Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Sindicalismo e
Movimentos Sociais
Apresentação
E
ste caderno surge para desenvolver e apresentar
uma conversa sobre um tema que tem sido
controlado pelo sindicalismo oficial e seus parceiros
institucionais, apresentando uma versão "oficial" que se torna
referência até para grupos que se dizem "anarquistas".
É mais que necessário criar espaços de discussão sobre
essas práticas e como o anarco-sindicalismo atua nesse espaço,
uma outra versão que mostre o lado dos oprimidos e explorados.
Os anarquistas sempre atuaram nos movimentos sociais e teve
com referência o movimento operário como catalizador de todas
as lutas sociais e movimentos sociais, sem nenhuma
preocupação em compartimentar em grupos "especificos" ou com
alguma termologia acadêmica.
O presente caderno apresenta como isso se fez e como a
prática anarquista de hoje não deve se submeter ao Estado e as
instituições a ele vinculados , optando por uma caminho mais
díficil, mas ao mesmo tempo o que assegura a liberdade e o bem
estar que nossa luta indica.
Avancemos, a nossa emancipação é nossa obra e de mais
ninguém.
Sindicatos Hoje 16
Reconstrução da COB 18
Práticas Sindicais 19
Notas 23
Bibliografia 25
D
ado ao avanço de ideias “conciliatórias e partidárias” no
meio anarquista cabe de uma forma racional fazer o
exercício do diálogo e critica que isso exige em nosso meio
que é formado por múltiplas práticas, sempre tendo no anarquismo,
sua base de inspiração.
O que não se pode é aceitar certos discursos e práticas sem
nenhuma avaliação ou compreensão do se faz. Qualquer um ou
grupo pode se autonomear como quiser e fazer o que quiser, mas
é da realização de suas ações que teremos de fato uma
identificação clara ou aproximada do que realmente são,
afirmando ou negando a autonomeação inicial e evidenciando
aquilo que se entende por hipocrisia (afetação de uma virtude,
de um sentimento louvável que não se tem; impostura;
fingimento) e demagogia (promessas mirabolantes para iludir o
povo, preponderância das facções populistas!). No caso presente,
refletiremos sobre a questão do sindicalismo e movimentos
sociais e os devidos desdobramentos na prática de luta de nossa
gente.
SINDIVÁRIOS CAMPINAS - 5
A
maioria dos casos os estudos históricos sobre o
sindicalismo no Brasil quase sempre relatam de forma
abreviada o anarco-sindicalismo, isso quando citam a sua
existência, apresentando uma ascensão e queda vertiginosos, quase
sempre atribuindo aos próprios anarco-sindicalistas tal declínio, e
encerram o período com o decreto do Ditador Getúlio Vargas, que
criou a CLT, que foi o ponto final no sindicalismo livre no país e o
inicio de um período de mais de 70 anos da organização corporativa no
meio do trabalho.
Destacam nesses estudos, porém, a formação da CUT e da
CGT, ambas oriundas do sindicalismo celetista, de passado
recente, com grave atrelamento partidário e religioso. Em nossa
análise, entendemos que essa construção histórica atende aos
interesses partidários no intuito de reduzir a força do anarco-
sindicalismo e suas práticas libertárias que marcaram por
décadas a vida dos trabalhadores no Brasil. É um recorte
grotesco, que distorce e oblitera a memória dos movimentos
sociais e dos trabalhadores. Vamos além, há diversas teses que
tentam apagar a existência do anarco-sindicalismo e dar ao
sindicalismo revolucionário outra conotação que não a
anarquista, mas de socialistas e outras vertentes ideológicas,
que eram minorias e atuavam sem problemas dentro do
sindicalismo revolucionário, de base anarquista como é
mostrado nos documentos históricos, jornais e cartas do período.
Procuram isolar o pensamento anarco-sindicalista como peça de
um museu bizarro inventado nas cabeças desses “iluminatti da
esquerda institucional”.
