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IGREJA

APOSTÓLICA

O ELO PERDIDO

José Maurício
PREFÁCIO

Pr. Reginaldo Torquato

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INTRODUÇÃO

AO INICIARMOS este trabalho levamos em


consideração o que ele poderia provocar no ceio da
‘eclésia’ estruturada em conceitos religiosos herdados de
europeus e americanos, nos concílios romanos, nas
reformas e cismas históricos, e claro, por que não, no atual
padrão social em que a igreja está inserida, reflexo da
globalização?
Este livro na verdade é fruto de anos de estudos e aulas
ministradas em Seminários, Igrejas, Escola Bíblica Dominical e
no nosso Curso de Aperfeiçoamento Teológico (CAT), onde em
cada matéria como: doutrinas bíblicas, eclesiologia, escatologia,
apologética, crítica textual, teologia contemporânea, religiões
comparadas e tantos outros assuntos, pudemos ver um
quadro da igreja pintado com o dedo de Deus, e que ao
mesmo tempo nos levou a perceber a grande diferença
entre o que víamos nas escrituras e o que tínhamos em
nossos dias.
Realmente chega a ser caricato este modelo de igreja que
prevalece hoje, pois marcas importantes foram perdidas ao
longo dos anos, desde a sua fundação. A igreja passou pela
perseguição, anonimato, clandestinidade e por fim, a
aceitação e adoção do sistema secular inserido pelo
perseguidor.
Ao folhearmos os livros históricos como a História
Eclesiástica de Eusébio de Cesárea, Os Mártires de John Fox,
História da Teologia Cristã de Roger Olson, O Cristianismo
Através dos Séculos de Earle Cairns, Teologia dos
Reformadores de Timothy George, entre tantos outros,
veremos a deterioração paulatina dos princípios cristãos e
apostólicos na igreja de hoje.
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Tudo o que foi plantado no solo ensangüentado pelas
execuções de mártires, fruto do penoso trabalho de
homens e mulheres que amaram mais a Cristo do que suas
próprias vidas, que foram para o Coliseu, perseguidos,
atirados às feras, queimados em praças públicas,
torturados e decapitados. Vemos hoje, que tudo isso foi
transformado em mera vida religiosa e dominical.
Há uma nítida discrepância entre o caráter cristão atual
e o desses cristãos históricos, e essa brutal diferença nos
faz enxergar algumas situações bem transparentes em
nosso meio.
Os nossos cultos são shows que atrai numerosas
platéias, sedentas de uma nova atração. - Nossos
pregadores, famosos pela retórica e carisma com a
congregação, enlouquecem os ouvintes com um evangelho
próspero ou maniqueísta, cheios de super-heróis,
recheados de promessas e prosperidade financeira, que
nos levam a crer que sairemos dos cultos mais do que
vencedores, ainda que não tenhamos uma vida em
santidade ou de intimidade com Deus. O que importa é
estar ali, ouvindo o que eles têm a nos dizer.
Realmente é assustador e impressionante como
chegamos a este nível espiritual. Baixíssimo nível espiritual!
Quando lemos as epístolas de Paulo, Pedro, Tiago, João
e os tratados dos Pais da igreja como Justino Mártir, Irineu,
Tertuliano, Clemente de Alexandria, Orígenes, Cipriano
entre outros, ficamos estarrecidos com a distância
espiritual em que a igreja se encontra destes, mesmo
entendendo que eram tão passíveis de erros como nós.
Olhando para este panorama, vemos também que a
igreja perdeu o seu foco doutrinário, suas características e
sua personalidade espiritual.
O ensino que nos traz uma melhor compreensão do que
somos e o que podemos ser em Cristo, não é mais
necessário nesta igreja atual. Temos dívidas com o mundo
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e pendências com Deus; e pior do que isso: analisando
friamente, contraímos dívidas espirituais seríssimas, que
nos serão cobradas com juros ‘infernais’, tornando as
nossas igrejas fracas, debilitadas e sem condições nenhuma
de reagir.
Na nossa concepção (longe de sermos pessimistas, mas
bastante realistas), entendemos que o elo com a igreja
apostólica e primitiva foi perdido, e algo está fora do lugar,
alguma coisa se perdeu e não demos conta, ou demos
conta, mas não queremos buscar o que se perdeu.
Talvez alguns sociólogos cristãos possam objetar com
questões do tipo: tempos, costumes, lugares, sociedade,
anseios e etc.
Tudo isso levamos em consideração também, e
justamente percebendo esses fenômenos é que vemos
como o nosso cristianismo, principalmente o brasileiro,
tem se descaracterizado na sua essência .
É verdade que a nossa sociedade se deteriorou, e muito.
Podemos fazer um estudo histórico e sociológico onde
veremos o alicerce familiar a cada dia ruindo, em franco
processo de erosão moral, e que o conceito de matrimônio
está falindo com uma velocidade espantosa.
As questões e conceitos sexuais, já há muito tempo são
taxadas de tabú, tornando algo de suma importância para
uma sociedade saudável e equilibrada emocionalmente,
em mera descrição de comportamento pessoal, de opção
de cada um, fazendo deste alicerce familiar um assunto
sem importância estrutural, quando na verdade a
educação sexual o é.

Nestas observações veremos também homossexualismo


em grande crescimento, prostituição em larga escala para
ambos os sexos, a junção de homens e mulheres sem o
crivo espiritual, o abandono de lares por mulheres

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crescendo assustadoramente, o adultério sendo quase uma
constante entre os casais, e tantos outros acontecimentos.
Todas essas constatações têm também o peso da
inatividade espiritual, social e moral da igreja, que no seu
íntimo tem aceitado as mesmas situações que ocorrem no
mundo dentro de si, nos seus cultos, nos templos e na
forma de tratar esses assuntos quando vem à tona.
Um fato que já não preocupa a muitos ministros e
líderes é a questão do divórcio. Muitos desses divórcios
são consensuais, fugindo totalmente do que se prescrevem
as escrituras sagradas. A igreja nunca casou e separou
tantos casais divorciados como nos dias de hoje. É sinal
claro de que está havendo também uma falta de
preparação das pessoas no que diz respeito a
relacionamentos humanos, e isso está em demasia.
Creio que isso começa na fornicação entre jovens e
adolescentes que se tornou comum na sociedade e também
em nossas igrejas. Há pastores e líderes que temem tocar
no assunto, outros já se cansaram e não sabem mais o que
fazer.
Fatos como estes, entre outros, é que nos levam a voltar
na história eclesiástica para vasculhar, pesquisar e
investigar o elo que perdemos com a igreja apostólica.
Precisamos ser confrontados pelas verdades que insistimos
não enxergar. A Palavra de Deus precisa ocupar
novamente o primeiro lugar na igreja e em nossas vidas, a
propagação do evangelho deve ser a prioridade da igreja
novamente. A verdade tem que resplandecer e os frutos
precisam ser colhidos.
Longe de nós, nos colocarmos no papel de francos
atiradores ou de críticos de plantão, queremos apenas de
maneira séria, honesta e bíblica resgatar o que está perdido
em nosso meio.

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Sabemos que é uma tarefa árdua, que custa muito,
porém, alguém precisa começar a bradar por Santidade ao
Senhor! Não podemos mais aceitar essa caricatura de igreja
em que vivemos. Infelizmente quem está se convertendo e
chegando, não tem parâmetro do certo, do original, e isso é
perigoso, pois as gerações subseqüentes terão o padrão de
cristianismo que lhes forem passados. Líderes serão
formados nesta escola e possivelmente pastores serão
ordenados sem conhecer profundamente os alicerces da
sua fé.
Somente pelo estudo profundo da Palavra de Deus é
que conseguimos enxergar a verdadeira igreja de Cristo, e
para isso acontecer precisamos ter a vontade de voltar e
encontrar o que estava perdido, mostrar aos outros o
modelo de igreja que irá morar no céu, que se assenta nas
regiões celestiais com Cristo.
Convidamos você a mergulhar neste trabalho
arqueológico espiritual, onde iremos escavar nas escrituras
e na história da igreja o verdadeiro sentido de ser A
NOIVA DE CRISTO.

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1
A Igreja e o Judaísmo
“ E naqueles dias reedificarei o Tabernáculo de Davi...”

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PARA FALARMOS de igreja, temos que conhecer o seu
princípio, o seu nascedouro, a sua essência. Para isso, é de
suma importância que levemos em consideração que a
igreja nasceu dos judeus, que Jesus era judeu, seus
discípulos eram judeus e que a primeira igreja foi
totalmente formada por membros judeus.
Jesus, apesar de nascido em Belém da Judéia, foi um
judeu criado em Nazaré na região denominada Galiléia.
De descendência da tribo de Judá, ele começou o seu
ministério aos trinta anos com era o costume da época.
Quando lemos os evangelhos entendemos que Jesus era
extremamente conhecedor das escrituras; e alguns fatos
conotam isso com bastante clareza:

- Na tentação do deserto (Mateus 4:1-10)


- Na sinagoga em Galiléia (Lucas 4:14-21)
- Com os judeus fariseus (João 5: 36-47)
- Na questão do divórcio (Mateus 19:3-9 / Marcos 10: 1-9)

Apesar de naquele tempo não haver o modelo de bíblia


que possuímos, já entre os judeus de toda a palestina e
também da diáspora (1), havia a Lei, os Profetas e os
Salmos. (Mateus 5:17; 7:12; 22:37-40 / Lucas 16:16).
Em todo o seu ministério terreno, Jesus utilizou a Torá,
os Salmos e os Profetas (2) para refutar muitas questões
religiosas dos fariseus, escribas e saduceus. Do seu
nascimento à sua morte, Jesus foi um judeu cumpridor das
leis de Moisés e em nenhum momento quebrou estas leis
ou as revogou, pelo contrário, sempre declarava que veio
para cumpri-las.

“Não penseis que vim destruir a lei ou os profetas; não vim


destruir, mas cumprir (...) Qualquer, pois, que violar um destes
mandamentos, por menor que seja, e assim ensinar aos homens,
será chamado o menor no reino dos céus; aquele, porém, que os
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cumprir e ensinar será chamado grande no reino dos céus”.
(Mateus 5:17; 19)

Este era o Jesus de Nazaré: judeu cumpridor da lei.


Este era o perfil do fundador do cristianismo e também
dos seus seguidores e discípulos judeus.
É importante entender que a igreja que nasceu dentro
dos conceitos judaicos que precederam aos conceitos
cristãos, tinha como base as escrituras do Antigo
Testamento, portanto cumpridora também da lei.
Este conceito de lei ortodoxa judaica foi aperfeiçoado
em Cristo e através da Graça de Deus atingiu não só os
judeus, mas também aos gentios. O apóstolo Paulo mais
tarde fala a respeito da lei como rudimento que apontaria
para a Graça.

“Porque, se pela ofensa de um só, a morte veio a reinar por


esse, muito mais os que recebem a abundância da graça, e do dom
da justiça, reinarão em vida por um só, Jesus Cristo. Portanto,
assim como por uma só ofensa veio o juízo sobre todos os homens
para condenação, assim também por um só ato de justiça veio a
graça sobre todos os homens para justificação e vida. Porque,
assim como pela desobediência de um só homem muitos foram
constituídos pecadores, assim também pela obediência de um,
muitos serão constituídos justos. Sobreveio, porém, a lei para que
a ofensa abundasse; mas, onde o pecado abundou, superabundou
a graça; para que, assim como o pecado veio a reinar na morte,
assim também viesse a reinar a graça pela justiça para a vida
eterna, por Jesus Cristo nosso Senhor”. (Romanos 5:17-21)

A igreja nasceu à sombra da lei, mas sobre o suporte da


Graça.
Ela conhecia a lei, mas viveria pela Graça, pois quem a
criou e a fundou, o fez pela Graça de Deus.
Assim a primeira forma de ‘eclésia’ nasceu neste
rompimento necessário com a lei, através Graça. É claro
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que isso levou tempo para se consolidar principalmente
entre os judeus cristianizados, pois estes criados na rígida
lei de Moisés, não conseguiam enxergar com facilidade
uma vida de piedade e santidade a não ser pela ótica da
lei.
Por isso o apóstolo Paulo usa uma boa parte de suas
epístolas tratando questões de lei, graça e fé com esses
judeus novos convertidos, persuadindo-os através das
escrituras e das palavras de Cristo a entenderem estes
conceitos, essa nova dimensão de plenitude dos tempos.

“Porque não foi pela lei que veio a Abraão, ou à sua


descendência, a promessa de que havia de ser herdeiro do mundo,
mas pela justiça da fé. Pois, se os que são da lei são herdeiros,
logo a fé é vã e a promessa é anulada”.(Romanos 4:13,14)

“O mistério que esteve oculto dos séculos, e das gerações; mas


agora foi manifesto aos seus santos, a quem Deus quis fazer
conhecer quais são as riquezas da glória deste mistério entre os
gentios, que é Cristo em vós, a esperança da glória; o qual nós
anunciamos, admoestando a todo homem, e ensinando a todo
homem em toda a sabedoria, para que apresentemos todo homem
perfeito em Cristo”. (Colossenses 1:26-28)

Na carta aos hebreus, o escritor declara a mesma


disposição quanto à nova dispensação da graça em Cristo,
que Ele cumpriria a plenitude dos tempos de Deus.

“Havendo Deus antigamente falado muitas vezes, e de muitas


maneiras, aos pais, pelos profetas, nestes últimos dias a nós nos
falou pelo Filho, a quem constituiu herdeiro de todas as coisas, e
por quem fez também o mundo; sendo ele o resplendor da sua
glória e a expressa imagem do seu Ser, e sustentando todas as
coisas pela palavra do seu poder, havendo ele mesmo feito a
purificação dos pecados, assentou-se à direita da Majestade nas
altura”. (Hebreus 1:1-3)

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Observando toda essa continuidade histórica, vemos
que a igreja não poderia nascer em um lugar melhor do
que Israel, tudo foi planejado e estruturado por Deus para
que isso acontecesse. A igreja não seria o que foi se tivesse
sido iniciada em outro país ou cultura.
Este conceito que herdamos de um Deus único,
onipotente, onipresente, que interage com o ser humano
sem deixar de ser Deus (3), foi revelado primeiramente e
somente a Israel. Nenhuma nação teve o
comprometimento e experiências com JAVÉ da forma
como os bene Israel (4) tiveram.
Assim, dentro deste quadro sócio-cultural e espiritual,
nasceu a igreja, contendo um forte conceito judaico, porém
com a revelação do evangelho de Jesus, O Cristo, com uma
esperança de vida eterna e com a certeza de que Ele
voltaria para buscá-la e restabelecer o cetro de Davi.
Sabemos que Jesus veio primeiro para os judeus e
deixou bem claro isso por diversas vezes, além do mais, a
fidelidade às escrituras, a disciplina na observância da
Palavra, o respeito e temor pelo SENHOR faziam com que
o evangelho fosse estabelecido primeiro em Israel e
também saísse de Israel com uma personalidade muito
forte e resistente aos conflitos religiosos e filosóficos
encontrados mais tarde por aqueles que propagaram a
Cristo como salvador e ungido de Deus nos países onde o
politeísmo era muito comum.

“... e que em seu nome se pregasse o arrependimento para


remissão dos pecados, a todas as nações, começando por
Jerusalém.” (Lucas 24:47)

“Mas recebereis poder, ao descer sobre vós o Espírito Santo, e


ser-me-eis testemunhas, tanto em Jerusalém, como em toda a
Judéia e Samaria, e até os confins da terra.”(Atos 1:8)

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Por isso temos no judaísmo ou na lei, a nossa
procedência cristã. Sem o judaísmo a nossa ética cristã não
seria a mesma; e vemos isso claramente quando o
cristianismo foi romanizado pelo imperador Constantino
(313-325 d.c), perdendo totalmente a sua personalidade
ortodoxa judaico-cristã após esse evento.
Mesmo antes disso já vemos cartas de Paulo, Pedro,
João e Tiago às igrejas e presbíteros ao redor do mundo,
exortando-os a se manterem firmes na sã doutrina de
Cristo.

“Porque virá tempo em que não suportarão a sã doutrina;


mas, tendo grande desejo de ouvir coisas agradáveis, ajuntarão
para si mestres segundo os seus próprios desejos...” (2 Timóteo
4:3)

“Retendo firme a palavra fiel, que é conforme a doutrina, para


que seja poderoso, tanto para exortar na sã doutrina como para
convencer os contradizentes...” (Tito 1:9)

“E nisto sabemos que o conhecemos; se guardamos os seus


mandamentos. Aquele que diz: Eu o conheço, e não guarda os
seus mandamentos, é mentiroso, e nele não está a verdade; mas
qualquer que guarda a sua palavra, nele realmente se tem
aperfeiçoado o amor de Deus. E nisto sabemos que estamos nele;
aquele que diz estar nele, também deve andar como ele andou.
Amados, não vos escrevo mandamento novo, mas um
mandamento antigo, que tendes desde o princípio. Este
mandamento antigo é a palavra que ouvistes”. (1 João 1:3-7)

Esse é o berço da igreja, essa é a característica


primordial desta comunidade nascida em Jerusalém,
devemos entender nesta pesquisa primária que o DNA da
igreja permanece e por mais que queiramos, não podemos
negar essa paternidade, essa tradição, esse vínculo na
árvore genealógica espiritual.

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Realmente hoje, a igreja de Cristo não terá a necessidade
de observar as práticas e ritos judaicos para comprovar sua
origem espiritual enquanto comunidade religiosa. Porém,
olhando de lá para cá, vemos que realmente algo muito
importante e desconcertante aconteceu com o cristianismo.
Algo que ao longo dos séculos nos fez chegar aonde
chegamos e ser o que somos.

O mais interessante é ver o judaísmo lutando para


manter todas as suas observâncias e preceitos da lei em
vigor ainda hoje, enquanto o cristianismo desconfigura
totalmente a sua essência e forma de ser.
E por mais religioso que pareça, não somos o que
deveríamos ser e temos em abundancia o que não
deveríamos ter, por isso talvez muitos de nós neguemos a
paternidade do judaísmo, pois realmente hoje, em nada
nos assemelhamos. Tornamos-nos uma religião muito
diferente da comunidade cristã que foi gerada em Cristo e
nascida em Pentecostes.

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“E por mais religioso que pareça, não somos o que
deveríamos ser e temos em abundancia o que não
deveríamos ter...”

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2
A Igreja Apostólica
“Estavam todos reunidos no mesmo lugar...”

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MUITA POLÊMICA tem havido em torno do termo
apostólico. Infelizmente essa confusão se dá por causa de
pessoas que se intitulam apóstolos sem realmente o serem.
O termo apóstolo primordialmente deve se referir à
igreja, corpo de Cristo; e havendo alguma inferência
humana para essa posição ou ainda ofício reconhecido
pelos homens, que seja por demonstração natural de
chamado através de obras e frutos desse apostolado; mesmo
assim tenhamos a clara idéia de que este título ou ofício
antes de tudo pertence à igreja de Cristo, Sua Noiva
Espiritual.
Humanamente, o apostolado deve ser visto em alguém
com o perfil apostólico da igreja, que cumpre as obras
destinada à igreja, que seja representante legítimo do Reino
dos Céus. Que plante, regue, cuide, pastoreie, ensine,
interceda, que batalhe no reino espiritual e sinta dores de
parto pelas almas, que seja missionário, que lance
fundamentos sólidos e que ainda esteja disposto a morrer
pela causa do Reino de Deus.
A igreja naturalmente tem esse perfil, ainda que hoje
deturpada e longe dos seus ideais, porém, mais do que um
homem, certamente a igreja tem o perfil apostólico.
Para entendermos e diferenciarmos bem a era apostólica
da igreja primitiva, com outros tempos, devemos
identificá-la em cima da história e relatos no livro de Atos
dos Apóstolos e outros livros históricos e idôneos que
descrevem o perfil desta primeira comunidade.
A primeira imagem que devemos que ter a respeito
dessa igreja é que ela era fundamentada nos ensinos de
Jesus Cristo, recebido por seus discípulos e apóstolos,
gerando nestes homens e mulheres um estilo de vida no
formato espiritual que lhes ordenou.

