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Bauru
2008
Universidade do Sagrado Coração
Bauru
2008
SILVIO MOTTA MAXIMINO
BANCA EXAMINADORA:
Agradeço
Aos Exmos. Srs. Drs. Luís Guilherme Gomes dos Reis Sampaio Garcia, 1º Promotor de
Justiça de Jaú e Júlio César Rocha Palhares, 14º Promotor de Justiça de Bauru
“O significado da vida é a mais urgente das questões”
Albert Camus
“Depois de nos precaver do frio, a fome e a sede, tudo o mais não passa de vaidade e
excesso”
L. A. Sêneca
RESUMO
Este trabalho, apresentado como requisito para a conclusão da pós-graduação em
antropologia, foi elaborado tendo em vista a necessidade de se compreender melhor o sentido
do fenômeno religioso e da experiência religiosa. Para este fim, realizou-se um estudo de
caso, envolvendo um integrante da Igreja Adventista do Sétimo Dia, haja vista as
características peculiares de sua vivência religiosa. Buscou-se analisar como o fenômeno
religioso tem afetado de modo ímpar ao sujeito da experiência. Para tanto, se propôs realizar
uma breve introdução conceitual sobre os aspectos gerais do adventismo, identificando quais
seriam as práticas e princípios originais desta instituição religiosa, uma revisão da literatura,
com o objetivo de conhecer as principais posições exegéticas escatológicas, bem como uma
conceituação do que seja o fenômeno religioso, sob a perspectiva antropológica e
fenomenológica. Com base nas respostas obtidas por meio de entrevista, esta pesquisa propôs-
se a avaliar o nível de influência da escatologia e do messianismo sobre o comportamento do
sujeito da experiência. Optou-se pela observação direta, complementada com a entrevista
direcionada, com perguntas previamente formuladas, considerando que o controle do
investigador sobre os eventos é muito reduzido. O método de estudo de caso foi escolhido por
ser o que melhor atende à necessidade da busca dos nexos de causalidade em situações
vividas, complexas demais para tratamento pela via das estratégias experimentais ou de
levantamento de dados. Assim, pôde-se constatar elementos indicadores de uma nova prática
religiosa no contexto do adventismo.
ABSTRACT
This work, presented as a requirement for completion of postgraduate studies in anthropology,
has been prepared in view the need to better understand the meaning of the phenomenon of
religious and religious experience. To this end, there was a case study, involving a member of
the Seventh-day Adventist Church, due to the peculiar characteristics of their religious
experience. The aim was to examine how the religious phenomenon has affected so unique to
the subject of experience. To that end, it proposed conducting a brief introduction concept on
the general Adventism, identifying what would be the original principles and practices of this
religious institution, a literature review, aiming to identify the principal positions exegetic
escatológicas, and a concept of who is the religious phenomenon, under the
phenomenological and anthropological perspective. Based on the responses obtained through
interviews, this research is intended to assess the level of scatology and the influence of
messianism on the behavior of the subject's experience. Was chosen by direct observation,
complemented by targeted the interview, with questions previously raised, whereas the
control of the investigator about the events is very low. The case study method was chosen
because it is one that best suits the need of search of the causal links in situations, too
complex for treatment of the strategies through research or survey data. Thus, we could see
elements indicators of a new religious practice in the context of Adventism.
Introdução 11
Capítulo I
O Adventismo.......................................................................... 13
1.1
Contexto histórico do surgimento do adventismo moderno..... 13
1.2
Principais doutrinas e divergências.......................................... 14
1.3
Raízes históricas e a influência milenarista.............................. 16
Capítulo II
O fenômeno religioso............................................................... 22
2.1
Religião e experiência religiosa............................................... 24
2.2
Uma fenomenologia da religião.............................................. 28
2.3
O Homo religiosus................................................................... 33
2.4
Do homem ao sagrado; do sagrado ao mito........................... 34
2.5
Pós-modernidade: era das incertezas? ..................................... 36
Capítulo III
O estudo de caso....................................................................... 39
3.1
O valor do estudo de caso para a pesquisa antropológica........ 39
3.2
O estudo de um caso de vivência singular no adventismo....... 39
Considerações finais
..................................................................................................
42
Referências..................................................................................................
44
Apêndices ..................................................................................................
47
Apêndice A Questionário e respectivas respostas referentes ao estudo de
caso........................................................................................... 47-52
Apêndice B Ilustrações................................................................................. 52-55
Anexo A Crenças fundamentais da Igreja Adventista do Sétimo Dia..... 56-60
11
INTRODUÇÃO
mais indicado neste momento, haja vista circunscreve-se à busca dos nexos de causalidade
em situações complexas demais para tratamento pela via das estratégias experimentais ou de
levantamento de dados (métodos estatísticos e de pesquisa com amostragens).
Neste sentido, identificou-se, no interior da Igreja Adventista do Sétimo Dia1, em
Bauru (cidade da região centro-oeste do Estado de São Paulo), um de seus membros, dotado
de características singulares e peculiares quanto a sua ascese: há 21 anos fez o voto de viver
exclusivamente para o estudo, difusão do evangelho cristão e oração, sem, contudo, receber
qualquer salário por parte da instituição religiosa e de qualquer outra atividade remunerada,
seja ela regular ou eventual (sobrevive exclusivamente de doações voluntárias).
Quanto à modalidade da entrevista, decidiu-se pela direcionada ou focada (com
perguntas previamente formuladas).
CAPÍTULO I
– O ADVENTISMO –
Segundo fonte oficial da própria I.A.S.D., a tão esperada data de 22 de outubro “não
estava incorreta”, mas sim que “Miller tinha predito o evento errado para aquele dia”. A partir
desta interpretação, os adventistas se convenceram de que a profecia bíblica previa para 1844,
não o retorno de Jesus a Terra, mas o “início de um ministério especial no céu”. Deste modo,
portanto, eles continuaram ainda hoje a esperar pelo “breve retorno de Jesus”.
Ellen White estava entre os fiéis que também esperava a segunda vinda de Cristo em
1844. Uma vez transcorrida a data in albis, White interpretou que:
Neste particular, não se pode concordar plenamente com Bettencourt, pois em contato
direto com membros e “obreiros” da I.A.S.D., pode-se facilmente constatar uma flexibilidade
no que diz respeito às regras alimentares prescritas nos livros de H. White. Se, por um lado, a
dieta vegetariana é, sim, intensamente incentivada por meio de literatura e palestras, por
outro, seus líderes deixam ao livre arbítrio de seus membros, a adoção de uma dieta tão
rigorosa. Fato é que muitos adventistas não são vegetarianos, nem ovolactovegetarianos,
15
Todos esses sinais se produzem cotidianamente debaixo de nossos olhos para nos
forçar a compreender que o Dia do Senhor está próximo.[...] Em 1572, uma nova
estrela não apareceu no céu? Quem pode duvidar que ela anunciou o último
Advento de Cristo, assim como uma estrela nova precedeu ao seu nascimento? Será
que todas as coisas não estão tristes e perturbadas? Será que os homens não estão
angustiados? Será que suas forças não falham de baixo da aflição? O céu está
fechado para nós; uma terra fecunda: eis aí o que para nós é mais um desejo do que
uma experiência. Então, evitemos de dizer como o mau servidor: “meu mestre
demora a chegar (Mt 24,27). Saibamos antes que “o juiz está às portas” (Tg 5,9)”.
(ARNDT, apud DELUMEAU, 2003, p. 380).
adventista se apega à esperança de que, numa data determinada, possível de ser calculada, a
história chegará a um fim (e, com ela, o próprio mundo corrupto). Torna-se, pois, importante
saber quando acontecerá este fim. Nos primórdios do “adventismo do sétimo dia”, esperava-
se a iminência de que a história chegasse ao seu fim numa data específica, que podia
perfeitamente ser calculada.
Buscando-se identificar em qual “esquema” o presente estudo de caso se encontra
inserido, há que se ressaltar que se distinguem o messianismo e o milenarismo. Para Jean
Delumeau6:
[...] tratando-se da história cristã - a única que nos interessa aqui -, o milenarismo
pode se distinguir do messianismo sob dois aspectos. De um lado, ele repousa sobre
a crença no advento de um 'reino' concebido como uma reatualização das condições
que existiram antes do primeiro pecado. De outro, afirma que o Salvador já se
manifestou e que a espera se concentra no momento de seu retorno.
Diante da impossibilidade de que Jesus fosse apenas “mais um entre tantos que se
proclamavam messias” sem o serem efetivamente, é que seus discípulos, pela fé em sua
ressurreição, passaram a anunciar sua “segunda vinda”. Para o fiel, a história passa a ter um
novo sentido: a espera pela “vingança de Deus ou dos seus representantes contra os
pecadores, os inimigos de Deus”. Com a segunda vinda de Cristo, estabelecer-se-ia o poder de
Deus, criando finalmente as condições para a implantação definitiva do Paraíso-Milênio.
