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"Depois de termos trabalhado durante anos juntos, por muitas horas ao dia, não são mais as
palavras, mas talvez só a minha presença que pode dizer alguma coisa". (Eugênio Barba)
Qual é o seu motor pessoal? Esta é uma pergunta essencial na experiência teatral de Eugênio
Barba. Ele diz que é esse motor pessoal que se tem de buscar por trás das ações e das escolhas
das pessoas de teatro. Esse motor pessoal é a "temperatura." Não adianta ter boa vontade, mas
carecer de fora motriz. Esse motor está em nosso interior. Não é uma idéia ou uma pessoa, mas
compromete cada um na sua totalidade, até as raízes mais profundas de si mesmo.
O treinamento é entendido como aprendizado e pesquisa. O corpo é o material desta pesquisa: "o
corpo é meu país". Como diz Barba: "o único lugar no qual eu sou sempre: não importa onde eu
vou, estou sempre em mim, sempre em meu país. Nunca estou no estrangeiro, nem no exílio,
quando não estou separado do meu corpo." Quando Barba diz corpo, está dizendo desta parte da
alma que pode ser percebida por nossos cinco sentidos, a respiração vital, o pneuma, o eu total,
os mistérios das potencialidades da vida que encarnamos.
Neste sentido, o treinamento é a procura desta cultural individual (no sentido de indivíduo e não
de individualismo) e única de "nosso país". E para isto é necessário tirar os condicionamentos e os
reflexos com os quais estamos acostumados e nos permitir descobrir nossas possibilidades. "O que
chamamos de espontaneidade não são mais que reflexos condicionados, reações que realizamos
sem nos darmos conta, automatismos que nos atam e dos quais não podemos nos livrar", diz
Barba.
1. 2.
A arte do ator é uma teia de extrema delicadeza e de corajosa ousadia. Um percurso ávido , tecido
pela paixão de conhecer o homem, o mundo, o cosmo, como uma necessidade implacável, apetite
de vida, rigor cósmico, criação contínua.
Uma difícil e prazerosa arte de inscrever, com verdade, no tempo e no espaço da representação,
os segredos da alma humana. Uma força criadora que apreende a interioridade ( as aspirações, os
fluxos secretos do desejo) e se inscreve na exterioridade.
Uma trajetória, na qual o importante não é o se assentar no que foi acumulado, não é o capitalizar
as habilidades técnicas e as teorias, nem passar por provas de genialidade e sim o enfrentar o
desafio diário em abraçar as suas precariedades, as suas contradições, os seus limites, tendo
como grande desafio, transformá - los em matéria expressiva, em algo ainda não nascido,
fazendo-o nascer. Uma arte em vida, dinâmica, em movimento, em ação, germinada por esse
desejo invencível do vir-a-ser. Uma representação habitada por marcas de sua própria história,
gravadas em sua memória, escrita em sua própria carne.
Um trabalho orgânico, onde o ator coloca a sua humanidade não de maneira desatinada e
descontrolada. Uma matemática criadora, embasada por uma técnica que garante qualidade,
rigor, precisão e que vai possibilitar ao ator locomover-se, construir - se e se tornar uma presença
ativa em cena, ou seja, o ator é ao mesmo tempo material e organizador de seu trabalho. Ele
deve ser um compositor a cada dia. Todos os dias ele esculpe e compõe a sua obra: ele mesmo,
obra viva do teatro. Todos os dias ele escreve uma poesia com o seu corpo.
Por isso, uma obra poética - porque capaz de nos enlevar para além de mundos conhecidos,
permitindo - nos entrar em contato com o nosso ser essencial. O teatro é a arte de reavivar
memórias, busca atingir o ser do homem, se comunica em um outro plano, diferente da realidade
cotidiana, superficial e inútil. Rompe a linguagem para tocar a vida. Transmite verdades que de
outro modo permaneceriam ocultas. Traduz o intraduzível. Torna visível o invisível Um ato
revelador que exige coragem e generosidade.
Eis a trajetória do processo de formação do ator. Uma prática sedimentar, com camadas de razão
e emoção, depuradas pela ação do tempo milenar, mostrando como a força de uma arte tão
antiga continua atual e múltipla, possibilitando o ato único de alta comunhão e celebração e "nos
imbuindo de um ardente e passageiro sabor de outro mundo, no qual nosso universo presente
esteja integrado e transformado", como diz Peter Brook.
