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Resumo:
O presente artigo visa abordar a ética no ambiente escolar. Primeiramente faz-se a distinção
entre os conceitos de ética e moral. Logo após, como a ética é concebida e definida pelos
educadores atuantes no ensino público estadual da cidade de São Borja – RS. Foram
realizadas interlocuções durante o processo de formação continuada dos professores que
permitissem saber: Como a ética permeia as relações sócio-educativas entre os atores desta
instituição denominada escola? Qual a função da ética no cotidiano escolar? Que pressupostos
estão vinculados à idéia que os educadores têm de ética? A partir das respostas foi possível
identificar que a concepção de ética apreendida pelos educadores está diretamente relacionada
com outros pressupostos, sejam eles a justiça, o respeito, a solidariedade e o diálogo, sendo
este último o mais referendado como necessário para a manutenção do bom relacionamento
entre os atores constitutivos do espaço escolar.
Para começar a tratar sobre ética é preciso fazer a distinção entre ética e moral, já que
estas duas palavras, freqüentemente, são empregadas como sinônimos (mores, no latim, e
ethos, no grego) uma vez que as duas indicam um significado comum, remetendo à idéia de
costume. De acordo com o Dicionário Aurélio Buarque de Holanda, ética e moral são “o
estudo dos juízos de apreciação que se referem à conduta humana susceptível de qualificação
do ponto de vista do bem e do mal, seja relativamente à determinada sociedade, seja de modo
absoluto” (p.300; p.471).
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Pedagogo, Especialista em Educação, Mestrando em Educação nas Ciências pela UNIJUÍ-RS. Professor
Universitário da Universidade da Região da Campanha – URCAMP Campus de São Borja/RS. E-mail:
edson.camargo@brturbo.com.br.
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Graduado em Letras – Habilitação Língua Portuguesa e Literatura, Especialista em Língua Portuguesa,
Mestrando em Educação nas Ciências pela UNIJUÍ-RS. Professor de Literatura no Ensino Público Estadual. E-
mail: jorgelagofonseca@yahoo.com.br.
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Nesse sentido, ser ético para a maioria dos educadores é estar aberto ao diálogo, uma
vez que acreditam que ele é uma poderosa ferramenta para a formação de cidadãos
conscientes, críticos e responsáveis. Esse estado de ser ético, também possibilita ao educador
atuar de forma digna na execução de sua profissão construindo saberes no seu cotidiano.
A ética é a responsável pela possibilidade atribuída à escola de conduzir o ser à
condição de crítico e responsável pelos seus atos, no entanto, ela entrelaça a estas condições a
capacidade de definir o que seja justo e injusto, moral e imoral, uma vez que atribui valores às
atitudes dos educandos e os vigia, como se a qualquer momento pudessem fazer, falar ou
sentir algo que não é permitido eticamente.
Respeitar a liberdade do outro é conhecer os direitos e deveres de cada um dos atores
do ambiente escolar. Para Kant, na escola ninguém tem privilégios, mas apenas direitos. Ela
corporifica assim, o local privilegiado que permite ao ser reconhecer a sua função social no
mundo, compreendendo sua posição, se de explorado ou de explorador, mediatizado ou
mediatizador.
Nas interlocuções, os educadores ressaltaram a formação moral como componente
imprescindível na formação do ser enquanto crítico e pró-ativo. No entanto, proporcionar ao
educando tornar-se um cidadão crítico, autônomo, capaz de interferir e dialogar com o meio
em que vive parece não ser tarefa fácil. Uma das alternativas para a escola é criar condições
para que isso possa ocorrer, proporcionando espaços para discussão, não ficando presa apenas
a questões individualistas e autoritárias. A escola pode se tornar o ponto de partida para uma
melhor intervenção do homem no seu meio social e servir como suporte para então ampliar o
leque de discussão, da escola, para o bairro, para as associações de moradores, para os órgãos
públicos e assim por diante até abranger a sociedade globalmente.