Diversos movimentos milenaristas sucederam-se a partir de então, sempre fixando
cada um deles, o “calendário preciso para o início do milênio”. Delumeau, em “Mil anos de
Felicidade”, observa que “o fato de se verem continuamente forçados a alterar este calendário,
na seqüência das decepções causadas pelos acontecimentos, nunca desencorajou os
obstinados” (apud GOMES8, 2008):
6 Idem nota 4.
7 Idem. Jung Mo Sung possui graduação em Filosofia e em Teologia , doutorado em Ciências da Religião pela
Universidade Metodista de São Paulo e pós-doutorado em Educação pela Univ. Metodista de Piracicaba.
8 Idem nota 4
18
O milenarismo cristão deve ser entendido, como nos alerta Norman Cohn, como
herdeira do milenarismo judeu, formulada a partir do Antigo Testamento, aliada a
uma espera messiânica pelo salvador. Assim, nos primeiros anos do cristianismo,
muitos esperavam a volta de Cristo e que, após derrotar seus inimigos, que na época
eram os romanos, seria estabelecido um período de felicidade sobre a terra [...].
9 Idem nota 4
19
anota que, como tentativa de resposta a indagações como esta, advirão os esforços dos
profetas, que constituem importante reforço para manter viva a fé do povo. Como todas as
projeções históricas dos teólogos, referentes ao advento do Messias, haviam se mostrado
equivocadas e, considerando que o futuro reinado de Deus não podia mais ser associado com
o reino dos sucessores de Davi, logo “os teólogos tiveram que rever suas interpretações e
previsões sobre os planos de Deus” (BLANK, 2001, p. 32).
A concepção da existência de um profundo dualismo cosmológico, que se encontra
também na teologia do zoroastrismo, floresce por esta época também nos textos judaicos.
Blank (idem) observa que as idéias da luta entre um princípio do bem e um do mal, do futuro
juízo da história, num holocausto aterrador de proporções mundiais e do juízo individual,
irrompem no judaísmo, influenciando o surgimento do pensamento apocalíptico em Israel.
Após a vitória de Ciro sobre a Babilônia, o Império persa pôde exercer seu domínio (de 538 a
333 a.C.) sobre toda a região da Palestina, estando Judá dentro desta esfera de influência de
alcances políticos, econômicos, culturais e também religiosos. A cosmovisão religiosa e ética
da religião de Zaratustra penetra, assim, na cultura de Jerusalém, pela via do sincretismo
helenístico. É Blank quem afirma:
Sob o impacto das sucessivas derrotas e perseguições sofridas pelo povo judeu,
somados às crises geradas pelas trocas culturais advindas do helenismo e da religião
persa, a antiga teologia histórica dos profetas aos poucos desaparece, sendo
substituída por um novo modelo teológico. A nova cosmovisão aparece pela
primeira vez no livro de Daniel, escrito entre 168-164 a.C. (idem, p. 43)
intervenção? Onde está o líder carismático que iniciará o novo período histórico?” (BLANK,
2001, p. 66), dentre outras.
Nesta expectativa pelo fim do mundo ou pela segunda vinda do Messias, uma atitude
mais ou menos negativa frente à situação histórica atual tende a se cristalizar ao lado da
crescente esperança de que a opressão e exploração cessarão muito em breve e que tal data é
definível e previsível, mesmo que envolva cálculos relativamente complexos.
22
CAPÍTULO II
– O FENÔMENO RELIGIOSO –
Sendo assim, há que se entender que não se trata simplesmente de aceitar o fato como
dado empírico. A descrição fenomenológica não se limita “a uma enumeração ou indicação
de características e de uma interpretação, e portanto da hermenêutica”. De fato, seu
diferencial está justamente aí:
Diversos estudos sobre o tema têm procurado a análise das estruturas internas dos
fenômenos religiosos, não se restringindo aos âmbitos da fisiologia, da psicologia, da
sociologia ou da lingüística, embora se deva reconhecer o valor interativo de todos estes
aspectos. Ainda que se admita a inexistência de fenômenos religiosos absolutamente puros,
não se deve mais cometer o equívoco de tentar explicá-los exclusivamente como produtos de
razões sociais, econômicas ou políticas (MONDIN, 2003, p. 245).
No mesmo sentido, Mircea Eliade10 observa que “o fenômeno religioso é irredutível e
deve ser compreendido em sua modalidade própria, que é a do ‘sagrado’, e não a partir da
10 Mircea Eliade (1907-1986) é provavelmente o mais importante e influente filósofo especialista em história e
filosofia das religiões. Foi chefe do Departamento de Religião da Universidade de Chicago e autor de
importantíssimas obras científicas de cunho antropológico como “O sagrado e o profano”. Sua extensa
produção literária é mundialmente reconhecida.
24
11 Idem nota 4
12 Idem nota 4. Clifford Geertz, pseudônimo de Harold F. Linder, antropólogo americano e professor no
Institute for Advanced Study, Princeton, New Jersey. Considerado o fundador da vertente conhecida por
antropologia hermenêutica. Com 18 obras publicadas, é, depois de Lévi-Strauss, provavelmente o antropólogo
cujas idéias mais influenciaram a teoria e a prática antropológicas, a partir da segunda metade do século XX.
13 Idem nota 4. José Jorge de Carvalho é antropólogo, Master of Arts em Antropologia Social por The Queen's
University of Belfast e Ph.D em Antropologia Social por The Queen's University Of Belfast; pós-doutorados
pela Rice University e pela University of Florida. Atualmente atua como pesquisador da Universidade de
Brasília e desenvolvendo trabalhos com populações afrobrasileiras, na temática antropológica, religiosa etc.
25
A renovação atual do interesse pela religião pode ser explicada, ao menos em parte,
como reação a situações de desorientação generalizada provocadas, na sociedade
contemporânea, pelo aumento de complexidade decorrente da acentuada
diferenciação dos âmbitos de significado e pelo pluralismo das fontes de produção
dos valores e dos modelos culturais (CRESPI, ibidem).
14 Idem nota 4
26
Ainda, segundo Crespi “a definição de religião mais aceita pelos estudiosos é como
‘sistema comum de crenças e práticas relativas a seres sobre-humanos dentro de universos
históricos e culturais específicos’ [...]” (idem, ibidem).
Segundo Heiler, se a experiência religiosa for pensada enquanto oposição à
experiência “profana”, destaca-se a relação com o divino, com o transcendente. Neste sentido:
15 Idem nota 4
16 Idem nota 4
17 Idem nota 4
27
expressões religiosas, e isto pode ser constatado com uma simples consulta a qualquer
dicionário especializado.
Para se entender melhor o fenômeno religioso, há que se considerar o conceito do
sagrado, considerando sempre que não se pode explicá-lo amplamente, apelando-se a
categorias extra-religiosas. É fato que cada uma das ciências humanas pode apropriar-se da
experiência religiosa ou mesmo de suas expressões, aproximando-se de seu objeto de modos
distintos. Mas só o enfoque fenomenológico acresce uma nova compreensão aos demais
acessos, ou ampliando a compreensão já existente a respeito do fenômeno.
Croatto (2004, p. 20) não desconsidera que uma psicologia da religião é tão
importante quanto uma sociologia da religião quando se trata de pensar fatos religiosos. Para
ele, tais fatos são o “espelho de uma determinada sociedade” (operando como “elemento de
coesão social”, na expressão de Durkheim); da mesma forma, podem refletir a psique
humana (religião como vivência pessoal, seja na instância do impulso básico erótico e
inconsciente freudiano, seja assentada na idéia de arquétipos do inconsciente coletivo
junguiano).
Dando um passo adiante, já na busca de uma abordagem mais antropológica, alguém
poderia sugerir que se optasse por uma aproximação do fenômeno religioso pela via
sincrônica estruturalista, elegendo aspectos fundamentais como o mito e o rito, decompondo-
os em seus elementos mais básicos, significativos e permanentes (CROATTO, 2004, p. 23).
O pesquisador buscaria a análise dos pares de opostos míticos (“natureza e cultura”, “céu e
terra”, dentre outros), e assim construiria algum sistema classificatório, compreendendo a
mitologia como um todo fechado auto-explicativo (não diacrônico).
