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COISAS QUE VOCÊ NUNCA IMAGINOU QUE A

GORDURA PUDESSE FAZER POR VOCÊ


Jean Carper,

A gordura dos alimentos confere um poder surpreendente às suas


células. A atividade biológica de uma célula – portanto, sua
propriedade de promover ou desestimular os processos das
doenças – freqüentemente sustenta-se em um equilíbrio frágil de
ácidos graxos derivados dos alimentos dentro da célula. Isso
significa que o tipo de gordura que você come tem conseqüências
enormes para sua saúde geral.
Novas pesquisas mostram que a ingestão de qualquer tipo de
gordura detona fogos bioquímicos de complexidade singular nas
células. O resultado pode ser o envio de mensageiros semelhantes
a hormônios que estimulam inflamações, respostas imunológicas,
coágulos sangüíneos, dor de cabeça, constrição dos vasos
sangüíneos, dor e crescimento de tumores malignos. Por outro lado,
determinadas gorduras incitam as células a produzirem elementos
químicos que dissolvem coágulos sanguíneos indesejados,
combatem a dor nas articulações e frustram as células cancerosas.
Embora a farmacologia da gordura seja um processo muito
complexo, envolvendo enzimas, muitas etapas metabólicas e um
equilíbrio delicado de gorduras na célula, apresenta possibilidades
sensacionais para a detenção do avanço das doenças e sua
melhora.
Conhecer como a gordura atua sobre determinadas funções
celulares críticas depende de duas grandes descobertas recentes.
Primeiro veio da descoberta de que inúmeros processos físicos,
como os coágulos sangüíneos e as inflamações, são amplamente
controlados por substâncias semelhantes a hormônios,
extremamente potentes – prostaglandinas, tromboxanos e
leucotrienos – chamadas coletivamente de eicosanóides. Assim,
mais significativo até, os pesquisadores descobriram que a matéria-
prima desses vigorosos mensageiros eicosanóides é feita da
gordura dos alimentos. Em outras palavras, a dieta alimentar serve
como matéria-prima dos ácidos graxos para as fábricas de células,
que produzem esses importantíssimos eicosanóides. Não é
surpresa que o tipo e a quantidade de ácidos graxos específicos
que ingerimos determinem o tipo e a quantidade de eicosanóides
resultantes. Eles podem ser biologicamente amigáveis ou
perigosos. De qualquer forma, a grande mensagem é: você pode
manipular os níveis e a atividade biológica dos eicosanóides que
circulam no seu corpo através do tipo de gordura que ingere.

VOCÊ É A GORDURA QUE INGERE

Logo depois que você ingere a gordura, ela aparece nas


membranas de suas células, onde seu destino metabólico é
determinado. Embora os ácidos graxos sejam provenientes de
muitas variações sutis de arranjos moleculares, duas categorias
principais são de grande importância na formação dos
eicosanóides: os ácidos graxos ômega-3, concentrados na vida
marinha e em algumas plantas da terra, e os ácidos graxos ômega-
6, concentrados em óleos vegetais como o óleo de milho, óleo de
açafrão ou girassol, e em alguns animais.
Quando consumimos ácidos graxos ômega-6 provenientes de um
pedaço de carne ou do óleo de milho, eles ficam propensos a se
transformarem em uma substância chamada ácido araquidônico
que, por sua vez, libera substâncias altamente inflamatórias ou
promove o espessamento do sangue ou a constrição vascular. A
gordura proveniente dos frutos do mar é radicalmente diferente e
mais benigna. Seus ácidos graxos ômega-3 estão aptos a serem
transformados em substâncias que combatem o acúmulo de
plaquetas, dilatam os vasos sangüíneos e reduzem inflamações e
danos às células.
Uma vez que os alimentos são feitos de misturas de ômega-3 e
ômega-6, obviamente esses dois ácidos graxos estão
continuamente dando instruções contraditórias às células. A
predominância de um ou outro – os que promovem a saúde ou os
que promovem a doença – depende da proporção entre os dois
ácidos graxos em sua alimentação e, assim, em suas células, como
afirma William E. M. Lands, Ph.D., um pesquisador prioneiro do
óleo de peixe e ex-professor de bioquímica da Universidade de
Illinois, em Chicago. Se as suas células estiverem repletas de
ácidos graxos ômega-6, a provisão excessiva de prostaglandinas
superativas está pronta para atacar furiosamente, gerando doenças.
Se você tiver ácidos graxos ômega-3 suficientes, eles podem
checar ou refrear o motor araquidônico que está liberando os
eicosanóides geradores de doenças.