Participar e comprometer-se com a prática de valores que estimulem os princípios
educativos no âmbito escolar exige muito mais do que uma compreensão da realidade. Exige
transparência e consciência da verdadeira função que cada ator tem em estruturar as suas
ações e seus diálogos vislumbrando uma convivência harmoniosa e ponderada.
Os educadores participantes das discussões evidenciaram ainda a ética como
construtora da felicidade humana baseada na liberdade e no respeito às diferenças individuais.
Todos têm direitos e deveres no meio em que vivem. Cabe a escola questionar como
eles se apresentam. Até que ponto a comunidade onde se está inserido não está abnegando
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estes direitos, cada um cumpre com os seus deveres para cobrar os seus direitos? Questões
que podem ser levantadas constantemente pela escola.
Alguns pressupostos estão vinculados à ética como a justiça, a solidariedade, o
respeito mútuo e o diálogo. Temas importantes para serem inseridos nas aulas de diferentes
disciplinas de maneira transversal, permitindo desmitificar a questão ética como sendo restrita
à área da Filosofia.
A justiça já era uma preocupação dos filósofos gregos, pois Platão em sua República
já pensava como deveria ser tratado um ato justo, qual a relação entre justiça e injustiça. No
entanto, há de ser questionado como despertar no educando a noção de justiça. A escola pode
propiciar situações onde seja exercitada a criticidade do educando oportunizando-lhe a
distinção entre um ato justo e um injusto. Fazer essa distinção na escola faz com que o
educando reflita sobre a diferença e possa a partir de suas vivências criar relações que
exemplifiquem tais questões.
A escola pública possui uma diversidade cultural, étnica, religiosa, sexual e social
muito grande. Nesse contexto, a solidariedade assume um lugar de comprometimento com o
aprendizado. Ser solidário no ambiente escolar é respeitar as diferenças que constituem os
atores educacionais, não ocultando a sua existência, mas trabalhando estas diferenças no
coletivo. Solidariedade. A partir dela, os educadores sentiram-se mais confiantes no que
realmente podem ser enquanto profissionais da educação comprometidos com a vida de cada
um de seus educandos. Faz-se necessário superar as barreiras do Capitalismo, do corre-corre
diário, de competição desenfreada, onde a vantagem está em primeiro lugar, para triunfar a
solidariedade, a compreensão e o respeito. Respeito mútuo. Sem ser unilateral. Respeitar com
reciprocidade.
E ainda, dialogar. Manter o diálogo em sala de aula é uma atividade muito importante
para criar condições de discussão, sobre temas relacionados a questões sociais, políticas e
econômicas. Essas discussões criam conceitos ou os reformulam, ou até mesmo constroem
outros a partir da vivência de cada um.
Considerações
abstrata, ou metafísica, descolada das ações concretas. Não se realiza o gesto da reflexão por
mera vontade de fazer um “exercício de crítica”. A crítica é provocada, estimulada, por
problemas, questões-limites que se enfrentam no cotidiano das práticas. A reflexão ética só
tem possibilidade de se realizar exatamente porque se encontra estreitamente articulada a
essas ações, nos diversos contextos sociais. É nessa medida que se pode afirmar que a prática
cotidiana transita continuamente no terreno da moral, tendo seu caminho iluminado pelo
recurso à ética.
No contexto escolar, âmbito de diversos atores, a ética faz-se presente em momentos
imensuráveis, uma vez que está vinculada às relações que se processam entre esses atores.
Assim, os professores da rede pública estadual compreendem por ética as relações
estabelecidas entre os seres humanos e a valorização das relações interpessoais. A partir daí
busca-se o respeito mútuo criando um espaço de discussão, aberto ao diálogo possibilitando
aos envolvidos no processo de ensinar e aprender a compreensão da ética como eixo condutor
das atitudes morais.
Por fim, foi salientada a valorização do diálogo enquanto uma prática possível e viável
para a solução dos problemas escolares vislumbrando a pretensão de que a escola possa um
dia aprender a trabalhar com as diferenças onde todos sejam possuidores de direitos e deveres,
sentenciando o fim das desigualdades.
Referências bibliográficas