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“Aproximou-se dele um dos escribas que os ouvira discutir e,
percebendo que lhes havia respondido bem, perguntou-lhe: Qual
é o primeiro de todos os mandamentos? Respondeu Jesus: O
primeiro é: Ouve, Israel, o Senhor nosso Deus é o único Senhor.
Amarás, pois, ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda
a tua alma, de todo o teu entendimento e de todas as tuas forças.
E o segundo é este: Amarás ao teu próximo como a ti mesmo.
Não há outro mandamento maior do que esses. Ao que lhe disse o
escriba: Muito bem, Mestre; com verdade disseste que Ele é um,
e fora dele não há outro; e que amá-lo de todo o coração, de todo o
entendimento e de todas as forças, e amar o próximo como a si
mesmo, é mais do que todos os holocaustos e sacrifícios”.
(Marcos 12: 28-33)

“Se vós permanecerdes em mim, e as minhas palavras


permanecerem em vós, pedi o que quiserdes, e vos será feito.
Nisto é glorificado meu Pai, que deis muito fruto; e assim sereis
meus discípulos. Como o Pai me amou, assim também eu vos
amei; permanecei no meu amor. Se guardardes os meus
mandamentos, permanecereis no meu amor; do mesmo
modo que eu tenho guardado os mandamentos de meu Pai,
e permaneço no seu amor. Estas coisas vos tenho dito, para
que o meu gozo permaneça em vós, e o vosso gozo seja completo.
O meu mandamento é este: Que vos ameis uns aos outros, assim
como eu vos amei”. (João 14:7-12) - grifos do autor

Além dos discípulos basearem suas vidas nos


mandamentos de amor que Jesus deixou-lhes, também se
preparavam e esperavam com grande anseio o seu retorno,
a sua volta, quando seriam arrebatados e resgatados deste
mundo vil.
Estas, entre outras, eram as bases espirituais da primeira
comunidade cristã. Estes eram os anseios dos cristãos
primitivos, que entendiam estar com as chaves do Reino
dos Céus e agora deveriam anunciar este Reino aos que

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não sabiam destas boas novas, e isto literalmente era
pregar o evangelho.
O foco central de vida espiritual dos primeiros cristãos
era bem simples, pois eles também eram pessoas simples.
Poderíamos compará-los com os cristãos de hoje que
residem nas áreas rurais. Pessoas simples, porém bem
resolvidas, com anseios humanos menores do que os que
vivem nas metrópoles, além de viver com grande
expectativa e fé no Senhor Jesus Cristo, passivos de crerem
literalmente em TUDO o que a bíblia descreve.
Quando olhamos para esse quadro, podemos ver uma
igreja muito saudável, que era pobre de recursos materiais,
mas rica de recursos espirituais (Ap. 2:9), diferente da
igreja atual que é rica em recursos materiais, porém muito
pobre de recursos espirituais (Ap. 3:15-17).
É o contraste entre Esmirna e Laodicéia, entre a igreja
primitiva apostólica e a igreja atual denominacional, cheia
de riquezas financeiras, mecanismos de comunicação e
entretenimento. Com muito poder político e tantas outras
possibilidades que a fariam ser a maior instituição da face
da Terra, com poder para mudar a condição do ser
humano, em todas as áreas de sua vida.
Mas, entendemos então porque não é...
Justamente porque em contra partida a essa riqueza, ela
é pobre de visão espiritual, de unção, de sensibilidade, de
humildade, de comunhão com o próximo, de santificação e
de intimidade profunda com Deus através do Espírito
Santo, assim como era a igreja dos apóstolos.
Devemos ter em mente que a igreja dos apóstolos é
ainda o modelo de igreja que o Senhor Jesus deixou em
que insistimos querer melhorar esse modelo.
O nosso melhor humano é o pior que podemos oferecer
a Deus, Ele não precisa das nossas idéias maravilhosas para
fazer de nós uma igreja com propósitos, como foi no tempo

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dos apóstolos: cheia de poder e graça, temor e unção,
evangelismo e missões, intimidade e sensibilidade.
Ele só quer de nós a submissão total como igreja, que
sigamos com simplicidade o que já está descrito na sua
Palavra, principalmente no novo testamento; que deixemos
o Espírito Santo ser realmente o nosso Consolador e Guia,
como foi nos primórdios da igreja.
É simples! É só isso!
A igreja apostólica de Jerusalém possuía características
que estaremos constantemente ressaltando, até porque é o
padrão para o acerto que precisamos.
Uma vez tratando desta matéria no Curso de
Aperfeiçoamento Teológico, um aluno ao final da explanação
do assunto, bradou ao fundo: ‘Você quer uma igreja perfeita?
Não tem como ter uma igreja perfeita, se nós somos
imperfeitos...’
Concordei com ele em relação à igreja perfeita, mas ao
mesmo tempo fiquei triste ao notar que os cristãos têm
como pesado e impossível o ser completo.
A perpetuação do modelo incompleto é tão forte, que
quando nos é apresentado o completo pela Bíblia, julgamos
isso uma perfeição. E quando julgamos que algo é perfeito,
dizemos a nós mesmos: ‘Não dá, sou imperfeito!’
A igreja dos apóstolos não era perfeita, mas era
completa!
Estamos tão distanciados da igreja completa que
quando vemos o seu perfil, a denominamos de perfeita e
nos assustamos.
Ela não era perfeita porque havia seres humanos como
há ainda hoje na sua formação. Mas era completa porque o
Espírito Santo literalmente comandava esta igreja, a ponto
de não deixar que nada pudesse macular ou desviar a
direção que Cristo deixou para ela.
Exemplo claro disso foi o de Ananias e Safira (Atos 5:1-
11), quando tentaram corromper o sistema de comunhão
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que havia na igreja. Pensaram que o seu dinheiro faria
diferença na comunidade, procurando provocar
dependência financeira da comunidade a eles.
Como a igreja era completa e quem comandava era o
Espírito Santo, Ele achou por bem lançar fora o que não
precisaria e de uma só vez, acabar com a tentativa de
corrupção do modelo apostólico, que não era perfeito, mas
completo.

“Disse então Pedro: Ananias por que encheu Satanás o teu


coração, para que mentisses ao Espírito Santo, e retivesses a
parte do preço da herdade? Guardando-a não ficava para ti? E,
vendida não estava em teu poder? Por que formaste este desígnio
em teu coração? Não mentistes aos homens, mas a Deus. E
Ananias ouvindo estas palavras, caiu e expirou...” (Atos 5:3- 5a)
- grifos do autor

Apesar de nos chocar o fato, creio que foi a maneira que


o Espírito Santo encontrou para encerrar por ali qualquer
tentativa de corrupção espiritual.

“Então Pedro lhe disse: Por que é que combinastes entre vós
provar o Espírito do Senhor? Eis aí à porta os pés dos que
sepultaram o teu marido, e te levarão também a ti.
Imediatamente ela caiu aos pés dele e expirou. E entrando os
moços, acharam-na morta e, levando-a para fora, sepultaram-na
ao lado do marido. Sobreveio grande temor a toda a igreja e a
todos os que ouviram estas coisas. E muitos sinais e prodígios
eram feitos entre o povo pelas mãos dos apóstolos. E estavam
todos de comum acordo no pórtico de Salomão.” (Atos 5:9-12)

Hoje, seria quase impossível Ananias e Safira morrerem


por causa disso, há coisas piores e ninguém é consumido.
Adultério, roubo, fornicação, homossexualismo,
mentiras, fofocas, políticas, manipulação, facção, inveja,
ciúmes, traições...

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Preencheríamos uma lista com os motivos para
consumação humana por parte do Espírito Santo, mas
como nos dias de hoje Ele não comanda, não há mais o
temor do Senhor, não há mais a Glória Kadosh entre nós,
nada por conseqüência aconteceria.
A igreja Apostólica é a nossa aferição humana para
igreja, já que no céu temos um padrão perfeito de adoração
e comunhão com Deus. Devemos procurar estudar e
conhecer melhor a estrutura simples dessa igreja, devemos
nos esforçar para copiá-la nas menores e singelas amostras
de comunhão, santificação, obediência, ética, santidade e
tudo o mais que ela tem para nos oferecer.
A igreja apostólica diferente de hoje, não teria orgulho
de ser chamada assim, até porque não havia essa pré-
concepção de igreja como entidade humana. A alegria e o
orgulho dela era ser participante do corpo de Cristo e
ainda estar dando prosseguimento à obra de redenção do
Cordeiro, através da pregação do evangelho.
Esta ‘prima eclésia’ era bem centrada nos seus objetivos,
suas metas eram com respeito ao que Jesus determinou e
nada mais. Seus anseios eram os mais puros e singelos na
forma de servir a Cristo, anunciando o Reino dos Céus,
confirmando a vinda do Messias de Israel que em
princípio entediam ser somente para os judeus, mas que o
Espírito Santo logo abriu as fronteiras desta graça aos
gentios também (Atos. 9:32-43; 10; 11:1-18) fazendo com
que a salvação em Cristo fosse estendida para toda
humanidade.
Se conseguirmos nos moldar neste modelo, ainda assim
sabendo das dificuldades que nos cercam nos dias de hoje,
poderemos com certeza chegar a tão sonhada estatura de
varões perfeitos que o apóstolo Paulo pregava.

“(...) até que todos cheguemos à unidade da fé e do pleno


conhecimento do Filho de Deus, ao estado de homem feito, à
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medida da estatura da plenitude de Cristo; para que não mais
sejamos meninos, inconstantes, levados ao redor por todo vento
de doutrina, pela fraudulência dos homens, pela astúcia tendente
à maquinação do erro; antes, seguindo a verdade em amor,
cresçamos em tudo naquele que é a cabeça, Cristo, do qual o
corpo inteiro bem ajustado, e ligado pelo auxílio de todas as
juntas, segundo a justa operação de cada parte, efetua o seu
crescimento para edificação de si mesmo em amor. Portanto digo
isto, e testifico no Senhor, para que não mais andeis como andam
os gentios, na verdade da sua mente, entenebrecidos no
entendimento, separados da vida de Deus pela ignorância que há
neles, pela dureza do seu coração; os quais, tendo-se tornado
insensíveis, entregaram-se à lascívia para cometerem com avidez
toda sorte de impureza. Mas vós não aprendestes assim a
Cristo.” (Efésios 4:13-20)

Essa tem sido a nossa errante caminhada espiritual,


precisamos chegar a uma maturidade espiritual, nos tornar
livres, crescidos e maduros.
Infelizmente estamos muito longe disso tudo, e o que o
apóstolo Paulo vaticinou praticamente a dois mil anos
atrás está acontecendo hoje. Justamente nas mínimas
descrições de atitudes e acontecimentos.

“... para que não mais sejamos meninos, inconstantes, levados


ao redor por todo vento de doutrina, pela fraudulência dos
homens, pela astúcia tendente à maquinação do erro; antes,
seguindo a verdade em amor, cresçamos em tudo naquele que
é a cabeça ...” - grifos do autor

Não podemos mais cair no erro clássico de auto-


contextualização bíblica e afirmar: ‘Mas Jesus disse que
viriam os falsos profetas, que o joio estaria entre o trigo, que
amor de muitos esfriariam e que até os escolhidos seriam
enganados...’

23
Infelizmente não queremos enxergar a nossa degradação
espiritual como igreja de Cristo, e era justamente isso que o
apóstolo alertava e nos alerta ainda hoje. Quatro pontos
básicos podemos enxergar nas considerações de Paulo aos
efésios:

1 - Meninos inconstantes;
Temos visto como a igreja está cheia de cristãos
inconstantes. Pessoas que não entenderam ainda o seu
papel no Reino de Deus, e por isso não possuem o caráter
de Cristo, muito menos uma postura condizente com o que
professam.
Pessoas que não estão consolidadas ou maduras, sem
experiência com Deus, que se machucam por tudo e por
nada. São invariavelmente sensíveis, não a voz de Deus,
mas a tudo que as tocam ou as atingem.
São inconstantes porque, dia sim, dia não, mudam de
atitude e de propósitos, em alguns momentos até parecem
estar cheias do Espírito Santo, mas logo depois as vemos
abatidas e necessitadas de ajuda.
A inconstância é sua marca, não amadurecem e por isso
Paulo as retrata como meninos. E por isso também são
facilmente enganadas com falsas doutrinas.

2 - Levados por quaisquer doutrinas;


A falta de maturidade é justamente a causa de serem
levados por quaisquer novidades evangélicas.
Em outra carta, aos gálatas, Paulo acusa os cristãos da
igreja da Galácia de serem inconstantes.

“Ó insensatos gálatas! Quem vos fascinou a vós, ante cujos


olhos foi representado Jesus Cristo como crucificado? Só isto
quero saber de vós: Foi por obras da lei que recebestes o Espírito,

24
ou pelo ouvir com fé? Sois vós tão insensatos? Tendo começado
pelo Espírito, é pela carne que agora acabareis?” (Gálatas 3:1-3)

O apóstolo estava irritado com as notícias a respeito


daquela comunidade, que estava aceitando uma nova
proposta, uma nova visão do evangelho que ele já havia
pregado. Ele inicia a sua carta já exortando aquela igreja
quanto ao erro que estavam cometendo.

“Estou admirado de que tão depressa estejais desertando


daquele que vos chamou na graça de Cristo, para outro
evangelho, o qual não é outro; senão que há alguns que vos
perturbam e querem perverter o evangelho de Cristo. Mas, ainda
que nós mesmos ou um anjo do céu vos pregasse outro evangelho
além do que já vos pregamos, seja anátema.” (Gálatas 1: 6-8)

Infelizmente aquele momento não era muito diferente


do que ocorre hoje. Muitas comunidades e igrejas estão
vivendo uma nova visão do evangelho de Cristo.
Literalmente nestes lugares as pessoas são levadas a
viverem sob extremos de jugos pesados ou liberalidades
pervertidas que não é o jugo e muito menos a liberdade
proposta em Cristo.

3 - Aceitando fraudes no evangelho;


Quando chegamos a ponto de sermos imaturos e
infantis espiritualmente, somos facilmente levados por
qualquer inovação do evangelho e por conseqüência
aceitamos facilmente fraudes como verdades absolutas,
inclusive crendo que era a visão de Jesus para a igreja. São
cegos vaidosos e absolutos, cheios de si, guiando também a
cegos.
Uma fraude consiste em apresentar um resultado
enganoso a despeito de uma proposta ou verdade
declarada.

25
É assim que se comportam igrejas que pregam
prosperidade a todo custo, restituição sem limites, céu sem
santidade, o melhor desta Terra para quem não é o melhor
desta Terra...
Quando estamos neste contexto, aceitamos essas
fraudes do evangelho como verdades.

4 - Seguindo a astúcia humana (líderes) que tendem


maquinar sempre o mal, mas dizendo que é o bem.
Quando lemos este texto, nos dá a impressão que Paulo
está entre nós vendo e ouvindo tudo o que acontece com a
igreja atual.
Infelizmente teremos sempre situações de líderes sem
caráter humano e espiritual, que para alcançarem o poder
e a fama farão tudo o que tiver ao seu alcance, inclusive
maquinar o mal, apresentando-o como algo bom para o
crescimento das pessoas e da igreja. Na verdade estarão
pensando somente em si e no que podem ganhar com isso.
Essas situações ainda ocorrem hoje por causa da
superficialidade da igreja, das suas lideranças preocupadas
em obter novas fórmulas de crescimento instantâneo, e
infelizmente muitos ao verem isso, atribuirão esses
acontecimentos às profecias de Jesus e terão assim um
relaxamento mental ao invés de ver que tem faltado algo e
que a Bíblia nos exorta a possuir: discernimento de espíritos!

“Amados, não creiais a todo espírito, mas provai se os


espíritos vêm de Deus; porque muitos falsos profetas têm saído
pelo mundo (...) Nós somos de Deus; quem conhece a Deus nos
ouve; quem não é de Deus não nos ouve. assim é que conhecemos
o espírito da verdade e o espírito do erro.” (1 João 4:1;6) - grifos do
autor

Quem conhece a Deus... Quem não conhece a Deus.

26
Eis a grande diferença: O discernimento e a experiência
vêm do conhecer a Deus, o seu Reino, a Sua vontade e o
Seu coração. A falta de discernimento é demonstrada
quando se segue falsidades, mentiras, orgulho pessoal e
projetos humanos. Nisso demonstramos que não
conhecemos a Deus.
A cada dia a igreja deve correr e buscar um maior nível
de conhecimento e maturidade em Deus.
A igreja Apostólica ainda é para nós o gabarito, o
padrão de igreja que conhece e discerne o falso do
verdadeiro, que marcha para avante sem se desviar da
missão, sem deixar que apelos e visões paralelas
comprometam a sua visão de Reino.
Ela é o modelo simples, porém funcional e operacional
no reino espiritual, totalmente oposta do modelo atual que
é complexa, cheia de legislação humana e liturgias, e que
nem de longe apresenta os resultados da primeira igreja, a
dos apóstolos.

27
“O nosso melhor humano é o pior que podemos
oferecer a Deus, Ele não precisa das nossas idéias
maravilhosas para fazer de nós uma igreja com
propósitos...”

28
3
A Igreja e o
Efeito Sócio-Cultural
“E todos tinham tudo em comum...”

29
QUANDO ESTUDAMOS a história da igreja como um
todo, na maioria das vezes não percebemos as nuances que
há na sua estrutura, pois contemplamos no passar dos
tempos somente as grandes e significativas mudanças
estabelecidas historicamente nos livros ou registros, não
enxergando as mudanças paralelas que ocorreram na
velocidade dos fatos gerais.
São como os nossos filhos que não vemos crescer, e
apesar de saber que isso está ocorrendo, somente alguém
de fora ao nosso contexto cronológico familiar, e que não
os vê diariamente, percebe com mais nitidez o crescimento
destes.
É nítido que também não enxergamos as mudanças na
estrutura eclesiástica, pois estamos arraigados dentro deste
contexto de igreja e somente por uma visão espiritual
discernida em Deus é que poderemos sentir que algo está
acontecendo.
Um dos grandes problemas (se não o principal) é o
efeito sócio-cultural sobre a vida da igreja. Ele é tão forte
nos nossos dias que temos dificuldades de traçar limites
entre o comportamento social e o espiritual. E quando isso
se mistura e não é discernido, dificilmente sentimos que a
nossa história está sendo alterada não só socialmente, mas
espiritualmente também.
A situação torna-se tão comum que não percebemos
que algo está diferente, que o rumo foi alterado.
Muitas coisas que fazíamos tendo como uma prática na
vida espiritual da igreja, não é mais sentida como
necessária para os dias de hoje, e não me refiro aos
costumes ou doutrinas, mas aos fundamentos da vida cristã
que eram executados em grande escala. Exemplo disso é o
evangelismo.

30
Perguntaram-me em um seminário de evangelismo
urbano: ‘O que o senhor determina como fator principal para
não querermos (igreja) mais evangelizar as nossas cidades e
bairros? Falta de amor pelas almas? Acomodação? Egoísmo?
Não é mais a prioridade?’
Todos os que se preocupam com evangelismo e missões
fazem estas perguntas as suas igrejas e líderes, mas
recebem inúmeras respostas a este respeito, e mesmo assim
sinto que ainda assim fica um vácuo, um eco em suas
consciências: ‘Por quê não?’
Para respondermos a essa questão temos que retroceder
no tempo, voltar um pouco na história e perceber quando
isso começou.
Então poderemos chegar a algumas conclusões:
- Que a igreja deixou que as imposições sociais do
mundo se estabelecessem sobre ela também. Imposições
comportamentais, visuais, parâmetrais, comparativas, de
alto consumo humano e comodista.
- Que infelizmente esquecemos que deveríamos estar
no mundo, mas não compartilhar dos anseios egocêntricos
do mundo.
- Que a nossa função deveria ser a de influenciar o
mundo, impactá-lo com o nosso jeito Cristo de ser, causar
reflexão na diferença dos nossos valores e esperança
proposta no evangelho.
No entanto, nós, igreja, inversamente somos
influenciados pelo mundo, constantemente, diariamente.
Desejamos e temos anseios pelo que o sistema secular
propõe e sentimo-nos frustrados quando não conseguimos
o que este sistema social nos oferece. E isso vai de roupas
de grifes, marcas de calçados, último modelo de celular,
viagens, cartões de créditos, modelo de carro e etc.

31
Hoje com toda a certeza, a igreja não tem forças para
resistir a esse apelo, muito pelo contrário, os púlpitos
incentivam a comunidade local a cobrar de Deus a sua
parte no negócio, afinal Ele é o dono do ouro e da prata, somos
filhos do Rei, seus herdeiros...
Com certeza isso não poderia dar em outro resultado
que não fosse a exagerada vontade que a igreja hoje tem de
consumir o que o mundo apresenta. O sintoma disso está
nos grandes moveres de restituição, de abertura de portas, do
surgimento da geração de excelência, que tem que possuir tudo
de bom e de melhor, entre outras coisas que tem ocorrido em
muitas igrejas e denominações.
Segundo essa visão, foi descoberto ou revelado algo
novo na Palavra que lhes asseguram a prosperidade eterna
nesta terra.

Que a Bíblia assegura prosperidade nesta terra, é


verdade! Não podemos negar que Ela traz no seu contexto
a prosperidade para aqueles que confiam no Senhor e
servem a Ele com fidelidade.
Mas precisamos entender que essa não é a verdade
central da Bíblia, que a Palavra de Deus é toda a verdade,
mas possuindo graus de verdades e prioridades dentro da
verdade central. Todo o foco e mensagem da Bíblia estão
na suprema verdade em que o homem deve achegar-se a
Deus através do Seu filho, Jesus.
Intimidade, cumplicidade, sentimento de Pai e filhos,
revelação da pessoa de Jesus Cristo, sede de conhecer a
Deus, relacionamento. Esse é o foco!
Veja o que a Palavra prioriza:

“As coisas encobertas pertencem ao Senhor nosso Deus, mas


as reveladas nos pertencem a nós e a nossos filhos para sempre,
para que observemos todas as palavras desta lei.” (Deuteronômio
29:29)

32
“Clama a mim, e responder-te-ei, e anunciar-te-ei coisas
grandes e ocultas, que não sabes.” (Jeremias 33:3)

“Conheçamos, e prossigamos em conhecer ao Senhor; a sua


saída, como a alva, é certa; e ele a nós virá como a chuva, como a
chuva serôdia que rega a terra.” (Oséias 6:3)

“Mas, como está escrito: As coisas que olhos não viram, nem
ouvidos ouviram, nem penetraram o coração do homem, são as
que Deus preparou para os que o amam. Porque Deus no-las
revelou pelo seu Espírito; pois o Espírito esquadrinha todas as
coisas, mesmos as profundezas de Deus.” (I Coríntios 2:9,10)

“Mas buscai primeiro o seu reino e a sua justiça, e todas


estas coisas vos serão acrescentadas.” (Mateus 6:33)

Deus tem algo superior para a sua igreja, que vai além
de portas financeiras, porém isso precisa ser enxergado,
precisa ser necessidade, mais do que bens e anseios sociais.
A igreja precisa perceber que está sendo enrolada pela
velha serpente e que está sucumbindo ao poderoso
argumento do Éden, entender que não precisa ser
semelhante a Deus, que tudo já está no Reino e que n’Ele,
(Cristo) e por Ele (Cristo) subsistem todas as coisas.
O grande pecado da igreja tem sido o pecado de Eva, a
necessidade de algo mais, ou seja, o que Deus tem dado e
ainda tem para dar não é o suficiente. O detalhe é que esse
algo mais, sempre será o poder social-financeiro através da
aquisição material.