Diante desses revisionismos só podemos, com todo respeito,
manter a luta daqueles companheiros e companheiras, de
centenas deles assassinados pela repressão estatal a serviço dos
interesses do capital. Sempre lembrando que em regra
ocorreram expulsões do país, em sua maioria sem processo
regular, prisões arbitrárias, espancamentos, invasões de
SINDIVÁRIOS CAMPINAS - 6
Os sindicatos hoje
T
odo sindicato que busque legalidade, estará se sujeitando
a lógica do modelo getulista, as leis de exceção do Estado
Novo, e a consequente subordinação ao Ministério do
Trabalho e Emprego. A luta sindical legal é feita, sobretudo por
advogados. Alguns ainda tentam, dentro desse espectro, apontar
algumas práticas diferentes. Entretanto, como pelegos/chapas brancas
que são, os coniventes com o sistema, praticam um sindicalismo de
resultado e conciliador do trabalho. Não há um aprofundamento das
questões dos trabalhadores e, por isso, mantém-se na superficialidade,
buscando sempre o caminho do acordo com o patronato.
Por outro lado, há aqueles que praticam um sindicalismo
corporativo, visando, acima de tudo, resolver questões isoladas,
acumulando certos ganhos para as categorias a que estão
vinculados, em detrimento das demais. É o que podemos
considerar como sindicalismo “egoísta”, que só vê sua própria
causa e só busca satisfazer aos interesses de sua categoria. Um
sindicalismo sobretudo de resultado. Há também, dentro dessas
agremiações oficiais, uma grande quantidade de práticas
sindicais ditas de “resistência”, com um viés radical e um
discurso de “luta de classes”, que usa a estrutura sindical para
manter a luta pelo poder político de uma classe. Esse tipo de
sindicalismo conta com o aparelhamento estatal, nos moldes do
marxismo-trotskismo. Ainda que reconheçam as desigualdades
SINDIVÁRIOS CAMPINAS - 1 7
A Reconstrução da COB/AIT
A
ação dos libertários na esteira do processo de
redemocratização do Brasil, objetivando a reconstrução
da Confederação Operária Brasileira, das Federações
Operárias estaduais e dos Sindicatos Revolucionários nas cidades e no
campo, ao contrário do que proclamam nossos detratores, sempre
esteve presente.
Formando núcleos nas mais diferentes cidades do país,
publicando jornais, distribuindo panfletos, organizando
atividades educativas e sociais. O trabalho anarco-sindicalista
sempre foi uma constante e em momento algum descurou das
lutas sociais, onde quer que seja, sempre que foi possível
participar. Nesse particular, cumpre destacar os protestos livres
e independentes promovidos nos primeiros de maio, as jornadas
antifascistas, encontros estaduais e nacionais de seus
militantes.
Em 1986, ocorreram encontros em Florianópolis e São
Paulo, objetivando alavancar o processo de reconstrução. Na
esteira desse processo é retomada a participação da COB junto a
AIT, e com isso a secção brasileira é reconhecida e se engaja nos
Congressos de caráter internacional e, assim como as outras
secções, desenvolve sua luta. É pouco, realmente, até podemos
concordar com essa assertiva, mas afirmar que o anarco-
sindicalismo se furta ao debate e a luta na defesa integral dos
trabalhadores é inaceitável e nitidamente reacionário.
SINDIVÁRIOS CAMPINAS - 1 9
Práticas sindicais
T
oda a prática sindical oficial está fortemente lastreada na
legislação trabalhista, que é uma herança já comentada do
modelo corporativista de Getúlio Vargas e que leva,
amiúde, a um sindicalismo tutelado e manietado por advogados. Estes,
por seu turno, travam a maioria das lutas sindicais, restando aos
trabalhadores alguns espaços protegidos e uma ação restrita, tudo
previamente acordado em reuniões conciliatórias com o patronato e o
Estado.
O exemplo prático disso é a imposição da “data base”, uma
convenção imposta como controle da organização dos
trabalhadores, já que reserva um período anual e especifico, no
qual são tratadas as questões trabalhistas e, em função disso,
não se aceitam outros períodos fora do combinado. E a cada ano,
justamente nessas datas, todas as manobras possíveis são feitas
para que o patronato consiga o seu objetivo de manter no
mínimo as condições de trabalho e de remuneração dos
trabalhadores. É um jogo de cartas marcadas, no qual os
poderosos saem vitoriosos.
Mesmo existindo uma suposta diversidade de “centrais
sindicais” oficiais, podemos dizer que suas práticas são mais ou
menos iguais, que seu modus operandis são idênticos.
Disputam o poder pelas direções dos sindicatos, usam todos
os recursos possíveis, são profissionalizados na área e procuram
sempre atender os quesitos legais da legislação. Podemos
relacionar diversos exemplos das práticas corporativistas,
fascistas e reformistas dos sindicatos oficiais, muitas as quais
são publicadas diariamente nos jornais. Mas vamos passar para
nosso campo de atuação, já que para esse sindicalismo há muito
espaço dentro da estrutura para suas ações de contenção dos
trabalhadores.
