crime na vida real pode chegar a ser desvendado pela polcia um dia. Mas tambm podemos imaginar que a polcia nunca consiga solucionar determinado caso, embora a soluo
para ele esteja em algum lugar.
Mesmo que seja difcil responder a uma pergunta, isto no significa que ela no
tenha uma e s uma resposta certa. Ou h algum tipo de vida depois da morte, ou
no.
Muitos dos antigos enigmas foram resolvidos pela cincia ao longo dos anos.
Antigamente, um grande enigma era saber como era o lado escuro da Lua. No era
possvel chegar a uma resposta apenas atravs de discusso; a resposta ficava para a
imaginao de cada um. Hoje, porm, sabemos exatamente como o lado escuro da Lua.
No d mais para "acreditar" que h um homem morando na Lua, nem que ela um
grande queijo, todo cheio de buracos.
Um dos antigos filsofos gregos, que viveu h mais de dois mil anos, acreditava
que a filosofia era fruto da capacidade do homem de se admirar com as coisas. Ele achava
que para o homem a vida algo to singular que as perguntas filosficas surgem como
que espontaneamente. como o que ocorre quando assistimos a um truque de mgica:
no conseguimos entender como possvel acontecer aquilo que estamos vendo diante
de nossos olhos. E ento, depois de assistirmos apresentao, nos perguntamos: como
que o mgico conseguiu transformar dois lenos de seda brancos num coelhinho vivo?
Para muitas pessoas, o mundo to incompreensvel quanto o coelhinho que um
mgico tira de uma cartola que, h poucos instantes, estava vazia.
No caso do coelhinho, sabemos perfeitamente que o mgico nos iludiu. Quando
falamos sobre o mundo, as coisas so um pouco diferentes. Sabemos que o mundo no
mentira ou iluso, pois estamos vivendo nele, somos parte dele. No fundo, somos o coelhi nho branco que tirado da cartola. A nica diferena entre ns e o coelhinho branco que
o coelhinho no sabe que est participando de um truque de mgica. Conosco diferente.
Sabemos que estamos fazendo parte de algo misterioso e gostaramos de poder explicar
como tudo funciona.
OS. Quanto ao coelhinho branco, talvez seja melhor compar-lo com todo o universo. Ns,
que vivemos aqui, somos os bichinhos microscpicos que vivem na base do pelo do
coelho. Mas os filsofos tentam subir da base para a ponta dos finos pelos, a fim de poder
olhar bem dentro dos olhos do grande mgico.
(texto retirado de O mundo de Sofia, Garrder, Jostein, Cia das Letras, 18 Ed,
1995, p.24-26)