Contudo, pela via fenomenológica, se vai além de sistemas classificatórios ou
estruturais. O pesquisador não se detém nos fatos em si mesmos, mas busca a
intencionalidade por detrás. É assim que se opera o que Husserl resolveu chamar de
“redução eidética” (à essência). Ou seja, o mais importante e interessante é captar o que
significa o fato, justamente para aquele que vive ou expressa a experiência do sagrado. Ainda
é Croatto (2004, p. 26) quem adverte que tal suspensão do juízo próprio (epoché) em favor da
intenção do ator estudado constitui atitude fundamental do pesquisador que se debruça sobre
os “fatos religiosos em sua função existencial e não (em função) da interpretação de quem o
estuda”.
Outro elemento que surge na busca pela essência é a intuição. Silva18 (2007) defende a
tese de que, “para se aproximar da subjetividade da experiência religiosa é preciso intuir”.
18 Idem nota 4
28
Isso significa que o antropólogo deve estar ciente de que o discurso racional não é tudo. É
comum notar-se que toda exploração fenomenológica sobre alguma atividade ou aspecto do
ser humano acaba concluindo sistematicamente em indícios de autotranscendência: “no
pensar, no querer, no falar, no trabalhar, no brincar” (MONDIN, 2003, p. 272).
Contudo, a supor-se que apenas as sentenças das ciências empíricas e da lógica sejam
dotadas de sentido, dever-se-ia, desde já, negar a possibilidade de construção de algo que se
denomina ciências humanas. A partir de então, tratar-se-ia todo fenômeno humano como
meramente biológico. Antropologia, Psicologia e Sociologia seriam meros departamentos da
Biologia, com ramificações na Química e na Física. Contudo, e felizmente, tal concepção a
cada dia perde terreno.
Certamente se admite que a linguagem, os símbolos e as instituições religiosas tenham
se prestado a formas de dominação e alienação. Contudo, deve-se notar que análises
marxistas, niilistas e existencialistas “não equacionaram cabalmente a complexidade da
experiência religiosa e as formas de sua institucionalização histórica, seja nas suas
implicações econômico-sociais, seja como produção cultural humana no nível simbólico ou
do dado antropológico fundamental” (MOREIRA e ZICMAN, 1994, p. 10).
Diante do fracasso do prognóstico do “processo irreversível de secularização” que
tomaria conta do mundo, forçoso é reconhecer que o fenômeno religioso continua desafiando
os estudiosos e necessitando avanços nas investigações. Neste sentido, observam Moreira e
Zicman:
Rubem Alves observa que a religião “surge muitas vezes sob novos nomes, novos
rótulos, novas roupas e em lugares inesperados” (apud MOREIRA e ZICMAN, 1994, p. 11).
Não é raro observar, hoje, experiências místico-religiosas serem apropriadas e pasteurizadas
pela mídia, mas este fato não anula o valor de grande parte das expressões religiosas.
Do ponto de vista antropológico, o universo da cultura no qual nos movemos é o
“universo de ordenações, sentidos e significados em várias dimensões” (BRANDÃO, apud
MOREIRA e ZICMAN, 1994, p. 65). As ciências jogam um papel relevante no momento de
apresentar decodificações explicativas da realidade. Afinal, fenômenos religiosos são
29
Para Bello, o antropólogo fenomenólogo não negará a existência dos fatos, porém,
mais do que “nos fatos enquanto fatos”, ele vai se interessar pelo seu sentido. A existência
dos fatos fica “entre parênteses” e busca-se a compreensão de sua essência (BELLO, idem, p.
23). A abordagem fenomenológica, de fato, configura-se como “tentativa de compreender a
essência da experiência humana, seja ela psicológica, social, cultural ou religiosa”, partindo,
segundo Silva (2007), “da análise das suas manifestações [...]. É uma tentativa de
compreensão não do ponto de vista do observador, mas do ponto de vista da própria pessoa
que teve a experiência [...]”.
Conforme bem ensina a antropologia filosófica, tal fenômeno em particular reveste-se
sempre de elementos inalcançáveis pela análise imanente ou positivista.
31
É certo que, na busca de uma visão integral do ser humano, várias dimensões se
destacam: seu corpo, seus instintos, suas emoções e sentimentos, suas vontades e sua
intelecção, sua percepção do mundo e, por fim, seus paradigmas. Influenciando e sendo
influenciada por todos estes aspectos, encontra-se a religiosidade, constituindo-se elemento
fundamental na compreensão antropológica deste homem.
Conforme salienta Bello (2004, p. 156), “o ambiente em que vivemos habitualmente é
profundamente ligado a uma precisa tradição: costumes, idéias, mentalidade”. Não obstante,
é possível, ao contatar outra cultura, aprender e entendê-la. Sendo o corpo humano, em
perspectiva fenomenológica, o ponto de partida, se entende como perfeitamente possível
acessar níveis culturais distintos e “compreender como se organizam as mentalidades nessas
diversas culturas” (BELLO, 2004, p. 157). A fenomenologia acredita, pois, ser viável uma
“descrição da estrutura da subjetividade humana”, bem como as combinações de vivências
que essa estrutura permite, fugindo o quanto possível do reducionismo.
Neste aspecto, conclui-se que, ante a abordagem sociológica tradicional (positivista),
contrapõe-se à vocação da investigação fenomenológico-antropológica. De qualquer modo,
inexiste fenômeno religioso a ser estudado se antes não se pensar o sujeito que vivencia tal
fenômeno. Evidente que, para uma melhor apreensão do seu significado, a fenomenologia da
religião não despreza os importantes subsídios fornecidos pela história, sociologia,
psicologia, filosofia, dentre outras disciplinas; contudo, não se restringe a eles.
O fenômeno religioso nasce da dimensão da transcendência do ser humano. Por tal
razão, merece uma abordagem privilegiada. Neste primeiro momento, o objetivo é a
descrição direta da experiência tal como ela é, mas em sentido qualitativo: deseja-se
apreender a natureza da atividade, descrevê-la sem realizar medições.
Concluindo também neste sentido, Eliade afirma:
[...] um fenômeno religioso somente se revelará como tal com a condição de ser
apreendido dentro da sua própria realidade, isto é, de ser estudado à escala
religiosa. Querer delimitar este fenômeno pela fisiologia, pela psicologia, pela
sociologia e pela ciência econômica, pela lingüística e pela arte, etc. é traí-lo, é
deixar escapar precisamente aquilo que nele existe de único e irredutível, ou seja, o
seu caráter sagrado [...] (apud GIL FILHO, 2008).
Nas palavras de Oliveira20 (apud SILVA, 2007), “olhar, ouvir e escrever” são as três
habilidades ou “atos cognitivos” que o antropólogo necessita para “construir o saber” ou
20 Roberto Cardoso de Oliveira possui graduação em Licenciatura em Filosofia pela Universidade de São
Paulo, graduação em Filosofia pela Universidade de São Paulo, doutorado em Sociologia pela Universidade
de São Paulo e pós-doutorado pela Harvard University. Atualmente é Professor visitante da Universidade de
Brasília.
33
religiosus é colocado (ou se vê) nos limites do mundo profano, a vislumbrar o horizonte do
mundo sagrado (JORGE, 1998, p. 27).
A socialização da experiência religiosa também tem relevância, conforme ressalta
Croatto (2004, p. 42). Tal aspecto se entrelaça com a esfera individual dos desejos, projetos,
realizações ou frustrações, já que o ser humano, pela sua dimensão da transcendência, opera
tendente à totalidade.
O homo religiosus, parece constantemente pressionado pelo dualismo metafísico,
representado pelas expressões “ser e nada”, “vida e morte”, “ordem e caos”. O sentido de sua
vida moral parece orbitar ao redor desta definição radical. Um dos lados representa a
“salvação” e a “santidade”, enquanto o outro o leva ao desnorteio, à sensação de “perdição”.
Sem dúvida, a compreensão do homo religiosus perpassa necessariamente a
concepção do sagrado. Interessante, por sinal, a análise de Otto (apud CROATTO, 2004, p.
52), ao constatar a existência de quatro momentos de apreensão do sagrado: primeiro “a
consciência de dependência; depois a atitude de sumo respeito, o tremendum [...]; no terceiro
momento, o sagrado apresenta-se como o inteiramente Outro”, o mysterium, Deus concebido
como pessoa [...] e por último, o Mistério impõe-se como atraente, fonte de felicidade.
Contemporaneamente se observa que o ser humano tem reduzido sua abertura ao
transcendente. Esta constatação dispensa a busca por evidência, haja vista estar generalizada
na cultura ocidental, acossada pelos ventos do materialismo e do neopositivismo. O homo
religiosus, contudo, continua vivo. A despeito de tudo, ele afirma a existência de uma
realidade absoluta, transcendente ao mundano, embora presente nele, e mediada pelo sagrado.