SINDIVÁRIOS CAMPINAS - 20
M
uitos entendem que os movimentos sociais estão em um
nível de construção revolucionária muito a frente do
sindicalismo, se considerarmos que se referem
justamente ao sindicalismo oficial, legal, reformista, fascista que já foi
mencionado. E isso corresponde a verdade.
O Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) e o
Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MSTeto) são exemplos
disso. Constituídos por uma diversidade populacional, na
maioria oprimidos e explorados e por grupos ditos de esquerda
que disputam as coordenações dos movimentos, imprimem às
ações um caráter combativo e até em muitos pontos,
revolucionários aos olhos de uma elite acostumada a mandar
sem ser questionada. Muitos apresentam teses segundo as quais
o sindicalismo tem que ser uma espécie de “mecenas”, um
patrocinador desses movimentos sociais, os quais serviriam
como inspiração e mesmo como “norte revolucionário”, já que o
sindicalismo não possui tais características (5). Como foi
apresentado, na construção do sindicalismo brasileiro
contemporâneo, não houve nenhum comprometimento com as
propostas revolucionárias, como as preconizadas pela COB de
1906 e pelas suas práticas posteriores, até sua desconjunção pelo
Estado Novo. Assim, é um erro acreditar que o sindicalismo
pregado e praticado pelas centrais sindicais oficiais, legais
chegará algum dia ao comunismo libertário ou mudará suas
SINDIVÁRIOS CAMPINAS - 21
Notas
(1)O número de imigrantes trazidos para São Paulo no início do século XX, já
superava em dobro a necessidade de braços para a lavoura. Com isso se formam dois
exércitos de mão de obra de reserva. Um, dos ex-escravos, relegados a miséria, outro,
dos milhares de imigrantes excedentes que se sujeitam a trabalhar por migalhas nas
cidades.
(2)O desenvolvimento industrial brasileiro varia de região a região. O café, sem
sombra de dúvida, foi a alavanca propulsora da industrialização paulista. Em outros
locais, a industrialização teve outros objetos e particularidades. No inicio do Século
XX, as economias do Rio Grande do Sul e do Pará, por exemplo, ainda se encontravam
próximas as de São Paulo; o Município Neutro do Rio de Janeiro ainda ponteava o
processo econômico e industrial.
(3)Empresas como a Lumber mantinham abertamente dezenas de guardas
fortemente armados que coagiam os trabalhadores, submentendo-os, qual uma tirania,
às normas da empresa. Isso tudo com o aval do Governo oligarca.
(4)Sem dados objetivos, as vítimas do Estado Novo se contam aos milhares. O
número de mortos e desaparecidos é um mistério. O porém dessa questão é que
trabalhadores e cidadãos que se atreveram a contestar o Ditador, desde outubro de
1930, passam a ter no exílio e nos cárceres o pagamento de sua ousadia e divergência
política. Reeditam-se as cadeias lotadas de presos políticos, a vigilância da DOPS é
regra e os Campos de Concentração também aqui são mantidos.
(5)Uma discussão semelhante a que existiu no seio da Central Única dos
Trabalhadores, perpassa pelos movimentos sociais dos sem terra, sem teto, moradores
de rua, recicladores, desempregados, ecologistas etc: a do pioneirismo. Explicamos: os
“guias” proclamam profanamente que este é o primeiro movimento dessa natureza
existente no Brasil, logo, portanto, esquecendo nossas lutas pretéritas. Outros “donos”
da verdade histórica logo contestam estes e proclamam, ufanisticamente, que temos
que lembrar as Ligas Camponesas, as ocupações ocorridas nos anos 50 e inicio dos
anos 60. Não raro, observam-se social-democratas citar as ações do Partido
Comunista Brasileiro, como de vanguarda nas lutas dos campesinos. Acusam,
inclusive, os anarco-sindicalistas de nunca ter estado presentes à luta camponesa.
Tipico de teses doutorais. Quanta pretensão. Os libertários, ainda no Século XIX,
estavam presentes nas lutas sociais do campo e da cidade e mais, em momento algum
se retiraram da batalha.
SINDIVÁRIOS CAMPINAS - 24
SINDIVÁRIOS CAMPINAS - 25
Bibliografia consultada:
A Doutrina Anarquista ao alcance de todos. José Oiticia. A
Batalha. 1976.