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Esta página, e também as outras páginas desta série, contêm algumas noções de Teoria
do Teatro para uma visão geral do trabalho de planejamento de uma peça teatral.
Acredito que essas noções poderão ser razoavelmente informativas para o leitor em
geral, e úteis ao Orientador Educacional que deseja tomar o teatro por instrumento
pedagógico, enquanto não encontrarem um bom livro ou um Site na Internet com !
informações mais completas sobre o assunto.
O Teatro.
Existe grande polêmica sobre a definição de Teatro. Porém, uma página sobre Teoria do
Teatro deve começar – me parece –, pela definição do que o Teatro é. Então, se
partimos do fato irrecusável de que há uma história, escrita ou memorizada, que dá
origem ao drama a ser representado, então o drama está subordinado a uma peça
literária, por mais simples e rústica que esta seja. A Arte Dramática, ou Arte do Teatro –
que envolve a arte de bem representar, a arte da iluminação, a arte da montagem do
cenário, etc. –, é uma forma de manifestação artística a serviço da Literatura, assim
como também a própria Arte do Livro – que envolve a arte da ilustração, a arte da
impressão, a arte da encadernação, etc.
No Teatro, uma história e seu contexto se fazem reais e verídicos pela montagem de um
cenário e a representação de atores em um palco, para um público de espectadores. Por
exemplo: um indivíduo pode não acreditar na existência do fantasma em uma história
que lê em um livro, mas terá a sensação de realidade desse fantasma se ele o vê no
palco, e se o personagem lhe parecer autêntico, por agir do modo como, na sua
concepção, um fantasma haveria de agir..
Pode ser dito, então, que o teatro é uma forma de manifestação artística em que uma
história e seu contexto se fazem reais e verídicos pela montagem de um cenário e a
representação de atores em um palco, para um público de espectadores.
O dramaturgo muitas vezes deixa a estruturação dos diálogos para o final, depois de
selecionar os atores e trabalhar o cenário em detalhes. Começa por dividir a história em
atos e somente depois de toda a peça estar planejada ele volta ao início para escrever os
diálogos. Deste modo, ao escrever o roteiro, o dramaturgo já tem em mente os atores
escolhidos, a categoria ou qualidade do teatro ou sala, se será um palco ou simples
estrado, os recursos de iluminação, e o público ao qual a representação se destina.
Etapas da dramaturgia. Clayton Hamilton (The Theory of the Theatre and Other
Principles of Dramatic Criticism. Henry Holt and Company, New York City, 1910 –
Proj. Gutenberg), considerando o progressivo desenvolvimento dos palcos, fala de três
etapas na evolução do teatro. A primeira e longa etapa, – que ele chama Dramaturgia
da Retórica – , vem da antiguidade até ao Renascimento, do período grego até à época
de Shakespeare ao tempo de Isabel I. Nessa fase a expressão teatral recorria ao poder da
Retórica e da Poesia. À segunda Etapa, bem mais curta, ele chama Dramaturgia da
Conversação, pois o dramaturgo apelava para o brilho e inteligência dos diálogos,
através dos quais ele também sugeria o cenário para a Plateia. E à terceira etapa chama
Dramaturgia da Ilusão de Realidade, que se inicia no século XIX, quando o
desenvolvimento da encenação – marcada pela introdução da luz elétrica – leva a
compor no palco o cenário da história com toda a ilusão de realidade feita possível pela
tecnologia.
Porém, a partir do século XVII – nas tragédias representadas pela grande dramaturgia
Elisabetana –, o indivíduo está predestinado ao desastre não mais devido à força do
destino, mas por causa de certos defeitos inerentes à própria natureza humana; os
personagens mergulham para a destruição por causa deles mesmos; os elementos do seu
caráter tornam inevitável um determinado fim . O herói trágico se vê enredado no
emaranhado que a fatalidade arma para os incautos. A morte do alpinista congelado
pelas neves eternas, seria trágica. Sua ambição de proeminência como um esportista
radical traz cada vez mais nela própria a possibilidade latente de seu fracasso em um
extremo de estupendo esforço. Mostra a ruína de uma natureza heróica devida a uma
ambição insaciável de superação, condenada por sua própria vastidão a derrotar a si
mesma. Do autor da tragédia se exige, por esse motivo, que apresente uma
inevitabilidade inquestionável – nada pode acontecer em sua peça que não seja um
resultado lógico da natureza de seus personagens.
