Você está na página 1de 49

Universidade Federal de Minas Gerais

Instituto de Ciências Exatas


Departamento de Matemática

Aproximação Por Funções Polinomiais


(Polinômios de Taylor)

Wiliam Geraldo Moreira dos Santos

Belo Horizonte, Julho de 2006


i

Em tudo isto há a mão de Deus.


ii

À Deus, por iluminar-me sempre,

a José e Geralda, meus pais,

aos meus irmãos,

à Fernanda,

aos meus amigos.

De forma especial

Ao Professor Alberto Sarmiento,

o ”Grande Mestre!”
iii

Sumário

1 Conceitos Fundamentais 2
1.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2
1.2 Funções Contı́nuas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2
1.3 Funções Deriváveis . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4
1.3.1 Interpretação Geométrica . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5
1.3.2 Pontos Crı́ticos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6
1.4 Alguns Teoremas da Análise . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8
1.4.1 Teorema de Rolle . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8
1.4.2 Teorema do Valor Médio . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9
1.4.3 Teorema do Valor Médio de Cauchy . . . . . . . . . . . . 10
1.4.4 Regra de L’Hôpital . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11
1.5 A integral . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12
1.5.1 O Conceito de integral . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12
1.5.2 Teorema Fundamental do Cálculo . . . . . . . . . . . . . 15

2 Aproximação Por Funções Polinomiais 18


2.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18
2.2 Polinômio de Taylor . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18
2.3 Teorema de Taylor . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28
2.3.1 Teorema de Taylor com Resto Integral . . . . . . . . . . . 30
2.3.2 Teorema de Taylor com Resto Cauchy . . . . . . . . . . . 31
2.3.3 Teorema de Taylor com Resto Lagrange . . . . . . . . . . 32
2.4 Outros Exemplos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33

3 Aplicações 38
3.1 Critérios de Máximo e Mı́nimo Locais para Pontos Crı́ticos De-
generados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 38
3.2 “e”é irracional . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41

Referências Bibliográficas 44
SUMÁRIO 1

INTRODUÇÃO

Esta monografia trata do estudo de aproximações de funções por polinômios.


Vamos mostrar que muitas funções podem ser aproximadas por polinômios e
que os polinômios, em vez da função original, podem ser usados para cálculos,
quando a diferença entre o valor da função em um ponto e o da aproximação
polinomial for suficientemente pequena. Existem vários métodos para aproxi-
mar uma função dada por polinômios. Um dos mais usados, e também o que
utilizamos neste trabalho é o que envolve a Fórmula de Taylor, assim chamada
em homenagem ao seu criador, o inglês Brook Taylor (1685-1731).

No primeiro capı́tulo trataremos de conceitos fundamentais do Cálculo. Es-


tes conceitos nos fornecerão uma base para melhor entendimento dos capı́tulos
seguintes. Falaremos de funções contı́nuas, funções deriváveis, onde interpre-
tamos geometricamente a derivada de uma função e faremos ainda um estudo
sobre pontos crı́ticos. A seguir mostraremos alguns teoremas da Análise, como o
Teorema de Rolle, Teorema do Valor Médio, Teorema do Valor Médio de Cauchy
e ainda a Regra de L’Hôpital. No fim deste capı́tulo trataremos do conceito de
Integral, onde apresentamos o Teorema Fundamental do Cálculo.

No segundo capı́tulo, iniciamos nosso estudo sobre aproximação de funções.


Iniciamos apresentando o Polinômio de Taylor centrado em um certo ponto e
damos exemplos de Polinômios de Taylor para algumas funções. Veremos alguns
teoremas sobre aproximação de funções onde trataremos da diferença entre o va-
lor de uma função e seu respectivo Polinômio de Taylor. A esta diferença damos
o nome de Resto. Mostramos este resto de três formas diferentes: através do
Teorema de Taylor com Resto Integral, Teorema de Taylor com Resto Cauchy
e Teorema de Taylor com Resto Lagrange. Finalizamos este capı́tulo com mais
exemplos onde também calculamos o valor numérico de certas funções em um
ponto, com uma determinada precisão.

No último capı́tulo, denominado “Aplicações”, estabelecemos critérios para


decidir se um determinado ponto crı́tico é máximo ou mı́nimo local, ou ainda
ponto de inflexão. Este estudo é feito a partir de um teorema sobre os Po-
linômios de Taylor. Enfim, concluı́mos mostrando que o número “e”é irracional.
2

Capı́tulo 1

Conceitos Fundamentais

1.1 Introdução
Iniciamos nosso trabalho com alguns conceitos fundamentais do Cálculo Di-
ferencial e Integral. Continuidade de uma certa função, funções deriváveis,
integral e ainda Teoremas da Análise é o que veremos a seguir. É importante
frisar que este capı́tulo é de suma importância para um melhor entendimento
dos capı́tulos seguintes.

1.2 Funções Contı́nuas


Intuitivamente, uma função f é contı́nua se seu gráfico não contém inter-
rupções, saltos ou ocasiões indefinidas. Mas, pensando desta maneira, podere-
mos nos equivocar e dizer que uma certa função é contı́nua, quando, porém, não
é. Assim definiremos função contı́nua da seguinte maneira:
Definição 1. Uma função f : D → R é contı́nua no ponto a se

lim f (x) = f (a)


x→a

Definição 2. Dizemos que um determinado conjunto A, de números reais, é


limitado superiormente se existe um número x tal que

x ≥ a ∀ a de A.

Um número x com esta propriedade é uma cota superior de A.


Definição 3. Dizemos que um número x é uma cota superior mı́nima de A se
(1) x é cota superior de A, e
(2) se y é uma cota superior de A, então x ≤ y.
Uma vez dada a definição precisa, vemos que se x e y são ambos cotas
superiores mı́nimas de A, então x = y. Neste caso:
CAPÍTULO 1. CONCEITOS FUNDAMENTAIS 3

x ≤ y, visto que y é uma cota superior, e x é uma cota superior mı́nima e,


y ≤ x, visto que x é uma cota superior, e y é uma cota superior mı́nima;
segue que x = y. Por isto falamos da cota superior mı́nima de A que chamaremos
daqui em diante de supremo e sua notação é

sup A

Definição 4. Um conjunto A de números reais está limitado inferiormente se


existe um número x tal que

x ≤ a ∀ a de A.

Assim, um número x recebe o nome de cota inferior de A.


Definição 5. Um número x é a cota inferior máxima de A se
(1) x é uma cota superior de A e,
(2) se y é uma cota superior de A, então x ≥ y.
A cota inferior máxima de A é também chamada de ı́nfimo de A e sua
notação é
inf A
Teorema 1. Se f é contı́nua em a, então existe um número δ > 0 tal que f
está limitada superiormente no intervalo (a − δ, a + δ)

FIGURA 1

Prova: Como f é contı́nua, então lim f (x) = f (a), existe, para todo ² > 0,
x→a
um δ > 0 tal que, para todo x, se |x − a| < δ, então |f (x) − f (a)| < ².
CAPÍTULO 1. CONCEITOS FUNDAMENTAIS 4

Escolhendo ² = 1, deduzimos que existe um δ > 0 tal que, para todo x, se


|x − a| < δ, então |f (x) − f (a)| < 1.
Segue que se |x − a| < δ, então f (x) − f (a) < 1.
Então, no intervalo (a − δ, a + δ), a função f está limitada superiormente por
f (a) + 1.
Teorema 2. Se f é contı́nua no intervalo [a, b], então existe um número y no
intervalo [a, b] tal que f (y) ≥ f (x) para todo x de [a, b].

Prova:
Sabemos que f está limitada no intervalo [a, b], o que significa que o conjunto

{f (x) : x ∈ [a, b]}

está limitado. Evidentemente este conjunto não é vazio, de modo que se tenha
uma cota superior mı́nima α. Visto que α ≥ f (x) para todo x ∈ [a, b], basta
demonstrar que α = f (y) para algum y no intervalo [a, b].

Faremos uma contradição e supondo que α 6= f (y) para todo y de [a, b],
então a função g definida por
1
g(x) = , x ∈ [a, b]
α − f (x)

é contı́nua no intervalo [a, b], visto que o denominador do segundo membro não
é nunca 0. Por outro lado, α é a cota superior mı́nima de {f (x) : x ∈ [a, b]};
isto significa que

para todo ² > 0 existe um x no intervalo [a, b] com α − f (x) < ².

Isto significa, por sua vez que


1
para todo ² > 0 existe um x no intervalo [a, b] com g(x) > .
²

Mas, isto é uma contradição, pois g(x) não está limitada no intervalo [a, b].

1.3 Funções Deriváveis


O conceito de derivada é o conceito fundamental no cálculo, pois fornece o
instrumento mais poderoso para o estudo do comportamento de funções reais.
Sua formulação foi feita independentemente por Newton e Leibniz no século
XVII e, podemos dizer, de uma forma mais simples, que o conceito de derivada
nasceu da necessidade de se quantificar a variação de uma função, ou seja, a
forma como a função varia.
CAPÍTULO 1. CONCEITOS FUNDAMENTAIS 5

Se uma função é contı́nua, então pequenas variações da variável x geram pe-


quenas variações dos valores da função mas, até comparando funções contı́nuas
bastante simples, podemos ver que uma mesma pequena variação de x pode
gerar variações muito diferentes dos valores das funções. O conceito de derivada
nos permite quantificar essas diferenças de variações, sendo, portanto, um in-
strumento muito importante para o estudo do comportamento de funções reais.

