’, o que é muito
caro e demorado.

Jovem Pan - Será preciso priorizar o trânsito ou se deve priorizar o transporte público? Ou tudo
pode estar dentro de um mesmo pacote, com ações mais ordenadas?

Ailton Brasiliense Pires - Trânsito e transporte são coisas complementares. Existe uma máxima
com a qual se trabalha, que é a seguinte: ‘a solução do transporte está no trânsito e a solução do
trânsito está no transporte’. E o que isso quer dizer? Se eu conseguir que um número maior de
pessoas, que agora estão usando automóveis, passe a usar transporte público – ônibus ou trem –,
fatalmente a cidade estará circulando melhor. E o inverso é verdadeiro, na medida em que se tem
questões harmonicamente equilibradas. Se eu não fizer isso e continuar deixando que a população
mais pobre more cada vez mais longe, e que se crie ao longo dessa ocupação espaços vazios – ou
seja, áreas sem moradias, empregos, escolas e comércio –, vamos fazer não apenas com que as
viagens fiquem mais longas como também que sejam mais demoradas e mais caras. A solução passa
pelo menos por este tripé: o equilíbrio do uso do solo, e as questões do transporte e do trânsito. Com
o exemplo do metrô, é mais fácil entender do que eu estou falando, porque a cidade, de alguma
forma, está se acomodando no entorno do metrô. Ser pegarmos a Linha 1 – Azul do Metrô, que
corre no sentido Norte-Sul, percebemos que saindo do Tucuruvi, em seis estações já teremos
passado por um importante terminal rodoviário, o centro comercial do bairro de Santana, centros
comerciais das Ruas São Caetano, José Paulino, 25 de Março e da região do Largo de São Bento ou
Praça da Sé. Uma linha como essa está perfeitamente casada com os diversos interesses econômicos
que a cidade produz. Por outro lado, na Linha 3 – Vermelha, no sentido Leste-Oeste – e tanto faz
pegar uma linha do metrô como da CPTM –, o que se observa é que as estações que atraem viagens,
com escolas, comércio etc., já são muito mais raras. Ao sair da ponta Leste só vamos encontrar dois
grandes centros no Tatuapé e no Brás. E olha que o passageiro percorre 20 quilômetros antes de
chegar ao Brás. Então, essa distribuição ruim – por que São Paulo não cuidou dela, fez de ‘qualquer
jeito’ – é que torna as coisas na cidade mais demoradas e mais caras. E demoradas, inclusive, em
termos de construir. E se diz, ‘bem, São Paulo tem metrô’, mas, na verdade, São Paulo tem apenas
uma parte do projeto do metrô. Apenas uma parte! Espero que este investimento que está sendo feito
no sistema de transporte público realmente prossiga por várias administrações. E que essa gestão,
concertada, acertada, entre governo do Estado, Prefeitura de São Paulo e as outras prefeituras,
permita que possamos ter uma cidade que, entre outras coisas, seja mais saudável, mais econômica.
Uma cidade que, ao contrário do que ocorre hoje – em que os congestionamentos afastam as pessoas
e a economia –, atraia cada vez mais pessoas que queiram montar negócios aqui, permitindo que a
cidade se torne mais rica e mais atraente no número de empregos.

Jovem Pan - Vamos aproveitar para falar sobre essa expansão do metrô na cidade de São Paulo.
Qual é o limite dessa possibilidade de transporte?

Ailton Brasiliense Pires - O Metrô de São Paulo e a CPTM, juntos, fazem mais ou menos 6
milhões de viagens por dia. E essa é apenas uma parte do número de viagens que são realizadas na
cidade de São Paulo. O metrô tem uma rede em expansão: tem a Linha 4, que vai ser inaugurada em
breve; a Linha 5, que está em expansão; a Linha 2, também em expansão, e há outras linhas
previstas. Há o próprio projeto da prefeitura e a revitalização da CPTM. Isso tudo somado, se
acontecer em quatro, seis ou oito anos, deverá permitir praticamente dobrar a oferta de lugares. Mas
isso não é tudo. Essa é a condição necessária, mas não suficiente. A Prefeitura de São Paulo e as
prefeituras no entorno da capital devem priorizar igualmente o seu transporte público, e também ter
o cuidado de amarrar o transporte com a diversificação do uso do solo urbano; não ter moradia aqui
e emprego a 30 quilômetros de distância. E no percurso do transporte público deve haver vários
pontos de interesse, como escolas, unidades de atendimento de saúde, compras etc. Isso precisa ser
feito porque, caso contrário, estaremos repetindo o mesmo modelo eternamente. Então, nós temos
um grande espaço para crescer em termos de transporte público. Nos próximos oito anos, teremos
que duplicar ou triplicar a oferta de corredores de ônibus e de vagas no metrô e na CPTM.

Associação Nacional de Transportes Públicos

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