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A Estrutura das Revoluções Científicas, de Thomas S.

Kuhn
Tradução de Beatriz Vianna Boeira e Nelson Boeira
São Paulo: Editora Perspectiva, 2006, 260 pp.

Prefácio
Introdução: Um papel para a História

1. A Rota para a Ciência Normal


2. A Natureza da Ciência Normal
3. A Ciência Normal como Resolução de Quebra-Cabeças
4. A Prioridade dos Paradigmas
5. A Anomalia e a Emergência das Descobertas Científicas
6. As Crises e a Emergência das Teorias Científicas
7. A Resposta à Crise
8. A Natureza e a Necessidade das Revoluções Científicas
9. As Revoluções como Mudanças de Concepção de Mundo
10. A Invisibilidade das Revoluções
11. A Resolução das Revoluções
12. O Progresso através das Revoluções

Posfácio (1969)

1. Os Paradigmas e a Estrutura da Comunidade


2. Os Paradigmas como a Constelação dos Compromissos de Grupo
3. Os Paradigmas como Exemplos Compartilhados
4. Conhecimento Tácito e Intuição
5. Exemplares, Incomensurabilidade e Revoluções
6. Revoluções e Relativismo.
7. A Natureza da Ciência.
A Estrutura das Revoluções Científicas, de Thomas Samuel Kuhn (1922–1996), é uma das
obras mais influentes em filosofia da ciência; menos pela solidez de seus argumentos do que pelo
elevado número de divergências e debates que tem causado. Originalmente publicado em 1962 e
traduzido para mais de vinte línguas, este livro constitui uma das principais fontes de argumentos
para quem defende o relativismo epistêmico e científico. Opõe-se, principalmente, ao conjunto
de crenças compartilhadas pelos filósofos do Círculo de Viena e seus sucessores. Sobretudo, o
debate com Karl Popper (1902–1994) e Imre Lakatos (1922–1974) foi intenso.

Thomas Kuhn graduou-se em física pela Universidade de Harvard, tendo grande interesse por
questões de filosofia da ciência. Contudo, sempre dedicou maior esforço a investigações no
campo de história da ciência, onde se destacou com maior importância e mérito. Antes conhecido
como historiador da ciência do que como filósofo da ciência, Kuhn construiu seus argumentos
sob a influência de estudos históricos; estudando e comparando períodos históricos do
desenvolvimento científico Kuhn pressupõe e elucida conceitos e crenças filosóficas que são
caros para todos aqueles que se interessam pelos problemas filosóficos da ciência: a saber, a
natureza do conhecimento científico e seu método, o processo de aquisição de conhecimento
científico e, sobretudo as pressuposições metafísicas da ciência e seus praticantes.

Kuhn organiza seu livro como se segue. Começa com um prefácio e introdução, onde expõe suas
motivações e objetivos com o livro; demonstra quais foram suas influências no processo de
produção e cita trabalhos dos filósofos que o influenciaram diretamente. Depois da introdução
são apresentados doze capítulos nos quais apresenta suas ideias e desenvolve toda sua
argumentação. O final do livro constitui-se de um posfácio em sete partes, que foi incluído em
1969, onde Kuhn tenta esclarecer algumas de suas idéias e argumentos em virtude de críticas
recebidas.

Seguem-se alguns esclarecimentos sobre as principais idéias do livro. Destacam-se os conceitos


de ciência normal, ciência extraordinária, paradigma, incomensurabilidade e revoluções
científicas.

Segundo Kuhn, toda ciência madura atravessa dois estágios, um aparentemente estável e um
outro completamente instável, imprevisível e revolucionário. O primeiro estágio é denominado
de ciência normal. É a ciência determinada segundo as regras e modelos de um paradigma ou de
uma tradição de pesquisa científica; neste estágio, o trabalho dos cientistas não vai além do que
esclarecer e elucidar conceitos fundamentais de maneira acrítica e doutrinária. Tais regras da
ciência normal não são apresentadas no sentido de um conjunto de métodos que prescreverão a
pesquisa científica, mas como práticas convencionais que serão adotadas e condicionadas a
fatores sociológicos e culturais.