Definição 6. Dizemos que uma função f : R → R é derivável (ou diferenciável)


num ponto x0 de seu domı́nio, se f está definida em algum intervalo aberto
contendo x0 e existe o limite abaixo:
f (x) − f (x0 )
lim
x→x0 x − x0
Neste caso, esse limite será chamado a derivada de f no ponto x0 .
Se f é uma função derivável em x0 , a derivada de f no ponto x0 é denotada por
f 0 (x0 ), isto é,
f (x) − f (x0 )
f 0 (x0 ) = lim .
x→x0 x − x0

1.3.1 Interpretação Geométrica


Seja f : R → R uma função diferenciável no ponto x0 , isto é,

f (x) − f (x0 )
∃ lim = f 0 (x).
x→x0 x − x0

f (x1 ) − f (x0 )
Fixando x1 > x0 , o quociente é o coeficiente angular da reta
x1 − x0
que passa pelos pontos (x0 , f (x0 )) e (x1 , f (x1 )), logo esta reta é secante ao
gráfico de f . (ver figura 1)

f (x1 ) − f (x0 )
Se fixamos x0 < x2 < x1 , novamente é o coeficiente angular
x1 − x0
da reta que passa pelos pontos (x0 , f (x0 )) e (x1 , f (x1 )).

Assim, vemos que f 0 (x0 ) é o limite dos coeficientes angulares das retas se-
cantes que passam por (x0 , f (x0 )) quando x tende a x0 . Como este limite
existe, representa o coeficiente angular da reta tangente ao gráfico de f no
ponto (x0 , f (x0 )).
Definição 7. Se uma função f : D → R é derivável em todos os pontos de seu
domı́nio D, dizemos simplesmente que f é derivável e a função f 0 : D → R que
a cada número x ∈ D associa o número f 0 (x) é chamada a primeira derivada
de f ou função derivada de f . Logo, se a função f 0 for diferenciável, denotamos
CAPÍTULO 1. CONCEITOS FUNDAMENTAIS 6

Figura 2

a derivada (f 0 )0 = f 00 : D → R, que é chamada de segunda derivada de f .


Caso f 00 for diferenciável, denotaremos a derivada (f 00 )0 = f 000 : D → R. Assim
sucessivamente podemos falar de uma função k-vezes diferenciável onde a k-
ésima derivada denotamos por f (k) : D → R

1.3.2 Pontos Crı́ticos


A partir de certas informações sobre a derivada podemos obter informações
sobre o comportamento de uma função. Mais especificamente, podemos deter-
minar os intervalos onde a função é crescente e aqueles onde ela é decrescente,
encontrando os pontos onde a função muda de comportamento (de crescente
para decrescente ou vice-versa).

Se f : (a, b) → R, tal que f não é constante, nem crescente e nem decre-


scente em (a, b), dizemos que f apresenta mudança de comportamento quanto
ao crescimento em (a, b). Assim, no estudo de uma função f , mostraremos os
intervalos de seu domı́nio onde não há mudanças de comportamento quanto ao
crescimento ou decrescimento e qual é o único comportamento de f em cada
um desses intervalos.

Comecemos por analisar algumas situações onde ocorrem mudanças de com-


portamento de uma função quanto ao crescimento, buscando caracterizar pontos
de seu domı́nio que indiquem a possibilidade de ocorrência dessas mudanças.
CAPÍTULO 1. CONCEITOS FUNDAMENTAIS 7

Por exemplo, a situação em que um número x0 pertence a um intervalo (a, b) do


domı́nio de f , é tal que f é crescente em (a, x0 ] e decrescente em [x0 , b). Neste
caso teremos f (x) ≤ f (x0 ) para qualquer valor de x ∈ (a, b), ou seja, f (x0 ) é o
maior valor que f assume no intervalo (a, b). Daı́ definirmos:
Definição 8. Dizemos que x0 é um ponto de máximo local de f : (a, b) → R,
se existe um intervalo aberto (c,d) contido no domı́nio de f tal que x0 ∈ (c, d)
e f (x) ≤ f (x0 ), qualquer que seja x ∈ (a, b). O número f (x0 ) é chamado valor
máximo local de f.
Definição 9. Dizemos que x0 é um ponto de mı́nimo local de f : (a, b) → R,
se existe um intervalo aberto (c,d) contido no domı́nio de f tal que x0 ∈ (c, d)
e f (x0 ) ≤ f (x), qualquer que seja x ∈ (a, b). O número f (x0 ) é chamado valor
mı́nimo local de f.
Com essa definição temos que se x0 ∈ (a, b) e f é decrescente em (a, x0 ] e
crecente no intervalo [x0 , b), então x0 é um ponto de mı́nimo local de f .

Teorema 3. Seja f : (a, b) → R derivável em cada ponto do intervalo (a,b). Se


x é um máximo local (ou um mı́nimo local) para f em (a,b) e f é derivável em
x, então f ’(x) = 0.

Figura 3

Prova: Consideremos o caso em que f tem um máximo local em x.

Observe que as retas secantes traçadas à esquerda de (x, f (x)) tem inclinação
≥ 0 e as secantes traçadas por pontos a direita de (x, f (x)) tem inclinação ≤ 0.
Se h é um número qualquer tal que (x + h) está em (a, b), então

f (x) ≥ f (x + h)

Logo,
f (x + h) − f (x) ≤ 0
CAPÍTULO 1. CONCEITOS FUNDAMENTAIS 8

Se h > 0 podemos escrever


f (x + h) − f (x)
≤0
h
e, em conseqüência disto
f (x + h) − f (x)
lim ≤ 0.
h→0+ h
Se h < 0 teremos
f (x + h) − f (x)
≥0
h
de modo que
f (x + h) − f (x)
lim− ≥ 0.
h→0 h

Como, por hipótese, f é derivável em x, então estes dois limites devem ser
iguais e iguais a f 0 (x), ou seja, f 0 (x) ≤ 0 e f 0 (x) ≥ 0.
Logo,

f 0 (x) = 0
e
f (x + h) − f (x)
f 0 (x) = lim .
h→0 h

O caso em que f tem um mı́nimo local em x0 é análogo.

Definição 10. Seja f : [a, b] → R uma função diferenciável. Chamamos ponto


crı́tico de uma função f a todo número x ∈ (a, b) tal que

f 0 (x) = 0.

1.4 Alguns Teoremas da Análise


1.4.1 Teorema de Rolle
Teorema 4. Se f : [a, b] → R é uma função contı́nua em [a,b] e derivável em
(a,b), e f(a) = f(b), então existe um número x em (a,b) tal que f ’(x) = 0.

Prova: Observe as figuras 4.1, 4.2 e 4.3.

1. Vamos supor, em primeiro lugar, que os valores de máximo e mı́nimo


locais sejam iguais, ou seja, f é constante.
CAPÍTULO 1. CONCEITOS FUNDAMENTAIS 9

Figura 4.1 Figura 4.2 Figura 4.3

Como f (a)=f (b), se os valores máximos e mı́nimo de f são iguais, então f é


uma função constante, e para uma função constante podemos escolher qualquer
x de (a, b). Se f (x)=c, então f 0 (x)=0.
2. Supondo, agora, que o valor máximo se apresenta num ponto de x per-
tencente a (a, b):
Então, segundo o teorema anterior, f 0 (x)=0.

3. Supondo agora que o valor mı́nimo está num ponto x pertencente a (a, b):
Então, segundo o teorema anterior, f 0 (x)=0.

1.4.2 Teorema do Valor Médio


Teorema 5. Se f : (a, b) → R é uma função contı́nua em [a,b] e derivável em
(a,b), então existe um número x em (a,b) tal que

f (b) − f (a)
f 0 (x) =
b−a

Prova: · ¸
f (b) − f (a)
Seja h(x) = f (x) − (x − a).
b−a
Por hipótese, f é contı́nua em [a, b] e derivável em (a, b), então h também é.
Assim,
· ¸ · ¸
f (b) − f (a) f (b) − f (a)
h(a) = f (a) − (a − a) = f (a) − (0) = f (a)
b−a b−a
· ¸
f (b) − f (a)
h(b) = f (b) − (b − a) = f (b) − f (b) + f (a) = f (a)
b−a
Como h(a) = h(b) = f (a), podemos aplicar o Teorema de Rolle e deduzir
que existe algum x em (a, b) tal que

f (b) − f (a)
0 = h0 (x) = f 0 (x) −
b−a
CAPÍTULO 1. CONCEITOS FUNDAMENTAIS 10

Então

f (b) − f (a)
0 = f 0 (x) −
b−a

Logo,

f (b) − f (a)
f 0 (x) = .
b−a

1.4.3 Teorema do Valor Médio de Cauchy


Teorema 6. Se f : (a, b) → R e g : (a, b) → R são funções contı́nuas em [a,b]
e deriváveis em (a,b), então existe um número x em (a,b) tal que