E é justamente neste ponto crucial que tem início esta pesquisa: O ser humano que se
depara com o “mistério”, que tem seu “encontro pessoal com a divindade” (CROATTO,
2004, 65). Que transformações poderiam advir deste encontro? Definitivamente modificado
pelo contato com a transcendência, perpassado por ela, este sujeito passa a ter algo a dizer ao
mundo. A realidade é o “mistério” e este passa a ser entendido como sendo a única realidade
significativa . O mundo e tudo que a ele pertence é simplesmente irreal, absurdo, inseguro e
efêmero.
21 Carl Gustav Jung (1875-1961), considerado o Pai da Psicologia Analítica e um dos maiores expoentes do
século XX. Deixou contribuições científicas significativas ao estudo e compreensão da alma humana.
22 Teólogo e filósofo alemão Paul Tillich (1886-1965), considerado o maior pensador sistemático do século
XX. Sua teologia pode ser situada como um meio caminho entre a teologia liberal e a neo-ortodoxia.
36
fenomênico” (apud CROATTO, 2004, p. 205). É a partir deste pano de fundo que se pode
contrastar o homo religiosus.
O mito, por fim, dá sentido à realidade presente, recorrendo a uma narrativa que
remonta a um evento remoto ou primordial, em que os deuses são os protagonistas. Deste
modo, a ação humana no presente adquire valor, objetividade, relevância e significado. No
que se refere ao uso da expressão “mito”, cumpre ainda uma última advertência quanto ao seu
sentido antropológico. Conforme bem asseverou Eliade (apud RIBEIRO23), atualmente mito
refere-se a uma “história sagrada verdadeira”, não se cometendo mais o erro primário de
considerá-lo sinônimo de “fábula” ou “ficção”. O mito “[...] fala apenas do que realmente
ocorreu, do que se manifestou plenamente”.
Para compreender melhor os movimentos de cunho milenarista ou messiânico, caso
do Adventismo, há que se considerar, ainda, a cosmovisão mítica cristã desenvolvendo-se no
interior do “esquema histórico” (que pensa os acontecimentos significativos como singulares
e irreversíveis), em oposição ao “esquema cíclico”, característico das cosmovisões orientais.
O futuro, então, ganha especial significação, se comparado aos tempos primordiais. Na “visão
do mundo bíblico, os motivos da escatologia24 têm muita relevância. [...] embora a nostalgia
do criacional permaneça [...] e o esquema da repetição seja mantido [...] na forma da
recordação litúrgica dos acontecimentos fundantes [...]” (CROATTO, 2004, p. 308).
Entrelaçados inevitavelmente a esta escatologia, estão os diversos mitos que darão
conta da origem do mal, da culpa, e da vinda de um messias. O mito adâmico, explicando a
origem do pecado e o mito órfico, aclarando a dicotomia corpo-alma e sua queda no mundo
fenomênico ajudam na configuração do drama humano que culminará na experiência da
redenção.
23 Idem nota 4.
24 (Teol.) doutrina das coisas que deverão acontecer no fim do mundo.
37
Segundo Anunciação25 (1999), a Igreja Adventista do Sétimo Dia é uma das igrejas
cristãs que mais cresce na atualidade. Esta instituição cresce, pelo batismo:
Tal constatação pode indicar que o mundo não está generalizadamente dominado pelo
"princípio de incerteza", como ocorre no âmbito das hard sciences. Paradoxalmente, em
muitos setores da sociedade predomina o “princípio da certeza”, quando não o da “certeza
absoluta”. Parece que, quanto maior a divulgação sobre as incertezas do mundo e da vida,
mais certezas estes grupos buscam e encontram:
CAPÍTULO III
– O Estudo de Caso –
26 Idem nota 4. Robert K. Yin é autor da importante obra Case Study Research: design and methods
40
Silva Barros, o qual também auxiliou na formulação e organização de algumas das principais
questões que foram feitas ao sujeito pesquisado.
A primeira entrevista se deu no dia 16 de setembro de 2008 e a segunda foi realizada
no dia 11 de novembro de 2008, ambas na própria residência de C.N.
Além das ocasiões de aplicação do referido questionário, o autor desta pesquisa
também conviveu com C.N., em várias ocasiões durante o transcurso do ano de 2007, além
de participar de conferências públicas por ele ministradas, nas quais aspectos importantes
referentes a suas crenças, práticas, experiências, usos e costumes, puderam ser levantados e
considerados no momento da confecção do presente trabalho.
Pela análise das respostas fornecidas às questões previamente formuladas, bem como
por meio das informações obtidas nos outros contatos informais supramencionados, pode-se
afirmar o que segue.
Há vinte e um anos, C. N. sobrevive de doações voluntárias e realiza trabalho
voluntário para a I.A.S.D., sem qualquer vínculo empregatício, consistente em ministrar
estudos bíblicos a domicílio, conferências públicas e reuniões de aconselhamento particulares,
percorrendo bairros da cidade de Bauru e da região, sempre que solicitado, seja por
integrantes da igreja, seja por leigos.
O entrevistado apresenta uma visão de mundo plenamente conformada e adequada à
concepção doutrinária adventista, não expressando qualquer divergência quanto às
orientações e interpretações das principais autoridades desta denominação religiosa. Neste
sentido, apresenta uma concepção dualista da história, definida pelo conflito irreconciliável
entre as forças do bem e as do mal. A destruição final dos maus e de seus reinos terrenos, com
garantia de redenção e glória eternas aos fiéis igualmente integram sua crença, fundamentada
principalmente nas promessas do Livro do Apocalipse, destacadas pelos pioneiros da I.A.S.D.
C.N. mostrou-se pessimista em relação à possibilidade de realização humana no
âmbito profano. Tal razão, aliada à promessa bíblica de Jesus Cristo, o incentivam em sua
intenção de “viver pela fé”, o que ele crê estar realizando há mais de 20 anos. O entrevistado,
contudo, não nutre esperança de que outras pessoas, mesmo entre os adventistas, sigam o seu
modo ímpar de vida, devido às inúmeras dificuldades inerentes a tal postura.
Nota-se que o paradigma escatológico demarca os limites de seu discurso. Ele aguarda
a iminente volta de Jesus e acredita que, por detrás do aparente caos reinante no mundo,
predomina uma ordem preestabelecida, tendo em vista a “vinda do reino de Deus no fim dos
tempos”. Embora a espera pela “vinda triunfante do Messias”, em meio a uma catástrofe
cósmica iminente e inevitável, não seja mencionada como causa de seu voto, ele esclarece que
41
seu “viver exclusivamente pela fé”, consiste em “confiar na promessa de alguém” (questão
3.5); não consiste, portanto, em esperar por sinais ou milagres para só então acreditar e
modificar seu comportamento. Sendo assim, em razão de seu “acordo com Deus” (sic), sua
postura é de “total confiança de que Deus proverá”, ou seja, de que Deus cuidará de todas as
suas necessidades, uma vez que cumpre fielmente sua missão de propagar o evangelho de
Jesus.
Essa mescla de pessimismo/otimismo em relação ao destino do mundo e do homem
advém obviamente dos escritos apocalípticos, os quais não admitem o fracasso do plano
divino. Toda sua esperança e razão de vida se encontram sustentadas nessa crença básica. No
final dos tempos, “Deus triunfará sobre as forças do mal no mundo” e todos os
acontecimentos que se verificam no mundo hoje acontecem “porque Deus permite... não
porque Deus quer” (sic). Os conflitos de proporções mundiais e as catástrofes naturais são
todos interpretados como sinais eloqüentes de que a “Segunda Vinda” está cada vez mais
próxima e que é necessário nutrir a esperança e suportar o sofrimento que está por vir.
Quanto à questão da especificidade de sua experiência religiosa, no contexto do
Adventismo, fez-se o cotejo das afirmações do próprio entrevistado com o conteúdo do
Manual da I.A.S.D. Referido manual traz a regulamentação de todos os possíveis cargos ou
ocupações previstos dentro de referida organização27. Da análise deste documento, constatou-
se inexistir previsão ou qualquer referência à função especificamente desempenhada pelo
sujeito entrevistado.
Corroborando a observação empírica, além do referido documento e do depoimento
do próprio entrevistado, há a confirmação fornecida pelo pastor Joanito Marques
Maia, Pastor da I.A.S.D. e autoridade à qual o sujeito do presente estudo se encontra
vinculado mais diretamente, enquanto membro de referida entidade religiosa.
27 Os possíveis cargos ou posições dentro da I.A.S.D. são: Membro, Oficial da Igreja, Ancião da Igreja, Diácono
e Diaconisa, Secretário da Igreja, Tesoureiro da Igreja, Professor da Escola Sabatina, Diretor de Divisão, Diretor
Departamental, Gerente, Vice-diretor, Ministro, Obreiro, Presidente da Associação, Coordenador de Ministério,
Pastor, Delegado (capítulos 6 a 11 do Manual).