A BATALHA ENTRE OS ÓLEOS DE PEIXE E DE MILHO


Os riscos são grandes no que se refere a células. Para encurtar,
como explica o Dr. Lands, suas células são um campo de batalha
onde os ácidos graxos ômega-3 e ômega-6 lutam pela supremacia.
E aquele que sair vencedor, dia após dia, ajuda a determinar suas
condições de saúde. A verdade é que para a maioria dos norte-
americanos e dos habitantes de outros países ocidentais, a derrota
é constante. Nossa alimentação é rica em ômega-6 e pobre em
ômega-3. O Dr. Lands afirma que os norte-americanos ingerem 10 a
15 vezes mais ômega-6 terrestres do que ômega-3 marinhos –
“uma péssima proporção”. Por outro lado, os esquimós, conhecidos
pelo baixo índice de doenças crônicas, ingerem 3 vezes mais
ômega-3 do que ômega-6, principalmente devido ao fato de sua
dieta ser baseada em frutos do mar. Provas do problema são
encontradas nos tecidos dos norte-americanos. Em estudos
realizados recentemente, Phyllis Bowen, professor associado do
Departamento de Nutrição e Dieta Médica da Universidade de
Illinois, em Chicago, descobriu que os ácidos graxos ômega-6
compreendiam 80% dos ácidos graxos insaturados que circulam
nas membranas celulares dos norte-americanos.
Comparativamente, os níveis de ômega-6 ficaram próximos aos
65% nos franceses, 50% nos japoneses e apenas 22% nos
esquimós da Groelândia.
O excesso de ômega-6 preocupa os especialistas, como o
professor emérito Alexander Leaf, da Harvard Medical School. Ele
observou que quando se desenvolveram , há eras, nossos corpos
recebiam grande quantidade de ômega-3 e pouquíssimo ômega-6.
Hojem com a invenção dos óleos vegetais processados, a situação
se inverte em muitas culturas. As dietas alimentares atuais,
deficientes em peixe, privam nossas células de óleo marinho e
sobrecarrregam-nas de óleos e carnes processadas – Big Macs e
óleo Mazola – estranhos às nossas células. Ele acredita que nosso
relativamente recente desequilíbrio de ácidos graxos provoca
disfunções celulares, precipitando a atual epidemia de doenças
crônicas, como as doenças cardíacas, o câncer, o diabetes e a
artrite. O Dr. Leaf sugere que o corpo humano exige uma dose
mínima de óleo de peixe e que a ausência dessa dose mínima
acaba se manifestando no surgimento de inúmeras doenças.
Novas pesquisas enfatizam o enorme poder salvador da gordura
de peixe. A ingestão da gordura de peixe pode agir diretamente,
salvando as pessoas da morte e da invalidez provocadas por
ataques cardíacos. Estudos descobriram que a arteriosclerose –
artérias doentes e obstruídas – piora quanto menos óleo de peixe a
pessoa ingerir. O Dr. Lands desenvolveu uma fórmula que, segundo
ele, pode prever precisamente as possibilidades de ataque cardíaco
em uma pessoa; um pequeno furo no dedo mede a relação entre os
ácidos graxos ômega-3 e ômega-6 no sangue da pessoa. Quanto
maior a proporção de ômega-3 marinhos para ômega-6, menor o
risco de ataque cardíaco. Da mesma forma, os estudos revelam
que uma relação alta de ácidos graxos ômega-3 para ácidos graxos
ômega-6 no sangue diminui as chances de desenvolvimento de
câncer.
Embora não avaliemos, o consumo de óleos ômega-6,
predominantemente em margarinas, óleos para saladas, óleo de
cozinha e alimentos processados, está ajudando a criar um
desastre em termos de saúde, afirma Artemis Simopolous, doutora
em medicina, presidente do Centro para Genética, Nutrição e
Saúde em Washington, D.C. É verdade, as autoridades em coração
inicialmente estimularam o uso disseminado desses óleos vegetais
para reduzir o nível de colesterol no sangue, sem suspeitar de que
eles pudessem ter efeitos prejudiciais em outros aspectos da saúde,
como o estímulo a doenças inflamatórias, a baixa imunidade e a
promoção do câncer. Esses óleos ômega-6 são vilões bem-
documentados do aumento da incidência de câncer e sua
disseminação e morte em animais de laboratórios.
Na opinião de especialistas, a única forma de corrigir esse
desequilíbrio anormal e alarmante de gordura nas células é diminuir
drasticamente o consumo de alimentos ricos em ômega-6 e
aumentar o consumo de ômega-3 marinhos. O impacto é quase
imediato. Os estudos indicam que, dentro de 72 horas, podem-se
observar os impactos bioquímicos benéficos sobre o tecido
ingerindo-se aproximadamente 100 gramas de peixe ao dia.
É sábio comer peixe, principalmente peixes gordos, como salmão,
sardinha, cavala, arenque e atum, pelo menos duas ou três vezes
por semana. Entretanto, o acréscimo de qualquer quantidade de
frutos do mar a uma dieta pobre em frutos do mar pode restabelecer
um pouco o equilíbrio de ácidos graxos, ajudando a prevenir não
apenas as doenças cardíacas, mas também as muitas doenças
modernas associadas a uma “deficiência de gordura marinha”.
Pesquisas mostram que a ingestão de apenas 30 gramas de peixe
por dia pode ajudar a restaurar o funcionamento saudável das
nossas células, salvando inúmeras pessoas da invalidez e morte
prematura impostas pelas conseqüências inimagináveis dos
poderes farmacológicos das gorduras.

