Este artigo homenageia a historiadora Déa Fenelon e resume suas principais ideias e desafios como intelectual comprometida com a realidade social brasileira. O texto destaca como Déa questionava a fragmentação da história e defendia uma abordagem que não separasse a política do conhecimento histórico. Suas reflexões sobre cultura popular e a necessidade de entender as relações de classe permanecem atuais e desafiam os historiadores a não se distanciarem dos problemas vivenciados pela sociedade.
Este artigo homenageia a historiadora Déa Fenelon e resume suas principais ideias e desafios como intelectual comprometida com a realidade social brasileira. O texto destaca como Déa questionava a fragmentação da história e defendia uma abordagem que não separasse a política do conhecimento histórico. Suas reflexões sobre cultura popular e a necessidade de entender as relações de classe permanecem atuais e desafiam os historiadores a não se distanciarem dos problemas vivenciados pela sociedade.
Este artigo homenageia a historiadora Déa Fenelon e resume suas principais ideias e desafios como intelectual comprometida com a realidade social brasileira. O texto destaca como Déa questionava a fragmentação da história e defendia uma abordagem que não separasse a política do conhecimento histórico. Suas reflexões sobre cultura popular e a necessidade de entender as relações de classe permanecem atuais e desafiam os historiadores a não se distanciarem dos problemas vivenciados pela sociedade.
POPULAR. UM DEBATE SOBRE CRISES, RUPTURAS E DESAFIOS. Paulo Roberto de Almeida*
Da Fenelon uma daquelas pessoas que podemos definir
como uma mulher do seu tempo, cujo legado jamais ser esquecido. Lutou e viveu intensamente em muitas frentes, na universidade, na administrao pblica e na militncia poltica cotidiana. Da tinha a capacidade de sistematizar no oficio do historiador, preocupaes e questes que acompanhavam sua vida principalmente na universidade e na responsabilidade que assumia diante da realidade do pas, nas suas palavras De fato, dissociado da prtica, o fazer histria, enquanto disciplina, no faz mais que repetir um conhecimento desarticulado, despolitizado, fragmentado, especializado, cada vez mais tomado como prtica educativa destinada a desenvolver nos alunos o mito da memria nacional, com seus ritos e maniquesmos de viles e heris... da minhas indagaes sobre o profissional que formamos.
Este era um momento particularmente intenso no pas,
pululavam as lutas populares, novos personagens entravam em cena, e ns que freqentvamos naquele momento a universidade, que nascamos para a militncia poltica com as utopias de uma sociedade democrtica, com o fim da ditadura, com organizaes autnomas e independentes, sentamos na pele a angstia da distncia do que se aprendia nos bancos escolares e o clamor das ruas, dos becos e das praas. No foram poucas as vezes que nos sentamos atarantados diante
Professor do Instituto de Histria da Universidade Federal de Uberlndia,
de tudo isto. Da Fenelon, procurava dar respostas estas novas
geraes, colocando e enfrentando as questes. Suas palavras inquietaram e influenciaram muitos que compartilhavam naquele momento destes ideais. Acho que nunca vamos conseguir homenagear Dea, porque o seu legado, o sonho da transformao, e continuamos acreditando, que a histria um instrumento fundamental, nas suas palavras ... para ns a Histria uma experincia que deve ser tambm concretizada no cotidiano, porque a partir dela que construiremos o hoje e o futuro. Essa perspectiva colocada na sua prtica e nas suas reflexes levantava oposies no interior da academia e no debate historiogrfico reconhecida por ela mesma como um desafio ... existe uma tendncia a considerar. O fato de alguns historiadores se colocarem no debate historiogrfico, de maneira diversa aos esquemas tericos reconhecidos e incorporados por alguns membros da academia visto como significando uma disputa pela hegemonia das construes histricas. Da muitos autores partem para disseminar rtulos tais como militantes ou neo-militantes, querendo com isto contestar ou desqualificar os resultados e as pesquisas pela perda do seu carter acadmico. Contribuiria mais para o debate se nos dispusssemos enfrentar as decorrncias polticas das posies adotadas nos resultados da historiografia e, sobretudo, no ensino da histria.1
O texto reeditado pela Histria e Perspectivas na
comemorao de seus 20 anos, mantido aqui na sua configurao original, mais que uma justa homenagem, o reconhecimento do papel exercido por Da Fenelon no incentivo prpria revista, mas principalmente na formao de muitos docentes que compem o quadro do Instituto de Histria, pela sua colaborao inestimvel na implantao do Programa de Ps Graduao em Histria e na consolidao da Linha de Pesquisa Trabalho e
FENELON, Da R. Cultura e Histria social: historiografia e pesquisa,
Revista Projeto Histria, EDUC, n. 10.SP 1993 . p 74.