Note-se, neste particular, que, ao contrário do que ocorre no caso de C.N., nenhum membro pode atuar vinculado
a mais de um distrito simultaneamente (membros colaboradores ou detentores de cargos devem estar vinculados
a apenas um distrito/pastor). Além disto, a atribuição para proferir conferências é privativa dos pastores.
42
Considerações Finais
Buscando responder à pergunta sobre “qual idéia está por trás do fenômeno”, pode-se
dizer que a idéia fundamental é a busca de um sentido à vida, que seja transcendente a ela
mesma. Esse é o sentido do fenômeno: a busca pelo sentido da vida, além das dimensões do
profano. A dimensão da religião ainda afeta profundamente o homem, mesmo no contexto de
uma sociedade amplamente urbanizada e laicizada.
Por outro lado, a experiência religiosa do sujeito entrevistado não representa o
surgimento de uma nova expressão religiosa, mas melhor pode ser entendido enquanto uma
prática ímpar e original, considerando o contexto de religião estável, aplicável à I.A.S.D. da
atualidade. Ou seja, pode-se entendê-la enquanto nova prática religiosa no interior de referida
instituição religiosa, já que seu modus vivendi não tem um locus corresponde na estrutura da
instituição. Paradoxalmente, para tornar o presente caso ainda mais singular, a mesma
instituição acolhe e respeita este modus vivendi, não incentivado a princípio. O sujeito
pesquisado não se adequou a quaisquer das situações propostas no contexto de sua instituição
religiosa, mas simultaneamente conquistou ali seu próprio lócus.
Observou-se que a instituição absorveu sua experiência religiosa e não a reprimiu. Em
geral, entre a “opção mais individual” (caracterizada pela busca solitária de autopurificação e
pela ausência de envolvimento com qualquer unidade confessional) e a hipótese da “plena
submissão do ator a uma comunidade religiosa”, há gradações. O presente estudo demonstra
esta complexidade.
44
Referências
______ . Culturas e Religiões: Uma leitura fenomenológica. Bauru: Edusc, 2ª ed., 1998.
BETTENCOURT, E.T. Crenças, religiões, igrejas e seitas: quem são? Santo André: Editora
O Mensageiro de Santo Antônio, 1995.
DELUMEAU, J. Mil anos de felicidade: uma história do paraíso. São Paulo: Cia das Letras,
1997.
JORGE, J.S. Cultura Religiosa: O homem e o fenômeno religioso. 2ª edição. São Paulo:
Edições Loyola, 1998.
Fontes eletrônicas:
Igreja Adventista do Sétimo Dia. Declaração oficial de crenças fundamentais. Disponível em:
<http://www.adventistas.org.pt/Artigos.asp?ID=5>. Acesso em: 01 dez. 2008.
MILENARISTA. In: DICIONÁRIO AURÉLIO: século XXI, versão eletrônica 3.0: Editora
Nova Fronteira, 1999.
POMPA, Cristina. A construção do fim do mundo. Para uma releitura dos movimentos sócio-
religiosos do Brasil "rústico". Rev. Antropol., São Paulo, v. 41, n. 1, 1998 . Disponível em:
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0034-77011998000100006&lng=p
t&nrm=iso>. Acesso em: 24 ago. 2008. doi: 10.1590/S0034-77011998000100006
46
Seventh-day Adventist Church: Its history, beliefs, practices, controversies, etc. Disponível
em: <http://www.religioustolerance.org/sda.htm>. Acesso em: 01 dez. 2008.
Bibliografia consultada:
CHALMERS, A.F. O que é ciência, afinal? São Paulo: Brasiliense, 1ª ed., 1993.
Paulinas, 2005.
VERNETTE, J. Las Sectas – ¿qué pensar?, ¿cómo actuar? Madrid: Editorial CCS, 2ª ed.,
1997.
Manual da Igreja Adventista do Sétimo Dia. Tradução de Naor G. Conrado. 14ª edição.
Apêndice A
- Questionário com respectivas respostas referente ao estudo de caso -
1 -Questões gerais
1.2 Onde reside atualmente? Quais as características do imóvel? Há outras pessoas que
residem no mesmo local?
Rua S. G.
O imóvel em que reside pertence a uma senhora, integrante da igreja, que lhe permite residir
ali, por caridade.
O imóvel é de madeira e contém sala, três quartos, cozinha, copa e banheiro (figuras 1 a 8).
Um dos quartos é utilizado por C. N. como escritório.
Outro quarto é utilizado como seu dormitório. Neste mesmo recinto ele mantém um pequeno
altar onde faz suas orações em particular (figura 7 e 8).
C.N. diz considerar a proprietária do imóvel, com quem reside, como sua “segunda mãe”. Ela
é encarregada pela organização da casa, elaboração de refeições, dentre outros afazeres
domésticos.
Observação: C. N. chegou até esse local por iniciativa de outros integrantes da igreja que,
vendo seu estado de saúde debilitado, procuraram pela referida proprietária e combinaram sua
estada ali por tempo indefinido.
Há 21 (vinte e um) anos, C. N. sobrevive de doações voluntárias que oscilam entre R$ 200,00
(duzentos reais) e R$ 400,00 (quatrocentos reais) por mês. Tais valores são depositados
diretamente numa caderneta de poupança. Em geral não conhece os doadores mês a mês.
Não efetua recolhimento de quaisquer valores junto ao INSS, para fins de aposentadoria ou de
assistência médica. Não se socorre de auxílio-desemprego ou de quaisquer outros benefícios
do governo.
Com estas doações ele adquire livros, alguns alimentos, roupas, sapatos e passes de ônibus.
Observação: antes deste período, C. N. trabalhava no departamento de jornalismo da Rede
Globo de Televisão até ser demitido.
C. N. acha importantíssimo não ter uma vida sedentária. Realiza caminhadas de pelo menos
uma hora por dia, em geral, aproveitando os trajetos até as residências das pessoas a quem
ministra os estudos bíblicos.
1.5 Quais são seus hábitos no que se refere ao lazer? Freqüenta que locais?
48
C. N. aprecia leitura e filmes, aos quais assiste em sua casa, normalmente sozinho.
Eventualmente freqüenta alguma pizzaria.
C. N. segue uma dieta ovolactovegetariana. Ele toma especial cuidado para que a dieta
contenha pouco carboidrato e maior proporção de frutas, verduras e legumes, conforme segue:
Todos os dias de manhã: suco de três laranjas espremidas juntamente com um limão e
adoçado com uma xícara pequena de mel. (C.N. elegeu esta dieta em razão da debilidade de
seu sistema imunológico).
À tarde: um prato de refogado acompanhado de salada.
À noite: um assado ou fritura ou massa, além de uma fruta. (Em relação à fritura, em geral
apenas uma vez por semana).
Além disso, consome ovo em média, duas vezes por semana e queijo, uma vez por mês.
Há 20 anos, C. N. não utiliza carne de nenhum tipo em sua dieta.
2.1 Qual é sua rotina diária no que se refere a sua atuação na instituição religiosa?
Das 7h às 12h, realiza leituras, orações e aproveita o tempo restante para a escritura de uma
obra que pretende editar futuramente, em forma de livro.
Das 14 às 23h, de domingo a sábado, realiza estudos bíblicos, geralmente para pessoas
externas à instituição, além de aconselhamento a integrantes da própria I.A.S.D.
Na manhã do sábado, participa do culto semanal.
C. N. não sai em férias, nem sente necessidade delas. Explica que, como não exerce atividade
laboral e nem exerce cargo na igreja, a seu ver tais férias não se justificariam.
2.2 Que tipos de vestimenta específica utiliza durante as atividades que desenvolve
dentro da instituição religiosa? E fora dela?
Durante a semana, utiliza roupa social (sapatos, paletó ou blazer). Para o culto de sábado,
reserva um conjunto especial (também social).
3 -Experiência religiosa:
C.N. a define como um “viver pela fé”, buscando um modo de vida que se aproxime ao dos
primeiros discípulos cristãos. Faz questão de advertir, contudo, que seu trabalho “não é de
catequização”.
3.2 Quais eram seus projetos de vida antes do contato com a instituição religiosa
“adventista do sétimo dia”?
Antes de tornar-se membro da I.A.S.D., foi católico até 1985, ocasião em que teve o primeiro
contato com a denominação adventista, por meio de um estudo bíblico do qual participou a
49
convite de um amigo. Depois disto, permaneceu, ainda, por dois anos afastado da I.A.S.D.,
antes de, novamente, fazer contato com seus integrantes.
Cursou Faculdade de Jornalismo na UNESP, mas não chegou a concluir o curso. Na mesma
época, resolveu migrar para o curso de Artes Plásticas, mas também não concluiu. Pretendia
trabalhar possivelmente no setor de jornalismo da Rede Globo de Televisão em Bauru, onde
do mesmo modo pretendia seguir carreira.