Onde obter os ômega-3 que combatem mais doenças


Normalmente, a gordura com maior quantidade de ômega-3 pode
ser encontrada nos peixes de alto-mar em locais de águas mais
frias. As fontes mais ricas são cavala, anchova, arenque, salmão,
sardinha, truta de lagos, esturjão do Atlântico e atum. Quantidades
moderadas são encontradas no rodovalho, peixes serranídeos,
tubarão, esperlano, peixe-espada e truta. Os crustáceos –
caranguejo, lagosta, camarão, mexilhão, ostras, marisco e lula –
contêm menor quantidade de ômega-3.
Para obter os maiores benefícios do ômega-3, cozinhe ou escalde
o peixe. Fritar ou acrescentar gordura ao peixe, especialmente
óleos vegetais com grande teor de ômega-6, diminui a potência do
ômega-3 no peixe.
Opte pelo atum conservado na água e sardinhas enlatadas sem
óleo, a não ser que seja o óleo da própria sardinha. Óleos
acrescentados, como o óleo de soja, podem diminuir o teor de
ômega-3. Além disso, escorrendo o óleo do atum enlatado, você
retira de 15% a 25% dos ômega-3, enquanto escorrendo a água
você perde apenas 3%.
Pode-se também obter uma certa quantidade de ômega-3 em
determinadas plantas. As maiores concentrações estão nas nozes,
linhaça e sementes de colza (matéria-prima do óleo de canola) e na
beldroega, uma verdura considerada mato nos Estados Unidos,
muito consumida na Europa e no Oriente Médio. No entanto, os
Ômega-3 presentes nas plantas parecem ter apenas um quinto da
potência dos ômega-3 marinhos no sentido de gerar reações
benéficas nas células.

DOENÇAS QUE O ÓLEO DE PEIXE PODE MINORAR OU


PREVENIR

• Artrite reumatóide: Reduz a dor nas articulações,


ulcerações, enrijecimento e fadiga.
• Ataques cardíacos: Reduz em um terço as chances de
ataques cardíacos subseqüentes.
• Obstrução de artérias: Mantém as artérias abertas e limpas.
(As pessoas que ingerem óleo de peixe têm menos
arteriosclerose.) Reduz em 40 a 50% o risco de nova
obstrução das artérias após uma cirurgia de angioplastia.
• Pressão alta: Elimina ou reduz a necessidade de
medicamentos farmacêuticos para abaixar a pressão.
• Colite ulcerativa: (doença inflamatória do intestino): Em um
teste, a ingestão de 4,5 gramas de óleo de peixe por dia –
equivalente a cerca de 200 gramas de cavala – durante oito
meses diminui em 56% a atividade da doença. Outro teste
reduziu em um terço a necessidade de prednisona, um
esteróide.
• Psoríase: Reduz o prurido, a vermelhidão, a dor em alguns
pacientes, e diminui a quantidade de medicamentos
necessária.
• Esclerose múltipla: Ajuda a diminuir os sintomas em alguns
pacientes.
• Asma: Reduz os ataques em alguns indivíduos.
• Enxaqueca: Diminui a intensidade e a freqüência em algumas
pessoas.

* * *
(fonte: trecho do livro, pág. 15-20, “Alimentação Que Pode Prevenir
e Curar” Problemas Digestivos, Jean Carper, Editora Elsevier, Rio
de Janeiro, RJ, 2004.)

