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Detecção de Lípidos em sementes de Cicer arietinum utilizando a Técnica Histológica Normal com

Negro de Sudão B

Faculdade de Ciências e Tecnologias da Universidade de


Coimbra

Métodos e Técnicas
em Citologia e Fisiologia

Detecção de Lípidos em sementes de


Cicer arietinum utilizando a Técnica
Histológica Normal com Negro de Sudão
B

Grupo P3L1:
Ana Cláudia da Costa Pires
Ana Rita Gonçalves Graça
Daniela Isabel Paiva de Oliveira

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Detecção de Lípidos em sementes de Cicer arietinum utilizando a Técnica Histológica Normal com
Negro de Sudão B

Coimbra, 22 de Janeiro de 2008

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Detecção de Lípidos em sementes de Cicer arietinum utilizando a Técnica Histológica Normal com
Negro de Sudão B

ÍNDICE

1. Introdução pp.3

pp.

2. Materiais e Métodos pp.9

2.1. Material pp.9

2.2. Métodos pp.9

2.2.1. Fixação pp.10

2.2.2. Desidratação pp.10

2.2.3. Impregnação e Inclusão pp.11

2.2.4. Microtomia pp.12

2.2.5. Coloração pp.13

2.2.6. Finalização pp.14

3. Resultados pp.15

4. Discussão e Conclusão pp.17

5. Bibliografia pp.18

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Detecção de Lípidos em sementes de Cicer arietinum utilizando a Técnica Histológica Normal com
Negro de Sudão B

1. INTRODUÇÃO

A realização deste trabalho teve como objectivo observar lípidos presentes nos
tecidos vegetais de grão-de-bico, com o auxílio do corante Negro Sudão B.
A planta em estudo pertence à classe Magnoliopsida, ordem das Fabales, família
Fabaceae ou Leguminosae. Esta família é muito variada no que toca a tipos de plantas e
aos seus habitats. Os Fabaceae têm uma maior distribuição nas zonas tropicais,
subtropicais e temperadas, e revestem-se de grande importância económica e alimentar
para o Homem, servindo como matéria-prima para rações animais, medicamentos,
fertilizantes e mesmo corantes, só para enumerar algumas das opções possíveis.
As flores desta família possuem 5 pétalas, que se arranjam dando a ideia da forma
de uma borboleta. Os legumes da Fabaceae adquirem várias formas e aspectos, variando
entre secos ou carnudos, inchados ou comprimidos, esverdeados ou de cores claras, e de
alguns milímetros a 30 centímetros ou mais. As sementes, normalmente, possuem uma
capa dura (Heywood, 1993).
O grão-de-bico é uma leguminosa produzida pela planta
Cicer arientinum, cujo cultivo é feito sobretudo na região do
Mediterrâneo, Médio Oriente e Índia. Cultivados no Egipto e
na Índia e posteriormente na civilização grega, hoje em dia são
exportados em todas as costas mediterrâneas (Bianchini, 1974).
Existem três variedades principais: o deshi, que tem um
tamanho mais reduzido e coloração amarela ou negra; o kabul
ou kabuli, que tem um tamanho médio ou grande e coloração
Figura 1: Planta Cicer arietinum. 1
clara; e por último, o gulabi, que tem um tamanho pequeno,
textura lisa e coloração clara. 3
O grão-de-bico precisa de um período de 4 a 6
meses em condições apropriadas (ambiente seco e
morno) para se desenvolver bem. Esta planta possui
flores pequenas, violetas ou brancas, solitárias ou em
pequenos agregados, irregulares e bissexuais que

Figura 2: Grãos castanhos e verdes desenvolvem uma bainha. No interior destas bainhas
de Cicer arietinum. 2 encontram-se 2 a 3 grãos no máximo. Os grãos de cor
castanho-claro (ou também verde) são arredondados, tendo uma pequena “espora”. A