[f (b) − f (a)]g 0 (x) = [g(b) − g(a)]f 0 (x)

Prova: Seja

h(x) = f (x)[g(b) − g(a)] − g(x)[f (b) − f (a)]

Como f e g são contı́nuas em [a, b] e deriváveis em (a, b), então h também é


contı́nua em [a, b] e derivável em (a, b) e,
h(a) = f (a)[g(b) − g(a)] − g(a)[f (a) − f (a)]

h(a) = f (a)g(b) − f (a)g(a) − g(a)f (b) + g(a)f (a)

h(a) = f (a)g(b) − g(a)f (b)

e também

h(b) = f (b)[g(b) − g(a)] − g(b)[f (b) − f (a)]

h(b) = f (b)g(b) − f (b)g(a) − g(b)g(a) − g(b)f (b) + g(b)f (a)

h(b) = g(b)f (a) − f (b)g(a)

Logo, h(a) = h(b). Do Teorema de Rolle, segue que h0 (x) = 0 para algum x
pertencente a (a, b). Então:

h0 (x) = f 0 (x)[g(b) − g(a)] − g 0 (x)[f (b) − f (a)] = 0

f 0 (x)[g(b) − g(a)] − g 0 (x)[f (b) − f (a)] = 0

f 0 (x)[g(b) − g(a)] = g 0 (x)[f (b) − f (a)]


CAPÍTULO 1. CONCEITOS FUNDAMENTAIS 11

Logo,

f 0 (x) f (b) − f (a)


0
=
g (x) g(b) − g(a)
Se g(b) 6= g(a) e g 0 (x) 6= 0.

OBS: Se g(b) 6= g(a) e g 0 (x) 6= 0, podemos escrever a equação acima da


seguinte forma:

f (b) − f (a) f 0 (x)


= 0
g(b) − g(a) g (x)

Se g(x) = x, ∀ x, então g 0 (x) = 1 e obteremos o Teorema do Valor Médio:

f (b) − f (a)
f 0 (x) =
g(b) − g(a)

Aplicando-se o Teorema do Valor Médio a f e a g separadamente encontra-


remos x e y em (a, b) com

f (b) − f (a) f 0 (x)


= 0 ;
g(b) − g(a) g (y)

f (b) − f (a) g(b) − g(a)


f 0 (x) = e g 0 (y) =
b−a b−a
Dividindo f 0 (x) por g 0 (x) teremos:

f (b) − f (a)
f 0 (x) b−a
=
g 0 (y) g(b) − g(a)
b−a

Porém, nada nos garante que x e y escolhidos sejam iguais.

1.4.4 Regra de L’Hôpital


Teorema 7. Supondo que lim f (x) = 0 e lim g(x) = 0, e supondo também que
x→a x→a
f 0 (x) f (x) f (x) f 0 (x)
existe lim 0 , então existe lim , e lim = lim 0 .
x→a g (x) x→a g(x) x→a g(x) x→a g (x)
CAPÍTULO 1. CONCEITOS FUNDAMENTAIS 12

Prova:
f 0 (x)
A hipótese de que lim existe contém implicitamente duas suposicões:
x→a g 0 (x)
1. Existe um intervalo (a − δ, a + δ) tal que f 0 (x) e g 0 (x) existem em todo x
pertencente a (a − δ, a + δ) exceto possivelmente para x = a;
2. Neste intervalo g 0 (x) 6= 0 com a possı́vel exceção de x = a.

Por outro lado, não se supõe que f e g estejam definidas em a. Se definimos


f (a) = g(a) = 0 então f e g são contı́nuas em a.
Se a < x < a + δ, então o Teorema do Valor Médio e o Teorema do Valor Médio
de Cauchy são aplicáveis a f e g no intervalo [a, x] (igualmente válido para
a − δ < x < a). Aplicando primeiro o Teorema do Valor Médio em g, vemos que
g(x) 6= 0, pois se fosse g(x) = 0 então existiria algum x1 no intervalo (a, x) com
g 0 (x) = 0, contradizendo (2). Aplicando o Teorema do Valor Médio de Cauchy
a f e a g, vemos que existe um número αx no intervalo (a, x) tal que

[f (x) − 0]g 0 (αx ) = [g(x) − 0]f 0 (αx )

ou
f (x) f 0 (αx )
= 0 .
g(x) g (αx )

αx aproxima-se de a quando x se aproxima de a, visto que αx está no intervalo


f 0 (y)
(a, x). Da existência de lim 0 , segue que
y→a g (y)

f (x) f 0 (αx ) f 0 (αy )


lim = lim 0 = lim 0 .
x→a g(x) x→a g (αx ) y→a g (αy )

1.5 A integral
1.5.1 O Conceito de integral
Se a e b são números reais com a < b, uma partição P para o intervalo [a, b]
é um conjunto finito de pontos do intervalo, P = {t0 , t1 , t2 , ..., tk }, satisfazendo

t0 = a < t1 < t2 , ..., tk−1 , b = tk

Logo, se [a, b] é um intervalo contido no domı́nio de uma função f , P =


{t0 , t1 , t2 , ..., tk } é uma partição contida em [a, b].
Definição 11. O tamanho de uma partição P, denotado por |P |, é o com-
primento do maior subintervalo determinado por dois números consecutivos da
partição, isto é, intervalos da forma [ti−1 , ti ], ou seja,
|P | = max{(t1 − t0 ), (t2 − t1 ), ..., (ti − ti−1 ), ..., (tk − tk−1 )}.
CAPÍTULO 1. CONCEITOS FUNDAMENTAIS 13

Com esta definição, o comprimento de qualquer subintervalo [ti−1 , ti ] é sem-


pre menor ou igual ao tamanho da partição, isto é,

|ti−1 , ti | ≤ |P |, para 1 ≤ i ≤ k.

Definição 12. Suponha que f : [a, b] → R é limitada no intervalo [a, b] e


P = {t0 , t1 , ..., tn−1 , tn } é uma partição de [a, b]. Seja

mi = inf {f (x) : ti−1 ≤ x ≤ ti },

Mi = sup{f (x) : ti−1 ≤ x ≤ ti }.


A soma inferior de f para P , designada por L(f, P ), é definida por:
n
X
L(f (x), P ) = mi (ti − ti−1 ).
i=1

A soma superior de f para P , designada por U (f, P ), é definida por:


n
X
U (f (x), P ) = Mi (ti − ti−1 ).
i=1

Se P é uma partição qualquer, então

L(f (x), P ) ≤ U (f (x), P ),

pois,
n
X
L(f (x), P ) = mi (ti − ti−1 ),
i=1
n
X
U (f (x), P ) = Mi (ti − ti−1 ),
i=1

e, para cada i teremos

mi (ti − ti−1 ) ≤ Mi (ti − ti−1 ).

Definição 13. Suponha que f : [a, b] → R é limitada no intervalo [a, b].

Chamamos de Integral Superior e denotamos por


Z b̄
f (x)dx = inf {U(f(x),P): P é uma partição de [a,b]}.
a

Chamamos de Integral Inferior e denotamos por


Z b
f (x)dx = sup {L(f(x),P): P é uma partição de [a,b]}.

CAPÍTULO 1. CONCEITOS FUNDAMENTAIS 14

Definição 14. Uma função f : [a, b] → R limitada no intervalo [a, b] é in-


tegrável em [a, b] se

Z b̄ Z b
f (x)dx = f (x)dx.
a ā
Neste caso, o número I, comum a ambos, recebe o nome de integral de f e
é escrito da seguinte maneira:
Z b
I= f (x)dx.
a

Z b
Se f (x) ≥ 0, a integral f (x)dx é a área da região abaixo do gráfico de f
a
entre a e b e acima do eixo x.

Então, se f é integrável,
Z b
L(f (x), P ) ≤ f (x)dx ≤ U (f (x), P )
a

para todas as partições P do intervalo [a, b].


Teorema 8. Suponha que f : [a, b] → R seja integrável em [a, b] e que m ≤
f (x) ≤ M para todo x de [a, b]. Então
Z b
m(b − a) ≤ f (x)dx ≤ M (b − a).
a

Prova:
Seja
Z b
f (x)dx = sup{L(f, P )} = inf {U (f, P )}.
a
CAPÍTULO 1. CONCEITOS FUNDAMENTAIS 15

Então, percebemos que

m(b − a) ≤ L(f, P ) e U (f, P ) ≤ M (b − a)


para toda partição P do intervalo.

1.5.2 Teorema Fundamental do Cálculo


Teorema 9. Primeiro Teorema Fundamental do Cálculo
Seja
R x f : [a, b] → R uma função integrável sobre o intervalo [a, b] e F (x) =
a
f (t)dt.
Se f é contı́nua em c, onde c está contido no intervalo [a, b], então F é derivável
em c e

F 0 (c) = f (c).
Prova:
Como c está contido no intervalo [a, b], teremos, por definição,

F (c + h) − F (c)
F 0 (c) = lim .
h→0 h
Supondo primeiro que h > 0, então
Z c+h
F (c + h) − F (c) = f (t)dt.
c

Sejam:
mh = inf {f (x) : c ≤ x ≤ c + h},
Mh = sup{f (x) : c ≤ x ≤ c + h}.
Do teorema anterior segue que
Z c+h
mh .h ≤ f (t)dt ≤ Mh .h.
c

Logo,
F (c + h) − F (c)
mh ≤ ≤ Mh .
h
Se h ≤ 0, teremos:

mh = inf {f (x) : c + h ≤ x ≤ c},

Mh = sup{f (x) : c + h ≤ x ≤ c}.