Quando conheceu a I.A.S.D., estava noivo havia um ano e sete meses. Pouco antes de
abandonar o curso, foi dispensado do emprego na Rede Globo. Na mesma época, sua noiva
pôs término ao noivado. Após tais acontecimentos, decidiu abandonar a faculdade.
3.3 Quais eram seus hábitos (comportamento) antes do contato com a I.A.S.D.?
C. N. era fumante e sua dieta não tinha restrições (comia carne normalmente). Além disso, era
freqüentador assíduo de espetáculos musicais, teatrais, cinema, discotecas e de quaisquer
outros eventos culturais ou artísticos que ocorressem na cidade. Os convites eram comuns,
uma vez que trabalhava na Rede Globo.
3.4 Quando teve seu primeiro contato com a instituição religiosa adventista?
Há 21 anos aproximadamente, teve seu primeiro contato. Depois do primeiro contato, ficou
por dois anos sem definir-se. Em dezembro de 1988 decidiu batizar-se na igreja.
3.3 Em que momento de sua vida decidiu modificar suas atitudes religiosas?
Em janeiro de 1989, pouco tempo depois do término do seu noivado, bem como, da dispensa
do seu emprego.
Neste momento resolveu “conversar com Deus” e expor sua intenção. A partir de então,
entregou-se ao seu projeto, sem interrupções até os dias de hoje. Em suas palavras: decidiu
“entregar-se de cabeça”: sua dedicação a esta experiência religiosa é exclusiva. Sua vida gira
em torno deste trabalho de evangelização.
Houve desde o início, sérios conflitos familiares: Sua mãe, muito decepcionada e assustada
com o seu comportamento (abandono da Faculdade, p. ex.), ameaçou expulsá-lo de casa,
ironizando ao desafiá-lo a constatar se a Igreja o sustentaria, uma vez que estivesse na rua.
Em decorrência, portanto, da total falta de apoio dos integrantes da família, decidiu sair de
casa.
Na mesma época, decidiu afastar-se também de todo o antigo círculo de amizades e dos
lugares que freqüentava até então. Conseqüentemente, deixou de freqüentar espetáculos,
teatros, cinema, discotecas etc.
Não.
Ocorreu apenas que, no contexto da série de mudanças drásticas que aconteciam em sua vida
naquela época, C. N. decidiu expor toda a situação em oração a Deus. Ao mesmo tempo, “fez
o voto”, propondo a Deus “viver exclusivamente pela fé”. Uma vez feito o voto, pôde
50
observar sim, fatos que interpretou como “sinais de que Deus havia aceitado seu voto”:
pessoas começaram a se aproximar e a colaborar espontaneamente para a sua subsistência.
Atualmente vive com o mesmo propósito que o levou a tomar aquela decisão há mais de 20
anos.
Observação:
Ele explica que se uma pessoa atua ou modifica seu comportamento simplesmente motivado
por algum “milagre” que tenha presenciado, então sua mudança não foi pela fé, mas pelas
obras. No seu caso, sua decisão encontra-se fundada exclusivamente na fé.
C.N. define que consiste em “confiar na promessa de alguém”. Sendo assim, em razão de seu
acordo com Deus, sua postura é de total confiança de que Deus cuidará do atendimento de
todas as suas necessidades básicas, utilizando eventualmente outras pessoas como
instrumentos, inspirando-as a colaborarem com o trabalho que desempenha.
Além disso, também acrescentou que as pessoas que colaboram com sua subsistência são
anônimas e não são sempre as mesmas durante os mais de 20 anos em que adotou este modo
de vida.
3.6 Existem outras pessoas do seu meio que partilham do mesmo modo de vida escolhido
pelo entrevistado? Por quê?
Não, que seja do seu conhecimento. Questionado sobre os motivos para a singularidade do
seu caso, respondeu que isso se deve ao fato de que o comum é que as pessoas busquem
alguma segurança no aspecto econômico, alguma forma de sustento. Isto tornaria esta opção
de vida pouco atrativa.
3.7 Como tem sido a reação da administração da organização religiosa local a respeito?
E da administração geral? Há apoio à sua atitude? Em que intensidade?
3.8 Como tem sido a reação dos leigos a respeito? Como as pessoas em geral têm reagido
a sua postura? E a família?
A reação é de admiração pela coragem e pela fé. Hoje a família está mais resignada, em
especial sua mãe, que aceita com mais tranqüilidade e menos animosidade sua condição.
3.9 Quais suas perspectivas futuras em relação ao seu modo de vida no aspecto
religioso?
3.10 Existe desejo de que outras pessoas assumam o mesmo modelo de vida?
Admite que o nível de desprendimento que tal atitude exigiria das pessoas não torna tal
modelo atraente. Sente também que sua situação dificulta a consecução de uma esposa, uma
vez que as mulheres geralmente prezam por alguma segurança ou estabilidade financeira, o
que ele evidentemente não pode oferecer.
Apêndice B
Ilustrações do autor
Anexo A
– Crenças fundamentais da Igreja Adventista do Sétimo Dia –
Os Adventistas do Sétimo Dia aceitam a Bíblia como seu único credo e mantêm certas crenças fundamentais
como sendo o ensino das Escrituras Sagradas. Estas crenças, da maneira como são apresentadas aqui, constituem
a compreensão e a expressão do ensino das Escrituras por parte da Igreja. Pode haver revisões destas declarações
numa assembléia da Associação Geral, quando a Igreja é levada pelo Espírito Santo a uma compreensão mais
completa da verdade bíblica ou encontra melhor linguagem para expressar os ensinos da Santa Palavra de Deus.
As Escrituras Sagradas
As Escrituras Sagradas, o Velho e Novo Testamentos, são a Palavra de Deus escrita, dada por inspiração divina
por intermédio de santos homens de Deus que falaram e escreveram ao serem movidos pelo Espírito Santo.
Nesta Palavra, Deus transmitiu ao homem o conhecimento necessário para a salvação. As Escrituras Sagradas
são a infalível revelação de Sua vontade. Constituem o padrão do caráter, a prova da experiência, o autorizado
revelador de doutrinas e o registro fidedigno dos atos de Deus na História. (II S. Pedro 1:20 e 21; II Timóteo
3:16 e 17; Sal. 119:105; Prov. 30:5 e 6; Isa. 8:20; S. João 10:35; 17:17; I Tess. 2:13; Heb. 4:12).
A Trindade
Há um só Deus: Pai, Filho e Espírito Santo, uma unidade de três pessoas co-eternas. Deus é imortal, onipotente,
onisciente, acima de tudo e sempre presente. Ele é infinito e está além da compreensão humana, mas é conhecido
por meio de Sua auto-revelação. Para sempre é digno de culto, adoração e serviço por parte de toda a criação.
(Deut. 6:4; 29:29; S. Mat. 28:19; II Cor. 13:13; Efés. 4:4-6; I S. Ped. 1:2; I Tim. 1:17; Apoc. 14:6 e 7).
O Pai
Deus, o Eterno Pai, é o Criador, o Originador, o Mantenedor e o Soberano de toda a criação. Ele é justo e santo,
compassivo e clemente, tardio em irar-Se, e grande em constante amor e fidelidade. As qualidades e os poderes
manifestados no Filho e no Espírito Santo também constituem as revelações do Pai. (Gên. 1:1; Apoc. 4:11; I Cor.
15:28; S. João 4:8; I Tim. 1:17; Êxo. 34:6 e 7; S. João 14:9).
O Filho
Deus, o Filho Eterno, encarnou-se em Jesus Cristo. Por meio dEle foram criadas todas as coisas, é revelado o
caráter de Deus, efetuada a salvação da humanidade e julgado o mundo. Sendo para sempre verdadeiramente
Deus, Ele tornou-se também verdadeiramente Deus, Ele tornou-Se também verdadeiramente homem, Jesus, o
Cristo. Foi concebido do Espírito Santo e nasceu da virgem Maria.
Viveu, e experimentou a tentação como ser humano, mas exemplificou perfeitamente a justiça e o amor de Deus.
Por Seus milagres manifestou o poder de Deus e atestou que era o Messias prometido por Deus.
Sofreu e morreu voluntariamente na cruz por nossos pecados e em nosso lugar, foi ressuscitado dentre os mortos
e ascendeu para ministrar no santuário celestial em nosso favor. Virá outra vez, em glória, para o livramento
final de Seu povo e a restauração de todas as coisas. (S. João 1:1-3 e 14; 5:22; Col. 1:15-19; S. João 10:30; 14:9;
Rom. 5:18; 6:23; II Cor. 5:17-21; S. Luc. 1:35; Filip. 2:5-11; I Cor. 15:3 e 4; Heb. 2:9-18; 4:15; 7:25; 8:1 e 2;
9:28; S. João 14:1-3; I S. Ped. 2:21; Apoc. 22:20).