Esta página, e também as outras páginas desta série, contêm algumas noções de
Teoria do Teatro para uma visão geral do trabalho de planejamento de uma
peça teatral. Acredito que essas noções poderão ser razoavelmente informativas
para o leitor em geral, e úteis ao Orientador Educacional que deseja tomar o
teatro por instrumento pedagógico, enquanto não encontrarem um bom livro ou
um Site na Internet com informações mais completas sobre o assunto.
O Teatro.
Existe grande polêmica sobre a definição de Teatro. Porém, uma página sobre
Teoria do Teatro deve começar – me parece –, pela definição do que o Teatro
é. Então, se partimos do fato irrecusável de que há uma história, escrita ou
memorizada, que dá origem ao drama a ser representado, então o drama está
subordinado a uma peça literária, por mais simples e rústica que esta seja. A
Arte Dramática, ou Arte do Teatro – que envolve a arte de bem representar, a
arte da iluminação, a arte da montagem do cenário, etc. –, é uma forma de
manifestação artística a serviço da Literatura, assim como também a própria
Arte do Livro – que envolve a arte da ilustração, a arte da impressão, a arte da
encadernação, etc.
Pode ser dito, então, que o teatro é uma forma de manifestação artística em
que uma história e seu contexto se fazem reais e verídicos pela montagem de
um cenário e a representação de atores em um palco, para um público de
espectadores.
Mas, o sucesso que teria esse tema já anteriormente muito explorado, não seria
devido apenas à simpatia e piedade das platéias para com os desvalidos, mas
porque havia uma solução para o conflito que envolvia uma outra disputa,
ainda mais séria e profunda, e assim fazia o drama duplamente apelativo e
interessante para a platéia. É que, desde o final da Revolução Francesa (o
período do Terror), se firmara uma corrente de pensamento adepta de
Rousseau, segundo a qual somente uma pequena minoria de luminares e de
hábeis e inteligentes políticos poderia por fim à injustiça social, e que esse fim
era o desejo de todos como uma “vontade geral” dos homens. Essa “vontade
geral” encarnada nessa minoria, era mais importante que a “vontade da
maioria” democrática. Em oposição a essa corrente, os constitucionalistas
acreditavam na democracia e no mercado livre, valorizando a consciência do
indivíduo como capaz de fazer voluntariamente sua parte pelo bem social. A
primeira considerava a sociedade suprema, e o individuo subserviente; cada
homem era suposto existir em benefício do mecanismo social do qual ele era
uma peça. A segunda considerava o indivíduo como capaz de construir uma
sociedade justa e democrática a partir do esforço pessoal de todos. O Drama
social está baseado simultaneamente no conflito entre o indivíduo e a
sociedade, e esta dividida na luta entre aquelas duas correntes de pensamento.
Esse novo filão temático garantiu o êxito não apenas na dramaturgia. Serviu
também com imenso sucesso ao cinema, à literatura popular, ao discurso
político, e inclusive a novas correntes religiosas, num tal paroxismo de fé que
dos filmes, dos livros e da dramaturgia saltou para as paradas, passeatas,
revoluções e praticamente toda forma de agitação do início do século XIX até o
seu ocaso, no fim do século XX. Com a progressiva diminuição do interesse
pelo Drama da injustiça social colocado nessas bases, a literatura e a
dramaturgia buscaram o enfoque de outras formas de opressão social
igualmente poderosas e trágicas, como o racismo, o preconceito contra
minorias, o tabu do sexo, a hipocrisia social, e outros..
A platéia. Em tese, a reação da platéia será a soma das reações individuais dos
espectadores. Mas existem certos comportamentos que são estimulados nas
pessoas quando elas fazem parte de uma multidão. Pessoas refinadas que estão
isoladas em meio a indivíduos mais simples e despreocupados podem perder
consciência de sua posição social e qualidades intelectuais e assumirem o
mesmo comportamento primitivo do grupo. O contrário infelizmente não
acontece, ou seja, aqueles menos educados inseridos em um grupo de pessoas
bem educadas e comedidas não se deixam intimidar, e primam por incomodar
com comentários jocosos, gargalhadas exageradas, etc. Uma platéia de jovens
pode mostrar esse mesmo fenômeno e acontecer que alguns precisem ser
advertidos ou retirados da platéia por uma autoridade. Um tema controverso,
uma história mal representada, atores que não convencem em seus papeis,
podem levar a platéia à agitação e desordem, o que será uma surpresa, quando
se espera que a boa intenção do autor seja recompensada com a aprovação e o
respeito da assistência. Mas um acompanhamento simultâneo de música, meio
escutada, meio imaginada, que conduz ao humor da peça, agora crescendo para
um climax, agora suavizando para a quietude, pode fazer muito para manter a
audiência sintonizada com o significado emocional da ação.