Então,
Z c+h
mh .(−h) ≤ f (t)dt ≤ Mh .(−h)
c
CAPÍTULO 1. CONCEITOS FUNDAMENTAIS 16

Figura 6

Z c+h
−mh .h ≤ − f (t)dt ≤ −Mh .h
c
Como h ≤ 0 obteremos o mesmo resultado para h > 0, que é

F (c + h) − F (c)
mh ≤ ≤ Mh .
h
Esta igualdade se faz para qualquer função integrável. Como f é contı́nua em
c, teremos
lim mn = lim Mn = f (c),
h→0 h→0

e isto significa que

F (c + h) − F (c)
F 0 (c) = lim = f (c)
h→0 h

Definição 15. Se f e g são funções tais que f é a derivada de g, isto é,


g 0 (x) = f (x), dizemos que a função g é uma primitiva para f .
Teorema 10. Segundo Teorema Fundamental do Cálculo
Se f : (a, b) → R é integrável sobre [a, b] e f = g 0 para alguma função g, então
Z b
f (t)dt = g(b) − g(a).
a
CAPÍTULO 1. CONCEITOS FUNDAMENTAIS 17

Prova:
Seja P = {t0 , t1 , ..., tn−1 , tn } uma partição qualquer de [a, b]. Pelo teorema
do valor médio, existe um ponto xi em [ti−1 , ti ] tal que

g(ti ) − g(ti−1 ) = g 0 (xi )(ti − ti−1 )


g(ti ) − g(ti−1 ) = f (xi )(ti − ti−1 ).

Se
mi = inf {f (x) : ti−1 ≤ x ≤ ti },
Mi = sup{f (x) : ti−1 ≤ x ≤ ti },
Então
mi (ti − ti−1 ) ≤ f (xi )(ti − ti−1 ) ≤ Mi (ti − ti−1 ),
é o mesmo que

mi (ti − ti−1 ) ≤ g(xi ) − g(ti−1 ) ≤ Mi (ti − ti−1 ).

Somando estas equações para i = 1, ..., n obteremos,


n
X n
X
mi (ti − ti−1 ) ≤ g(b) − g(a) ≤ Mi (ti − ti−1 )
i=1 i=1

de maneira que

L(f, P ) ≤ g(b) − g(a) ≤ U (f, P )


para toda partição de P . Porém, isto sigfica que
Z b
g(b) − g(a) = f (t)dt.
a
18

Capı́tulo 2

Aproximação Por Funções


Polinomiais

2.1 Introdução
Um polinômio p de grau n ∈ N, com coeficientes reais na variável x é dado
por
p(x) = a0 + a1 x + a2 x2 + ... + an xn
onde os coeficintes ai ∈ R ∀ i = 0, 1, 2, 3, ..., n.

Como efetuando apenas as operarações de adição e multiplicação podemos


sempre calcular o valor de p em x, então p como função real está definida
para todo x ∈ R. No Cálculo, as funções polinomiais são consideradas as mais
simples. Já as funções logarı́tmo, seno, cosseno, exponencial, etc., não têm tal
simplicidade.

Dada uma função qualquer, f : R → R, faremos aqui uma aproximação desta


por polinômios, de modo que possamos usar valores dos polinômios ao invés dos
valores de tais funções, cometendo com isto um erro tão pequeno quanto quei-
ramos.

2.2 Polinômio de Taylor


Dizemos que um polinômio está na forma (x − a) ou que está centrado em
x = a se for da forma:

p(x) = a0 + a1 (x − a) + a2 (x − a)2 + ... + an (x − a)n

Neste caso, temos que p(a) = a0 ; derivando p sucessivamente temos que:


CAPÍTULO 2. APROXIMAÇÃO POR FUNÇÕES POLINOMIAIS 19

p0 (x) = a1 + 2a2 (x − a) + 3a3 (x − a)2 + ... + nan (x − a)n−1

p(1) (a)
p0 (a) = p(1) (a) = a1 =⇒ a1 = ;
1!

p00 (x) = 2a2 + 3.2a3 (x − a) + ... + n(n − 1)an (n − a)n−2


p(2) (a)
p00 (a) = p(2) (a) = 2a2 =⇒ a2 =
2!
Assim pode-se mostrar por indução que

p(k) (x) = k!ak + ... + (n − a)x(n−k)

p(k) (x) = k!ak + ... + n(n − 1) + ... + [n − (k − 1)].an (x − a)n−k

n
X j!
p(k) (x) = aj (x − a)j−k
(j − k)!
j=k

Então
p(k) (a)
p(k) (a) = k!ak =⇒ ak = . (2.1)
k!

Definição 16. Dada f : R → R uma função que tenha derivadas até ordem n
no ponto x = a, associamos a f o polinômio Pn,a (x) de grau ≤ n dado por

Pn,a (x) = a0 + a1 (x − a) + a2 (x − a)2 + ... + an (x − a)n ,


f (k) (a)
onde os coeficientes ak = , k = 0, 1, 2, 3, ..., n. Logo,
k!

f (2) (a) f (n) (a)


Pn,a (x) = f (a) + f (1) (a)(x − a) + (x − a)2 + ... + (x − a)n . (2.2)
2! n!
O polinômio Pn,a (x) recebe o nome de Polinômio de Taylor de grau n
para f centrado em a.
CAPÍTULO 2. APROXIMAÇÃO POR FUNÇÕES POLINOMIAIS 20

Escrevendo com a notação de somatório, temos que


n
X f (k) (a)
P(n,a) (x) = (x − a)k
k!
k=0

Em particular, se a = 0, o Polinômio de Taylor de grau n para f , centrado


em x = 0 é:

p(x) = P(n,0) (x) = a0 + a1 x + a2 x2 + ... + an xn .

Exemplo 1. Dada a função f (x) = sen(x), encontrar o Polinômio de Taylor


de f de grau (2n + 1) centrado em a = 0.
Como a função sen(x) é infinitamente diferenciável, então

sen(0) = 0
sen(1) (0) = cos(0) = 1
sen(2) (0) = −sen(0) = 0
sen(3) (0) = −cos(0) = −1
sen(4) (0) = sen(0) = 0

Daqui em diante as derivadas se repetem em ciclo de 4.


Logo os números
sen(k) (0)
ak =
k!
são da forma:

 −1, se k=3,7,11...;
ak = 0, se k for par;

1, se k=1,5,9....
Logo
1 1 1
a0 = 0, a1 = 1, a2 = 0, a3 = − , a4 = 0, a5 = , a6 = 0, a7 = − , ...
3! 5! 7!
Então, o Polinômio de Taylor P2n+1,0 para a função sen(x) centrado em
a = 0 é

(x − 0)2 (x − 0)3 (x − 4)4 (x − 0)5


P2n+1,0 = 0 + 1.(x − 0) + 0. − 1. + 0. + 1. +
2! · 3! ¸ 4! 5!
6 7 2n+1
(x − 0) (x − 0) x
0. − 1. + ... + (−1)n . .
6! 7! (2n + 1)!
Então teremos,
· 2n+1 ¸
x3 x5 x7 n x
P2n+1,0 (x) = x − + − + ... + (−1) . .
3! 5! 7! 2n + 1!
CAPÍTULO 2. APROXIMAÇÃO POR FUNÇÕES POLINOMIAIS 21

Exemplo 2. Dada a função h(x) = ex , encontrar o Polinômio de Taylor de h


de grau n centrado em a = 0.
h(0) = h(1) (0) = ... = h(n) (0) = 1

Então,
a0 = a1 = a2 = ... = an = 1

Logo, o Polinômio de Taylor Pn,0 para a função ex no ponto a = 0 é:

(x − 0)2 (x − 0)3 (x − 0)4 (x − 0)n


Pn,0 (x) = 1 + x + 1. + 1. + 1. + ... + 1.
2! 3! 4! n!
x2 x3 x4 xn
Pn,0 (x) = 1 + x + + + + ... + .
2! 3! 4! n!

Consideremos para a função h(x) = ex os Polinômios de Taylor de grau 1 e


2, que são:

x2
P1,0 (x) = 1 + x e P2,0 (x) = 1 + x + .
2

y 3

0
-2 -1 0 1 2
x
-1

Exponencial
Polinomio Grau 1
Polinomio Grau 2

Notemos que numa pequena vizinhança centrada em x = 0, a medida que


o grau do Polinômio de Taylor aumenta, o gráfico respectivo fica mais próximo
do gráfico de h(x).(veja figura anterior).
CAPÍTULO 2. APROXIMAÇÃO POR FUNÇÕES POLINOMIAIS 22

Analiticamente, verificaremos que P2,0 (x) está mais mais próximo de h(x)
do que P1,0 (x), ou seja, a ordem de convergência é mais próxima se a ordem de
proximidade for maior.