“Ninguém pode servir a dois senhores; porque ou há de odiar


a um e amar o outro, ou há de dedicar-se a um e desprezar o
outro. Não podeis servir a Deus e às riquezas. Por isso vos
digo: Não estejais ansiosos quanto à vossa vida, pelo que haveis
de comer, ou pelo que haveis de beber; nem, quanto ao vosso
corpo, pelo que haveis de vestir. Não é a vida mais do que o

33
alimento, e o corpo mais do que o vestuário?” (Mateus 6;24,25) -
grifos do autor

Para Deus a vida da igreja e a nossa vida é mais


importante do que bens de consumo e realizações
emocionais. Ele preza pela nossa realização espiritual
n’Ele, no Seu Reino e nos Seus sonhos para nós.
Quando entramos no mover da obtenção e anseios
sociais, praticamente entramos na fronteira da dupla
adoração, querendo adorar a Deus e manter realizações e
desejos de consumo do presente século.

“Ninguém pode servir a dois senhores...”


A quem a igreja serve?

“... porque ou há de odiar a um e amar o outro, ou há de


dedicar-se a um e desprezar o outro...”
A quem a igreja ama realmente?

“Não podeis servir a Deus e às riquezas...”


A quem a igreja quer adorar?

Olhai para as aves do céu, que não semeiam, nem ceifam,


nem ajuntam em celeiros; e vosso Pai celestial as alimenta. Não
valeis vós muito mais do que elas? Ora, qual de vós, por mais
ansioso que esteja, pode acrescentar um côvado à sua estatura? E
pelo que haveis de vestir, por que andais ansiosos? Olhai para os
lírios do campo, como crescem; não trabalham nem fiam; contudo
vos digo que nem mesmo Salomão em toda a sua glória se vestiu
como um deles. Pois, se Deus assim veste a erva do campo, que
hoje existe e amanhã é lançada no forno, quanto mais a vós,
homens de pouca fé? Portanto, não vos inquieteis, dizendo: Que
havemos de comer? ou: Que havemos de beber? ou: Com que nos
havemos de vestir? Mas buscai primeiro o seu reino e a sua
justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas. Não
vos inquieteis, pois, pelo dia de amanhã; porque o dia de amanhã

34
cuidará de si mesmo. Basta a cada dia o seu mal. (Mateus 6: 26-
34) - grifos do autor

Há uma luta que a igreja precisa encarar e é preciso


traçar limites entre a necessidade emocional humana e a
ansiedade consumista imposta por este século.
Precisamos de libertação deste conceito sócio-cultural
adquirido ao longo do tempo.
Temos com urgência que nos libertar do ter e ser, do
vale quanto pesa, da posição conquistada no conceito
social humano.
Muitos na igreja são advogados, doutores, generais,
empresários, juízes, entre tantos outros ofícios de destaque
na sociedade, porém dentro da igreja devem ser membros,
servos, pessoas que ocupam suas funções eclesiásticas sem
nenhum tratamento especial em consideração ao ofício que
ocupam no seu tempo secular.
A igreja primitiva apostólica não permitia que esse tipo
de imposição social se instalasse no seu ceio.
Vemos exemplos disso em Barnabé que era bem
sucedido, próspero, inclusive doador de uma grande soma
em dinheiro na igreja, mas tratado como membro,
missionário. Temos também Paulo que era de origem
próspera e com formação superior, Silas que tinha
cidadania romana e era escriba, entre outros que se
converteram ao cristianismo e nunca tiveram tratamento
diferenciado, muito menos ocuparam posição de destaque
na igreja pela sua origem ou pelo que possuíam.
Nenhum deles, eruditos, formados, reclamou a
liderança de Pedro, de João ou outros discípulos que eram
pescadores iletrados e sem cultura. Pelo contrário,
respeitavam e referenciavam a liderança dos primeiros
apóstolos a quem Jesus separou para o ministério em todos
os lugares que pregavam o evangelho.

35
Tudo isso é possível quando o quadro social humano
vivido no mundo não tem o mesmo peso na igreja, até
porque a igreja primeiramente é uma instituição espiritual
para depois ser humana.
O nosso grande desafio como igreja não é esquecer
quem somos ou o que os outros são, mas sermos dentro do
que Cristo pregou, uma referencia de servidão voluntária,
apesar da nossa posição secular. Não deixar que a
qualificação social que nos divide em camadas e classes
sociais, faça do Reino de Deus na Terra uma grande
repartição pública ou uma unidade militar cheia de
hierarquias impostas por símbolos ou decretos
denominacionais.
O contexto social humano é muito diferente do conceito
unitário do Reino de Deus e talvez por isso a igreja tenha
grande dificuldade em manter o corpo em unidade, pois a
socialização não é voluntária e automática, mas
egocêntrica, calcada em valores de trocas vantajosas.
É por isso que queremos sempre mais do que a
sociedade secular nos oferece. Por causa da posição que
poderemos ocupar, da importância e relevância que
teremos neste contexto de comunidade. Nossos bens
adquiridos, nossa formação superior, o novo cargo que
ocuparemos numa grande empresa ou no governo, tudo
pode colaborar para o nosso crescimento social e referencia
pessoal para os outros.
É uma contramão a tudo o que Jesus pregou e ensinou
aos seus discípulos.

“Jesus, pois, chamou-os para junto de si e lhes disse: Sabeis


que os governadores dos gentios os dominam, e os seus grandes
exercem autoridades sobre eles. Não será assim entre vós;
antes, qualquer que entre vós quiser tornar-se grande, será esse o
que vos sirva; e qualquer que entre vós quiser ser o primeiro,
será vosso servo; assim como o Filho do homem não veio
36
para ser servido, mas para servir, e para dar a sua vida em
resgate de muitos.” (Mateus 20: 25-27 ) - grifos do autor

O efeito de camadas sociais é tão forte na igreja atual


que quando um membro é eleito a diácono, ele tem a visão
de que foi promovido no sentido de ascensão, de
crescimento social.
Realmente é uma ascensão, porém do ponto de vista
espiritual quem cresce, cresce para servir, não é para subir,
é para servir.

“... Não será assim entre vós; antes, qualquer que entre vós
quiser tornar-se grande, será esse o que vos sirva ...”

Na sociedade todo o crescimento é para o alto, para o


topo da pirâmide, entretanto no Reino de Deus esse
crescimento é para baixo, para a base.
No Reino, crescemos para descer, para servir, para não
aparecer, e interessante que quando fazemos isso,
aparecemos de uma forma sobrenatural aos outros, e
talvez por isso a igreja não tenha mais aparecido desta
forma sobrenatural na sociedade, como aparecia a igreja
apostólica.
Esta, quanto mais se escondia, mais chamava a atenção
do mundo...

“Ao cumprir-se o dia de Pentecostes, estavam todos


reunidos no mesmo lugar. De repente veio do céu um ruído,
como que de um vento impetuoso, e encheu toda a casa onde
estavam sentados. E lhes apareceram umas línguas como que de
fogo, que se distribuíam, e sobre cada um deles pousou uma. E
todos ficaram cheios do Espírito Santo, e começaram a falar
noutras línguas, conforme o Espírito lhes concedia que falassem.
Habitavam então em Jerusalém judeus, homens piedosos, de
todas as nações que há debaixo do céu. Ouvindo-se, pois,
aquele ruído, ajuntou-se a multidão; e estava confusa, porque

37
cada um os ouvia falar na sua própria língua. E todos
pasmavam e se admiravam, dizendo uns aos outros: Pois
quê! não são galileus todos esses que estão falando? Como
é, pois, que os ouvimos falar cada um na própria língua
em que nascemos? Nós, partos, medos, e elamitas; e os que
habitamos a Mesopotâmia, a Judéia e a Capadócia, o Ponto e a
Ásia, a Frígia e a Panfília, o Egito e as partes da Líbia próximas
a Cirene, e forasteiros romanos, tanto judeus como prosélitos,
cretenses e árabes ouvimo-los em nossas línguas, falar das
grandezas de Deus. E todos pasmavam e estavam perplexos,
dizendo uns aos outros: Que quer dizer isto?” (Atos 2: 1-
12) - grifos do autor

Quanto mais a igreja se reunia para buscar e esperar em


Cristo, não se importando em prevalecer nomes, líderes ou
a sua doutrina (já que isso ainda não estava formulado de
maneira pessoal ou denominacional), mais o Espírito Santo
a expunha ao mundo e a apresentava como a Noiva de
Cristo.
Neste caso, em Pentecostes, as pessoas (judeus da
diáspora) que passavam ali, se maravilharam com o que
estava acontecendo naquele lugar. Algo sobrenatural
estava despertando aquela nação e principalmente aos de
fora.
A igreja que em primeira análise queria se esconder,
aguardando instruções e o poder do alto, entendia que
deveria estar discreta e em segundo plano em relação a
figura de Cristo. Deixando bem claro que ela não esqueceu
da sua comissão nem por um segundo (Mc.16:15),
simplesmente esperava que isso fosse um mover natural,
impulsionado pelo Espírito Santo.

Quando a igreja adota essa postura discreta no sentido


secular, submissa, atenciosa ao que virá, comungando dos
pensamentos e intenções do Noivo através do Espírito

38
Santo, invariavelmente o Noivo a apresentará ao mundo
através de atos sobrenaturais, através de moveres
espirituais genuínos e pela grande atração de almas ao seu
altar.

“E muitos sinais e prodígios eram feitos entre o povo pelas


mãos dos apóstolos. E estavam todos de comum acordo no pórtico
de Salomão. Dos outros, porém, nenhum ousava ajuntar-se a
eles; mas o povo os tinha em grande estima; e cada vez mais se
agregavam crentes ao Senhor em grande número tanto de
homens como de mulheres;” (Atos 5:12-14) - grifos do autor

As almas são presentes de Cristo para a Igreja!


Quando a igreja entra na visão de Cristo no que diz
respeito em ser a Sua Noiva, ela recebe autoridade, poder,
amor e unção do Espírito Santo para ganhar almas.
A igreja precisa se resguardar do efeito sócio-cultural.
Quando os cristãos começam a pesar ou avaliar as
pessoas pelo contracheque, pela formação, pelos bens
adquiridos e valores de dízimo, é um forte indício do efeito
sócio-cultural criando barreiras humanas na igreja. E isso
afasta a igreja do seu real chamado, da sua vocação de
ganhar almas.
A comunhão é o fruto de uma igreja avivada pelo
Espírito, é o reflexo do amor de Cristo sobre a igreja, onde
o maior sempre servirá ao menor com alegria e prazer, onde
reinará o sentimento de igualdade, apesar da diversidade,
onde na verdade ninguém se verá maior ou menor, mas
como um só corpo e um só espírito.

39
“...é preciso traçar limites entre a necessidade
emocional humana e a ansiedade consumista
imposta por este século....”

40
4
A Igreja e o
Evangelho de Cristo
“Ide, pregai o evangelho a toda criatura...”

41
“Mas vós sois a geração eleita, o sacerdócio real, a nação
santa, o povo adquirido, para que anuncieis as virtudes daquele
que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz;” (1
Pe.2:9)

UMA CONSTATAÇÃO que compartilho por onde


ensino ou prego é que os evangélicos não sabem mais
comunicar o evangelho para o mundo, não sabem mais
pregar a salvação em Cristo de forma simples, sem vícios
lingüísticos ou o uso habitual do dialeto ‘crentês’ dos cultos
e pregações para crentes.
Em cruzadas evangelísticas que participo, o momento
constrangedor é quando os evangelistas e pastores vão dar
uma palavra ‘salvadora’ no palanque em praça pública...
‘- O teu deserto’
‘- Estar no prumo’
‘- Uma saraivada de glória ou línguas’
‘- Tá no vento, no funil’ ;
Estas e tantas outras dezenas de figuras de linguagens
que é particular do povo evangélico são usadas em larga
escala e sem cerimônia pelos pregadores na comunicação
da Palavra de Deus aos que ainda não estão familiarizados
com os termos ‘crentês’.
O contexto bíblico destes para o evangelismo,
geralmente está no antigo testamento; com Elias, Eliseu,
Moisés, Ezequiel e outros profetas servindo de base para
as suas mensagens.
Não há mal algum no uso do Antigo Testamento para
basear sermões, mas não seria mais fácil contextualizar o
evangelho contemporâneo da igreja à mensagem
neotestamentária de Cristo?
É claro que sim! Mas infelizmente perdemos esta
prática. Perdemos o traquejo na evangelização, deixamos
para trás há muito tempo o que era mais importante para
42
nós, e quando o Espírito Santo nos conduz ao perdido
pecador, não sabemos nos comunicar de maneira que o
façamos entender as virtudes daquele que nos chamou das
trevas para a sua maravilhosa luz.
Parece que estamos na era das mensagens avivalísticas
para crentes, onde queremos alcançar um retorno humano
às nossas homilias rebuscadas, com complicadas hermenêuticas
e exegeses bíblicas.
Este conceito de avivamento não lembra em nada o que
ocorre após pentecostes ou o que testemunha Pedro ao
pregar para o centurião e sua família (Atos 10:1-48), não
lembra o mover contemporâneo em Gales ou Azuza.
A igreja tem tratado o avivamento como se fosse algo
pessoal do crente para o crente, quando o avivamento é a
explosão do poder e presença de Deus para que todo
aquele que veja este poder, creia que Deus está presente na
igreja, sendo assim, conduzido ao arrependimento.
O nosso chamado é esse, a nossa vocação é essa:
anunciar as boas novas, declarar o que Cristo fez por cada
um de nós.
A igreja apostólica tinha esse foco diariamente.
Oravam, comungavam, resolviam seus problemas
internos, porém pregavam a Palavra, não abriam mão da
mensagem da cruz, do Jesus de Nazaré, o verbo que se fez
carne e habitou entre nós, do Cordeiro de Deus que tira os
pecados do mundo. O querígma era a ação principal da
igreja, era o ponto de chegada ao que se estabelecia como
eclésia de Jesus, a assembléia dos santos.
“Ide, portanto, pregai o evangelho!”
Essas palavras ecoavam e povoavam as mentes
daqueles cristãos. Ao dormir creio que Pedro, Tiago,
André, Felipe e outros se preparavam para o que estava
por vir. A expectativa não era se iriam fazer, mas como
Deus faria através deles, como o Espírito Santo os

43
surpreenderiam, quais milagres e prodígios ocorreriam
naquele dia.
É maravilhoso pensar que Filipe estava em Samaria
sendo usado com Poder e Glória...

“E descendo Filipe à cidade de Samaria, pregava-lhes a


Cristo. As multidões escutavam unânimes, as coisas que Filipe
dizia, ouvindo-o e vendo os sinais que operava; pois saíam de
muitos possessos os espíritos imundos, clamando em alta voz; e
muitos paralíticos e coxos foram curados; pelo que houve grande
alegria naquela cidade.” (Atos 8:5-8)

Qualquer um de nós hoje estaria satisfeito com o que


estava acontecendo com Filipe naquela cidade: libertação,
cura, maravilhas, as pessoas se alegrando...
Deus tem mais, sempre há mais quando a igreja se
propõe a não esquecer do evangelho, de anunciar Cristo
como Salvador, Redentor e Mestre. Quando não assume
características egocêntricas de prosperidade a todo o custo,
quando não gera uma mensagem de explicação para os
fracassos e incompetência da igreja moderna, no que tange
a repetir os feitos dos primeiros discípulos de Cristo.
Quando descemos a Samaria (é uma ordem! - Atos 1:8)
a presença do Espírito Santo é constante nas nossas
mensagens e com certeza os sinais nos acompanham, e o
mais importante acontece: pregamos Cristo, somente a
Cristo e mais nada.

“E descendo Filipe à cidade de Samaria, pregava-lhes a


Cristo...”

Filipe, o diácono estava experimentando isso; a


presença manifesta de Deus no seu pregar, na autoridade
espiritual para expelir demônios e para curar os enfermos.
Parecia que nada a mais poderia ocorrer até que...

44
“Mas um anjo do Senhor falou a Filipe, dizendo: Levanta-te,
e vai em direção do sul pelo caminho que desce de Jerusalém a
Gaza, o qual está deserto.” (Vs. 26)

Quando a igreja trabalhar, haverá sempre mais


trabalho. Quando a igreja entender que trabalhar para
Deus não é ser presidente de mocidade, de homens, de
mulheres, de louvor, de qualquer ministério e
departamento ou outra coisa que denote estrutura interna
da igreja, mas pregar com diligencia a Palavra, se
preocupar com as almas e se lançar nos campos brancos sem
ceifeiros, então o poder e a Presença impactante do Senhor
estará sobre ela como a nuvem esteve sobre o tabernáculo
do povo de Deus no deserto do Sinai. Coisas maiores
acontecerão, Deus começará a surpreender a igreja com
situações inacreditáveis e até absurdas de se contar para os
outros, mas acontecerá.

“Levantou-se e foi; e eis que um etíope, eunuco, mordomo-


mor de Candace, rainha dos etíopes, o qual era superintendente
de todos os seus tesouros e tinha ido a Jerusalém para adorar,
regressava e, sentado no seu carro, lia o profeta Isaías. Disse o
Espírito a Filipe: Chega-te e ajunta-te a esse carro.” (Vs.26-29)

Filipe como representação da igreja, estava na


dispensação do Espírito Santo e por isso não perguntava se
o que estava fazendo era o certo; sair do meio da multidão
que o temia e respeitava em Samaria para estar no deserto
e pregar para uma pessoa somente?
Este é o segredo: submissão ao Espírito Santo e vocação
para pregar o evangelho. Quando estamos assim, coisas
maiores ainda do que temos feito, acontecerão.

“E disse Felipe: é lícito, se crês de todo o coração. E,


respondendo ele, disse: Creio que Jesus Cristo é o Filho de Deus.
Mandou parar o carro, e desceram ambos à água, tanto Filipe

45
como o eunuco, e Filipe o batizou. Quando saíram da água, o
Espírito do Senhor arrebatou a Filipe, e não o viu mais o eunuco,
que jubiloso seguia o seu caminho. Mas Filipe achou-se em Azoto
e, indo passando, evangelizava todas as cidades, até que chegou a
Cesaréia.” (Vs.37-40)

Precisamos experimentar coisas maiores do que temos


vivido. Há uma promessa para a igreja de fazer coisas
maiores do que Jesus fez (Jo. 14:12), no entanto não as
fazemos. É necessário haver um anseio da nossa parte,
uma vontade de viver esse tempo. Para isso é claro,
devemos priorizar a proclamação da salvação em Cristo.
Todos os eventos de milagres humanos e sobrenaturais
da igreja eram precedidos da proclamação da Palavra ou
preparavam o terreno para que Jesus fosse pregado como
messias do mundo. Essa é a regra; milagres e
evangelização ou evangelização e milagres.
Parece que hoje, além de não sabermos pregar para o
mundo, queremos os milagres para a igreja, somente para
os salvos, o que, diga-se de passagem, é uma contramão ao
que Jesus viveu em seu ministério público.

“Percorria Jesus toda a Galiléia, ensinando nas sinagogas,


pregando o evangelho do reino e curando toda a sorte de doenças
e enfermidades entre o povo.“ (Mt. 4:23)

“À tarde, ao cair do sol, trouxeram a Jesus todos os enfermos


e endemoninhados. Toda a cidade estava reunida à porta. E ele
curou muitos doentes de toda a sorte de enfermidades; também
expeliu muitos demônios, não lhes permitindo que falassem,
porque sabiam quem ele era.“ (Mc. 1:32-34)

O evangelho de Cristo traz os milagres para a realidade


física. A igreja pregando Cristo aos perdidos é um
manancial de milagres, de curas, de libertação e
principalmente de salvação.

46
A igreja é chamada e comissionada para isso, não
podemos perder esse referencial. Ou pregamos ou nada
feito!
O grande legado deixado para igreja foi a ordem de fazer
discípulos em todas as nações deste planeta, batizando-os
e os ensinado a guardar as palavras de Cristo (Mt. 28:18-
20).
Anunciar as nações o evangelho, verdadeiramente é um
grande desafio para nós, porém não podemos esquecer
que é também um mandamento. Tanto do ponto de vista
salvívico, como do ponto de vista de gratidão, devemos
ver no anúncio da pessoa de Cristo uma “obrigação” cristã.
Anunciar o evangelho a toda criatura não é somente
um dom ou um chamado pessoal como o de profetizar,
falar línguas, curar, entre outros. Pregar a Palavra de Deus
é uma comissão para cada cristão e para a igreja de forma
geral. Nenhum cristão pode declarar que não tem
chamado ou não possui o dom, pois falar da obra de Deus
em nossas vidas é testemunhar a transformação que Cristo
provoca em cada homem, mulher, jovem, idoso, adulto ou
criança.
O ponto em que temos que refletir é: “O quanto
investimos no envio da Palavra para outras nações?”
Precisamos rever a nossa posição de crentes em Cristo
Jesus, no sentido de orar, preparar e enviar pessoas como
Barnabé, Paulo e Silas aos lugares distantes que ainda não
ouviram a respeito de Jesus.
Temos um alvo, que é pregar a Palavra de Deus às
nações, enviar missionários, evangelistas, pregadores,
providenciar Bíblias nas línguas dos povos não alcançados
ainda. Somos comissionados!

“E, servindo eles ao Senhor e jejuando, disse o Espírito


Santo: Separai-me, agora, Barnabé e Saulo para a obra a que

47
tenho chamado. Então, jejuando, e orando, e impondo sobre eles
as mãos. Os despediram.” (Atos 13: 2-4)

Estas são as palavras impactantes descritas por Lucas


no livro de Atos. A prioridade do Espírito Santo com a
igreja é avivá-la para enviá-la com demonstração de poder
que segue a pregação. A necessidade do Reino de Deus é
pregar a Palavra, ganhando as nações, transformando os
povos pelo poder sobrenatural do evangelho.
Milhares e milhares de pessoas ainda não ouviram e
nem sequer sabem quem é Jesus Cristo, enquanto
cultuamos a Deus de maneira prazerosa e maravilhosa aos
domingos em nossos templos. É claro que não devemos
nos sentir culpados por termos a salvação e a alegria de
adorar a Cristo, porém devemos nos sentir compelidos a
clamar pelas nações e enviar missionários a elas, para que
havendo salvação, eles também possam adorar a Cristo
como O adoramos.
A nossa maior forma de adoração deve ser ouvir a voz
de Deus clamando por almas, o nosso maior prazer deve
ser a vontade de ver almas se rendendo no altar de Deus
em meio a adoração da igreja e da Palavra pregada.
Precisamos ainda hoje preparar a igreja para pregar o
evangelho, fazer discípulos e enviar aos campos mais
obreiros na grande colheita desses últimos dias. Não
podemos deixar de ouvir O Espírito Santo dizendo à igreja:
“separa-me os que irão as nações, separa-me os missionários,
pois a obra e a seara continuam grandes”!
A verdade é que há um grande comodismo da igreja
nesta área, não queremos mais nos dar ao trabalho de
separar tempo para evangelismo, sair das quatro paredes
dos templos para as ruas, fazer programações mais
voltadas para pregação evangelística, afinal, temos mídia,
rádio, televisão, internet. Para quê nos incomodar tanto?