Lançada em 04-09-2006
Apesar de que a expressão CENÁRIO reúne tudo que diz respeito à ambientação de
uma peça, inclusive os efeitos cênicos obtidos com a utilização de sons naturais, de
música, iluminação, etc., a palavra, no seu uso mais comum, refere-se à imitação, no
palco, de ambientes internos como salas de estar, escritório, etc., ou externos como rua,
jardim, campos, e outros onde tem lugar a ação. Tais imitações são obtidas com a
utilização de painéis pintados, estruturas sólidas em madeira, móveis e objetos reais ou
fabricados pelos técnicos da cenografia. É importante o cenógrafo documentar o seu
trabalho fotografando os cenários que montou. Poderá acrescentar uma descrição do
cenário, materiais utilizados, etc. mediante a inserção de metadados nos arquivos das
fotos digitais.
Simplicidade. Esta é uma qualidade a que o teatro escolar precisa recorrer em razão da
limitação de recursos tanto financeiros como técnicos. O cenário de um escritório pode
ser criado utilizando-se apenas uma escrivaninha e um par de cadeiras, e o grau de
detalhamento aumentar com o acréscimo de estantes de livros, sofás, lâmpada de mesa,
tapete, telefone e fax, luminárias, cortinas nas janelas, etc. O grande detalhamento tem
seus problemas. Por exemplo, onde colocar todo o material de um cenário quando, na
passagem de um ato para outro, o cenário tem que ser mudado? Quanto tempo será
gasto nessa mudança, principalmente quando objetos muito pesados forem utilizados?
A mudança de cenário precisa ser rápida e é necessário ter um time de jovens treinados
para a operação de desmontar e remontar cenários com rapidez, sem fazer ruídos e sem
provocar acidentes. Este é um argumento em favor da simplicidade, pelo menos quando
o espetáculo não é conduzido em um grande teatro.
O elemento básico dos cenários mais baratos e fáceis de serem mudados e guardados
são os painéis de lonas pintadas esticadas em um bastidor de madeira. Costumam ser
excessivamente leves, mostrar pregas e ondulações, e estufarem com o pouco vento de
um ventilador; precisam estar firmemente fixados e a fixação de um painel leve pode ser
um problema até mais difícil de resolver que a construção da própria estrutura. Há dois
tipos de painéis. Um que é duplo e pode se sustentar se aberto com 90 graus, e o painel
inteiriço, que precisa ser fixado a algum ponto para ficar em posição. Podem ser usadas
também placas leves (eucatex, isopor, compensado fino, etc.), reforçadas com uma
esquadria de ripas grossas, cuja solidez permite a instalação de portas e janelas
verdadeiras. A pintura de um painel deve mostrar a perspectiva mais conveniente em
relação á platéia. Cenários externos como jardins, bosques, campo aberto, ou uma rua
podem ser pintados em um painel maior ou em uma lona suspensa e bem esticada.
É necessário manter à mão uma reserva dos materiais mais empregados nas montagens:
grampos, pregos, tinta spray, etc..para que o trabalho de montagem possa ser feito sem o
risco de atraso, tanto na fase de criação e fabricação dos objetos, como nas remontagens
entre um ato e outro, no decorrer da representação.
Uma página sobre como escrever um Roteiro de Teatro não basta para passar toda a
idéia do que é e do que requer essa tarefa.. É necessário que a pessoa tenha assistido a
um espetáculo teatral pelo menos uma vez, e que leia alguns roteiros, para que tenha a
noção completa do que é escrever uma peça, e sobretudo para compreender as
limitações a que o teatro está sujeito, se comparado a outros meios de produção artística
como a literatura e o cinema, e também o potencial dessa forma rica de expressão
artística..
As falas são alinhadas na margem esquerda da folha, e cada fala é antecedida pelo nome
do personagem que vai proferi-la. O nome do personagem é centralizado em letras
maiúsculas (caixa alta).