Para isto calculamos os seguintes limites:

f (x) − P1,0 (x) ex − 1 − x 0


1. lim = lim = .
x→0 x−0 x→0 x 0
Aplicando a Regra de L’Hôpital, teremos

h(x) − P1,0 (x)


lim = 0. (2.3)
x→0 x

x2
f (x) − P2,0 (x) ex − 1 − x −
2. lim = lim 2 = 0.
x→0 (x − 0)2 x→0 x2 0
Aplicando a Regra de L’Hôpital 2 vezes temos que

h(x) − P2,0 (x)


lim =0 (2.4)
x→0 x2

O primeiro limite (2.3) nos diz que a diferença h(x) e P1,0 (x) tende a zero
mais rápido que a função linear “x”.
O segundo limite (2.4) nos diz que a diferença de h(x) e P2,0 (x) tende a zero
ainda mais rápido que uma função quadrática “x2 ”.

É isto que o Teorema a seguir mostra para uma função qualquer.

Teorema 11. Seja f : R → R uma função n-vezes diferenciável no ponto x = a.


Então,

f (x) − Pn,a (x)


lim = 0.
x→a (x − a)n
Prova:
Consideremos o Polinômio de Taylor de f de grau n centrado em x = a:

f (n−1) (a) f n (a)


Pn,a (x) = f (a) + f 0 (a)(x − a) + ... + (x − a)n−1 + (x − a)n
(n − 1)! n!

Separando o último termo do polinômio temos que:


CAPÍTULO 2. APROXIMAÇÃO POR FUNÇÕES POLINOMIAIS 23

n−1
X f (k) (a) f n (a)(x − a)n
Pn,a (x) = (x − a)k + .
k! n!
k=0
Então,
n−1
X f (k) (x − a)k f (n) (a)(x − a)n
f (x) − −
f (x) − Pn,a (x) k! n!
k=0
= .
(x − a)n (x − a)n
n−1
X f (k) (a)(x − a)k
f (x) −
f (x) − Pn,a (x) k! f (n) (a)
k=0
= − .
(x − a)n (x − a)n n!
n−1
X (k)
f (a)(x − a)k
Chamemos de g(x) = e h(x) = (x − a)n .
k!
k=0
Devemos mostrar que

· ¸
f (x) − g(x) f (n) (a)
lim − = 0.
x→a h(x) n!

Como o segundo termo do limite acima não depende de x, basta mostrar


que

f (x) − g(x) f (n) (a)


lim = . (2.5)
x→a h(x) n!

f n−1 (a)
Sendo que g(x) = f (a) + f 0 (a)(x − a) + ... + (x − a)n−1 , então temos
(n − 1)!
que, derivando sucessivamente como em (2.1)

g (i) (a) = f (i) (a) ∀ 0 ≤ i ≤ n − 1.

Como f é n − vezes diferenciável no ponto a, então f, f 0 , f (2) , ..., f (n−1) são


contı́nuas em x = a e sendo g polinômio, então temos:

lim [f (i) (x) − g (i) (x)] = f (i) (a) − g (i) (a); ∀0 ≤ i ≤ n − 1.


x→a

Assim, para mostrar (2.5), podemos aplicar a Regra de L’Hôpital (n − 1)


vezes à primeira parte da equação e obtemos:
CAPÍTULO 2. APROXIMAÇÃO POR FUNÇÕES POLINOMIAIS 24

f (x) − g(x) f (n−1) (x) − g (n−1) (x) f n (x) f n (a)


lim = lim (n−1)
= lim =
x→a h(x) x→a h (x) x→a n! n!
Uma aplicação importante deste Teorema que deixamos para o Capı́tulo 3
é dar um critério para decidir quando um ponto crı́tico degenerado (isto é,
f 0 (a) = f 00 (a) = ... = f (k) (a) = 0 e f (k+1) (a) 6= 0) é ponto de máximo ou
mı́nimo local.
Definição 17. Dizemos que duas funções f e g : R → R são iguais até
ordem n em x=a se
f (x) − g(x)
lim = 0.
x→a (x − a)n

Teorema 12. Sejam P e Q dois polinômios em (x − a), de grau ≤ n e seja


a ∈ R qualquer. Suponha que P e Q sejam iguais até ordem n em a, então,

P =Q

Prova:
Como P e Q são iguais até ordem n em a, por definição, temos que:

P (x) − Q(x)
lim = 0.
x→a (x − a)n

Chamemos de R(x) = P (x) − Q(x). Substituindo temos:

R(x)
lim = 0. (2.6)
x→a (x − a)n

Devemos mostrar que R(x) = 0 para todo x ∈ R. De (2.6),

Seja 0 6 i 6 n,
· ¸
R(x) R(x) n−i
lim = lim (x − a) = 0. (2.7)
x→a (x − a)i x→a (x − a)n

Em particular para i = 0, resulta simplesmente que lim R(x) = 0.


x→a

Seja R(x) = b0 + b1 (x − a) + b2 (x − a) + ... + bn (x − a)n .


2

lim R(x) = lim [b0 + b1 (x − a) + b2 (x − a)2 + ... + bn (x − a)n ]


x→a x→a

lim R(x) = b0 =⇒ b0 = 0.
x→a
CAPÍTULO 2. APROXIMAÇÃO POR FUNÇÕES POLINOMIAIS 25

Logo,

R(x)
= b1 + b2 (x − a) + ... + bn (x − a)n−1 .
x−a
De (2.7), para i = 1, temos

R(x)
lim = lim [b1 + b2 (x − a) + ... + bn (x − a)n−1 ] = 0
x→a x − a x→a

Então,

R(x)
lim = b1 = 0.
x→a x−a
Seguindo este processo e usando (2.7), temos que

b0 = b1 = b2 = ... = bn = 0

Então, R(x) = 0 ∀ x ∈ R. Conseqüentemente, P (x) = Q(x) ∀ x ∈ R. Isto é


P = Q.

Corolário 1. Sejam f : R → R uma função derivável n vezes no ponto x = a e


P um polinômio em (x-a), de grau ≤ n. Suponha que P é igual a f até ordem
n em x = 0. Então P é o Polinômio de Taylor de f de ordem n centrado em
x = a. Isto é,
P (x) = Pn,a (x), ∀ x ∈ R.

Prova:
Como f é igual a P até a ordem n em x = a, temos que:

f (x) − P (x)
lim =0 (2.8)
x→a (x − a)n
Por outro lado, do teorema 11

f (x) − Pn,a (x)


lim = 0. (2.9)
x→a (x − a)n

Então devemos mostrar que

P (x) − P(n,a) (x)


lim =0
x→a (x − a)n
Com efeito, acrescentando e subtraindo f (x) ao limite acima, temos:
P (x) − P(n,a) (x) P (x) − P(n,a) (x) + f (x) − f (x)
lim = lim =
x→a (x − a)n x→a (x − a)n
CAPÍTULO 2. APROXIMAÇÃO POR FUNÇÕES POLINOMIAIS 26
· ¸
[f (x) − P(n,a) (x)] − [f (x) − P (x)]
= lim =
x→a
· (x − a)n ¸
f (x) − P(n,a) (x) f (x) − P (x)
= lim − =
x→a
· (x − a)n ¸ (x −· a)
n
¸
f (x) − P(n,a) (x) f (x) − P (x)
= lim − lim
x→a (x − a)n x→a (x − a)n
então, de (2.8) e (2.9) temos que

P (x) − P(n,a) (x)


lim = 0.
x→a (x − a)n
Assim os polinômios P e Pn,a são iguais até a ordem n em x = a, então, do
teorema 13
P = Pn,a .

Quando uma função for n vezes diferenciável no ponto x = a, o corolário


acima oferece um método útil para encontrar seu Polinômio de Taylor centrado
em x = a.
Exemplo 3. Dada a função t(x) = arctg(x), encontrar o Polinômio de Taylor
de t de grau 2n + 1 centrado em a = 0.

t(k) (a)
Note que, para determinarmos cada valor de ak = , devemos deter-
k!
minar t0 (a), t00 (a), t000 (a), ..., tk (a). Assim
1
arctg 0 (x) = −→ arctg(0) = 1;
1 + x2
−2x
arctg 00 (x) = −→ arctg(0) = 0
(1 + x2 )
(1 + x ) .(−2) + 2x.2(1 + x2 ).2x
2 2
arctg 000 (x) = −→ arctg(0) = −2
(1 + x2 )4
Se continuar-mos derivando, teremos uma expressão cada vez maior, uma
conta cada vez mais complicada e, para evitar isto, o Corolário 1 simplifica ba-
stante o nosso trabalho.