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sua periodicidade é anual. Trata-se de uma planta herbácea, que mede entre 20 a 50 cm
de altura. A farinha de grão-de-bico é muito usada em cozinha vegan (Huxley, 1992).
O grão-de-bico é uma excelente fonte de hidratos de carbono, sendo o amido o mais
abundante. Além disso, tem um importante teor de proteínas de origem vegetal. Tem
um baixo teor de lípidos, sendo predominantemente monoinsaturados. Destaca-se
também o conteúdo em fibra alimentar. Relativamente às vitaminas, é relevante o valor
em folatos e vitamina B1. Quanto aos minerais, o grão-de-bico apresenta valores
consideráveis de ferro, fósforo e potássio.
Apesar de existirem outras formas de preparação culinária, na gastronomia
Portuguesa o grão-de-bico é consumido preferencialmente como leguminosa seca, que é
rehidratada e cozida.3

Assim, faremos agora uma abordagem aos lípidos, objectivo de estudo do nosso
trabalho.
Os lípidos são biomoléculas orgânicas constituídas basicamente por carbono e
hidrogénio, podendo também conter oxigénio, fósforo e azoto, porém em baixas
percentagens. Caracterizam-se por possuírem na sua estrutura molecular ácidos gordos
com, pelo menos, 8 átomos de carbono.
Estas biomoléculas formam um grupo de compostos que é caracterizado por serem
insolúveis em água mas muito solúveis em solventes orgânicos, como o éter, o álcool, a
acetona, o sulfureto de carbono e o tetracloreto de carbono. Esta propriedade geral dos
lípidos e compostos relacionados deve-se ao predomínio de longas cadeias
hidrocarbonatadas alifáticas ou anéis benzénicos.
A maioria dos lípidos apresenta a mesma estrutura básica, isto é, a sua grande
maioria são esteres de glicerol (1, 2, 3 – propanotriol) com longas cadeias de ácidos
carboxílicos, R-COOH. Todas as moléculas de glicerol possuem três grupos funcionais
álcool, pelo que três moléculas de ácido carboxílico podem, eventualmente, estabelecer
ligações éster com cada uma das moléculas de glicerol. Nesse caso dizemos que há
formação de triesteres, também denominado por triglicéridos (Lehninger & al., 2000).
Os lípidos distinguem-se entre simples e complexos. Os lípidos simples são os que
por hidrólise originam um álcool e um ou mais ácidos gordos. As ceras e as gorduras
são lípidos simples. Os lípidos complexos, quando hidrolisados, libertam um álcool,
ácidos gordos e ácido fosfórico, entre outros. Os lípidos complexos mais conhecidos são

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os fosfolípidos. Certos investigadores afirmam a existência de uma outra divisão: os


lípidos derivados. Constituintes deste grupo são os ácidos gordos, álcoois gordos,
vitaminas lipossolúveis e hidrocarbonetos (Campos, 1982).
Os lípidos, também designados por gorduras, são muito importantes no que toca a
armazenar gordura nos seres vivos e, em pequenas quantidades, são fundamentais na
manutenção e crescimento de todos os seres humanos.
Estas substância químicas tornam os alimentos mais saborosos e saciantes. Assim,
após a ingestão pelo ser humano, elas são decompostas de modo a obter energia. Porém,
se forem mais que suficientes, o organismo sintetiza-os em lípidos humanos e acumula-
os em células adiposas sob a forma de reservas de energia. Este sistema não é benéfico
visto que pode causar graves problemas de saúde. Muitos médicos acreditam que a
acumulação de alguns lípidos é mais prejudicial do que a de outros. Os lípidos saturados
possuem menos ligações duplas que os insaturados. Quanto mais saturados forem os
lípidos, maior é a tendência para provocar a obstrução de vasos sanguíneos e provocar
doenças cardíacas. Sendo assim, uma dieta rica em lípidos polinsaturados, segundo os
médicos, é muito mais saudável.
A natureza dos ácidos gordos presentes nos lípidos determina as propriedades e o
estado físico dos mesmos. Num lípido, as proporções em que cada ácido existe é
variável.
Como já foi dito, os lípidos podem ser dissociados por hidrólise, a qual é
normalmente desenvolvida aquecendo o lípido com hidróxido de sódio. Por hidrólise
obtemos, por exemplo, os sabões. Estes são sais de sódio ou potássio de ácidos gordos,
obtidos a partir do aquecimento de lípidos com hidróxido de sódio ou de potássio.
Os lípidos desempenham várias funções biológicas importantes nos organismos
vivos, nomeadamente:
- Armazenamento e transporte de energia,
- Formação de membranas celulares,
- Manutenção da integridade estrutural das membranas celulares,
- Fornecimento de ácidos gordos essenciais para as estruturas celulares,
- Transporte de vitaminas lipo-solúveis
- Mensageiros (hormonas).