Um exemplo:
CENA I
ANINHA
DONA MAGNÓLIA:
Levanta-se do sofá, tem numa das mãos o livro que lia (Rubrica
objetiva).
ANINHA
SINVAL
Dona Magnólia, vou buscar Dr. Machado. Está na hora dele fechar o
consultório.
ANINHA
Não, Sinval. Hoje eu vou buscar meu tio. Vou no meu carro. Tenho
um assunto para conversar com ele na volta para casa.
SINVAL
Dona Ana... Às quintas-feiras ele não vem direto para casa... Eu é que
devo ir. Ele voltará muito tarde.
Redação: papel e espaço. A folha de papel “ofício grande” é o mais prático para a
redação do Roteiro. O texto no papel tamanho carta fica mais elegante, mas fica mal
distribuído porque a folha é de tamanho reduzido. O espaço em branco extra neste caso
serve para o diretor, os atores, e a equipe de produção fazerem anotações, correções e
sugestões para melhorar o trabalho nos seus setores. Como dito acima, o tipo mais
comumente usado em roteiros é o Courier n° 12. As peças, quando impressas em livros,
têm formato mais econômico geralmente trazendo para uma linha só o que na pauta de
trabalho está em linhas separadas.
Se o texto é em versos, estes devem ser absolutamente simples. Através do apelo do seu
ritmo podem oferecer ao dramaturgo oportunidades para efeitos emocionais que a prosa
não lhe permitiria, mas devem ser escritos tanto quanto possível de modo a que
pudessem ser falados com inteira naturalidade pelos atores, em lugar de
declamados. Para isso, não deveriam incorporar palavras, ainda que bonitas, que não
sejam usadas na conversação diária da média dos freqüentadores de teatro, e as palavras
colocadas somente em sua ordem natural, e sem nenhuma inversão supérflua em
benefício do ritmo.
ANINHA
Será inevitável ter que escrever várias versões da peça, a qual poderá sempre ser
modificada para melhor, à medida que, no decorrer da leitura de mesa ou nos ensaios,
sugestões dos atores e da equipe técnica possam ser incorporadas ao roteiro. A
abundância de espaço entre as linhas é um modo de facilitar anotar as alterações até a
versão final. Porém, mesmo depois das primeiras apresentações o dramaturgo poderá
ver-se na obrigação de fazer correções ou desejar aperfeiçoar algum ponto.
Tempo e Custos. Dois controles sobre a extensão e complexidade da peça são o Tempo
e os Custos. No Grande Teatro o limite de tempo e os orçamentos são bastante elásticos.
No caso do Teatro Pedagógico, porém, o Orientador Educacional no papel de
dramaturgo precisa reduzir suas exigências a fim de economizar. Precisa estar atento a
este aspecto ao escrever seu roteiro.
*
Como iniciar o drama? É uma boa idéia iniciar a partir de um detalhe dinâmico da
história, deixando para o espectador imaginar o que possa ter ocorrido antes a partir dos
diálogos iniciais que ele ouve. Não há ação dramática sem conflito. O tema de todo
drama é, como visto (Noções de Teoria do Teatro), um confronto de vontades humanas.
O objeto da peça não é tanto expor personagens mas também contrastá-las. Pessoas de
variadas opiniões e propensões opostas chegam ao corpo a corpo em uma luta que
vitalmente importa para elas, e a tensão da luta será aumentada se a diferença entre as
personagens é marcante. Se a cena inicial é uma discussão entre um fiscal e um
comerciante devedor dos impostos, logo os espectadores tiram várias conclusões sobre a
situação dos dois protagonistas.
Concepção dos personagens. O personagem (ou "a personagem", quando for oportuno
o emprego do feminino: o Aurélio dá como corretas as duas versões) será como um
amigo ou um inimigo para o dramaturgo, e ele escreverá a seu respeito com
conhecimento de causa, como se falasse de alguém que conhecesse intimamente.
Embora na peça ele explore apenas alguma faceta em particular do caráter dessa figura
imaginária, ele a concebe como um tipo completo, e sabe como ele se comportaria em
cada situação da história a ser contada. Por exemplo: uma mulher devotada à religião e à
sua igreja, que coisas ela aprova e quais outras reprova no comportamento das demais
pessoas? Um indivíduo avarento, como age com os amigos e com que se preocupa em
cada diferente situação do convívio social? Como reconhecer um escroque antes mesmo
dele abrir a boca? Tudo isto requer muita observação relativa a como as pessoas
revelam sua personalidade e o lado fraco ou forte de seu caráter. Com essa experiência
de observação será fácil para o autor da peça construir seus personagens e montar em
torno deles uma história de conflitos, concorrência, competição desonesta ou
cooperação fraterna, e por aí desenvolver um drama que poderá ser ao mesmo tempo
interessante e educativo.