Seja a equação Z x
1
arctg(x) = dt
0 1 + t2
Dividindo o integrando (isto é 1 entre 1 + t2 , até obter um quociente de
ordem 2n, o resto é (−1)n+1 t2n+1 , então
1 2 4 6 n 2n (−1)n+1 t2n+2
= 1 − t + t − t + ... + (−1) t +
1 + t2 1 + t2
Logo,
CAPÍTULO 2. APROXIMAÇÃO POR FUNÇÕES POLINOMIAIS 27
Z x · ¸
(−1)n+1 t2n+2
arctg(x) = 1 − t2 + t4 − t6 + ... + (−1)n t2n + dt
0 1 + t2
Z x 2n+2
x3 x5 (−1)n x2n+1 t
arctg(x) = x − + − ... + + (−1)n+1 2
dt
3 5 2n + 1 0 1+t

Z x
x3 x5 (−1)n x2n+1 t2n+2
arctg(x) = x − + − ... + + (−1)n+1 dt (2.10)
3 5 2n + 1 0 1 + t2

x3 x5 (−1)n x2n+1
Denotemos por P (x) = x − + − ... + , então de (2.10)
3 5 2n + 1
Z x 2n+2
t
arctg(x) = P (x) + (−1)n+1 dt
0 1 + t2
Z x 2n+2
n+1 t
(−1) dt
arctg(x) − P (x) 0 1 + t2
= (2.11)
(x − a)2n+1 (x − a)2n+1

Agora mostraremos que:


Z x
t2n+2
2
dt
0 1+t
lim =0
x→a (x − a)2n+1

De fato,

¯Z x ¯ ¯Z ¯
¯
¯ t2n+2 ¯¯ ¯¯ x 2n+2 ¯¯ |x|2n+3
¯ dt ≤ t dt¯ = (2.12)
0 1 + t2 ¯ ¯ 0 2n + 3

Então
¯ Z x 2n+2 ¯
¯ t ¯
¯ ¯
¯ 0 1 + t2 dt ¯ 2n+3
|x|2
¯
lim ¯ ¯ 6 lim |x| = lim = 0.
x→a ¯ (x − a)2n+1 ¯¯ x→a x2n+1 x→a 2n + 3
¯ ¯

Da afirmação anterior e de (2.11) temos

arctg(x) − P (x)
lim = 0.
x→a (x − a)2n+1
Então as funções arctg e P são iguais até ordem 2n + 1 no ponto x = a.
Logo, do Corolário 1, P é o Polinômio de Taylor de grau 2n + 1 centrado em
CAPÍTULO 2. APROXIMAÇÃO POR FUNÇÕES POLINOMIAIS 28

x = a.

Deste modo, o Polinômio de Taylor para a função arctg(x), de grau 2n + 1,


centrado em x=0 é:

x3 x5 (−1)n x2n+1
P2n+1,0 (x) = x − + − ... + .
3 5 2n + 1

Voltemos agora a equação (2.10):

Z x
x3 x5 (−1)n x2n+1 t2n+2
arctg(x) = x − + − ... + + (−1)n+1 dt.
3 5 2n + 1 0 1 + t2

Da estimativa (2.11), se |x| 6 1, temos que o resto é:


¯Z x 2n+2 ¯
¯ t ¯ |x|2n+3 1
¯ dt¯¯ ≤ < .
¯ 2
0 1+t 2n + 3 2n + 3
Isto significa que podemos utilizar os Polinômios de Taylor para a função
arctg(x) com a aproximação que quisermos, basta eleger n tão grande quanto
queiramos para obter um resto arbitrariamente pequeno.

Os teoremas sobre Polinômios de Taylor estendem este resultado, como


veremos no capı́tulo de “Aplicações”. Os teoremas até aqui demonstrados têm
examinado sempre o comportamento do Polinômio de Taylor Pn,a para n fixo,
quando x tende a a. Mais a frente iremos comparar os Polinômios de Taylor
Pn,a para x fixo e n distintos.

2.3 Teorema de Taylor


Definição 18. Sejam f : [a, x] → R uma função e Pn,a o seu Polinômio de
Taylor até a ordem n em x = a. Chamamos de Resto e denotamos por Rn,a (x)
a seguinte função:

Rn,a (x) = f (x) − Pn,a (x).


Então,

f (x) = Pn,a (x) + Rn,a (x) =


f (n) (a)
= f (a) + f 0 (a)(x − a) + ... + (x − a)n + Rn,a (x) (2.13)
n!
CAPÍTULO 2. APROXIMAÇÃO POR FUNÇÕES POLINOMIAIS 29

Seria desejável dispor de uma expressão para Rn,a (x) que nos permita facil-
mente estimar uma boa aproximação para uma determinada função.
Do exemplo 3, para a função arctg(x), encontramos que
Z x 2n+2
t
R2n+1,0 (x) = (−1)n+1 2
dt
0 1+t

e mostramos que
|x|2n+3
|R2n+1,0 (x)| ≤ .
2n + 3
Lema 1. Seja f : [a, x] → R função n-vezes diferenciável em [a, x]. Para
t ∈ [a, x] denotemos por

f (n) (t)
Rn,t (x) = S(t) = f (x) − f (t) − f 0 (t)(x − t) − ... − (x − t)n .
n!

Então
f (n+1) (t)
S 0 (t) = − (x − t)n .
n!
Prova:

Fixado x e para cada t ∈ [a, x], podemos escrever a equação (2.13) em termos
do Polinômio de Taylor centrado em t, e denotamos o resto por S(t) = Rn,t (x).
Assim temos

f n (t)
f (x) = f (t) + f 0 (t)(x − t) + ... + (x − t)n + S(t). (2.14)
n!
∂f
Derivando ambos os membros de (2.14) em relação a t temos que (x) = 0.
∂t
Então, · ¸ · 00 ¸
f 00 (t) f (t) f 000 (t)
0 = f 0 (t) + −f 0 (t) + (x − t) + − (x − t) + (x − t)2 + ...
1! 1! 2!
· ¸
f (n) (t) f (n+1)
(t)
... + − (x − t)n−1 + (x − t)n + S 0 (t)
(n − 1)! n!
f (n+1) (t)
Simplificando temos 0 = (x − t)n + S 0 (t). Então
n!
f (n+1) (t)
S 0 (t) = − (x − t)n . (2.15)
n!

Utilizaremos este lema nas subseções a seguir.


CAPÍTULO 2. APROXIMAÇÃO POR FUNÇÕES POLINOMIAIS 30

2.3.1 Teorema de Taylor com Resto Integral


Consideremos a seguinte equação:

f (x) = f (a) + R0,a (x)


Pelo Teorema Fundamental do Cálculo, temos que
Z x
f (x) = f (a) + f 0 (t)dt
a
Z x
de maneira que R0,a (x) = f 0 (t)dt.
a

De forma
Z x análoga, obtemos uma expressão para R1,a (x). Para isto, inte-
gramos f 0 (t)dt, utilizando o método de integração por partes.
a
Z x Z x
Veja que f (x) = f (a) + f 0 (t)dt = f (a) − f 0 (t)(−dt).
a Z x a

Resolvendo somente a integral f 0 (t)(−dt), temos que,


a
0 00
u(t) = f (t), du(t) = f (t)dt e dv(t) = −dt, v(t) = x − t.
Logo teremos
Z x Z x Z x
f 0 (t)(−dt) = u(t)v(t)|ba − (x−t)f 00 (t)dt = f 0 (t)(x−t)− f 00 (t)(x−t)dt =
a a a

Z x Z x
= f 0 (x)(x−x)−f 0 (a)(x−a)− f 00 (t)(x−t)dt = 0−f 0 (a)(x−a)− f 00 (t)(x−t)dt =
a a
Z x
= −f 0 (a)(x − a) − f 00 (t)(x − t)dt.
a
Z x
Como f (x) = f (a) − f 0 (t)(−dt), temos então que
a
· Z x ¸
0 00
f (x) = f (a) − −f (a)(x − a) − f (t)(x − t)dt
a
Z x
f (x) = f (a) + f 0 (a)(x − a) + f 00 (t)(x − t)dt.
a

Assim então, Z x
R1,a (x) = f 00 (t)(x − t)dt.
a
Uma generalização desta forma de escrever o resto é dado no seguinte teo-
rema:
CAPÍTULO 2. APROXIMAÇÃO POR FUNÇÕES POLINOMIAIS 31

Teorema 13. Seja f : [a, x] → R uma função n+1 vezes diferenciável com
f n+1 integrável em [a, x]. Então

f n (a)
f (x) = f (a) + f 0 (a)(x − a) + ... + (x − a)n + Rn,a (x),
n!
onde o resto é da forma:
Z x
f x+1
Rn,a (x) = (x − t)n dt.
a n!
Prova:
Escrevendo f (x) em função dos Polinômios de Taylor centrados em t ∈ [a, x],
como no Lema 1, e da equação (2.15), temos que a função resto S(t) = Rn,t (x)
satisfaz
f (n+1) (t)
S 0 (t) = − (x − t)n .
n!
Aplicando o Teorema Fundamental do Cálculo, temos
Z x Z x (n+1)
0 f (t)
S(x) − S(a) = S (t)dt = − (x − t)n dt.
a a n!

Como S(t) = Rn,t (x), temos que S(x) = Rn,x (x) = 0 (pois f (x) = f (x) +
f 0 (x)(x − x) + ... + Rn,x (x)) e S(a) = Rn,a (x).

Então temos que


Z x
f (n+1) (t)
0 − Rn,a (x) = − (x − t)n dt.
a n!
Logo,
Z x
f (n+1) (t)
Rn,a (x) = (x − t)n dt.
a n!