Mas, o sucesso que teria esse tema já anteriormente muito explorado, não seria devido
apenas à simpatia e piedade das platéias para com os desvalidos, mas porque havia uma
solução para o conflito que envolvia uma outra disputa, ainda mais séria e profunda, e
assim fazia o drama duplamente apelativo e interessante para a platéia. É que, desde o
final da Revolução Francesa (o período do Terror), se firmara uma corrente de
pensamento adepta de Rousseau, segundo a qual somente uma pequena minoria de
luminares e de hábeis e inteligentes políticos poderia por fim à injustiça social, e que
esse fim era o desejo de todos como uma “vontade geral” dos homens. Essa “vontade
geral” encarnada nessa minoria, era mais importante que a “vontade da maioria”
democrática. Em oposição a essa corrente, os constitucionalistas acreditavam na
democracia e no mercado livre, valorizando a consciência do indivíduo como capaz de
fazer voluntariamente sua parte pelo bem social. A primeira considerava a sociedade
suprema, e o individuo subserviente; cada homem era suposto existir em benefício do
mecanismo social do qual ele era uma peça. A segunda considerava o indivíduo como
capaz de construir uma sociedade justa e democrática a partir do esforço pessoal de
todos. O Drama social está baseado simultaneamente no conflito entre o indivíduo e a
sociedade, e esta dividida na luta entre aquelas duas correntes de pensamento.
Esse novo filão temático garantiu o êxito não apenas na dramaturgia. Serviu também
com imenso sucesso ao cinema, à literatura popular, ao discurso político, e inclusive a
novas correntes religiosas, num tal paroxismo de fé que dos filmes, dos livros e da
dramaturgia saltou para as paradas, passeatas, revoluções e praticamente toda forma de
agitação do início do século XIX até o seu ocaso, no fim do século XX. Com a
progressiva diminuição do interesse pelo Drama da injustiça social colocado nessas
bases, a literatura e a dramaturgia buscaram o enfoque de outras formas de opressão
social igualmente poderosas e trágicas, como o racismo, o preconceito contra minorias,
o tabu do sexo, a hipocrisia social, e outros..
Comédia. Uma comédia é uma peça humorística na qual os atores dominam a ação. A
comédia pura é o mais raro de todos os tipos de drama. Na comédia a ação precisa não
somente ser possível e plausível, mas precisa ser um resultado necessário da natureza
ingênua do personagem.
Farsa. A farsa é um tipo de drama escrito com o propósito de provocar riso. É estética e
literariamente inferior à comédia; é uma peça humorística na qual os personagens são
rudes ou exageradamente fracos, covardes e impotentes; as situações são de exagero,
improváveis, tendo por cenário consultórios de dentista, consultórios médicos, o quarto
de dormir, a recepção de hotéis, etc. É comum a associação dos dois tipos, farsa e
comédia, em uma única peça humorística, com o uso da comédia para a trama maior e
da farsa para os seus incidentes subsidiários. A farsa é decididamente o mais
irresponsável de todos os tipos de drama. A trama existe por sua própria conta, e o
dramaturgo precisa preencher somente duas exigências ao criá-la: primeiro, ela precisa
ser engraçada , e segundo, ele precisa persuadir sua audiência a aceitar suas situações
pelo menos no momento enquanto elas estão sendo encenadas.
Pantomima. Peça de teatro ou drama em que a história é contada por meio de ação e
expressão corporal, sem uso de palavras.
A moralidade. Na dramaturgia, como nas outras formas de arte, o aspecto moral diz
respeito à interpretação e por isto há que separar aquilo que pode ser relativo, daquilo
que for racionalmente condenável, tolerável ou louvável. É relativo o que é condenável
apenas em relação aos hábitos de um grupo. Quanto ao julgamento racional, não pode
haver algo que, por si, seja um assunto imoral para uma peça teatral. O que pode ser
julgado, desfavorável ou favoravelmente, é o tratamento do assunto pelo dramaturgo. A
questão, por exemplo, não é se prostitutas merecem aprovação ou não, mas se uma certa
mulher dessa classe, colocada em uma situação particular, não seria merecedora de
simpatia. Seria desonesto o dramaturgo apresentar sua versão dos fatos como única
verdade, quando o assunto é de valor relativo, e seria também desonesto retratar em
detalhes uma realidade que é racionalmente imoral, como a violência sem motivo, o
sexo sem amor, o roubo sem uma grave justificativa, etc. É condenável a peça que
estimula os maus instintos do ser humano e louvável a que faz o contrário: desperta no
espectador noções de valor e emoção de esperança. Porém seria desonesto negar o
desespero, a infidelidade, o crime, e apresentar ao público a imagem de um mundo sem
essas mazelas que precisam ser vencidas.