48
O apóstolo Paulo declara na sua segunda carta a igreja
de Corinto (4:3,4) que se o evangelho de Cristo está
encoberto é porque o príncipe deste mundo, o deus deste
século, está trabalhando para que as pessoas se percam
sem ouvir e entender a Palavra de Deus.
Nitidamente o apóstolo-missionário na sua época já
enfrentava dificuldades na propagação do evangelho, pois
a cultura, o dinheiro, a política, a religiosidade e outras
barreiras, muitas vezes impediam o evangelho de ser
compreendido e até de ser pregado.
Hoje ainda o problema persiste. Muitas vezes a
prosperidade financeira de alguns cristãos e igrejas, o nível
cultural, a religiosidade e questões políticas
denominacionais impedem a igreja de pregar o evangelho.
Vemos muitas denominações fazendo seus encontros
ou congressos missionários onde nada efetivamente é
mudado, nada é acrescido em relação ao passado. Muitas
promessas, projetos, mas nada muda. Os missionários na
maioria das vezes continuam desamparados, isolados,
dependendo da ajuda particular de “bons cristãos” que se
compadecem deles.
Estamos em guerra por almas e a igreja não pode se
furtar desta batalha, precisamos assumir o nosso papel.
Precisamos marchar no poder da Palavra de Deus e na
autoridade do Nome de Jesus, pois recebemos isso com
garantia de sucesso na nossa missão (Mc. 16:15-18).
Ainda ecoa as palavras que o apóstolo Paulo declarou
aos cristãos da Igreja de Roma: “Todo aquele que invocar o
nome do Senhor será salvo. Como, porém, invocarão aquele a
quem não creram? E como crerão naquele de quem nada
ouviram? E como ouvirão se na há quem pregue? E como
pregarão, se não forem enviados?” (Romanos 10:13-15a)

49
“Como, porém, invocarão aquele a quem não creram?
E como crerão naquele de quem nada ouviram? E
como ouvirão se não há quem pregue?”

50
5
O Ensino da Palavra
na Igreja
“Examinai as Escrituras...”

51
“Pois assim como em um corpo temos muitos membros, e
nem todos os membros têm a mesma função, assim nós, embora
muitos, somos um só corpo em Cristo, e individualmente uns dos
outros. De modo que, tendo diferentes dons segundo a graça que
nos foi dada, se é profecia, seja ela segundo a medida da fé; se é
ministério, seja em ministrar; se é ensinar, haja dedicação ao
ensino.” (Romanos 12:4-7)

QUANDO RECEBO alunos no seminário, logo nos


primeiros momentos de aula pergunto a eles: ‘Para vocês,
qual é a maior necessidade ministerial na igreja moderna? -
Pastores? Profetas? Apóstolos? Evangelistas ou Mestres?’
Depois de um silêncio reflexivo começo a ouvir as
opiniões. Alguns declaram que a igreja precisa de
evangelistas, confirmando o chamado evangelístico da
igreja, outros declaram que há uma necessidade de
profetas, pois se não houver profetas o povo perece, e há
ainda outros entendendo que a igreja precisa de Apóstolos,
pois precisamos nos organizar como corpo universal.
Realmente entendo que cada resposta vem carregada da
necessidade pessoal de cada aluno no seu contexto
eclesiástico, mas é interessante notar que poucos alunos,
entre as turmas que leciono declaram a necessidade de
Mestres em suas igrejas ou para o Reino. Na verdade essa
dispersão com relação ao Mestre é um indício da falta dele
no contexto eclesiástico.
Quando me refiro ao Mestre, não o faço pensando (com
todo o respeito) em professores de Escolas Bíblicas ou
outros que ensinam na igreja, mas me refiro ao chamado
sobrenatural de pessoas que assim como os ministros da
Palavra e Evangelistas, são comissionados a este papel na
finalidade de instruir a igreja na sã doutrina, na exortação
pelo ensino revelado sobrenaturalmente.

52
O Mestre não é um professor apenas, é alguém com um
dom que vai além de ensinar, alguém que consegue extrair
recursos espirituais de um “simples versículo” ou uma
breve leitura que muitas vezes já fizemos, mas não
atentamos para as riquezas ocultas que haviam no texto; e é
claro, isso é revelação do Espírito Santo, e somente os
chamados nesta área possuem esta perspectiva.
Alguns com certeza podem objetar dizendo que este
papel deve ser assumido pelo pastor, afinal de contas ele é
o anjo da igreja, tem a missão de conduzir o rebanho, de
alimentá-lo e ensiná-lo.
É verdade, essas prerrogativas são dos pastores que
Deus direciona a cada rebanho na face da Terra; mas fica
uma inquietante questão: ‘Todos os pastores são mestres?
Todos têm o dom de ensinar? E não só ensinar, mas a
habilidade de estudar, pesquisar, aprender e receber
revelações de textos bíblicos?’ Esse é o ponto que muitos
esquecem. Há realmente pastores que são mestres,
inclusive lecionam em seminários e faculdades, mas são
muitos, não são todos!
Se na falta de profecia o povo se corrompe, e com
certeza na falta de ensino também.

“Onde não há profecia, o povo se corrompe; mas o que


guarda a lei esse é bem-aventurado.” (provérbios 29: 18) - grifos do
autor

“O meu povo está sendo destruído, porque lhe falta o


conhecimento. Porquanto rejeitaste o conhecimento, também eu
te rejeitarei, para que não sejas sacerdote diante de mim; visto
que te esqueceste da lei do teu Deus, também eu me esquecerei de
teus filhos.” (Oséias 4:6) - grifos do autor

Infelizmente um dos pontos críticos da igreja


contemporânea é o ensino. Os cristãos dessa geração estão
aprendendo (ou ouvindo?) muito sobre restituição, louvor
53
extravagante, vitórias sem medida e que o melhor dessa
Terra está por vir. A minha observação é que apesar das
‘instruções’ a respeito desses assuntos, a maioria não tem
alcançado vitórias, não tem adorado a Deus em espírito e
em verdade e querem restituição de bens e consumos de
uma época em que eram pecadores e mundanos. Como
Deus restituirá a área sentimental de alguém em um tempo
de pecado, de adultério, ou a possessão de objetos
frutificados de uma vida desonesta, em trevas?
São erros graves que a igreja está agregando na
formação do caráter de novos cristãos e também daqueles
que está há muito tempo na igreja, mas nunca tiveram a
sua fé fundamentada na Palavra.
Falta ensino, faltam Mestres!
O Pastor é o responsável pela igreja, mas nem sempre
tem o chamado para este ministério de ensino. Mesmo
assim como líder deve observar os que possuem este
chamado e investir nesta área, pois a maioria dos
problemas que temos enfrentado nas igrejas são as
incessantes heresias que estão surgindo e influenciando
muitos crentes.

“Rogo-vos, irmãos, que noteis os que promovem dissensões e


escândalos contra a doutrina que aprendestes; desviai-vos deles.
Porque os tais não servem a Cristo nosso Senhor, mas ao seu
ventre; e com palavras suaves e lisonjas enganam os corações
dos inocentes.” (Romanos 16:17,18) - grifos do autor

São louvores que propõe vitória a qualquer custo,


pregadores de televisão dizendo que você deve ofertar, mas
cobrar de Deus a sua prosperidade, pastores aprovando e
incentivando divórcios, igrejas que manifestam doutrinas
recheadas de sincretismo religioso, desagregando do nosso
meio o batismo, a santa ceia entre dezenas de outros

54
aspectos, tudo ao mesmo tempo no rádio, na internet e
televisão.
Hoje mais do que nunca a igreja deve clamar pelo
ensino da Palavra, não abrindo mão do aprendizado e dos
Mestres na comunidade.
Já na Igreja Apostólica havia problemas dessa natureza,
mas os apóstolos se dedicavam em promover exortação
pela Palavra e admoestavam os líderes a não aceitarem
esses comportamentos na igreja de Cristo.

“Mas houve também entre o povo falsos profetas, como


entre vós haverá falsos mestres, os quais introduzirão
encobertamente heresias destruidoras, negando até o Senhor
que os resgatou, trazendo sobre si mesmos repentina destruição.
E muitos seguirão as suas dissoluções, e por causa deles será
blasfemado o caminho da verdade; também, movidos pela
ganância, e com palavras fingidas, eles farão de vós negócio; a
condenação dos quais já de largo tempo não tarda e a sua
destruição não dormita.” (2 Pedro 2:1-3) - grifos do autor

Infelizmente ainda ouvimos ecoar a Palavra de Deus pela


boca do profeta Oséias: “O meu povo está sendo destruído,
porque lhe falta o conhecimento...”

Ou resgatamos o ensino na igreja de forma séria, por


quem realmente tem chamado, não cobrindo buracos de
EBD com ‘professores’ que lêem as suas revistas sábado a
noite depois de fazer tudo o que é importante para si, e
nada acrescentam (porque nada sabem) aos seus irmãos
em classe, ou veremos o cristianismo ruir em heresias,
religiosidade, sincretismo e apatia espiritual por falta de
conhecimento.
A igreja deve rever o seu papel educacional na vida
espiritual do cristão, deve entender a grande
responsabilidade que tem em preparar as pessoas para
viverem neste mundo e não pertencerem a este mundo,
55
possuir os bens desta Terra, mas saber que são mordomos
de Deus no uso desses bens, instruir o crente na sua
relação de santidade com Deus de maneira clara, sem
religiosidade ou maniqueísmo sociológico, e dentro do que
o SENHOR tem estabelecido na Sua Palavra para cada
cristão.
A igreja tem esse chamado, ela é proclamadora do
evangelho, mas é também formadora de discípulos e nesta
formação inclui o ensino, a exortação, a continuidade e
aplicação da Palavra na vida das pessoas que formam a
igreja.
É muito cômodo lotarmos a nossa comunidade aos
domingos, onde temos longos períodos de louvor e várias
apresentações especiais, pois este dia é o cartão de
apresentação da igreja aos que chegam, porém devemos
refletir como está a vida espiritual desta igreja, olhar bem
para os irmãos que tão acaloradamente recebem a sua
vitória através dos louvores, mas que em uma ciranda
viciosa tem sempre a sua vida por um triz; sempre com
problemas existências, conjugais, financeiros, de caráter,
entre outros.
Sabemos que todos estão sujeitos aos problemas,
independente de serem cristãos ou não, mas a nossa
observação é no problema contínuo, na situação perpétua
que aprimoradamente se instalou na vida desses cristãos
que cantam vitórias de domingo a domingo, mas não
conhecem a Palavra de Deus e como resultado dessa falta
de conhecimento, não conseguem se libertar dessas
situações. Enganam-se achando que ao cantarem os
louvores conseguirão solucionar ou atenuar os seus
problemas contínuos.
Isso tem sido uma marca na igreja moderna, pois
criamos uma geração de crentes esquizofrênicos. Estamos
repletos deles em nosso meio; pessoas que não mudam e
clamam por sua vitória continuamente.
56
- Porquê isso?
- Porque estamos felizes em ver as nossas igrejas
lotadas aos domingos, enquanto nos dias de oração,
reuniões doutrinária e de ensino, podemos contar os
mesmos cristãos de sempre.
- Porque esses cristãos dominicais não conhecem
realidades, preceitos e exortações espirituais que precisam
ser colocados em ação em suas vidas.
- Porque é trabalhoso preparar estudos, examinar,
pesquisar e promover informações aos outros.
- Porque é mais fácil administrar uma igreja onde todos
pensam que está tudo bem (quando não está), onde todos
fingem que ninguém faz nada de errado, criando dívidas
sociais mútuas (corporativismo).
A cada momento que passa vemos coisas ruins
acontecendo na igreja, coisas que entristecem o coração de
Deus, que afastam o Espírito Santo do nosso meio, que nos
torna carnais e insensíveis a Palavra de Deus. O
testemunho do cristão do século vinte e um não tem sido
bom, apesar do crescimento contínuo do meio evangélico,
a sua característica determinantemente tem se ausentado
da imagem do Filho de Deus. Refletir Cristo hoje através
da igreja tem sido um exercício penoso para os que buscam
isso de todo o coração.
Há muitas propostas de igrejas em cima de crescimento
financeiro, auto-ajuda, campanhas de fé para qualquer
situação ou caso, subordinação parcial a Palavra, entre
muitas outras. A igreja perdeu a capacidade de pregar o
Cristo ressurreto e seus benefícios espirituais, portanto
prega primeiramente os benefícios materiais de receber a
Jesus como Salvador, e em havendo possibilidade
posterior apresenta o lado espiritual que envolve receber a
Cristo, o importante é pescar homens com essa “nova isca”.
A ausência de Mestres e ensino provoca isso na igreja; e
onde a Palavra de Deus não for a bússola, faltará caráter,
57
conversão, santidade, avivamento, intercessão, clamor por
almas, adoração verdadeira, comunhão, prosperidade e a
Presença de Deus através do Seu Espírito.
É por isso que temos pessoas fracas na fé, que
apostatam com facilidade ou se desviam na primeira
dificuldade. Em alguns momentos duvidamos até se
alguns realmente tiveram um encontro com Cristo, não por
termos o direito julgar, mas pelos frutos, e pela
inconstância na caminhada cristã.
O apóstolo Paulo preocupado com essa situação em seu
tempo escreve a Timóteo, seu filho na fé:

“Mas o Espírito expressamente diz que em tempos


posteriores alguns apostatarão da fé, dando ouvidos a
espíritos enganadores, e a doutrinas de demônios, pela
hipocrisia de homens que falam mentiras e têm a sua própria
consciência cauterizada, proibindo o casamento, e ordenando a
abstinência de alimentos que Deus criou para serem recebidos
com ações de graças pelos que são fiéis e que conhecem bem a
verdade; mas rejeita as fábulas profanas e de velhas. Exercita-te a
ti mesmo na piedade. (1Ttimóteo 4:1-3;7) - grifos do autor

Sabemos que a tradição da igreja é ter primeiramente


pastores, evangelistas, missionários, profetas; e é bíblico
que tenhamos todos estes na comunidade, pois é através
da instrumentalidade de cada um que a igreja crescerá e se
ajustará.

“E ele deu uns como apóstolos, e outros como profetas, e


outros como evangelistas, e outros como pastores e mestres,
tendo em vista o aperfeiçoamento dos santos, para a obra
do ministério, para edificação do corpo de Cristo; até que
todos cheguemos à unidade da fé e do pleno conhecimento do
Filho de Deus, ao estado de homem feito, à medida da estatura da
plenitude de Cristo;” (Efésios 4:11-13) - grifos do autor

58
Porém, hoje a igreja tem carecido muito de Pastores-
Mestres ou Mestres-Pastores, a maior necessidade é o
ensino, o conhecimento. Uma igreja conhecedora do seu
papel é vencedora, é livre, é santa, possui comunhão, é avivada,
madura e completa, pois o Espírito Santo dirige metas, planos e
propósitos dessa igreja. Ela terá sempre a prioridade de Deus
em seus planos, não porque Deus gosta mais da igreja A e
não se preocupa com a igreja B, mas porque a igreja A tem
característica de Noiva Cristo, de eclésia prima, de corpo
ajustado, com visão apostólica, enquanto a igreja B tem
outras prioridades, como promoção de eventos sociais,
aniversários de departamentos, reuniões especiais para
pessoas influentes na comunidade, cultos de vitória, de
restituição, de casamento, de empresário, quebra de
cadeias e o que mais a mente humana puder criar. -
Sempre haverá uma diferença de resposta divina entre
esses modelos de igrejas. Isso faz a diferença com Deus!
Deus só pode trabalhar no sobrenatural com igrejas
preparadas para agir no sobrenatural, Ele só fará milagres
em igrejas que se preparam para receber e ver os Seus
milagres. Acrescentará almas às igrejas que se preparam e
clamam por almas, traz santidade quando a igreja se
arrepende em temor e santidade; prospera o seu povo
quando este se mostra maduro para permanecer fiel com
ou sem meios financeiros e poder social, sendo
despenseiros de Deus nesta Terra, investindo em sua vida
para Ele.
Que mover maravilhoso é, quando a igreja está
preparada para agir no sobrenatural de Deus!
Tudo isso com certeza ocorre quando a igreja se
preocupa em obedecer as diretrizes de Deus. Sempre há
cura e libertação pela Palavra revelada, quando a nossa
felicidade é gerada pelo cumprimento da vontade d’Ele.
A felicidade da Igreja deve estar no entender e atender
o coração de Deus, e isso verdadeiramente ocorre quando
59
examinamos com diligencia a Sua Palavra, quando cada
cristão separa tempo para estudar as Escrituras, quando a
igreja se envolve em seminários bíblicos periódicos,
gerando crescimento e maturidade espiritual.
Quando esta postura for regra e não exceção para a
igreja, ficaremos livres também dos falsos profetas e falsas
doutrinas, pois a Palavra é apta para discernir as intenções
do ser humano (Hb.4:12,13) e nos ensinar a discernir coisas
espirituais e coisas carnais.
É tradição da igreja possuir Mestres ou Doutores como
ofício e dom espiritual, não podemos abrir mão de formar
e pedir a Deus por pessoas com essa característica.
Precisamos dos Mestres no nosso meio para nos orientar e
ensinar a Palavra de Deus, assim como precisamos do
pastor, do profeta, do evangelista e outros.

“Ora, na igreja em Antioquia havia profetas e mestres, a


saber: Barnabé, Simeão, chamado Níger, Lúcio de Cirene,
Manaém, colaço de Herodes o tetrarca, e Saulo. Enquanto eles
ministravam perante o Senhor e jejuavam, disse o Espírito
Santo: Separai-me a Barnabé e a Saulo para a obra a que os tenho
chamado.” (Atos 13:1, 2) - grifos do autor

A igreja apostólica possuía Profetas e Mestres atuantes,


pessoas responsáveis pelo ensino, pela sã doutrina, que se
preocupavam e zelavam por uma vida digna no serviço a
Cristo, mantendo o chamado à disposição da igreja.
O Mestre é também um profeta, pois a partir do
momento que recebe de Deus a revelação da Sua Palavra e
ensina a igreja, está trazendo uma realidade sobrenatural,
ensinando, exortando e edificando o corpo de Cristo.
Se conhecemos a Deus e a Sua Palavra, é porque o
Mestre dos mestres, Jesus Cristo, passou todo o seu
ministério ensinando ao homem como se voltar para o seu
Criador e Pai. Preocupou-se em fazer discípulos, não

60
perdendo a essência do seu ensinamento, e além dos
apóstolos comissionou e chamou homens como Paulo,
Barnabé, Silas e Apolo para fazerem a diferença no
restante do mundo. Portanto a igreja é ensinadora em sua
herança, no DNA espiritual da eclésia há fortes traços de
ensino que não podem ser perdidos.

61
“A felicidade da Igreja está em entender e atender o
coração de Deus, e isso ocorrerá quando examinarmos
a Sua Palavra com diligencia..”

62
6
Discípulos
&
Discipuladores
“Ensinando-os a guardar tudo...”

63
“Portanto ide, fazei discípulos de todas as nações, batizando-
os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo; ensinando-os
a observar todas as coisas que eu vos tenho mandado; e eis que eu
estou convosco todos os dias, até a consumação dos séculos.”
(Mateus 28:19)

QUANDO JESUS esteve entre nós, ficou bem claro que


o seu maior objetivo além de proporcionar a salvação
através do seu sacrifício na cruz, era também trazer ao
homem um conhecimento mais simples e verdadeiro a
respeito de Deus e seu Reino. A sua maior característica
não era fazer os milagres que o seguiam, mas, sobretudo o
ensino; na atração que possuía sobre os seus ouvintes
quando ensinava e discutia as coisas da Terra e as coisas lá
do alto.
Durante os anos de ministério, Jesus pregou, curou e
ensinou como nenhum outro fez, porém a sua maior obra
(excetuando a salvação) foi fazer discípulos. Ele preparou
homens e mulheres para dar continuidade a tudo quanto
Ele ensinou e fez, sabendo que o seu legado, deveria
continuar através de outros, e que estes também deveriam
ensinar ainda a muitos outros o que receberam d’Ele.
O fazer discípulos é a melhor maneira de continuar
uma visão, um ministério, e na maioria das vezes ensinar é
mais importante do que manter as pessoas ocupadas com
programações vazias. A ordenança é essa: “Façam
discípulos, ensine-os a guardar a minha Palavra, ajude-os a ter
um caráter regenerado pelo Espírito de Deus.”

A idéia que possuímos quando pensamos em


discípulos, é a de seguidores de uma religião, seita ou um
“mestre”. Esquecemos, porém, que no livro dos Atos a
referência DISCÍPULOS também ocorre inúmeras vezes
quando se trata dos convertidos, da igreja e dos apóstolos
64
(At.6:1-7; 9:1-31). A bem da verdade, por diversos motivos,
perdemos a muito tempo a identidade própria de
discípulos de Jesus Cristo. Criamos tantas identidades
paralelas, tantos pseudônimos que ao final muitos não
sabem o que representam, se a Cristo, sua denominação ou
a uma ideologia social, religiosa e pessoal.
Uma coisa é certa: dificilmente encontraremos um
cristão lúcido, que entenda que antes de ser
denominacional, avivado, pentecostal, tradicional, carismático
ou qualquer outra forma de identidade, ele é discípulo de
Cristo. Há uma séria crise de identidade no que diz
respeito ao seguir a Cristo como seus discípulos. E antes de
qualquer rótulo, nós o somos!