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Para podermos observar os lípidos tivemos que utilizar o chamado método


histológico normal, que será agora resumido.
Este método contém as seguintes etapas: fixação, lavagem em água/tampão,
desidratação, pré-impregnação num agente intermediário, impregnação, microtomia e
por fim a coloração/contrastação.
A primeira etapa, a fixação, tem como objectivo principal preservar os
componentes celulares para que estes se mantenham semelhantes o mais possível ao seu
estado vivo. Assim, é necessário evitar a autólise da célula. Outro objectivo principal é
também endurecer as amostras para que elas possam ser usadas nas etapas seguintes do
processo. Por ultimo, a fixação é muito importante no que toca a aumentar a afinidade
das estruturas celulares para os corantes citológicos. Há dois tipos de fixação: a química
e a física. A fixação química recorre a fixadores simples ou misturas fixadoras, que
variam consoante o estudo que se quer fazer e o microscópio que se vai utilizar. Este
tipo de fixação induz artefactos, logo, surgiu um novo tipo de fixação. A fixação física
pode ser feita pelo calor, sendo esta fixação mais usada em bacteriologia e em
hematologia, ou pelo frio - criofixação. Esta última, apesar de ser mais dispendiosa, é
muito boa pois induz menos alterações nas células e evita a formação de gelo cristalino.
Este provoca um aumento de volume nas células, deformando as estruturas.
Assim, é necessário que a criofixação seja rápida, para que não haja formação de
cristais de gelo, e que as temperaturas sejam muito baixas, para que haja a formação de
gelo amorfo, visto que este não deforma as células. Devem ser usadas amostras de
pequeno tamanho para que o congelamento seja fulminante. Como a água nas zonas
intracelulares não tem solutos dissolvidos, congela mais rapidamente que a água das
células. Os criofixadores impedem a formação de gelo nas zonas intracelulares,
possibilitando assim a fulminação. A fixação do material pode ser feita por imersão, por
disparos de jactos de água de criogénio para o material biológico, ou então pode ser
uma fixação indirecta, onde suportes de metal são arrefecidos pelo criogénio e o
material é colocado por cima.
Depois desta primeira etapa concluída, é necessário que sejam removidos os
excessos de fixador. Para isso usam-se tampões. Estes tampões são soluções aquosas
que contêm vários sais, e têm que possuir, mais ou menos, as mesmas características da
célula, caso contrário haveriam alterações estruturais nesta. Os tampões mais usados são
o fosfato e o cacodilato de sódio.

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A próxima etapa, a desidratação, é usada porque o material de impregnação que a