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Informações complementares:

Cápsula de ômega 3 engorda?


02/01/2007

Andrea Galante,
é mestre e doutora em Nutrição Humana Aplicada pela
Universidade de São Paulo, e presidente da Associação Brasileira
de Nutrição

Tenho recebido e-mails que apresentam a questão: "Cápsula de


ômega 3 engorda?". Antes de responder, vou falar o que é o ômega
3 --para isso, preciso explicar o que são as gorduras.

As gorduras podem ser divididas em dois grupos: as saturadas e as


insaturadas. A gordura saturada está fortemente relacionada ao
aumento de colesterol. Encontra-se gordura saturada nos produtos
de origem animal --carnes, leite e ovos.

Já as gorduras insaturadas podem ser divididas em


monoinsaturadas e poliinsaturadas. Os ácidos graxos
monoinsaturados estão relacionados à diminuição dos níveis de
colesterol, triglicérides, glicose e aumento do bom colesterol (HDL).
Exemplo de gordura monoinsaturada são os azeites e castanhas.
Já os ácidos graxos poliinsaturados têm um importante efeito na
proteção cardiovascular.

Os ácidos graxos ômega 3, como o ácido alfa-linolênico, o ácido


eicosapentanóico e o ácido docosahexanóico, são essenciais ao
organismo. É necessária a ingestão desse nutriente, por meio dos
alimentos ou, em alguns casos, com suplementos em cápsulas.

Alguns estudos indicam que a ingestão do ômega 3 auxilia a


diminuir os níveis de triglicerídeos e colesterol total --o excesso
pode retardar a coagulação sangüínea. É também importante sua
ingestão no tratamento de alergias e processo inflamatórios.

Em relação à caloria, uma cápsula de ômega 3 não será


responsável pelo aumento significativo de caloria em uma dieta.
Quando for consumido por meio do alimento também não haverá
problema --isto é, quando se tratar de uma dieta adequada
quantitativamente.

Vale ressaltar que qualquer suplementação deve ser feita sob


orientação médica e que todos os alimentos devem ser ingeridos
como moderação.

Excelentes fonte de ômega 3 são: peixes de água fria (salmão,


arenque, sardinha, atum) e óleo de linhaça.

Muita saúde!

Andrea Galante é mestre e doutora em Nutrição Humana Aplicada


pela Universidade de São Paulo, e presidente da Associação
Brasileira de Nutrição. Escreve quinzenalmente na Folha Online,
às terças-feiras.

E-mail: andrea.galante@uol.com.br
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Nutrição e psiquiatria

Ômega 3 tem efeito antidepressivo, mostra


estudo de revisão
Plantão | Publicada em 16/08/2007 às 11h19m

Reuters

NOVA YORK - Os resultados de um amplo estudo relacionando a


depressão e as taxas de ômega 3 na alimentação mostram que
esses ácidos graxos têm um efeito antidepressivo. Mas, para os
cientistas, ainda é cedo para se pensar em se tratar depressão e
desordem bipolar apenas com o nutriente. O estudo foi publicado no
"Journal of Clinical Psychiatry".

Segundo o médicos do Hospital da Universidade de Medicina da


China em Taiwan, outros estudos serão necessários para
determinar a dosagem apropriada e a melhor composição dos
suplementos de ômega 3, além de se determinar que tipo de
paciente seria beneficiado com a terapia.

Peixes, como o salmão, e alguns grãos são fontes de dos ácidos


graxos poliinsaturados ômega 3. Como nas regiões onde seu
consumo é alto a incidência de depressão é baixa, os médicos se
interessaram em pesquisar seu uso como antidepressivo.

Eles apostam particularmente no uso de ômega 3 para depressão


resistente, nas crianças e no pós-parto. Os médicos analisaram dez
estudos clínicos com um mínimo de quatro semanas de duração
que usaram dois tipos de ômega 3 – ácido eicosapentaenóico ou
docosahexaenóico – para tratar depressão ou desordem bipolar.
Quando os pesquisadores reuniram todos os dados, encontraram
efeitos antidepressivos significativos.

Como o ômega-3 é seguro e oferece muitos outros benefícios , o


nutriente poderia ser interessante para pacientes depressivos com
problemas cardíacos, diabéticos ou mulheres durante a gravidez e a
amamentação.
Leia mais: Filhos de mulheres que comem ômega 3 na gravidez são
mais inteligentes

Fonte:
http://oglobo.globo.com/saude/vivermelhor/mat/2007/08/16/2972910
11.asp

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