“Dizia, pois, Jesus aos judeus que nele creram: Se vós


permanecerdes na minha palavra, verdadeiramente sois meus
discípulos; e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará.”
(Jo.8:31,32). - grifos do autor

O termo cristão só foi nominado em Antioquia


(At.11:25,26), quando Paulo e Barnabé anunciavam a Jesus
como o Messias (hebraico) de Israel e o Cristo (grego) do
mundo, e este codinome cristão não foi dado de maneira
estratégica ou marqueteira, mas foi o reconhecimento da
comunidade local a respeito da referência da pessoa de
Jesus Cristo na pregação desses discípulos.
A pergunta que nos cala hoje é: por que não somos
mais reconhecidos como discípulos de Cristo? Por que
fazemos questão de acentuarmos alguns termos modernos
como: evangélico, pentecostal, neo-pentecostal, carismático,
avivado e etc.?
Seguimos uma doutrina neotestamentária,
fundamentada nos ensinos de Jesus Cristo, porém não nos
enxergamos e nem nos espelhamos como discípulos
diretos d’Ele, e discípulo no sentido correto de ser

65
seguidor, aluno; alguém que vive os ensinamentos ou
doutrinas de alguém, que segue uma pessoa, confiando
nas palavras e visão que lhe é característica.
Como conseguimos pregar a pessoa de Jesus, falar da
Sua salvação, entoar louvores ao nome d’Ele, mas não nos
identificarmos intimamente como seus discípulos?
Virtualmente somos seus discípulos, mas na concepção
mental e espiritual não nos vemos e nos comportamos
desta forma, e isso porque ao nos convertermos ou nos
doutrinarem, nunca percebemos a importância desta
conexão para a nossa identidade cristã.
Como isso aconteceu?
Simples! O evangelho dos apóstolos e discípulos era
genuíno, vivido dentro da perspectiva dos ensinamentos
diretos de Cristo, hoje, porém tudo isso está terceirizado
pela teologia contemporânea dos grandes arautos da
modernidade, pela estrutura corrompida que herdamos do
romanismo, e até mesmo da reforma protestante que serviu
de caminho político para muitos príncipes e reis na época
se libertarem do jugo papal na Europa.
Ninguém hoje, no seu novo nascimento e batismo ouve:
“Você agora é seguidor de Cristo, discípulo d’Ele, procure imitá-
lo em tudo, Ele é o seu ícone, a sua aferição de caráter para uma
vida espiritual plena...”
É comum vermos classes de preparação para batismo
fazendo uma verdadeira lavagem cerebral nos novos
convertidos, instruindo-os a considerarem a doutrina
eclesiástica denominacional acima de tudo, levando cada
novo membro a conhecer as diretrizes da sua
denominação, seus estatutos, sua forma de governo, o
quanto devem ser fiéis, submissos e desejosos de serem
recebidos pela instituição.
Não me admira a maçonaria estar na maioria das
denominações evangélicas; a forma de governo e gestão é
idêntica. O crivo é paralelo, as exigências são primas e a
66
fraternidade corporativista está acima do seguir a Cristo,
excetuando os ritos de iniciação e passagem que esta
possui nos seus graus de ascensão.
É preciso ver o discipulado com seriedade e
profundidade, é necessário retornarmos a visão prioritária
de seguir a Cristo, não virtualmente, mas literalmente.
Deixando em segundo plano a questão institucional,
colocando em primeiro plano a figura de Jesus Cristo na
vida de cada cristão.
Com certeza isso acontecendo, haverá uma mudança
radical no caráter da igreja, haverá uma influencia simples,
porém pura e poderosa sobre as pessoas. Muitos
verdadeiramente mudarão de vida, serão novas criaturas
mesmo tendo pouco tempo de igreja. Os que possuem
obras carnais como a mentira, não mentirão mais. Os que
têm fraqueza em comprar e não pagar ou compulsividade
com cartão de crédito, arruinando suas vidas financeiras,
por influência espiritual do Cristo passarão a se controlar e
serão íntegros socialmente. Os que se ressentem e
respondem com mágoa, dissensão, ira e disputas, com
certeza serão libertos nessa área pelo Espírito de Deus.
Tudo isso é possível, se entendermos o processo do
discipulado na pessoa de Jesus Cristo. Ser discípulo d’Ele é
ter verdadeiramente vida nova, isso porque Ele se
encarrega de nos ajudar a matar o velho homem.

“Em seguida dizia a todos: Se alguém quer vir após mim,


negue-se a si mesmo, tome cada dia a sua cruz, e siga-me. Pois
quem quiser salvar a sua vida, perdê-la-á; mas quem perder a sua
vida por amor de mim, esse a salvará.” (Lucas 9:23,24) - grifos do
autor

Não podemos mais ganhar as almas e deixá-las viverem


com o velho homem, que sempre no primeiro instante será
sufocado, mas com o passar do tempo voltará a tona,
comandando as vidas de muitos. Precisamos do
67
discipulado no modelo e na perspectiva de Jesus, na
esperança de vida em abundancia através d’Ele.

É importante que cristãos e novos convertidos tenham


noção exata da vida comunitária cristã, que entenda o que
é caminhar com Cristo, o que é ter Jesus com Salvador e
também Senhor. Infelizmente muitas vezes isso não é bem
percebido ou entendido por falta de referencias humanas
na igreja; hoje é comum alguém dizer para um cristão
desanimado com a igreja: ‘Não olha para o homem, olhe para
Jesus!’
A idéia é até interessante, mas na verdade mascara a
nossa incompetência de bradar o que o apóstolo Paulo por
várias vezes evocou para si em relação a ser exemplo para
os fracos e vacilantes na fé.
É por isso que mandamos as pessoas olharem para
Jesus; elas não podem olhar para nós, não podem ler a
bíblia e ver em nós o oposto do que Cristo ensina. Não
agüentamos saber que deveríamos viver isso e sermos
exemplos para os novos convertidos e jovens na fé.
Infelizmente não vivemos a plenitude de Cristo, pelo
contrário, a cada dia fracassamos como igreja nesta área.
Não há pessoas que se disponibilizem a acompanhar,
ensinar, ajudar, ouvir, aconselhar esses bebês espirituais que
nascem nas nossas igrejas.
Não há pessoas que vivam essa plenitude de vida a
ponto de poder se responsabilizar e dizer: ‘podem me
seguir! Eu estou seguindo a Cristo!’
Há algumas igrejas, que através de seus líderes resistem
a esta idéia, pois imaginam que é perigoso alguém que não
seja o líder da igreja estar cuidando de novos convertidos.
Neste contexto, porém é importante ver que os
discipuladores não exercem o papel do pastor da igreja,
porém auxiliam no acompanhamento e crescimento dos
novos convertidos e iniciantes na fé cristã. Apóiam,
68
exortam, visitam, consolam e oram com estes, mantendo-
os firmes na caminhada cristã.
O apóstolo Paulo nunca quis a posição de Cristo, pelo
contrário, quando se colocava como ícone, o fazia a
semelhança d’Ele, o seu Senhor e Salvador, declarando isso
com firmeza; “Sede meus imitadores como também eu sou de
Cristo” (1Cor. 11:1). A importância do discipulador não
está em quem ele ou ela é na igreja, mas o que representa
para o novo convertido.
É importante formar na vida dos novos na fé a
perspectiva de cuidado e carinho de uma irmã ou irmão
mais velho; aquela pessoa que para ele é um ponto de apoio
neste início de caminhada, até porque para muitos o pastor
local é visto como alguém perfeito, sem tempo, um super-
herói. Essa visão muitas vezes inibe o novo convertido a se
achegar ao pastor, além de perceber que este tem muitas
ovelhas e ocupações durante a semana, não podendo
sempre estar a sua disposição.
Neste momento é importante a figura do irmão mais
velho, o discipulador, aquele que inclusive o fará olhar
para o pastor como alguém acessível, amigo e disponível.

A importância do discipulado está na consolidação


doutrinária, pois ao colocarmos um discipulador
experiente, espiritual e doutrinado, com certeza ele
ensinará ao novo convertido tudo o que tem aprendido em
sua igreja, com o seu pastor, evitando ventos de doutrinas,
dúvidas e desgastes emocionais na vida deste quando
confrontado ou comparado com outro sistema doutrinário.
Além de ajudar na consolidação doutrinária, o discipulado
ajuda ao pastor local, pois este consegue administrar o
crescimento dos novos membros de forma mais ampla,
recebendo dos discipuladores informações periódicas e
sendo ele o primeiro discipulador da igreja.

69
Que fique bem claro que nada substitui a presença e a
figura do pastor da igreja, a configuração do discipulado
visa melhorar o crescimento dos novos na fé, dar
responsabilidade aos maduros e diminuir a carga pastoral
que na maioria das vezes sobrecarrega o ministério.

Por incrível que pareça o discipulador é talvez o mais


abençoado nesta perspectiva, pois infelizmente muitos
cristãos por diversos fatores não conseguem viver uma
vida espiritual plena, e neste momento é que o discipulado
faz com que muitos tenham a responsabilidade de ser
exemplo, pontual, manso, bom ouvinte, conhecedor da
Palavra, submisso a liderança, entre outros atributos que
infelizmente muitos não possuem.
O nosso sistema eclesiástico induz muitas vezes os
cristãos a viverem o cristianismo da igreja, do domingo, do
ambiente cristão, enquanto como discipulador há um
compromisso de vida cotidiana, pois alguém está nos
observando, alguém está nos copiando, assim como
crianças copiam os pais, vestem as suas roupas, calçados e
repetem o que falam.
O discipulado é benção para o novo convertido, é
benção para igreja, mas é crescimento e experiência e vida
para o discipulador.
A maior capacidade de uma igreja ou de um cristão está
em levar pessoas a receberem a Jesus Cristo como Salvador
e Senhor. A pregação das boas novas conduz o homem à
salvação, porém o acompanhamento de perto, o
discipulado, deve formar o caráter desse cristão. Essa deve
ser a preocupação da igreja nestes dias de dificuldades
sociais: formar cristãos com o caráter de Cristo, formar
homens e mulheres verdadeiramente regenerados pela
Palavra, pelo Espírito Santo e pelo ensino. Ser exemplo para
os fiéis na palavra, no procedimento, no amor, na fé, na pureza (1
Tm.4:12).
70
A igreja que prevalece é a que possui discípulos de
Jesus Cristo, que segue a Sua palavra, que mantém a Sua
presença, que leva vidas a viver a plenitude do evangelho,
à semelhança do Filho de Deus e dos primeiros discípulos
e pioneiros da Igreja.

71
“A igreja que prevalece é a que possui discípulos de
Jesus Cristo, que segue a Sua palavra, que mantém a
Sua presença, que leva vidas a viver a plenitude do
evangelho...”

72
7
Antigas e Novas
Denominações
“Não se deita vinho novo em odres velhos...”

73
UM DOS DESAFIOS que a igreja tem, é tratar nestes
dias a grande diáspora espiritual que temos vivido através
da fragmentação denominacional. Um mundo de novas
igrejas, com novas visões tem surgido, e em particular no
Brasil, a cada momento e em cada esquina.
São pentecostais, neo-pentecostais, avivadas,
carismáticas, renovadas, e outras tantas nomeclaturas que
nos levam a pensar qual será o nosso papel nestes últimos
dias: proclamação querigmática (4) ou disputa territorial,
onde uma igreja literalmente abre as portas em frente a
outra?
Participava de um debate (que refuto na maioria das
vezes como pouco producente para os cristãos) em uma
grande emissora de rádio FM do Rio de Janeiro e a pauta
que surgiu aos olhos dos debatedores fora a constatação do
senso do IBGE sobre o grande crescimento dos evangélicos
no Brasil. A notícia festejada pelo mediador do programa e
reforçada pelos colegas da mesa, levou-me a refletir o que
tínhamos a nossa frente: se era um caso de crescimento
genuíno do evangelho ou se na verdade era as nossas
igrejas se dividindo em facções insatisfeitas formando uma
nova denominação de igreja?
Quando chamei a atenção para a análise do nível de
qualidade desse crescimento, me pareceu que tinha jogado
um balde de água fria na fogueira dos meus colegas
debatedores.
A verdade é dolorosa! A grande maioria dessas igrejas
que 'nascem', na verdade não vem de uma frente
missionária ou de um trabalho evangelístico de anos. A
grande parte vem de divisões ministeriais, saídas das
igrejas históricas ou tradicionais, e mesmo hoje, há uma
crescente parcela de dissenção de igrejas pentecostais
também.

74
O nosso 'crescimento' tem sido à custa do
desmantelamento de igrejas estabelecidas por anos em
seus bairros ou cidades e que por algum motivo deixou
brechas na sua membresia. A nossa ascensão como
sociedade evangélica tem um preço, e esse preço está
sendo pago por causa da ineficiência da igreja ser
verdadeiramente uma IGREJA VIVA.
Seria muito fácil abordar e indicar as questões de
facções, pois é um tema crescente entre líderes que foram
divididos em suas lideranças, porém ao tratar disso
devemos com muito critério analisar primeiro o estado
atual das nossas igrejas 'tradicionais, históricas e
pentecostais'. - Como estão as perspectivas de crescimento
dessas igrejas? Algumas com mais de 30 anos de
organização não chegam a cem membros. Outras com
sessenta ou setenta anos tem no seu histórico marcas de
desvios de seus líderes, oficiais e obreiros, e ainda outras
por anos se deixaram manipular por uma cúpula de
maçons que nada mais queriam além de uma faixada
religiosa para viverem na sua fraternidade (sociedade
secreta).

A grande maioria das igrejas históricas passaram por


um vento desarrumador na década de noventa, quando as
comunidades neo-pentecostais surgiram com força e
carisma. Sem exageros ritualísticos e liturgia formalista,
essas igrejas caíram como uma luva num país tropical,
miscigenado em sua etnia , onde o carnaval e o futebol
eram e ainda são os grandes ícones de cultura popular. Em
oposição natural a um modelo de igreja européia, rígida,
fria e sem ação ministerial, esta “nova igreja”, dava aos
seus membros uma característica cristã brasileira,
respeitando o clima e a cultura do Brasil , entendendo e
atendendo as necessidades nativas ao invés de europerizar
ou americanizar as condutas dos fiéis como faziam as
75
igrejas históricas e as pentecostais (quando se tratavam de
liturgia, roupas, usos e costumes).
O que ocorre hoje como fenômeno de crescimento da
igreja evangélica, nada mais é que a dissensão tardia de
cristãos insatisfeitos com duras regras e condutas que nunca
mudaram o seu aspecto de vida social, financeiro e
emocional (e sendo muito sincero; para muitos nada
mudou até mesmo no campo espiritual). Na verdade
surgiu uma geração de cristãos e também de teólogos que
entenderam que essa sublimação espiritual era nada mais
que um alucinógeno espiritual, onde cada fiel corria atrás
da sua pedrinha na coroa ou do seu lote no céu.
Esse pensamento laico e simplista cai quando essa
geração que entende também de sociologia, psicologia,
economia e antropologia sugere que a teologia empregada até
então na igreja, nunca os levaria ao Reino dos céus aqui na
Terra, mas somente a possuir o Reino no mundo vindouro,
no estilo mais romântico do Islamismo. Para essa geração,
se há mais para conquistar, por que não?
A teologia da salvação e herança era recomendada com
base em Mateus 5:3, onde os pobres de espírito herdarão o
Reino do céus, esquecendo-se que o versículo seguinte
descreve que felizes são os humildes, porque eles herdarão
a Terra. Então confunde-se humildade com pobreza,
ignorância ou acomodação? Herdar o céu pela pobreza é
mais digno que a Terra pela humildade?
Com tudo isso, ainda há quem entenda que humildade
é não reter nada, é abrir mão de possuir o que Deus tem
dado aos seus filhos provando que é humilde. No contexto
hermenêutico destes, humildade e pobreza são a mesma
coisa(?).
Esse pensamento mitológico medieval foi alvo de
desprezo das novas denominações evangélicas, dando

76
início a uma cruzada evangélica rumo ao melhor desta
Terra. Nasce então no Brasil o evangelho da prosperidade!
É claro que fomos apadrinhados nesta teologia pelos EUA,
nação rica e abastada em todas as áreas. Onde a moeda é
forte, o poder bélico é o maior do mundo e a ONU tem o
seu altar para as nações se encurvarem em solo americano.
País que tem os ministérios evangélicos mais prósperos
com os tele-pastores mais populares do mundo. Realmente
eles são referência!
O que depõe contra eles, é que apesar de tudo isso, a
algumas décadas passam por uma crise de apostasia
nacional, onde gerações de crianças que oravam ou liam
passagens da Bíblia ao chegar na escola, hoje lêem trechos
de Hary Potter, Barney (o dinossauro roxo) ou fazem
alusão ao amiguinhos imaginários (leia-se demônios
familiares) quando estão em sala de aula.
A igreja brasileira foi assistir as vídeo-aulas americanas,
na revolta contra a falta de prosperidade e vida em
abundancia prometida por Deus, ignorada pelo modelo
eclesiástico de então. As novas denominações trouxeram
uma certa esperança aos fiéis no que tange a ser uma
pessoa melhor socialmente e financeiramente, já que
espiritualmente as pentecostais e históricas se orgulhavam
em serem experts.
Hoje temos uma sopa de letrinhas no Reino Evangélico
de Deus, onde muitos se perguntam:
'Quem está certo?'
'Quem exaustivamente pede dinheiro ou quem faz
alusão ao destino de Deus na Sua Soberania?'
'Quem está certo?'
'O que diz que estamos predestinados ao céu ou quem
afirma que o nosso nome está no livro da Vida, mas se
escorregarmos Deus apaga?'
'Quem está certo?'

77
'O que prega que sem o batismo do Espírito Santo
(defina-se falar línguas) não iremos para o céu ou o que diz
que todos iremos para o céu, pois não há inferno?'
'Quem está certo?'
'Os que pregam que Jesus levou todas a minhas
maldições na cruz ou aqueles que dizem que tenho que
fazer quebra de maldições?'
'Quem está certo?'
'Os que dizem que este é um tempo de adoração
extravagante ou os que definem que este é um tempo de
evangelizar as nações?'
'Quem está certo?'
'Quem está certo?'
'Quem não está certo?'
Este fenômeno que ocorre com a igreja evangélica no
Brasil é pauta de estudo para sociólogos e sociologia cristã,
que tentam encontrar a causa social para isto, quando na
verdade suplantamos à questões sociais e enxergamos
questões espirituais, pois o social é uma conseqüência do
espiritual mal direcionado durante anos nesta extrema
esquerda.
O que ocorre é que há uma certa semelhança com o
quadro político do Brasil, que durante anos foi governado
pela direita, com forte oposição da esquerda, que hoje é
governo e sofre oposição da direita.
Paralelamente a igreja teve a sua imagem sempre
vinculada a pobreza voluntária, a falta de apego aos bens
de consumo, a simplicidade e auto-satisfação na condição
de vida. Hoje, na visão teológica neo-pentecostal, temos
que possuir o melhor desta Terra, pois Cristo conquistou
todas as sortes de benção nas regiões celestes. Eles fazem
dura oposição a auto-comiseração pentecostal, declarando
que este tipo de vida não vem de Deus, pois todos os seus
filhos devem ter uma vida de excelência.

