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TEMPO PASCAL.

TERCEIRO DOMINGO

61. O DIA DO SENHOR


– O domingo, dia do Senhor.

– As festas cristãs. Sentido das festas. A Santa Missa, centro da festa cristã.

– O culto público a Deus. O descanso dominical e festivo.

I. “NO DIA CHAMADO DO SOL, reúnem-se num mesmo lugar todos os


que moram nas cidades ou nos campos [...]. E reunimo-nos todos no dia do
Sol porque é o primeiro da semana, aquele em que Deus criou o mundo, e
porque nesse mesmo dia Jesus Cristo nosso Salvador ressuscitou dos
mortos”1. O sábado judeu deu lugar ao domingo cristão desde os começos da
Igreja. A partir de então, comemoramos em cada domingo a Ressurreição de
Cristo.

No Antigo Testamento, o sábado era o dia dedicado a Javé. Foi o próprio


Deus que o instituiu2, ordenando que nesse dia o povo israelita se abstivesse
de certos trabalhos, para dedicar-se a honrá-lo3. Era também o dia em que se
congregava a família e em que se celebrava o fim do cativeiro no Egipto. Com
o decorrer do tempo, os rabinos complicaram o preceito divino, e no tempo de
Jesus estavam em vigor inúmeras prescrições minuciosas e aflitivas que nada
tinham que ver com o que o Senhor havia ordenado.

Os fariseus implicaram frequentemente com Jesus por essas questões.


Mas o Senhor não desprezou o sábado nem o suprimiu como dia dedicado a
Javé; pelo contrário, parecia ser esse o seu dia predilecto: é nesse dia que vai
pregar às sinagogas, e muitos dos seus milagres foram feitos num sábado.

A Sagrada Escritura, em numerosas passagens, tinha formulado um


conceito alto e nobre do sábado. Era o dia estabelecido por Deus para que o
seu povo lhe prestasse culto público, e a dedicação integral da jornada ao
Senhor configurava-se como uma obrigação grave4. Houve ocasiões em que
os profetas denunciaram a violação do sábado como causa dos castigos de
Deus sobre o seu povo.

De natureza estritamente religiosa, o descanso sabático manifestava-se e


culminava na oblação de um sacrifício5. Como as demais festas de Israel, que
estavam todas ligadas a um acontecimento salvífico, era sinal da aliança
divina e um modo de o povo escolhido expressar o júbilo de saber-se
propriedade do Senhor e objecto da sua eleição e do seu amor.

Com a Ressurreição de Jesus Cristo, o sábado dá lugar à realidade que


prenunciava: a festa cristã. O próprio Jesus fala do Reino de Deus como uma
grande festa oferecida por um rei para celebrar as bodas do seu filho 6. Com
Cristo surge um culto novo e superior, porque temos também um novo
Sacerdote e se oferece uma nova Vítima.

II. DEPOIS DA RESSURREIÇÃO, os Apóstolos passaram a considerar o


primeiro dia da semana como o dia do Senhor, dominica dies7, porquanto foi
nesse dia que Ele nos alcançou com a sua Ressurreição a vitória sobre o
pecado e a morte. E esta tem sido a tradição constante e universal da Igreja,
desde o tempo dos primeiros cristãos até os nossos dias. “Por uma tradição
apostólica que tem a sua origem no próprio dia da Ressurreição de Cristo, a
Igreja celebra cada oito dias o mistério pascal, no dia que é muito justamente
chamado o dia do Senhor ou domingo”8.

Além do domingo, a Igreja estabeleceu as festas que comemoram os


principais acontecimentos da nossa salvação: o Natal, a Páscoa, a Ascensão,
o Pentecostes, outras festas do Senhor, bem como as festas de Nossa
Senhora. E desde o princípio os cristãos celebraram também o dies natalis ou
aniversário do martírio dos primeiros cristãos. As festas cristãs chegaram até
a ordenar o próprio calendário civil. Com essa sucessão de festas, a Igreja
“relembra os mistérios da Redenção, franqueia aos fiéis as riquezas do poder
santificador e dos méritos do seu Senhor, de tal sorte que, de alguma forma,
os torna presentes em todos os tempos, para que os fiéis entrem em contacto
com eles e sejam repletos da graça da salvação”9.

O centro e a origem da alegria da festa cristã encontra-se na presença do


Senhor na sua Igreja, que é o penhor e a antecipação de uma união definitiva
na festa que não terá fim10. Daí a alegria que inunda a celebração dominical,
como se percebe na oração sobre as oferendas da Missa de hoje: “Recebei,
Senhor, as oferendas da vossa Igreja exultante de júbilo; e já que com a
ressurreição do vosso Filho nos destes motivo para tanta alegria, concedei-
nos que possamos participar desse gozo eterno”. Por isso, as nossas festas
não são uma mera recordação de fatos passados, como pode ser a data de
um acontecimento histórico, mas um sinal que nos manifesta Cristo e o torna
presente entre nós.

A Santa Missa torna Jesus presente na sua Igreja e é o Sacrifício de valor


infinito que se oferece a Deus Pai no Espírito Santo. Todos os outros valores
humanos, culturais e sociais da festa devem ocupar um lugar secundário,
cada um na sua ordem, de modo a não obscurecerem ou substituírem em
momento algum o que deve ser fundamental. A par da Santa Missa, têm
também um lugar importante as manifestações de piedade litúrgica e popular,
como o culto eucarístico, as procissões, o canto, etc.

