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AMOR: Regras e Limites.

Antes de nos tornarmos pais, tínhamos grandes idéias, convicções; mas a partir
do momento em que nosso filho nasce, ou a partir do momento em que adotamos uma
criança, aquelas convicções que antes eram tão firmes, muitas vezes desaparecem e
tornam-se imprecisas. Será que eu fiz certo? Será que eu realmente deveria ter tomado
aquela atitude?
A realidade pode levar-nos a perder a confiança em nós mesmos como pais. Mas
mesmo assim continuamos a sonhar com o que nosso filho pode se tornar. Todos nós
queremos que nossos filhos sejam bem educados, tenham sucesso, um bom trabalho,
enfim, que sejam felizes...

Nos próximos 7 textos escreverei um pouco sobre como esse sonho pode se tornar
realidade...

AMOR: Regras e Limites – Texto 1.


No início do século XX os cientistas ainda discutiam o que era mais importante
para o desenvolvimento infantil: o alimento materno ou o calor materno. Alguns
argumentavam que o bebê se ligava à sua mãe porque era ela quem o alimentava e
portanto, supriria sua necessidade básica –a fome. Outros defendiam a tese de que o
vínculo com a mãe ocorria porque ela mantinha o bebê aquecidos em seus braços. Um
pesquisador chamado Harlow realizou um experimento muito famoso com macacos,
que ilustrará bem essa questão.

Harlow criou um filhote órfão em uma sala onde existiam duas ‘mães’, uma de
pano e outra de arame. Eram bonecas que imitavam as formas de uma fêmea, sendo que
uma era revestida de tecido aveludado e fofo e a outra era toda de arame. Na mãe de
arame o pesquisador pendurou uma mamadeira com leite morno. O cientista observou
que o filhote passava maior parte do tempo abraçado a mãe de pano. Em algumas
situações, provavelmente, quando sentia fome, dirigia-se a mãe de arame, bebia o
conteúdo da mamadeira e voltava para a mãe de pano. Ocasionalmente, Harlow
produzia barulhos estridentes na sala para observar o comportamento do filhote. O
orfãozinho corria e se abraçava a mãe de pano. Em outra ocasião o pesquisador levou o
filhote para uma sala onde se encontravam outros filhotes, não órfãos, brincando. Nesta
sala havia frutas, cordas penduradas, escadas... O órfão não se aproximou dos demais,
não explorou o ambiente, e quando ‘provocado’ pelos outros para brincar, iniciou uma
luta que precisou ser interrompida pelos pesquisadores. O filhote órfão constantemente
apresentava comportamentos auto-destrutivos, batendo a cabeça na parede e mordendo
as mãos.

Com essa pesquisa, Harlow concluiu que o calor materno é tanto ou mais
importante que o alimento. Porém, concluiu também que é preciso muito mais que
‘calor’ materno. Esta mãe de pano, que não reagia, não acariciava, não mantinha contato
visual, não emitia sons, não mostrava certo ou errado, era uma mãe negligente.
A negligencia é caracterizada pela desatenção, pela ausência, pelo descaso, pela
omissão ou, simplesmente pela falta de amor. Ela é considerada um dos principais
fatores,senão a principal, a desencadear comportamentos anti-sociais nas crianças, e está
muito associada à história de vida de usuários de álcool e outras drogas, e também, de
adolescentes com comportamento infrator.

Porém, muitas vezes, a negligência acontece de forma mais sutil; comumente, a


negligência ocorre em famílias com pais muito ocupados, profissionais que viajam
muito, chegam em casa tarde, cansados, sem disposição para manter um bom contato
com seus filhos. Ou então, com mães que tem problemas conjugais, são depressivas,
vivem em seu próprio mundo, não conseguem estabelecer diálogo ou prestar atenção às
necessidades do filho. Os filhos crescem sem que as mães saibam o que eles pensam,
sentem ou gostam. A falta de interação, de vínculo afetivo positivo, de demonstração de
interesse gera a situação de negligência. Também observamos a negligencia, quando a
família deixa para a escola, os amigos, e ou profissionais (empregadas, psicólogas,
fonoaudiólogos), a educação e formação da criança.

A família é o lugar da promoção da educação infantil. Embora a escola, os clubes,


os amigos, a televisão exerçam grande influência na formação da criança, os valores
morais e os padrões de conduta são adquiridos essencialmente através do convívio
familiar. Quando a família deixa de transmitir os valores adequadamente, os demais
veículos formativos ocupam seu papel. Nesses casos, a formação educativa, que deveria
ser apenas secundária, muitas vezes passa a ser a principal na formação dos valores da
criança.

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