78
Por outro lado também ocorre uma oposição
pentecostal e tradicional que criticam duramente este
evangelho social, de benefícios, de prosperidade; declarando
carnalidade nesta concepção de vida.
Na verdade o que observamos nestas vertentes da vida
piedosa x melhor dessa vida é que o nosso evangelho está
desconfigurado em todas as duas doutrinas. Alguns
entendem que houve evolução pois as igrejas tem estado
“cheias ou avivadas”, que estamos vivendo um tempo de
geração de Elias, Samuel, João Batista ou quantos profetas
servirem de ícones para estes.
Outros porém, entendem que há uma maquiagem bem
feita, onde quem chega na igreja, pensa que ali é o melhor
lugar para se estar, a igreja perfeita, a noiva adornada e
pronta para o Cordeiro, mas quando convivem percebem
(ou não) que há lacunas nas suas necessidades espirituais.
A bem da verdade o que ocorre hoje na esmagadora
maioria da igrejas, independente de visão ministerial, é
que após três curtos meses, os que chegaram (leia-se, ex-
membro de outra denominação) começam a ver a
maquiagem da noiva cair e reconhecer que ela não está tão
bonita como imaginavam. Com oito meses enxergam
deficiências e vícios carnais. Com um ano a vontade é de
procurar outro lugar ou ir simplesmente embora.
Seria uma grande hipocrisia não enxergar a quantidade
de pessoas que migram de ministério para ministério, que
ficam cinco anos em um lugar, três em outro, quatro em
outro e ainda assim não se encontram. O pior, é que a
cada ida e vinda dessas pessoas, há um desgaste na
estabilidade espiritual, social e psicológica.
Isso é uma realidade da igreja brasileira, estamos
vivendo isso!
Precisamos de vinho novo em odres novos e estamos
colocando vinho novo em odres velhos ou misturando os

79
vinhos de maneira simplista, entendendo que esta nova
fórmula irá revolucionar o sabor do vinho.
Precisamos compreender que na verdade não há nova
fórmula, mas sim um renovo de paladar de quem
experimenta o vinho.
Nesta relação de renovo, criamos novas reuniões e
novos cultos, aliás gostaria que um dia alguém explicasse o
culto de libertação, o culto dos empresários, o culto (ou sessão)
do descarrego, o culto das mulheres, da família, dos adolescentes,
o encontro dos vasos e tantas fórmulas que visam melhorar a
intimidade da igreja com Cristo (?).
Precisamos deixar de ser arrogantes, compreendendo
que as nossas novas fórmulas irão revolucionar o Reino de
Deus ou que a tradicional fórmula é a solução para o
evangelho ser respeitado e vivido entre os novos cristãos.
Nada disso é verdade! As duas fórmulas não são originas.
Não adianta sínodos e presbitérios ficarem emburrados por
causa de dança profética, achando que esta prática corrompe
o papel da igreja, muito menos as igrejas pentecostais
criarem cultos de vitória, avivamento, entre outros para
arrebanhar as pessoas. A situação está muito além disso.
Este comportamento extremista é a causa de se
chocarem e não dar certo: realidades extremas, sem
parâmetros espirituais, totalmente controlada por
necessidades humana, por voz de comando de homens,
que de ambos os lados têm a egocentria denominacional
ou pessoal como marca. Interessante é que a tendencia será
aparecer alguém com mais uma renovação espiritual,
declarando a necessidade urgente, e quem vier com
alguma visão nova a partir do que está estabelecido
também pagará por isso, pois estará acrescentando alguns
quilômetros a mais neste desvio espiritual, além de atrasar
o crescimento de muitos.
A igreja apostólica é a referência, continua sendo e
sempre será a referência. Não podemos simplesmente
80
entender que os tempos são outros e por isso devemos
mudar. A questão da igreja apostólica vai além de tempo e
geografia, precede no céu, na vinda do Espírito Santo para
a igreja e na manifestação de Poder e Glória sobre os atos
apostólicos.
No modelo do Espírito Santo o vinho novo (renovável)
é sempre o melhor, a manifestação será sempre
surpreendente, nunca havendo coação ou inibição de
conduta, pois o Filho nos libertou para sermos
verdadeiramente livres, não praticando as coisas por
medo, doutrina ou retaliação.
O que ocorre conosco hoje no crescimento
denominacional é que muitas vezes criamos um novo
modelo velho , onde repetimos os velhos erros com nomes
novos. É importante entendermos que a igreja precisa se
alinhar com caráter de Cristo, receber pelo Espírito Santo
uma nova diretriz de vida, uma nova percepção de
sociedade, de valores e de bens. Não simplesmente uma
reação espiritual, mas acima de tudo uma constatação de
quem somos, e por saber quem somos, entender o que
verdadeiramente possuímos em Cristo.
O pensamento renovado pelo Espírito é vinho novo, e
não precisamos sair de onde estamos para o renovo
acontecer, simplesmente devemos desejar que isso
aconteça conosco ao invés de nos distanciarmos da triste
realidade em que estamos vivendo.
A igreja da era apostólica mudou o seu tempo, sem
permitir que mudassem a sua direção ou postura, e o seu
segredo era justamente renovação de pensamentos pelo
Espírito Santo.
“Com grande poder os apóstolos davam testemunho da
ressurreição do Senhor Jesus, e em todos eles havia abundante
graça.” (Atos 4:32)

81
Toda vez que a igreja não for renovada pelo Espírito e
isso durar muito tempo, a tendencia será uma nova
direção humana, fora da estrutura já estabelecida, a solução
viável será sempre a criação de novos ministérios ou novas
igrejas. Infelizmente esta tem sido na maioria das vezes a
fórmula do crescimento da igreja evangélica. Com cismas e
litígios espirituais, com desgastes, inimizades, porfias,
dissensões, heresias, iras, pelejas, facções e todas as obras
da carne juntas (Gl.5:16-21). O pior disso é que
transformam igrejas em verdadeiras franquias fast-food,
abrindo uma em frente a outra, numa clara alusão a
concorrência mercantil. Isso não é um exagero em
metrópoles como Rio e São Paulo, onde muitas vezes
igrejas que compartilham do mesmo nome (que é o caso de
uma grande denominação pentecostal) disputam
territórios e fiéis como se fossem lojas comerciais ou
restaurantes.
“Se alguém ensina outra doutrina e não concorda com as
sãs palavras de nosso Senhor Jesus Cristo, e com o ensino
segundo a piedade, e´enfatuado, nada entende mas tem mania
por questões e contendas de palavras, de que nascem inveja,
provocação, difamações, suspeitas malignas, alterações sem fim,
por homens cuja mente e pervertida, e privados da verdade,
supondo que a piedade é fonte de lucro.” (1 Timóteo 6:3-5)
Através disso enxergamos de maneira fria e lamentável
que a igreja não tem crescido, na verdade tem se
espalhado; sem unidade, fragilizada, magoada,
preocupada mais em pregar contra as outras
denominações do que ganhar almas e libertá-las. Movida
de profunda vontade de crescer financeiramente,
mostrando a todos que é abençoada por Deus tanto
quanto as outras. Promovendo todo o tipo de proposta
espiritual que possa atrair as pessoas (na esmagadora
maioria crentes) à sua congregação e acima de tudo, se
82
distanciando cada vez mais do alvo e da missão que é
alcançar Cristo, a esperança da Glória.
“ Porque o amor do dinheiro é raiz de todos os males; e
alguns nessa cobiça, se desviaram da fé , e a si mesmos se
atormentaram com muitas dores. Tu, porém , ó homem de Deus,
foge destas cousas; antes segue a justiça, a piedade, a fé, o amor,
a constância, a mansidão. Combate o bom combate da fé. Toma
posse da vida eterna, para a qual também foste chamado...”
(1Timóteo 6:10-12a.)
É importante entender que a análise não é sobre
unidade a todo custo ou o quão horrendo é abrir uma igreja
com nome e doutrinas diferentes. Nossa perspectiva vai
além disso, até porque a maioria das denominações saíram
de um movimento central: Reforma protestante gerando o
Luteranismo, esta fortalecendo o Calvinismo que gera a
igreja reformada, de onde vem os Presbiterianos, Batistas e
Congregacionais, que geraram direta e indiretamente a
Assembléia de Deus, que por sua vez gerou os neo-
pentecostais e comunidades evangélicas espalhadas por
este País.
Não queremos e não vamos vestir a armadura das
cruzadas, buscando a Terra Prometida, entendendo que
nunca poderíamos no separar doutrinariamente.
Queremos sim, compreender que hoje estamos longe, bem
longe desta realidade medieval protestante, pois o nosso
aspecto e motivação não tem sido ideológico ou espiritual,
como foi o caso da reforma. Notoriamente nossa motivação
é territorial, e neste sentido, estamos no mínimo
equivocados ao entendermos que devemos alargar as
tendas em terreno já habitado.
Interessante é que não vemos esse mesmo ardor para
crescimento em locais ermos ou longínquos. Não vemos
nenhum visionário do Sudeste ou Sul, da geração de Elias,
Samuel, João Batista abrindo igreja em Corumbiara
83
(Rondônia), no Oiapoque (Amapá) ou em Atalaia do Norte
(Amazonas) na divisa com a Colômbia.
Ao final, compreendemos que a verdade é clara: os
aspectos que adotamos para o crescimento do Reino são
nossos e não do Espírito Santo. A visão que possuímos é
social, mercantilista, egocêntrica e maniqueísta.
Não há nada de espiritual nos nossos slogans e letreiros
de neon. Não há compromisso de crescimento vertical,
rumo ao Trono de Deus, muito menos na horizontal, rumo
ao coração da humanidade, pois perdemos a mensagem da
cruz na velocidade da ganância e cegueira de
perpetuarmos o nosso reino denominacional.
Que se levante uma geração apostólica (sem patronos
humanos) à semelhança da pureza de Jesus Cristo que só
queria anunciar o ano aceitável do SENHOR.

84
“A questão da igreja apostólica vai além de tempo
e geografia, precede no céu, na vinda do Espírito
Santo para a igreja e na manifestação de Poder e
Glória sobre os atos apostólicos.”

85
8
A Igreja e as portas
do Inferno
“Eis que vos dou autoridade e poder...”

86
“ Também eu te digo que tu és Pedro , e sobre esta pedra
edificarei a minha igreja, e as portas do inferno não prevalecerão
contra ela. Dar-te-ei as chaves do reino dos céus: o que ligares na
terra terá sido ligado nos céus; e o que desligares na terra terá
sido desligado nos céus.” Mateus 16:18,19

ESTA É A PERSPECTIVA de Cristo na relação


estabelecida com a igreja na Terra. Ser igreja em um
mundo em trevas é muito desgastante, porém devemos
considerar que Deus na sua suprema sabedoria delegou
em Cristo poder espiritual para realizar obras grandiosas,
além de proclamar as boas novas.
Creio que na sua grande maioria, os cristãos não
compreendem a profundidade desta ação Divina conosco.
Muitos interpretam que as portas do inferno não
prevalecer é simplesmente manter uma igreja local aberta
ou ainda abrir novas congregações, e como isso ainda
ocorre hoje... Nós vencemos!
Confesso que já tive esta perspectiva ou essa
interpretação, porém quando crescemos um pouco mais ou
amadurecemos no caminho espiritual com Deus, notamos
que é muito simplista pensar desta forma, é entender que
Satanás é estúpido e sem criatividade.
A primeira compreensão que devemos ter é que Cristo
determinou que a igreja vencedora, que não deixa o
inferno prevalecer sobre ela, estaria n'Ele, a Rocha. A
segunda compreensão, é que ela possui por herança as
chaves do Reino para abrir, fechar, ligar e desligar no
mundo físico e espiritual aquilo que lhe convier. A terceira
compreensão é que a alusão de as portas do inferno
prevalecer contra a igreja não é simplesmente fechar a
porta de um templo ou ver alguns líderes cristãos serem
perseguidos pela mídia, poder público ou sociedade. Vai

87
além, muito além e a maioria de nós não tem a percepção
real disso.
A igreja tem um papel que sobrepõe aos cultos
dominicais no templo. Adorar por adorar é perder (ou
nunca ter tido) o foco de ser a continuidade do céu na
Terra. Estar nas fileiras de bancos em cultos nominativos
(vitória, libertação, restituição e outros), é simplesmente
prosseguir na religiosidade tradicional da maioria.
As portas do inferno que Jesus alude não é
simplesmente uma manifestação física em alguma pessoa
ou vizinho, não é um centro afro-espírita ao lado da nossa
igreja, muito menos um baile funk ou a sonora roda de
pagode no horário de culto. A visão de Jesus, na
perspectiva empregada neste texto, vai além do que
pensamos e determinamos. As portas do inferno estão
cuidando de situações MACRO, de magnitude nacional e
mundial enquanto a igreja se preocupa com o baile funk da
esquina ou com o vizinho barulhento.
Quando pensamos em portas do inferno temos em
mente algo como um incomodo diário na vida do crente ou
uma relação de batalha espiritual esquizofrênica e mal
resolvida entre o bem e o mal. O apóstolo Paulo sabia bem
desta perspectiva e a relacionou para a igreja de Éfeso,
declarando aos cristãos daquela comunidade que a luta
deles (e nossa também) no que concernia as situações
adversas ao estabelecimento de uma vida digna e
agradável para nós e nossa família, não era contra os
governantes ou seres humanos, mas contra poderes
invisíveis que maquinam e planejam estratégias
inteligentes ao longo de séculos, apoderando-se muitas
vezes dos destinos de nações, povos e pessoas.
“Revesti-vos de toda a armadura de Deus, para que possais
estar firmes contra as astutas ciladas do diabo. Porque não temos
que lutar contra a carne e o sangue, mas, sim, contra os
88
principados, contra as potestades, contra os príncipes das trevas
deste século, contra as hostes espirituais da maldade, nos lugares
celestiais.” (Efésios 6:12,13)
O apóstolo em compreensão ímpar desvenda a
verdadeira face das portas do inferno, onde cada momento
social difícil de uma cidade ou País, cada ato de violência,
de descaso humano ou falta de valorização a vida, foi
altamente planejado e aguardado até então. Nada por um
acaso (...) Ninguém entenda que é simplesmente uma
questão de política social, falta de presença do Estado,
corrupção dos políticos ou situações genéricas do nosso
dia-a-dia brazilis-tupiniquin. As portas do inferno estão
abrindo de tempos em tempos uma filial em bairros,
municípios e cidades.
Na inoperância da igreja e na cegueira humana, o
inferno avança em velocidade cada vez maior rumo ao
caos humano. Acompanhamos em jornais, revistas e
televisão o processo de deteriorização da sociedade; o
homossexualismo em moda, com novelas fazendo natural
apologia a prática; a associação mundial de saúde
retirando o homossexualismo da categoria de doença e
distúrbio psíquico-emocional, trazendo a essa situação o
status de livre escolha pessoal ou orientação sexual. O
congresso nacional brasileiro está aprovando uma série de
leis que impedem o pensamento teológico a respeito do
assunto, ou seja, pastores não poderão orientar
sexualmente a sua membresia, pois correm o risco de
serem processados por descriminação em caso de associar
as pessoas ao estado natural de macho e fêmea, enquanto o
homossexualismo será a cada dia mais divulgado e
encenado em novelas, filmes e teatros, influenciando e
orientando gerações.

“Mas, se ainda o nosso evangelho está encoberto, para os que


se perdem está encoberto. Nos quais o deus deste século cegou os
89
entendimentos dos incrédulos, para que lhes não resplandeça a
luz do evangelho da glória de Cristo, que é a imagem de Deus.”
(2 Coríntios 4:2,3)

O principal entendimento que possuímos hoje na


relação igreja e acontecimentos nacionais e mundiais, é que
realmente há uma cegueira espiritual nas pessoas ao não
compreender o que está sendo estabelecido no contexto
social, porém nos estarrece o quanto a igreja também está
dopada, letárgica e entorpecida quanto aos eventos
seculares ao seu redor. Criamos a nossa Disneylandia, o
nosso mundo dos sonhos, onde 'nenhum inimigo nos
resistirá', onde declaramos as nossas vitórias em Cristo,
esquecendo-se que essas vitórias estão correlacionadas aos
eventos seculares deste mundo vil em que vivemos. Então
ocorre um questionamento: 'Se não há mudanças lá fora,
como posso declarar minha vitória quando na maioria das vezes
dependo dos eventos sociais, políticos e econômicos para isso
acontecer?'
É um contra senso entender que Deus tem que dar um
jeitinho na nossa situação, e assim podermos honrar e
glorificar o nome d'Ele através das nossas “vitórias”,
enquanto nada fazemos como igreja.
Um exemplo claro e fácil de enxergar são os feriados
religiosos. No Rio de Janeiro, a partir de 2001, todos os
anos no dia 23 de abril acordamos (ou somos acordados)
com uma queima de fogos a partir das quatro da manhã,
com o ápice as cinco, ocorrendo até as cinco e meia. Muitos
cristãos protestam veementemente, reclamam a falta de
respeito, que é um ato absurdo... Como pode o governo
conceder feriado a um santo (entidade de afro-espiritismo
também) que não é reconhecido ou canonizado pela igreja
Católica?
Reclamações, reclamações e mais reclamações...

90
Onde a igreja evangélica do Rio de Janeiro estava
quando na câmara de vereadores o sr. Jorge Babu, então
vereador, propôs o projeto de lei para haver um feriado
municipal em homenagem ao santo? O que a igreja estava
fazendo? Campanhas de restituição? Quebra de
maldições? Culto de libertação? Ou assembléia
extraordinária para resolver a cor que se pintaria a parede
do templo, ou ainda o valor do salgadinho vendido na
cantina?
As portas do inferno sempre prevalecerão quando a
igreja se esquecer que não pertence ao mundo, mas está no
mundo! E sendo assim, temos, gostando ou não, que
muitas vezes interferir nos processos políticos, sociais e
espirituais do estado e da nação, sem o prejuízo de mais
tarde nos encontrarmos em arapucas políticas que
prejudicam a igreja e o cristão.
Segue abaixo o processo de legitimação do feriado em
questão (6):
Memorando enviado pela Câmara ao Prefeito do Município do RJ

CÂMARA MUNICIPAL DO RIO D E JANEIRO

M-A/nº Em de outubro de 2001


Senhor Prefeito
Dirigimo-nos a Vossa Excelência para encaminhar na forma do artigo 79, da Lei
Orgânica do Município do Rio de Janeiro, de 5 de abril de l990, o autógrafo do Projeto
de Lei nº 197, de 2001, em duas vias, de autoria do Senhor Vereador Jorge Babu, que
“Institui como feriado Municipal , o dia 23 de abril, dia de São Jorge”. Solicitamos a
gentileza de devolver a segunda via, após ser o mesmo sancionado ou vetado.
Aproveitamos a oportunidade para reiterar a Vossa Excelência os protestos de
nossa mais alta estima e elevada consideração.

SAMI JORGE HADDAD ABDULMACIH


Presidente

Excelentíssimo Senhor Doutor CESAR EPITÁCIO MAIA


DD. Prefeito do Município do Rio de Janeiro.

91
Lei aprovada e publicada:

CÂMARA MUNICIPAL DO RIO DE JANEIRO


PROJETO DE LEI N.º 197/2001
Institui como feriado Municipal o dia 23 de abril, dia de São Jorge.
Autor: Vereador Jorge Babu
A CÂMARA MUNICIPAL DO RIO DE JANEIRO
Decreta:
Art. 1 º Fica instituído como feriado Municipal o dia 23 de abril, dia de São Jorge.
Art. 2 º Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.
Câmara Municipal do Rio de Janeiro, em de outubro de 2001.

SAMI JORGE HADDAD ABDULMACIH


Presidente

Neste exemplo do Rio de Janeiro, veja como as ações do


inferno são progressivas. Como munícipes cariocas, os
cristãos não se manifestaram e nem conhecimento
tomaram em 2001 de tal vindicação de lei. Sendo
aprovado, alguns líderes evangélicos reclamaram,
manifestaram indignação por não haver democracia nas
questões religiosas, pela lei ser aprovada sem haver uma
pesquisa na cidade.
Nada mudou! E o feriado foi instituído no município,
porém não ficaria somente no município. Este mesmo
vereador (dois mandatos) foi eleito posteriormente para
deputado estadual em 2006, prometendo estender o
feriado municipal para todo o estado.
Feriado de São Jorge será para todo estado.
Rio – O governador Sérgio Cabral sancionou a lei que instituiu o dia 23 de abril
como feriado estadual em homenagem a São Jorge. A lei 5198, de autoria do
deputado Jorge Babu, foi publica na edição desta quinta-feira do Diário Oficial.
Jornal O Dia – 06/03/2008 - Editoria

Onde estava novamente a igreja carioca nesta hora?


Onde estavam os deputados evangélicos que em épocas de
eleição querem espaço nos púlpitos ou no mínimo serem
apresentados e apoiados pelos líderes eclesiásticos?

92
Não adianta reclamarmos da queima de fogos as quatro
da manhã no dia 23 de abril, muito menos murmurar
contra os fiéis do santo. Eles, como o apóstolo Paulo
declara, estão cegos no seu entendimento e precisam da
igreja para lhes anunciar o ano aceitável do SENHOR. O
povo que anda em trevas deve ver brilhar a grande luz de Cristo
que está sobre a igreja.
A nossa luta não é temática ou focal, a nossa batalha é
global, e por ser desta forma devemos estar em alerta, e a
única forma de nos ligarmos a isso tudo é estarmos
presentes na sociedade, na forma de entidade espiritual
evangelizadora, como virgem prudente, aguardando a vinda
do noivo, com a chama acesa, cheia de azeite e consciência
espiritual (Mt.25:1-13).
Muitos, quando se abordam estes fatos, declaram que
tem mais com o que se preocupar, que a igreja não pode
instalar um tribunal medieval caçando o direito de
liberdade de culto do semelhante.
Ouvindo estes de forma racional, até lhes damos a
razão no que diz respeito ao direito de culto e religião,
porém o tema em sua essência não trata do culto ou
escolha religiosa de cada cidadão, mas do que acarreta no
reino espiritual essas ações democráticas. Em como afeta
espiritualmente a nossa geografia tão marcada por
entidades místicas, carnaval, halloween (importado dos
EUA) e outras festas pagãs.
Possuímos dez feriados nacionais (7), destes, cinco são
de cunho religioso pagão. Nos feriados estaduais, em cada
dois, um é religioso (Católico ou afro-espírita). Nos
feriados municipais, são centenas por todo o País.
Excetuando os aniversários das cidades, mais da metade
deles fazem alusão a religiosidade pagã brasileira, que com
certeza não inclui o dia da Bíblia, o dia da Reforma
Protestante, o martírio dos Huguenotes (cristãos franceses

93
calvinistas) que foram assassinados no Brasil no século
XVIII, entre outros.
Infelizmente não há na mente dos cristãos um
entendimento apropriado de que não é somente um
feriado, mas muito além disso, é uma demarcação
territorial, uma guerra de altares por geografias e pessoas.
Não é simplesmente uma alusão democrática religiosa, mas
uma cobertura espiritual de castas demoníacas e potestades
que perpetuam o poder nas cidades, estados e nações
através de atos legais concedidos por moradores e
cidadãos.
A igreja precisa estar presente nessas horas sim! Ela não
pode se conformar com imposições politiqueiras,
entendendo que é assim mesmo, sempre foi assim e
sempre será(...) Precisamos arvorar a bandeira do Espírito
Santo sobre as nossas cidades , precisamos erguer as
nossas vozes, não como mero protesto político, mas como
autoridade espiritual nesta nação brasileira, como
embaixada do Céu aqui na Terra, como autoridades do
Reino de Deus, da pátria celestial, da Sião, lar dos remidos.
O nosso maior compromisso enquanto igreja não é
fazer simplesmente oposição, isso seria um papel
meramente político. O nosso legado é restringir as ações
do inferno nos nossos bairros, municípios, estados e
nações. Não deixar as portas do inferno possuir as nossas
cidades, pois é através dessas ações sociais, políticas e
religiosas, é que se destrói igrejas e ministérios, que se
toma espiritualmente uma geografia, tornando-a um local
de difícil acesso espiritual, onde muitos ministérios se
chocam em barreiras invisíveis, impedindo-os de crescer,
evangelizar, avivar-se e consolidar-se.
Possuímos experiencia ministerial nesta nação, de
Norte ao sul deste País; e é clara a impotência da igreja em
diversas cidades. É nítida a impotência de denominações e
ministérios em provocar mudanças nas cidades, nos
94
bairros, nas pessoas, nos costumes. Quando questionamos
a dificuldade de penetração da igreja na sociedade local
recebemos a explicação do quanto é difícil, de como o
diabo cega as pessoas, de como a idolatria arrasta
multidões à ignorância e entorpecimento espiritual, de
como a igreja e lideranças são atacados, sem poder de
reação.
É claro! Décadas, séculos de legalidades geográfica...
Como reagir com eficácia nestes lugares?
Somente com uma visão aberta para o mundo invisível
é que conseguiremos rever os nossos conceitos de batalha
espiritual que é totalmente passiva, e começar a correr
atrás do prejuízo de décadas em que somos afligidos pelas
castas e potestades locais.
A igreja recebeu um legado: a autoridade espiritual que
Jesus um dia nos outorgou. Temos que utilizar essa
autoridade com ousadia e sabedoria, devemos empunhar o
estandarte de Cristo sobre nossas cabeças, declarando que
é chegado o Reino de Deus sobre as nossas cidades.
Podemos e temos a obrigação de provocar libertação
regional, em bairros e cidades. Não podemos entender que
autoridade espiritual é só para expelir os demônios nas
pessoas, que essa prática é o chamado da igreja no que diz
respeito a confronto de poderes. Essa ação de libertação
pessoal é apenas o começo, uma reação na verdade. Não
podemos ficar satisfeitos porque em um culto de libertação
expelimos umas casta de demônios em um pai-de-santo ou
encostos de algumas pessoas. Isso não é ministério de
libertação ou de libertadores, isso é somente demonstração
de autoridade pessoal de alguns cristãos. A igreja tem
mais, muito mais para fazer, e pode fazer!
O papel da Noiva de Cristo é provocar libertação social,
cultural, política, é essencialmente mudar a humanidade
local através de uma compreensão profunda do poder que
lhe foi confiado para modificar o seu entorno comunitário.
95
O poder e autoridade espiritual do cristão deve ser em sua
existência uma condição natural, conseqüência da sua vida
com Deus, do entendimento amadurecido do seu papel no
Reino espiritual.

