Este resumo analisa o livro "Tempo, trabalho e dominação social" de Moishe Postone. O livro reinterpreta a teoria crítica de Marx, argumentando que o trabalho é a marca distintiva do capitalismo e a origem da dominação na sociedade capitalista. Postone critica interpretações tradicionais do marxismo por ver o trabalho de forma trans-histórica e a dominação apenas em termos de classe. Ele defende que Marx criticou o trabalho industrializado e a produção como forma social, não apenas o mercado e a propriedade privada.
Este resumo analisa o livro "Tempo, trabalho e dominação social" de Moishe Postone. O livro reinterpreta a teoria crítica de Marx, argumentando que o trabalho é a marca distintiva do capitalismo e a origem da dominação na sociedade capitalista. Postone critica interpretações tradicionais do marxismo por ver o trabalho de forma trans-histórica e a dominação apenas em termos de classe. Ele defende que Marx criticou o trabalho industrializado e a produção como forma social, não apenas o mercado e a propriedade privada.
Este resumo analisa o livro "Tempo, trabalho e dominação social" de Moishe Postone. O livro reinterpreta a teoria crítica de Marx, argumentando que o trabalho é a marca distintiva do capitalismo e a origem da dominação na sociedade capitalista. Postone critica interpretações tradicionais do marxismo por ver o trabalho de forma trans-histórica e a dominação apenas em termos de classe. Ele defende que Marx criticou o trabalho industrializado e a produção como forma social, não apenas o mercado e a propriedade privada.
Tempo, trabalho e dominao social uma reinterpretao da teoria crtica de
Marx (Resenha publicada na Crtica Marxista, n. 41)
Moishe Postone So Paulo: Boitempo, 2014, 486p. Zaira Vieira*
Publicado, em 1993, pela Cambridge University Press e traduzido posteriormente na
Espanha, na Frana, na Alemanha e, mais recentemente, no Brasil, o livro de Postone tem sido amplamente divulgado no curso dos ltimos anos. Um de seus mritos o de considerar as categorias da obra madura de Marx como formas objetivas que revelam o trabalho na sociabilidade do capital. Tais categorias no so entendidas nem como simples constructos nem como objetividades mecnicas ou sem alma. Ao repens-las, o autor busca apreender o carter histrico especfico da sociabilidade do capital e superar as conhecidas dicotomias tericas de estrutura e ao, sentido e vida material (17). Dito de forma genrica, tais desgnios podem resumir o aporte e a genialidade da prpria obra de Marx, na medida em que ela mostra que todas as categorias da economia poltica expressam uma dada forma de vida, um determinado tipo de ao ou de trabalho. Para Postone, categorias como mercado e capital so, elas prprias, as relaes sociais: essas formas sociais impessoais e abstratas (...) so as relaes reais da sociedade capitalista, estruturam sua trajetria dinmica e sua forma de produo (20). A noo de forma social presente nas obras de Lukcs e de Rubin, que insistiu sobre sua importncia, em Marx, para dar conta de uma objetividade no material, mas social fundamental em seu argumento. Um dos eixos centrais em torno do qual gira a leitura de Postone a diferenciao entre o que ele chama de crtica da sociedade do ponto de vista do trabalho e crtica do trabalho ou da especificidade do trabalho no capitalismo. A primeira estaria presente no marxismo tradicional. Esta caracterizao compreende inmeros autores, dentre eles, Dobb, Sweezy, Mandel, Vygodski e Lukcs. A crtica de Postone a quase toda a histria do marxismo diz respeito a dois pontos centrais. Em primeiro lugar, uma concepo trans-histrica do trabalho: a obra de Marx no conteria uma viso do trabalho que perpassasse toda a histria. Em segundo lugar, o autor critica tambm a noo de dominao entendida em termos de classe social. Na abordagem tradicional, o que Marx apontara como uma contradio que surgiria entre as relaes sociais de produo e as foras produtivas seria entendido como contradio entre de um lado, *
Ps-doutoranda em Sociologia na Universidade de So Paulo (USP). Email: zairavieira@uol.com.br
propriedade privada e mercado e, de outro, o modo de produo industrial (21). Propriedade