seguir vai ser utilizado não é solúvel em água, e quando é usado o microscópio
electrónico de transmissão (TEM) a água não pode entrar dentro da coluna. Pode
remover-se a água usando duas técnicas: sucessivas imersões em álcool etílico (etanol)
ou acetona, em séries crescentes, ou então usando uma criotécnica em que a
desidratação se faz pelo frio. Este último caso pode ser efectuado de duas formas: pela
crio-dessecação ou pela crio-substituição. A crio-dessecação é complementar à
criofixação. Aqui, o material é passado de um criofixador, que se encontra a -180˚, para
um crio-dessecador, que se encontra a -170˚, forma-se um vácuo, o gelo amorfo é
captado e fixado pelo pentóxido de sódio, sublimando instantaneamente. A crio-
substituição é mais demorada. O material sai do criogénio e vai para um crio-
substituidor, onde se encontra acetona anidra, que não tem água, e fica a temperaturas
também baixas (cerca de -80˚). Assim, o gelo amorfo é substituído muito lentamente
por esta acetona.
Este processo pode demorar dias.
Segue-se, então, a inclusão do material biológico num material duro, não
biológico, normalmente parafina, para que se possam fazer cortes finos. A este processo
dá-se o nome de impregnação. A parafina é considerada um bom meio de inclusão, e o
seu ponto de fusão varia entre 56 e 58 ˚C. Mas a parafina não é solúvel no etanol, e
vice-versa, logo, desidratamos o material através de séries de etanol e Isoparafina H.
Esta é um agente pré-impregnante para a parafina, pois tanto é solúvel nesta como em
etanol. Outros exemplos de agentes pré-impregnantes para a parafina são o Toluol,
Xilol e o Clorofórmio (que não são tão utilizados visto serem mais tóxicos).
Na impregnação, colocámos o material biológico a analisar num molde metálico e
ocupamos o espaço restante do molde com parafina. Os moldes com esta preparação
foram ao frigorífico durante quinze minutos.
Depois de prontos, a parafina, no seu
estado sólido, com o material biológico, foram
retirados do molde e iniciou-se a fase da
microtomia. Esta etapa consiste na obtenção de
ténias (cortes finos, com espessura que pode
variar entre 5 a 20 µm) de material biológico
incluído na parafina, para posterior observação. Figura 3: Obtenção de ténias num micrótomo
tipo Minot. 4

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Usando o micrótomo tipo Minot, colocamos a pirâmide de parafina na estrutura de


suporte e orientação desta, e dando à manivela, e com a estrutura de suporte da lâmina
no local correcto, a pirâmide de parafina sobe e desce, aproximando-se da lâmina e
fazendo os cortes na parafina, originando as ténias. Estas serão recolhidas com a ajuda
de um pincel e colocadas numa base segura, que posteriormente terá de ir para uma
estufa.
Antes de se poder passar à coloração dos cortes, tem que haver uma hidratação do
material biológico. Isto consegue-se com séries decrescentes de Isoparafina H e de
etanol. Para finalizar este processo, é necessário que as preparações estejam submersas
em água corrente.
Concluída a hidratação, passamos assim à coloração. Os corantes possuem dois
constituintes que os caracterizam e diferem uns dos outros: o cromóforo, responsável
pela cor e o auxocrómo, responsável pela afinidade do corante ao material celular. No
entanto, há um outro tipo de corantes, que não possuem auxocrómos, e que são
designados por lisocromos. Estes são lipo-solúveis, ou seja, dissolvem-se nas gorduras,
corando-as. No caso do nosso trabalho, foi usado o Negro Sudão B, que é um lisocromo
que cora os lípidos de uma cor negra ou azul escura.
Para que a coloração ficasse concluída foi necessário mergulhar as preparações
numa série crescente de etanol, seguindo depois para a estufa, onde permaneceram até
ficarem prontas para serem montadas em DPX. Esta montagem é importante porque só
assim somos capazes de as observar ao microscópio óptico (Dinis & al., 2006).
De seguida relatamos em pormenor os métodos e técnicas utilizados nesta
experiência.