O Espírito Santo
Deus, o Espírito Eterno, desempenhou uma parte ativa com o Pai e o Filho na Criação, Encarnação e Redenção.
Inspirou os escritores das Escrituras. Encheu de poder a vida de Cristo. Atrai e convence os seres humanos; e os
que se mostram sensíveis são renovados e transformados por Ele, à imagem de Deus. Enviado pelo Pai e pelo
Filho para estar sempre com Seus filhos, Ele concede dons espirituais à Igreja, a habilita a dar testemunho de
Cristo e, em harmonia com as Escrituras, guia-a em toda a verdade. (Gên. 1:1 e 2; S. Luc. 1:35; II Ped. 1:21; S.
Luc. 4:18; Atos 10:38; II Cor. 3:18; Efés. 4:11 e 12; Atos 1:8; S. João 14:16-18 e 26; 15:26 e 27; 16:7-13; Rom.
1:1-4).
A Criação
Deus é o Criador de todas as coisas e revelou nas Escrituras o relato autêntico de Sua atividade criadora.
"Em seis dias fez o Senhor os céus e a Terra" e tudo que tem vida sobre a Terra, e descansou no sétimo dia dessa
primeira semana. Assim Ele estabeleceu o sábado como perpétuo monumento comemorativo de Sua esmerada
obra criadora. O primeiro homem e a primeira mulher foram formados à imagem de Deus como obra-prima da
Criação, foi-lhes dado domínio sobre o mundo e atribuiu-se-lhes a responsabilidade de cuidar dele. Quando o
mundo foi concluído, ele era "muito bom", proclamando a glória de Deus. (Gên. 1; 2; Êxo. 20:8-11; Sal. 19:1-6;
33:6 e 9; 104; Heb. 11:3; S. João 1:1-3; Col. 1:16 e 17).
57
A Natureza do Homem
O homem e a mulher foram formados à imagem de Deus com individualidade, o poder e a liberdade de pensar e
agir. Conquanto tenham sido criados como seres livres, cada um é uma unidade indivisível de corpo, mente e
alma, e dependente de Deus quanto à vida, respiração e tudo o mais. Quando os nossos primeiros pais
desobedeceram a Deus, eles negaram sua dependência dEle e caíram de sua elevada posição abaixo de Deus. A
imagem de Deus, neles, foi desfigurada, e tornaram-se sujeitos à morte. Seus descendentes partilharam dessa
natureza caída e de suas conseqüências. Eles nascem com fraquezas e tendências para o mal. Mas Deus, em
Cristo, reconciliou consigo o mundo e por meio de Seu Espírito restaura nos mortais penitentes a imagem de seu
Criador. Criados para a glória de Deus, eles são chamados para amá-Lo e uns aos outros, e para cuidar de seu
ambiente. (Gên. 1:26-28; 2:7; Sal. 8:4-8: Atos 17:24-28; Gên. 3; Salm. 51:5; Rom. 5:12-17; II Cor. 5:19 e 20).
O Grande Conflito
Toda a humanidade está agora volvida num grande conflito entre Cristo e Satanás, quanto ao caráter de Deus,
Sua lei e Sua soberania sobre o Universo. Este conflito originou-se no Céu quando um ser criado, dotado de
liberdade de escolha, por exaltação própria tornou-se Satanás, o adversário de Deus, e conduziu à rebelião uma
parte dos anjos. Ele introduziu o espírito de rebelião neste mundo, ao induzir Adão e Eva em pecado. Este
pecado humano resultou na deformação da imagem de Deus na humanidade, no transtorno do mundo criado e
em sua conseqüente devastação por ocasião do dilúvio mundial.
Observado por toda a criação, este mundo tornou-se palco do conflito universal, dentro do qual será finalmente
vindicado o Deus de amor. Para ajudar Seu povo nesse conflito, Cristo envia o Espírito Santo e os anjos leais,
para os guiar, proteger e amparar no caminho da salvação. (Apoc. 12:4-9; Isa. 14:12- 14; Ezeq. 28:12-18; Gên.
6-8; II Ped. 3:6; Rom. 1:19-32; 5:19-21; 8:19-22; Heb. 1:4-14; I Cor. 4:9).
A Experiência da Salvação
Em infinito amor e misericórdia, Deus fez com que Cristo, que não conheceu pecado, Se tornasse pecado por
nós, para que nEle fôssemos feitos justiça de Deus. Guiados pelo Espírito Santo, sentimos nossa necessidade,
reconheçamos nossa pecaminosidade, arrependemo-nos de nossas transgressões e temos fé em Jesus como
Senhor e Cristo, como Substituto e Exemplo. Esta fé que aceita a salvação advém do divino poder da Palavra e é
o dom da graça de Deus. Por meio de Cristo somos justificados, adotados como filhos e filhas de Deus e
libertados do domínio do pecado. Por meio do Espírito, nascemos de novo e somos santificados; o Espírito
renova nossa mente, escreve a lei de Deus, a lei de amor, em nosso coração, e recebemos o poder para levar uma
vida santa. Permanecendo nEle, tornamo-nos participantes da natureza divina e temos a certeza de salvação
agora e no Juízo. (Sal. 27:1; Isa. 12:2; Jonas 2:9; S. João 3:16; II Cor. 5:17-21: Gál. 1:4; 2:19 e 20; 3:13; 4:4-7;
Rom. 3:24-26; 4:25; 5:6-10; 8:1-4, 14, 15, 26 e 27; 10:7; I Cor. 2:5; 15:3 e 4; I S. João 1:9; 2:1 e 2; Efés. 2:5-10;
3:16-19; Gál. 3:26; S. João 3:3-8; S. Mat. 18:3; I S. Ped. 1:23, 2:21; Heb. 8:7-12).
A Igreja
A Igreja é a comunidade de crentes que confessam a Jesus Cristo com Senhor e Salvador. Em continuidade do
povo de Deus nos tempos do Velho Testamento, somos chamados para fora deste mundo; e nos unimos para
prestar culto para comunhão, para instrução na Palavra, para a celebração da Ceia do Senhor, para serviço a toda
humanidade e para a proclamação mundial do evangelho. A igreja recebe sua autoridade de Cristo, o qual é a
Palavra encarnada, e das Escrituras, que são a Palavras escrita. A Igreja é a família de Deus; adotados por Ele
como filhos, seus membros vivem com base no novo concerto. A Igreja é o corpo de Cristo, uma comunidade de
fé, da qual o próprio Cristo é a Cabeça.
A Igreja é a Noiva pela qual Cristo morreu para que pudesse santificá-la e purificá-la. Em Sua volta triunfal, Ele
a apresentará a Si mesmo Igreja gloriosa, os fiéis de todos os séculos, a aquisição de Seu sangue, sem mácula,
nem ruga, porém santa, sem defeito. (Gên. 12:3; Atos 7:38; S. Mat. 21:43; 16:13-20; S. João 20:21 e 22; Atos
1:8; Rom. 8:15-17; I Cor. 12:13-27; Efés. 1:15 e 23; 2:12; 3:8-11 e 15; 4:11-15).
58
O Batismo
Pelo batismo confessamos nossa fé na morte e ressurreição de Jesus Cristo, e atestamos nossa morte para o
pecado e nosso propósito de andar em novidade de vida. Assim reconhecemos a Cristo como Senhor e Salvador,
tornamo-nos Seu povo e somos aceitos como membros por Sua Igreja. O batismo é um símbolo de nossa união
com Cristo, do perdão de nossos pecados e de nosso recebimento do Espírito Santo. É por imersão na água e
depende de uma afirmação da fé em Jesus e da evidência de arrependimento do pecado. Segue-se à instrução na
Escrituras Sagradas e à aceitação de seus ensinos. (S. Mat. 3:13-16; 28:19 e 20; Atos 2:38; 16:30-33; 22:16;
Rom. 6:1-6: Gál. 3:27; I Cor. 12:13; Col. 2:21 e 13; I S. Ped. 3:21).
A Ceia do Senhor
A Ceia do Senhor é uma participação nos emblemas do corpo e do sangue de Jesus, como expressão de fé nEle,
nosso Salvador e Senhor. Nessa experiência de comunhão, Cristo está presente para encontrar-Se com Seu povo
e fortalecê-lo. Participando da Ceia, proclamamos alegremente a morte do nosso Senhor até que Ele volte. A
preparação envolve o exame de consciência, o arrependimento e a confissão. O Mestre instituiu a cerimônia do
lava-pés para representar renovada purificação, para expressar a disposição de servir um ao outro em humildade
semelhante à de Cristo e para unir nossos corações em amor. O Serviço da Comunhão é franqueado a todos os
crentes cristãos. (S. Mat. 26:17-30; I Cor. 11:23-30; 10:16 e 17; S. João 6:48-63; Apoc. 3:20; S. João 13:1-17).