“E estava na sinagoga um homem que tinha o espírito de um


demônio imundo, e exclamou em alta voz, Dizendo: Ah! que
temos nós contigo, Jesus Nazareno? Vieste a destruir-nos? Bem
sei quem és: O Santo de Deus. E Jesus o repreendeu, dizendo:
Cala-te, e sai dele. E o demônio, lançando-o por terra no meio do
povo, saiu dele sem lhe fazer mal. E veio espanto sobre todos, e
falavam uns com os outros, dizendo: Que palavra é esta, que até
aos espíritos imundos manda com autoridade e poder, e eles
saem?” (Lucas 4:33-36)

Jesus de Nazaré na sua essência humana e natural,


carregava isso consigo, não dependendo de cultos ou
fórmulas especiais para fazer valer a sua autoridade
espiritual. Onde chegasse era reconhecido por demônios e
homens. Não só ele com também os apóstolos.

“E Deus pelas mãos de Paulo fazia maravilhas


extraordinárias. De sorte que até os lenços e aventais se levavam
do seu corpo aos enfermos, e as enfermidades fugiam deles, e os
espíritos malignos saíam. E alguns dos exorcistas judeus
ambulantes tentavam invocar o nome do Senhor Jesus sobre os
que tinham espíritos malignos, dizendo: Esconjuro-vos por Jesus
a quem Paulo prega. E os que faziam isto eram sete filhos de
Ceva, judeu, principal dos sacerdotes. Respondendo, porém, o
espírito maligno, disse: Conheço a Jesus, e bem sei quem é Paulo;
mas vós quem sois? E, saltando neles o homem que tinha o
espírito maligno, e assenhoreando-se de todos, pôde mais do que
eles; de tal maneira que, nus e feridos, fugiram daquela casa.”
(Atos 19:11-16)

96
Entendemos que esta autoridade é intrínseca nos
cristãos quando estes estão em posição de combate, com toda
a armadura de Deus, em verdadeira prontidão espiritual.
Diante disso, podemos enxergar então o desnível de
poderes que há no mundo invisível; o inferno se
especializando, com pós-doutorado em roubar, matar e
destruir, enquanto a igreja, passando os seus dias
fabricando problemas (factóides) espirituais ou fatos
sociais que a afastem mais ainda da sociedade, e isso é um
contra- censo, pois nunca a sociedade de consumo (roupas,
carros, jóias, cartões de crédito, celulares, marcas famosas)
esteve tão presente na vida da igreja como nos dias atuais.
Dizemos como igreja, que devemos nos afastar do mundo,
mas na verdade, o sistema social está tão arraigado em nós
que não possuímos condições espirituais para provocar a
tão esperada libertação geografia social ao nosso redor.
Precisamos nos libertar primeiro!
Entendemos que o cristão como membro do corpo não
possui saúde suficiente para promover mudanças nem
mesmo em sua própria vida, família e igreja. Não possui
capacitação espiritual para realizar o mínimo, o pessoal,
que é se libertar em diversas áreas, transformando-se em
uma agente de libertação para o mundo.
Por outro lado, para isso ocorrer precisamos também
nos libertar do jugo eclesiástico denominacional que na
maioria das vezes vai além do grau de importância do
Reino de Deus para nós. Nos libertar desse jugo que
aprisiona o cristão na eterna meninice espiritual, que nos
consome emocionalmente, nos trazendo comportamentos
de crianças de jardim de infância, gritando ou chorando:
'- Tia, Ele pegou o meu ministério!'
'- Tia, ela falou que eu sou feia! '
'- Tia, ele disse que eu não vou receber benção!'
'- Também, não gosto mais de você! Vou sair dessa igreja...'

97
E por fim, nos libertar da falsa sensação dominical de
dever cumprido. E isso ocorre quando não possuímos vida
eclesiástica a semana toda, mas tentamos compensar nos
esforçando para estar na Escola Bíblica pela manhã e claro,
a noite no culto da Família.
Isso é religiosidade aguda! É um sério diagnóstico de
prisão espiritual, que em alguns casos, torna-se pior do
que possessão demoníaca. De qualquer forma, carece de
libertação!
Precisamos nos libertar para libertar o mundo,
precisamos nos comprometer mais com o céu nas batalhas
espirituais ao nosso redor, para que possamos como igreja
comprometer as pessoas com Cristo, mudando não só suas
vidas, mas na conseqüência das ações, transformar suas
casas, ruas, bairros e cidades.
A igreja onde Pedro, Tiago, João, Paulo, Barnabé e Silas
eram membros, a igreja primitiva apostólica, era assim.
Vemos os relatos em Atos ou mesmo nas cartas universais
e pastorais, de como ela interferia na vida social, cultural e
até mesmo política das cidades onde se instalavam, é claro
que muitas vezes pagava um preço enorme por isso, mas já
era esperado este comportamento da sociedade, e por isso
mesmo não desistiam de proclamar o evangelho e a Jesus
Crito como fonte de restauração e libertação; era chegado o
Reino de Deus, e as portas do inferno não prevaleceriam
contra a Embaixada do céu, como não prevaleu enquanto
estes estiveram na liderança e fizeram discípulos para
substituí-los à altura.
As portas do inferno não podem prevalecer e não
prevalecerão quando a igreja, noiva de Cristo, ocupar
novamente a sua posição de autoridade consolidada nesta
Terra. Quando verdadeiramente for ícone de salvação,
graça, amor e transformação com um dia foi. Não somente
possuindo as chaves do Reino, mas utilizando-as para
abrir portas transformadoras para a humanidade. Este é o
98
papel da igreja, este é o seu chamado, essa é a expectativa
deste planeta, esta é a expectativa dos céus.

“Porque a ardente expectação da criatura espera a


manifestação dos filhos de Deus. Porque a criação ficou sujeita à
vaidade, não por sua vontade, mas por causa do que a sujeitou,
na esperança de que também a mesma criatura será libertada da
servidão da corrupção, para a liberdade da glória dos filhos de
Deus.” (Romanos 8:19-21)

99
“O nosso maior compromisso enquanto igreja não é
fazer simplesmente oposição, isso seria um papel
meramente político. O nosso legado é restringir as
ações do inferno nos nossos bairros, municípios,
estados e nações.”

100
9
A Igreja e o Cristianismo
do século 21
“Vós sois sacerdócio real”

101
“O céu e a terra passarão, mas as minhas palavras não hão de
passar.” Mateus 24:35

INFELIZMENTE NOS DIAS atuais não podemos


agregar totalmente igreja e cristianismo na mesma métrica
ou o no mesmo espaço. Nomes, pensamentos e alusões que
por muito tempo foram sinônimos, e praticamente um só
adjetivo, tornou-se ao longo dos anos, décadas e séculos
distante um do outro como uma separação conjugal sem o
divórcio consensual.
A grande reflexão que fazemos ao longo de observações,
estudos e pesquisas sociais, é como tudo isso começou
realmente, como compreender o processo de erosão
espiritual que tem corroído esse elo que liga igreja e
cristianismo. É estranho e inconcebível ver igreja sem
cristianismo, é pensar em salvação sem céu, maternidade
sem filho. É pensar na vida biológica humana sem o ar que
respiramos todos os segundos.
Refletir sobre isso nos traz também um peso de
responsabilidade, pois nos vemos como remanescência de
um pensamento e comportamento quase impróprio para
os dias atuais.
Avaliar e antever o que nos sucederá como igreja é outra
grande tarefa, pois o ser humano está cada vez mais
volúvel, mais simpático as praticidades da vida, sem a
mínima sensibilidade espiritual para sentir o mundo
invisível que o rodeia. Paralelo a isso, a conduta da igreja
que deveria ser peculiarmente espiritual, é praticamente
carnal, sem vínculos com a Esperança da Glória. Suas
aspirações há muito que deixou de ser o céu, seus ideais
são mais humanos e terrestres, mesmo sabendo que não é
aqui onde se deve acumular tesouros (Mt.6:19,20).

102
Nossas habilidades há muito tempo já não são a de
testemunhar a graça de Deus e a fé em Jesus Cristo. Nossa
satisfação cantada há algumas décadas atrás, não é mais ver
a Cristo, como prazer maior já visto, muito menos vê-lo em
Glória, o que seria satisfação sem fim. Nosso segredo não é
mais Cristo no coração, parece que isso não traz mais
satisfação a igreja, nem mesmo musicalmente, pois até essa
área foi totalmente reformulada. Nossos louvores são
extremamente pedintes, egocêntricos de bens ou poder,
nosso tempo de adoração (se é que ainda isso existe)
durante os cultos são verdadeiras apresentações musicais,
que em breve estarão (se já não estão) em palcos como o da
Brodway.
Perdemos a habilidade ou sensibilidade no que diz
respeito a ver a Cristo, não meramente no louvor onde
dizemos: “Eu quero ver agora o teu Poder, a Tua Glória
inundando o meu ser”, onde nada é visto ou nada é sentido,
não por causa da canção, mas por causa da falta de
compromisso com a verdadeira adoração que move e
comove o coração de Deus.
Perdemos a sensibilidade porque estamos nos
distanciando do cristianismo. Somos eclésia, mas no
sentido helênico de reunir-se para rever-nos
dominicalmente, resolvermos assuntos sociais, políticos e
corriqueiros dos membros ou ainda promovermos os
nossos eventos de departamentos.
As nossas características cristãs estão abaladas num
tempo e espaço que talvez na teoria do caos consigamos
elucidar onde houve o choque que provocou as ondas de
reverberação que até hoje nos alcançam e mexem com a
nossa vida.
O século XXI chegou, mas nada ainda mudou. Nosso
louvor, nossas mensagens, orações e programações
continuam as mesmas. Nosso calendário é resolvido nas
nossas reuniões de oficiais ou membros, e ainda em
103
gabinetes com duas ou três pessoas, diferente da igreja
apostólica onde o Espírito Santo presidia a igreja e definia
como as metas e prioridades do Reino de Deus seriam
executadas.

“E, servindo eles ao Senhor, e jejuando, disse o Espírito


Santo: Apartai-me a Barnabé e a Saulo para a obra a que
os tenho chamado. Então, jejuando e orando, e pondo sobre
eles as mãos, os despediram. E assim estes, enviados pelo
Espírito Santo, desceram a Selêucia e dali navegaram para
Chipre.” (Atos 13:2-4) - grifos do autor

A igreja não perde a identificação cristã por causa de


uma placa, estatuto, convenção, união ou presbitério. Sua
identificação é perdida por causa da extinção do Espírito
Santo na sua existência como igreja.
A nossa identificação é desassociada quando não há
mais de Cristo em nós, nos nossos cultos, nas nossas
famílias, nos relacionamentos entre irmãos, quando a
adoração da igreja é movida pelo hit da FM ou do cd que
está estourando no mercado, pela febre radiofônica que nos
bombardeia com louvores comerciais.
Nestas ocorrências temos visto muitas vezes as nossas
equipes ou ministérios de adoração no automático, sem o
compromisso de trazer verdadeiramente a presença do EU
SOU aos nossos cultos. Também não há compromisso na
liturgia que é repleta de apresentações, oportunidades,
avisos vazios, que por fim culminará em mensagens
repetitivas, onde Jesus não é o centro. Na verdade nos dá a
impressão que tudo é feito para que o tempo de culto se
adeque ao tempo do fiel que ainda tem os seus
compromissos Fantásticos aos domingos. Outras vezes
ocorrerá o direcionamento do culto para áreas de interesse
de minorias, com alusão a dar o melhor, entregar tudo nas

104
mãos de Deus, promovendo a fé de Abraão que entregou o
seu Isaac... - Tudo com segundas intenções!
Lendo os Atos dos Apóstolos veremos que no relato de
Lucas, ele procura nos apresentar através da sua crônica,
as atitudes da igreja de Jesus Cristo e dos apóstolos, os
continuadores da obra. Ocorre que ao fazermos um
comparativo, friamente concluiremos o inevitável: Nosso
cristianismo é nominal, virtual, corrosivo, altamente
humano e sem perspectivas reais de mudar o mundo.
Chocantemente negativo! Essa é a expressão.

Muitos líderes, teólogos, estudantes e cristãos em geral


deliberam pensamentos de conformidade escriturística no
que tange aos acontecimentos modernos, e dentre os
argumentos surge o sermão profético (Mt.24), pois neste
trecho do evangelho de Mateus, Jesus declara e prevê uma
série de eventos, que antecederá a sua vinda, e nesta
interpretação clara, muitos de nós aludimos esse contexto
para entender, explicar e de certa forma aceitar o que nos
ocorre hoje como igreja.
O que Jesus declarou com certeza irá ocorrer, e muitas
coisas já aconteceram e ainda outras acontecerão, porém é
necessário ressaltar que em momento algum Ele declara
que a igreja deveria se conformar e aguardar a Sua vinda
em passível desordem, muito menos deixar o primeiro
amor e as obras da fé em Cristo. Ao contrário disso, ele nos
deixa um aviso: “Em verdade vos digo que não passará esta
geração sem que todas estas coisas aconteçam. O céu e a terra
passarão, mas as minhas palavras não hão de passar. Mas
daquele dia e hora ninguém sabe, nem os anjos do céu, mas
unicamente meu Pai. E, como foi nos dias de Noé, assim será
também a vinda do Filho do homem. Porquanto, assim como, nos
dias anteriores ao dilúvio, comiam, bebiam, casavam e davam-se
em casamento, até ao dia em que Noé entrou na arca, e não o

105
perceberam, até que veio o dilúvio, e os levou a todos, assim será
também a vinda do Filho do homem.” (Mateus 24:34-39)

Eis então uma perspectiva bem clara para nós. Devemos


compreender com todo o nosso entendimento que este é
um tempo realmente profético, mas no que diz respeito as
profecias que Cristo e a Palavra declaram para estes dias e
para essa geração.
Se gostamos de nomear geração, fazendo alusão aos
profetas, bom seria se essa geração fosse a de Noé,
herdeiro da justiça (Hb.11:7), geração que ainda possui
esperança em meio a tantos desvios, que crê no impossível
pela palavra de esperança de quem chamou e prometeu a
salvação. Este tempo é realmente um tempo profético,
porém a igreja precisa entender as profecias deste tempo.
Infelizmente não estamos ouvindo o que o Espírito diz a
igreja e temos nos comportado como nos dias de Noé.
Casamos e descasamos (literalmente), zombamos
sutilmente dos que pregam a vinda eminente e real de
Cristo, comemos e bebemos como se fôssemos viver
eternamente, planejamos nossas vidas além do provável e
por fim; nos esquecemos (ou não queremos nos lembrar)
da vinda do autor e consumador da nossa fé.
Realmente na alusão profética e apocalíptica somos a
igreja de Laodicéia, a que recebe exortações contínuas de
Cristo.

“Conheço as tuas obras, que nem és frio nem quente; quem


dera foras frio ou quente! Assim, porque és morno, e não és frio
nem quente, vomitar-te-ei da minha boca. Como dizes: Rico sou,
e estou enriquecido, e de nada tenho falta; e não sabes que és um
desgraçado, e miserável, e pobre, e cego, e nu;” (Apocalipse 3:15-
17)

Há realmente tudo de Laodicéia em nós; uma distração


no propósito real da nossa existência, um
106
descomprometimento com a relevância espiritual em
detrimento a praticidade humanística, e agravando tudo
isso: possuímos a arrogância de nos acharmos ricos, sem
necessidade de coisa alguma que venha da parte de Deus,
pois temos a televisão, o rádio, as gravadoras, a internet,
temos templos maravilhosos, com iluminação especial,
com equipamentos de mídia, uma estrutura realmente
maravilhosa, de causar inveja em empresas de eventos e
marketing. No entanto, falta-nos muito de Deus, pois nada
de sobrenatural tem acontecido e a referência não seria
apenas os milagres físicos, mas acima de tudo; a santidade,
a maturidade espiritual dos cristãos, o testemunho de vida
ao mundo e a presença efetiva de Deus em nossos cultos.
Não podemos permitir que o século 21 seja a nossa
marca histórica de igreja sem propósitos espirituais, não
podemos deixar que essa história seja escrita sem a
presença do Espírito Santo. É tempo de clamarmos a
restauração apostólica na igreja, não importando se o líder
será chamado de apóstolo, pastor, missionário, bispo ou
outros. O que interessa neste momento é que ela seja
Cristocêntrica, responsável por atitudes espirituais e físicas
que provoquem a mudança e a restauração da Glória de
Cristo em cada um que professa o cristianismo como visão
de vida.
A igreja do século 21 deve ser a igreja que terá o seu
lugar na história como igreja RESTAURADA e não
somente reformada. Que fará e trará sinais de Deus nesta
Terra através de atos e atitudes proféticas, revogando toda
religiosidade e maldição humana que o inferno tão
sutilmente semeou na igreja através de pessoas carnais e
sem o caráter de Cristo, mas que infelizmente ocupou
espaços de liderança e influencia ao longo de vários anos
no nosso meio.
Poderíamos dizer que sonhamos com esse tempo e com
essa igreja; mas creio que Deus na sua gloriosa soberania e
107
bondade espera de nós também essa igreja. Aguarda a
manifestação dos seus filhos, espera e instrui através do
seu Espírito aos remanescentes, na postura e direção a serem
seguidas para estes dias. Ele no seu alto e sublime trono,
cercado por seu séquito de Serafins ou Seres Viventes,
ainda declara: 'Quem há de ir por nós? Quem se habilitará a
levantar uma bandeira de Santidade ao SENHOR?! Quem se
anulará como João Batista para que Cristo cresça?
Este é o grande desafio da Igreja deste século: trazer o
cristianismo simples e singelo para o ceio da igreja.
Renunciar o pseudo cristianismo que homens orgulhosos e
gananciosos ostentam como a verdadeira religião, este
mesmo neocristianismo que afasta de si o islamismo, o
judaísmo, o budismo entre outras religiões e filosofias de
vida, mas que atrai luxúria, poder político, manipulação e
dinheiro. Cristianismo que nem de longe lembra Jesus, o
Cristo.
Foi por isso que Mahatma Gandi quando evangelizado
por um cristão, ao ser inquerido se queria aceitar a Cristo,
lhe respondeu: 'Aceito o vosso Cristo, mas rejeito o vosso
cristianismo!'
Muitos gostam de Jesus, mas não suportam as nossas
igrejas, a nossa arrogância, o nosso protecionismo
religioso, isso porque não exalamos o doce perfume de
Cristo ou o sabor temperado que só o sal na medida certa
pode dar, muito menos refletimos luz para os que estão em
trevas.
Como podemos impactar o mundo de maneira a refletir
Cristo em nós?
A igreja do século 21 deve ser forte, corajosa, ungida e
sensível ao que Deus tem dito e ao que o mundo tem
necessitado, deve ser a igreja restaurada que move o
sobrenatural provocando baixas de guerra no inferno e
crescimento da Glória de Cristo na Terra. Deve ser a bela e
adornada noiva do Cordeiro que aguarda ansiosamente a
108
vinda do amado, que declara: 'Somos a igreja de Cristo,
apostólica, viva, ungida e santa. Levantada para refletir ao
mundo a santidade e o brilho da Glória de Deus em nós!'

“Mas vós sois a geração eleita, o sacerdócio real, a nação


santa, o povo adquirido, para que anuncieis as virtudes daquele
que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz;” (1Pedro
2:9)

109
“A igreja do século 21 deve ser a igreja que terá o
seu lugar na história como igreja RESTAURADA e
não somente reformada, que fará e trará sinais de
Deus nesta Terra...”

110
10
Restaurando
a Igreja Apostólica
“Há esperança!”