2.3.2 Teorema de Taylor com Resto Cauchy


Teorema 14. Seja f : [a, x] → R uma função n+1 vezes diferenciável. Então

f n (a)
f (x) = f (a) + f 0 (a)(x − a) + ... + (x − a)n + Rn,a (x),
n!

e a função resto é da forma:

f (n+1) (t)
Rn,a (x) = (x − t)n (x − a), para algum t ∈ (a, x).
n!
CAPÍTULO 2. APROXIMAÇÃO POR FUNÇÕES POLINOMIAIS 32

Prova:
Escrevendo f (x) em função dos Polinômios de Taylor centrados em t ∈ [a, x],
como no Lema 1, e da equação (2.15), temos que a função resto S(t) = Rn,t (x)
satisfaz

f (n+1) (t)
S 0 (t) = − (x − t)n
n!
Aplicando o teorema do valor médio na função S em [a, x], temos que existe
um t em (a, x) tal que

S(x) − S(a) f (n+1) (t)


= S 0 (t) = − (x − t)n
x−a n!

f (n) (t)
Como S(t) = Rn,t (x) = f (x) − f (t) − f 0 (t)(x − t) − ... − (x − t)n ,
n!
temos que S(x) = Rn,x (x) = 0 e S(a) = Rn,a (x).

Assim então,

0 − Rn,a (x) f (n+1 (t)


=− (x − t)n
x−a n!
ou seja, como querı́amos demonstrar:

f (n+1) (t)
Rn,a (x) = (x − t)n (x − a)
n!

2.3.3 Teorema de Taylor com Resto Lagrange


Teorema 15. Seja f : [a, x] → R uma função n+1 vezes diferenciável. Então

f n (a)
f (x) = f (a) + f 0 (a)(x − a) + ... + (x − a)n + Rn,a (x),
n!

e a função resto é da forma:

f (n+1) (t)
Rn,a (x) = (x − a)n+1 , para algum t ∈ (a, x).
(n + 1)!
Prova:
Escrevendo f (x) em função dos Polinômios de Taylor centrados em t ∈ [a, x],
como no Lema 1, e da equação (2.15), temos que a função resto S(t) = Rn,t (x)
satisfaz

f (n+1) (t)
S 0 (t) = − (x − t)n
n!
CAPÍTULO 2. APROXIMAÇÃO POR FUNÇÕES POLINOMIAIS 33

Para deduzir o resto na forma de Lagrange, basta aplicar o teorema do valor


médio de Cauchy nas funções S(t) e g(t) = (x − t)n+1 . Assim, existe t ∈ (a, x)
tal que

f (n+1) (t) f (n+1) (t)


S(x) − S(a) S 0 (t) − (x − t)n (x − t)n
= 0 = n! = n!
g(x) − g(a) g (t) −(n + 1)(x − t)n (n + 1)(x − t)n
Vejamos que S(x) = Rn,x (x) = 0, S(a) = Rn,a (x), g(x) = 0 e g(a) =
(x − a)n+1 .

Substituindo na equação anterior

f (n+1) (t)
0 − Rn,a (x) (x − t)n
= n!
0 − (x − a)n+1 (n + 1)(x − t)n

f (n+1) (t)
Rn,a (x) (x − t)n
= n!
(x − a)n+1 (n + 1)(x − t)n

Rn,a (x) f (n+1) (t)(x − t)n 1


n+1
= .
(x − a) n! (x + 1)(x − t)n

Rn,a (x) f (n+1) (t) f (n+1) (t)


n+1
= =
(x − a) n!(n + 1) (n + 1)!

Então,
f (n+1) (t)
Rn,a (x) = (x − a)n+1 .
(n + 1)!

2.4 Outros Exemplos


Exemplo 4. Dada a função g(x) = log(x), com x > 0, encontrar o Polinômio
de Taylor de g de grau n centrado em a = 1.
f (1) = 0
1
f (1) (x) = −→ f (1) (1) = 1
x
1
f (2) (x) = − 2 −→ f (2) (1) = −1
x
2
f (3) (x) = 3 −→ f (3) (1) = 2
x
CAPÍTULO 2. APROXIMAÇÃO POR FUNÇÕES POLINOMIAIS 34

6
f (4) (x) = − 4 −→ f (4) (1) = −6
x
Logo,

(−1)n−1 .(n − 1)!


f (k) (x) = , ∀n≥1
xn

O Polinômio de Taylor Pn,1 para a função log(x) no ponto a = 1 é

(x − 1)2 (x − 1)3 (−1)n−1 (x − 1)n


Pn,1 (x) = (x − 1) − + + ... + .
2 3 n
Exemplo 5. Para a função sen(x), com a = 0, sabemos que seu Polinômio de
Taylor de grau P2n+1,0 é:

· 2n+1 ¸ Z x
x3 x5 n x sen(2n+2) (t)
P2n+1,0 (x) = x− + −...+(−1) + (x−t)2n+1 dt
3! 5! 2n + 1! 0 (2n + 1)!
Iremos estimar o valor da integral acima, uma vez que é bastante compli-
cado resolvê-la. Estimar este valor é fácil e ao mesmo tempo teremos uma boa
aproximação para o valor desta função.

Por ser |sen(2n+2) (t)| ≤ 1, ∀ t, teremos

¯Z x ¯ ¯Z x ¯
¯ sen(2n+2) (t) ¯ 1 ¯ ¯
¯ (x − t)2n+1 dt¯¯ ≤ ¯ (x − t)2n+1 ¯
dt
¯ (2n + 1)! ¯
(2n + 1)! 0 ¯
0
Então,
Z x · ¸
2n+1 (x − t)2n+2 (x − x)2n+2 (x − 0)2n+2
(x − t) dt = − =− − − =
Z x 0 2n + 2 2n + 2 2n + 2
2n+2
x
(x − t)2n+1 dt =
0 2n + 2
Logo,
¯Z x ¯
¯ sen(2n+2) (t) ¯ 1 |x|2n+2 |x|2n+2
¯ (x − t)2n+1 ¯
dt ≤ =
¯ (2n + 1)! ¯ (2n + 1)! 2n + 2 (2n + 2)!
0

Se quisermos calcular sen2 com um erro menor que 10−4 , temos que
sen2 = P2n+1,0 (2) + R,
22n+2
onde |R| ≤ . Assim, utilizamos P2n+1,0 (2) como solução sempre que
(2n + 2)!
22n+2
< 10−4
(2n + 2)!
CAPÍTULO 2. APROXIMAÇÃO POR FUNÇÕES POLINOMIAIS 35

Logo, quando n = 5, obtemos o resultado procurado, pois

23 25 27 29 211
sen2 = P11,0 (2) + R = 2 − + − + − + R onde |R| < 10−4 .
3! 5! 7! 9! 11!
211
Veja que |R| = < 10−4 , ou 0, 00004 < 0, 0001.
11!
Logo, com esta tolerância temos que sen2 = 0, 909296136.
A figura a seguir mostra o gráfico da função sen(x) bem como o gráfico de
seu Polinômio de Taylor de grau 11.

y 4

0
-8 -4 0 4 8
x

-4

-8

Seno
Polinomio de Taylor

Exemplo 6. Seja a função f (x) = cox(x). Iremos encontrar o Polinômio de


Taylor Pn,a (x) de grau 2n no ponto a = 0.

cos(0) = 1
cos(1) (0) = −sen(0) = 0
cos(2) (0) = −cos(0) = −1
cos(3) (0) = sen(0) = 0
cos(4) (0) = cos(0) = 1
As derivadas se repetem em ciclo de 4. Então os números

cos(k) (0)
ak =
k!
serão
CAPÍTULO 2. APROXIMAÇÃO POR FUNÇÕES POLINOMIAIS 36

1 1 1
a0 = 1, a1 = 0 a2 = − , a3 = 0, a4 = , a5 = 0, a6 = − , a7 = 0, ...
2! 4! 6!
O Polinômio de Taylor P2n,0 de grau 2n para a função cos(x) no ponto a = 0
é:

(x − 0)2 (x − 0)3 (x − 0)4 (x − 0)5


P2n,0 = 1 + 0(x − 0) − 1 + 0. +1 +0 −
2! Z 3!x 4! 5!
6 7 2n (2n+1)
(x − 0) (x − 0) (x) cos (t)
1 +0 + ... + (−1)n + (x − t)2n dt
6! 7! 2n! 0 (2n)!
Z x
x2 x4 x6 nx
2n
cos(2n+1) (t)
P2n,0 (x) = 1 − + − + ... + (−1) + (x − t)2n dt
2! 4! 6! 2n! 0 (2n)!
Iremos estimar o valor da integral acima, uma vez que é bastante compli-
cado resolvê-la. Estimar este valor é fácil e teremos uma boa aproximação para
o valor da função cox(x).
Por ser |cos(2n+1) (t)| ≤ 1, ∀ t, teremos
¯Z x ¯ ¯Z ¯
¯
¯ cos(2n+1) (t) 2n ¯
¯ 1 ¯¯ x 2n ¯
¯ x2n+1
¯ (x − t) dt¯ ≤ ¯ (x − t) dt ¯ ≤ .
0 (2n)! (2n)! 0 (2n + 1)!

