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QUANDO FLUZZ SOPRAR

Fluzz é o fluxo, que não pode ser aprisionado por qualquer


mainframe. Porque fluzz é do metabolismo da rede. E, sim,
redes são fluições.

Fluzz é um neologismo para designar o curso constante que não


se expressa e que não pode ser sondado, nem sequer
pronunciado do lado de fora do abismo: onde habitamos. No
lado de dentro do abismo não há espaço nem tempo, ou
melhor, há apenas o espaço-tempo dos fluxos. É de lá que
aquilo (aquele) que flui sem cessar faz brotar todos os mundos.

Muitos mundos. Não existe um mundo que se possa dizer o


mundo, a não ser por efeito de hierarquização.

Pensar e falar do mundo é tentar impingir um só mundo. Pois os


mundos são muitos. Um só mundo é uma invenção do
broadcasting. Broadcasting – um para muitos – é, obviamente,
centralização, quer dizer, hierarquia. Tirem as TVs, os jornais e
revistas, as agências de notícias, talvez o cinema e não sobrará
mais um só mundo. Sem o broadcasting já teremos múltiplos
mundos: cada qual configurado pelas nossas conexões. Com a
internet esses mundos se multiplicam velozmente, mas não por
difusão e sim por interconexão. Desse ponto de vista,
interconnected networks (internet) é, na verdade,
interconnected worlds. E fluzz é o vento que varre esses
inumeráveis interworlds.

No mundo hierárquico, não há interface para fluzz. Mas quando


fluzz for o regime dos múltiplos mundos interconectados, esses
mundos serão os novos Highly Connected Worlds do terceiro
milênio.

Nos novos mundos altamente conectados do terceiro milênio,


vida humana e convivência social se aproximarão a ponto de
revelar os “tanques axlotl” onde somos gerados como seres
propriamente humanos. Todos compreenderemos a nossa
natureza de “gholas sociais”.

[...]

Não há nada a fazer. Deixem fluzz soprar para ver o que


acontece.

Quando fluzz soprar, prá que ensino, prá que escola? Quando
fluzz soprar, prá que religião, prá que igreja? Quando fluzz
soprar, prá que corporação, prá que partido? Quando fluzz
soprar, prá que nação, prá que Estado?

Oh! É claro que todas essas instituições perdurarão: como


remanescências, porém. Não serão mais prevalecentes. Aliás,
como já se prenuncia, elas se contaminarão mutuamente:
nações serão religiões, escolas serão igrejas, Estados serão
corporações... e tudo isso será, afinal, o que é – sempre a
mesma coisa: programas verticalizadores que rodam na rede
social para dificultar a cooperação.

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