O Dom de Profecia
Um dos dons do Espírito Santo é a profecia. Este dom é uma característica da Igreja remanescente e foi
manifestado no ministério de Ellen G. White. Como a mensageira do Senhor, seus escritos são uma contínua e
autorizada fonte de verdade e proporcionam conforto, orientação, instrução e correção à Igreja.
Eles também tornam claro que a Bíblia é a norma pela qual deve ser provado todo o ensino e experiência. (Joel
2:28 e 29; Atos 2:14-21; Heb. 1:1-3; Apoc. 12-17; 19:10).
A Lei de Deus
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Os grandes princípios da lei de Deus são incorporados nos Dez Mandamentos e exemplificados na vida de
Cristo. Expressam o amor, a vontade e os propósitos de Deus acerca da conduta e das relações humanas, e são
obrigatórias a todas as pessoas, em todas as épocas. Estes preceitos constituem a base do concerto de Deus com
Seu povo e a norma no julgamento de Deus. Por meio da atuação do Espírito Santo, eles apontam para o pecado
e despertam o senso da necessidade de um Salvador. A Salvação é inteiramente pela graça, e não pelas obras,
mas seu fruto é a obediência aos mandamentos. Essa obediência desenvolve o caráter cristão e resulta numa
sensação de bem-estar. É uma evidência de nosso amor ao Senhor e de nossa solicitude por nossos semelhantes.
A obediência da fé demonstra o poder de Cristo para transformar vidas, e fortalece, portanto, o testemunho
cristão. (Êxo. 20:1-17; S,. Mat. 5:17; Deut. 28:1-14; Sal. 19:7-13; S. João 14:15; Rom. 8:1-4; I S. João 5:3; S.
Mat. 22:36-40; Efés. 2:8).
O Sábado
O bondoso Criador, após os seis dias da Criação, descansou no sétimo dia e instituiu o sábado para todas as
pessoas, como memorial da Criação. O quarto mandamento da lei de Deus requer a observância deste sábado do
sétimo dia como dia de descanso, adoração e ministério, em harmonia com o ensino e a prática de Jesus, o
Senhor do sábado. O sábado é um dia de deleitosa comunhão com Deus e uns com os outros.
É um símbolo de nossa redenção em Cristo, um sinal de nossa santificação, uma prova de nossa lealdade e um
antegozo de nosso futuro eterno no reino de Deus. O sábado é um sinal perpétuo do eterno concerto de Deus
com Seu povo. A prazerosa observância deste tempo sagrado duma tarde a outra tarde, do por-do-sol ao por-do-
sol, é uma celebração dos atos criadores e redentores de Deus. (Gên. 2:1-3; Êxo. 20:8-11; 31:12-17; S. Luc. 4:16;
Heb. 4:1- 11; Deut. 5:12-15; Isa. 56: 5 e 6; 58:13 e 14; Lev. 23:32; S. Mar. 2:27 e 28).
Mordomia
Somos despenseiros de Deus, responsáveis a Ele pelo uso apropriado do tempo e das oportunidades, posses, e
das bênçãos da Terra e seus recursos, que Ele colocou sob o nosso cuidado. Reconhecemos o direito de
propriedade da parte de Deus por meio do fiel serviço a Ele e a nossos semelhantes, e devolvendo os dízimos e
dando ofertas para a proclamação de Seu evangelho e para a manutenção e o crescimento de Sua Igreja. A
mordomia é um privilégio que Deus nos concede para o desenvolvimento no amor e para a vitória sobre o
egoísmo e a cobiça. O mordomo se regozija nas bênçãos que advêm aos outros como resultado de sua fidelidade
(Gên. 1:26-28; 2:15; Ageu 1:3-11; Mal. 3:8-12; S. Mat. 23:23; I Cor. 9:9-14).
Conduta Cristã
Somos chamados para ser um povo piedoso que pensa, sente e age de acordo com os princípios do Céu.
Para que o Espírito recrie em nós o caráter de nosso Senhor, nós só nos envolvemos naquelas coisas que
produziram em nossa vida pureza, saúde, e alegria semelhantes às de Cristo. Isto significa que nossas diversões e
entretenimentos devem corresponder aos mais altos padrões de gosto e beleza cristãos.
Embora reconheçamos diferenças culturais, nosso vestuário deve ser simples, modesto e de bom gosto,
apropriado àqueles cuja verdadeira beleza não consiste no adorno exterior, mas no ornamento imperecível de um
espírito manso e tranqüilo. Significa também que, sendo o nosso corpo o templo do Espírito Santo, devemos
cuidar dele inteligentemente. Junto com adequado exercício e repouso, devemos adotar alimentação mais
saudável possível e abster-nos dos alimentos imundos identificados nas Escrituras. Visto que as bebidas
alcóolicas, o fumo e o uso irresponsável de medicamentos e narcóticos são prejudiciais a nosso corpo, também
devemos abster-nos dessas coisas. Em vez disso, devemos empenhar-nos em tudo que submeta nossos
pensamentos e nosso corpo à disciplina de Cristo, o qual deseja nossa integridade, alegria e bem-estar. (I S. João
2:6; Efés. 5:1-13; Rom. 12:1 e 2; I Cor. 6:19 e 20; 10:31; I Tim. 2:9 e 10; Lev. 11:1-47; II Cor. 7:1; I S. Ped. 3:1-
4; II Cor. 10:5; Filip. 4:8).
Casamento e Família
O casamento foi divinamente estabelecido no Éden e confirmado por Jesus como união vitalícia entre um
homem e uma mulher, em amoroso companheirismo. Para o cristão, o compromisso matrimonial é com Deus
bem como com o cônjuge, e só deve ser assumido entre parceiros que partilham da mesma fé.
Mútuo amor, honra, respeito e responsabilidade constituem a estrutura dessa relação, a qual deve refletir o amor,
a santidade, a intimidade e a constância da relação entre Cristo e Sua Igreja. No tocante ao divórcio, Jesus
ensinou que a pessoa que se divorcia do cônjuge, a não ser por causa de fornicação, e casar-se com outro, comete
adultério. Conquanto algumas relações de família fiquem aquém do ideal, os consortes que se dedicam
inteiramente um ao outro, em Cristo, podem alcançar amorosa unidade por meio da orientação do Espírito e a
instrução da Igreja. Deus abençoa a família e tenciona que seus membros ajudem um ao outro a alcança
completa maturidade. Os pais devem educar os seus filhos a amar o Senhor e a obedecer-Lhe. Por seu exemplo e
suas palavras, que Cristo é um disciplinador amoroso, sempre terno e solícito, desejando que eles se tornem
membros de Seu corpo, a família de Deus.
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Crescente intimidade familiar é um dos característicos da mensagem final do evangelho. (Gên. 2:18-25; Deut.
6:5-9; S. João 2:1-11; Efés. 5:21-33; S. Mat. 5:31 e 32; 19:3-9; Prov. 22:6; Efés. 6:1-4; Mal. 4:5 e 6; S. Mar.
10:11 e 12; S. Luc. 16:18; I Cor 7:10 e 11).
Morte e Ressurreição
O salário do pecado é a morte. Mas Deus, o único que é imortal, concederá vida eterna a Seus remidos.
Até aquele dia, a morte é um estado inconsciente para todas as pessoas. Quando Cristo, que é a nossa vida, se
manifestar, os justos ressuscitados e os justos vivos serão glorificados e arrebatados para o encontro de seu
Senhor. A segunda ressurreição, a ressurreição dos ímpios ocorrerá 1000 anos mais tarde. (I Tim. 6:15 e 16;
Rom. 6;23; I Cor. 15:51-54; Ecles. 9:5 e 6; Sal. 146:4; I Tess. 4:13-17; Rom. 8:35-39; S. João 5:28 e 29; Apoc.
20:1-10; S. João 5:24).
A Nova Terra
Na Nova Terra, em que habita justiça, Deus proverá um lar eterno para os remidos e um ambiente perfeito para
vida, amor, alegria, e aprendizado eternos, em Sua presença. Pois aqui o próprio Deus habitará com o Seu povo,
e o sofrimento e a morte terão passado. O grande conflito estará terminado e não mais existirá pecado. Todas as
coisas, animadas e inanimadas, declaram que Deus é amor; e Ele reinará para todo o sempre. Amém. (II S. Ped.
3:13; Gên. 17:1-8; Isa. 35; 65:17-25; S. Mat. 5:5; Apoc. 21:1-7; 22:1-5; 11:15).