A platéia. Em tese, a reação da platéia será a soma das reações individuais dos
espectadores. Mas existem certos comportamentos que são estimulados nas pessoas
quando elas fazem parte de uma multidão. Pessoas refinadas que estão isoladas em meio
a indivíduos mais simples e despreocupados podem perder consciência de sua posição
social e qualidades intelectuais e assumirem o mesmo comportamento primitivo do
grupo. O contrário infelizmente não acontece, ou seja, aqueles menos educados
inseridos em um grupo de pessoas bem educadas e comedidas não se deixam intimidar,
e primam por incomodar com comentários jocosos, gargalhadas exageradas, etc. Uma
platéia de jovens pode mostrar esse mesmo fenômeno e acontecer que alguns precisem
ser advertidos ou retirados da platéia por uma autoridade. Um tema controverso, uma
história mal representada, atores que não convencem em seus papeis, podem levar a
platéia à agitação e desordem, o que será uma surpresa, quando se espera que a boa
intenção do autor seja recompensada com a aprovação e o respeito da assistência. Mas
um acompanhamento simultâneo de música, meio escutada, meio imaginada, que
conduz ao humor da peça, agora crescendo para um climax, agora suavizando para a
quietude, pode fazer muito para manter a audiência sintonizada com o significado
emocional da ação.
Um animalzinho que apareça de repente e perambule pelo palco irá provocar distração e
risos na platéia. Se no papel de um ator está previsto um tiro de revolver, os
espectadores devem estar conscientes de que ele porta uma arma através de menção no
diálogo, ou porque tenha estado visível em alguma cena anterior. O caráter forte ou
ante-ético de um personagem, não pode ser revelado de súbito, em cenas finais. É
preciso que a platéia perceba desde sua primeira fala que determinada personagem é,
por exemplo, capaz de trair. Um erro de entonação de um ator, um engasgo, um tombo
no palco, tudo isto, em grau maior ou menor, prejudica o espetáculo.
A ênfase por repetição pertence ao diálogo e pode ser com habilidade introduzida no
script. Porém há também momentos que emprestam ênfase natural à representação e
que o dramaturgo deve aproveitar, como os últimos momentos em qualquer ato (que são
os mais propícios a criar o suspense), ou o início de uma ação nos primeiros momentos
em um ato. Porém os primeiros momentos do primeiro ato perdem essa faculdade
devido à falta de concentração dos espectadores que acabam de tomar seus lugares, ou
são perturbados por retardatários que passam pela frente das pessoas já sentadas (Veja,
por favor, em Como escrever uma peça).
Um ator que está acostumado ao centro do palco muitas vezes encontra dificuldade para
manter-se ao fundo nos momentos em que a cena deveria ser dominada por outros, que
algumas vezes podem ser atores menores.
O filósofo Locke, no século XVI, já sabia que os objetos nos enviam sinais físicos
ordenados de tal forma que o nosso cérebro pode identificá-los e gerar as idéias em
nossa mente. Porém tudo indica que ele desconhecia que, no processo do conhecimento
o mesmo se dá com o sentimento. Como sabe hoje o leitor que lê revistas e assiste a
informativos da TV, o nosso cérebro gera a química responsável por nossos sentimentos
em todas as sua variações. Em outras palavras, as coisas nos enviam os sinais
(acústicos, óticos, visuais, odoríferos, tácteis) com os quais nós as identificamos
(formulamos conceitos), e que também provocam no cérebro a alteração fisiológica
geradora dos sentimentos que lhes correspondem – são belas e prazerosas, ou feias e
insuportáveis. Entre esses sentimentos estão o prazer e a emoção do êxtase.
O processo é bastante claro com a música, por exemplo. Os sinais musicais (melodia,
ritmo, etc.) levam a pessoa a diferentes atitudes e valorizações. Eles modificam as
condições fisiológicas por meio do impacto das ondas sonoras e neste sentido trabalham
como uma droga estimulante ou paralisante. É sabido que as melodias com muitos
bemóis são tristes, e as que têm muitos sustenidos são alegres. A música "romântica", as
marchas militares, os hinos cívicos e religiosos, criam fisiologias geradoras de
sentimentos específicos, independentemente da presença de valores concretos
correspondentes. Ao afetar estruturas e mudar a fisiologia na mente, a música faz o
indivíduo procurar objetos de afeição, torna o sujeito "romântico", ou dá-lhe brios, o
silencia em atitude de respeito, etc.
O leitor sabe muito bem que uma experiência desagradável sofrida por um indivíduo
com respeito a uma dada circunstância ou objeto, influirá nos seus sentimentos futuros.
Isto mostra que aquela experiência deixou arquivada uma configuração associativa que
permite a esse indivíduo reconhecer o objeto e voltar a sentir a respeito dele o mesmo
sentimento que teve em outro momento.
No entanto, uma certa unanimidade no juízo estético não fica afastada. O cérebro tem
áreas em que um aprendizado evolutivo criou padrões comuns a todo ser humano.
