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Elisabet Sahtouris
Por Edilane Marques
A teoria da evolução, desenvolvida pelo inglês Charles Darwin, alimentou muitos debates nos meios
científicos e religiosos desde sua publicação, há quase um século e meio. Agora, a bióloga evolucionista,
ecologista, escritora e pesquisadora norte-americana Elisabet Sahtouris traz Darwin para o campo dos
negócios. Para ela, não é mais admissível que o pensamento econômico e empresarial continue sendo
orientado pelo modelo darwiniano, baseado na competição. “Essa é somente uma parte da equação”, diz
Elisabet.
O restante aponta para a cooperação e para uma visão dos negócios como organismos vivos, levando em
conta as relações humanas e os recursos naturais mobilizados no processo produtivo. Este modelo — no
qual a competição hostil dá lugar à colaboração madura — seria o caminho para a sustentabilidade. E não
apenas nos negócios. Elisabet Sahtouris diz que é possível construir uma sociedade sustentável, baseada
no respeito pela natureza, nos direitos humanos e na justiça econômica.
Autora de vários livros — entre os quais “Gaia, do Caos ao Cosmos” — ela tem percorrido o mundo para
falar de suas idéias e recentemente esteve em Curitiba a convite do Sistema Fiep e da Universidade da
Indústria (Unindus). Numa palestra intitulada “A Biologia dos Negócios — Navegando nas ondas da
mudança em direção a um futuro sustentável“, Elisabet Sahtouris traça um paralelo entre a natureza e as
organizações humanas e mostra a globalização como um processo evolutivo. A bióloga compara o rumo
dos negócios aos movimentos da natureza e defende que muitas soluções para as crises sociais podem ser
inspiradas na evolução dos ecossistemas terrestres.
Segundo ela, ao descobrir os segredos intrínsecos da natureza o homem pode ver claramente como superar
os obstáculos atuais de maneira que os negócios sejam conduzidos a um futuro seguro para o ser humano
e para outras espécies, mesmo diante de desafios climáticos severos.
Nesta entrevista à Observatório da Indústria, Elisabet Sahtouris explica a “biologia dos negócios” e fala da
importância de preparar as novas gerações para que inventem uma nova maneira de viver no planeta.
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Triple Botton Line é um conceito internacional que avalia, de forma integrada, dimensões econômico-financeiras, sociais e
ambientais das empresas.
Mas como conciliar essa visão que a senhora propõe com a necessidade de obter resultados rápidos, num
mundo tão competitivo?
Elisabet — Os empresários foram treinados no modelo atual, tendo que fechar um balanço a cada três
meses. Dentro dessa visão imediatista, eles estão certos, porque é isso que conta, é preciso ter lucro. Eles
estão integrados ao sistema darwiniarno e agem naturalmente nele. Então é preciso mostrar aos
empresários que isso é só uma parte da história, que eles atuam no modo juvenil e precisam enxergar que
existem outros estágios depois disso.
Quais são as maiores objeções dos empresários ao seu modelo?
Elisabet — Basicamente, elas decorrem de falta de conhecimento, porque eles nunca foram treinados em
outro modelo diferente. Os humanos são muito arrogantes e acham que estão no topo da evolução, mas
quando você adquire uma visão mais ampla percebe que o que vivemos hoje é somente um modelo
infantil, primitivo. Daqui a 100 anos vão olhar para nós e perceber que tudo é muito primitivo, tanto
quanto a era das trevas. A culpa não é só das pessoas que estão no sistema. Os próprios cientistas
continuam ensinando só parte da história. Eles não vêem que isso faz parte de um universo organizado
numa escala muito maior do que simplesmente um bando de máquinas. Há muito mais por detrás disso.
Qual seria o caminho para passar esse conceito adiante?
Elisabet — Eu penso que a mais importante maneira é trabalhar com os jovens, inspirar as novas gerações
e prepará-las para encarar esses desafios. A nova geração vai ter que reinventar uma maneira para que os
seres humanos vivam neste planeta. Por exemplo: toda a engenharia de materiais deverá ser reinventada,
porque a maior parte dos materiais que produzi mos hoje é derivada de combustíveis fósseis. O plástico,
por exemplo. Uma grande mudança seria: ao invés de hidrocarbonos utilizar os hidratos de carbono, que é
o mesmo material, mesma composição básica, mas muito menos nocivos ao meio ambiente que os
hidrocarbonetos e muito mais próximos daquilo que a natureza trabalha.