Movimentos Sociais. A que pudemos amadurecer muitas das
suas questes e desenvolver projetos coletivos, especialmente o PROCAD2, do qual resultaram duas publicaes3, reunindo pesquisadores de vrias instituies. Voltemos ao texto. Creio que posso dizer que esta uma pequena parte do conjunto de reflexes que Da, na sua sempre atenta observao das tendncias e movimentos, expressava naquele momento. Digo parte porque as questes da Histria Social h muito vinham compondo suas reflexes e preocupaes. Ainda em 1984, ensaiava questes que norteariam muitos trabalhos posteriores, que eram definidas por ela no apenas como mais uma tentativa cientfica e acadmica de apenas construir uma teoria da Histria Social, at porque intil, mas sim, diferentes maneiras de enfatizar momentos e temas variados, intimamente correlacionada a projetos diversos de superao da dominao de classe.4 Em geral, tais reflexes eram colocadas nos encontros da ANPUH, ocasio que Da sempre julgou propcia ao debate. Assim o texto que ora reeditamos, na sua primeira verso foi uma comunicao no VI Encontro Estadual de Minas Gerais, em 1988, sobre o tema Movimentos Sociais e Fora de Trabalho, e j fazia parte de um intenso debate no curso de Mestrado em Histria da PUC-SP e nortearia a reformulao do Programa de Ps Graduao. A comunicao inicial transformou-se na verso escrita em 1991, quando de seu encaminhamento Revista. Assim, perceptvel na introduo um texto em movimento, refletindo em muito as expectativas e frustraes da sociedade brasileira no final dos anos 80 e inicio de 90, especialmente para a esquerda, por ocasio da Assemblia Nacional Constituinte e
Programa de Cooperao Acadmica da Capes. Projeto Cultura, Trabalho
e Cidade: muitas memrias, outras histrias. Capes/2000. FENELON, D. R. et alli ( orgs) Muitas memrias, outras histrias, Editora Olho dgua, S. Paulo, 2005; Koury, Yara A. et alii (orgs) Outras Histrias;memrias e linguagens. Editora Olho dgua, So Paulo, 2006 FENELON, Da R.: Trabalho, Cultura e Histria Social; perspectivas de investigao. Revista Projeto Histria. PUC-SP, n. 4, Educ, 1984. p 35-36 23
principalmente pelo clima vivido na eleio direta pra presidncia
da Republica em 1989, com razo falava de um clima de desencanto, desesperana e cansao que perpassa muitos de ns. Ao mesmo tempo, experimentava uma situao nova no Departamento de Patrimnio Histrico da Secretaria Municipal de Cultura da cidade de So Paulo, onde emergiam projetos e realizaes num dilogo direto com diversos agentes sociais. Da o clima de desafios que assume o texto. Como sempre, Da no se furtava ao balano e critica do que vinha sendo realizado, com a preocupao de apontar caminhos possveis, no sentido de enfrentar concepes, e o mais incomodo naquele momento parecia ser a compreenso de como entender e traduzir as manifestaes populares no seu mais amplo sentido, utilizando o conceito de cultura, que resultava no problema de superao das dicotomias cristalizadas, manifesto em forma de questes; quando falamos de cultura, como enfrentar concepes j existentes de cultura popular? Estaremos iniciando uma tentativa de produzir uma histria popular? Ou uma histria do povo? A questo que estava colocada para todos ns, talvez possa ser simplificada, na idia de como trabalhar o conceito de cultura, sem abandonar nossa perspectiva classista, sem aderir ao modismo do extico? Nesse sentido o trabalho acrtico com os termos popular e povo tentador, porque afinal basta uma descrio densa, para que o tal resgate se opere, e nos dias de hoje at se transformem em grandes operaes de marketing e atraes tursticas. Nessa direo, que Da colocava a questo est, portanto, em que no podemos nos esquecer das relaes estreitas entre o popular e as classes, no apenas para identificar unificaes ou hegemonias, ou manipulaes, mas os pontos de luta, de contradio... inegvel que esta preocupao com o popular est intimamente associada, para ns, com as preocupaes do presente, no que diz respeito s alianas que queremos e devemos realizar na construo do projeto de transformao. 24
Vem da sua recusa intransigente fragmentao da histria
e do social ... importante perceber que as tentativas de reduzir a Histria Social a uma Histria tpica ou especial quando sua pretenso a de se colocar como capaz de abranger aspectos gerais, para garantir uma abordagem mais ampla, sem no entanto cair na armadilha das generalizaes superficiais, parece obedecer a uma estratgia de retalhar no apenas o social mas, sobretudo,o trabalho intelectual, colocando cada um em uma caixa com seu respectivo rotulo para melhor organizar o desenvolver da cincia!
Advm da sua luta constante para rever conceitos e enfrentar
as polmicas e sua insistncia continua na necessidade de reviso da relao presente passado. Da Fenelon, nunca aceitou a histria com a poltica deixada de lado. O tempo passou, a realidade se transforma a cada dia, mas suas indagaes permanecem com a fora de sempre. Hoje muitos de ns, somos responsveis pela formao de profissionais. Revisamos nossos conceitos, abandamos alguns, fortalecemos outros, e no raras vezes nos sentimos ainda atarantados com prticas que jamais queramos pra ns, o academicismo e a distncia com a realidade vivida. Mais que uma homenagem este um convite leitura atenta e reflexo.
A HISTÓRIA SOCIAL DA CULTURA E A HISTÓRIA CULTURAL DO SOCIAL: APROXIMAÇÕES E POSSIBILIDADES NA PESQUISA HISTÓRICA EM EDUCAÇÃO - Ribamar Nogueira Da Silva