privada e mercado so tratados como marcas distintivas do capitalismo e a produo industrial postulada como a base de uma futura sociedade socialista (21-22). Os diferentes tipos de interpretao tradicional estariam fundados, em outros termos, sobre uma concepo positiva do trabalho. Contrapondo-se a isto, o autor busca mostrar que a centralidade do trabalho em Marx deve-se no a que ele ponha a produo material como aspecto mais importante da vida social, mas a que considere que o trabalho como modo de produo que funciona como um autmato seja a marca distintiva do capitalismo. A crtica de Marx seria uma crtica do trabalho ou da produo industrial. No modo de produo capitalista, a dominao no tem origem exclusivamente no mercado e na propriedade privada, mas se caracteriza por ser uma dominao abstrata e mais global cujo locus central encontra-se nas relaes de trabalho. O autor salienta, portanto, o carter social das relaes objetivas de dependncia de que fala Marx. Trata-se de mostrar a centralidade da categoria trabalho abstrato ou, ainda, a natureza essencialmente social e dominante do trabalho nesta formao social. O carter social um aspecto inerente ao trabalho e no apenas s relaes de distribuio e de propriedade. Com efeito, n'O Capital, a contradio entre o domnio social e o domnio privado algo inerente forma que assume o trabalho no capitalismo. Esta leitura possui, assim, o mrito de se fundar, para a compreenso da sociedade moderna, sobre um aspecto fundamental. A concepo de Marx sobre o trabalho na formao social capitalista, especialmente a que aparece na Contribuio crtica da economia poltica e n'O Capital, o que permite refutar uma srie de elaboraes tericas que concebem a sociabilidade como aspecto diferente e separado das determinaes do trabalho a posio de Habermas, criticada pelo autor, sendo um exemplo tpico deste gnero de elaborao. A despeito das qualidades apontadas, o texto de Postone elimina os pressupostos desta temtica, o que faz com que ele recaia sobre uma definio do trabalho abstrato a partir da circulao. O autor relega a segundo plano a explicao da mais-valia. Mais do que a extrao de mais-valia, o que estaria no centro da dinmica do capital seria a dialtica rotineira ou o efeito esteira cujas razes encontram-se na dimenso temporal do valor. A crtica ao capitalismo de Marx perfar-se-ia, assim, j no incio d'O Capital, antes mesmo da introduo do conceito de mais-valia. E as categorias mercadoria, trabalho abstrato e valor, tal como aparecem a, fundamentariam a caracterstica dinmica histrica daquela sociedade. Separando a problemtica do trabalho e do valor da questo da propriedade, a abordagem de Postone afasta-se, contudo, da concepo de trabalho abstrato de Marx, que diz
respeito ao dispndio de fora humana de trabalho em sentido fisiolgico. O trabalho
abstrato entendido como sendo uma categoria puramente social e no dispndio de msculos, nervos, etc., como dizia Marx. Ela tem sua origem na circulao e sua explicao prescinde da esfera da produo. A dualidade do trabalho explicada, desta forma, a partir das determinaes da mercadoria. Para o autor, a relao social fundamental ou o princpio estruturante fundamental do capitalismo a mercadoria (181); razo pela qual a frmula do trabalho determinado pela mercadoria (66, 331, etc.) recorrente. De acordo com O Capital, se se pode dizer, porm, que o trabalho determinado pela forma mercadoria ou se encontra subsumido a ela, no se pode esquecer que ele est subsumido, antes de mais nada, a sua determinao de valor, da qual a mercadoria apenas uma das expresses. No da forma mercadoria dos produtos do trabalho que deriva a dualidade que caracteriza o trabalho no capitalismo. Ao contrrio, os produtos so mercadorias precisamente porque o trabalho reveste, ele mesmo, uma forma dupla. Destacando a importncia da forma mercadoria, por um lado, e minimizando o papel do processo de extrao da mais-valia, por outro, cai-se numa anlise de tipo proudhoniano, criticada poca por Marx. A crtica do trabalho de Postone vai alm de uma crtica do trabalho no modo de produo capitalista. Haveria, em Marx, uma crtica das relaes sociais mediadas pelo trabalho sob o ponto de vista da possibilidade historicamente emergente de outras mediaes sociais e polticas (67-68). Apoiando-se nas passagens dos Grundrisse sobre as mquinas, Postone entende que superar o capitalismo envolve abolir tanto o valor como forma social de riqueza, quanto o prprio trabalho. Tais passagens pressuporiam a abolio do trabalho concreto e questionariam a ligao necessria entre o trabalho imediato e a riqueza social (80). Tudo isto coerente com a sua tese de que a teoria marxiana da produo no uma teoria do trabalho enquanto criao de riqueza concreta, mas uma teoria da forma social da riqueza. Mas, se o autor tem razo em sublinhar o ltimo aspecto, evidente que o mesmo no se pode dizer sobre o primeiro. Tais aspectos no so excludentes em Marx. Ao ressaltar unilateralmente a historicidade, Postone descaracteriza o materialismo da obra marxiana, eliminando a base natural do trabalho abstrato, mas ofuscando tambm outros aspectos concretos sobre os quais se assentam as relaes sociais de dominao no capitalismo, como a relao do conceito de capital com a riqueza material (97; 318).
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