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Pergunta: “Existindo diversos tipos de aprendizagem, nomeadamente a aprendizagem

individual, a aprendizagem colaborativa e a cooperativa, pretendia saber de que forma julga


ser possível aplicar nos cursos em Elearning a Teoria da Liberdade Cooperativa de Morten
Paulsen?”

Resposta: Vou começar com uma definição de aprendizagem, pois acho que há, por vezes,
alguma confusão conceptual. O que a maioria dos autores se refere quando fala em
“Aprendizagem colaborativa e cooperativa”1 não é propriamente ao processo psicológico mas
sim ao modo de organizar as actividades de ensino ou curriculares, que visam ter efeitos sobre
a aprendizagem.
Esta pode ser definida como a “aquisição ou modificação de comportamentos e
conhecimentos, fruto da experiência pessoal e da espécie, que perduram no tempo e não
podem ser atribuídos a uma mera maturação do organismo”. Por isso a aprendizagem é
sempre um processo pessoal ou individual e que fica registado na memória. Neste sentido
memória e aprendizagem são as duas faces de uma mesma moeda. O que acontece é que, e
como já referia Vygotsky, um processo inter-pessoal ou social é interiorizado e transformado
num processo intra-pessoal. A interacção social facilita ou pode facilitar o processo de
aprendizagem individual. Mas só há aprendizagem quando há a construção de um novo
esquema mental ou a modificação de um já existente. O próprio Piaget referia que o
acabamento das estruturas intelectuais, características do pensamento formal, precisa do
conflito cognitivo e sócio-cognitivo, i.e., das trocas e interacções sociais. O que acontece é que
alguns alunos, ou melhor, algumas pessoas preferem aprender sozinhas. De facto não
aprendem sós, aprendem através da leitura, da realização de actividades... Aprendem através
de vários artefactos culturais onde a leitura é fundamental, mas sem ser em trabalho de grupo
ou em colaboração com outros.
Não conheço bem a Teoria da Liberdade Cooperativa de Morten Paulsen e, por isso, não me
posso posicionar de forma fundamentada. Irei estudar melhor e depois estarei em condições
de responder de um modo mais consistente. Posso depreender que este autor está a defender
a ideia que algumas se não muitas pessoas gostam de aprender sozinhas e o professor e a
planificação das actividades curriculares deve não forçar estas pessoas a trabalhar de modo
cooperativo. Sabe-se hoje que cerca de 20% dos estudantes universitários preferem trabalhar
sozinhos e há mesmo um autor que escreveu um artigo em defesa do aprendiz solitário2, como
uma voz em contra corrente face a este dogmatismo da aprendizagem colaborativa e
cooperativa, sobretudo em cursos em regime de e-learning. Eu concordo com ele.
A maioria das pessoas que produziu algo de diferente e inovador fê-lo de modo solitário,
conhecendo e estando muito bem informado sobre o que na sua área estavam a fazer os mais
eminentes cientistas ou literatos da época e claro, tendo uma cultura geral e um
conhecimento do que se fez de mais importante no passado.

Lisboa, 30 Março 2010


Guilhermina Lobato Miranda

1
A Aprendizagem Cooperativa não é bem o mesmo que a Aprendizagem Colaborativa
2
Hopper, K. B. (2003). In defense of the solitary learner: a response to collaborative, constructivist
education. Educational Technology, March-April, 24-29.

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