Existem, assim, padrões de receptividade e reação fisiológica no cérebro que são
basicamente comuns a todas as pessoas. Resulta disto uma aparente universalidade de
valores nos aspectos gerais do que seja o belo e o feio, nos objetos de desejo, nas
expressões e impressões artísticas em geral. que respondem pela universalidade de
certos parâmetros nos sentimentos estéticos. O universal, no juízo estético, decorre tão
somente da generalidade das matrizes emocionais orgânicas próprias do homem, de sua
quase total universalidade genética. Mas, ainda assim, se pode afirmar que os sinais são,
em geral, universais na conceituação (iluminam o mesmo significado para todos na
identificação e nomeação das coisas), mas são sempre particulares quanto aos
sentimentos que ensejam.
Podemos então dizer que a Arte é a disciplina que se ocupa do fenômeno envolvido no
conhecimento em relação ao sentimento do belo, e das regras e relações às quais este
fenômeno está subordinado.
O objeto de arte é aquele cujos sinais encontram na pessoa tanto a condição biológica
como a experiência indispensável a uma construção mental interna geradora do
sentimento de prazer na sua contemplação. A emoção e o sentimento de excelência
despertados em função dele é o sentimento estético do belo.
(*) Essa matéria está mais amplamente desenvolvida nos meus livros Emotional Man
and his thematic behavior (1985) e Filosofia do Espírito (1997). Parte dela está
reproduzida em minha página Ilusão de uma fórmula comportamental, neste Site.
O TEATRO EDUCATIVO
O enfoque aqui adotado não é o da preocupação com crianças que têm problemas de
aprendizagem, mas com o comportamento social e moral do jovem psicologicamente
normal, não apenas apto mas também desejoso de um aprendizado de valores, de
aspectos psicológicos do comportamento, de opções vocacionais, de Boas-maneiras e
Etiqueta para bem relacionar-se com pessoas, etc. O Teatro será um recurso opcional
importante para a Formação Comportamental, que é uma atividade pedagógica
proposta neste Site para ser inserida na Orientação Educacional (Veja por favor O
ORIENTADOR EDUCACIONAL E O SEU MOMENTO).
Despertando o interesse. O teatro escolar não é um projeto que possa ser imposto. É
preciso ser aceito pela turma, e o orientador poderá mostrar as alternativas que terá para
a sua atividade de formação comportamental: conferências, seminários sobre temas, etc.
É bem possível que no exame dessas alternativas os alunos venham de pronto a preferir
o teatro, atraídos pela natureza participativa e de “viver tipos diferentes” no palco. Além
de atuar, ainda terão que cuidar do cenário e do figurino.
Após uma preleção sobre o efeito educativo do teatro, o Orientador poderá propor uma
escolha por votação. Se for uma atividade inserida no trabalho escolar, todos deverão
comparecer e participar
Lidando com ciúmes. Todos os alunos mais desinibidos desejarão o papel principal
masculino ou feminino. O Orientador deve focalizar os papeis secundários e mostrar o
quanto também serão atraentes pela necessidade, muitos vezes, de muito maior
habilidade e talento para representar que para os papeis principais. Fazer o papel
secundário de uma velhinha pode ser muito desafiador e divertido. Será necessário uma
maquiagem especial, saias compridas, uma sombrinha, giz ou bombril nos cabelos para
torná-los grisalhos, etc.
Para ensinar, a peça precisa primeiro divertir. Precisa que seus personagens entrem em
confronto, para que o espectador tome partido. A ação é que pode ser educativa,
fazendo que a lição que se quer dar esteja no papel do personagem vencedor, e o mal
representado nas ações do perdedor. O monólogo ou o diálogo que contem palavras de
louvor ou de condenação tendem a tornar a cena enfadonha e o objetivo pedagógico
estará irremediavelmente perdido. No entanto, uma ação que mostra generosidade ou
que castiga a maldade será vista com interesse e será sempre lembrada.
Com o propósito de tornar a história mais divertida, o Diretor de Teatro pode associar a
ela pequenos dramas paralelos, mesclados à sua trama principal. Personagens
secundários podem estar envolvidos em ações que apelam a certas emoções básicas,
como uma pequena traição, uma mal disfarçada antipatia entre dois personagens, a
bisbilhotice de comadres, um empregado pateta, um vendedor de loteria impertinente, a
arrumadeira preguiçosa que varre o lixo para debaixo do tapete, o ar superior do
primeiro aluno da turma, uma demonstração de afeição aos animais por uma criança, ou
o que possa acrescentar em humor, acirrar disputas, ou salientar qualidades dos
personagens principais.