Tudo no personagem precisa ser congruente, para que ao final algo surpreenda o
espectador. Suas roupas, onde mora, suas preferências, seus recursos financeiros, sua
facilidade ou dificuldade em fazer amigos, suas preocupações morais, se lê ou não
livros e jornais, que diversões prefere ou se pratica ou não esporte, tudo isto deve
concorrer em um personagem autêntico, sem contradições. Muito já se escreveu sobre
pobres se tornarem ricos, e ricos ficarem pobres, e também sobre increus convertidos,
ou almas boas que se deixam levar ao crime, mas a novidade em cada história será a
tragédia envolvida nessa transformação, que leva alguém a um gesto que antes não se
poderia esperar dele.
Personagens que têm uma motivação forte e cujas ações se dirigem sempre com
objetividade no sentido do que buscam, sem medir os riscos, sempre são os personagens
mais interessantes, mas esse empenho forte se torna, muitas vezes, seu lado fraco e
vulnerável. Justamente uma ação que vai contra a inteireza de um tipo pode se
transformar em um ponto alto na história, como seria o caso de um sovina que, depois
de receber uma lição da vida, se comove com a situação de alguém e lhe dá um presente
de valor. É quando o personagem quebra sua inteireza, antes bastante enfatizada, que
surge um grande momento na peça.
O dramaturgo precisa, no entanto, resumir ao mínimo as características de seus
personagens, porque será sempre mais difícil encontrar aquele ator que assuma a
personalidade ideal por ele criada, e possa bem representá-la, e ainda preencher sua
descrição de um tipo físico quanto à altura, peso, cor da pele, que seja corcunda ou
coxo, tenha cabelo crespo ou liso, etc. Por isto, quanto ao físico, deve indicar somente
características indispensáveis para compor um tipo, sem exigir muito nesse aspecto. A
equipe técnica poderá completar a caracterização com os recursos disponíveis, seguindo
a orientação do Diretor de Cena. Ela poderá inclusive preparar o mesmo ator para
representar mais de um papel, se a caracterização for simples e a troca de vestimentas e
demais caracterizações puderem ser feitas sem demasiado esforço e em tempo muito
curto.
Inspiração. A peça tem sua idéia central, relativa a um tema; seu título e todas as cenas
devem guardar uma relação clara e objetiva com essa idéia. O interesse intelectual não é
suficiente para fazer uma peça boa de se ver. O público quer passar por emoções de
simpatia e também de auto-estima (opinar sobre o que assiste). A platéia procura,
imóvel e estática, entender a mensagem de uma peça sofisticada, e ao final da
representação está cansada, enquanto que, se ela desperta emoções, será, no mínimo,
uma peça interessante.
Escolhido o tema a ser explorado e criada a história a ser levada ao palco, o dramaturgo
faz o Plano para escrever o seu roteiro. O Plano compreende o desenvolvimento de uma
sucessão de cenas, escritas uma a uma até a conclusão do drama. Embora existam
diversas variáveis, a Estrutura clássica de fragmentação de um roteiro é conhecida como
Ternário: As primeiras cenas – Primeiro Ato – fazem a Preparação (Protasis); nas
seguintes – Segundo Ato – desenvolve-se o conflito inerente ao drama e o
desenvolvimento da crise até o seu clímax (Epitasis); finalmente o desenlace – Terceiro
Ato – com a solução do conflito (Catastrophe).
*
Realismo. O estilo realista no teatro é o que procura guardar fidelidade ao natural,
correspondência estreita entre a cena vivida no palco e a vida real quanto aos costumes
e situações da vida comum. Porém, se o dramaturgo escreve sua peça com muita
exatidão, o espectador não terá nenhuma vantagem em assisti-la mais que observar a
própria vida nela refletida. Se a peça mostra somente o que vemos na vida mesma, não
fará sentido alguém ir ao teatro. A questão importante não é o quanto ela reflete
exatamente da aparência da vida, mas o quanto ajuda a audiência a entender o sentido
da vida. O drama tornará a vida mais compreensível se o autor descartar o irrelevante e
atrair a atenção para o essencial.