O conceito de paradigma foi alvo de críticas e mal-entendidos devido a uma série de


imprecisões, obrigando Kuhn, em 1969, a incluir o referido posfácio, onde estabelece
definitivamente o que quer dizer quando usa o conceito. Kuhn defende que um paradigma
científico é um conjunto de crenças, técnicas e valores compartilhados por uma comunidade que
serve de modelo para a abordagem e soluções de problemas. A ciência normal é encarregada de
apresentar e resolver as questões que surgem no interior do paradigma. É importante ressaltar
que todos os problemas surgem e serão resolvidos apenas dentro de um determinado paradigma e
que diferentes paradigmas apresentam diferentes questões e diferentes soluções. Não existe um
método científico que determina as práticas da investigação científica, mas sim um conjunto de
regras que são relativas, cada uma, a diferentes paradigmas. Enquanto houver problemas cujas
soluções encaixam-se no que prevê o paradigma, a ciência normal funciona adequadamente.
Entretanto, quando começam a aparecer problemas que divergem totalmente das expectativas
esperadas, o paradigma original começa a enfraquecer e uma nova concepção de mundo começa
suceder à antiga compreensão da ciência normal. Começa a partir de então o segundo estágio de
uma ciência, denominado ciência extraordinária. Essa ciência está na fronteira entre dois
paradigmas, modificará todas as regras do antigo paradigma e introduzirá um novo modelo. As
regras e métodos do antigo paradigma são dispensados, pois não permitem a resolução dos
problemas apresentados. Chamada também de ciência revolucionária, define a mudança de
paradigmas como um processo descontínuo. Portanto, a ciência normal é a praticada no interior
de um paradigma e ciência extraordinária é a praticada na faixa de transição de dois paradigmas.

Kuhn defende que a mudança de paradigmas não é um processo racional. A idéia é que não há
qualquer padrão de racionalidade que irá avaliar e criticar os paradigmas sob um ponto de vista
comum, já que cada paradigma possui seu conjunto de regras que só tem sentido dentro de sua
própria teoria. Ora, se a pesquisa científica muda de método assim que mudam os paradigmas,
então não existe um padrão comum que possa avaliar paradigmas concorrentes. Portanto, esses
paradigmas ou modelos científicos são incomensuráveis, ou seja, incomparáveis. Isso quer dizer
que, tomando dois exemplos de explicação das órbitas planetárias, é impossível comparar e dizer
que modelo está certo ou errado, ou qual é mais plausível do que o outro: a teoria de Newton ou
a de Ptolomeu. O conceito de verdade científica relativiza-se ao paradigma científico em causa.
Um outro argumento de Kuhn para a incomensurabilidade dos paradigmas é o de que se a
realidade da pesquisa científica é determinada pelos paradigmas, então cada teoria científica
descreverá uma realidade diferente. E, portanto, toda disputa científica será absurda já que o que
se disputa são duas realidades distintas. Logo, cada paradigma descreve sua realidade e é
incomensurável com qualquer outro.

A escolha entre paradigmas ou teorias científicas consiste, de acordo com Kuhn, em disputas
retóricas. A disputa entre dois paradigmas nada tem a ver com experimentos, análises
metodológicas ou deduções, mas sim com o quão hábil forem os cientistas para estabelecerem
suas regras, seus modelos, suas questões e sua ciência normal. Isto quer dizer que o fato de o
modelo heliocêntrico do sistema solar ser considerado uma teoria verdadeira é conseqüência
somente da habilidade de persuasão de seus defensores e não de uma determinação da
argumentação racional nem de experiências acumuladas.

A teoria que Kuhn defende em seu livro sobre o avanço do conhecimento científico é uma teoria
contrária à de que o conhecimento é produzido mediante um processo de acumulação de
informações. Segundo ele, o processo acontece através de rupturas completas e súbitas de um
paradigma para o outro. Nada do que foi pesquisado ou organizado no paradigma anterior será
aproveitado no desenvolvimento futuro, pois são modificações de mundos e de nada adianta
utilizarmos dados de um mundo em outro mundo totalmente diferente. A produção de
conhecimento não é cumulativa e progressiva, mas fragmentada; assim, "(…) a transição [entre
paradigmas] tem de ocorrer subitamente (embora não necessariamente num instante) ou então
não ocorre jamais." (pág. 192).

O livro de Kuhn foi uma fonte de argumentos para sociólogos da ciência, filósofos e
historiadores que defendem um relativismo epistêmico. É uma das principais obras dos
relativistas e anti-realistas em ciência. O livro é importante para aqueles que gostariam de
conhecer mais detalhadamente os principais argumentos de teorias relativistas.

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