Temos de procurar, mediante o exemplo e o apostolado, que o domingo


seja “o dia do Senhor, o dia da adoração e da glorificação de Deus, do santo
Sacrifício, da oração, do descanso, do recolhimento, do alegre convívio na
intimidade da família”11.

III. ACLAMAI A DEUS, toda a terra, cantai a glória do seu nome, rendei-lhe
glorioso louvor, lemos na antífona de entrada12.

O preceito de santificar as festas corresponde também à necessidade de


prestar culto público a Deus, e não somente de modo privado. Alguns
pretendem relegar o trato com Deus ao âmbito da consciência, como se não
houvesse necessidade de manifestações externas. Mas o homem tem o
direito e o dever de prestar culto externo e público a Deus, e seria uma
gravíssima injustiça que os cristãos se vissem obrigados a ocultar-se para
poderem praticar a sua fé e prestar culto a Deus, que é o seu primeiro direito
e o seu primeiro dever.

O domingo e as festas determinadas pela Igreja são, antes de mais nada,


dias para Deus e dias especialmente propícios para procurá-lo e encontrá-lo.
“Quaerite Dominum. Nunca podemos deixar de procurá-lo. Mas há períodos
que exigem que o façamos com mais intensidade, porque neles o Senhor está
especialmente perto, e por conseguinte é mais fácil achá-lo e encontrar-se
com Ele. Esta proximidade constitui a resposta do Senhor à invocação da
Igreja, que se expressa continuamente através da liturgia. Mais ainda, é
precisamente a liturgia que actualiza a proximidade do Senhor”13.

As festas têm uma grande importância para ajudar os cristãos a receber


melhor a acção da graça. Nesses dias, exige-se também que o fiel suspenda
o seu trabalho para poder dedicar-se com maior liberdade ao Senhor. Mas,
assim como não há festa sem celebração, pois não basta deixar de trabalhar
para já se ter uma festa, assim também não há festa cristã se os fiéis não se
reúnem para dar graças ao Senhor, louvá-lo, recordar as suas obras, etc. Por
isso, seria sinal de pouco sentido cristão programar os domingos, as festas,
os fins de semana... de maneira que se tornasse impossível ou muito difícil
esse trato com Deus. Por esse caminho, alguns cristãos tíbios acabam por
pensar que não têm tempo para assistir à Santa Missa, ou fazem-no de
maneira precipitada, como quem se livra de uma obrigação tediosa.

O descanso não é apenas uma ocasião de repor as forças; é também sinal


e antecipação do repouso definitivo na festa do Céu. Esta é a razão pela qual
a Igreja quer que a celebração das suas festas inclua a suspensão do
trabalho, algo a que, por outro lado, os fiéis cristãos têm direito como
cidadãos iguais aos outros.

O descanso festivo não deve ser interpretado nem vivido como um simples
não fazer nada – uma perda de tempo –, mas como um ocupar-se
positivamente e um enriquecer-se pessoalmente em outras tarefas. Há muitas
maneiras de descansar, e não convém ficar na mais fácil, que muitas vezes
não é a que mais descansa. Se soubermos limitar, por exemplo, o uso da
televisão, não repetiremos tanto a falsa desculpa de que “não temos tempo”.
Pelo contrário, veremos que nesses dias podemos conviver mais com a
família, cuidar melhor da educação dos filhos, cultivar o relacionamento social
e as amizades, fazer uma visita a pessoas necessitadas ou que estão
sozinhas ou doentes, etc. É talvez a ocasião que andávamos procurando de
poder conversar com mais calma com um amigo; ou o momento em que o pai
ou a mãe podem falar a sós com o filho que mais necessita disso e escutá-lo.
Em geral, é necessário “ter o dia todo preenchido com um horário elástico
onde não faltem como tempo principal – além das normas diárias de piedade
– o devido descanso, a reunião familiar, a leitura, os momentos dedicados a
um gosto artístico, à literatura ou a outra distracção nobre, enchendo as horas
com uma actividade útil, fazendo as coisas o melhor possível, vivendo os
pormenores de ordem, de pontualidade, de bom-humor”14.

(1) São Justino, Apologia 1, 67; Segunda leitura da Liturgia das Horas do terceiro Domingo do
Tempo Pascal; (2) Gen 2, 3; (3) Ex 20, 8-11; 21, 13; Deut 5, 14; (4) cfr. Ex 31, 14-15; (5) cfr.
Num 28, 49-28, 9-10; (6) cfr. Mt 22, 2-13; (7) Apoc 1, 10; (8) Conc. Vat. II, Const.
Sacrossanctum Concilium, 106; (9) ib., 102; (10) cfr. Apoc 21, 1 e segs.; 2 Cor 1, 22; (11) Pio
XII, Aloc., 7-IX-1947; (12) Sl 65, 1-2; (13) João Paulo II, Homilia, 20-III-1980; (14) São
Josemaría Escrivá, Questões actuais do cristianismo, n. 111.

(Fonte: Website de Francisco Fernández Carvajal AQUI)

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