Em geral, pode ser dito que qualquer pausa na ação enfatiza "por posição" o discurso ou
assunto que imediatamente o precedeu. O emprego de uma pausa como uma ajuda para
a ênfase é de especial importância na leitura das falas, como um recurso a mais para o
dramaturgo.
Antítese. Uma cena de leve humor vir após uma cena em que se discute um assunto
sério; ou uma agitação no bar ser seguida de uma cena tranqüila em um parque
equilibram a encenação. A Antítese pode ocorrer em uma cena, mas é mais comum que
seja empregada no equilíbrio de cena contra cena.
Clímax. O clímax existe quanto a ação vai em crescente complicação, a cada ato,
convergindo para um impasse cuja solução não é conhecida dos personagens e nem a
platéia pode prever qual será. O clímax depende de certa corrida dos personagens para
seus objetivos. Será difícil entender como clímax uma convergência muito lenta de
acontecimentos. Os personagens precisam estar ansiosos por alcançar seus propósitos e
agirem rápido nesse sentido, para que surja um verdadeiro impasse pressionando por
uma solução urgente. Os dramaturgos normalmente colocam o clímax no segundo ato
ato, conforme o Ternário acima referido (Protasis, Epitasis e Castrophe). Porém, se
houver quatro, começam a exploração do tema suavemente, no primeiro ato, fazem
crescer a trama no segundo, e o enredo torna-se progressivamente mais complexo e
insolúvel até a solução vislumbrada ao cair do pano do terceiro ato. As explicações
acontecem no quarto ato, no qual é mostrado o destino de cada personagem, vitoriosos
ou derrotados, e paira no ar uma conclusão de natureza moral da qual os espectadores
guardarão memória.
Suspense. O suspense, como o clímax, existe quanto a ação vai, a cada ato,
convergindo mais e mais para um final. No suspense, o espectador pode suspeitar o que
está prestes a acontecer, mas os personagens envolvidos não percebem o que lhes está
reservado. O caráter de cada personagem precisa ser logo conhecido pela platéia, assim
como suas intenções; um reconhecido ser um velhaco na sua primeira entrada. Os
outros personagens estão no papel de inocentes, descuidados, ingênuos, que
desconhecem o que o velhaco lhes prepara, mas a platéia já sabe o que ele é e o que ele
pretende, e pode suspeitar qual será o desfecho. O fato de a platéia ter esse
conhecimento tem um efeito paradoxal, que é tornar mais interessante o suspense.
Incorre em erro – que com certeza comprometerá o sucesso de sua peça –, o dramaturgo
que cria em sua assistência a expectativa de uma cena extraordinária, exigida pela sua
condução prévia da trama, e essa cena não se realiza como esperado, frustrando assim o
suspense criado no espectador.
Recursos a evitar. Fazer um número grande de cenas curtas, fazer a história saltar
vários anos para frente, ou fazer uso do recurso de flash back, isto cria confusão e
irritação nos espectadores. Outros recursos que se deve evitar são: criar personagens
invisíveis, que são descritos em minúcias mas que nunca aparecem no palco. Também
prejudica o interesse da Platéia aquelas cenas em que um personagem deixa o palco e
volta trazendo algum recado ou conta uma novidade. Outros ainda são os apartes e os
solilóquios.
O aparte consiste em o ator falar uma frase audível para a assistência mas que se supõe
não seria ouvida por um outro personagem no palco, ou por todos os demais. O ator dá
um passo fora da moldura do palco para falar confidencialmente com a platéia. O aparte
contraria a regra de que o ator deve manter-se aparentemente alheio à sua audiência.
Final Feliz. Conceber um final para uma história pode ser a parte mais difícil do
trabalho criativo. Um final precisa corresponder ao fechamento lógico do drama
desenvolvido nas cenas antecedentes. Não pode ser a solução de conflitos colocados
apenas nas últimas cenas, nem a solução para os conflitos colocados no início,
deixando-se de lado as complicações que se seguiram. O final feliz precisa ser crível,
aceitável para os espectadores como a melhor opção, ou como desfecho claro e
compreensível que satisfaz de modo inteligente ao suspense, traz o alívio que dissipa as
tensões do clímax, e espalha um sentimento de compensação plena na platéia.