111
SABEMOS QUE TODA análise a respeito de qualquer
estrutura ou questão social e pessoal suscita em nós a
tendência de observar na maioria das vezes o lado
negativo, que envolve as precariedades e fragilidade da
questão abordada. A perspectiva é sempre essa;
enxergamos o que não dá certo em detrimento ao que
deveria dar certo, e isso se acentua ainda mais quando
criamos expectativas, esperando que sempre funcione
bem.
Fazemos isso todos os dias com pessoas, escolas,
hospitais, comércio, transportes públicos, entre outros, e
não seria diferente haver essa tendência dentro da análise
que fazemos a respeito da igreja e seu momento atual; até
porque, há o que dizer e comentar dessa instituição de
quem muito esperamos e por vezes pouco tem
correspondido espiritualmente. Há em nós uma esperança
de sublimação sobrenatural através da igreja, queremos e
postulamos a superioridade espiritual de Cristo para as
nossas vidas, mas infelizmente isso não ocorre por
diversos motivos que tratamos nos capítulos anteriores.
É normal confrontarmos o que para nós deveria estar
certo ou funcionando dentro de um padrão já pré-
estabelecido. O que de forma alguma devemos fazer e
evitarmos; é simplesmente averiguar e criticar as falhas da
igreja sem se comprometer em ajudar ou mudar o quadro.
A nossa proposta como parte do corpo de Cristo deve
ser a de constatar para mudar. Perceber, entender e trazer
à consciência uma necessidade urgente, prática e absoluta,
sem teorias mirabolantes. Criando e encontrando meios de
solução na própria Bíblia, também nas atitudes dos
discípulos, nas cartas apostólicas destinadas a igreja e aos
líderes, nas instruções do apocalipse dadas ao apóstolo
João (mas endereçadas à igreja), nas palavras do nosso

112
doce Mestre Jesus, que prometeu que a Sua igreja seria
invencível quando estivesse firmada n'Ele, a Rocha.
Temos e podemos criar a solução para este tempo de
futilidade e consumismo. Muito próximo de nós estão
todas as ferramentas e instruções que necessitamos, basta
entendermos que este é o tempo de retornarmos ao
modelo apostólico, o modelo simples e objetivo de ser
igreja.
Não queremos e não podemos comparar os tempos
sociais da igreja de hoje com a igreja primitiva dos
apóstolos, porém podemos e devemos manter o caráter, a
unidade, a singeleza, o partir do pão (comunhão) e a
centralidade do evangelho de Jesus Cristo no nosso meio.
Seria importante neste capítulo, ao final da nossa reflexão,
avaliar alguns pontos que marcaram o início e crescimento
da igreja, rever e ansiar práticas da comunidade primitiva
apostólica que muito nos ajudarão a reconstruir os muros e
portas da nossa eclésia.
Para isso devemos refletir, observar e praticar algumas
dessas realidades de vida no início da igreja.

Vida de Oração

É importante ressaltar que a igreja apostólica tinha uma


vida de intensa oração, onde seus membros intensificavam
os clamores e intercessões pelo Espírito Santo, e mesmo
após a vinda do Espírito Santo ainda continuaram com a
prática, pois entenderam que esta era uma chave de
abertura do sobrenatural, a única maneira de manter-se
espirituais no mundo carnal, corrupto, político e religioso.

“E perseveravam na doutrina dos apóstolos, e na comunhão, e


no partir do pão, e nas orações.” ( Atos 2:42)

113
Precisamos retomar esta prática, precisamos cultivar
tempo de oração. Nossos cultos poderiam ter mais tempo
de intercessão pelos bairros, por almas, pela nação e por
abertura de portas na pregação do evangelho. Deveríamos
orar por nossas famílias, pela nossa santificação, por uma
maior identificação com o Espírito Santo, por
arrependimento de pecados e ações que nos envergonham
como igreja.
A oração deve ser a mola mestra que nos impulsiona ao
reino invisível. Igrejas que oram são sensíveis e poderosas
em ações, movem coração de Deus em sua direção,
assumem a postura de guerra contra o inferno e os
demônios locais sabem o quão difícil é contra-atacar essas
igrejas. Igrejas que oram provocam libertação local, de
pessoas, bairros e cidades.

“Agora, pois, ó Senhor, olha para as suas ameaças, e concede


aos teus servos que falem com toda a ousadia a tua palavra;
Enquanto estendes a tua mão para curar, e para que se façam
sinais e prodígios pelo nome de teu santo Filho Jesus. E, tendo
orado, moveu-se o lugar em que estavam reunidos; e todos foram
cheios do Espírito Santo, e anunciavam com ousadia a palavra de
Deus.” (Atos 4:29-31)

Igrejas que oram são potentes e proféticas, adquirem um


filling especial para conquistar espaço, conseguem
enxergar as metas e planos do coração de Deus, ouvem
com facilidade a voz do Espírito Santo, além de possuir
autoridade espiritual para derrubar fortalezas e sofismas
sociais.
A oração sempre será a linha de conexão com o céu, com
o coração do Pai, com as ações milagrosas no mundo físico,
é a base do sucesso da igreja. É a arma de guerra para esses
dias de ataques, é o caminho para as vitórias do povo de
Deus.

114
Unidade & Comunhão

Vivemos infelizmente um tempo de aceleração global,


onde não temos mais tempo para nada e para ninguém, e
quanto mais corremos, menos tempo nos sobra para as
coisas essenciais. Tudo ao nosso redor tem a perspectiva
de nos adiantar o tempo ao máximo possível e com isso a
humanidade, o homem moderno, está perdendo a
sensibilidade com os seus pares. Ninguém quer mais ouvir
ninguém, não há paciência para dialogar, para se
expressar, temos medo das pessoas na rua, andamos
apressados e temerosos e isso tem refletido também na
igreja.
A nossa configuração de igreja não contempla mais
comunhão do santos e nossas amizades são dominicais, pois
nesta geração é cada um por si. Não há comprometimento
espiritual uns para com os outros e quando há,
infelizmente transformamos em grupos de afinidade
pessoal, ou seja: 'gosto de uns, outros porém, nem tanto...'
Quantas pessoas entram e saem das nossas
congregações e nem ao menos sabemos os seus nomes?
Quantos cristãos estão na igreja, talvez por décadas, mas
nunca receberam em sua casa parte da igreja para cultuar
a Deus em ações de graças, discipulado ou mesmo
evangelismo?
Há templos enormes, lotados de pessoas, porém, vazios
de comunhão e de amor entre irmãos. Esta é uma
configuração que já algum tempo prevalece em igrejas de
grande porte, essa tem sido a cultura; onde as pessoas
assistem o culto de domingo e após o término, cada uma
por si ou no sua tribo de afinidade e os que não tiverem o
seu grupo...
Alguns até declaram que na sua congregação há
comunhão, mas na verdade quando verificamos, se trata
115
das velhas programações ministeriais, a social de
departamentos ou jantares de casal, de jovens e etc. Nada
muda?!
Comunhão é estar juntos em oração, intercedendo pela
igreja, programando madrugadas em vigílias de
intercessão, evangelizando em grupos, visitando aos
necessitados, agindo em favor dos outros, esquecendo um
pouco do eu, do meu e se importando mais com ele, com ela
ou com eles.
Não podemos deixar que a vida moderna tire isso da
igreja. A unidade é fruto de comunhão, de convivência
mútua, de cumplicidade cristã, de verdadeira amizade
entre irmãos. Não podemos também nos comportar como
colegas de trabalho, onde nos encontramos nos dias de
culto ou reunião e que cada um executa a sua função de
cantina, som, estacionamento, portaria, tocam um
instrumento e após o culto batemos um papo de
amenidades e pronto.
Isso não é comunhão!
Comunhão é sentir falta, é sorrir com os que sorriem e
chorar com os o que choram, é fazer valer a aliança em
Cristo Jesus, ter sensibilidade espiritual para perceber as
dificuldades dos irmãos ainda que eles não digam. É
querer para ele ou ela mais do que queremos para nós. É
vibrar com as vitórias e conquistas dos outros como se
fossem diretamente as nossas, é chorar as perdas como se
tivéssemos perdido também. É amar aos outros como
Cristo nos amou.

“E era um o coração e a alma da multidão dos que criam, e


ninguém dizia que coisa alguma do que possuía era sua própria,
mas todas as coisas lhes eram comuns. E os apóstolos davam,
com grande poder, testemunho da ressurreição do Senhor Jesus, e
em todos eles havia abundante graça. Não havia, pois, entre eles
necessitado algum; porque todos os que possuíam herdades ou
116
casas, vendendo-as, traziam o preço do que fora vendido, e o
depositavam aos pés dos apóstolos. E repartia-se a cada um,
segundo a necessidade que cada um tinha.” (Atos 4:32-35)

A unidade é uma grande arma contra a erosão do


cristianismo na igreja, a comunhão dos santos gera em nós
sentimentos nobres, simples e fraternos. Nesta perspectiva
não teremos necessidade de promover os nossos desfiles
de moda dominical, pois na comunhão, com certeza
ficaríamos constrangidos só com a idéia de nos exibirmos
ante os nossos irmãos. Não teríamos também o orgulho
social de exibirmos o nosso novo carro e muito menos de
consagrarmos chaves no púlpito, pois na comunhão dos
santos somos tão abençoados pela alegria que exala dos
nossos irmãos em relação ao que nos deixa felizes ou que
conquistamos, que naturalmente confirmamos as sortes de
bençãos que Cristo conquistou para nós como igreja.
A beleza está em possuir, não para mostrar, mas para
compartilhar, para disponibilizar, para servir. Isso é
comunhão! Faz bem para alma, faz bem para igreja e evita
disputas, grupos, invejas, ciúmes e outros sentimentos
carnais.
A unidade da comunhão faz refletir em nós o amor de
Cristo, o seu caráter, a sua bondade, generosidade,
misericórdia e grandeza espiritual. Quando a igreja possui
essa característica não há falta de nada entre nós, não há
maior nem menor, grande ou pequeno, mas um só corpo,
um só Espírito, uma só fé e um só Senhor; Jesus Cristo.

Verdadeira Adoração

Muito se espantou a mulher de Samaria ao ver que Jesus


era um profeta, e que conhecia bem a sua vida (Jo. 4:1-30),
é marcante esse diálogo histórico entre Jesus e a
samaritana, porém, é profunda a afirmação d'Ele quanto a
117
adoração perfeita: 'Deus é Espírito, e importa que os que o
adoram o adorem em espírito e em verdade.'
Esta contextualização da adoração que importa a Deus
é muito forte e ao mesmo tempo simples, mas ainda longe
de ser uma realidade para nós, igreja.
Um dos pontos fortes da igreja é a sua adoração; a
possibilidade de mover o trono de Deus na adoração do
santos, atrair a Sua manifestação quando adorado pela
igreja, é algo de tremenda grandeza. Adorá-Lo em espírito
e em verdade equivale a transportar o céu para a Terra ou
a igreja para o céu.
Jesus entendeu o desafio religioso daquela mulher,
quando esta lhe propõe opinar a forma e o local correto de
adoração, já que judeus e samaritanos tinham momentos e
formas diferentes de adoração para o mesmo Deus.
Proporcionalmente a esse debate, a mentalidade da
igreja ainda gira em torno dessas questões, muitas
denominações discutem e descrevem doutrinariamente
formatos e modus operandi para adorar a Deus, como se Ele
estivesse enquadrado nas nossas liturgias e hinários
centenários ou ainda tivesse compromisso com hinos
comercias de gravadora evangélica. Nada disso! Isto é
argumento e proposta samaritana, não há formato para
adorar a Deus, Ele está muito além das nossas melodias
repetitivas e letras pré-estabelecidas pelo modismo da
chuva, paixão, restituição, vitória e outros.

“Este povo se aproxima de mim com a sua boca e me honra


com os seus lábios, mas o seu coração está longe de mim. Mas,
em vão me adoram, ensinando doutrinas que são preceitos dos
homens.” (Mateus 15:8,9)

Não precisamos fazer o que fazemos nos nossos cultos;


estamos perdendo o foco da adoração em função dos
nossos ministérios, corais, cantatas e datas comemorativas.

118
Temos mais e podemos oferecer mais para Deus,
possuímos o legado que os profetas da antiga aliança não
possuíram, e até mesmo Davi, o doce cantor de Israel, poeta,
compositor, construtor de instrumentos, rei, sacerdote e
profeta não teve a oportunidade de adorar a Deus na
dimensão que a igreja pode adorar. A graça em Cristo
Jesus nos dá livre acesso na adoração plena, desimpedida
de sacrifícios físicos, sem medo da morte, sem véu para
nos intimidar.
Pelo novo e vivo caminho temos acesso ao colo do Pai
amigo, mas na maioria das vezes em que nos propomos a
louvar e adorar a Deus, preferimos brincar no nosso
mundo infantil de religiosidade, de faz-de-conta, dos ré-
té-tés pentecostais ou na sonoridade dos órgãos de tubo.
Queremos Deus, mas ao nosso modo, do nosso jeito, com
as nossas músicas e coreografias marcadas.
Não deveria ser assim!
A igreja precisa rê-ler a adoração bíblica, observar os
homens e mulheres que sem música, instrumentos e
aparelhagens eletrônicas conseguiram mover o coração do
El Shadai para si e muitas vezes para a nação.

“LOUVAI ao SENHOR. Louvai ao SENHOR desde os céus,


louvai-o nas alturas. Louvai-o, todos os seus anjos; louvai-o,
todos os seus exércitos... Reis da terra e todos os povos, príncipes
e todos os juízes da terra; moços e moças, velhos e crianças.
Louvem o nome do SENHOR, pois só o seu nome é exaltado; a
sua glória está sobre a terra e o céu. Ele também exalta o
poder do seu povo, o louvor de todos os seus santos, dos
filhos de Israel, um povo que lhe é chegado. Louvai ao
SENHOR.” (Salmos 148: 1,2;11-14) - grifos do autor

A verdadeira adoração além de trazer a presença física


de Deus, nos leva a compreender a dimensão da
intimidade que pode ser gerada pelo Espírito Santo em

119
nós. A adoração dos santos provoca verdadeira
manifestação celestial, pois a adoração dos céus está onde
Deus está. Tudo se transfere com Ele; tronos, anjos,
arcanjos, querubins, serafins, tudo ao redor d'Ele faz parte
do Reino d'Ele. Por onde se mover trará consigo a Glória, a
Majestade, a Força, a Honra e o Seu Poder.

“E os quatro seres viventes tinham, cada um, seis asas, e ao


redor, e por dentro, estavam cheios de olhos; e não descansam
nem de dia nem de noite, dizendo: Santo, Santo, Santo, é o
Senhor Deus, o Todo-Poderoso, que era, e que é, e que há de vir.
E, quando os seres viventes davam glória, e honra, e ações de
graças ao que estava assentado sobre o trono, ao que vive para
todo o sempre, os vinte e quatro anciãos prostravam-se diante do
que estava assentado sobre o trono, e adoravam o que vive para
todo o sempre; e lançavam as suas coroas diante do trono,
dizendo: Digno és, Senhor, de receber glória, e honra, e poder;
porque tu criaste todas as coisas, e por tua vontade são e foram
criadas.” (Apocalipse 4:8-11)

A perspectiva da igreja deve ser essa: adorá-Lo


conforme a excelência da sua grandeza (Sl.100:3), cobrí-Lo
de beijos espirituais, de amor incondicional, de reverencia
digna, atraí-Lo na nossa verdadeira adoração, com lábios
que confessam o Seu nome.
Engano é entender que louvor e adoração na nossa
liturgia é um preenchimento, um momento musical
agradável, uma introdução para a mensagem. Quanta
religiosidade... Massacrante!
É por isso que desandamos a colocar em um só
momento de culto, as crianças, os hinos denominacionais,
o conjunto de mulheres, os famosos Gideões, o coral jovem,
o irmão cantor e por fim, a equipe de louvor. Quem
sinceramente consegue adorar a Deus nesta salada sonora?
Na verdade transformamos a adoração eclesiástica em um
momento musical, onde politicamente queremos agradar a
120
todos e agregar todas as tendencias musicais da igreja.
Forró, baião, rock, melody, funk, pagode, clássico, pop e
etc.
Infelizmente não há na maioria das vezes a verdadeira
adoração, não há um compromisso de tempo com Deus,
que independe de música, de estilo, mas de prostração, de
quebrantamento, de coração ardendo pela Presença Santa.
Esse deve ser o alvo da igreja na adoração: transformar
vidas pela Presença, pela manifestação celestial nos nossos
cultos.
A transformação da igreja moderna virá também através
da adoração, pela restauração do altar e por um tempo de
qualidade na presença de Deus. Sem pressa de adorar, sem
medo de atropelar ordens de culto, entendendo que Deus
quer ouvir a adoração da igreja, e por ser Deus, pode nos
responder durante a mensagem no púlpito, como também
de outra forma e até mesmo durante a semana que se
segue.
Temos que nos render ao modelo de Deus, nos libertar
desses momentos contados no relógio, na aflição de acabar
as etapas do culto, e também é claro, prestar uma adoração
musical decente, pois realmente ninguém suporta uma
equipe, conjunto ou coral apresentando música e adoração
de péssima qualidade, sem zelo e preparação. Não
podemos entender que por ser para Deus, que Ele conhece
o nosso coração e nossas intenções, que podemos fazer de
qualquer jeito!
A adoração genuína será a nossa fonte de inspiração
para provocar a vinda e permanência, não só essencial,
mas física de Deus. Será a nossa libertação espiritual, a
ressurreição do modelo apostólico, que movia o coração do
Pai, que literalmente abria as cadeias e impactava as
pessoas na demostração de poder sobrenatural divino.

121
“E, perto da meia-noite, Paulo e Silas oravam e cantavam
hinos a Deus, e os outros presos os escutavam. E de repente
sobreveio um tão grande terremoto, que os alicerces do cárcere se
moveram, e logo se abriram todas as portas, e foram soltas as
prisões de todos.” (Atos 16:25,26)

Enfim, dentro dessa visão entendemos que a igreja pode


e deve retomar a sua postura, o seu lugar na sociedade e
no reino espiritual. Através da Intercessão, da comunhão
dos santos, da adoração genuína e de tudo mais que for
gerado através do Espírito Santo poderemos reconduzir a
Noiva de Cristo ao seu lugar de origem: assentada com
Cristo nas regiões celestiais.

122
“A unidade é uma grande arma contra a erosão do
cristianismo na igreja, a comunhão dos santos gera em
nós sentimentos nobres, simples e fraternos...”

123
CONCLUSÃO

Talvez não houvesse necessidade de concluir esta


reflexão literária depois de tudo o que tratamos ao longo
das páginas. Poderíamos fechar o livro e simplesmente
pensar a respeito ou negar as informações e
posicionamentos aqui declarados, e pronto.
Porém, é importante entendermos que o assunto não
está esgotado, a nossa meta não está concluída.
Simplesmente nos esforçamos para verificar e relatar
situações que estão ocorrendo ao nosso redor, nas nossas
igrejas e por conseqüência, em nossa sociedade.
Na verdade queremos e precisamos de uma
conscientização espiritual dos cristãos com relação ao
cristianismo vivido por esta geração. Precisamos alcançar
metas espirituais definidas, não por nós, mas pelo Espírito
Santo, e acima de tudo; ter anseios que sublimem a nossa
existência física, confiando que Deus na sua fidelidade tem
muito mais para oferecer a Sua igreja do que
pretensamente ela pode conquistar.
Ao sairmos do centro da vontade de Deus, nos
posicionamos no paralelo dessa posição, e por fim nos
tornamos reféns da vaidade e da centralidade humana nas
coisas divinas; e o mundo está repleto de vaidade, aliás
como declarou Salomão: tudo é vaidade.
A conclusão de tudo é que devemos ser vanguarda
nestes tempos vaidosos, clamar pela restauração das
nossas vidas e deixar uma semente plantada para as
próximas gerações, criando uma herança poderosa, a
verdadeira Igreja de Cristo.

124
Notas:

1 – Diáspora é um termo grego que significa “espalhado ou espalhar”. Este termo faz alusão ao
fenômeno dos judeus se espalharem entre as nações, após sucessivas conquistas de sua geografia
nacional.

2 – Esta é a configuração da Bíblia (A.T) dos tempos de Jesus; dividida em três seções: Torá, Salmos e
Profetas.

3 -As culturas e religiões grega e romana cultuavam seus deuses determinando a interação destes de
forma muito humana, carregada de falhas e sentimentos humanos, tornando-os mitos sociais e
religiosos, diferente do Deus que Israel adorava.

4 – Bene-Ysrael (hebraico): Filhos de Israel

5 - O termo kerígma vem do grego, e faz alusão a proclamação, como um anunciador. Na igreja foi
adotado como substantivo que definia a pregação da pessoa de Jesus Cristo.

6- Documento extraído do site da Câmara Municipal do Rio de Janeiro (www.camara.rj.gov.br/).

7- Estatística do site wikipedia (http://pt.wikipedia.org/wiki/Lista_de_feriados_brasileiros).

125
SOBRE O AUTOR:

José Maurício, 38 anos, é pastor, ministro de louvor, professor


no Seminário Unido, conferencista, escritor e compositor.
Casado com Ana Maria, pai de Jefferson, Ana Karolina e Lucas,
tem proclamado nesta nação a Palava de Deus e ensinado na
Igreja, a restauração de diversas áreas de atuação como: missões
e evangelismo, intercessão, batalha espiritual, louvor e
adoração, formação de professores e visão profética.
É Fundador e diretor do Ministério Apostólico Palavra Viva,
com sede no Rio de Janeiro, tem sustentado missionários no
Brasil e exterior, criou a editora Palavra Viva, onde publica e
edita seus livros, revistas que segundo ele, são como epístolas às
igrejas e cristãos.
Nutre profundo amor por evangelismo, ensino , discipulado,
louvor e adoração; além de ser impactado pela visão apostólica,
entendendo que esta é característica e chamado da igreja.
Já publicou vários livros, dentre eles: Restaurando os Muros da
Vida, Subindo a Montanha de Deus, Sejam bons Mestres e As Quatro
Estações de Deus.
Gravou ao vivo com o Ministério de Adoração Palavra Viva
dois cds: Deus de Milagres (Dez de 2006) e Que Amor é Esse? (Jun
2008).

Para conhecer, contactar ou convidar o autor, envie mensagem para:


E-mail: pr_jmauricio@hotmail.com ou professorjm@ig.com.br
Blog: www.jose-mauricio.zip.net

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