Se quisermos calcular cos1 com um erro menor que 10−5 , temos que cos1 =
12n+2
P2n,0 (1) + R, onde |R| ≤ . Assim, utilizamos P2n,0 (2) como solução
(2n + 2)!
sempre que
1
< 10−5 .
(2n)!

1
Logo, quando n = 5, obtemos o resultado procurado, pois < 10−5 .
10!

12 14 16 18 110
cos1 = P10,0 (1) + R = 1 − + − + − + R onde |R| < 10−5 .
2! 4! 6! 8! 10!

Assim, com esta tolerância temos que cos1 = 0, 540302304.


A próxima figura mostra o gráfico da função cos(x) bem como o gráfico de
seu respectivo Polinômio de Taylor de Grau 11.
CAPÍTULO 2. APROXIMAÇÃO POR FUNÇÕES POLINOMIAIS 37

y 4

0
-8 -4 0 4 8
x
-4

-8

Cosseno

Polinomio de Taylor
38

Capı́tulo 3

Aplicações

3.1 Critérios de Máximo e Mı́nimo Locais para


Pontos Crı́ticos Degenerados
Definição 19. Seja f : [a, x] → R uma função n−vezes diferenciável. x ∈ (a, b)
é ponto crı́tico degenerado de ordem k se f 0 (x) = f 00 (x) = ... = f (k) (x) = 0 e
f (k+1) (x) 6= 0
Como aplicação do Teorema 11, daremos um critério para decidir se um
certo ponto crı́tico degenerado é máximo ou mı́nimo local, ou ponto de inflexão.

Teorema 16. Seja f : R → R uma função n-vezes diferenciável no ponto x = a,


e este é um ponto crı́tico degenerado de ordem n.
Então uma das seguintes propriedades é válida:

1. Se n é par e f (n) (a) > 0, então f tem um ponto de mı́nimo local em a.

2. Se n é par e f (n) (a) < 0, então f tem um ponto de máximo local em a.

3. Se n é ı́mpar, então f não é ponto de máximo nem de mı́nimo local em


x = a. Neste caso, x = a é chamado de ponto de inflexão.
Prova:
Se consideramos a função g(x) = f (x) − f (a), notamos que g(a) = 0 e
g k (a) = f k (a) ∀ k. Sendo g uma translação vertical de f , a natureza de ser
máximo local ou mı́nimo local de um implica o mesmo para o outro. Assim,
sem perda de generalidade, podemos supor que f (a) = 0.
Como as primeiras (n−1) derivadas de f no ponto x = a valem 0, o Polinômio
de Taylor Pn,a (x) de f é:

f (n) (a)
Pn,a (x) = (x − a)n .
n!
CAPÍTULO 3. APLICAÇÕES 39

Do Teorema 11 temos que

f (n) (a)
f (x) − Pn,a (x) f (x) − (x − a)n
0 = lim = lim n! .
x→a (x − a)n x→a (x − a)n

Simplificando, temos que

· ¸
f (x) f (n) (a)
lim − = 0.
x→a (x − a)n n!

Logo,

f (x) f (n) (a)


lim = . (3.1)
x→a (x − a)n n!

Caso 1: Se n é par e f n (a) > 0.


µ ¶
1 f (n) (a)
De (3.1) e da definição de limite, dado ² = > 0, ∃ δ > 0 tal
2 n!
que se 0 < |x − a| < δ, então

f (x) f (n) (a) f (n) (a) f (x) f (n) (a)


−² < n
− < ² =⇒ −²< n
<²+ .
(x − a) n! n! (x − a) n!

µ ¶
1 f (n) (a)
Como ² = , então
2 n!
µ (n) ¶ µ ¶
1 f (a) f (x) 3 f (n) (a)
0< < < . (3.2)
2 n! (x − a)n 2 n!

Sendo n par, (x − a)n > 0 ∀ x 6= a, então de (3.2) temos ∀ x 6= a com


a − δ < x < a + δ implica que

f (x) > 0 = f (a).


Em conseqüência, f tem um mı́nimo local no ponto x = a. Veja a figura 10.
Caso 2: Se n é par e f n (a) < 0.
µ ¶
1 f (n) (a)
De modo semelhante ao caso 1, basta tomar ² = − > 0 para obter
2 n!
CAPÍTULO 3. APLICAÇÕES 40

Figura 10

µ ¶ µ ¶
3 f (n) (a) f (x) 1 f (n) (a)
< < < 0. (3.3)
2 n! (x − a)n 2 n!

Como n é par, (x − a)n > 0 ∀ x ∈ (a − δ, a + δ), com x 6= a. Logo, isto


implica que
f (x) < 0 = f (a).
Em conseqüência, f tem um máximo local no ponto x = a, veja figura a
seguir.

Figura 11

Caso 3: Se n é ı́mpar.
CAPÍTULO 3. APLICAÇÕES 41

3.1) Se f (n) (a) > 0, usamos (3.2):


µ ¶ µ ¶
1 f (n) (a) f (x) 3 f (n) (a)
0< < < .
2 n! (x − a)n 2 n!

Se x > a, temos que (x − a)n > 0, então f (x) > 0. Se x < a, temos que
(x − a)n < 0, então f (x) < 0. Logo, f tem um ponto de inflexão em x = a (ver
figura 12).

Figura 12

3.2) Se f (n) (a) < 0, usamos (3.3):


µ ¶ µ ¶
3 f (n) (a) f (x) 1 f (n) (a)
< < < 0.
2 n! (x − a)n 2 n!
Se x > a, temos que (x − a)n > 0, então f (x) < 0. Se x < a, (x − a)n < 0,
então f (x) < 0. Novamente f tem um ponto de inflexão em x = a (ver figura
13).

3.2 “e”é irracional


Para a função ex centrado em a = 0, sabemos do exemplo 2 que seu Po-
linômio de Taylor Pn,0 com resto integral é:
Z x t
x2 x3 x4 xn e
Pn,0 (x) = 1 + x + + + + ... + + (x − t)n dt
2! 3! 4! n! 0 n!

Para um resultado melhor, iremos supor que x ≥ 0 (estimar para x ≤ 0


é análogo). Sobre o intervalo [a, x], o valor máximo de et é ex , pois a função
CAPÍTULO 3. APLICAÇÕES 42

Figura 13

exponencial é crecente, de modo que


Z x t Z
e ex x ex xn+1
R= (x − t)n dt ≤ (x − t)n dt = .
0 n! n! 0 (n + 1)!

Como e é aproximadamente 2, 718..., temos então que

ex xn+1 3x xn+1
<
(n + 1)! (n + 1)!
Temos que

ex < 3x
ex < exln3
x < xln3
1 < ln3

Se x > 0, e < 3.

Se 0 ≤ x ≤ 1, então

x2 xn 3
ex = 1 + x + + ... + + R, onde 0 < R < .
2! n! (n + 1)!

Se quisermos estimar o valor de e com um erro menor que 10−5 , temos que
1 1
e = e1 = 1 + 1 + + ... + +R
2! n!
CAPÍTULO 3. APLICAÇÕES 43

3
onde |R| ≤ .
(n + 1)!
Assim, basta exigir que:
3
< 10−5 .
(n + 1)!
3
Notemos que quando n = 7 temos > 10−5 , o que não nos atenderá.
(n + 1)!
3
Porém quando n = 8 temos < 10−5 . Assim então, temos que
(n + 1)!
1 1 1 1 1 1 1
e = 1 + 1 + + + + + + + + R,
2! 3! 4! 5! 6! 7! 8!

onde |R| ≤ 10−5 .


Logo, com esta tolerância temos que e = 2, 718278770.
A figura abaixo mostra o gráfico da função ex bem como o gráfico de seu
Polinômio de Taylor de grau 8.

20

y 15

10

0
-4 -2 0 2 4 6 8 10
x

Exponencial

Polinomio de Taylor

Teorema 17. e é irracional


Prova:
Sabemos que, para todo n,
CAPÍTULO 3. APLICAÇÕES 44

1 1 1 3
e = e1 = 1 + + + ... + + Rn onde 0 < Rn <
1! 2! n! (n + 1)!
a
Suponha que e seja racional, isto é, e = , onde a e b são números inteiros
b
positivos. Seja n inteiro tal que n > b ≥ 2.
a 1 1
= 1 + 1 + + ... + + Rn .
b 2! n!
Se multiplicarmos ambos os lados por n!, temos
n!a n! n!
= n! + n! + + ... + + n!Rn .
b 2! n!
Veja que todos os termos diferentes de n!Rn são inteiros (o primeiro termo
é inteiro pois n > b). Assim n!Rn é inteiro. Mas
3
0 < Rn < ,
(n + 1)!
de modo que para n > 3,
3 3
0 < n!Rn < < <1
n+1 4
Isto é uma contradição, logo e é irracional.
45

Referências Bibliográficas

[1] M. Spivak. Calculus. Calculo Infinitesimal, (1977).


[2] W. Maurer. Curso de Cálculo Diferencial e Integral., (1967).
[3] C. Boyer. História da Matemática., (1974).
[4] A. Santos, W. Bianchini. Aprendendo Cálculo com o MAPLE:
Cálculo de uma variável., (2002).
[5] R. Courant. Cálculo Diferencial e Integral., (1952).

Você também pode gostar