Esta página é uma das oito escritas por mim com o propósito de ajudar o Orientador
Educacional a desenvolver um projeto de ensino através do Teatro Escolar. O Teatro
seria um dos recursos pedagógicos para a Atividade “Formação Comportamental”,
sugerida neste Site. O texto é orientado nesse sentido, e por isso não cobre tudo o que
poderia interessar ao ator do Grande Teatro.
Escolhendo os atores. Para escolher os atores, o Orientador terá presente que o aluno-
ator deverá trabalhar continuamente com seu corpo, sua fala e sua mente. Ele precisa ser
apto sob esses três aspectos, ter saúde e boa ressonância da voz e inteligência. Não pode
ser inseguro, ter dicção pobre, comportamento corporal desleixado. Deve demonstrar
também desejo de crescimento e liderança; interesse em desafios.
Aqueles que não forem participar como atores, terão oportunidade para colaborar como
figurinistas, músicos, cenógrafos, encarregados de levantar recursos materiais e
financeiros, etc. Alguém que trabalhe com madeira poderá ajudar com o cenário, e um
eletricista colaborar com a iluminação. Os que não se interessarem prontamente por
qualquer dos sectores técnicos, provavelmente estarão esperando uma oportunidade
como atores.
O aluno-ator poderá, no debate, ser a favor ou contra a tese principal apresentada pelo
dramaturgo, independentemente de qual deva ser o partido que tomará o seu
personagem. Em cena, porém, sua personalidade e suas opiniões não irão prevalecer
nem devem influir. Ele pode, mesmo, ser encorajado a treinar os pontos de vista do seu
antagonista, como se fosse trocar de papel. O que realmente terá que fazer em todas as
circunstancias de sua representação será imaginar e executar as coisas escritas pelo
autor. Esforçando-se nesse sentido, poderá progredir muito
rapidamente, partindo de uma total ignorância artística em relação
ao teatro, para uma razoável sensibilidade estética em poucos meses
de ensaio e estudos. Após o melhor entendimento dos personagens a serem
representados, poderá ocorrer a necessidade de algumas realocações de papeis.
Leituras de mesa. Vencida a primeira etapa, o Orientador pode reunir-se com o elenco
para a primeira leitura de mesa, ou seja, a leitura em comum do texto, cada um com a
sua fala, lida como leitura “plana”, no tom normal de uma conversa. A leitura
expressiva, com as entonações próprias de cada cena, deve esperar pelo primeiro ensaio
no palco, para ficar bem calibrada em relação ao espaço em que o ator vai trabalhar.
Para desarmar possíveis conflitos por ressentimentos e abusos de crítica entre os alunos,
o Orientador poderá, antes de iniciar a sessão de leitura, preveni-los de que haverá
gaguejos, erros de pronúncia, e outras imperfeições que poderão ser motivo de riso, mas
que isto é normal na primeira abordagem do texto e não deve ofender ninguém.
Nivel social. Além das características de personalidade que o aluno-ator pesquisará, ele
deverá estudar seu personagem também com respeito aos hábitos próprios da sua
situação social. Quais as prováveis interações sociais e políticas dele com os membros
da sua classe (Classe alta; Classe média; Classe baixa) no que diz respeito à
educação, à vida familiar, à vida sexual, à crença religiosa, e à sua
profissão. Precisará imaginar como o seu personagem chegou ao que é –como no caso
de um gerente de banco que começou como offfice-boy esperto e capaz – isto ajudará a
fixar o tipo.
Contracenar. Cada ator deve estabelecer uma boa relação de trabalho com os colegas
com os quais irá contracenar, e conhecer os papeis dos seus parceiros tão bem quanto o
seu. No diálogo, aquilo que o antagonista disser servirá como uma deixa para sua
própria fala, por suscitai uma resposta que deverá ser lógica. Isto fará que o diálogo se
desenvolva quase automaticamente, se ele aprender a reagir à atuação dos demais. É
fundamental ter presente que em tais ações e reações os eventuais antagonistas não
desenvolvem atitudes que sejam suas, mas sim dos personagem em confronto, dentro da
percepção que esses personagens imaginários teriam da situação.
O modo como o Ator executa uma ação pode indicar o que ele pretende: bater na mesa
para chamar a atenção de todos é feito de modo diferente de bater na mesa para
confirmar a boa ou má qualidade da madeira. É da habilidade do ator, de representar
uma e outra dessas duas ações, que dependerá a aceitação da ação pelo público, que
ficará confuso se não puder distinguir, pelo modo como ele age, o que é que ele
pretende. É dever do ator compreender a intenção da peça. Ela é uma "mega ação" com
uma "mega finalidade" que e o dramaturgo lhe deu, por exemplo, convencer a juventude
dos valores da família.