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2. MATERIAL E MÉTODOS

2.1. Material
2.1.1. Material vegetal
Cicer arietinum (semente de grão-de-bico)
2.1.2. Material de laboratório
• Lamparina com álcool
• Pinça
• Bisturi
• Micrótomo
• Molde de plástico
2.1.2.1. Material de vidro
• Conta-gotas
• Tina com ranhuras (2x, uma com parafina e outra com água)
• Lâminas
• Lamelas
2.1.2.2. Reagentes
• Parafina
• Isoparafina H
• Água/ água destilada
• Corante Negro de Sudão B
• Etanol
• DPX

2.2. Métodos
Para se conseguirem observar células mortas num estado de preservação idêntico
ao das células no seu “estado vivo” teremos de as tratar convenientemente. Para isso
usaremos reagentes químicos e/ou colocaremos a célula em condições adversas o que
pode provocar alterações a nível estrutural e da composição química das estruturas
celulares, por isso deve-se evitar o mais possível que estas alterações sejam detectadas
no tipo de microscópio que se pretende utilizar.

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As etapas deste tratamento são denominadas por técnica histológica normal e são
sempre as mesmas quer se use o MO (microscópio óptico) quer se use o TEM
(microscópio de transmissão electrónica).

2.2.1. Fixação
A fixação citológica tem como objectivo matar as células, mas de uma maneira a
que estas consigam conservar a sua estrutura e composição química a mais idêntica
possível às células no estado vivo.
A fixação pode ser realizada usando substâncias químicas, que se designam
fixadores simples ou misturas fixadoras, neste caso trata-se de uma fixação química. Se
a fixação for realizada por processos físicos como a criofixação, então é denominada
por fixação física.
Neste trabalho o grão-de-bico (Cicer arietinum) foi fixado por uma mistura
fixadora, a formalina aceto álcool (FAA), composta por 18 partes de etanol a 50%, por
ácido acético glacial e formol comercial. O grão-de-bico sofreu uma fixação química.

2.2.1.1. Lavagem do material após fixação


Este passo é realizado para remover o excesso de fixador que se mantém na célula
após a fixação.
São usadas, na generalidade, soluções tamponadas tendo um valor de pH próximo
da neutralidade, esta é uma condição importante porque vai simular as condições
naturais da célula, evitando assim mais alterações. O tampão fosfato é o mais usado
nestas situações.

2.2.2. Desidratação
A desidratação permite a remoção da água através de sucessivas imersões do
material em álcool etílico (etanol) ou acetona, efectuando-se séries crescentes. Realiza-
se de forma gradual para que as estruturas celulares não sofram modificações drásticas.
• 10 a 30 minutos em Etanol a 70%
• 10 a 30 minutos em Etanol a 80%
• 10 a 30 minutos em Etanol a 90%
• 45 min a 1 hora em Etanol a 95%, por 2 vezes
• 1 hora em Etanol puro, por 2 vezes

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2.2.3. Impregnação e Inclusão


Inclusão do material duro (parafina) que permite obter cortes finos em
microtomia.

2.2.3.1. Pré-impregnação
Este passo é realizado quando o meio de inclusão não é solúvel no agente
desidratante.
Neste trabalho esta situação ocorreu uma vez que o etanol e a parafina não são
solúveis um no outro. Para resolver o problema colocado teremos de encontrar uma
substância pré-impregnante que faça uma ligação entre os outros dois componentes
(etanol e parafina).
Sendo o meio de inclusão a parafina usaremos como agente pré-impregnante a
isoparafina H.
No nosso trabalho os passos realizados foram os seguintes:
• O material foi colocado numa solução que continha 2/3 de etanol e 1/3 de
isoparafina H, manteve-se durante algumas horas nesta solução
• Passou-se para outra solução com 50% de etanol e 50% de isoparafina H,
manteve-se durante algumas horas nesta solução
• Colocou-se noutra solução com 1/3 de etanol e 2/3 de isoparafina H, manteve-se
durante algumas horas nesta solução
• O material foi colocado, ainda, numa solução com isoparafina H pura durante
algumas horas
• Adicionou-se pedaços de parafina ao agente pré-impregnante (isoparafina H) até
se atingir a saturação