O segundo aspecto é como esses gestos são feitos por uma pessoa educada que observa
as normas de Boas-maneiras, e uma pessoa rude; por um jovem cheio de energia ou por
um ancião, etc. Por exemplo: uma pessoa comum toma a caneta do mesmo modo que
um médico, mas este último geralmente a manuseia com mais rapidez. O manuseio de
objetos é utilizado também para sublinhar alguma coisa que se diz, ou para mostrar
alheamento em relação ao que é ouvido, ou para enfatizar. Uma bengala é um utensílio
que pode ser manipulado de modo diferente por um dandy, por um ancião, por um
aleijado, e pode ser brandida para mostrar irritação, balançada num gesto descontraído,
esticada para apontar numa direção, e utilizada para tatear o caminho. O modo de se
tomar uma xícara de café não é o mesmo de tomar uma xícara de chá. O Ator deve
saber a diferença entre uma xícara de café e uma chávena de chá, e como tomar uma ou
outra dessas duas bebidas quentes. O chá é bebido com calma, enquanto se saboreia
biscoitos, e é incompatível com cenas muito movimentadas. Deve saber colocar o
açúcar no líquido, imaginando e treinando os diferentes modos educados e deseducados
de fazer isso. Cenas alegres pedem bebidas em copos grandes que possam ser erguidos
em brindes;
Ao procurar pelo relógio de bolso, o ator não pode ficar atrapalhado para sacá-lo da
algibeira, nem puxá-lo pelo meio da corrente, mas, sem olhar, deve apanhá-lo com a
presteza natural puxando-o pela sua própria argola. Ao acender um abajur deve levar a
mão ao interruptor sem olhar onde ele está, como um gesto automático e costumeiro,
para mostrar sua familiaridade com aquele objeto naquele lugar, se a cena é em sua casa
ou escritório, mas deve fingir não saber onde ele está e procurá-lo por um segundo sob
as abas do abajur, se quer passar a impressão de que é a primeira vez que entra no
cômodo (apesar dos inúmeros ensaios que tenha feito).
Os óculos são um objeto de grande poder cênico. Tirá-los, examiná-los contra a luz,
remover um cisco imaginário; dar um toque na armação por sobre o nariz colocando-a
no seu lugar, por ou remover os óculos indicando maior atenção na leitura ou para olhar
desimpedidamente alguém com quem se fala, são gestos que, feitos com naturalidade,
emprestam maior veracidade ao desempenho do ator.
O ator encontrará na caracterização do seu personagem a descrição das roupas que usará
na interpretação, mas o modo de usá-las será criação sua. Sua personalização no uso do
vestuário poderá ser muito imaginativa e talentosa, se contribuir para a caracterização
perfeita do seu personagem. Ele pode vestir uma blusa de lã, ou amarrá-la ao pescoço
deixando que lhe caia pelas costas, ou amarrá-la na cintura, ou trazê-la na mão. Poderá
ter todos os botões da camisa abotoados ou deixa-la aberta ao peito.
Abrir um pacote de presente pode ser feito com calma, enquanto se faz algum
comentário, e pode ser mais rápido e nervoso, para mostrar grande curiosidade ou
expectativa.
Pode usar um boné com aba para frente ou para trás, conforme se aplique melhor ao seu
personagem ou à situação. Um breve olhar para o copo de uísque antes de leva-lo à
boca é outro exemplo. Ao afastar dos lábios uma chávena de chá ele poderá, com um
gesto mais lento ou mais rápido, indicar que o chá está demasiadamente quente, ou que
está agradável e saboroso. Tudo isto o ator deve criar com propriedade, ele mesmo,
porque o script dirá apenas que ele está sentado à mesa tomando um café ou chá.
O aluno-ator deve estar consciente dos efeitos que tem sobre sua imagem cada uma
dessas personalizações e treiná-las discretamente. Com esses exercícios, sentirá maior
segurança para desempenhar seu papel. Ele também se sentirá enriquecido pela
descoberta e compreensão de muitos detalhes da vida e do relacionamento social de que
antes não tinha percepção e o valor da sua participação na peça crescerá.