2.2.3.2. Impregnação
• Material é submetido a passagens sucessivas por parafina fundida
• Coloca-se o material num molde de plástico, facilita a inclusão do material em
parafina, e o espaço restante é preenchido pela parafina fundida, esta acção é efectuada
sobre uma lâmina de vidro
• Colocam-se os blocos de parafina realizados na estufa entre os 60 a 70ºC,
durante aproximadamente 48h

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2.2.4. Microtomia
A microtomia consiste na obtenção de cortes realizados em aparelhos especiais,
designados micrótomos.
Neste trabalho realizam os cortes num micrótomo do tipo Minot, que permite a
obtenção de cortes com uma espessura superior a 1 µm, os cortes finos, estes cortes são
denominados por ténia.
O micrótomo do tipo Minot consta de uma lâmina fixa diante da qual roda o disco
que contem o bloco com o material incluído. Os cortes são feitos através da
movimentação de uma manivela lateral que faz deslocar a “pirâmide” da amostra para a
lâmina segundo uma determinada espessura.
Para obtermos as ténias realizámos os seguintes passos:
• Colocámos a “pirâmide” de parafina na estrutura de suporte e orientámo-la
numa posição o mais correcta possível, paralela à lâmina
• Fizemos movimentar a manivela de uma forma constante e precisa de modo
a obter boas ténias de material
• Foram colocadas na estufa
Depois de realizados os cortes, estes serão transferidos para lâminas de modo a
permitir uma posterior observação ao microscópio óptico. Seguimos os seguintes
passos:
• Colocámos uma gota de albumina glicerinada no centro da lâmina. Com o dedo
espalhámos uniformemente pela lâmina até sentir o dedo “preso”.
• Colocámos água destilada sobre a lâmina.
• Com a ajuda de um bisturi cortámos a “ténia” obtida no micrótomo.
• Com o auxílio de uma agulha transferimos os cortes para a lâmina com água. Os
cortes apresentam um lado brilhante e um lado baço. Na lâmina coloca-se a parte
brilhante voltada para baixo.
• Colocámos as lâminas numa placa de aquecimento para ser retirado o excesso
de água destilada.
• Retirámos o excesso de água com papel de filtro e reajustámos a posição dos
cortes com a ajuda de agulhas.
• Colocámos a lâmina novamente na placa de aquecimento até que a água
desaparece-se e os cortes ficassem colados à lâmina.
• Guardámos as lâminas na estufa a 25-30ºC.

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2.2.5. Coloração
Para se conseguir observar as diferentes estruturas que compõem os lípidos
teremos que corar as ténias efectuadas.
A coloração para microscopia óptica é feita com substâncias químicas designadas
corantes que podem ser naturais ou artificiais, básicos ou ácidos e ainda letais ou
“vitais”.
Um corante é composto por cromóforos e auxocrómos que lhes dão a
possibilidade de se ligar aos componentes celulares (auxocrómo) e de os corar
(cromóforo).

2.2.5.1. Hidratação do tecido


Para se puder proceder à coloração dos cortes, teremos que efectuar primeiro a
hidratação do tecido, seguindo estes passos:
• Desaparafinação: fusão da parafina á chama
• Lavagem com isoparafina H, com um conta-gotas
• Mergulhar as lâminas numa tina com ranhuras com isoparafina H (15 minutos)
• Passagens sucessivas por:
- Isoparafina H
- Isoparafina H + Etanol
- Etanol absoluto
- Etanol a 95%
- Etanol a 90%
- Etanol a 80%
- Etanol a 70%
• Lavar em água corrente durante 15 minutos

2.2.5.2. Preparação do corante Negro Sudão B


Para se preparar o corante junta-se 0,25g de Negro Sudão B em 100 mL de etanol a 70%.

2.2.5.3. Coloração com Negro Sudão B


A coloração nos lípidos é realizada pelos lisocromos que se dissolvem facilmente
nas gorduras. Estes são corantes que não contêm o grupo auxocrómo, por isso a sua

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acção colorante baseia-se na acção do grupo cromóforo, o grupo azo( -N Ξ N-), não são
considerados “verdadeiros” corantes.
Procedeu-se então á coloração do tecido com Negro Sudão B:
• Cobrir as lâminas com uma solução de Negro Sudão B durante 30
minutos
• Escorrer e lavar em etanol a 70% durante 5 minutos
• Lavar em água destilada
• Mergulhar as lâminas em:
- Etanol a 70%
- Etanol a 80%
- Etanol a 90%
- Etanol absoluto
• Secar na estufa a 30ºC e fazer a montagem em DPX

2.2.6. Finalização
Depois de coradas e montadas as amostras podem ser observadas ao microscópio
óptico, sendo depois tiradas as fotos para a realização do trabalho.

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3. RESULTADOS

Figura 5. Observação de células de sementes de Cicer arietinum coradas pelo


Negro Sudão B com ampliação 550x.

LEGENDA:
1 – Parede Celular
2 – Grão de amido
3 – Gotícula lipídica
4 – Citoplasma
5 – Espaço intercelular

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Figura 6. Observação de células de sementes de Cicer arietinum coradas pelo


Negro Sudão B com ampliação 144x.

LEGENDA:
1 – Parede Celular
2 – Cristais de impurezas
3 – Gotícula lipídica
4 – Citoplasma
5 – Espaço intercelular

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4. DISCUSSÃO E CONCLUSÃO

Muitas coisas não correram bem ao longo desta experiência. Por exemplo, as
ténias de material obtidas permaneceram tempo demais na estufa e a parafina acabou
por se derreter. Desta forma perdemos as ténias. Depois de solucionado este problema e
já com novas ténias procedemos à observação dos resultados, ou seja, fotografámos as
preparações. Mais uma vez algo correu mal e muitas das imagens captadas foram
perdidas. A certa altura tornou-se difícil perceber a que grupo pertencia cada fotografia.
Apesar de tudo, estes contratempos não foram impedimento para que a
experiência fosse levada até ao fim e com esforço e dedicação da nossa parte este
trabalho é agora um documento completo no que toca ao registo das técnicas levadas a
cabo, material utilizado e conclusões retiradas da observação do material em estudo.
No que toca a este último, temos a comentar que se tornou um pouco difícil
observar as gotas lipídicas nas amostras e fotografias tiradas apesar de tanto umas como
outras terem sido bem efectuadas e terem ficado bastante nítidas. Concordamos que o
baixo teor lipídico do Cicer arientinum não contribuiu em nada para a obtenção de
melhores resultados.
Ao longo da experiência e com o objectivo de melhorar a rapidez da experiência e
diminuir o risco para a saúde algumas alterações foram feitas, Por exemplo, substituiu-
se o Xilol, mais eficiente, pela Isoparafina H, menos tóxica e o Bálsamos de Canadá
pelo DPX. Este é um meio de montagem menos tóxico, mais transparente, menos
espesso, que seca em duas horas e pode ser removido.
Todas estas contrariedades dificultaram a experiência e o seu desenvolvimento
mas não foram impedimento suficiente para a sua conclusão. Assim, podemos afirmar
com toda a segurança que atingimos os objectivos a que nos propusemos, sendo o
principal a detecção de lípidos nas preparações de Cicer arientinum.

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5. BIBLIOGRAFIA

Bianchini, F; Carbetta, F. & Pistoia, M. 1974. Frutos de la tierra. Editorial Aedos,


Barcelon.

Campos, L. da S. 1982. Manual de Bioquímica. Publicações Europa-América, Portugal.

Dinis, M. D.; Tomé, M. C. & Gonçalves, M. T. (2006). Técnicas de preparação do


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Botânica, FCTUC, Coimbra.

Heywood, V. H. 1993. Flowering plants of the world. B. T. Batsford Ltd., London.

Huxley, A. 1992. Dictionary of Gardening (Vol. I). The MacMillan Press Limited,
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4
http://www.conganat.org/9congreso/trabajo.asp?id_trabajo=768&tipo=3

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